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O Estandarte de Cristo

Editora

Conselho editorial: Pr. Fernando Angelim


Pr. Jorge Rodríguez
Pr. Josué Meninel
Pr. Marcus Paixão
Editor: William Teixeira

_________________________________________

Título original
The Beatitudes
Por Thomas Watson

IMPORTANTE!
A obra supracitada, The Beatitudes, será publicada em português como uma série de eBooks. O presente eBook contém o quinto
livro da série Bem-Aventurados os que Têm Fome e Sede de Justiça (e não íntegra da obra supracitada). Os outros eBooks da
série serão publicados nos próximos dias, se nosso Deus quiser. Para mais informações, veja o título Sobre a Série, no sumário.

Copyright © 2024 Editora O Estandarte de Cristo | Francisco Morato, SP, Brasil
1ª Edição em português: 2024.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora
O Estandarte de Cristo.
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações usadas nesta tradução são da versão Nova Almeida Atualizada© |
NAA — Copyright © 2017 Sociedade Bíblica do Brasil.

Tradução edição: William Teixeira
Revisão: Camila Rebeca Teixeira
Capista: William Teixeira
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

_________________________________________
Watson, Thomas.

W342b As bem-aventuranças [livro eletrônico] : Bem-Aventurados os que Têm Fome e Sede de Justiça / Thomas Watson; tradução William Teixeira. –
Francisco Morato, SP: O Estandarte de Cristo, 2024. – (As Bem-Aventuranças; v. 5).
Formato: Mobi
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
Título original: The Beatitudes
ISBN 978-65-00-96670-1

1. Bem-aventuranças. 2. Jesus Cristo – Ensinamentos. 3. Bíblia. I. Teixeira, William. II. Título. III. Série.
CDD 226.93
_________________________________________
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
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Sumário
Sobre a Série As Bem-Aventuranças

Bem-Aventurados os que Têm Fome e Sede de Justiça

1. Um dever implícito.
1.1. Veja aqui quão baixo é o preço pelo qual Deus concede as coisas celestiais: basta apenas ter fome e sede.
1.2. Isso nos mostra o verdadeiro caráter de um uma pessoa piedosa.
2. Uma repreensão aos que não têm fome espiritual.
2.1. As pessoas não têm fome de justiça porque nunca sentiram seu vazio.
2.2. As pessoas não têm fome de justiça porque pensam que podem se sair bem o suficiente sem ela.
2.3. As pessoas que desejam mais o sono do que a comida não têm fome espiritual.
2.4. As pessoas que recusam a comida não têm fome espiritual.
2.5. Quando as pessoas se deleitam mais com a beleza do prato do que com a comida, isso é um sinal de que elas não
têm fome espiritual.
2.6. As pessoas que preferem outras coisas em vez da justiça, a saber, seus lucros e recreações, demonstram ter pouca
fome de justiça.
2.7. As pessoas que estão mais interessadas em disputas religiosas do que na prática da piedade dão um sinal de que
elas não têm fome espiritual.
3. Uma repreensão aos que têm fome e sede de injustiça.
3.1. Isso repreende aquelas pessoas que têm sede das terras e possessões alheias. A Escritura chama isso de “pecados
graves” (Amós 5:12).
3.2. Isso repreende aquelas pessoas que têm fome e sede de vingança.
3.3. Isso repreende aquelas pessoas que têm fome e sede de satisfazer suas luxúrias impuras.
4. Como saber se temos essa fome espiritual.
4.1. A fome é uma coisa dolorosa.
4.2. A fome não se satisfaz com nada além de comida.
4. Uma pessoa com fome vai até sua comida com um grande apetite.
4.5. Uma pessoa com fome experimenta o sabor de sua comida.
5. A fome espiritual verdadeira e a fome hipócrita.
5.1. O hipócrita não deseja a graça por ela mesma.
5.2. Os desejos do hipócrita são condicionais.
5.3. Os desejos do hipócrita são apenas desejos.
5.4. Os desejos do hipócrita são baratos.
5.5. Os desejos do hipócrita são efêmeros e passageiros.
5.6. Os desejos do hipócrita são insensatos.
6. Persuasão a termos fome e sede de justiça.
6.1. A menos que tenhamos fome de justiça, não podemos obtê-la.
6.2. Se não tivermos sede aqui, teremos sede quando for tarde demais.
7. Alguns auxílios para a fome espiritual.
7.1. Evite aquelas coisas que impedirão o seu apetite.
7.2. Faça tudo o que possa aumentar o apetite espiritual.
8. A fome espiritual será saciada.
8.1. Deus pode saciar a alma faminta.
8.2. Por que Deus sacia a alma faminta.
8.3. Como Deus sacia a alma faminta.

Quem Foi Thomas Watson


Sobre a Série
As Bem-Aventuranças
Thomas Watson publicou o livro, “As Bem-Aventuranças” (The Beatitudes), em 1660. Esta obra
é um verdadeiro clássico da literatura cristã e puritana. Como um teólogo habilidoso, um poeta
da verdade e um pastor amoroso, Watson descreve as características da pessoa que
verdadeiramente é bem-aventurada.
Agora essa obra começa a ser publicada em português como uma série que conterá 10
livros. São eles:
Livro 1: Sermão do Monte: Introdução
Livro 2: Bem-Aventurados os Pobres em Espírito
Livro 3: Bem-Aventurados os que Choram
Livro 4: Bem-Aventurados os Mansos
Bem-Aventurados os que Têm Fome e
Livro 5:
Sede de Justiça
Livro 6: Bem-Aventurados os Misericordiosos
Livro 7: Bem-Aventurados os Puros de Coração
Livro 8: Bem-Aventurados os Pacificadores
Bem-Aventurados os Perseguidos por
Livro 9:
Causa da Justiça
Os Mandamentos de Deus Não são
Livro 10:
Difíceis de Guardar

O presente eBook contém o livro 5, Bem-Aventurados os que Têm Fome e Sede de Justiça.
Rogamos ao nosso “Deus que possui toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança”
(CFB16892.2) que use esta exposição da sua Palavra para conduzir muitos dos seus eleitos a
Jesus Cristo, por meio do seu Espírito Santo.
Ao único Deus verdadeiro,
Pai, Filho e Espírito,
Seja a glória para sempre,
Amém e amém!
Bem-Aventurados os que Têm
Fome e Sede de Justiça
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.” (Mateus 5:6)

Agora chegamos ao quarto estágio da bem-aventurança: “Bem-aventurados os que têm fome”.


As palavras se dividem em duas partes: um dever implícito e uma promessa anexa.

1. Um dever implícito.
O texto diz: “Bem-aventurados os que têm fome”. A fome espiritual é uma fome
abençoada.
O que significa fome? A fome é usada para representar desejo (Isaías 26:9). A fome
espiritual é o apetite racional pelo qual a alma anseia por aquilo que ela percebe como mais
adequado e proporcional a si mesma.
De onde vem essa fome? A fome surge do sentimento de necessidade. Aquele que tem
fome espiritual tem uma sensação real de sua própria necessidade. Ele carece de justiça.
O que significa justiça? Há uma justiça dupla: uma justiça de imputação ou justiça de
implantação.
Uma justiça de imputação, ou seja, a justiça de Cristo. Como diz o profeta: “Esse é o nome
pelo qual será chamado: ‘Senhor, Justiça Nossa’” (Jeremias 23:6). Essa justiça é tão
verdadeiramente nossa para nos justificar quanto ela é de Cristo para nos conceder. Por meio
dessa justiça, Deus olha para nós como se nunca tivéssemos pecado (Números 23:21). Esta é
uma justiça perfeita: “Também, nele, vocês receberam a plenitude” (Colossenses 2:10).
Tal justiça não apenas cobre, mas adorna. Aquele que possui essa justiça é igual aos santos
mais ilustres. O crente mais fraco é justificado tanto quanto o mais forte. Essa é uma vitória
cristã. Mesmo quando ele está manchado em si mesmo, ele é imaculado em seu Cabeça. Nesta
justiça bendita, nós brilhamos mais do que os anjos. Vale a pena ansiar por essa justiça.
Uma justiça de implantação, ou seja, uma justiça inerente, a saber, as graças do Espírito, a
santidade de coração e vida, que Caetano[1] chama de “justiça universal”. Isso é o que uma alma
piedosa deseja. Essa é uma fome abençoada. A fome corporal não pode tornar um homem tão
miserável quanto a fome espiritual o torna abençoado. Tal fome é uma evidência de vida. Um
morto não pode ter fome. A fome vem da vida. A primeira coisa que a criança faz ao nascer é ter
fome do leite materno. A fome espiritual segue o novo nascimento (1 Pedro 2:2). Bernardo se
consola com o fato de que certamente ele tinha a verdade da graça nele, porque tinha em seu
coração um forte desejo por Deus. É algo feliz quando, embora não tenhamos o que deveríamos
ter, desejamos o que ainda não temos. O apetite é tão dado por Deus quando a própria comida.

