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PRISCILA MARTINHO

BAIÃO

Atividade 1: Resumo sobre um dos temas abordados


em aula referente a disciplina História da Música
Popular Brasileira I, ministrada pelo Professor
Doutor Ricardo Melo

NILÓPOLIS
2023.2
Na indústria fonográfica do final da década de 1940 o baião se estabelece
como gênero musical urbano e se torna um segmento musical de alta popularidade.
Um dos mais fortes representantes da chamada “sonoridade nordestina”, tem como
ator principal desse fenômeno o sanfoneiro Luiz Gonzaga, que dá início a um
processo de divulgação e estilização no baião em meios urbanos. Certamente, um
fator de importância para a popularidade desse segmento é o grande contingente de
migrantes nordestinos para as grandes cidades do sudeste.
Vim do Norte
o quengo em brasa
fogo e sonho do sertão
e entrei na Guanabara
com tremor e emoção
era um mundo todo novo
diferente meu irmão
mas o Rio abriu meu fole
e me apertou em suas mãos

Ê Rio de Janeiro
do meu São Sebastião
pára o samba três minutos
pra cantar o meu baião
Humberto Teixeira, “Baião de São Sebastião”
Gonzaga começa com a música “Vira e Mexe”, que se torna um sucesso
estrondoso, mas na cabeça do sanfoneiro ainda não estava consolidado que isso
seria o baião. Logo no começo, com Miguel Lima, compõem uma de suas primeiras
músicas: “17 e 700”.
[...]
Mas se eu lhe dei vinte mil réis
Pra pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos
Mas dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos
Por que dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos
[...]
Luiz Gonzaga e Miguel Lima, “17 e 700”
Juntamente com o Humberto Teixeira, residente do Rio de Janeiro (grande
metrópole cultural na época, além de ser capital), buscaram nas entranhas do
Nordeste inspiração (feiras de interior, cantadores e violeiros, embates de repentes).
A fim de resgatar sucessos e cantorias de sua infância e levar para o Rio. Trazendo
nome e reconhecimento para o ritmo, podendo assim nacionaliza-lo e

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internacionaliza-lo, apresentando o baião para o mundo, de forma quase didática e
explicativa, com a música “Baião” em 1949.
Eu vou mostrar pra vocês
Como se dança o baião
E quem quiser aprender
É favor prestar atenção

Morena chegue pra cá


Bem junto ao meu coração
Agora é só me seguir
Pois eu vou dançar o baião
[...]
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, “Baião”

Se Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga fossem cariocas, essa dupla


seria tão cultuada na cultura, na música popular brasileira, como são
Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Essa dupla famosa mundialmente
seria Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, tamanha importância que
eles tiveram para o baião e para a música popular brasileira naquela
época. (DANTAS, 2021)
Logo em seguida Zé Dantas descreve a percepção que tinham, onde as
pessoas diziam que o baião é uma invenção, como se Luiz Gonzaga tivesse criado
naquele momento o baião. Ele diz que não, pois tudo é baião.

Andam dizendo que Toca baião no forró


O baião é uma invenção
Olhe, quem disse isso
Pois o balaio lá no sertão em salgeiro
Nunca foi no sertão
E o xenhenhem que é seu pareceru
Pra ver os cegos
Seu irmão
Nesse ritmo cantando
Até as cantiga no xaxado
E os violeiro repentista
De Virgulino Lampião
No baião improvisando
Na minha terra
Xote, xaxado, rastapé e forró
Pois os sanfoneiro do moxotó Tudo, tudo é baião
Desde o navio até piancó
Zé Dantas, “Tudo é baião”
Do pajeú até cabrobó

Entretanto, em meados da década de 1950, o baião começa a ter menos


prestígio perante o público.
Outros fenômenos despontam no cenário musical, no qual o baião vai
sendo “ofuscado pela Bossa Nova, a princípio, e logo depois, pela
explosão da Jovem Guarda” (CHAGAS, 1990:31). (CÔRTES, 2013).

