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O GEOGRAFIA DA MINHA ALDEIA

E O LUGAR DO POVO INY

Diberu Karajá
OLÁ, MEU NOME É DIBERU KARAJÁ E SOU DE ORIGEM INDÍGENA.
MEU POVO É CONHECIDO POPULARMENTE COMO KARAJÁ, MAS NÓS
NOS RECONHECEMOS COMO POVO INY.

VOU CONTAR PRA VOCÊS SOBRE A HISTÓRIA DE ORIGEM DO MEU


POVO.

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Anõherenỹ jikary wani Diberu Karaja, jikary ixỹju tykityh ỹ rare.Wa

mahadu rakerymyhyrenyre karaja, tase tule rakerymyhyre awityhymy

Inỹ-my.

Karelykỹkre Inỹ timybo rakoraruremy ijỹkỹmy.

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Originalmente, meu povo vivia

em uma aldeia no fundo de

um rio. Fomos criados por

kynyxiwe e éramos imortais.

A aldeia na qual vivia o povo

Iny se chamava Berahatxi

Mahadu, que significa Povo do

Fundo das Águas.

Não conhecíamos nada que

estava fora do rio, nem o sol,

a lua ou as plantas. Nós

vivíamos felizes com os

peixes e com a vida no fundo

do rio.

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Wa aldeia mahadu bera
wokuùmy rasynỹmy rỹiramyhy.
Juhuku awimy Inỹ rỹiramyhy, ta
Kỹnyxiwe bdeè riwitxiranyrè.
Juhuku iny ryiramyhy berahatxi
mahadu, obitimy tuu rbè
berawoku mahadu.

Juhuku anõkõ ijõkõre


berawokuki, txuù, ahadu,
lòbòròna, iny ryiramy tekysamy
kutura wana.

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Um dia, um jovem curioso que vivia

na aldeia quis conhecer a

superfície. Então, ele foi em

direção a luz de uma passagem na

superfície da água, isso permitiu

que ele desse uma olhada do lado

de fora do rio.

Ao sair, ele encontrou muita

beleza e ficou encantado com os

animais, o sol, a praia ribeirinha e

outras coisas tão diferentes do

lugar onde vivia. Hoje nós

chamamos esse lugar lindo de Ilha

do Bananal.

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Tikutxuùbo wekyrybo

hawatxi reakareku hawa

isyby ijõdimy, txulukosoò

hedi retehemy rakokunymy

berawoku rbi.

Ahanaki rahare awimy

sõemy, iroduki, txuùki,

ahaduki, knyraki, tai rahare

awimy hawaki. Hawa berawo

rbi syỹ iwitxiramy. Wiji tai

syỹ roimyhyre ini Ilha do

Bananal.

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Ao observar o lado externo, o

jovem Iny, encantado pela

beleza das praias do lugar,

pensou na possibilidade de

viver nesse local.

Então ele voltou para o fundo

do rio, reuniu seu povo e

contou sobre as belezas e

riquezas que havia visto.

Todos pediram permissão para

Kỹnyxiwe para viver na

superfície e, mesmo triste e

preocupado com seu povo, ele

permitiu que eles fossem

morar na superfície.

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Werykybò Inỹ rakokunyreku ahanakò, hawaki awimy rahare

iruxeramy, kỹnỹra tai ijõdi ibdeèki.

Tai awimy rareki isybylè wahidi rare berahawokutxi taitxoi

mahadu-kò, tamahadu-kò rarybere hawa awii roiremy tuu

robiramy. Butumy resitoenyrenyre Kỹnyxiwe-kò hawa bera-tyreki

awimy roireri tamy hawamy roirerimy.

Iny wekybo, deysa anobo ano iruxera kynyra, hawa, rarajinyre

rasynykremy hawaki.

Tai tiki wakokysere berawokuko, taitxuiko wewena riwinykre

iruxeramy tai rahare tuy robire. Botumy rexitoenyrenyre

kynyxiwe ko rahawanyrekremy ahanawebro, ixikyrabule byderyry

ta nohotikyremy tamyhadurenym, tiki riwahinyrenyre tikiboho

rahawanykremy ahanako.

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Depois de algum tempo vivendo na superfície, o povo Iny acabou

encontrando doenças e a morte, coisas que não existiam no

fundo do rio.