1.1. Veja aqui quão baixo é o preço pelo qual Deus concede as coisas celestiais:
basta apenas ter fome e sede.
Deus declarou através do profeta: “Ah! Todos vocês que têm sede, venham às águas; e
vocês que não têm dinheiro, venham, comprem” (Isaías 55:1). Não somos instruídos a trazer
méritos, como os papistas fariam, nem a trazer uma quantia em dinheiro para comprar a justiça.
Tudo o que é necessário é trazer um apetite. Cristo “cumpriu toda justiça” (Mateus 3:15). Só
precisamos “ter fome e sede de justiça”. Isso é justo e razoável. Deus não exige rios de azeite,
mas suspiros e lágrimas.
O convite do Evangelho é gratuito. Se um amigo convida pessoas para sua mesa, ele não
espera que tragam dinheiro para pagar pelo jantar, mas apenas que venham com apetite. Assim,
Deus diz: “Não exijo penitência, peregrinação ou justiça própria. Apenas traga o apetite. Tenha
fome e sede de justiça”.
Deus poderia ter estabelecido um preço mais alto para que alguém recebesse a Cristo e a
salvação, mas ele reduziu muito o preço. Ora, assim como isso mostra a doçura da natureza de
Deus, que ele não é um mestre severo; assim também isso mostra a indescupabilidade daquelas
pessoas que perecem sob o Evangelho. Que desculpa qualquer pessoa pode apresentar no dia do
julgamento, quando Deus fizer esta pergunta: “Amigo, por que você não recebeu a Cristo? Eu
coloquei Cristo e a graça a um preço baixo. Se você apenas tivesse tido fome de justiça, você
teria obtido Cristo, mas você o desprezou. Você tinha pensamentos tão baixos sobre a justiça que
não quis ter fome dela”. Como você espera escapar, se continua a negligenciar “uma tão grande
salvação”? Quanto mais fáceis são os termos do Evangelho, mais severa será considerada a
punição daqueles que indignamente recusam tal oferta!

1.2. Isso nos mostra o verdadeiro caráter de um uma pessoa piedosa.


Ela tem fome e sede de coisas espirituais (Isaías 26:9; Salmo 73:25). Um verdadeiro santo
é conduzido pelas asas do desejo. Faz parte da própria índole e constituição de uma alma
graciosa ter sede de Deus (Salmos 42:2). Na Palavra pregada, como tal pessoa está cheia de
desejo! Estes são alguns dos anelos da sua alma: “Senhor, tu me conduziste aos teus átrios. Oh,
que eu possa ter tua doce presença, que tua glória possa encher o templo! Tu desenharás alguns
contornos sagrados da graça em minha alma para que eu possa ser mais semelhante ao meu
querido Salvador?”. Na oração, como a alma se enche de anseios ardentes por Cristo! A oração é
expressa por “gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26). O coração envia ao Céu uma série de
suspiros: “Senhor, dá-me um raio do teu amor! Senhor, dá-me uma gota do teu sangue!”.

2. Uma repreensão aos que não têm fome espiritual.


Isso repreende aqueles que não têm nada dessa fome espiritual. Eles não têm o que poderia
conduzi-los como asas. A ponta de suas afeições está embotada. O mel não é doce para aqueles
que estão doentes com febre e têm um sabor amargo em suas línguas devido à cólera. Assim,
aqueles que estão doentes em sua alma e “no fel da amargura” (Atos 8:23) não encontram doçura
em Deus ou na religião. O pecado lhes parece mais doce, eles não têm fome espiritual. O fato de
as pessoas não terem essa “fome de justiça” é demonstrado por estas sete coisas:

2.1. As pessoas não têm fome de justiça porque nunca sentiram seu vazio.
Elas estão cheias de sua própria justiça (Romanos 10:3). “Quem está farto pisa o favo de
mel” (Provérbios 27:7). Essa foi a doença de Laodiceia. Ela estava cheia e não tinha desejo nem
pelo ouro e nem pelo colírio de Cristo (Apocalipse 3:17). Quando os homens estão cheios de
orgulho, esse distúrbio os incha e os impede de terem anelos santos. Assim como quando o
estômago está cheio de gases, o apetite se vai. Ninguém está tão destituído da graça quanto
aquele que pensa estar cheio. A pessoa que tem mais necessidade de justiça é aquela que menos
sente a necessidade dela.

2.2. As pessoas não têm fome de justiça porque pensam que podem se sair bem
o suficiente sem ela.
Se eles têm azeite na botija e bem-estar no mundo, então ficam muito contentes. A graça é
aquilo que menos lhes faz falta. Você ouvirá as pessoas se queixarem de falta de saúde, falta de
emprego, mas nunca se queixam de falta de justiça. Se as pessoas perdem uma ou duas refeições,
então acham que estão quase perdidas, mas podem ficar longe das ordenanças que são os canais
da graça. Será que as pessoas que têm fome de justiça ficariam satisfeitas sem ela? Não, pois elas
desejam se alimentar no banquete do Evangelho (Lucas 14:18). Certamente a pessoa que pede
para não comer é porque não tem apetite.

2.3. As pessoas que desejam mais o sono do que a comida não têm fome
espiritual.
Eles estão mais sonolentos do que famintos. Alguns vêm à Palavra para tirar uma soneca, a
respeito das quais posso dizer como Cristo disse a Pedro: “Não conseguiu vigiar nem uma hora?”
(Marcos 14:37). É estranho ver um homem dormindo à mesa de jantar. Outros há que são
tomados de um “sono profundo”. Eles estão adormecidos em segurança e odeiam um ministro
que desperta a alma. Enquanto dormem, sua “condenação decretada há muito tempo não tarda”
(2 Pedro 2:3).

2.4. As pessoas que recusam a comida não têm fome espiritual.


Cristo e a graça lhes são oferecidos insistentemente, mas tais pessoas rejeitam a salvação
como uma criança teimosa afasta o peito (Salmos 81:11; Atos 13:46). Tais são as pessoas
fanáticas e entusiastas que rejeitam as benditas ordenanças e fingem ter revelações divinas. Que
revelação estranha é aquela que diz a um homem que ele pode viver sem comida. Elas preferem
cascas do que o maná. Elas vivem de noções etéreas, sendo alimentados pelo “príncipe do ar”.

