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Uma Análise da Empregabilidade do Bacharel em Turismo e / ou Hotelaria

nos Hotéis de Curitiba

Prof. Msc. Dario Luiz Dias Paixão


Bacharel em Turismo – UFPR - Curitiba
Mestre em Turismo – Universidad de Las Palmas de Gran Canaria - Espanha
Doutorando em Turismo e Desenvolvimento Sustentável - Universidad de Las Palmas de Gran Canaria -
Espanha
Coordenador dos Cursos de Graduação e Pós em Turismo do Centro Universitário Positivo – UnicenP –
Curitiba

Prof. Dr. José Manoel Gonçalves Gândara


Bacharel em Turismo – UFPR – Curitiba
Mestre em Gestão Do Turismo – Sscts - Itália
Doutor em Turismo e Desenvolvimento Sustentável - Universidad de Las Palmas de Gran Canaria –
Espanha
Pós-doutor em Marketing, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável do Turismo pelas Universidades de Las
Palmas de Gran Canaria, Málaga e Valencia - Espanha.
Coordenador do Curso de Turismo da Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba

Prof. Dr. Oto Luque


Licenciado Em Psicologia pela Universidad de Valencia - Espanha
Mestre em Recursos Humanos pela Universidad de Valencia - Espanha
Doutor em Psicologia pela Universidad de Valencia - Espanha
Diretor da Fundação Cavanilles de Altos Estudos Turísticos da Universidad de Valencia - Espanha

Neste início de século, período de grandes incertezas e rápidas transformações, os setores econômicos, os
centros de formação e pesquisadores de todo o mundo têm discutido com maior amplitude o tema da formação
de recursos humanos como um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento da atividade turística de
forma sustentável e, por conseguinte, a empregabilidade destes profissionais, aspecto fundamental tanto para
quem forma e para quem recebe (contrata) os egressos, quanto para quem pretende obter melhores condições de
contratação e elevação na empresa, por meio de qualidades intencionalmente desenvolvidas.
Desde a formação básica, passando pelos níveis técnico-operacionais, até a graduação e pós-graduação, é
fundamental ter presente que para o desenvolvimento do turismo com qualidade (considerando a qualidade
como sinônimo de competitividade e sustentabilidade), o nível de formação do profissional é particularmente
importante para uma atividade duplamente humana, de pessoas e para pessoas. Para ajustar-se tanto às
demandas empresariais quanto às suas próprias necessidades de crescimento, o profissional com
empregabilidade deve desenvolver qualidades, como: aptidões, atitudes, habilidades e competências, buscando
tornar-se mais “empregável”.
Os atores em formação devem qualificar-se constantemente, além de procurar não se equivocar quanto ao
investimento que será despendido para sua melhora profissional contínua. Portanto, este trabalho tem por
objetivo beneficiar tanto os bacharéis em turismo e/ou hotelaria, buscando incentivá-los a aumentar sua
empregabilidade, quanto uma maior profissionalização da atividade turística, colaborando conseqüentemente
com a contínua aproximação entre a educação turística nos cursos universitários e o mercado de trabalho na
área de turismo e hotelaria.
Por fim, este artigo apresenta os resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas, realizadas com centros
formadores, gestores privados e recursos humanos, utilizando-se das análises multicausal e multifatorial como
instrumento para facilitar a compreensão sobre as qualidades necessárias na hotelaria de Curitiba.

Palavras-chave: empregabilidade; recursos humanos; educação turística; mercado de trabalho; hotéis;


qualidades; bacharel em turismo e/ou hotelaria; Curitiba.
1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do setor turístico e o necessário incremento dos níveis de


qualidade dos serviços que são prestados exige uma melhoria no nível de formação e
especialização dos profissionais que trabalham na atividade turística. Esta exigência sobre
os profissionais da área adquire um lugar fundamental na batalha pela competitividade,
ainda que se deve destacar a questionada relação que tradicionalmente tem existido entre a
educação, a formação e o mundo do trabalho, e “esta exigência do setor se faz sentir
principalmente na educação superior e sua capacidade de produzir competências que
sejam transferidas de forma efetiva ao lugar de trabalho”. (COOPER et al, 1996)
Neste contexto, apresenta-se este estudo, realizado como parte de tese doutoral, a
ser defendida no programa de Turismo e Desenvolvimento Sustentável da Universidad de
Las Palmas de Gran Canaria, e que pretende colaborar com os profissionais e
pesquisadores da área propondo uma maior aproximação dos cursos universitários em
turismo e o mercado.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Empregabilidade nas empresas turísticas