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Na década seguinte acontece o retorno do repertório da música nordestina
aos meios de comunicação dos grandes centros. Os músicos da época, voltavam-se
para uma retomada, resgate, ou revalorização, de elementos culturais populares
tradicionais. “Essa nova bossa é a mão que vai encontrar o morro, o terreiro e o
sertão” (CÔRTES apud BARROS apud GARCIA, 2007:77-78). Nomes como Geraldo
Vandré, Edu Lobo, Nara Leão, Gilberto Gil, entre outros, contribuíram bastante com
essa retomada, estando bastante sintonizados nessa perspectiva.
Geraldo Vandré teve extrema importância nessa retomada, pois foi um dos primeiros
músicos a regravar uma canção com temática nordestina. O clássico “Asa Branca”,
de Luiz Gonzaga, é regravado por Vandré no ano de 1965 e foi incluído em seu LP
“Hora de Lutar”. A retomada da influência do baião foi consolidada definitivamente
com a atuação de músicos voltados ao movimento tropicalismo.
Luiz Gonzaga não foi referência apenas para os artistas citados
anteriormente. Na música instrumental, Quarto Novo, um dos principais grupos
desta área durante esse período, também retoma com o repertório do “Rei do Baião”
e com influências nordestinas em suas músicas.
O grupo é formado por Airto Moreira (bateria e percussão), Heraldo do Monte
(guitarra e violão), Hermeto Pascoal (flauta e piano) e Théo de Barros (contrabaixo e
violão). Tiveram notoriedade acompanhando Geraldo Vandré e no ano de 1967
lançaram um álbum voltado para a música popular brasileira. A partir desse projeto
os instrumentais almejavam criar uma linguagem “tipicamente brasileira”, baseada,
principalmente, nas tradições nordestinas do país, como relata o guitarrista Heraldo
do Monte:
Conversávamos muito sobre a necessidade de criar uma linguagem
brasileira de improvisação, que na época faltava, (...) Pensamos
assim: “Vamos dar uma viajada pra dentro de nós, pro interior, pra
aquelas coisas que a gente não ligava quando ouvia no interior do
Nordeste, na nossa infância”. Resolvemos trazer isso à tona,
improvisar sobre isso. (MONTE apud GEROLAMO, CORTÊS, 2013)
A produção do álbum “Quarteto Novo” foi de extrema importância para a
retomada e difusão da cultura nordestina no sul do país. O grupo possui referências
a partir de violeiros repentistas, tocadores de pífanos e das frases das composições
de Luiz Gonzaga, criar uma linguagem nova de improvisação (MONTE apud

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GEROLAMO, CORTÊS, 2013). No discurso do músico, com o intuito de resgatar e
retomar a cultura nordestina, também se faz presente a intenção de romper com
padrões musicais estrangeiros, como o jazz norte-americano.
A referência era o Oscar Peterson, até para os grupos de bossa nova.
Nós não queríamos isso e começamos a experimentar improvisações
baseadas no fraseado da música nordestina (MONTE apud
GEROLAMO, CORTÊS, 2013)
Portanto, a música do pernambucano era uma referência para a “linguagem
brasileira” do grupo, cuja essa retomada pode ser explicada tanto pelo contato dos
músicos do Quarteto Novo com as músicas de Gonzaga ainda nas suas cidades
pelas estações de rádio, quanto pela estilização e divulgação do baião no meio
urbano feita pelo sanfoneiro.
Antes dele, baião não existia. Era um ritmo do longínquo folclore do
Nordeste. Luiz Gonzaga fez com a música nordestina – que era até
então apenas folclore, coisa das feiras, dos cantadores, ao nível da
cultura popular não massificada, não industrializada – exatamente o
que João Gilberto fez com o samba (GIL apud CAMPOS apud
GEROLAMO, CORTÊS, 2013)
Logo, observa-se que o baião, estilizado por Luiz Gonzaga na década de 40,
tornou-se modelo da sonoridade nordestina. De acordo com Rafael José de
MENEZES BASTOS o baião representa também a quinta “onda” mundial da música
brasileira no plano internacional, constituindo um dos momentos em que a música
brasileira alcançou visibilidade no exterior. Durante a década de 50 o baião se fez
presente em diversas orquestras e trilhas sonoras de filmes estrangeiros.
Posteriormente, serve como referências para tropicalistas e diversos compositores
como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti se estendendo até a contemporaneidade
com artistas como Jonas Magno, Lampirônicos, Lucy Alves, dentre muitos outros.

REFERENCIAL TEÓRICO
CÔRTES, Almir. Como se toca o baião: combinações de elementos musicais no
repertório de Luiz Gonzaga. Per Musi, Belo Horizonte, n.29, p. 195-208, 2014.

CÔRTES, Almir. Improvisando em Música Popular: Um estudo sobre o choro, o frevo


e o baião e sua relação com a “música instrumental” brasileira. Orientador: Esdras
Rodrigues Silva. 2012. 313f. Tese (Doutorado) - Música, Instituto de Artes,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas. p.178-215. 2012

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DANTAS, Luiz. Dicionário Gonzagueano: A origem do Baião. YouTube, 23 de mar.
de 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q3ACElGRM7M.
Acesso em 01 de nov. de 2023

GEROLAMO, Ismael de Oliveira; CORTÊS, Almir. O baião na produção do Quarteto


Novo. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, XXIII, 2013, Natal.

LIMA, Diego. Aula 05 | A história do baião | Minicurso de ritmos brasileiros | Lei Aldir
Blanc. YouTube, 27 de abr. de 2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=gOIwBmuYlYc. Acesso em 01 de nov. de 2023.

ZAN, José Roberto. Um percurso do baião na música popular brasileira através de


três estudos de caso. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
PESQUISA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, XXIII, 2013, Natal.

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