2.5. Quando as pessoas se deleitam mais com a beleza do prato do que com a
comida, isso é um sinal de que elas não têm fome espiritual.
Essas são as pessoas que buscam mais a elegância e a sofisticação na pregação do que um
conteúdo sólido. Alimentar-se de doces e negligenciar alimentos saudáveis são uma indicação ou
de um paladar mimado ou de um estômago enfastiado. Contra isso o apóstolo nos adverte: “Se
alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e
com o ensino segundo a piedade, esse é orgulhoso e não entende nada, mas tem um desejo
doentio por discussões e brigas a respeito de palavras” (1 Timóteo 6:3-4).
Até mesmo a verdade mais simples tem a sua beleza. As pessoas que desejam se alimentar
de fantasias não possuem fome espiritual. Sobre esses, o profeta diz: “Para eles você não passa
de alguém que canta canções de amor, tem uma bela voz e é um bom músico” (Ezequiel 33:32).
Se uma pessoa fosse convidada para um banquete em que havia música e ela se dedicasse tanto à
música que não prestasse atenção à comida, você diria: “Certamente ela não está com fome”. Da
mesma forma, quando as pessoas estão mais interessadas em palavras bonitas e discursos
floreados do que na espiritualidade do conteúdo, isso é um sinal de que têm estômagos
enfastiados e “ouvidos com comichão”.

2.6. As pessoas que preferem outras coisas em vez da justiça, a saber, seus
lucros e recreações, demonstram ter pouca fome de justiça.
Se um menino está brincando na rua quando deveria estar almoçando, isso é sinal de que
ele não tem apetite pela comida. Se ele estivesse com fome, não preferiria brincar em vez de
comer. Então, quando as pessoas preferem “coisas vãs, que nada aproveitam” (1 Samuel 12:21),
em vez do sangue de Cristo e da graça do Espírito, isso é sinal de que elas não têm paladar ou
estômago para coisas celestiais.

2.7. As pessoas que estão mais interessadas em disputas religiosas do que na


prática da piedade dão um sinal de que elas não têm fome espiritual.
Algumas pessoas se alimentam apenas de questões difíceis e controvérsias (1 Timóteo 6:3-
4). Elas pegam os ossos, mas não se alimentam da carne. Têm cérebros quentes, mas corações
frios. Se as pessoas tivessem fome e sede de justiça, elas proporiam a si mesmas perguntas como
estas: “O que faremos para ser salvos? Como faremos para confirmar nossa vocação e eleição?
Como faremos para mortificar as nossas corrupções?”. Mas quanto àquelas pessoas que
desperdiçam seu tempo em disputas teológicas inúteis e frívolas, eu chamo o céu como
testemunha de que elas são estranhas a este texto, pois elas não “têm fome e sede de justiça”.
Essa palavra repreende aqueles que, em vez de terem fome e sede de justiça, têm sede de
riquezas. Esta é a sede que caracteriza as pessoas gananciosas. Elas desejam Mamom e não
maná. “Elas suspiram pela poeira da terra” (Amós 2:7, KJF). Esta é a doença com a qual a
maioria das pessoas está acometida: um apetite imoderado pelo mundo. Mas essas coisas não
satisfarão mais do que a bebida sacia a sede de um homem com hidropisia. A avareza é idolatria
(Colossenses 3:5).
Muitas pessoas que professam ser cristãos erguem o ídolo do ouro no templo dos seus
corações. Esse pecado da avareza é o mais difícil de ser arrancado. Comumente, quando outros
pecados deixam as pessoas, este permanece apegado a ela. A luxúria é o pecado da juventude e o
mundanismo é o pecado da idade madura.

3. Uma repreensão aos que têm fome e sede de injustiça.


A Palavra reprova aqueles que têm fome e sede de injustiça. Existem três tipos de pessoas
que podem ser acusadas disso:

3.1. Isso repreende aquelas pessoas que têm sede das terras e possessões alheias.
A Escritura chama isso de “pecados graves” (Amós 5:12).
Foi assim que Acabe desejou a vinha de Nabote. Nosso tempo é marcado por esse tipo de
fome. Existem pessoas que espoliaram outras para se enriquecerem. Quão magnífico foi aquele
desafio feito por Samuel: “Eis-me aqui. Testemunhem contra mim diante do Senhor e diante do
seu ungido: de quem tomei o boi? De quem tomei o jumento? A quem enganei? A quem oprimi?
E das mãos de quem aceitei suborno para encobrir com ele os meus olhos? Falem, e eu o
restituirei” (1 Samuel 12:3). Poucas pessoas que ocupam posições de poder podem dizer: “De
quem tomamos o boi? De quem saqueamos a casa? De quem confiscamos a propriedade?”. Não,
na verdade o que poderia ser perguntado é: “De quem eles não tomaram o boi?”. Como alguém
já disse: “Bens injustamente adquiridos raramente chegam ao terceiro herdeiro”. Leia a maldição
do destruidor traiçoeiro: “Ai de você, destruidor, que ainda não foi destruído! Ai de você, traidor,
que não foi traído! Quando você parar de destruir, será destruído; quando parar de trair, será
traído” (Isaías 33:1. NVI). Acabe pagou caro pela vinha quando o Diabo levou embora sua alma
e os “os cães lamberam o sangue” (1 Reis 21:19). Quem vive de rapina morre como tolo.
“Aquele que ajunta riquezas desonestamente; no meio da vida ficará sem elas e no seu fim
passará por tolo” (Jeremias 17:11).

3.2. Isso repreende aquelas pessoas que têm fome e sede de vingança.
Esta é uma sede diabólica. Embora seja mais cristão e seguro relevar uma injúria, nossa
natureza é propensa à doença da vingança. Temos o ferrão da abelha, mas não o mel. A malícia,
ao quebrar as correntes da razão, fica selvagem e evita aquilo que poderia curá-la. Pagãos que
controlaram a paixão da vingança servem de testemunhos contra cristãos que se entregam a ela.
Li sobre Fócion,[2] o qual que, ao ser injustamente condenado à morte, desejou que seu filho não
se lembrasse das injúrias que os atenienses lhe haviam feito, nem vingasse seu sangue.

3.3. Isso repreende aquelas pessoas que têm fome e sede de satisfazer suas
luxúrias impuras.
É desse modo que os pecadores pecam “com avidez” (Efésios 4:19). Assim Amnom ficou
doente até desonrar a castidade de Tamar (2 Samuel 13). Nunca uma pessoa com fome vem com
mais ânimo para a sua comida do que uma pessoa má vai ao ser pecado! Quando Satanás vê que
as pessoas têm tal apetite, ele providenciará o prato que elas amam. Ele colocará a “árvore
proibida” diante delas. Aquelas pessoas que têm sede de cometer pecado, terão sede como o rico
fez no Inferno, mas não terão uma gota de água para refrescar a língua!

4. Como saber se temos essa fome espiritual.


Vamos nos colocar à prova, para ver se temos fome e sede de justiça. Darei cinco sinais
pelos quais você pode julgar essa fome.

4.1. A fome é uma coisa dolorosa.


Esaú estava faminto ao retornar da sua caçada (Gênesis 25:32). O salmista fala sobre
pessoas que estavam “famintas e sedentas, desfalecia nelas a alma” (Salmos 107:5). Assim, uma
pessoa que tem fome de justiça está angustiada na alma e prestes a desmaiar por causa disso. Ela
percebe a sua falta de Cristo e da graça. Tal pessoa está angustiada e com dores até que sua fome
espiritual seja saciada e satisfeita.

4.2. A fome não se satisfaz com nada além de comida.


Traga flores ou música para uma pessoa faminta ou conte-lhe histórias agradáveis, mas
nada a satisfará além da comida. Sansão disse: “Será que agora vou morrer de sede?” (Juízes
15:18). Assim, uma pessoa que tem fome e sede de justiça diz:
Dê-me Cristo ou eu morrerei! Senhor, o que tu me darás, pois estou sem Cristo? O que me importa se
eu tenho habilidades, riquezas, honra e estima no mundo? Tudo é nada sem Cristo. Dê-me Jesus e isso
me bastará. Deixe-me ter Cristo para me vestir, Cristo para me alimentar, Cristo para interceder por
mim!

Enquanto a alma estiver sem Cristo, ela está inquieta. Nada além das fontes de água do
sangue de Cristo podem saciar a sua sede.
4.3. A fome supera dificuldades e busca alimento.
Dizemos que a fome rompe muros de pedra (Gênesis 42:1-2). A alma que tem fome
espiritual está resolvida, ela deve obter a Cristo e a graça. Para usar uma expressão de Basílio, a
alma faminta fica quase louca até conseguir o que deseja.