Eles queriam voltar para o fundo do rio, mas a passagem estava

fechada e uma grande cobra vigiava a passagem, para que

ninguém pudesse mais entrar.

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Tikubo bdeé rareherehenydi hawaki sy ỹ, In ỹ hawaki nakokunydè

rubuna tule rubù, tuu ijõkõre webinadu taa rubù tule, hawa berà

wokuki.

Taita isyby werỹmy Inỹ mahadu riwisỹnyre tahawako berahatxi-ko,

taa ryŷ tamy robòre.


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Já que não podiam

mais voltar, o povo Iny

se espalhou pelas

margens do rio

Araguaia.

E vivemos lá até hoje,

principalmente no

território da Ilha do

Bananal.

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Wiji taiki Inỹ ryimyhyre

rahawanymy beraku weramy,

isyby rabuarekõreki.

Inỹ hawa Ilha do Bananal taiki

tuu roimyhyre wiji.

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O dia em que descobri que o
mundo existia

Até os meus 8 anos de idade, eu pensava que só a minha aldeia

existia. As únicas pessoas que conhecia eram de origem Iny.

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Tikubo rekeryreku hawa bdeèdykỹnana
hawa ijõdiremy

Debo inatano rekyromy wawyra, rarahatimy raremyhy waha sohojile

ijõdiremy. Rekerymyraremy wamahadulè ijõdimy ryiramyh ỹmy.

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Um dia, quando estava na escola, o professor falou que nós iríamos

visitar outro local. Nós viajaríamos para a cidade de Palmas,

capital do estado do Tocantins, para fazer uma apresentação de

dança e mostrar um pouco da nossa cultura, a cultura indígena.

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Tikubo tykỹritinaki,
dohokudỹkỹdu
rarbèrè: ryikemy nyõ
“tori” hawakò. Nyõ
ryikemy tori
hawarawokukò Palmas,
estado do Tocantins-
kò, iseé,taà inỹ
bdeédykỹnana-my Inỹ
resitekosinykemy.

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Durante a viagem eu pude perceber que haviam vários outros

lugares além da aldeia. Muitas cidades, fazendas e pessoas que eu

nunca havia visto antes. Foi nesse momento que eu percebi que o

mundo existia, um mundo além da aldeia.

Desde então, eu senti vontade de conhecer o mundo, outras

culturas e costumes diferentes.

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Juhuku rahõtinymy raremyhy aldeia sohojile ijõdimy. Wiji tahe

rabimyhyre sõemy wekumy (cidades, fazendas, etc). Juhuku tuu

rabikõhikimy raremy. Tai wiji rekerymyhyre hawa waaldeia ki

sohojile anõkõ ijõdimy “butumy” tai wiji watximyhyre hawa

witxira rekerymy awimy tai rahamy.

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Minha Aldeia

Eu moro na aldeia Btõiry, conhecida popularmente como Aldeia

Fontoura, que fica na Ilha do Bananal, no estado do Tocantins. Nossas

casas são feitas com dois tipos de materiais: barro e palha.

A palha nós utilizamos para fazer o teto e o barro para fazer as

paredes.
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Wahawa

Wahawa aldeia Btõiry, awityhymy rakerymyhyre ini aldeia

fontoura, tule roimyhyre Ilha do Bananal-ki, Estado do Tocantins

wokuki. Inỹ hetoku anõdibò relemyhyre: suúdi taà horerudi, nõbò.

Horeru rakuhemyhyre hetoku ratyti widyk ỹnakò, kaà suù tasy iweti

widykỹnako rakuhemyhyre.

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Nós, o povo Iny, produzimos muitos alimentos na aldeia. Plantamos

mandioca, cana-de-açúcar, milho, melancia, batata-doce, amendoim e

banana. Nós também pescamos e caçamos animais para a nossa

alimentação como catitu, veado, mutun e criamos vacas. Nem tudo

conseguimos produzir, então, compramos na cidade mais próxima.

Na cidade nós compramos arroz, feijão, carne vermelha e frango,

verduras e frutas também. A cidade mais próxima da aldeia é Luciara,

aproximadamente 14,2 quilômetros de distância , no estado do Mato

Grosso.

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Inỹ Rysyna tyhy bdeèdykynanamy rbè, anobo he lobòròna tai. tule

anobo rakobramyhyre tori hawa rbi.

