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THEMATIC APPERCEPTION TEST

Algumas situações típicas dentro da amostra de adultos examinados


no I. S. o. P.

ESTHER FRANÇA E SILVA

A pesquisa realizada com 500 po de examinandos, suficiente-


adultos - de 20 a 35 anos inclu- mente numeroso, do mesmo sexo e
sive, 250 masculinos e 250 femini- idade aproximada.
nos - teve, como finalidade má- Convém, pois, estabelecer com
xima, a determinação das histó- normas quantitativas: a) quais os
rias mais comuns - histórias cli- temas clichês de freqüência maior,
,chês - e da freqüência de conteú- média e inferior em cada prancha
dos ideacionais, que cada prancha e fixar objetivamente qual a sig-
tende a provocar. nificação específica de cada gra-
Como ficou exposto na La parte vura; b) quais os motivos mais e
.desta pesquisa, aliás já publicada menos freqüentes, por prancha e
(Arquivos Brasileiros de Psico- por número de histórias; c) quais
técnica - março de 1953), é de as omissões; d) quais as ditorsões
significativa importância a in- e e) quais os desvios mais ou me-
fluência da cultura dominante na nos freqüentes nas diferentes ida-
formação dos mais freqüentes te- des em um e outro sexo. Dêste
mas, donde o imperativo de se le- modo, a alta ou baixa freqüência
var em conta essa influência para de um tema, de um motivo ou de
interpretação dos desvios e de suas um desvio se estimaria por crité-
motivações. rio estatístico interindividual e,
O exame interindividual da pro- assim, a significação a êles atri-
dução de um sujeito será tanto buída reuniria maior segurança.
mais seguro quanto mais se fun- Os desvios dos clichês ou histó-
damentar em normas fixadas por rias comuns, que aparecem em re-
valores quantitativos. A consis- lação direta com a existência de
tência ou a inconsistência da fre- problemas emocionais importan-
,qüência de um tema, de um motivo, tes, podem ser significativos em
de um desvio, bem como a sua au- duas direções: a) originalidade do
'sência, se apreciariam, por compa- pensamento, e b) grande liberdade
ração com padrões resultantes de imaginativa. Conseqüentemente,
.cálculos estatísticos sôbre um gru- quanto mais se desvie uma histó-
8 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

ria dos clichês, tanto mais signi- ciada, consentimos em sua publi-
ficativo será o conteúdo ide acionaI cação no intuito de estimular ou-
que proporciona; e quanto maior tras pesquisas que a continuem e
o número de histórias originais enriqueçam para que, em benefício
men.os probabilidade haverá de que da investigação psicológica, se ve-
uma expresse, em particular, "a nha a obter a máxima eficácia do
história íntima" do indivíduo. En- TAT.
tretanto, um número elevado de
histórias desviadas da norma, po- PRANCHA 11
derá ter significação patológica.
Ao estruturar uma situação, o Esta prancha nos permite ver
indivíduo pode revelar as próprias a fantasia provocada por situações,
lutas, disposições, conflitos, fixa- que sem dúvida não encontram sí-
ções primitivas, complexos e pres- mile na realidade. Com muita sa-
sões, que designam os atributos e bedoria Murray a colocou no iní-
aspectos da personalidade sôbre ci.o da segunda série do teste, na-
que o psicólogo está interessado. turalmente na suposição de que a
Nem tôdas as histórias que o su- expansão e o revolver das vivên-
jC'ito elabora têm igual importân- cias conflitivas na La série hão de
cia para o diagnóstico dos impul- predispor o tematista aos vôos li-
sos e conflitos. Algumas podem vres da imaginação.
fornecer grande quantidade de ma- A análise que fizemos deixa pa-
terial diagnóstico, enquanto outras tente que esta prancha evoca fan-
podem não oferecer nenhum. tasias sexuais e agressivas com
Os sentimentos, atitudes, confli- predominância daquelas.
tos e tôdas as necessidades são al- Temas mais freqüentes na amos-
gumas vêzes representadas indi- tra masculina:
reta ou simbolicamente, d.onde ser 1 - Temas que se referem a pe-
preciso estudar profunda e cuida- rigo (100).
dosamente a natureza do meca- 2 - Homem de ciência, um ex-
nismo de projeção, distinguindo, plorador de regiões ignoradas.
por exemplo: a projeção pessoal, (50)
da impessoal; a direta (do indi- 3 - Homossexualidade e agres-
víduo mesmo) da indireta (sua vi- sividade combinadas. (50)
sã.o de outras pessoas); a proje- 4 - Sexualidade perigosa. (20)
ção do comportamento real, da ma- 5 - Agressividade, seja no as-
neira como o indivíduo se vê e da pecto simples, seja combinada com
maneira como queria ser; desejos ambição. (20)
e temores inconscientes, dos im- 6 - Revivência de experiências
pulsos conscientes; frustrações su- infantis, no caso de nascimento e
peradas ou não, das reações e ati- das relações de pai e mãe. (5)
tudes ante elas, etc. 7 - Documentos das camadas
A determinação do grau de cor- pr.ofundas da personalidade: luta
respondência entrtl os traços da entre id e superego e conflito entre
produção do examinando e os da Eros e Tanatos. (5)
produção típica da classe de adul- 1 - Em 1.0 lugar projetou a
tos que freqüenta o I. S. O. P. é atitude do indivíduo diante do pe-
tarefa ingente e que, apenas in i- rigo (agressão, ameaçando de fo-
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ra) e sua maneira de experimen- de experiências perigosas e novas.


tar ansiedade. As figuras obscuras O monstro constituiu uma repre-
(animais ou homens) quando fo- sentação simbólica das exigências
ram atacados pelo dragão, e em instintivas que se achavam arma-
geral descreveram suas técnicas de zenadas no interior. As histórias
defesa, indicaram o temor do in- que se referiram a dificuldades
divíduo à agressão e os meios que para dominar .o animal e aquelas
usou para vencê-la. Foi interes- em que o herói foi perseguido por
sante notar a situação que inspi- animais representaram dificulda-
r.ou o temor como, por exemplo, des de controlar ou adaptar-se aos
ser vítima de uma sanção, faltar impulsos sexuais.
a proteção, sofrer um golpe, per- Esta é uma prancha que se
der sua situação, etc. presta mais a interpretações sim-
E mais interessante ainda os bólicas e é necessário que o inter-
meios empregados para reagir às pretador conheça os símbolos freu-
ameaças e ao perigo e igualmente dian.os e tôda elaboração psíquica
a defesa contra a ansiedade. En- para mascarar os impulsos repri-
tre estas defesas encontramos: a midos que a prancha liberta. Nos
recusa possível de reconhecer a nossos casos estudados o dragão
hostilidade manifestada a .outrem, da prancha 11 freqüentemente
ou a recusa a reconhecer sua pró- apareceu dotado de caráter simbó-
pria passividade, às tendências à lico, com alguns dos diversos sig-
auto-afirmação (como as vanta- nificados: os vícios, as tentações,
gens, ambição, esfôrço de ter feito o diabo, os inimigos, os obstáculos
alguma coisa, repressões ou par- na sua vida, o pai, a mãe, o chefe
ciais repressões sob a forma de (pessoas que tinham conflitos gra-
fuga no refúgio e na solidão, as ves com a família ou o trabalho),
tendências de escapar ou de fugir, o órgão genital masculino, etc.
o desenvolvimento da necessidade Alguns exemplos da amostra
de submissão, necessidade de pro- masculina:
curar guia e auxílio dos outros e 1. o - Isto para mim é como se
QS sintomas histéricos, revestindo fôsse o símbolo de uma alma en-
a forma de diversas c.omplicações venenada, se fôsse possível mate-
sensoriais ou motoras, ou então rializá-la, retratá-la, penetrar nas
das funções internas, como as que suas profundezas e ver o que ali
aparecem no sofrimento, a sauda- se passava e senti-la como uma
de, o cansaço, etc. paisagem lúgubre, fantástica, uma
Notamos as tendências ideais do alma em ruínas, onde as pedras,
ego, nos temas de exploração de os rochedos, .os crimes praticados,
regiões, homens de ciência, que ex- soterraram as ilusões, os anseios,
pressaram em muitos casos a am- os ideais de realização e em cujas
bição, o esfôrço, visando o sucesso, estradas e despenhadeiros os pen-
a vitória ou a derrota dêste es- samentos caminhavam arrastando
fôrço. E' necessário reparar nes- com esfôrço, com remorso, a m.or-
tes cas.os nos tipos de atividade bidez, a torpeza dos instintos e
para os quais se orientam a ambi- tentando subir as encostas da alma,
ção e a luta. Ainda nestes temas a fim de atingir alguma luz, algu-
observamos a curiosidade, o desejo ma inspiração mais elevada, en-
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contra apenas uma gruta negra, sar uma garganta sombria e úmi-
profunda das tendências viciosas da, talvez possam alcançar a Fran-
e mórbidas que se desprendem dos ça antes da noite, apesar de terem
abismos negros da própria alma de andar cautelosamente por causa
envenenada, a única saída dos pen- das pedras escorregadias onde pi-
samentos para as idéias é êsse sam. Na La curva do caminho pa-
abismo porque a alma está cercada rece haver uma troca de gendar-
por todos os lados pelos paredões, mes, esperando que passem e en-
penhascos sombrios da consciên- tão haverá uma luta de sempre,
cia da culpa pelos crimes prati- com muitos gritos, muitas corre-
cados. E' o símbolo dantesco do rias, muito sangue. E Pablo vol-
inferno que cada um de nós tem tará para Conchita.
dentro de si e cuja finalidade na (Aventura clandestina - Ex-
vida é a luta contra êle, sendo pansão sexual e agressividade).
que alguns dêsses abismos são
tão grandes que não conseguem SEXO FEMININO
sair dêsse círculo, dêsse lodo
sombrio (conflito entre id e E' nas histórias femininas que
superego). o problema da sexualidade mais se
2.° - E' a história de uma ca- realiza na interpretação das fi-
verna muito grande que tem um guras.
passado bastante interessante. 1 - Atitude frente ao perigo.
Lapa dos namorados - com uma Simbôlicamente desejos de relação
entrada muito pequena, local muito heterossexual ou'o temor dessa re-
querido pelos estudantes de geolo- lação. Evidentemente mesmo nes-
gia. Certa vez aUgumas pessoas sas é a mulher tematista que revive
foram fazer um piquenique. Havia uma experiência tida que foi dolo-
um casal de namorados. Havia rosa ou que deseja essa experiên-
nessa caverna um abismo muito cia. (100)
disfarçado. O casal de namorados 2 - Auto-destruição diante do
estudava ali e por descuido caíram perigo. (80)
juntos no abismo e morreram. 3 - Homossexualidade acompa-
(Heterossexualidade efetiva e nhada de agressividade. (50)
perigosa) . 4 - Camadas profundas da per-
3.° - Uma caverna. Um má- sonalidade. (20)
gico, feiticeiro, criou um ambiente
de magia antiga, de alquimia que EXEMPLOS FEMININOS
procurava resolver onde pretendia 1.0 - Quando não se descobre
adquirir poderes sobrenaturais, o sentido da vida. Certa mo-
convida os alunos para uma visita ça desesperada pela monotonia,
e no entusiasmo da descrição cai pelo vazio, pela fraqueza que to-
dentro do fogo de uma fogueira lhia todos os seus movimentos
(Alta magia). quando tentava pôr em prática
(Auto-destruição por perigo ho- uma vontade, resolveu pôr têrmo
mossexual) . à vida: despenhou-se por um abis-
4.° - Um grupo de contraban- mo profundo e pavoroso. Gaviões
<:listas espanhóis procura atraves- logo após a sua morte espreitam-
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na prontos para sôbre ela desce- dinha, tôda enrolada, e aqui o Céu
rem com sua insaciável gula. todo escuro. Uma pessoa que qui-
(Auto-destruição) . sesse um suicídio muito requintado
2.° - Uma criatura que vive e fôsse dormir na beiradinha do
uma vida interior sem ter cons- abismo para durante o sono cair.
ciência do que se está passando (Auto-destruição) .
com ela na realidade. Ela sabe 5.° - Duas crianças que fugi-
que está faltando qualquer coisa ram de casa, saíram em busca de
para ser uma pessoa igual às ou- aventuras, passando por êste ca-
tras, mas não sabe o que é. Co- minho sentiram-se amedrontadas.
meça a procurar o motivo e isto Achariam o caminho de casa por
se torna uma espécie de obsessão acaso, voltariam para casa com
que vai crescendo, tomando vulto. esta lição. "Os perigos do desco-
Agora ela não tem mais vida inte- nhecido".
rior, ela sabe que não é uma pes- (Desejo de aventura).
soa comum. Ela pensa que está 6.° - Certa vez fui passear
fugindo de si mesma, mas ela ca- numa floresta. Estava encantada
minha para um verdadeiro abismo. com a solidão e aproveitava desta
(Luta entre o id e o superego, para sonhar e realizar no sonho o
vencendo o id). que eu não pudera realizar na rea-
3.° - Alegoria da luta do mal lidade. Eis que no meio do sonho
contra a sabedoria. O gênio do surge um monstro e avança para
Mal, uma horrível fera de aspecto mim. Espero-o resignada. Acordo
de um dinosauro, monstruosa, in- em seguida. Que alívio!
compreensível com seu pescoço (Desejo e temor da relação se-
muito comprido como a indicar- xual) .
lhe imensa cobiça, procura apro-
ximar-se do Templo onde habita o
gênio da Sabedoria. Uma vez en- PRANCHA 12 M
tre as trevas da morte, percebe
os passos daquele e astuciosamente A prancha 12 M apresenta em
vem para atacá-lo, com sêde de nossos casos estudados a seguinte
luta e de domínio. freqüência:
Mas o gênio da Sabedoria em 1 - Pai chorando a morte do
vez de atemorizar-se sai a zombar filho (80 casos).
do monstro, camufla-se num ani- 2 - Cenas de hipnotismo (70
mal estranho, desafia-o quando êle casos).
o quer atingir, faz por sua ciência 3 - Velho exercendo influência
jorrar fogo de todos os lados, fogo maléfica com êxito ou não (50).
temível que a fera jamais tentará 4 - Enfermo e médico (30).
atravessar, luz da verdade que 5 - Num nível mais profundo
ofusca e cega o gênio do mal, fa- atitude reveladora de tendências
zendo-o retrogredir nas suas sór- homossexuais (18).
didas investidas. 6 - Pai abençoando o filho, pro-
(Id e superego). tegendo-o (2).
4.° - Parece uma estrada ro- 1 - Os temas em que o jovem
chosa, uma parede enorme, uma deitado foi forçado a ser hipnoti-
ponte e uma pessoa bem na beira- zado, em geral denunciaram ten-
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dências homossexuais latentes ou Indicaram-lhe, então, o nome de