4. Uma pessoa com fome vai até sua comida com um grande apetite.
Você não precisa fazer um discurso para uma pessoa faminta para persuadi-la a comer. Da
mesma forma, aquela pessoa que tem fome de justiça se alimenta avidamente de uma ordenança.
“Achadas as tuas palavras, logo as comi” (Jeremias 15:16). No sacramento, ela se alimenta com
apetite do corpo e do sangue do Senhor. Deus se agrada quando vê que estamos nos alimentando
avidamente com o pão da vida.

4.5. Uma pessoa com fome experimenta o sabor de sua comida.


Da mesma forma, a pessoa que tem fome de justiça aprecia o sabor das coisas celestiais.
Cristo é para ela toda a quintessência das delícias: “Vocês já têm a experiência de que o Senhor é
bondoso” (1 Pedro 2:3). A pessoa que tem fome espiritual, prova as promessas como doces e
consegue extrair doçura até mesmo de uma repreensão. “Quem está farto pisa o favo de mel, mas
para o faminto até o amargo é doce” (Provérbios 27:7). Uma repreensão amarga é doce. Tal
pessoa pode se alimentar com a mirra do Evangelho tanto quanto com o mel. Através dessas
evidências podemos julgar se temos fome e sede de justiça.
Estas palavras podem servir para confortar os corações das pessoas que têm fome e sede de
justiça: Não duvido que a tristeza de muitos corações que receberam a graça de Deus esteja no
fato de que eles não podem ser mais santos, que não podem servir a Deus melhor.
O nosso texto diz: “Bem-aventurados os que têm fome”. Mesmo que você não tenha tanta
justiça quanto desejaria, entretanto, você é bem-aventurado porque tem fome dela. O desejo é a
melhor evidência de um cristão. As ações podem ser falsas. Uma pessoa pode fazer uma boa
ação motivada por um objetivo ruim. Foi assim que Jeú fez. As ações podem ser compulsórias.
Uma pessoa pode ser forçada a fazer o bem, mas pode não desejar o que é bom. Portanto,
devemos nutrir bons desejos e bendizer a Deus por eles. Muitas vezes, um filho de Deus não tem
nada para mostrar a si mesmo, exceto desejos. Como lemos em Neemias 1:11: “Teus servos que
se agradam de temer o teu nome”. Essas fomes por justiça procedem do amor. Uma pessoa não
deseja o que não ama. Se você não amasse a Cristo, não poderia ter fome dele.

5. A fome espiritual verdadeira e a fome hipócrita.


Objeção: “Se minha fome fosse genuína, eu poderia encontrar consolo nela, porém eu
receio que ela seja falsa. Os hipócritas também têm seus desejos”.
Resposta: Para tranquilizar um cristão vacilante, vou mostrar a diferença entre desejos
verdadeiros e falsos, entre a fome espiritual e a fome carnal.

5.1. O hipócrita não deseja a graça por ela mesma.


Ele deseja a graça apenas como uma ponte para levá-lo ao Céu. Ele não procura tanto a
graça quanto a glória. Ele não deseja tanto o caminho da justiça quanto a coroa da justiça. Seu
desejo não é ser feito semelhante a Cristo, mas sim reinar com Cristo. Este era o desejo de
Balaão: “Que eu morra a morte dos justos” (Números 23:10). Tais desejos como esses são
encontrados entre os condenados. Esta é a fome do hipócrita.
Porém um filho de Deus deseja a graça por ela mesma e deseja Cristo por ele mesmo. Para
um crente, não apenas o Céu é precioso, mas Cristo é precioso. “Portanto, para vocês, os que
creem, esta pedra é preciosa” (1 Pedro 2:7).

5.2. Os desejos do hipócrita são condicionais.


Ele quer o Céu, mas também quer seus pecados, quer o Céu e também quer o seu orgulho,
quer o Céu e também quer a sua avareza. O jovem citado no Evangelho queria obter o Céu,
desde que pudesse manter suas posses terrenas. Muitos querem Cristo, porém há algum pecado
que desejam satisfazer. Esta é a fome dos hipócritas.
Porém o desejo verdadeiro é absoluto. A alma diz: “Dê-me Cristo, não importam os
termos”. Que Deus proponha quaisquer artigos, eu os assinarei. Ele quer que eu negue a mim
mesmo? Ele quer que eu mortifique o pecado? Estou disposto a fazer qualquer coisa, desde que
eu tenha Cristo. Os hipócritas querem Cristo, mas não abrirão mão do seu pecado amado por ele!

5.3. Os desejos do hipócrita são apenas desejos.


O hipócrita é preguiçoso e indolente, como lemos em Provérbios 21:25: “O preguiçoso
morre desejando, porque as suas mãos se recusam a trabalhar”. Alguém quer ser salvo, mas não
quer se esforçar para isso. Ele deseja água, mas não quer baixar o balde no poço para retirá-la.
Porém o verdadeiro desejo conduz ao esforço: “Com minha alma suspiro de noite por ti e,
com o meu espírito dentro de mim, eu te busco ansiosamente” (Isaías 26:9). “O Reino do Céu é
tomado pela força” (Mateus 11:12). A esposa apaixonada, mesmo ferida e com seu véu retirado,
continuou a buscar a Cristo (Cânticos 5:7). O desejo é o motor da alma, aquilo que a põe em
movimento, assim como a águia que deseja sua presa se apressa até ela. É dito sobre a águia que
“onde há mortos, ali ela está” (Jó 39:30). A águia tem uma visão excelente para encontrar a sua
presa e rapidez para voar até ela. Assim, a alma que tem fome de justiça é levada rapidamente até
ela ao fazer uso de todas as ordenanças sagradas.

5.4. Os desejos do hipócrita são baratos.


Ele quer coisas espirituais, mas não está disposto a gastar nada para obtê-las. Ele não se
importa com a quantia de dinheiro que gasta para satisfazer as suas concupiscências: ele tem
dinheiro para gastar com um companheiro bêbado, mas não tem dinheiro para guardar as
ordenanças de Deus. Os hipócritas exaltam o Evangelho, mas menosprezam o apoio financeiro à
igreja.
Porém, os verdadeiros desejos são custosos. Davi se recusou a oferecer holocaustos que
não lhe custasse nada (1 Crônicas 21:24). Uma pessoa faminta dá qualquer coisa por comida,
como aconteceu durante o cerco de Samaria (2 Reis 6:25). Aquele que nunca teve fome de
Cristo, pensa duas vezes antes de abrir mão de algumas moedas de prata para obter a “Pérola de
grande valor” (Mateus 13:46).

5.5. Os desejos do hipócrita são efêmeros e passageiros.


Eles se vão rapidamente, como o vento que não fica muito tempo em um lugar. Ou como
uma crise de febre que logo passa. Enquanto o hipócrita está sob terror de consciência ou se
encontra em alguma aflição, ele tem alguns bons desejos, mas essa crise de febre logo passa. Sua
bondade, como um cometa ardente, logo se gasta e evapora.
Porém o desejo verdadeiro é constante. Observe o que o texto diz: “Bem-aventurados os
que estão com fome”. Embora eles tenham justiça, não obstante, eles ainda estão com fome dela.
Os hipócritas a desejam como o movimento de um relógio, que logo para. O desejo de um uma
pessoa piedosa é como o pulsar da artéria, que dura enquanto houver vida. O salmista disse:
“Consumida está a minha alma por desejar… os teus juízos” (Salmos 119:20). E para que não
pensemos que esse desejo logo passará, ele acrescenta: “incessantemente”. O desejo de Davi por
Deus não foi algo incomum, mas a constante inclinação de sua alma. No templo, o fogo não
devia se apagado à noite: “O fogo queimará continuamente sobre o altar” (Levítico 6:13).
Cirilo[3] diz que isso continha um mistério em si, o qual mostrava que devemos estar sempre
ardendo em afeições e desejos santos.

