Você está na página 1de 40

PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO

SUPERENDIVIDAMENTO DOS CONSUMIDORES

Prof. Andressa Jarletti Gonçalves de Oliveira


andressajarletti@hotmail.com
(41) 98862 1609
1. CRÉDITO E DESENVOLVIMENTO

- Consumo e Produção pequenas/médias empresas são os


motores da economia
- Crédito é o combustível
- Economia de endividamento
- As duas faces da moeda: desenvolvimento x
endividamento excessivo
CRÉDITO PARA CONSUMO

- Explosão no consumo de crédito nos últimos 20 anos


- Dificuldade compreensão custo do crédito (IPSOS/2011)
- Crédito direcionado x taxas livres
- Linhas de crédito mais onerosas: cartão de crédito e
cheque especial
CRÉDITO E SUPERENDIVIDAMENTO

- Cultura da vida a crédito


- Costume de compras parceladas
- Dificuldade de poupar e ímpeto de consumo
- Falta de educação financeira e básica (INAF)
- Alto custo de vida
- Alto custo do crédito no Brasil
- Alto risco de superendividamento
2. CONSUMO DE CRÉDITO E CAUSAS
DO SUPERENDIVIDAMENTO

- Cartões de crédito
- Cheque especial
- Crediários
- Crédito consignado
- Financiamentos veículos/imóveis
CAUSAS DO SUPERENDIVIDAMENTO

- desregulamentação do mercado de crédito, com pouco


(ou nenhum) controle pelos bancos centrais do nível de
crédito e de tetos de juros;
- redução do Estado de bem-estar social, onerando o
orçamento dos cidadãos com despesas essenciais, como
saúde e educação;
- o impulso pelo consumo e os riscos subestimados (teoria
heurística incompleta);
CAUSAS DO SUPERENDIVIDAMENTO

- concessão banalizada de crédito


- déficits de informação e de educação financeira
- os acidentes da vida, apontados em pesquisas nacionais e
internacionais como a maior causa para o
superendividamento.
3. ESPÉCIES DE SUPERENDIVIDAMENTO

- Superendividamento passivo: acidentes da vida, 70%


dos casos

- Superendividamento ativo inconsciente (ímpeto do


consumo, falta de educação financeira)

- Superendividamento ativo consciente


CONCEITO DE SUPERENDIVIDAMENTO

- Superendividado de boa-fé

- Passivo e ativo inconsciente

- Pretende pagar as dívidas mas não tem como


CONCEITO DE SUPERENDIVIDAMENTO

“Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do


superendividamento da pessoa natural, sobre o crédito
responsável e sobre a educação financeira do consumidor.

§1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade


manifesta do consumidor, pessoa natural, de boa-fé, pagar
a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e
vincendas, sem comprometer o seu mínimo existencial, nos
termos da regulamentação.”
CONCEITO DE SUPERENDIVIDAMENTO

- consumidor pessoa natural

- boa-fé

- totalidade de suas dívidas de consumo

- comprometer o seu mínimo existencial


MÍNIMO EXISTENCIAL

- Depende de regulamentação

- Não vinculado ao valor do Salário Mínimo, mas às


despesas que deveria custear (CF/88) – estudos DIEESE

- Proposta escalonada por renda (progressiva)

- Apuração no caso concreto enquanto não há definição


DÍVIDAS DE CONSUMO

ART. 54-A

§ 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam


quaisquer compromissos financeiros assumidos
decorrentes de relação de consumo, inclusive operações
de crédito, compras a prazo e serviços de prestação
continuada.
DÍVIDAS EXCLUÍDAS

- Trabalhistas

- Alimentares

- Contratos com garantia real

- Financiamento imobiliários

- Crédito rural
DÍVIDAS EXCLUÍDAS

Art. 54-A (...)