Para se ajustar às exigências da economia global, as organizações se modificaram


com rapidez e não podem mais garantir estabilidade de emprego como acontecia
antigamente. É cada vez mais raro encontrar pessoas que constroem suas vidas
profissionais em uma só empresa.
Como conseqüência, existe hoje um estímulo maior para que as pessoas tenham
uma formação mais generalista, com conhecimentos mais amplos e múltiplas qualidades, o
que as permite atuar em diferentes ocupações e diversos setores da atividade. Ou seja, lhes
permite aumentar sua taxa de empregabilidade e taxa de permanência nas corporações.
Nos países de língua inglesa, o termo equivalente é ‘employability’, e nos países de
língua espanhola ‘empleabilidad’, que significa a condição de ser empregável, isto é, de dar
e conseguir emprego por seus conhecimentos, habilidades e atitudes intencionalmente
desenvolvidos por meio de educação e treinamento sintonizados com as necessidades do
mercado de trabalho.
Nas últimas duas décadas, diversos autores apontaram para o fenômeno da migração
de mão-de-obra da atividade industrial para o setor de serviços, além do fluxo de
profissionais de grandes para pequenas empresas. Estas mudanças no perfil do mundo do
trabalho são os motivos fundamentais para o desenvolvimento de novas atitudes,
habilidades e competências por todos os trabalhadores.
Para aumentar a própria empregabilidade, os profissionais necessitam estar aptos
desde o ponto de vista técnico, gerencial, intelectual, humano e social para solucionar, com
rapidez, problemas cada vez mais sofisticados e específicos. O colaborador tem que
construir bases próprias para desenvolver sua vida profissional. Desta maneira, o emprego
poderá faltar, mas não o trabalho e nem a respectiva remuneração. A isto se chama
trabalhabilidade, conceito que descreve uma nova condição do trabalhador diante do
mercado de trabalho, na qual cabe a cada indivíduo assumir a responsabilidade de gerenciar
o desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização de suas qualidades que possuem um
valor de mercado e poderão ser utilizadas tanto na relação empregatícia, como em outras
formas de atividade remunerada.
Está claro que, o mercado valoriza e prefere profissionais com múltiplas
habilidades, entre elas a iniciativa. Ter segurança profissional decorre da capacidade de
gerar trabalho e renda permanentemente.
A cada situação de instabilidade, o profissional deve se recordar de que, além de
conhecer os novos recursos e tecnologias, necessita ter conhecimentos bem embasados na
prática, decorrentes de cursos, eventos ou leituras. É fundamental ter suas fontes de
informação atualizadas o suficiente. No Brasil, e em muitos outros países, as exigências
decorrentes da modernização são muito rápidas e, infelizmente, com difícil absorção em
tempo real pelas estruturas de ensino.
Algumas vezes são as próprias empresas turísticas que tomam a iniciativa de treinar
e desenvolver os profissionais em seu próprio local de trabalho. Porém, não é sempre que
estes cursos ou seminários de capacitação atendem às exigências do mercado fora da
empresa, pois nem sempre colaboram para o desenvolvimento profissional do colaborador
além das especificidades da realidade daquela empresa, nem com sua educação formal e
qualificação, que hoje “são situadas como elementos de competitividade, reestruturação
produtiva e da empregabilidade” (FRIGOTTO, 1998).