5.6. Os desejos do hipócrita são insensatos.


O hipócrita tem uma noção errada acerca do tempo. Ele adia a fome por justiça até que seja
tarde demais. São como as virgens tolas que vieram bater quando a porta já estava fechada
(Mateus 25:11). Em tempos de saúde e prosperidade, o curso de suas afeições corria para outro
lado. Os hipócritas desejavam o pecado, não a justiça. Quando eles estão prestes a morrer e não
podem mais esconder seus pecados, então eles passam a desejar a graça como um passaporte
para levá-los ao Céu (Lucas 13:25). Esse é o erro dos hipócritas. Seus desejos vêm quando já é
tarde demais. Eles só desejam a justiça quando seu último suspiro está partindo; como se uma
pessoa viesse a pedir perdão depois que a sentença foi proferida. Tais desejos do leito de morte
são falsos!
Porém os desejos verdadeiros são oportunos e vêm no tempo certo. Um coração que
recebeu a graça de Deus “busca em primeiro lugar o Reino de Deus” (Mateus 6:33). A sede de
Davi por Deus era precoce (Salmos 63:1). As virgens prudentes conseguiram seu óleo antes que
o noivo viesse.
Assim, vemos a diferença entre uma fome verdadeira e uma fome falsa. Aqueles que
podem encontrar essa verdadeira fome são bem-aventurados e podem se confortar nela.
Objeção: “Minha fome por justiça é tão fraca que temo que não seja verdadeira”.
Resposta: Embora o pulso bata fraco, isso mostra que há vida. Essa promessa foi feita para
as pessoas que possuem desejos fracos, para que eles não sejam desencorajados: “Cristo não
esmagará a cana quebrada” (Mateus 12:20). Uma cana é algo fraco, especialmente quando está
quebrada, porém, essa “cana quebrada” não será esmagada, antes, como a vara seca de Arão, ela
“brotará e florescerá” (Números 17:8). Em caso de fraqueza, olhe para Cristo, seu Sumo
Sacerdote. Ele é misericordioso, portanto, suportará suas fraquezas; ele é poderoso, portanto, o
auxiliará.
Além disso, se seus desejos por justiça parecem ser fracos e lânguidos, contudo, um cristão
pode medir sua condição espiritual tanto pelo julgamento quanto pelas afeições. O que você
estima mais em seu julgamento? É Cristo e a graça? Então isso é uma boa evidência de que você
está indo para o Céu. Um dos sinais de que Paulo tinha um amor pleno por Cristo foi que ele
considerava esta Pérola acima de tudo. Ele considerava outras coisas “como lixo, para ganhar a
Cristo” (Filipenses 3:8).
Objeção: “Mas”, diz um filho de Deus, “o que mais prejudica meu consolo é que não tenho
mais aquela fome que costumava ter. Houve um tempo em que eu desejava o sabbath porque era
o dia em que o maná caía. Eu chamada o sabbath de “meu prazer” (Isaías 58:13-14). Lembro-me
do tempo em que eu desejava o corpo e o sangue do Senhor. Eu vinha à ceia como uma pessoa
faminta para um banquete, mas agora é diferente. Não tenho mais aquela fome de antes”.
Eu respondo: De fato, quando uma pessoa perde o apetite isso é um mau sinal, porém,
embora seja um sinal de decadência da graça perder o apetite espiritual, contudo, é um sinal da
verdade da graça lamentar essa perda. É triste perder nosso primeiro amor, mas é feliz quando
lamentamos a perda do nosso primeiro amor.
Se você não tem mais apetite por coisas celestiais como antes, ainda assim, não se
desanime, pois você pode recuperar o seu apetite ao fazer uso dos meios. As ordenanças servem
para recuperar o apetite quando ele é perdido. Em outros casos, se alimentar tira o apetite, mas
neste caso, se alimentar de uma ordenança gera apetite.
O texto exorta todos nós a trabalharmos para obter essa fome espiritual. Tenhamos menos
fome do mundo e mais fome da justiça. Digamos em relação às coisas espirituais: “Senhor, dê-
nos sempre deste pão! Alimente-nos com a comida dos anjos!”. O maná celestial é mais digno de
ser desejado, pois não apenas preserva a vida, mas previne a morte (João 6:50). Aquilo que é
mais duradouro é mais desejável e “as riquezas não duram para sempre”, mas a justiça sim
(Provérbios 27:24, 8:18). “A beleza da santidade” nunca desvanece e as “vestes de salvação”
nunca envelhecem (Salmos 110:3, Isaías 61:10)! Ah, deseje a justiça que “livra da morte”
(Provérbios 10:12).
Deus “ama o que segue a justiça” (Provérbios 15:9). Todas as pessoas ambicionam o favor
do rei. Porém, o que é um sorriso do príncipe senão um olhar passageiro? Este brilho de seu
semblante real logo se transfigura em desagrado, mas aqueles que são revestidos de justiça são os
favoritos de Deus e como o sorriso divino é deleitoso! Como o salmista declarou: “Tua
benignidade é melhor do que a vida” (Salmos 63:3).

6. Persuasão a termos fome e sede de justiça.


Para persuadir as pessoas a terem fome dessa justiça, considere duas coisas:

6.1. A menos que tenhamos fome de justiça, não podemos obtê-la.


Deus nunca derramará as suas bênçãos sobre aquelas pessoas que não as desejam. Um rei
pode dizer a um rebelde: “Apenas deseje o perdão e você o terá”. Mas se, por orgulho e teimosia,
ele desdenha e não pede o seu perdão, então ele merece morrer justamente. Deus determinou que
as bênçãos espirituais podem ser recebidas por um preço muito baixo. Apenas deseja e você
obterá justiça; mas se recusarmos a aceitar essas condições, então não é possível obtê-la. Em vez
disso, Deus interromperá o fluxo de sua misericórdia e abrirá as comportas de sua indignação
sobre tal pessoa rebelde.

6.2. Se não tivermos sede aqui, teremos sede quando for tarde demais.
Se não tivermos sede como Davi tinha, “a minha alma tem sede de Deus” (Salmos 42:2),
então teremos sede como o rico teve por uma gota de água (Lucas 16:24). Aquelas pessoas que
não têm sede de justiça estarão perpetuamente com fome e sede. Elas terão sede de misericórdia,
mas nenhuma misericórdia será recebida. O calor aumenta a sede. Quando as pessoas estiverem
queimando no Inferno e estiverem sendo abrasadas pelas chamas da ira de Deus, esse calor
aumentará a sede delas pela misericórdia dele, mas não haverá o que sacia tal sede. Oh, não é
melhor ter sede de justiça enquanto ela está disponível, do que ter sede de misericórdia quando
ela já não puder ser obtida? Pecadores, o tempo está chegando quando a ponte levadiça da
misericórdia será completamente erguida!
7. Alguns auxílios para a fome espiritual.
A seguir, descreverei brevemente alguns auxílios para a fome espiritual.

7.1. Evite aquelas coisas que impedirão o seu apetite.


Evite “coisas vãs”. Quando o estômago está cheio de gases, uma pessoa tem pouco apetite
por sua comida. Da mesma forma, quando alguém está cheio de opiniões vãs acerca de sua
justiça própria, ela não terá fome da justiça de Cristo. Aquela pessoa que está inchada de orgulho
pensa que já tem graça suficiente e, portanto, não terá fome por mais. Essas opiniões vãs
estragam o apetite.
Evite “coisas doces”. Ao nos alimentarmos imoderadamente dos doces e das delícias
saborosas do mundo, perdemos o apetite por Cristo e pela graça. Nunca se viu uma pessoa que se
empanturrou do mundo e, ao mesmo tempo, estava profundamente afeiçoada por Cristo.
Enquanto Israel se deleitava com alho e cebolas, ele nunca teve fome de maná. A alma não pode
ser levada a dois extremos ao mesmo tempo. Assim como o olho não pode olhar fixamente para
o Céu e para a Terra ao mesmo tempo, assim também uma pessoa não pode, no mesmo instante,
ter uma fome excessiva pelo mundo e pela justiça! A terra apaga o fogo. O amor pelas coisas
terrenas extinguirá o desejo pelas coisas espirituais. Por isso, o apóstolo ordenou: “Não ame o
mundo” (1 João 2:15). O pecado não está em possuir as coisas deste mundo, mas em amar o
mundo.