§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor


cujas dívidas tenham sido contraídas mediante fraude ou
má-fé, sejam oriundas de contratos celebrados
dolosamente com o propósito de não realizar o pagamento
ou decorram da aquisição ou contratação de produtos e
serviços de luxo de alto valor.
4. SUPERENDIVIDAMENTO NO DIREITO
COMPARADO

- ESTUDO BANCO MUNDIAL 2012: recomenda adoção de


medidas para prevenir e tratar o superendividamento

- Em larga escala pode gerar crise econômica sistêmica

- Crise de 2008/2009: endividamento excessivo famílias


EUA

- Brasil: estimam-se 40 milhões de superendividados


MODELO FRANCÊS

Lei Neiertz de 1989

Foco na reeducação financeira do consumidor


superendividado

Plano de pagamento com reescalonamento das dívidas,


preservando o reste à vivre

Compromisso de não assumir novas dívidas de consumo


MODELO FRANCÊS

Regulação da informação e publicidade para evitar


banalização do crédito

Veda expressões “crédito sem juros”, concessão sem


consulta a cadastro de inadimplentes

Informação completa sobre custo do crédito

Oferta prévia por escrito válida por 15 ou 30 dias

Direito de arrependimento e prazo de reflexão 7 dias


MODELO FRANCÊS

Livro III do Code de la Consommation

Penalidades para concessão irresponsável de crédito,


descumprimento deveres de informação e de conselho

Perda encargos remuneratórios e aplicação de multa

Critério objetivo
TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO

1) Fase extrajudicial: comissão avalia se é remediável e


elabora plano de pagamento. Três condições:
consumidor de boa-fé, dívidas não profissionais e
reescalonamento conforme reste à vivre, prazo máximo
8 anos.

2) Fase judicial: com ou sem liquidação de bens


(administrador judicial), pode ter remissão de dívidas,
redução ou exclusão de encargos (concessão de crédito
irresponsável)
DIRETIVA 48/2008/CE

Padroniza informação aos tomadores de crédito, oferta


prévia destacada para comparação do CET

Padroniza publicidade exigindo informações completas


sobre custo do crédito

Fixa deveres de conselho e de crédito responsável


FRESH START AMERICANO

Foco na reinserção do consumidor no mercado

Dois procedimentos: pagamento de dívidas reescalonado,


remição de dívidas por ausência de bens

Perdão das dívidas que não podem ser honradas

Não pode abrir novo procedimento em 8 anos


5. A VANGUARDA DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

Projeto piloto no RS em 2006, Dras. Clarissa Costa de Lima e


Karen Bertoncello

Procedimento consensual e pré-processual, gratuito e


voluntário

Abertura por iniciativa do consumidor

Audiência de conciliação conjunta com os credores


FORMULÁRIO PRÉVIO

- Dados pessoais socioeconômicos


- Renda e patrimônio
- Despesas correntes (núcleo familiar)
- Relação de credores e dívidas
- Se concessão de crédito foi após negativação
- Ações/execuções contra si
- Fatos que causaram o superendividamento
CONCILIAÇÃO PARA REPACTUAÇÃO
DAS DÍVIDAS
Consumidor recebe cartilha “10 mandamentos da
prevenção ao superendividamento”

Sai intimado para audiência, já designada

Audiência: tentativa de acordo com todos os credores,


descontos sobre a dívida e reescalonamento dos
pagamentos

Acordo positivo: título executivo judicial, limpa o


nome do consumidor
CONCILIAÇÃO PARA REPACTUAÇÃO
DAS DÍVIDAS
No PR projeto foi implementado em 2010, pela Dra. Sandra
Bauermann

Atendimento nos JECs

Recomendação 125 de 24/12/2021 do CNJ: recomenda a


implementação de Núcleos de Conciliação e Mediação de
Conflitos Oriundos de Superendividamento junto aos
CEJUSCs, com juiz designado para aplicar penalidades
CONCILIAÇÃO PARA REPACTUAÇÃO
DAS DÍVIDAS
Núcleos multidisciplinares

Auxílio elaboração plano de pagamento

Educação financeira do consumidor

Apoio psicológico/assistência social


6. LEI 14.181/2021

“aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e dispor


sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento”.

