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motivou a escrever este livro e a torrar a paciência do leitor com o aparente exercício
narcísico de falar sobre as minhas leituras de adolescente: a constrangedora escassez de
livros de divulgação científica no âmbito das ciências humanas e sociais. Quais as razões
dessa escassez, dessa quase ausência? Por que o "vulgarizador" (no sentido francês de
vulgarisateur), isto é, o perito que também se preocupa com a popularização do
conhecimento científico, é personagem tão pouco usual nas ciências sociais? (Regra em
relação à qual, justiça lhes seja feita, os historiadores têm sido a principal exceção, pois
vêm brindando o público leigo cultivado, e não é de hoje. com livros deliciosos e atraentes
para qualquer amante da leitura.) [...]”
(SOUZA, 2005, p. 11)
6) "A centralidade de uma cidade, já se viu, é função, acima de tudo, da sua capacidade de
ofertar bens e serviços para outros centros urbanos, estabelecendo, desse modo, uma área
de influência. Essa centralidade, portanto, é de natureza, acima de tudo, econômica."
(SOUZA, 2005, p. 57)
"Os espaços onde as atividades de comércio e serviços se concentram são de vários tipos.
A grande maioria das cidades possui, claramente, o seu "centro", correspondendo, o mais
das vezes, ao centro histórico (local onde a urbe foi fundada, e que abriga prédios de um
certo ou mesmo um grande valor histórico-arquitetônico). Esse "centro", no caso das
cidades maiores, tendeu, muitas vezes, a se expandir e evoluir até atingir as dimensões de
uma moderna área central de negócios, mais conhecida, entre os estudiosos, pela sigla
CBD (abreviatura, como se viu no Cap. 1, de central business district). O CBD sozinho,
porém, não daria conta de atender a todas as demandas da cidade por bens de consumo
não-rotineiro."
(SOUZA, 2005, p. 54)
“Uma cidade será tanto mais complexa e possuirá uma posição tanto mais elevada na
hierarquia da rede urbana, quanto mais ela possuir essa capacidade de ofertar bens e
serviços e capturar uma área de influência maior. No entanto, à primeira vista, dois tipos de
situação parecem perturbar essa presunção de correspondência entre complexidade do
centro urbano, centralidade e posição hierárquica na rede urbana.”
(SOUZA, 2005, p. 57)
9)“No Brasil, diversamente, a segregação afeta uma enorme parcela, não raro a maioria da
população de uma cidade, a qual mora em favelas, em loteamento de periferia ou em
cortiços. Não se trata, nessa situação, da segregação de um grupo específico, por razões
fortemente étnicas ou culturais, embora a correlação entre pobreza e etnicidade seja,
conforme já se disse, forte; o que se tem é uma situação na qual os pobres são induzidos,
por seu baixo poder aquisitivo, a residirem em locais afastados do CBD e das eventuais
amenidades naturais e/ou desprezados pelos moradores mais abastados. Nesses locais,
não é apenas a carência de infraestrutura, a contrastar com os bairros privilegiados da
classe média e das elites, que é evidente; a estigmatização das pessoas em função do local
de moradia (periferias, cortiços e, principalmente, favelas) é muito forte. Sérios problemas
de integração e de convivência entre grupos sociais diferentes e de autoestima coletiva
costumam estar associados a essa questão.”
Pág. 69
“A figura 9 busca retratar as diferenças espaciais no padrão de expansão urbana em duas
cidades hipotéticas: uma, onde o transporte sobre rodas reina soberana e exclusivamente
("Rodópolis"), e outra, onde o transporte sobre trilhos foi preservado e expandido
("Trilhópolis"). Nesta última, são principalmente os eixos de circulação sobre trilhos que
arcam com a função de orientar a expansão urbana, embora, logicamente, não substituam
inteiramente o transporte sobre rodas coletivo ou privado, que segue sendo importantíssimo
e imprescindível.”
Pág. 87
10) “Devido a essa importância da dimensão espacial é que eu acredito ser legítimo falar de
desenvolvimento sócio-espacial, em vez de, somente, desenvolvimento social. A referência,
aqui, não é apenas ao "desenvolvimento do espaço social", como se se tratasse de
transformar apenas o próprio espaço (situação em que a grafia deveria ser socioespacial),
mas à transformação das relações sociais e do espaço social, simultaneamente. Na minha
convicção, o desenvolvimento é, nos seus termos mais simples, um processo de mudança
para melhor, um processo incessante de busca de mais justiça social e melhor qualidade de
vida para o maior número possível de pessoas - e isso exige, tanto em matéria de análise
de problemas quanto de formulação de estratégias para a superação dos problemas, não
somente a consideração das várias dimensões que compõem as relações sociais, mas
também uma visão de como essas relações se concretizam no espaço.”
(SOUZA, 2005, p. 112)