7.2. Faça tudo o que possa aumentar o apetite espiritual.


Existem duas coisas que aumentam o apetite:
O exercício aumenta o apetite. Quando uma pessoa se movimenta e se exercita o seu
apetite por comida aumenta. Da mesma forma, através de nos exercitarmos nos deveres sagrados,
o apetite espiritual é aumentado. Como está escrito: “Exercite-se para a piedade” (1 Timóteo
4:7). Muitos abandonaram a oração secreta, raramente ouvem a pregação da Palavra e, por falta
de exercício, perderam o apetite pela religião.
O tempero aumenta o apetite. O tempero aguça e intensifica o apetite. Há um tempero
duplo que provoca um apetite sagrado: Em primeiro lugar, vêm as “ervas amargas” do
arrependimento. Aquele que prova o fel e o vinagre no pecado tem fome do corpo e do sangue
do Senhor.
Em segundo lugar, a aflição. Deus muitas vezes nos dá esse tempero para aguçar a nossa
fome pela graça. Em Gênesis 30:14, lemos que “Rúben achou mandrágoras no campo”. As
mandrágoras são uma erva de sabor muito forte e, entre outras virtudes que possuem, são
especialmente medicinais para aqueles que têm apetites fracos e ruins. As aflições podem ser
comparadas a essas mandrágoras, que aguçam os desejos das pessoas por aquela comida
espiritual que, no tempo de prosperidade, eles começaram a rejeitar. A pobreza é o tempero que
cura a glutonaria da abundância. Na doença, as pessoas têm mais fome de justiça do que na
saúde, pois “a alma farta despreza o favo de mel” (Provérbios 27:7, ACF).
Quando estão saciados com o mundo, os cristãos desprezam os ricos encorajamentos do
Evangelho. Eu gostaria que não menosprezássemos agora as verdades que seriam doces até
mesmo numa prisão. Quão preciosa era uma folha da Bíblia nos dias da Rainha Maria![4] O Deus
sábio vê como bom, por vezes, nos dar o forte tempero da aflição para nos levar a nos
alimentarmos mais avidamente com o pão da vida.
Assim eu expliquei a primeira parte do texto: “Bem-aventurados os que têm fome”.

8. A fome espiritual será saciada.


“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mateus 5:6).
Agora, passo para a segunda parte do texto. Uma promessa anexada: “Serão saciados”. Um
cristão não luta contra o pecado como alguém que “bate no ar” (1 Coríntios 9:26) e sua fome por
justiça não é como alguém que deseja se alimentar do ar: “Bem-aventurados os que têm fome,
porque serão saciados”.
Aqueles que têm fome de justiça serão saciados. Deus nunca nos ordena buscá-lo “em vão”
(Isaías 45:19). Aqui está um favo destilando seu mel nas bocas dos famintos: “eles serão
saciados”. Deus “enche os famintos de coisas boas” e “satisfaz a alma sedenta” (Lucas 1:53;
Salmos 107:9). Deus não deixa que nosso anseio seja frustrado. Aqui está a excelência da justiça
acima de todas as outras coisas. Uma pessoa pode ter fome do mundo e não ficar satisfeita. O
mundo está desvanecendo, não preenchendo. Coloque três mundos no coração e o coração ainda
não ficará satisfeito. Mas a justiça é algo que preenche; aliás, ela preenche de tal forma que
satisfaz. Uma pessoa pode ser cheia e não estar satisfeita. Um pecador pode saciar-se de pecado
e, no entanto, essa é uma saciedade triste. Isso está longe de ser a verdadeira satisfação. Como
diz Provérbios 14:14: “O infiel de coração se fartará de seus próprios caminhos”. Ele terá sua
barriga cheia de pecado, mas isso jamais o satisfará. Essa é uma fartura que os condenados no
Inferno têm, eles estão fartos da ira do Senhor!
Mas aquela pessoa que tem fome de justiça será fartamente saciada. Como Deus declara
em sua Palavra: “Meu povo será saciado com a minha bondade” e “minha alma será saciada
como com tutano” (Jeremias 31:14; Salmos 63:5). Primeiramente José primeiro abriu a boca dos
sacos e depois os encheu de grãos e colocou dinheiro neles (Gênesis 42:25). Assim, Deus
primeiramente abre a boca da alma com o desejo e depois a enche com coisas boas (Salmos
81:10). Para ilustrar isso, considere estas três coisas: Deus pode saciar a alma faminta; por que
ele sacia a alma faminta; e como ele sacia a alma faminta.

8.1. Deus pode saciar a alma faminta.


Ele é chamado de fonte: “Contigo está a fonte da vida” (Salmos 36:9). A cisterna pode
estar vazia e, desse modo, não poderá nos saciar. As criaturas frequentemente são como
“cisternas quebradas” (Jeremias 2:13). Mas a fonte está sempre enchendo. Deus é uma fonte. Se
trouxermos os baldes de nossos desejos até esta fonte, ela é capaz de preenchê-los.
A plenitude em Deus é infinita. Embora ele nos preencha, e os anjos tenham capacidades
maiores dos que as nossas para receber dessa plenitude, contudo ela não diminui. Como o sol,
que, embora brilhe, jamais diminui a sua luz. Certa vez, Cristo disse: “Percebo que a virtude saiu
de mim” (Lucas 8:46). Embora Deus deixe a virtude sair dele, contudo, sua virtude não diminui.
A plenitude da criatura é limitada. Ela vai até certo grau e proporção; mas a plenitude de Deus é
infinita, ela tem tanto seu esplendor quanto sua abundância, ela não tem limites e nem fundo!
A plenitude de Deus é constante. A plenitude da criatura é uma plenitude mutável, ele
diminui e muda. As pessoas dizem frequentemente: “Eu gostaria de lhe ajudar, mas estou
passando por uma situação difícil”. As flores da figueira são rapidamente sopradas pelo vento.
Mas Deus é uma plenitude constante, como diz o salmista: “Tu és o mesmo” (Salmos 102:27).
Deus e sua generosidade nunca podem ser esgotados. Sua plenitude está transbordando e sempre
fluindo. Então, certamente “é bom se aproximar de Deus” (Salmos 73:28). É bom trazer nossos
baldes para essa fonte principal. A plenitude de Deus é uma bondade ininterrupta.