experiências homossexuais enco- um médico, um grande médico que
bertas. poderia curá-lo por um tratamento
2 - Os temas em que se vê um de psicanálise. Paulo recorreu a
velho que vai despertar o rapaz êle em uma esperança de salvar-se,
que está enfêrmo, revelam a ati- mas tudo foi em vão. O grande
tude do indivíduo perante os ho- médico, famoso médico, não passa-
mens adultos e seu ambiente e o va de um simples charlatão.
papel de passividade em sua per- (Agressão - Atitude diante da
sonalidade. terapia) .
3 - Os temas de médico e en- 3.° - Um senhor resolveu expe-
fêrmo revelaram em nossos casos rimentar o poder do hipnotismo
falta de confiança ou confiança num jovem.
absoluta na terapia. Utilizando-se dos métodos estu-
4 - Nos temas do pai chorando dados e aproveitando-se da inca-
a morte do filho, projetaram-se pacidade de domínio do rapaz, lo-
atitudes de agressão (hetero e grou realmente, deixando-o ador-
auto) . mecido, ficando, porém, embara-
5 "- Quando houve atitude de çado para desfazer o ato praticado,
depenàência e as influências exer- pois, empregando todos os recur-
cidas pelo velho foram maléficas, sos de que tinha conhecimento, viu
houve simbolismo sexual. o tempo escoar-se sem saber fazer
6 - Figura deitada vista como o rapaz voltar a si.
feminina. podemos falar em ten-
dências homossexuais, entretanto, (Submissão, agressão - Senti-
só consideramos significativo, mento de incapacidade).
quando houve muita fôrça de ex- 4.° - O menino morreu. Tinha
pressão na relação de dependência. qualquer coisa no coração e faleceu
7 - Esta prancha nos permitiu quando ia para a escola. Faleceu
também como a 7 B M julgarmos sem viver a vida. Foi um balão
das relações entre pai e filho e que estourou. O pai não se con-
também das atitudes do indivíduo forma porque é tão aborrecido o
como filho: submisso, dependente, porque da vida, como de uma morte
em oposição, etc. prematura. Que adiantava a casa
que montou, o prestígio alcançado
se sua obra, a verdadeira obra não
EXEMPLOS MASCULINOS mais existia. O velho chorava seu
filho único. Todo seu idealismo,
1.0 - Êste velho serve-se do hip- tôda a sua vitória na vida ficaram
notismo para satisfazer suas per- reduzidos à promessa de não rea-
versões sexuais . Neste momento lizá-los. E o velho que antes não
êle acaba de hipnotizar o rapaz e acreditava em Deus, passou a
aproxima-se para pôr em prática odiá-lo. Morte (agressão).
os seus instintos sexuais. 5.° - Dentre tôdas as coisas que
(Homossexualidade) . êste jovem não acreditava era na
2.° - Paulo, pobre e sozinho na fôrça do hipnotismo, porém depois
grande cidade, encontrou-se um dia daquele dia em que longe de sua
em estado de espírito tão agitado vontade foi adormecido sem que
que se julgou às raias da loucura. percebesse, acordado só horas de-
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pois pela mesma fôrça que o fêz Vivências tidas com irmãs: a
dormir, passou a não mais zombar tematista se compara com a outra
das fôrças misteriosas da natu- e não se pode furtar a revelar as
reza. disposições antagônicas de rivali-
dade.
PRANCHA 12 F Em essência cremos que os te-
mas da rivalidade sejam manifes-
Podemos classificar os temas: tações secundárias de velha situa-
1 - Mãe e filha (130). ção edipiana em que a filha com-
2 - Luta entre o dever e o pra- petiu com a mãe no afeto do pai.
zer (50). Igualmente, a comparação de ati-
3 - Duas irmãs rivais (50). tudes e disposições diferentes, mar-
4 - Etapas da vida de uma mu- cando personalidades que, por isso,
lher (20). atuam de maneira diferente nas
Esta prancha nos permitiu ver circunstâncias comuns da vida, ou
nos temas - Mãe e filha - que que, por isso, entram em conflito,
relações existiram ou existem en- também são resultados da situa-
tre a personalidade atual do exa- ção de competição primária com a
minando e sua personalidade in- própria mãe.
fantil, tal como foi modelada no Porém, esta projeção no passado
cenário familiar e a importância nem sempre reflete êsse desenvol-
que tem a região familiar na for- vimento com veracidade, porque os
mação de sua personalidade. En- fatôres fundamentais que opera-
contramos referências diretas sô- ram no desenvolvimento do indi-
bre a importância da figura ma- víduo podem projetar-se sôbre a
terna para o indivíduo e a influên- infância, como se houvessem atua-
cia desta sôbre sua personalidade, do desde então, porque a projeção
como tema mais freqüente. do indivíduo sôbre o passado pode
Conflito com outras regiões ser função do seu estado presente.
como índice de importância da fa- Exemplos:
mília em relação com outras zonas 1.0 - Duas mulheres muito
da vida: família frustrada em ruins. A mãe que era muito ruim,
suas próprias aspirações procuram incutiu e botou na filha tôda mal-
exercer influência em uma região dade dela e sente alegria por ver
particular da criança para encon- que a filha a seguiu. Tôdas duas
trar o que êles não puderam rea- estão contentes pelas maldades que
lizar; por ex.: que a criança seja fizeram.
saudável, que ganhe fama. In- (Agressão: hetero e auto).
fluência da mãe no cenário fa- 2.° - Essa mulher nunca se ca-
miliar: poderosa: com identifica- sou e ela viveu reprimida por causa
ção total com ela, se submetendo a disto e nunca teve ninguém que
sua dominação no tema da mãe gostasse dela. Há esta moça que
ruim e filha semelhante. Notamos é sua parente, é casada, não por
também mãe indiferente, filha in- gostar, mas porque queria uma
diferente e assim outros temas, casa.
de resistência, podendo-se obser- Essa mulher que vive fazendo
var em que medida influíram os maquinações está fazendo ciumes
pais na conduta da menina. na moça.
14 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