Iny boho, soemy robòrò myhyrenyre. Lobòróna: hiry, makiti, rokuni,

koteryti, ijata, Iny mahadu tule rawaximyhyre tule irodu rijemyhyre

bydehakyko byrenamy kiahe tiki rare, hyly, broòré, koritxi ta broòrèni.

Butumy anõkõ alobròna myimyhyre, tai anõõ, taiki kobramy tori hawako

rirahumyhyre.

Tori hawako inỹ mahadu rirahumyhyre kõbramy, makixõmõ, hanike,

baderaty, bdeéradé. Tori hawa ibireki roireri iny waha, Luciara-Mato

Grosso 14,2km my roimyhy waha rbi irehe.

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Em minha aldeia, nós temos um festival muito importante, nós o

chamamos Hetokuhukỹ. Esse festival começa no mês de outubro e vai

até o mês de março. Nos últimos 3 dias do festival nós realizamos uma

grande festa e outra aldeia vem participar conosco. Essa festa é

considerada como um rito de passagem, onde meninos se tornam

homens e aprendem a trabalhar e a pescar.

Antes do festival, familiares, que tem filhos que participam da

cerimônia de passagem, se reúnem com o pajé para escolher quem

será o menino eleito como o dono da festa da Hetokuhuk ỹ. Depois da

escolha ser feita, há um anúncio para o povo da aldeia sobre quem

será responsável pelo festival, então a família dele se responsabiliza

em cuidar de todos os preparativos.

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Inỹ bdeèdykynana. Hetokuhukỹ inỹ bdeèdykynana tyhy rare,

rakòkunymyhyre sohoji bekoradi, tule in ỹ ix ỹjukò anõtyhyrare dekysana

inihikỹ.

Wahawaki anõtyhy rare dekysana, anõmany raninimyhyre Hetokuhuk ỹ,

rikorarunymyhyre wyraku outubro taa ramyhyre bekorakohok ỹle março-

kò isihiduna. Ikokunanahakỹku awityhymy rakokunymyhyre dekysana

sõemy hawa hawa rakutymyhỹre dekysanako. Dekysana hetokuhukỹ anõma

tuu riryrymyhyre kuladu adelà wekyr ỹ

ralòmyhyre jyre-my, inỹ bdeédykynanamy.

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O futebol não é costume tradicional do povo Iny, mas nós gostamos
muito de jogar bola.

Comecei a jogar bola desde jovem, já faz tanto tempo que jogo que
nem me lembro quando aprendi. Sempre participei de torneios em
minha comunidade.

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Bola-my ijykỹ: Boladi dehuhe inỹ

bdeèdykỹnana anõkõrare, tori

bdeédykỹnana tahe iharele inỹ sõemy

tai awimy rahamyhyre, iji dehuki.

Jikary rekorarunyre bolaji dehu

idjadokomaku, juhukuhyỹle rekeryre

boladi dehu wanõhõti rusare

tikurebo, tule tiku txuùihykõ

rehumyhyre wa aldeia-ko rawna.

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Ser professora

Eu sempre sonhei em ser professora, quero ensinar para as

crianças da minha aldeia sobre o mundo. Quero explicar para

elas sobre as árvores, o solo, o rio e as outras cidades que

exitem fora da aldeia. Eu entendi que aprenderia sobre o

mundo na Universidade, no curso de Geografia, então decidi

ser professora de Geografia.

Agora estou na universidade, quase terminando o curso de

Geografia, realizando o sonho de ser professora.

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Dikary rahõtinymyhỹre wiji, tikubo watỹkỹriti krahùkrekù isyby

krabùarekremy wa-aldeia-ko. Taikita anõbõ rekeryra watykyritinaki tiki

karitekosinykre waitxòiko. Tule geografia sõemy watyk ỹr ỹti rehè-rehè

rekerymy rare, wadeke awimy tule.

Sõemy waratikò relydimyhyre kratxike t ỹkỹrikidumy, tiukutxubo uladu

mahadu karitohokunykemy wanõbo rekeryramy watyk ỹrytinaki. Kaa

sõemy anõbo rekeryramy watykỹritinaki diary anõbo watxireri, tiki

tỹkỹrididu mahadu-kò kariwahinykemy timy rewinyra geografia

bdeédỹkỹnana

26
FIM!
Autora: Diberu Karajá

Orientadora: Adriana Olívia

Ilustradora: Caroline Costa Prado

Setembro, 2022.

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