8.2. Por que Deus sacia a alma faminta.


Deus sacia a alma faminta pelas seguintes razões:
A. Deus encherá a alma faminta por sua terna compaixão.
Ele sabe que, de outra forma, “o espírito definharia diante de mim, bem como o fôlego da
vida, que eu criei” (Isaías 57:16). Se a pessoa faminta não for saciada com comida, ela morre.
Deus tem afeições demais para permitir que uma alma faminta pereça. Quando a multidão não
tinha nada para comer, Cristo foi movido por compaixão e realizou um milagre para supri-la
(Mateus 15:32). Ele terá muito mais compaixão daqueles que têm fome e sede de justiça.
Quando um pobre pecador se vê quase morrendo em seus pecados, como o pródigo entre
suas alfarrobas (Lucas 15:16), e começa a ter fome de Cristo, a ponto de dizer: “Há pão em
abundância na casa do meu Pai” (Cf. Lucas 15:17), Deus então, por sua compaixão infinita, trará
o bezerro cevado e revigorará sua alma com as delícias e provisões do Evangelho. Ah, como as
afeições de Deus se comovem por um pecador faminto! Como disse o profeta: “Meu coração se
comove dentro de mim; toda a minha compaixão se manifesta” (Oséias 11:8). Não podemos ver
uma pessoa pobre à nossa porta prestes a perecer de fome, sem que nossas afeições se comovam
e nos levem a socorrê-la. Será que o Pai das misericórdias deixará uma pobre alma que tem fome
das bênçãos do Evangelho ir embora sem conceder-lhe uma dádiva da graça gratuita? Não! Deus
não vai, ele não pode! Que o pecador faminto pense da seguinte maneira: “Embora eu esteja
cheio de necessidades, Deus estão cheio de afeição!”.
B. Deus saciará o faminto para cumprir a sua Palavra.
Como diz a Palavra de Deus: “Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão
saciados” e “Porque derramarei água sobre o chão sedento e torrentes sobre a terra seca.
Derramarei o meu Espírito sobre a sua posteridade e a minha bênção sobre os seus descendentes”
(Salmos 107:9; Jeremias 31:14; Lucas 6:21; Isaías 44:3). Será que o Senhor falou e isso não se
cumprirá? As promessas são infalíveis. Se Deus fez uma promessa, ele não pode voltar atrás em
sua palavra. Você que tem fome de justiça tem também Deus comprometido com você. Ele
(falando com reverência) empenhou sua verdade por você. Assim como “as suas misericórdias
não têm fim” (Lamentações 3:22), assim também ele “não faltará à sua fidelidade” (Salmos
89:33). Se a alma faminta não fosse saciada, a promessa divina não seria cumprida.
C. Deus saciará a alma faminta porque foi ele mesmo quem despertou essa fome.
Deus planta desejos santos em nós e será que ele mesmo não satisfará os desejos que ele
mesmo operou em nós? Assim como acontece no caso da oração: quando Deus prepara o
coração para orar, ele prepara o seu ouvido para ouvir (Salmos 10:17); assim também acontece
no caso da fome espiritual, quando Deus prepara o coração para ter fome, ele preparará a sua
mão para saciá-lo. Não é racional imaginar que Deus deveria negar satisfazer essa fome que ele
mesmo causou. Deus não faz nada em vão. Se o Senhor inflama o desejo pela justiça e não o
sacia, pode parecer que ele está fazendo algo em vão.

D. Deus saciará os famintos porque eles são seus filhos. Não podemos negar algo a nossos
filhos quando eles têm fome.
Preferimos que nós mesmos fiquemos sem o que desejamos do que eles (Lucas 11:13).
Quando aquele que é nascido de Deus vier e disser: “Pai, tenho fome, dá-me Cristo! Pai, tenho
sede, refresca-me com as correntes vivas do teu Espírito!”. Será que Deus pode negar tais
desejos? Deus ouve o corvo quando ele clama, será que ele não ouvirá os justos quando eles
clamam? Quando a terra abre a boca e tem sede, Deus a satisfaz (Salmos 65:9-10). O Senhor
satisfaz a terra sedenta com chuvas e não satisfaria a alma sedenta com graça?
E. Deus satisfará o faminto porque a alma faminta é mais grata pela misericórdia.
Quando o desejo inquietante é dirigido a Deus, e Deus o satisfaz, como o cristão é grato! O
Senhor ama conceder sua misericórdia para aqueles que mais o louvarão. Alegramo-nos em
presentear aquelas pessoas que são mais agradecidas. Os músicos amam tocar onde são melhor
reconhecidos. Deus ama conceder as suas misericórdias para aqueles que as reconhecem através
do louvor. A alma faminta coloca a coroa de louvor sobre a cabeça da livre graça! Como diz o
salmista: “Aquele que me oferece sacrifício de ações de graças, esse me glorificará” (Salmos
50:23).

8.3. Como Deus sacia a alma faminta.


Deus sacia a alma faminta de três maneiras: com graça, com paz e com bem-aventurança.
A. Deus sacia a alma faminta com graça.
A graça sacia porque é adequada para a alma. Estêvão estava “cheio do Espírito Santo”
(Atos 7:55). Essa plenitude de graça diz respeito às partes, não aos graus. Algo de todas as graças
é concedido à alma, embora a perfeição.
B. Deus sacia a alma faminta com paz.
Como está escrito em Romanos 15:13: “O Deus da esperança encha vocês de toda alegria e
paz na fé que vocês têm”. Essa paz flui de Cristo. Israel colhia mel da rocha. O mel da paz sai da
rocha, que é Cristo. Foi o próprio Cristo quem disse: “para que em mim vocês tenham paz” (João
16:33). Essa paz é tão capaz de satisfazer que ela faz a alma desejar o Céu. Este cacho de uvas
estimula o apetite e o faz ansiar pela plenitude da colheita.
C. Deus sacia a alma faminta com bem-aventurança.
A glória é algo que preenche. “Quando despertar ficarei satisfeito ao ver a tua semelhança”
(Salmos 17:15, NVI). Quando um cristão acordar do sono da morte, então ele ficará satisfeito ao
ver que possui sobre si os raios gloriosos da imagem de Deus. Então, a alma será preenchida até
o seu limite! A glória do Céu é tão doce que a alma ainda terá sede, mas tão infinita que ela será
saciada. Como alguém disse: “Aqueles que bebem de ti, ó Cristo, são refrescados com correntes
agradáveis e, ainda que continuem com sede, continuarão a ser saciados”.
Quão grande é esse encorajamento para que tenhamos fome de justiça! Tais pessoas serão
saciadas. Deus nos ordena que saciemos os famintos (Isaías 58:10). Ele repreende aqueles que
não saciam os famintos (Isaías 32:6). Será que achamos que ele será negligente naquilo pelo qual
nos repreende por não fazermos? Oh, venha com fome de Cristo e tenha certeza de que você será
saciado! Deus mantém uma casa aberta para pecadores famintos. Ele convida as pessoas a virem
sem dinheiro (Isaías 55:1-2). A natureza de Deus o inclina e sua promessa o obriga a saciar o
faminto.
Considere o seguinte: por qual motivo Cristo recebeu “o Espírito sem medida” (João
3:34)? Não foi para ele mesmo, pois Jesus já era infinitamente cheio do Espírito antes disso. Mas
ele foi cheio da santa unção com este objetivo: para destilar sua graça sobre a alma faminta.
Você é ignorante? Cristo foi cheio de sabedoria para que pudesse ensinar-lhe. Você está
contaminado? Cristo foi cheio de graça para purificar você. Então, será que a alma não deve vir a
Cristo, que foi cheio com o propósito de saciar os famintos? Amamos bater à porta de uma
pessoa rica. Na casa de nosso Pai há pão suficiente. Venha com desejo e você será saciado! Você
terá as virtudes do sangue de Cristo, as influências do seu Espírito e as comunicações do amor do
Pai!
Existem duas objeções feitas a isso:
A objeção da pessoa carnal, que diz: “Eu tenho tido fome de justiça, mas não estou
saciada”.
Eu respondo: Você diz que tem fome e não está saciada? Talvez Deus não esteja satisfeito
com a sua fome. Você “abre bem a sua boca”, mas não “inclina os seus ouvidos” (Salmos 81:10;
Salmos 49:4). Quando Deus o chamou para a oração em família e para a mortificação do pecado,
você, “tapou os ouvidos” (Zacarias 7:11). Não é de admirar, então, que você não obtenha aquela
satisfação que deseja. Embora você tenha aberto a boca, você fechou o ouvido. O filho que não
ouve seus pais é levado a fazer penitência através do jejum.
Talvez você tenha sede tanto de uma tentação quanto de justiça. Em um sacramento, você
parece inflamado de desejo por Cristo, mas na primeira tentação que surge, seja para embriaguez
ou para a luxúria, você se entrega facilmente. Satanás apenas acena e você vem. Você atende
mais prontamente o tentador do que a Cristo! E você se surpreende por não estar cheio das
delícias da casa de Deus?
Talvez você tenha mais fome do mundo do que de justiça. O jovem no Evangelho queria
Cristo, mas o mundo era mais querido por seu coração do que Cristo. Os hipócritas anseiam mais
pela poeira da terra (Amós 2:7) do que pela “água da vida”. Israel não teve maná enquanto se
alimentou com a comida que trouxe do Egito. Aqueles que se alimentam imoderadamente com a
comidas das coisas desta Terra não devem pensar que serão saciadas com o maná do Céu. Se o
seu dinheiro é o seu deus, jamais pense que você receberá o verdadeiro Deus no sacramento.
A objeção da pessoa piedosa: “Eu tenho tido desejos sinceros por Deus, mas não sou
saciada”.
Eu respondo: Você pode ser saciada com a graça, embora não seja consolada. Se Deus não
a enche de alegria, contudo ele a enche de bondade (Salmos 107:9). Olhe para o seu coração e
veja as chuvas do Espírito. O orvalho pode cair sobre sua alma, ainda que o mel não seja
destilado sobre você.
Espere um pouco e você será saciado. O Evangelho é um banquete espiritual. Ele oferece
um banquete de graça e consolação para a alma. Ninguém come desse banquete, a menos que
espere à mesa. Como diz o profeta:
O Senhor dos Exércitos dará neste monte um banquete para todos os povos. Será um banquete de
carnes suculentas e vinhos envelhecidos: carnes suculentas com tutanos e vinhos envelhecidos bem-
clarificados… Naquele dia, se dirá: “Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos
salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos…”
(Isaías 25:6-9).