(Sentimento de inferioridade, Lembra-se de dar a notícia à sua


frustração afetiva). irmã. Corre ao convento. A irmã
3.° - Tentação - Uma jovem percebe que o noivo é o mesmo
luta entre o dever e o prazer e que a havia enganado. Em vez
enquanto uma voz misteriosa lhe de avisar a irmã, que corre perigo
chama e lhe atrai para uma vida acreditando nêle, vê a oportuni-
fácil, mas contraditória com seus de de vingar-se. (Agressão).
princípios e a sua noção de dever, 6.° - A bela e a fera. A bela
uma outra voz lhe faz refletir representada pela moça bonita, ale-
e compreender que o dever está gre e feliz, cheia de vida, amá-
acima de tudo e nessa angústia vel. .. a da frente. A fera - a
ela se debate e luta, procurando mulher feia, está atrás. Como a
reagir contra a voz do mal aqui fera está atrás, ficará mesmo para
representado por uma velha fei- trás. Irá ficando cada vez mais
ticeira e seguir a voz do bem longe até desaparecer, por com-
ditado pela sua própria consciên- pleto, perdendo-se na bruma dos
cia. (Luta entre o dever e o pra- tempos ... destruindo-se, transfor-
zer). mando-se em névoa e diluindo-se
4.° - tsse é um quadro famoso na noite de um passado distante.
de um pintor italiano. tsse pintor (Domínio quase completo do
tinha uma rica vida interior. tle consciente: a bela consegue domi-
pintou êsse quadro que constitui nar a fera, isto é, a razão, a inte-
as etapas da vida de uma mulher: ligência expressa em ação, conse-
uma moça bonita, jovem, cheia de gue dominar o que é primitivo,
ideais, ainda por viver. Mais atrás baixo, instintivo, o que está repri-
uma velha enrugada, foi essa mes- mido).
ma mulher que se aborreceu muito,
viveu, amou e teve um momento PRANCHA 13 M F
de fuga, de covardia e resolveu en-
trar para um convento para pas- Esta prancha visa verificar as
sar ali o resto de sua vida. Elas tendências da sexualidade adulta.
têm o mesmo olhar, olhar de quem Os mecanismos projetivos, isto é,
está ciente de que a fuga não re- os processos de exteriorização em
solve os problemas de ninguém. outrem ou na situação dos desejos
O que se deve fazer é lutar. reprimidos, se tornam, então, do-
(Fuga frustrada). minantes. E o psicólogo pode, por
5. ° - Marta tem uma irmã que, conseguinte, verificar quais os con-
por um desgôsto horroroso, foi ser flitos do examinando na sua vida
freira. Daí por diante sempre foi sexual-afetiva (amores não corres-
uma recalcada, invejosa, não per- pondidos, amores fracassados,
doando nunca as outras moças que amores com oposição da família,
venciam na vida. A irmã mais mo- matrimônios infelizes, problemas
ça nunca disso se apercebeu e con- sexuais). E' uma excelente pran-
fiava à sua irmã mais velha todos cha para um estudo das projeções
os seus segredos. Um dia apaixo- em situação sexual-afetiva, por-
na-se por um rapaz que lhe pede t".nto.
em casamento e ela aceita com Tomando os resultados da nossa
grande alegria. amostra, vamos encontrar entre
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os adultos masculinos, pela .ordem soa amada, veículo para urna inti-
de freqüência: midade compartida, gôzo estético
1 - Relações sexuais entre ma- do objeto amoroso (voyerismo, exi-
rido e mulher ou amantes. (80) bicionismo), desejo de ferir e de
2 - Crime por infidelidade da ser ferido.
espôsa (50). 5 - Relações homossexuais:
3 - Violação, delito sexual (30). I - desej os homossexuais, sen-
4 - Sentimento de hostilidade tidos corno degradantes;
contra a espôsa e contra as mu- II - consciência de seus dese-
lheres em geral (30). jos, porém à custa de sério conflito
5 - Fracasso do médico na cura endopsíquico ;
d.o doente (20).
III - aceitação de sua própria
6 - Tendências homossexuais
(20) . sexualidade, porém temendo a re-
jeição, as conseqüências ou a culpa;
7 - Conflitos de culpabilida-
de (20). IV - sentimentos de impotên-
Esta prancha nos permitiu ver: cia;
V - o ato sexual se consuma,
1 - Nos ternas de amor e ma- porém com remorso ou temor (cas-
trimônio: tigos, co~denação social), conse-
a) da natureza das relações: o qüências extremas - suicídio, pri-
papel que desempenhou o indiví- são, assassinato, conseqüentes do
duo; o que esperou de seu objeto grau em que o indivíduo introjetou
amado; a luta entre seu papel real a consciência paterna ou social
e ideal; decepção diante do que es- com respeito à sexualidade.
Manifestações mais indiretas de
perava; urna forte inibição da necessidade
b) causas das vicissitudes das sexual: heróis que se apresenta-
relações: descontentamento, de- ram sofrendo grave ansiedade ou
cepção, recebidas com tolerância sentimento de culpa em tôrno de
pelas mulheres, e também com- seus desejos sexuais, que consu-
preensão, dor, resignação, com maram o ato sexual, porém com
agressão pelos homens. E corno conseqüências.
conseqüências encontramos: es- Temas de sexualidade sem ini-
perança de reconciliação, recon- bição - O ato sexual se consumou
ciliação simbólica com a morte; sem incidentes. Alguns feitos por
busca de novo amor ou de urna indivíduos inibidos em extremo,
satisfação substituta. As conse- porém .o sexo não se achava obs-
qüências mais visíveis se rela- truído por ansiedades perturbado-
cionaram com a agressão diri- ras.
gida ou encoberta, efetiva ou fan- Observamos que as fontes das
tasiada contra o objeto amoroso, inibições da conduta sexual se ori-
contra êle mesmo ou contra am- ginaram:
bos. a) do temor (tanto no homem
4 - Nos ternas de experiências corno na mulher) ao contágio, à
sexuais (heterossexuais) notamos condenação social, temor a ser re-
pela ordem de freqüência: desejo jeitado; sentimento de insuficiên-
de ser cuidado e de ajudar a pes- cia geral ou de impotência sexual.
16 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

ALGUNS EXEMPLOS sentiu pena dela ali abandonada


MASCULINOS nas mãos dêle, aproximou-se, to-
1.0 - Ela morrera por um abôr-
cou-a, mas corno se tocasse urna
coisa sagrada, envergonhado, saIU
..
to provocado. tles eram estudan- e compreendeu que poderia ter si-
te. Propuseram-se a ir contra a lei do urna tragédia motivada pela ti-
natural das coisas e agora se con- midez que tinha canalizado tôda
sumiam em dor. a fôrça do amor na carne. (Ten-
A conseqüência (Culpabilida- dências homossexuais latentes).
de). 4.° -. Preparando urna opera-
2.° - tle sentia que tudo estava ção. O caso parece que é desespe-
perdido. Só agora via que não a rado. Ela parece estar meio morta.
amava' o que sentia por ela não Mesmo êle sendo médico, sente a
passav~ de urna grande afinidade impotência da cIencia ante a
física e agora o que iria fazer? grandiosidade da morte.
tle' tinha que aturar aquilo que (Mecanismo de evasão pela mor-
êle talvez mais desprezasse. Es- te: forma simbólica do sentimento
tava desesperado; se gostasse real- de culpa diante da vida, do desejo
mente dela, êle se casaria; mas de resgatá-lo).
agora que a possuíra, via que não
lhe tinha amor. . 5.° - Urna tarde de verão, nas-
Desesperado, sem saber o que ceu um belo garoto que seria .o in-
fazer, matou-se. divíduo mais azarento. Infeliz no
(Rejeição à figura feminina. parto, sua mãe deixou-o sozinho
Auto-destruição) . no mundo. Vai viver com urna tia.
3.° - tsse rapaz desde a 1. a vez
Morre sua tia tuberculosa. Estu-
da e vive em companhia do tio.
que viu essa moça. senti~ por .el.a Agora, homem feito encon~ra a sua
paixão carnal e sImpatIa eSpIrI- amada. Casou-se, foi felIz algum
tual. Era um rapaz tímido e sen- tempo, até que sua mulher veio a
tia-se acanhado de falar com ela. morrer com a pior doença - a le-
Era filha da dona da pensão. A pra. Esta veio atacá-lo depois e
paixão carnal tornou fôrça na sua êle assim morreu.
imaginação, tornou conta de sua (Hetero e auto-agressão).
cabeça, de sua consciência. Ao vê-
la o sangue aflorava ao seu rosto 6.° - No meio da noite Henri-
na volúpia de possuí-la. que acordou. Tinha ainda a cabeça
pesada do wiskey e na bôca um
Ocorreu-lhe urna idéia: o nar- gôsto de baton barato, o mesmo ba-
cótico e êle levado por aquêle im- ton que certamente usava aquela
pulso 'e ofuscado o amor espiritual mulher deitada ao seu lado. Não
que estava oculto, deu-lhe o nar- sabia que horas eram, nem para
cótico na água. Ficou arrebatado onde ia, mas sentiu urna necessi-
por urna grande eIl!0ção, co;ação
desvairado, sem noçao de maIS na- dade urgente de sair dali, corno se
da. Esperou o momento, entrou ~o tivesse mêdo de chegar atrasad.o
seu quarto, mas começou a sentIr por onde quer que fôsse.
que estava ali para êle c0t;I0 um Décimo capítul.o.
fruto que se apanha na arvore, (Oposição à heterossexualida-
sentiu remorso pelo que tinha feito, de).
THEMATIC APPERCEPTION TEST 17

7.° - Já quase no fim de seu é, pensava que se casara com uma


curso, com uma boa parte dos co- virgem. Ela chamou-o de nomes
nhecimentos que a sua carreira exi- e tudo, mas agora está arrepen-
gia, quase todos êsses em seu po- dido.
der, decepcion.ou-se, levando a mão (Ciúmes) .
-ao rosto para conter as lágrimas 3. ° - Moça que os pais não con-
.que rolavam sôbre sua face por não sentem no seu casamento, por ser
poder salvar a vida da pessoa de o rapaz pobre e ela filha de nobres.
-que mais gostava. Foge para viver com êle, e a
Desilusão de um jovem. vida torna-se outra. Trabalhos pe-
(Agressão à figura feminina). sados e nenhum dinheiro. Adoece.
8.° - :f':sse casal cometeu um Tosse intermitente. Nada dizia ao
delito sexual. :f':le cai em si e a rapaz. Quando êste percebeu já
moça ainda está sem saber 8. ex- era tarde.
tensão. "Desvario sexual". Seu orgulho não deixou que pro-
(Delito sexual). curasse o sogro e teve a felicidade
de vê-la morrer nos seu braços.
SEXO FEMININO Ei-Io agora, desesperado, reco-
1 - Infidelidade da espôsa nhecendo seu êrro de ter casado
(150) . com uma moça de meio superior
2 - Amor com oposição da fa- ao seu.
mília (30). (Conflito de classes - amor
3 - Decepção diante do compa- proibido. Culpa).
nheiro (20). 4.° - Um rapaz que conheceu
4 - Amores proibidos (35). uma moça, levou-a para o quarto
5 - Culpabilidade (10). dêle; eram muito amigos antes.
6 - Amor ideal (5). Depois que ela se entregou, que
1.0 Casal. Ela está morta e êle êle a possuiu, ficou tomado de de-
chora. Sente remorsos pelo mau sespêro, porque a amizade não
trato que lhe dera em vida. continuou, nem êle a queria mais
Ela o amava e casou-se com êle para nada.
para tirar-lhe o vício da bebida. E a moça ficou indiferente ao
Sacrificou-se, perdeu os mais desespêro dêle. Para tanto fazia
belos anos de vida. Cai doente. se a deixasse ou continuasse como
Não tem parent~s, nem amigos, amante.
todos se afastaram. (Auto-desvalorização perante o
Chama-a, sente a consciência companheiro e o amor).
acusand.o-o, quer fazê-la voltar à 5. ° - Amores sem compreensão.
vida para regenerar-se, mas é tar- Uma mulher deitada, um homem
de. E vendo que é tarde sai como que chora - situação triste e in-
louco e suicida-se. crível! Que houve, que decepção se-
(Culpabilidade) . parou êsses dois? :f':le não a quer,
2.° - :f':sse homem bateu na mu- por que? Mas, que houve? Ela
lher porque descobriu que ela ti- foi-lhe infiel, está doente, não o
nha se deitado com outro, antes de atrai mais? Ei-lo que chora e ei-la
casar com êle. parada, braços caídos, seios à mos-
Êle sabe que afinal é uma coisa tra, expressão da tristeza e de-
natural, mas tem ciumes disto, isto samparo. Chama-o, é preciso que
18 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