2.1.1. Desenvolvendo Qualidades e Virtudes

Os processos de desenvolvimento de pessoas estão intimamente relacionados com a


educação. Educar (do latín, educere) significa extrair, trazer, arrancar, representa a
necessidade de trazer de dentro para fora do ser humano, suas potencialidades interiores. A
palavra educar significa a exteriorização dessas energias e do talento criador da pessoa.
Desenvolver qualidades e virtudes em pessoas não é só dar informações para que
elas aprendam novos conhecimentos, habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes no
que fazem. Todo modelo de formação, capacitação, educação, treinamento ou
desenvolvimento deve assegurar ao ser humano a oportunidade de ser aquele que pode ser,
a partir de suas próprias potencialidades, sejam elas inatas ou adquiridas. (CHIAVENATO,
1981)
Estas considerações conduzem diretamente ao estudo das inter-relações existentes
entre o mercado e o sistema educativo/formativo. Particularmente na formação superior,
considerada a grande importância que possui o capital humano na atividade turística e, que
o egresso dos cursos superiores de turismo necessita ter, além de competências técnicas,
compromisso com as questões sociais, o papel que desempenham estes cursos é
fundamental. Neste contexto, não só a visão teórica, mas também, o exercício prático é
necessário para proporcionar uma base sólida ao futuro profissional da área.
Por tanto, “definir os desejos reais e necessidades dos centros formadores, do
mercado de trabalho e principalmente dos próprios elementos em formação” se torna
fundamental para planejar, organizar e avaliar melhor as práticas pedagógicas intimamente
relacionadas às características da demanda deste setor. (GÂNDARA, 1995)
As vantagens de tal perspectiva são: a possibilidade de acesso direto na contratação
de pessoal com maior qualificação; a melhora dos programas de estudo; uma maior
informação das necessidades das empresas e as carências dos estudantes diante delas; uma
maior experiência prática do estudante; uma maior informação sobre as estruturas
administrativas que, desde o setor público, incidem sobre uma atividade determinada e,
sobre outras.
Além de considerar os aspectos destacados anteriormente dentro de um seguimento
tão especial como o setor turístico e hoteleiro, também é útil examinar as aptidões, atitudes,
habilidades e competências que o profissional com bacharelado na área deve possuir.
A proposta dos cursos superiores de turismo e hotelaria deve ser a de graduar um
profissional com uma visão ampla do setor turístico, como atividade que demanda
capacidade para planejar e gerir destinos e empreendimentos turísticos de forma
sustentável, considerando suas três vertentes, econômica, sócio-cultural e ambiental
eqüitativamente.
Ao analisar tais aspectos, percebe-se que é fundamental uma revisão do papel da
educação no campo do turismo, buscando desenvolver essa relação de forma criativa, ou
seja, não por meio de subordinação direta das atividades de ensino aos interesses imediatos
das empresas públicas e privadas que atuam na área.
Como destaca Dencker que, “a educação superior deve assumir a formação das
competências necessárias para atuação neste novo contexto ao preparar alunos para
participarem do processo de construção do conhecimento” (DENCKER, 2002:45). A
educação competente será aquela que saiba transformar conhecimentos, aptidões, atitudes,
habilidades e competências em resultados. Resende apresenta os seguintes conceitos de
aptidões, atitudes, habilidades e competências:
“Aptidão: característica ou recuso inato (por isto mesmo, mais “enraizado” nas pessoas)
e desenvolvido. Diz respeito principalmente às características ou atributos físicos /
fisiológicos, mentais ou intelectuais, de personalidade, temperamento ou caráter.
Exemplos: resistência física, visão de profundidade, raciocínio analítico, memória.
Atitude: é a predisposição para mudar levando em conta diversas dimensões e
componentes.
Habilidade: o conceito de habilidade está mais relacionado com a maneira de executar
tarefas, aplicar conhecimentos, de agir, de pensar. Ter a condição de raciocinar é
aptidão; agilidade de raciocínio é habilidade. Ter condição de falar é uma aptidão; falar
com clareza e objetividade é uma habilidade. Ter a condição de associar idéias é uma
aptidão; saber elaborar uma metáfora é uma habilidade. A habilidade é mais possível de
ser treinada ou aperfeiçoada do que a aptidão.
Competência: tem adquirido forças nos últimos tempos e está relacionada com uma
condição diferenciada de qualificação e capacitação das pessoas para executar seu
trabalho, desempenhar suas atividades. Inicialmente mais aplicado a pessoas; num
segundo momento passou a ser usado também como requisitos de bom desempenho de
equipes, unidades e empresas.”
(RESENDE, 2000)
Portanto, descobrir e conhecer suas próprias aptidões (ser), atitudes (saber-ser),
habilidades (saber-fazer) e competências (saber-fazer/agir alcançando objetivos
determinados) fazem diferença à hora do profissional destacar-se em setores que exigem
alto grau de empregabilidade, como a competitiva hotelaria de Curitiba, por exemplo.

2.2. A empregabilidade na hotelaria de Curitiba

A cidade de Curitiba, além de ser cosmopolita, metrópole moderna e modelo


internacional de planejamento urbano, é uma síntese de culturas, tanto de múltiplas culturas
e etnias, como a portuguesa, espanhola, polonesa, italiana, alemã, ucraniana, japonesa e
árabe, como de imigrantes do interior do estado do Paraná e de outros estados brasileiros. É
reconhecida como uma das melhores metrópoles para se viver e fazer negócios no Brasil e,
certamente, é uma cidade com um nível de educação elevada, com um setor de serviços
muito bem desenvolvido e o atendimento dado ao cliente é acima de tudo da média
brasileira.
O turismo e a hotelaria de Curitiba estão mais relacionados aos segmentos de
negócios e eventos, possuindo boa infra-estrutura e recursos humanos capacitados.
Portanto, saber quais as demandas profissiográficas para os recursos humanos dos hotéis da
cidade é uma necessidade básica, compreendendo que, segundo Hiemstra (in: SCHLÜTER,
2000), a “a principal necessidade de investigação no setor hoteleiro está focada em um
estudo de mercado apropriado com objetivos de adequar, com maior precisão, o produto
ofertado às necessidades da clientela”.
Estudos como estes, em que as qualidades dos recursos humanos da área compõem
um dos mais diversos elementos do produto turístico, aparecem em praticamente todos os
países desenvolvidos, como o estudo de caso de Purdue et al (2002). “Que competências
são necessárias para uma gestão de êxito nos clubes de férias?”. Mesmo no Brasil, já se
começa a discutir a questão das qualidades/virtudes em eventos como o Congresso
Nacional de Recursos Humanos 2002, o mais importante do setor, que teve como tema
“Tempo de Inclusão: que competências farão a diferença?” (www.conarh.com.br),
provando o atual interesse nos temas relacionados à empregabilidade.
3. METODOLOGIA

