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INTRODUÇÃO

O assunto é vasto e complexo. Na impossibilidade de explaná-lo em detalhe e com o


desenvolvimento que fora para desejar, limitamos a estudá-lo em suas linhas gerais,
focalizando os seus aspectos mais interessantes, expondo-os à luz dos mais recentes
conhecimentos, condensando e resumindo a matéria, como o exige a premência do tempo.
Esterilidade é a incapacidade para conceber. Se essa incapacidade não é para conceber,
mas para conduzir a prenhez até o nascimento de feto vivo e viável, dá-se o nome de
infertilidade. Se tão simples é o conceito biológico da esterilidade, já o é menos o seu
conceito clínico, por isso que a aptidão para conceber varia de indivíduo a indivíduo.

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GENERALIDADES

A esterilidade é a inaptidão á procriação. Para o homem é a impossibilidade de fecundar,


e para a mulher a impossibilidade de conceber. Num sentido limitado compreende-se o
estado patológico que faz que a mulher púbere não seja fecundada, apesar das relações
sexuais repetidas e praticadas de uma maneira normal, mas por extensão ainda se chama
mulher estéril aquela que não pode dar á luz uma criança viva ou viável, apesar das
circunstâncias normais e favorável á geração.

Tem-se confundido a esterilidade com a impotência. Assim uns tomam a impotência


como sinonimo de afrodisia, significando ausência de desejos venéreos, e outros, como
Littré, ``identificam-na com a esterilidade, definindo-a a incapacidade de ter filhos``.

A impotência difere da afrodisia, porque podem existir apetites genésicos com


impossibilidade de os satisfazer. A impotência é a impossibilidade de realizar o coito,
enquanto que a esterilidade é a incapacidade para o homem ou para a mulher de procriar,
se bem que um e outra tenham a aparência de boas condições para uma copula seguida
de fecundação.

Em outros casos a concepção nunca se dá, embora o coito seja praticado em condições
favoráveis á fecundação. E existem casos de mulheres ficarem gravidas, sem intromissão
penial, conservando o hímen intacto. A impotência e a esterilidade podem existir num
individuo, simultânea ou isoladamente, sendo frequentemente uma a causa da outra. Para
o homem há ausência de impotência quando há ereção, introdução e ejaculação com
sensações voluptuosas, e para a mulher quando há excitação das partes pudendas,
recepção e sensações voluptuosas.

A esterilidade não é uma entidade mórbida especial, não constitui um estado particular
do organismo, mas é a resultante de um desvio funcional do aparelho genital, ou o sintoma
de uma afeção geral, ou local, provindo, pois, das condições mais variáveis.

A SUA TIPOLOGIA

• A esterilidade é congenital ou primaria, quando uma deformação torna a


concepção impossível (ausência do útero, etc.) ou quando uma afeção contraída
antes ou no princípio do casamento se opõe á fecundação (blenorragia, etc.).

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• É chamada secundaria ou adquirida, quando a mulher, tendo gravidado várias
vezes, perde em seguida a uma afeção local, a faculdade de conceber.
• O estado de esterilidade pode ser temporário ou permanente, conforme o
impedimento é de curta ou de indefinida duração.
• Os autores ingleses e alemães distinguem ainda uma variedade de esterilidade
adquirida, que consiste em a mulher não conceber mais que uma vez (only child
sterility).

ETIOLOGIA DA ESTERILIDADE

A fecundação na espécie humana não é bem conhecida em todos os seus detalhes e o


mesmo acontece com a etiologia da esterilidade. Existem casos, em que a fecundação tem
lugar apesar de obstáculos julgados insuperáveis, assim como muitas vezes as
investigações mais minuciosas não podem descobrir a causa da esterilidade.

É pois difícil fazer uma boa classificação das diversas formas de esterilidade, segundo as
causas.

Adotaremos nós a classificação de Auvard, em todo o caso um pouco modificada, por


nos parecer a mais clara e a mais metódica.