conversem; êle não quer, está irri- que se seguiu a uma submissão,
tado; vai partir, e ela que pense por uma rejeição que incitou a
nêle e um dia então compreenderá uma contra-agressão.
que errou.
(Culpabilidade) . EXEMPLOS MASCULINOS
1.0 - Uma pessoa com muitos
PRANCHA 14 problemas, muitos conflitos, mas
Temas mais freqüentes (mas- ela tem esperança.
culinos e femininos). Apesar das muitas preocupa-
1 - Pessoa sofrendo de insônia ções, muita amargura, tem uma
está pensando em vários pro- luz que lhe dá um pouco de paz,
blemas seus (aspirações, preo- de esperança.
cupações, ambições, frustrações) 2.° - Certo rapaz criado com
(160) . o exemplo de pais ladrões veio se-
2 - Ladrão, entrando às escon- guir o exemplo dêles.
didas (125). Teve azar porque logo aos 19
3 - Prisioneiro fugindo (80). anos foi prêso, tendo cumprido
4 - Temas de simples contem- sentença de 10 anos.
plação, racionalização filosófica Tentou a sua fuga, tendo orga-
(70) . nizado com outros 5 o plano. Hou-
5 - Temas de auto-destruição ve um delator e ao realizar a fuga
(65). parou diante de uma janela lem-
1) Os temas de insônia (pen- brando-se do mal que já tinha feito
sando sôbre problemas seus) reve- e do que faria se o plano desse re-
laram nos nossos casos estudados sultado.
a maneira de ver a vida e a pró- Seus companheiros foram mor-
pria personalidade, a atitude di- tos e êle teve pena dobrada.
ante do trabalho, as emoções, preo- 3.° - Rapaz visto tôdas as noi-
cupações, por exemplo: temor de tes à janela, mirand.o o céu, o es-
fracassar na carreira; fracassos paço, durante longo tempo. Para
reais, insegurança profissional, os vizinhos era um louco como
conflito entre o que quer ser e o realmente era, mas para êles a in-
que querem que êle seja. terpretação que davam como louco
2) Temas de conduta anti-so- era apenas a mania, mas quem co-
cial que tomaram a forma de agres- nhecesse as poeiras das idéias mor-
são, aquisição, dominação, fuga, tas que a loucura tinha criado em
foram considerados com a possi- sua cabeça, pudesse desembaraçar
bilidade de desej os reprimidos e aquelas teias e arrumar tudo em
estão em relação com desequilí- ordem como antes, veria que não
brios íntimos, sentimento de culpa, era apenas isto, não apenas um
angústia. impulso desconexo que o levava à
A agressão f.oi motivada pelo janela, mas dentro da loucura ha-
desej o de aj udar a alguém, por via uma idéia fixa, como a única
ciúmes, pela pobreza, pelo desejo lucidez que ainda restava nêle.
de conseguir o que os outros pos- Êsse rapaz desde pequeno era tí-
suiam e a hostilidade provocada mido, nervoso, de constituição dé-
pela bebida, por sentimentos de bil, criado pela mãe com mimos
inferioridade, por ódio crescente e cuidados em excesso que fizeram
THEMATIC APPERCEPTION TEST 19

dêle um fraco espiritual, criando cesse, e nas misérias, se não fôsse t

I
um germe para as futuras con- forte. Começa a pensar que tôda
vulsÕ€s e a impotência e a fraqueza conquista da terra seria insufi-
para vencê-las. A mãe morre. ciente, caso não tivesse uma con-
Revelou-se um fraco em tôdas
as ocasiões que tinha de enfrentar
a realidade.
cepção da vida superior às con-
quistas materiais.
Idealismo realista.
I
!
í
!
Apaixonou-se por uma moça e
sentia por ela a mesma ternura
que sentia pela mãe. Na véspera
EXEMPLOS FEMININOS
1.0 - Fernando está atravessan..
I!
do casamento ela é atropelada e do uma grande crise moral. Edu-
falece. Ficou desesperado, fecha- cado em colégios de padres, apren-
do no quarto, vivia apenas do so- deu religião, mas aprendeu mal e
nho do que tinha perdido. sem base.
Refugiou-se não na esquizofre-
nia, mas na loucura eufórica pa-
tética. Olhava as estrêlas e nelas
Pedia explicações e a resposta
era esta: você tem que acreditar
porque é dogma.
II
via os olhos da amada. E um dia Isto o revoltava. Tôdas as noi- I
teve a idéia de juntar-se a ela.
Assim terminou sua loucura com
tes, cansado de ler para procurar
a resposta, ficava sentado à janela,
I
a idéia fixa de que aquelas estrêlas
eram os olhos de sua amada.
4.° - Na sua juventude, um ra-
paz pobre, através das inúmeras
olhando o Céu, com.o se nêle pu-
desse encontrar o que procurava.
Dúvida.
2.° - História de um rapaz de
II
labutas diárias, as horas se suce- 20 anos, estudante pobre. Êle es-
\

dem quase que maquinalmente até tuda durante a noite e trabalha


chegar a noite com seu repouso durante o dia. Sempre teve vida t
confortador.
Recolhido ao seu quarto, só olha
longamente a noite nessa sua única
de sacrifícios. Atualmente está
namorando uma moça de quem êle !
hora de sonhar e diante da janela
gosta muito, porém ela é rica. Êle
terá um b.om futuro, mas a família !
I
um verdadeiro mund.o se debruça não quer compreender isto. Êle 1
!
diante de seus olhos. Êsse mundo tem insônia, levanta-se preocupado !
de projetos quase irrealizáveis tem
princípio e fim naquela mesma
e procura uma solução. !
(Conflito heterossexual por vi-
noite, pois as obrigações do dia se- vência econômica).
guinte o fazem deitar e esquecê- 3.° - Muitas vêzes ela se sente
las e outro longo dia o separará como que suja por dentro, na
de seus nov.os sonhos. O direito mente e ela só vê uma saída, nes-
de súnhar. sas ocasiões, que é a morte.
5.1) - Um quarto à noite todo Fica pensando porque não de..
escuro e contra a janela, a silhueta serta da vida. Ela é covarde para
de um homem que olha as estrêlas isso, mas é que no fundo lhe resta
numa atitude de sonho. ainda uma vaga esperança.
Romantismo. 4.° - História perdida de um
6.° - Rapaz estudando no seu visionário, homem que coloc.ou tô-
quarto que fica num edifício alt.o. da a sua vida a serviço de uma de-
Começa a pensar na vida, se ven- terminada coisa e falhou lamentà..
20 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

velmente, porque essa não era sua. (Desespêro diante da vida que
Colocou na arte todos os seus mo- a atingiu, de fuga, a dúvida, a in-
mentos de vida, julgou-se em cada segurança; reação tôda calcada na
minuto um artista e nunca reali- angústia) .
zou a obra que concretizasse sua
determinação de ser artista. Foi PRANCHA 15 M F
uma escolha que determinou a sua 1 - Um homem na sepultura
vida e que não pode mais voltar de um morto querido (pai, mãe,
atrás, abrir mão de família, dinhei- espôsa, espôso, irmãos) (350).
ro, situação estável na sociedade, 2 - Temas de culpabilidade
levou uma vida maldita e errante (100) .
e se sente amargamente frustrado. 3 - Representação da morte
Equívoco de escolha. (30) .
5.° - Um rapaz que tôda a sua 4 - Ladrão de sepultura (20).
vida aspirou a um horizonte mais a) Temas de um homem cho-
amplo, era um insatisfeito, dese- rando a morte de um ente querido
jando outro ambiente. revelaram que o morto represen-
Diàriamente olha de sua casa a tava alguém com quem o exami-
paisagem que se descortina à sua nando tinha uma forte dose de
frente, desejoso de um dia poder agressividade latente, com senti-
remover tudo que o prende à sua mento de culpa (pai, mãe, espôsa,
casa, afeto, etc., para sair e poder irmão) .
realizar tudo que desej a. b) Temas de representação da
Anseio. morte - uma manifestação das
6. ° - Sonho! Luar! Céu! Es- atitudes do examinando frente à
trêlas! Pensamento... Pensando mesma: depressão, angústia, soli-
como transpor esta vida, como pas- dão.
sar por cima de tudo! Um meio de c) Os temas de culpabilidade
tornar melhor a vida das criatu- em geral mostraram o tipo de cul-
ras! E que bobagem! Quem pode pa que preocupava o tematista e
reformar o mundo? A vida, as as defesas que usava para reduzir
criaturas são tão complexas e a o sentimento de culpabilidade, re-
na tureza é tão simples. Ah! deixa velando especialmente suas tendên-
para lá. Não posso resolver as coi- cias sado-masoquistas (necessida-
sas como eu quero, como desej o, de de castigar e de ser castigado).
contento-me em pensar que estão d) Os temas de liberação e de
direitas. Mesmo porque não é só resgate evidenciaram uma defesa
o que eu desejo que é certo, que contra a culpabilidade de algum
é direito. Pode ser até errado; são feito anterior, em alguns casos
diversos os caminhos que condu- mostrando a severidade do super-
zem à perfeição. Não há de ser ego.
por serem diferentes do meu que e) Temas do ladrão de sepul-
hão de caminhar para a verdade. tura revelando ainda seus desejos
Deixai que cada um seja, no gran- agressivos sádicos; atividades des-
de mosaico da existência humana, trutivas ou nocivas.
a pedrinha que é. Da sua maneira /) Temas de auto-justificação:
cada um contribuirá para a beleza (má sorte, fatalidade, má influên-
do quadro da vida. cia, privação, injustiça, decepção)
THEMATIC APPERCEPTION TEST 21