Este estudo analisa quais são as qualidades (aptidões, habilidades e competências)


mais importantes para que o Bacharel em Turismo e Hotelaria possa competir por melhores
posições nos hotéis da cidade de Curitiba, conseqüentemente buscando ampliar sua
empregabilidade, melhorar a qualidade dos serviços hoteleiros, e contribuir com a
sustentabilidade da atividade turística da cidade, sob a visão dos coordenadores dos cursos
de Turismo e Hotelaria.
Definiu-se a cidade de Curitiba como campo deste estudo porque é uma cidade que
nos últimos seis anos registrou um aumento considerável de instituições de ensino superior
com bacharelado em Turismo e Hotelaria (01 oferta formativa pública e 12 privadas em
2004 contra 01 pública e 02 privadas em 1998), e é reconhecidamente uma região
preocupada com a melhoria dos serviços que prestam os profissionais do turismo.
Segundo a Secretaria Estadual de Turismo do Paraná, Curitiba registrou 1.437.053
visitantes em 2002, fazendo desta uma cidade bastante turística. (PARANÁ TURISMO,
2003). E, segundo dados do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de
Curitiba, em 2002, Curitiba possuía 80 hotéis, 22 flats e 3 apart-hotéis, refletindo a
vocação da cidade para o turismo de negócios. (In: SEBRAE, 2002)
Sem dúvida, o crescimento populacional (2 milhões de pessoas), o aumento do
fluxo de visitantes e de empreendimentos na capital paranaense aumentou
significativamente. Em 2004 já são mais de 140 empresas hoteleiras e para os próximos
dois anos (2005-2006) espera-se a construção de mais 15 (quinze) hotéis na cidade.
Até meados dos anos 1990, as empresas hoteleiras em Curitiba eram quase 100%
representadas por hotéis familiares da escola européia. Estes hotéis estavam acostumados
com ocupações médias anuais de 70% a 80% e seus profissionais aprendiam nas escolas
técnicas (especialmente no Senac) o que praticavam no dia-a-dia.
Os hotéis Parthenon da rede francesa Accor foi a primeira que chegou a Curitiba
nos anos 1990. Logo vieram outras como os Fórmula 1, Ibis, Mercure e Novotel (Accor), as
americanas Holliday Inn, Sheraton, Caesars e Best Western, a portuguesa Pestana, entre
outras. Além disso, outras redes brasileiras chegaram à capital do Paraná com seus hotéis,
como a Blue Tree e os Transaméricas. Em dez anos mais de 50 hotéis foram construídos em
Curitiba. Assim que, empresários locais foram obrigados a estruturar cadeias regionais
como a Bourbon e Deville, além de algumas famílias hoteleiras locais que começaram a
investir em flats e administradoras de hotéis (Bristol, Hospedare, etc).
O setor hoteleiro passou a ser um dos termômetros mais importante para a atividade
turística e de negócios da cidade, mas a ocupação baixou para uma média anual de 40%.
Geralmente aqueles que conseguem uma boa ocupação de seus apartamentos são aqueles de
rede internacional porque possuem central de reservas em outras cidades de Brasil e do
mundo, aqueles com boa estrutura para eventos, ou então, os hotéis que motivam seus
colaboradores com benefícios variados.
Em ambientes competitivos, como por exemplo, o setor hoteleiro de Curitiba, as
empresas que pensam em administração estratégica de longo prazo (geralmente as redes)
contratam um maior número de empregados que estudaram algum curso de graduação que
inclui o tema da gestão. Mas aqueles que somente pensam em combater a concorrência com
preços baixos e, por isso, sentem a necessidade de cortar todos os custos possíveis,
geralmente começam por diminuir o número de profissionais, por contratar muitos
estudantes em estágio (mais do que permite a lei) ou técnicos da área e pagar pouco por
seus serviços.
De qualquer maneira, em ambientes muito competitivos como este, em que há uma
sobre-oferta de produtos e serviços, nenhuma atividade de educação turística passa
desapercebida nos currículos de candidatos a algum emprego, o que aumenta a
responsabilidade das instituições de educação e formação relacionadas ao setor.
Nesta pesquisa, a metodologia utilizada foi a de análise descritiva, obtendo-se
informações diretas ou primárias, já que se realizaram pesquisas estruturadas, conduzidas e
controladas por meio de questionários, obtendo as opiniões dos 13 coordenadores dos
cursos de Turismo e Hotelaria de Curitiba, no período de janeiro a junho de 2004. O
objetivo foi colher as opiniões sobre empregabilidade daqueles que organizam o currículo e
as atividades do curso procurando aproximar-se do mercado hoteleiro da cidade. Assim é
possível medir o gap (brecha) que existe entre a profissão e a academia para propor
soluções buscando uma maior taxa de empregabilidade e de permanência para os
profissionais de turismo que estudaram no nível superior da educação.
Tomou-se como principal referência conceitual o ‘Livro das Competências’ de
Resende (2000), porque este reconhecido professor, pesquisador, pedagogo de formação e
mestre em Recursos Humanos, tratou em seu livro de definir e classificar as qualidades do
ser humano em aptidões, atitudes, habilidades e competências.
As Instituições de Ensino que serviram de amostra e que, representam todo o
universo de Cursos de Turismo/Hotelaria em Curitiba são as seguintes:
Faculdades Centros Universitários Universidades
Faculdades Integradas Curitiba (FIC) Centro Universitário Positivo Universidade Federal do Paraná
(UnicenP) (UFPR)
Faculdades do Brasil (Unibrasil) Centro Universitario Andrade Pontifícia Universidade Católica
(Uniandrade) (PUC/PR)
Faculdade Expoente (Uniexp) Universidade Tuiuti do Paraná
(UTP)
Faculdades Spei
Faculdade Opet
Faculdade Internacional de Curitiba
(Facinter)
Faculdades Santa Cruz
Faculdade Metropolitana de Curitiba
(Famec)