- Função social do crédito


- Dignidade humana
- Mínimo existencial

- Inspiração legislação francesa e nos projetos piloto de


tratamento do superendividamento
6. LEI 14.181/2021

- Prevê instituição de mecanismos para previnir e tratar o


superendividamento

- Prevê criação de núcleos de conciliação para tratamento


do superendividamento

- Institui direito básico do consumidor à garantia de


práticas de crédito responsável

- Preservação do mínimo existencial na revisão e


- repactuação das dívidas
PREVENÇÃO DO SUPERENDIVIDAMENTO

- Reforço da boa-fé e informação

- Educação financeira do consumidor

- Garantia de práticas de crédito responsável

- Preservação do mínimo existencial

- Regulação da publicidade do crédito


PREVENÇÃO DO SUPERENDIVIDAMENTO

- Novos deveres que se aplicam a todos os consumidores,


não apenas aos superendividados

- Deveres de boa-fé, reforço da informação, concessão


responsável de crédito e penalidades para violação:
incidência não é restrita ao tratamento dos
superendividados

- Auxiliar a aperfeiçoar a disciplina do crédito e sanar


interpretações judiciais equivocadas sobre o direito
à informação nos contratos bancários
REFORÇO DO DIREITO À INFORMAÇÃO

- - Detalhamento sobre os elementos do custo do crédito

- - Deveres de informar e esclarecer adequadamente o


consumidor sobre custos, riscos e consequências gerais e
específicas do inadimplemento

- - Dever de avaliação das condições de pagamento do


consumidor (SCR- SISBACEN)

- - Dever de entregar a cópia do contrato

- - Penalidades do artigo 54-D, parágrafo único


REFORÇO DO DIREITO À INFORMAÇÃO
Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o
fornecedor ou o intermediário deverá, entre outras condutas:

Parágrafo único. O descumprimento de qualquer dos deveres


previstos no caput deste artigo e nos arts. 52 e 54-C deste
Código poderá acarretar judicialmente a redução dos juros, dos
encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação do
prazo de pagamento previsto no contrato original, conforme a
gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades
financeiras do consumidor, sem prejuízo de outras sanções e de
indenização por perdas e danos, patrimoniais e morais, ao
consumidor.'
NOVAS PRÁTICAS ABUSIVAS

- -Assédio aos hipervulneráveis na concessão de crédito

- - Debitar em conta corrente valor contestado em fatura


de cartão de crédito

- - Dificultar ou impedir anulação de fraudes

- - Não entregar a cópia do contrato (Súmula 50/TJPR)


NOVAS PROTEÇÕES

Art. 54-F. São conexos, coligados ou interdependentes,


entre outros, o contrato principal de fornecimento de
produto ou serviço e os contratos acessórios de crédito
que lhe garantam o financiamento quando o fornecedor de
crédito:
I - recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou
serviço para a preparação ou a conclusão do contrato de
crédito;
II - oferecer o crédito no local da atividade empresarial do
fornecedor de produto ou serviço financiado ou
onde o contrato principal for celebrado.
NOVAS PROTEÇÕES

§ 1º O exercício do direito de arrependimento nas


hipóteses previstas neste Código, no contrato principal ou
no contrato de crédito, implica a resolução de pleno direito
do contrato que lhe seja conexo.
§ 2º Nos casos dos incisos I e II do caput deste artigo, se
houver inexecução de qualquer das obrigações e deveres
do fornecedor de produto ou serviço, o consumidor poderá
requerer a rescisão do contrato não cumprido contra o
fornecedor do crédito.
NOVAS PROTEÇÕES

§ 3º O direito previsto no § 2º deste artigo caberá


igualmente ao consumidor:
I - contra o portador de cheque pós-datado emitido para
aquisição de produto ou serviço a prazo;
II - contra o administrador ou o emitente de cartão de
crédito ou similar quando o cartão de crédito ou similar e o
produto ou serviço forem fornecidos pelo mesmo
fornecedor ou por entidades pertencentes a um mesmo
grupo econômico.
NOVAS PROTEÇÕES

§ 4º A invalidade ou a ineficácia do contrato principal


implicará, de pleno direito, a do contrato de crédito que lhe
seja conexo, nos termos do caput deste artigo, ressalvado
ao fornecedor do crédito o direito de obter do fornecedor
do produto ou serviço a devolução dos valores entregues,
inclusive relativamente a tributos.
TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO

- Procedimento em duas fases

- Fase consensual, com base nos projetos pilotos do


judiciário

- Fase judicial compulsória, recuperação judicial da pessoa


física
VETOS

1. CRÉDITO CONSIGNADO (LIMITE 30%) E


ARREPENDIMENTO EM 30 DIAS

2. EDUCAÇÃO FINANCEIRA NAS ESCOLAS

3. PUBLICIDADE TAXA ZERO

Você também pode gostar