indiferen~a, mostraram a concep- 16 anos. Estudou direito. Tinha


ção que o indivíduo tem de sua re- 2 ociosos sobrinhos que lhe inve-
lação com o mundo exterior, assim javam a fortuna e só pensavam
como de sua atitude perante a na herança.
vida. No seu testamento deixava a
fortuna para obras de caridade.
EXEMPLOS MASCULINOS Teve seu fim um pouco adiantado,
1.0 - ~le é um fracassado. Vi- porque seus sobrinhos, sabendo do
sita o cemitério ou para antegozar fato, o torturaram até morrer, vi-
sàdicamente o fim de todos os ho- sando a mudança de testamento.
mens que estão contra êle ou para 5.° - Estamos no cemitério. O
arranjar lá uma justificativa de velho apaixonado uma vez mais vi-
seu fracasso na vida. Êle caminha sita o túmulo da noiva que mor-
e procura uma sepultura, a do seu reu sem lhe ter pertencido. Para
ente mais querido. êle, com ela tudo também morreu
~le mata também sua alma. e a sua vida hoje se resume nas
Cria em tôrno de si uma atmosfera visitas que faz, quase todos os dias,
de angústia e não toma nenhuma ao cemitério.
iniciativa porque não vale mais vi- Romance antigo.
ver. Que êle ganha com isso? 6.° - Aqui é um cemitério. A
Cabelos brancos e a piedade pessoa que está aqui é uma pes-
alheia, esmola muito odiosa. soa que tem muita dor, está cheia
2.° - ~le parecia sofrer muito. de amargura, de iceticismo. Ela
Era o remorso que o levava ali tô- tem uma atitude de não acreditar
das as noites. que a realidade é a realidade mes-
Sim, era o remorso de haver des- ma. Está rezando por uma pessoa
graçado tôda a família que o tra- muito querida - a espôsa.
zia àquele lugar. Êle havia sido
um homem cheio de vícios. Era EXEMPLOS FEMININOS
um bêbedo e ao chegar em casa, 1.0 - Aqui é um cemitério. Aqui
certa vez, quase inconsciente, ma- está um rapaz louco. Está magro,
tara a família com a mesma facili- abatido e a causa de sua loucura
dade com que bebia um copo dá- foi a perda de seus entes queridos.
gua. E por isso ali voltava a pe- Tinha dinheiro, posição, amigos,
dir-lhes perdão. tudo que desejava. Um dia, a fa-
(Culpabilidade) . talidade achou que já era tempo
3.° - Um velho que vivia iso- de conhecer êsse rapaz feliz. Ba-
lado; ninguém o visitava. teu na sua porta, levando de uma
O velho tinha construído diver- só vez seu lar, seus pais, deixando...o
sos túmulos ao redor de sua casa. só no mundo. Todos se afastaram.
Êle tinha assassinado a espôsa ~le se revoltou e odiou todos os
e a enterrara ali e para despistar homens. Passou a ser considerado
fizera outros túmulos. louco. Vai tôdas as noites ao cemi-
Agressão. tério dormir na cova de seus pais.
4.° - Era um gar.oto criado por E' o seu único consôlo. Está à es-
pais pobres e tornou-se, à custa de pera que a morte venha buscá-lo.
seus esforços, homem riquíssimo. (Agressão aos imagos paternos
Começou a quebrar a cabeça aos com sentimento de culpa).
22 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

2.° - No princípio Deus criou Se viemos ao mundo é claro que


todos os sentimentos, desde os deve ser para algo construtiv.o edi-
mais doces, suaves aos mais fortes ficante e feliz. Não seria m~lhor
e violentos. Criou aquêles que para todos? Em vez de túmulos,
unem os homens e os fazem feli- rosas - em vez de lágrimas rosa-
zes, a amizade, a ternura, o cari- das e brilhantes, pérolas - em vez
nho, o amor. de dores, risos!
Cri.ou também os que separam 5.° - José perdeu o pai. Isto
quando os primeiros são rejeita- foi para êle o maior golpe da vida.
dos, o crime, a raiva, o ódio, a Era tão apegado a êle, tinham tan-
vingança. A todos deu tempo bas- tas afinidades que pareciam uma
tante para viver e servir as cria- ~ó pessoa. Não conhecera mãe, por
turas, mas a cada um também dei- ISSO, talvez, essa afeição desme-
xou a liberdade de um dia mor- dida.
rer, desaparecer para sempre do Diàriamente passa horas inter-
coração daquele que os abrigou. mináveis na sepultura do pai, como
Todos os sentimentos morriam e, se esperasse um milagre e de um
mortos, sepultados eram no gran- momento para outro o pai retor-
de cemitério do esquecimento! nasse à vida.
Amor filial.
Entre seus túmulos sombrios
6.° - Êsse homem é todo mór-
uns havia que levavam flores, flo- bido, vive no passado; êle se casou,
res do sentimento da saudade que mas nunca soube dar vida à mu-
sempre era o último a morrer, o lher. Ela morreu e êle começou a
que nunca acontecia antes de lem- fazer construir o passado mental-
brar-se de seus irmãos ... mente, .0 que realmente não tinha
Mas entre todos os sentimentos, existido. Então, êle vinha visitan-
um sentimento não quis morrer. do o cemitério, se angustiando,
3.° - Um rapaz que durante a em vez de agir de modo que o pre-
mocidade dêle teve muitos amigos, sente trouxesse coisas boas para
uma família enorme, mas como era êle.
muito esquisito não conseguiam (Culpabilidade) .
conviver com êle, as pessoas foram 7.° - Êsse é o espectro do mêdo
morrendo em relação a êle e quan- e doo pesadêlo. E' a morte conven-
do ficou velho ficou rodeado daque- cional. E' o espírito de negação da
la porção de fantasmas. vida que amargura tôda a existên-
4.° - Cemitério negro e som- cia dos homens civilizados. Êle
brio de minha terra natal! Cruzes, está presente na sua função de
cruzes e mais cruzes. . . tanta cruz pavor.
na morte e tanta cruz na vida!
Assim pensa o pobre vulto esguio, PRANCHA 16
triste, funéreo, que caminha alge-
mado, ao pêso de sua dor, por en- Sendo o T AT uma pequena aná-
tre as tumbas sombrias. lise induzida pelas duas séries de
Dor e dor - que purificação pranchas (a série da realidade e a
inadequada a um ser que tanto de- série da fantasia), sem dúvida, é
seja desfrutar a vida! Não está na prancha em branco que mais
errada a religião? se acentua tal aspecto. Pôsto pe-
THEMATIC APPERCEPTION TEST 23

rante a prancha 16, o examinando de 250 casos femininos e 250 mas-


vai dar expansão, se puder, aos culinos.
seus ans€ios mais dinâmicos, aos E' interessante notar qU€:
desejos reprimidos e vai manifes-
tar sua atitude perante as situa- 1 - A mulher, mais que o ho-
ções objetiva e subjetiva. mem, aspira resolver problemas
domésticos.
Cabe, pois, na análise dos temas, 2 - O homem, mais que a mu-
à prancha 16 todos os critérios em- lher, manifesta suas aspirações de
pregados aos outr.os: vida geral (trabalho, sawr, êxito
1.0 - Do conteúdo: profissi.onal) .
a.) realidade atual (talvez do 3 - Enquanto no homem a he-
dia do tema) ; terossexualidade se manifesta com
b) realidade objetiva em geral; freqüência significativa, na mu-
c) realidade subj€tiva; lher são anseios vagos de sexuali-
d) vivências infantis; dade, e, algumas vêzes, nela indis-
e) relações com o psicólogo. criminados.
2.° - Atitude revelada n.o tema. 4 - O triângulo conj ugal a re-
3.° - Identificação com a per- velar má solução da situação edi-
sonagem. piana aparece mais nos temas mas-
4.° - Conceito das situações culinos.
dinâmicas e estáticas em que se 5 - Vivências infantis gerais,
julga encontrar. mais nos temas femininos.
Vai-s€ pôr em evidência, portan- 6 - A mulher aspira mais que
to, aqui, a síntese de todos os te- o homem à situação de paz inte-
mas e cremos não errar, se afir- rior.
mamos que os temas à prancha 16 Podemos, portanto, concluir pela
servem de contrôle para o diagnós- suposição de ser a mulher mais re-
tico a fazer-se em tôrno da perso- primida, talvez pelas condições
nalidade em aprêço. culturais diversas das do homem
Na verdade, tudo foi preparado que, sôbre ela, pesam. Induzindo
no TA T para êste clímax em que projeções com as pranchas nas
o examinando se vê perante a si- quais o conteúdo é algo identificá-
tuação de ter que projetar sua rea- vel, Murray conduz o examinando
lidade subjetiva sem n€nhum au- à manifestação não induzida da
xílio, oriundo de indução de cenas. prancha €m branco. A pequena
E' por isso a prancha na qual análise se efetiva, então. Foram-
mais se revela sua atitude perante se gradativamente removendo as
o psicólogo e, por extensão, a trans- capas de repressão que subjuga-
ferência que êle haja feito de ati- vam os impulsos reprimidos e é de
tudes prévias perante quem em sua crer que agora est€jam êles mais
vida haja constituído autoridade. propensos a manifestar-se.
E' boa reveladora, portanto, da E' justamente por causa do ca-
eficácia ou ineficácia da atitude do ráter altamente projetivo da in-
psicólogo para estabelecer o "rap- terpretação da prancha em bran-
port" com o "tematista". co, que usamos os temas n.o 16 de
Vejamos agora o que foi encon- instrumento de contrôl€ da análise
irado na amostra obtida, ao acaso, geral de todos os temas obtidos.
24 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Exemplos de alguns dos nossos mente. Apenas começa a sentir


casos: certos êxitos, imagina que há pla-
nos mais elevados onde não haja
SEXO MASCULINO. competição desleal e haja mais.
1.° - História de um rapaz de compreensão.
coragem arrebatada, mas de pouca 4.° - E' um parque maravilho-
confiança, um homem que não quer so, um parque cheio de lindas ár-
ser vítima do meio em que êle vi- vores e de recantos de amor. Lá
veu, mas que é fruto dêsse meio. estava ela, a feiticeira, cintura
O homossexual que procura e con- enlaçada por outro.
segue nos mistérios do amor ter Ela a mesma que me fizera as
um espírito são. O indivíduo que maiores juras de amor. Odiei-a.
levou duas vidas em amor: amor
EXEMPLOS FEMININOS:
carnal, amor platônico e conjuga
essas duas vidas agora numa só. 1.0 - Uma menina de aparência
Êle está aflito, é preciso que êle vulgar, mais feia que bonita, vivia
conserve a atração espiritual junto atormentada, bipartida entre uma
à atração carnal. Beija a namo- vida totalmente espiritual e outra
rada, beijo absolutamente inocente só material. Sentia que era fraca
em comparação com o de outros, demais para, vencendo o ambiente
não compreendendo que para lim- em que vivia, pôr em execução os
par da minha cabeça o homosse- seus ideais. E assim deixava-se ir
xualismo, necessito daquele beijo. arrastando pela vida sem tomar
Vai se formar êste ano e não sabe uma iniciativa. Sentia-se inútil,
se tem talento. Êle quer a invul- fútil e má. Via suas irmãs e pri-
nerabilidade, a paz de espírito e mas saindo para os bailes, pas-
tem mêdo do campo sentimental. seios e invejava-as! Mas achava
Êle vai subir, custe o que custar. aquela vida superficial e tôla. E
Sabe que ao chegar ao cume con- por mais que se atordoasse em fes-
quistará montes e vales. tas, não conseguiria sentir-se feliz.
(Homossexualidade efetiva. An- (Conflito entre ter e desejar) .
seio de domínio heterossexual). 2.° - Crime cometido em plena
2.° - Rapaz que desde o giná- rua. A vítima jaz na calçada tôda
sio desej ou estudar medicina. No ensanguentada. O tiro acertou-lhe
científico virou a cabeça e foi es- no coração. O assassino, sentado
tudar química. Perdeu no 1.0 exa- em frente, chora de nervoso e não
me, mas não desanimou. Fêz de consegue levantar-se, porque suas
novo, mas, chegando à escola, co- pernas estão duras. Espera a po-
meçou a se decepcionar, porque lícia para entregar-se.
não era o que êle esperava. Então, 3.° - Cena campestre, casa rús-
êle está sentado, desanimado, mas tica, mas confortável, em volta da
continuou. No 3.° ano ficou satis- casa, jardim e pomar. Duas me-
feito e pensa que acertou na pro- ninas apanham flores. Um meni-
fissão. no aparece acompanhado por um
3.° - Um rapaz vivia sempre cachorro.
preocupado com o brilho exterior (Vivência infantil).
- brilhar em todos os setores da 4.° - Duas formas que se apro-
vida - afeto, esporte, econômica- ximam uma da outra. E' uma luta
THEMATIC APPERCEPTION TEST 25