Vale a pena não somente desejar as misericórdias espirituais, mas também esperá-las.
Se Deus não o saciar seu povo até a satisfação aqui na Terra, contudo, eles satisfeitos
cheios no Céu. Os vasos dos seus desejos serão preenchidos como aqueles potes de água:
“totalmente” (João 2:7).
Quem Foi
Thomas Watson

Thomas Watson foi um proeminente puritano inglês do século XVII, conhecido por suas
habilidades como pregador e escritor. Embora sua vida pessoal seja relativamente pouco
documentada, suas obras e sermões deixaram um impacto duradouro no movimento puritano e
na teologia cristã reformada.
Juventude e Educação
Não há muitos registros sobre a juventude e a educação de Thomas Watson.
Provavelmente ele nasceu em 1620. Sabe-se que ele foi educado em Emanuel College, em
Cambridge, onde obteve o título de Bacharel em Artes (A.B.) e posteriormente de Mestre em
Artes (A.M.). Como muitos puritanos da época, é provável que Watson tenha sido influenciado
por professores e teólogos reformados durante seus estudos em Cambridge.
Ministério em St. Stephen’s Church, Walbrook
Após concluir sua educação, Watson foi ordenado ao ministério e tornou-se ministro da
Palavra na Igreja de St. Stephen’s, localizada em Walbrook, uma área da cidade de Londres. Ele
serviu nessa posição durante cerca de 16 anos, ganhando reputação como um pregador eloquente
e um pastor dedicado.
Atividade Ministerial e Escrita
Durante seu tempo como ministro em St. Stephen’s, Watson ganhou destaque como um
dos principais pregadores puritanos de sua época. Ele era conhecido por sua profunda piedade,
habilidade retórica e sólido compromisso com as doutrinas da fé reformada. Watson pregava
regularmente para sua congregação, além de envolver-se em atividades pastorais e escrita.
Obras Literárias
Thomas Watson é mais conhecido por suas numerosas obras literárias, muitas das quais se
tornaram clássicos da literatura puritana. Entre suas obras mais famosas estão “A Body of
Divinity” [Um Compêndio de Teologia], “The Godly Man’s Picture” [O Perfil da Pessoa
Piedosa], “The Ten Commandments” [Os Dez Mandamentos], “The Art of Divine Contentment”
[A Arte da Contentamento Piedoso], entre outros.
A Perseguição e a Grande Ejeção
Quando o Ato de Uniformidade foi promulgado em 1662, Watson, como muitos outros
puritanos, enfrentou a escolha entre conformidade com as práticas da Igreja Anglicana
estabelecida ou renúncia ao seu ministério. Ele escolheu seguir sua consciência e foi expulso de
sua posição na igreja.
Na admirável coletânea de “Farewell Sermons” [“Sermões de Despedida”], há três do Sr.
Watson, nos quais ele exemplifica muito do espírito do Evangelho, recomendando o amor aos
inimigos. Em um dos discursos, ele insiste bastante sobre “as afeições fervorosas de um
verdadeiro ministro do Evangelho para com seu povo”.
Atividade Ministerial após a Grande Ejeção
Apesar de ter sido expulso de seu ofício pastoral, Watson continuou a ministrar sempre que
possível, frequentemente em locais secretos e com risco pessoal. Ele e outros ministros puritanos
não conformistas encontraram maneiras de pregar e ensinar fora das estruturas da igreja estatal.
Influência e Legado
O impacto de Thomas Watson na vida religiosa e intelectual da Inglaterra do século XVII
foi significativo. Suas obras foram amplamente lidas e apreciadas por puritanos e não puritanos,
influenciando gerações posteriores de cristãos reformados. Sua ênfase na piedade prática,
doutrina sólida e clareza de escrita o tornaram uma figura respeitada no movimento puritano e
além.
Morte
Thomas Watson faleceu em seu quarto enquanto orava, em Essex, Inglaterra, em uma data
não precisamente registrada, mas provavelmente na década de 1686. Apesar de sua morte, suas
obras continuaram a ser amplamente lidas e estudadas ao longo dos séculos, mantendo seu
legado como um dos mais proeminentes teólogos puritanos da história.
William Teixeira,
28 de fevereiro de 2024.
A editora O Estandarte de Cristo nasceu em 2013 com o propósito de publicar traduções de autores bíblicos
fiéis, para a glória de Deus. Fizemos as primeiras publicações no dia 2 de dezembro de 2013 (publicação de
4 eBooks). De lá para cá já são mais de 10 anos e centenas de traduções de autores bíblicos fiéis, sobre
diversos temas da fé cristã.
Somos uma editora de fé cristã batista reformada e confessional. Estamos firmemente comprometidos com
as verdades bíblicas fielmente expostas na Confissão de Fé Batista de 1689.

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[1]
Nota de tradução: Tommaso De Vio, conhecido como Caetano (1469-1534) foi um frade dominicano, exegeta, filósofo,
teólogo e cardeal italiano.
[2]
Nota de tradução: Foción (c. 402-318 aC) foi um político e estratego (general) ateniense e protagonista de uma das
Vidas Paralelas compiladas por Plutarco.
[3]Nota de tradução: Cirilo de Alexandria (c. 375 ou 378-444) foi patriarca de Alexandria quando a cidade estava no auge
de sua influência e poder no Império Romano. Um dos pais gregos, Cirilo escreveu extensivamente e foi protagonista nas
controvérsias cristológicas do final do século IV e do século V. Foi uma figura central no Primeiro Concílio de Éfeso, em 431,
que levou à deposição do patriarca Nestório de Constantinopla. Ele é listado entre os Pais e os Doutores da Igreja e, por sua
reputação no mundo cristão, é conhecido como "Pilar da Fé" e "Selo de Todos os Pais".
[4]
Nota de tradução: Maria I (1516-1558) foi Rainha Reinante da Inglaterra e Irlanda de 1553 até sua morte, além de
Rainha Consorte da Espanha a partir de 1556. Sendo filha de Henrique VIII com sua primeira esposa, Catarina de Aragão, atuou
como o quarto e penúltimo monarca da Casa de Tudor. Maria é lembrada por seus vigorosos esforços para restaurar o catolicismo
na Inglaterra, cuja religião havia sido minimizada pelo curto reinado de seu meio-irmão, Eduardo VI. Os historiadores
protestantes criticam seus esforços, enfatizando que em apenas cinco anos atuando como rainha, ela condenou à morte na
fogueira centenas de protestantes, episódio que ficou marcado como perseguições marianas e lhe rendeu a alcunha de “Maria a
Sanguinária”.

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