3.1. Os resultados da pesquisa com os coordenadores de cursos de Turismo/Hotelaria

GRÁFICO 1: DISTINÇÃO QUE OS GERENTES DE HOTÉIS


CURITIBANOS FAZEM NA HORA DA CONTRATAÇÃO
ENTRE UM BACHAREL EM TURISMO E UM
PROFISSIONAL QUE FEZ UM CURSO
TÉCNICO/PROFISSIONALIZANTE

Faz pouca distinção com prejuízo


11,11% maior ao Bacharel em
Turismo/Hotelaria

Faz pouca distinção com prejuízo


88,89% maior ao Técnico

Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/2004.

Os coordenadores dos cursos de Turismo de Curitiba acreditam que os gerentes


gerais dos hotéis da cidade fazem pouca distinção entre um Bacharel em Turismo e um
profissional que fez Curso Técnico/Profissionalizante na hora da contratação, com prejuízo
maior ao primeiro profissional (88,89%). Segundo comentários dos coordenadores isto
ocorre devido a uma série se fatores como:
• o desconhecimento da formação de Bacharel: muitos gerentes não vêem
uma diferença clara entre os dois profissionais e acreditam que os
bacharéis possuem um treinamento operacional não eficiente;
• alguns gerentes acreditam que o Bacharel em Turismo/Hotelaria é
concorrente ao cargo de gerência em face a sua preparação;
• a não existência da cultura que estimula a contratação do Bacharel;
• os gerentes pouco identificam o bacharel com a profissão.
Os coordenadores que responderam que a pouca distinção traz maior prejuízo ao
profissional que fez um curso técnico/profissionalizante (11,11%), justificam que esta
preferência varia de acordo com a função. Nenhum coordenador respondeu as opções de
‘Distinção clara e coerente valorizando ambas as formações’ ou ‘Não faz distinção alguma
com prejuízo a ambos os profissionais’.
Com relação à distinção entre o Bacharel em Turismo/Hotelaria e um profissional
que fez outro curso superior, as opiniões são as seguintes: 55,56% dos coordenadores
acreditam que a preferência traz maior prejuízo ao Bacharel em Turismo, argumentando
novamente que este profissional ainda não possui o reconhecimento do mercado. 33,33%
dos coordenadores responderam que há uma distinção clara e coerente valorizando ambas
as formações (houve uma percepção de que o mercado tem valorizado mais o profissional
formado em Turismo/Hotelaria, principalmente na área de gestão) e apenas 11,11% dos
entrevistados acreditam que a distinção gera maior prejuízo ao outro bacharel, pois se
supõem que o formado em turismo não possua conhecimentos profundos na área de
negócios.
A tabela 1 abaixo nos mostra o nível de formação que os Coordenadores acham que
é exigido para se trabalhar em um hotel de Curitiba. Na opinião deles o curso superior ficou
empatado nas categorias Essencial e Muito Importante. Os cursos profissionalizantes e
técnicos ficaram com, respectivamente, 66,67% e 55,56% na categoria muito importante.
Mestrado e Doutorado foram considerados pouco importante e dispensável.
TABELA 1: NÍVEL DE FORMAÇÃO EXIGIDO PELO MERCADO HOTELEIRO
DE CURITIBA SEGUNDO A VISÃO DOS COORDENADORES DE CURSO
Muito Pouco
Nível de Formação Essencial Importante Importante Importante Dispensável
Ensino Fundamental (1ª a 4ª série) 88,89% 0,00% 0,00% 11,11% 0,00%
Ensino Básico (5ª a 8ª série) 88,89% 0,00% 0,00% 11,11% 0,00%
Ensino Médio (2º Grau) 77,78% 0,00% 22,22% 0,00% 0,00%
Ensino Superior 44,44% 44,44% 11,11% 0,00% 0,00%
Especialização / MBA 0,00% 33,33% 44,44% 22,22% 0,00%
Mestrado 11,11% 0,00% 11,11% 55,56% 22,22%
Doutorado 11,11% 0,00% 0,00% 33,33% 55,56%
Experiência prévia no ramo hoteleiro 12,50% 25,00% 50,00% 12,50% 0,00%