entre as duas. Uma luta de vida EXEMPLOS MASCULINOS


e de morte. A luta pela conserva-
ção da vida, apesar de não existir, 1.0 - Quando foi convocado, o
na realidade, êsse amor pela vida. rapaz não aparentava muita fôrça
De repente apodera-se de uma das física. Por ter sido escolhido para
formas um cansaço tão grande que a tropa de La linha, teve êle de pas-
ela raciocina da seguinte maneira: sar por um árduo treino. Êsse
para que lutar, se nada na vida tem treino torn.ou-o um homem forte
o significado que atinja e que lhe e muscul.oso, passando a ser, dentre
dê essa v.ontade de sobreviver. Ela os seus companheiros, o campeão
está cansada, física e mentalmen- em tão difícil esporte, que é a su-
te, portanto ela se deixa esmagar. bida na corda.
(Luta entre id e ego). 2.° - Êste é o fugitivo de um
navio. Tramou a fuga e está des- ~
PRANCHA 17 B M cendo no casco do navio por meio !

Temas mais freqüentes:


de uma corda.
Há 2 companheiros esperando
!
i
em baixo, num bote.
1.0 - Temas de habilidade atlé-
tica ou física (120).
2.° - Fugas de situação difícil:
Êle era o cozinheiro do navio e !
a) criminoso fugindo do presí-
muito maltratado pelo capitão do
navio. O navio está nas proximi- !
dades da ilha d.o Pacífico.
dio (80);
b) lugar clandestino, amoroso
(50).
Êle, quando estêve na ilha, sen-
tindo a alegria dos indígenas,
viu que seu espírito aventureiro
I
í
Concluindo, vimos que .os temas
em que há demonstração de habili-
gostaria de viver ali. Combinou I
com uma indígena, por quem
dade física ou atlética revelaram o se apaixonara, e os 2 companhei-
desejo de reconhecimento, o nível
de aspiração ou as tendências exi-
bicionistas do indivíduo.
ros. Está fugindo à n.oite e vai ali
viver. I
Temas de fuga expressaram as
situações ou pr.oblemas difíceis de
3.° - O circo está cheio de gente.
As crianças fazem um alarido tal I
resolver para o indivíduo ou suas
reações ante as emergências.
Quando repetido, estereotipado,
que abafa os urros das feras enjau-
ladas lá fora.
Vendem-se pirulitos e balões
multicores. O palhaço, entretanto,
I,
,
~
lc
elaborado em excesso e seu tom
afetivo e desenlace são intensos, não viu, nem ouviu nada. f
representaram a expectativa e es- J á farto do oolarinho imenso, da
grossa bengala e dos sapatos que
peranças d.o indivíduo de escapar
a suas dificuldades. A figura do
homem desnudo produziu em al-
guns pacientes, com problemas se-
aumentavam de 3 vêzes os seus
pés, quis ser, uma vez só que fôsse,
acrobata da noite. Vestiu as rou-
I
pas do colega e subiu para o tra-
xuais, um choque emocional. pezio e no seu rosto havia uma ex-
Simbõlicamente homem que sobe pressão que era mistura de fazer
e desce pela corda: preocupação o que queria e de esperar que de-
sexual. pois disso a bailarina côr de rosa
26 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

que dança sôbre o cavalo branco terra pouco a pouco se sllbmerge


goste um pouco mais dêle. em densa treva.
3.° - Esta moça está pensando
PRANCHA 17 F em suicidar-se, mas está com mê-
do, porque há pessoas em baixo
1 - Fortes sentimentos de tris- que podem salvá-la. Entretanto,
teza e a tendência a ter esperança que tolice! Ela não vê que, mesmo
ou a ceder (suicídio) (150). no Sol, está tudo coberto de nuvens
2 - Chegada ou partida do ente e amanhã j á não estará assim,
amado (75). quem sabe? Tornará a brilhar ra-
3 - Cenas de contrabando (25) dioso e a natureza tôda parecerá
N os temas de tristeza, descobri- bela, cantando um sussurro com o
mos atitudes pessoais diante da vento! Que a vida pode ser bela!
família: rejeição, solidão, frustra- Quem sabe que Deus espera, ainda
ção; proteção, e atitudes diante da um dia, ver parte da humanidade
vida: tranqüila, receosa, depres- esquecer a tristeza individual, para
siva. tornar maior a fraternidade geral.
(Identificação com a figura fe-
minima, mecanismo de evasão).
EXEMPLOS FEMININOS
PRANCHA 18 B M
1.0 - O sol irradiando luz e ca-
lor. Luz e calor que dão vida ... Esta prancha nos deu .o se-
N o alto da muralha está uma casa; guinte resultado:
em baixo está .outra casa. A moça
no alto da casa, firme, contempla 1 - Temas de homens bêbedos
a paisagem. .. Olha... por vêzes, que bebem para esquecer um pro-
sente saudade do passado já dis- blema (100).
tante. Mas não importa porque . 2 - Temas de ladrões, de assal-
sabe que, em breve, dêle nada mais tos, prisões, crimes (80).
restará, nem mesmo a saudade. 3 - Cenas de agressão por ques-
Sua vida é outra. Outros interês- tões sexuais (50).
ses a chamam. 5 - Pessoa enfêrma, vítima de
(Motivo sentimental-sexual que um ataque (20).
deixou um traço amargo, porque Concluindo, verificamos que:
não se realizou). a) Os temas relativos a roubo,
2.° - A escravidão é contra as bebedeira, expressaram a atitude
leis da natureza. Esta como que do indivíduo diante do vÍCio: de-
se revolta diante da situação es- pendência, submissão, etc. Houve
cravizada da humanidade, repre- temas de conduta anti-social, em
sentada aqui pelos homens que tra- que o herói manifestou o desejo de
balham e pela mulher que foge dos sentir-se diretamente responsável,
seus sofrimentos, contempland.o, ao passo que em outros se sentiu
desolada, as águas indiferentes do inocente ou irresponsável (estava
rio como as gotas infinitas e indi- bêbedo, não sabia o que fazia) e
ferentes do tempo ... revelaram desej os reprimidos.
O sol se cobre de duros véus Como conseqüência da conduta
20mo num tenebr.oso eclipse e a anti-social encontramos:
THEMATIC APPERCEPTION TEST 27

a) sentimentos de culpa que im- gurando apenas estas mãos. A ati-


pediram o herói de levar uma vida tude, a eclosão.
normal; suicídio; 2.° - E' uma história difícil de
b) heróis castigados pela auto- contar. Se houvesse passado nos
ridade, por sua vítima, ou por al- dias que correm, talvez fôsse ba-
guma fôrça sobrenatural (prisão, nal, mas é uma história antiga,
morte). E nos foi possível tam- dessas que apenas os romances,
bém observar a atitude diante do amarelecidos pelo tempo e amon-
eastigo: em 1.0 lugar conformida- toados nas livrarias, sabem con-
de; 2.°, hostilidade. tar. O enredo é trágico e o perso-
O importante é a identificação nagem principal, homem feito
pessoal que expressou: atitude de quase, debate-se umas trezentas e
dependência, de submissão, desejo tantas páginas por livrar-se de al-
de ser protegido; desejo de fugir guém que o sufoca e tortura, al-
da luta, ansiedade diante da agres- guém cujas mãos quando pousadas
são, mêdo de ataque, particular- nos seus ombros parecem as gar-
mente de natureza homossexual, ras de uma aranha, .os tentáculos
tornar-se aparente, submissão à de um polvo ou as prêsas de um
homossexualidade, conflito entre monstro qualquer. "Uma história
os ideais e a livre expansão sexual. que ninguém mais conta".
Quando houve crime sem senti-
mento de culpa, significou que o (Angústia por uma situação
indivíduo não introjetou normas insustentável para o eu).
morais suficientes para sofrer re- 3.° - Um homem que ao sair
morso e culpa. do trabalho passava por um bo-
Ainda nos temas de conduta an- tequim onde êle parava sempre
ti-social houve regeneração pelo para beber. Uma noite se esqueceu
amor, amizade, religião que condu- da família, ficou bebendo com os
ziram a uma compreensão dos er- amigos, já prêso pela volúpia do
ros cometidos. álcool.
À meia noite foi para casa todo
EXEMPLOS MASCULINOS embriagado.
Foi assaltado por dois indiVÍ-
1.0 - Uma pessoa empurrada duos, saqueado, espancado e ficou
por outra pessoa, não está sendo desacordado. Só foi enc.ontrado no
amparada, está sendo empurrada, dia seguinte para grande decepção
delicadamente, com firmeza, para dêle e de sua família, sem dinheiro.
um lugar que não lhe é muito agra- 4.° - Um indivíduo embriagado
dável, é uma vontade fraca contra é agredido violentamente pelas cos-
a qual êle está indo. Nem ao me- tas e nem sabe o motivo. Aos pou-
nos procura ver quem é que está cos êle sente que são mais d.o que
impelindo. Concluo que êle já sabe. ladrões. São emissários de um seu
Não dá para ver se é bom ou mau. rival que o conduzem para um lu-
Evidentemente êle acha que é mau. gar onde está o seu rival.
Não se cuida e para o lugar onde Aí aparece o motivo da questão:
estão levando não há necessidade êle g.ostava da mulher dêsse indi-
de alinhamento. Está a ponto de víduo e em vez de ser tratado igual-
se rebelar, não tem mais nada se- mente de homem para homem, seu
28 ARQUIVOS BRASILEmOS DE PSICOTÉCNICA