A etiologia depende ao mesmo tempo da mulher e do homem. Apresentamos


sucintamente as causas de esterilidade no homem:

• Dividem-se em causas gerais e causas locais. As causas gerais compreendem as


doenças gerais, doenças do sistema nervoso, má higiene e má alimentação,
esfalfamento, consanguinidade, hereditariedade, influencia de medicamentos,
diversos estados patológicos.
• As causas locais abrangem: as causas anatómicas dependendo do testículo, dos
canais deferentes, das vesículas seminais, da próstata, alteração do esperma e
causas fisiológicas compreendendo as anomalias da ejaculação, a impotência e as
aberrações genésicas.

Da mesma maneira para a mulher Auvard agrupa as causas em três séries: causas
anatómicas, causas funcionais e causas gerais.

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• Designando por causas anatómicas as que indicam um vicio, congenital ou
adquirido, de conformação do sistema genital;
• Por causas funcionais, as que abrangem as anomalias da união sexual;
• Por causas gerais as que provém de um estado patológico fora do sistema genital.

Mais simples dividiremos a etiologia em causas locais e causas gerais, compreendendo


aquelas as anatómicas e as fisiológicas.

Causas locais divididas em:

• Causas anatómicas: dependendo da vulva, da vagina, do útero, das trompas, dos


ovários, dos órgãos periuterinos e do ovulo.
• Causas fisiológicas: compreendendo erros do coito, impotência, aberrações
genéticas.

Causas gerais: abrangendo doenças gerais, doenças locais, faltas de higiene, esfalfamento,
consanguinidade, idade, hereditariedade, etc.

PROCEDIMENTO QUE ACONTECE EM CADA CAUSA

Causas anatómicas:

Vulva: Vários estados patológicos podem trazer impedimento ao seu regular


funcionamento. Para que a concepção tenha lugar, é necessário que o coito se efetue em
condições normais, isto é, que haja intromissão do pénis na vagina. Entretanto casos há
como exceções, pertencendo, pois, ao capítulo das curiosidades científicas em que tal se
não dá, em que a fecundação se produziu com a integralidade do hímen.

Útero: O útero por suas alterações patológicas oferece uma quantidade de condições
etiológicas de esterilidade. A esterilidade é seguramente na grande maioria dos casos da
origem uterina.

A este respeito a memoria de Gruncwaldt, de S. Petersburgo, é elucidativa e interessante.


Aborda como sendo a inaptidão á concepção ou opondo um obstáculo á chegada do ovulo
ou levantando barreiras á entrada do esperma no colo ou impedindo o desenvolvimento
ulterior do ovulo fecundado por modificações mórbidas da sua estrutura ou por desvios
de posição.

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As trompas: As trompas, como órgãos de recetáculo e condutores do ovulo, e como
ponto de encontro deste com o espermatozoide, gozam de grande importância na
fecundação. Para que, pois, as trompas não sejam causa de esterilidade, é preciso que a
comunicação entre o ovário e o útero e a adaptação do pavilhão sobre o ovário, bem como
o estado da mucosa da trompa, sejam normais.

Assim a ausência ou a atrofia de uma ou das duas trompas, a largura demasiadamente


grande ou pequena do órgão, as chamadas hidátides de Morgagni são impedimento maior
ou menor á fecundação.

Ovários: Além dos deslocamentos, que em certos casos muito raros resultam de um vicio
de desenvolvimento, e nos quais o ovário conserva-se junto á coluna vertebral, as
deformações dos ovários consistem ou na sua ausência ou na sua atrofia. Não existe
observação bem nítida em que haja ausência dos dois ovários, mas a ausência de um deles
tem sido verificada na autopsia, porque no vivo torna-se impossível fazer este diagnostico
a não ser num caso de laparotomia.

Mas a importância é somente toda teórica, porque nenhum tratamento pode remediar este
vicio de conformação, e mesmo porque uma mulher pode conceber com um só ovário
contando que esteja são.