Cursos Profissionalizantes (bar, cozinha, recepção, etc.) 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 0,00%

Cursos Técnicos (informática, idiomas, segurança, etc.) 22,22% 55,56% 22,22% 0,00% 0,00%
Disponibilidade de horário nos três turnos 11,11% 33,33% 33,33% 11,11% 11,11%
Experiência em outras áreas do Turismo 0,00% 11,11% 66,67% 22,22% 0,00%
Experiência prática no exterior 0,00% 11,11% 11,11% 66,67% 11,11%
Experiência acadêmica no exterior 0,00% 0,00% 33,33% 33,33% 33,33%
Indicação de terceiros 0,00% 0,00% 33,33% 22,22% 44,44%
Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/04.

Em termos de conhecimento prático, vale destacar que possuir experiência em


outras áreas do turismo é importante para 66,67% dos entrevistados, enquanto a experiência
prática no exterior é pouco importante (66,67%).

GRÁFICO 2: DEPARTAMENTOS DO HOTEL ONDE É


NECESSÁRIA A CONTRATAÇÃO DE ALGUÉM COM CURSO
SUPERIOR EM TURISMO/HOTELARIA

55,56%
55,56%
Departamentos

100,00%
55,56%
55,56%
66,67%
55,56%
11,11%
33,33%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Recursos Humanos Manutenção Comercial


Administração Alimentos e Bebidas Governança
Eventos Reservas Recepção

Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/04.

Por unanimidade, todos os coordenadores afirmam que o departamento de eventos


deve contratar algum profissional com formação superior em Turismo/Hotelaria. No setor
administrativo, 66,67% dos pesquisados acreditam que deve haver um profissional com tal
formação superior e 55,56% acreditam que o graduado deve ser priorizado na Recepção,
em Reservas, na Governança, em A&B e no Comercial. Segundo os coordenadores de
curso, o setor que eles acreditam que não requer um profissional de nível superior em
Turismo/Hotelaria é o de Compras.
Considerando a pergunta que se refere às aptidões mais necessárias nos hotéis de
Curitiba (aqui não representada por gráfico), a categoria mais importante é a de
Personalidade (autocontrole, extroversão, meticulosidade, auto-estima, etc.) com 44,44%
das opiniões. Em segundo lugar, considerando os graus de importância 1 e 2 (66,66%),
ficaram as aptidões Intelectuais (capacidade analítica de concentração, de interpretação, de
memorização, de conhecimento, de globalização ,etc.) e a aptidão considerada de menor
importância é a físico motora (boa aparência, reflexo, vitalidade, disposição, etc.).

GRÁFICO 3: CLASSIFICAÇÃO DE IMPORTÂNCIA DAS


HABILIDADES PELOS COORDENADORES DE CURSO (1
- MAIS IMPORTANTE E 4 – MENOS IMPORTANTE)
100%
11,11% 11,11%
80% 33,33%
33,33% 33,33% 55,56%
60% 11,11%

40% 33,33% 33,33%


55,56%
20% 44,44%
22,22% 22,22%
0%
1 2 3 4
Grau de Importância

Pessoal e Emocional Conceitual Técnica e Operacional Liderança

Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/04.