rival quer apenas que êle se afaste. com a mãe e que se vão transferir
Fraca reação. para tôdas as situações em que se
5. 0 - Um homem bêbedo, que julgar em competição com outra
bebeu para esquecer. Nada esque- mulher. Quando o fluxo das fan-
ce, entretanto; tudo lhe vem à ca- tasias corre sereno prova que a
beça, como um turbilhão e êle so- tematista não encontrou nenhum
fre. obstáculo em transferir para o
Seus amigos o observam impie- examinador sua boa relação com
dosos para ver o que êle revela a a mãe. Verificamos também a
si mesmo. Nesse momento êle não relação com a infância: se esta f.oi
existe, mas, sim, um bêbedo que feliz, rodeada da segurança do
tenta esquecer o crime que come- amor e com uma boa solução da
tera. situação edipiana. Os temas da ri-
(Culpabilidade, fuga na bebida). validade revelaram oposição e· os
6. 0 - Aquelas mãos que com de agressão os conflit.os entre os
tanta agilidade corriam sôbre o impulsos da pessoa, id e ego.
teclado, imortalizando Chopin, E' preciso compreender qual foi
Beethoven, Debussy, agora arras- a vivência que levou aquela reação
tavam aquêle montão de resto hu- como por exemplo no caro em que
mano que se entregava ao álcool. a mãe está furiosa porque a filha
O corpo já tinha perdido a forma. está se portando mal, para se jul-
O sangue parecia ter-lhe fugido gar de um possível sentimento de
das veias. Apenas aquêle sobretu- culpa.
do era a sua pr.oteção. Queria mor- A prancha permite histórias com
rer. Estava cego e surdo a tudo argumentação diversa, pois a iden-
e a todos. tificação do sexo das figuras va-
ria muito, por exemplo revelando
PRANCHA 18 F atitude da mulher frente ao sexo
masculino: compaixão e desprêzo,
Esta prancha nos permitiu estu- agressão.
dar a atitude perante a mãe, irmã,
e figuras femininas em geral. EXEMPLOS FEMININOS
1 - Tema da mãe e filha em
atitudes diversas (100). 1.o - Mãe e filho. Parece que
2 - Tema do amor rival (50). êle está bêbedo e a mãe chora na
3 - Agressão - Mulher assas- tristeza de ver o filho com um ví-
sinando o homem (50). cio tão triste. Mas ela é mãe e con-
4 - Tema do crime, desilusão, fia um dia em vê-lo liberto desta
ansiedade (30). tremenda agonia.
5 - Culpabilidade (10). (Identificando-se com a figura
6 - Mãe e filho - filho que feminina, sente-se atingida no seu
comete crime, que está bêbedo, fi- profundo instint.o maternal - é o
lho doente (lO). castigo - é como se sentisse que
Os temas entre mãe e filha nos será punida nesse ponto).
serviram para descobrir os proble- 2. o - Mãe e filha. Partida. A
mas principais envolvidos no con- moça descendo as escadas. Em
vívio familiar e as tendências fun- baixo esperava-a - a sua mãe. Era
damentais, nascidas das vivências preciso partir ou deixar de estu-
THEMATIC APPERCEPTION TEST 29

dar. Terrível alternativa. A moça prostituta. Então a mãe diz que


fraqueja um momento, a mãe a
anima, é preciso seguir, nas férias
são pobres, que sempre tiveram
moral. E a filha responde que a I
você estará de volta, depois terá
recompensa com o seu diploma.
Será a garantia de seu viver. E
pobreza é que é imoral e que êsse
é o único meio de sair dessa po-
breza.
I
ela partiu (a partida não teve só ( Confli to com a mãe).
um lado disfórico triste, mas
representou um desejo intenso,
possIvelmente consciente - foi
6.° - Uma mulher sofrendo,
com uma fisionomia triste, como Ii
se estivesse irritada, êle inerte
uma libertação). diante dela, como se seus desejo1.'l
3.° - Uma mulher tinha um ma- não fôssem correspondidos por êle; f
rido que não trabalhava, bebia
muito e vivia com o que ela ga-
êle em completo abandono de corpo
para ela. Fisionomia de sofri- I
nhava. mento, de piedade por êle, de re-

I
Um dia chegou em casa mor- volta, como se estivesse insatis-
rendo e começou a pedir que ela feita.
() perdoasse; ela olhou muito tempo Insatisfação Íntima.
para êle e como vingança disse que (Atitude para com o sexo mas- f
não perdoava e que êle ia morrer culino - agressão, compaixão).
~om aquêle pêso na consciência. 7.° - Uma criatura que, embo-
Vingança.
4.° - Eu te mato, malvada!
ra aleijada, parece perversa e por
qualquer circunstância especial es- I!
Como tiveste coragem de mentir teja numa atitude de apertar o
tanto, de destruir meu lar, de sa- pescoço e tenta matar essa criatu-
crificar meu repouso, de afastar- ra. Talvez a atitude de perversida- 1
me de meu filho?" Isso grita de-
sesperada, pobre m.ulher que nesse
de sej a pelo aleij ão e ela não saiba
superar. Daria a impressão de I
I
momento vê surgir-lhe à frente o fuga para essa criatura e essa I
anjo mau de sua vida, uma mu- quantidade de degraus, parece que i
lher que um dia se insinuou entre vai subindo para o infinito.
ela e o homem amado, atraindo-o Fuga. f
com carícias fingidas. Suas mãos 8.° - E' uma cena de uma !,
fremem; num impulso de grande
agressividade ela tenta estrangu-
grande dor, tristeza e também re-
signação. Eu acho que a pessoa [
lar a outra e então todo o pêso da
educação e da moral contrabalança
a primeira reação. Seus dedos
que está na sacada para cair, está
para morrer ou já morreu. Nunca I
afrouxam, uma expressão de so-
frimento com laivos de desprezo e
vi uma tristeza maior do que esta
aqui.
Quem são elas? Não sei se é
!!
ódio se estampa em seu semblante homem ou mulhe~. Acho que é 1
~
e desdenhosamente manda que a um homem que tem uma grande
outra saia. (Agressão à mulher ligação sentimental com ela, e a
velha má, se resolve perante as coisa se passa inesperadamente.
fôrças do super-ego de uma forma Fato doloroso.
muito bela) . 9.° - :Êsse quadro poderia re-
5.° - Mãe furiosa com a filha, presentar a humanidade sofre-
porque descobriu que a filha é dora: uma esperança por longo
30 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

tempo acalentada - a volta de um próprio corpo a ponto de sucum-


filho querido que andava pelos bir pela enfermidade.
campos de batalha a defender a
Pátria - e a surprêsa dolorosís- EXEMPLOS MASCULINOS:
sima, o terror ao reconhecer a ter-
rível realidade do regresso do 1.° - A viagem de um louco.
filho morto, irremediàvelmente
morto! Sempre quis viajar, tinha a ma-
nia da viagem e era assim que ima-
PRANCHA 19 M F ginava seu navio, que êle trans-
formava ao mesmo tempo em tudo
que mais o impressionava, cha-
1 - Cabana envolvida em neve, mando-o de navio da vida: uns
com seus habitantes confortàvel- olhos vigilantes, eram como o en-
mente instalados (190). fermeiro a acompanhar-lhe os pas-
2 - Ou casa envolvida em neve, sos; as janelas por onde sempre es-
tempestade, cercada de fantasmas; piava, não conseguia ver coisa al-
pessoas em perigo (150). guma; duendes, animais, fantásti-
cos eram como outros desejos que
3 - Um barco (150). permaneciam teimosos ou que que-
4 -- Identificação do viver e do riam sempre andar em sentido
morrer (10). contrário; depois uma confusão de
sombras e recortes, garras pare-
Temas de casa envolvida em cendo surgir de todos os lados,
neve com seus habitantes comoda- eram seus temores, seus pesares,
mente instalados, refletiram o de- seus remorsos! Nomeio do arca-
sejo do paciente de segurança e a bouço dêsse navio, que também pa-
maneira como esperam superar a recia uma casa coberta de espessa
situação. camada de neve, surgia como que
Os temas de cabana cercada de uma espécie de tubo de respira-
neve, com seus habitantes em pe- ção, de evasão, de fuga, aquela con-
rig.a, revelaram a atitude do indi- fusão tremenda. E tudo isto, todo
víduo diante de sua própria exis- êsse mistério navegando sôbre o
tência. O tipo de vida, mostrando mar tempestuoso da vida.
os desejos e temores do paciente, (Angústia) .
e ainda, na situação de perigo, a
maneira de enfrentar as circuns- 2.° - Isto representa uma tem-
pestade de neve numa das regiões
tâncias frustradoras de seu pró- da Inglaterra. No 1.0 plano está
prio meio. uma senhora olhando ansiosa para
A preocupação com os olhos - a tempestade, ouvindo o rugir, o
sentimentos de culpa do paciente. silvar d.a vento, as nuvens negras
Encontramos alguns exemplos no Céu e a neve se acumulando ao
de caráter simbólico: a casa como redor da casa. Seu olhar ia para
um venda vaI de neve; a própria outro ponto, como se fôsse outra
família que sofria um vendaval de preocupação maior. De fato era
desgraças; o barco, que algumas seu espôso que ainda não havia
pessoas vêem como casa: o matri- voltado do trabalho e esta era a
mônio a ponto de desfazer-se; o ansiedade, esperando-o, e ela. olha
THEMATIC APPERCEPTION TEST

para as nuvens, esperando que êle


chegue antes de ser tragado pelas
PRANCHA 20 M F
31
II
nuvens, pela neve, pelo vendaval.
3.° - Uma cabana no meio da
neve. Dentro mora um rapaz que
vive !:ozinho neste deserto de neve.
1 - Indivíduo que planeja um
ataque a uma vítima. (175)
2 - Pessoa pensando nos pro-
i t
t
blemas que tumultuam no seu cé-
Êste rapaz teve muitas decepções
na sua vida, revoltou-se contra a
humanidade e afastou-se de todos.
Conheceu bem de perto a alma dos
rebro; pessoa abandonada, que não
tem emprêgo e que fracassa na
profiBsão. (165)
II
seres humanos e viu a fealdade da 3 - Indivíduo esperando uma
face sem máscara e fugiu, isolan-
do-se assim do mundo e da huma-
mulher. (80)
4 - Guarda de serviço. (60)
I
nidade perversa. Aqui só vê o céu
escuro, a neve branca, a sua ca-
bana tôsca. Sente-se feliz em es-
5 - Bêbedo. (20)
Estas histórias refletiram pro-
i
tar longe de todos, pois assim so- blemas c.om os quais o paciente es-
zinho, sem interferência, está livre tava ocupado, seus problemas e ati-
de lágrimas e sofrimentos. tudes heterosexuais, tendências
agressivas.
EXEMPLOS FEMININOS: N os temas sôbre a profissão, en- ,
~

contramos aquêles que nos mostra- i


1.0 - Impressão. Figura de um
mundo apocalítico ou o grande
ram a significação do trabalho
para o indivíduo: !!
caos de um mundo em formação. 1.0 - Trabalhos motivados ne- ~
Há um princípio de vida inde- gativamente, isto é, trabalhos que ~
r
finido, há germes em evolução, surgiram de circunstâncias desa- !
mas escondidos, há troncos que gradáveis ou frustradoras, a fim
crescem, grutas, luzes, sombras! de compensar um sentimento de t
I
Afinal é o princípio ou o fim do inferioridade (pobreza ou insegu- !
mundo? Onde afinal está a di-
ferença? O princípio não é igual
rança econômica, infortúnio amo-
roso, deficiência física, desejo de !
ao fim? livrar-se da dependência ou agres- !
são de outros e ansiedade de qual-
2.° - Paisagem da terra dos es- quer origem). f
quimaus. .. a casinha... a neve
que cai constante e fora... pela
janela se vê o clarão do fogo, o
Em 2.° lugar trabalho positiva-
mente motivado, principalmente I
aconchego do lar... Esta paisa-
orientado por um objetivo que le-
vou o indivíduo a empregar as suas
I
!
gem me afigura dois aspectos - It
energias para conseguir prestígio,
um belo, tranqüilo, agradável ... peder e amor (desej o de criar algo
o outro, um tanto sombrio, parece de valor, casar-se, vencer a um
sôbr(' a casa haver um enorme
duende, com dois grandes olhos,
não gosto! Fantasma (.>a morte!
rival, dar bem-estar a outros, en-
riquecer-se, ser aplaudido).
Algumas histórias revelaram vi-
II
,
(Angústia que deve ter tido raí- vências de abandono, de desespêro t
zes na infância). e sua atitude diante delas.