Órgãos periuterinos: As aderências peritoneais, resultantes de uma inflamação dos


órgãos vizinhos, assim como um tumor qualquer desenvolvido na parte inferior do
abdómem, á custa do intestino, do epíploon, da parede abdominal da bexiga, deslocando
e deformando a trompa e o ovário, impedem que a fecundação tenha lugar.

Ovulo: As doenças próprias do ovulo são desconhecidas, mas existem perturbações que
dependem da ovulação, mais ou menos diretamente, e são a amenorreia, a menorragia e
a dismenorreia. A amenorreia, como a etimologia o diz, significa supressão do corrimento
menstrual. Esta supressão pode ser parcial ou total, persistente ou temporária.

A menstruação compreende dois atos: a postura ovular e o corrimento catamenial. Como


já vimos, e de acordo com Auvard. A postura ovular constitui o fenómeno necessário e
essencial da fecundação, sem postura ovular não existe fecundação possível. O
corrimento catamenial não é ato tão essencial, para que se realize a fecundação.

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Causas fisiológicas

Sob o nome causas fisiológicas ou funcionais designam-se aquelas que englobam as


anomalias da união sexual, não havendo uma viciação anatómica, pois que o sistema
genital é normalmente constituído, mas sim um vicio fisiológico.

Erros de coito: O coito, que normalmente se efetua pela intromissão do pénis na vagina,
pode realizar-se num dos dois canais vizinhos, seja na uretra, seja no reto. Sendo as
dimensões da uretra muito pequenas, é para admirar a introdução do pénis no seu interior;
mas existem observações que não permitem a dúvida.

Nestes casos, muito raros, o pénis não pode penetrar na vagina, em virtude de um
obstáculo, constituído por um hímen muito resistente, ou por uma outra deformação
vaginal. Não me refiro senão a erros involuntários e inconscientes.

Impotência: A impotência como já vimos significa impossibilidade do coito. Esta


impossibilidade na mulher indica um obstáculo á penetração penial, no homem
caracteriza-se por uma falta da ereção. Na mulher esse obstáculo pode ser produzido por
um tumor, uma deformação, ou simplesmente por uma perturbação funcional.

Aberrações genésicas: Por aberrações genésicas entendem-se todas as modificações


patológicas do apetite sexual e da sexualidade em geral. O apetite sexual pode ser
diminuído (frieza, coito fobia), aumentado (ninfomania), ou pervertido (inversão sexual,
onanismo). Da frieza ou Coito folia já atrás falamos a propósito da impotência. A
ninfomania, que como todas as aberrações genésicas está sob a dependência de um estado
patológico do sistema nervoso, não actua sobre a produção da esterilidade senão pelo
esfalfamento genital, de que é origem.

Causas gerais:

Falta-nos agora falar das causas que não estão ligadas a um estado mórbido local. As
doenças gerais, que podem repercutir-se funestamente nas faculdades procriadoras, e
refiro-me somente ás crónicas, porque a influencia das agudas é passageira, são a sífilis,
a tuberculose, a obesidade, a albuminúria, a diabetes, o esfalfamento.

A sífilis, tem um papel importante na produção da esterilidade. A inaptidão á concepção


pode durar um tempo variável, um ou dois anos, ou mais. E quando a mulher concebe, a
criança sucumbe durante o curso da prenhez. E ainda a sífilis que é preciso considerar
como um grande factor da esterilidade das mulheres publicas.
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A tuberculose, actua sobre as funções genitais da mulher, atingindo diretamente os
órgãos genitais, quer os outros órgãos extra-genitas os (pulmão por exemplo),
enfraquecendo o organismo e trazendo por fim a cacheia.

A obesidade é uma causa frequente de esterilidade. As mulheres obesas sofrem muitas


vezes de amenorreia. A experiência tem demonstrado que a polisarcia adiposa que
prejudica no reino animal a fecundação.