A pergunta sobre a classificação de importância das habilidades necessárias para se


trabalhar nos hotéis da cidade de Curitiba sob o ponto de vista dos coordenadores de curso
que, com 55,56%, a Pessoal e Emocional (especialista no trato com as pessoas e consigo
mesmo) é a mais importante. Logo em seguida ficou a habilidade Conceitual (especialista
na tomada de decisões e solução de problemas) com 33,33%.
Na opinião dos Coordenadores, em terceiro lugar foi apontada a habilidade Técnico-
Operacional (especialista em todas as áreas e funções que administra) com 11,11%,
enquanto a habilidade de Liderança (especialista em influenciar comportamentos, impor
respeito e dar bons exemplos) foi escolhida como último lugar com nenhuma porcentagem
no primeiro grau de importância.
Na pergunta sobre a classificação de importância das competências mais necessárias
nos hotéis de Curitiba (aqui não representada por gráfico), segundo a opinião dos
coordenadores de curso, a competência considerada de maior importância (37,50%) foi a
Relacional (sabe relaciona-se e interagir em diversos níveis e áreas, faz-se representar em
situações especiais). Em seguida foi a Empresarial e Organizacional (sabe administrar
estrategicamente suas funções – gerencia com eficácia suas atividades) com 50% das
escolhas nos graus de importância 1 e 2.
As competências consideradas de menor relevância pelos coordenadores dos cursos
de Turismo, foram as Competências Cognitivas (tem domínio do conhecimento – sabe lidar
com conceitos e teorias) e as Didático-Pedagógicas (sabe repassar conhecimentos e
ensinar).

GRÁFICO 4: CLASSIFICAÇÃO DAS ETAPAS DA


ADMINISTRAÇÃO QUE OS COORDENADORES DE CURSO
ACREDITAM QUE OS GERENTES DE HOTÉIS DEVERIAM DAR
MAIS ÊNFASE (1 – MAIS IMPORTANTE E 5 – MENOS
IMPORTANTE)
100%
11,11% 11,11%
90% Controle das Atividades
33,33%
80% 44,44% 22,22% 22,22%
70% 55,56% Orientação, Motivação e
11,11%
Liderança
60%

50% 33,33% Seleção e Contratação do


22,22% Pessoal
40% 55,56%
30%
22,22% Organização das Atividades
11,11% 55,56%
20% 22,22%

10% 22,22% 22,22% Planejamento das Atividades


11,11% 11,11%
0%
1 2 3 4 5
Grau de Importância

Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/04.


Os gerentes de hotéis curitibanos deveriam dar mais ênfase na orientação,
motivação e liderança de seus colaboradores (44,44%). O planejamento das atividades
ficou em segundo com 77,78% das opiniões nos graus de importância 1 e 2. Logo depois
aparece seleção e contratação do pessoal com 44,44% nos graus 1 e 2. E em último lugar no
ranking criado ficou o controle das atividades com 55,56% no último grau de importância.
Também, foi questionado quais seriam as ações obrigatórias para aproximar ainda
mais os Cursos de Turismo/Hotelaria do mercado hoteleiro, e segundo eles estas ações são:
• pesquisas aplicadas;
• atividades de extensão;
• debates sobre o tema;
• maior abertura dos meios de hospedagem;
• conscientização do mercado sobre o que são os Cursos de Turismo/Hotelaria;
• mais convênios para estágio;
• visitas técnicas;
• participação do alunado em Cursos Técnicos;
• estágio supervisionado e voluntário;
• palestras com gerentes dos hotéis;
• reestruturação dos hotéis;
• competência na formação;
• motivação acadêmica;
• órgão de forte representatividade.
Em outra pergunta, na opinião dos entrevistados, os cursos de turismo devem dar
mais ênfase ao gerenciamento de negócios (administração, contabilidade, finanças,
marketing, etc), considerado o item mais importante (77,78%). Em segundo lugar ficou
Ética e Cidadania (formação centrada nos valores humanos) e, o que foi considerado menos
importante com relação aos outros itens foi a ênfase nas habilidades técnico-operacionais
(A&B, recepção, técnicas de coordenação de equipes, etc.).
Entre os coordenadores, 88,89%, disseram que o projeto pedagógico de seus cursos
procura valorizar a formação em desenvolvimento gerencial nos acadêmicos por meio de:
• Trabalhos interdisciplinares, bem como de disciplinas que proporcionam ao
alunado habilidades e competências para o perfil de gestor necessário em uma
gerência de hotel;
• O projeto pedagógico tem como objetivo formar empreendedores;
• Alguns cursos, por meio das empresas juniores, estão desde o primeiro período
em contato com o mercado;
• O curso ensina plano de negócios, planejamento integral, estratégias empresariais,
gerenciamento de pessoas (em aula ou em atividades práticas);
• Estágios em gestão nos períodos iniciais do curso;
• Articulação entre objetivos do curso e perfil do egresso no projeto pedagógico,
coerentes com a realidade do mercado.
O único entrevistado em que o projeto pedagógico de seu curso não procura
valorizar a formação em desenvolvimento gerencial argumenta que o curso procura
valorizar a formação do bacharel em planejamento e organização do turismo.
Foi perguntado ao entrevistados quais os temas que eles consideram obrigatórios no
Curso de Turismo/Hotelaria para a melhoria dos serviços hoteleiros, e as opiniões foram as
seguintes:
• Relações Humanas e Comerciais;
• Gestão Empreendedora e Intra-empreendedora;
• Planejamento do Desenvolvimento Hoteleiro;
• Qualidade de Serviço;
• Gestão de Pessoas e Recursos Humanos;
• Direção e Controle;
• Aprofundamento em Estratégias;
• Cenários Atuais e Futuros;
• Gastronomia;
• Lazer e Eventos.
Também foi perguntado aos coordenadores se eles acreditam que o Bacharel em
Turismo/Hotelaria tem mais condições de tornar-se um gerente geral de hotel a médio e
longo prazo quando se compara adequadamente sua formação com a dos bacharéis de
outras áreas e técnicos/profissionais da área e em unanimidade todos os Coordenadores
responderam que sim dando as seguintes justificativas:
• Devido à sua formação direcionada para gestão e operacionalização, sendo
abrangente o suficiente para o cargo de gerência;
• Porque o Bacharel em Turismo/Hotelaria tem uma visão global, mais ampla e
holística da atividade turística e, desta maneira, pode promover o melhor
entrosamento entre os diversos setores;
• Ele possui uma formação voltada à área. Conhece a atividade como um todo e tem
noções mais amplas sobre os meios de hospedagem;
• É alguém com conhecimento geral na área de negócios da empresa;