I
32 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

EXEMPLOS MASCULINOS EXEMPLOS FEMININOS

1.0 - Iluminado pelo lampião de 1.0 - Esta criatura não tem


rua, o guarda noturno se mantém casa. Noite fria, nevando e êle ao
.acordado tôda noite, cumprindo a relento. Nada. Quem sabe, coi-
missão que lhe fôra confiada. tado, mais um peregrino na estra-
Em sua mente passam os mais da da vida. Que estará êle pen-
estranhos pensamentos. Êsses pen- sando? Será um artista, um poeta
samentos podem ser comuns, como abandonado? Ou será algum desi-
a saudade do lar, cujo confôrto po- ludido da vida?
deria estar g.ozando ou os mais es- (Depressão com angústia).
tranhos como .os possíveis perigos
que em seu pôsto venha enfrentar. 2.° - O espírito da paciência.
Mas êstes pensamentos vêm e vão Podeis vê-lo tôdas as noites cal-
sem maior importância, existindo mas e solitárias como um vulto en-
apenas "como complemento indis- costado a todos os postes .ou árvo-
penRável à noite vazia de um guar- res que encontrardes também so-
da noturno. Velando. zinhos . Aí estará êle resignada-
2.° - E' uma noite ideal para mente, esperando, esperando pelo
um crime. Um denso nevoeiro co- longo escoar das horas, invarià-
bre a cidade. Êle acabou de ma- velmente, regulares e interminá-
tar o companheiro por uma dis- veis no contínu.o passar do tempo.
cussão estúpida de botequim. Não Êle é como a sentinela de Deus,
tivera a menor intenção de matar. guardando sua Eternidade na obra
Sempre fôra um homem calmo e da Criação.
honesto. O companheiro tinha to- 3.° - Um homem marcou en-
cado n.o seu ponto fraco que era contro com uma moça que ia fu-
Margarida. Tinha-lhe dito que ela gir para ficar vivendo com êle.
não prestava, que zombava dêle. Êle esperou a noite tôda, enoostado
Descontrolado, pegou a garrafa de num poste; estava nevando. Afi-
cerveja e partiu na cabeça de nal quando chegou de madrugada
Cláudio. Quando êste caiu, pensou êle saiu, ia desesperado, achando
que estivesse somente desacordado. que nunca mais ia fazer nada, por-
Ao constatar que estava morto que confiava naquela pessoa e ela
saiu como um louco pelas ruas. não tinha correspondido. Quando
Tudo era sil@cio, mas para êle o dia despontou, tinha parado de
parecia que todos o perseguiam nevar, amanheceu tão lindo que
fazendo um barulho infernal. êle achou que era sempre possível
De repente vem um guarda e recomeçar.
apavorado esconde-se atrás de um ("Idéia de que podia renascer").
poste.
O guarda passa sem vê-lo. Sus- 4.° - Jean e Frou-Frou. Num
pira de alívio, mas acaba se entre- boulevard parisiense alguém es-
gando à polícia, pois sua consciên- pera. Um homem espera u'a
cia não o deixava em paz. mulher! Que fato mais corri-
Voz da consciência. queiro, pois se é sempre assim, um
(Hetero-agressividade e culpa- homem que espera uma mulher.
bilidade) . uma mulher que espera um ho-
THEMATIC APPERCEPTION TEST 33

mem! Mas aqui há romance e mis- motivos culturais, religiosos, ec.o-


tério, sombras acumpliciadoras e nômicos.
estrêlas românticas, névoa e luz, 5.° - Conflitos vocacionais e
árvores e solidão - onde estarão econômicos: ideais vocacionais não
melhor êsses dois que se amam do realizados, oposição d.os pais, te-
que sós no seu mundo, sincero, na- mor a fracasso, insatisfação com
tural? O noiv.o escolheu o local de o trabalho por ter sido êste moti-
-encontro, ela vem, confia nêle, vado negativamente, principal-
ama-o. Estar só? Pequeno pecado mente como uma reação a circuns-
delicioso que antecipa o dia em que tâncias desagradáveis ou frustran-
êles dizem muito crentes: "Enfim, tes a fim de compensar um senti-
sós"!, e afinal não o estão, porque mento de inferioridade (pobreza,
todos .o cercam - ficarão sós, isso insegurança econômica, infortú-
sim, no seu mundo espiritual, no nio amoroso, deficiências físicas,
seu ambiente de c.ompreensão e de desejo de libertar-se da dependên-
união. Apesar de tudo muitas vê- cia ou agressão de outro, ou uma
zes se tem vontade de cantar: ansiedade de qualquer origem) ,
·'Deixem-nos sozinhos, pelo amor vida vazia sem nenhum ideal vo-
de Deus !", parodiando as velhas cacional, temor perante a atual e
eanções de roda. futura condição ec.onômica.
6.° - Conflitos de culpa não
CONCLUSõES sexual: práticas comerCIaIS in-
corretas, sérias ofensas ou injúria
Que espécie de conflitos foram a outrem ...
encontrados nesta pesquisa? RESUMÉ
1.° - Conflitos familiares re-
sultantes de: morte, discórdias cu1- L' A. étudie les interprétations
turai8, abandono do lar, falta de les plus fréquentes du T. A. T. sur
compreensão por parte dos pais, un échantillon de 500 cas d'adul-
pais dominadores, falta de afeto tes afin de determiner jusqu'a
no lar, desentendimento entre os quel point un theme developpé par
pais, desquite, conduta irregular le sujet est significatif de dispo-
do pai ou da mãe, etc. sitions pathologiques ou de dispo-
2.° - Conflitos sexuais: impo- sitions normales de sa personna-
tência, tendências homossexuais. lité.
3.° - Conflitos de culpa sexual: L' A. est arrivé aux conclusions
masturbação, relações heterosse- suivantes:
xuais, violando .os padrões de ética Planche 11. Elle nous permet
-do paciente, práticas sexuais anor- d'explorer les fantaisies et les
mais, atos homossexuais. tendances sexuelles et agrressives,
4.° - Conflitos de amor: perda c'est à dire: les exigeances instin-
do ente amado por morte ou por tives et les difficultés de contrôle
desentendimento, amores c.ontra- des impulsions sexuelles et les réa-
riado~ pela família, amor não re- ctions dans les situations dange-
tribuído, vida sem amor ou desen- reuses.
tendimentos de outras naturezas, Planche 12 (masculin). Démon-
tais como: desentendimentos por tre l'attitude humaine vis à vis
34 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

les adultes, le rôle de la passivité l'homosexualisme) . Les femmes re-


et l'attitude à l'égard de la psy- velent son aggresivité et ses réla-
chotherapie. Elle montre aussi tions avec la figure maternelle, et
l'existence des tendances homo- les parents de sexe fémenin.
sexuelles latentes ou même d'ex- Planche 19. Décele la valeur du
periences homosexuelles cachées. sentiment et le désir de securité in-
Planche 12 (féminin). Montre dividueI ainsi comme la façon dont
l'attitude de la fille à l'égard le sujet s'apprête a faire face aux
de sa mere et découvre aussi les circonstances adverses à son pro-
dispositions intimes du sujet a pre progres.
l'égard de ses soeurs. Planche 20. Décele les proble-
Planche 13. Explore les ten- mes intimes, les préocupations,
dances sexuelles; relations et con- les tendances heterosexuelles et
flits dans l'amour, le mariage et aggressives.
la vie érotique.
Planche 14. Revele la cause SUMMARY
fondamentale des frustrations, am-
bitions, préocupations, expectati- This article presents a research
ves et même des possibles idées de on the most frequent interpreta-
suicide. tions of the pictures of the The-
Planche 15. Permet de connai- matic Apperception Test. The
tre les attitudes et les sentiments study was prepared on the ba-
du sujet (passée et présent) vis à sis of the analysis of 500 pr.oto-
vis le probleme de la mort et de la cols of adults, and its purpose was
perte de membres de la famille. to investigate the diagnostic value
Planche 16. Explore des pro- of each theme.
blemes importants: les aspirations The authoress got to the con-
pré dominantes (chez la femme: de clusion that each picture reveals
the
nature domestique; chez l'homme nality: following aspects of perso-
de nature générale), ce que l'indi- Picture 11 - Fantasy, agres-
vidu possede, ce qu'il a eu et ce sion, and sexual tendencies, i. e.,.
qu'il désire avo ir. problems concerning sexual c(m-
Planehe 17. Vue par les ho- trol.
mes elle montre son désir de pres- Picture 12 (M) - Attitude'
tige, son niveau d'aspirations et towards other adults and Psycho-
ses tendances exhibicionistes, ainsi therapy; passivity; homosexual
que les problemes personnels et tendencies.
les réactions des sujets vis à vis Picture 12 (F) - Relationships.
des difficultés de ceux-ci. Com- with mother and sisters.
mentée par les femmes, elle devoile Picture 13 - Nature of sexual
ses sentiments dépressifs, ses ten- relations; sexual conflicts.
dances autodestructives, ses frus- Picture 14 - Causes of frus-
trations et son attitude à l'égard tration; ambitions; worry; sui-
de la vie familiale. cidal impulses.
Planche 18. Les hommes mon- Picture 15 - Present and past
trent dans leurs récits leur atti- feelings and attitude towards
tude a l'égard des vices (Inclus death.
THEMATIC APPERCEPTION TEST 35

Picture 16 - Inner problems; Picture 18 (M) - Attitude


past and present leveI of aspira- towards vice; latent homosexual
tion. tendencies and previ.ous homose-
Picture 17 (M) - Need for xual experiences.
recognition; level of aspiration; Picture 18 (F) - Agression;
exhibitionistic tendencies; reaction relationships with mother, sisters
and other women.
to difficult problems and situa- Picture 19 - N eed for securi-
tions. ty; attitude towards frustration.
Picture 17 (F) - Frustration; Picture 20 - Inner problems;
depression; self-destruction; at- worry; heterosexuaI adjustment;
titude towards life and family. agression.

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