O esfalfamento como se compreende é uma grande causa de esterilidade. A influencia,


que as lesões localizadas dos diversos órgãos, como as cardiopatias, as cirroses do fígado,
podem ter na produção da esterilidade, não é bem conhecida, mas o facto é que é evidente
em certos casos.

A idade da fecundidade começa para a mulher com a menstruação e acaba com a


menopausa. Bem que sejam citados exemplos de mulheres gravidas depois da cessação
das regras, pode-se considerar a menopausa como fim do período da concepção. Existem
casos, dificilmente explicáveis cm que a mulher casada na idade habitual, não pode
conceber imediatamente, e espera alguns anos para tornar-se gravida, como o seu
organismo estivesse pouco preparado para o casamento.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE INFERTILIDADE E ESTERILIDADE

Quando um casal é considerado infértil, sempre haverá alternativas médicas para realizar
o sonho de serem pais. Uma mulher que não está ovulando por problemas hormonais, por
exemplo, pode realizar um tratamento para reverter a situação.

A obesidade, o tabagismo e outras condições do organismo que costumam diminuir a


capacidade de engravidar também podem ser consideradas reversíveis.

No caso da esterilidade, por tratar-se de factores físicos, como malformações do sistema


reprodutor, doenças congênitas, entre outras causas, não há como reverter o processo e o
tratamento a ser realizado é mais específico, como o útero de substituição e a doação de
gametas.

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COMO DIAGNOSTICAR O PROBLEMA

Qualquer casal que esteja com dificuldades para engravidar deve procurar um médico. O
primeiro passo será realizar exames para avaliar as condições dos sistemas reprodutores
do homem e da mulher.

Com base nos resultados, será possível saber se o caso é de infertilidade ou esterilidade.
É muito importante conhecer a diferença entre esses dois termos para vencer o medo de
não poder engravidar, buscar o tratamento adequado e evitar frustrações desnecessárias.

É importante lembrar também que a procura de um especialista deve ocorrer assim que
notada a dificuldade. Com o passar do tempo e o avanço da idade do casal, as coisas
podem se tornar mais graves.

O QUE FAZER

Como se pode ver, no caso da infertilidade, é possível recorrer a tratamentos que


possibilitam a recuperação dos próprios gametas. Há casos nos quais a indução da
ovulação ou o coito programado, por exemplo, são medidas eficazes.

A esterilidade não permite isso. Trata-se de uma condição irreversível. Entretanto, ainda
é possível realizar o sonho de ter filhos a partir da doação de gametas ou cessão temporária
de útero. Nesse caso, a fertilização é realizada com sêmen ou óvulos doados por outras
pessoas, que devem ser anônimas, ou a transferência dos embriões será feita em outra
mulher, de preferência alguém da família.

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CONCLUSÃO

Termo que designa a impossibilidade de reprodução. A frequência da esterilidade ou


infertilidade varia com o nível de saúde pública e o nível cultural, sendo mais habitual
entre os grupos com mais elevada educação.

A esterilidade pode ter origem no homem ou na mulher. As causas masculinas para a


esterilidade estão relacionadas com problemas anatómicos no aparelho reprodutor que
impedem a libertação dos espermatozoides ou com defeitos ao nível dos espermatozoides
nula ou baixa produção de espermatozoides ou, ainda, espermatozoides de má qualidade.

Na mulher, a infertilidade pode estar relacionada também com deformações anatómicas


ou com ausência de ovulação. A sífilis ou a gonorreia, infeções sexualmente
transmissíveis, são exemplos de doenças que podem causar infertilidade.
A esterilidade é normal antes da puberdade e depois da menopausa, assim como durante
a gravidez.

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BIBLIOGRAFIA
Belmiro Braga. CAUSAS DE ESTERILIDADE NA MULHER. PORT O TIP. DE
ALEXANDRE DA FONSECA VASCONCELOS 51, Rua de Sá Noronha

Esteban. Estudo sobre a esterelidade. Revista médica 3. 8; 2016

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