GRÁFICO 5: ÁREAS EM QUE O ACADÊMICO É EFETIVAMENTE


INCENTIVADO PELO COORDENADOR DE CURSO A SE
APERFEIÇOAR

100,00%
Atividades

77,78%

33,33%

44,44%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Cursos Profissionalizantes Cursos Técnicos Cursos de Idiomas Pós-Graduação

Fonte: Pesquisa de Campo, UnicenP, 2003/04.

Segundo o gráfico 5, os acadêmicos dos cursos pesquisados são incentivados a fazer


cursos de pós-graduação. 77,78% do alunado é incentivado a participar de Cursos de
Idiomas, 44,44% de Cursos Profissionalizantes, 33,33% de Cursos Técnicos e nenhum
acadêmico é incentivado a fazer outro Curso Superior.
O incentivo indicado pelos coordenadores é feito por meio de:
• momentos de diálogo e reuniões com líderes;
• atividades extracurriculares para os alunos sentirem a necessidade;
• disponibilização de material;
• indicação e divulgação de cursos;
• parcerias para oferecer cursos de aperfeiçoamento e idiomas;
• repasse constante de informação;
• palestras e aulas de conscientização;
• oferecimento e divulgação dos diferencias no mercado;
• atendimento individual e em grupo;
• auxílio no transporte para o curso.

4. CONCLUSÃO

A qualidade dos serviços e, portanto, dos profissionais da área adquire um lugar


fundamental na batalha pela competitividade. Esta exigência do setor faz eco na Educação,
em sua capacidade de produzir competências que sejam transferidas de forma efetiva ao
lugar de trabalho.
O desenvolvimento do setor hoteleiro e a contínua preocupação com os níveis de
qualidade dos serviços que são prestados exigem que seja repensada a formação
especializada dos profissionais do setor. A qualidade na hotelaria depende de uma
formação profissional séria e continuada. A colaboração entre as instituições educacionais e
o mercado é necessária para melhorar o nível de ambos os segmentos.
No caso das empresas hoteleiras, é clara sua necessidade de mudança de atitude
com relação ao seu quadro funcional. Elas devem se interessar mais pela aprendizagem de
seus colaboradores, pela motivação, pela satisfação no trabalho e pela integração e
identificação do empregado com a empresa e seus objetivos.
Nas condições atuais do mercado turístico, a educação e a formação turística
devem ser processos contínuos em que o objetivo é o desenvolvimento de um capital
humano capaz de se adaptar com flexibilidade aos objetivos futuros que o setor está
requerendo e é a principal fonte de competitividade.
Os cursos superiores em turismo são uma boa alternativa para atender a esta
exigência. Estes cursos são muito recentes, e o seu crescimento tem sido respeitável nos
últimos seis anos. Esse fato é resultante da abertura de várias novas instituições de ensino
privadas e da percepção desses empresários de que o turismo é um fenômeno novo e de
forte apelo entre os jovens.
Entretanto, são muitos os desafios que os cursos de graduação em turismo deverão
enfrentar para se consolidarem como área de conhecimento. Entre esses desafios, pode-se
destacar a necessidade de docentes e infra-estrutura qualificada. Também, é fundamental
colocar o aluno como centro de todas as preocupações e identificar suas necessidades e
expectativas; determinar elementos educativos específicos de sua qualidade profissional;
avaliar e controlar constantemente seu sistema de aprendizagem; eliminar os erros
relacionados com práticas que articulem ensino-aprendizagem produzidos entre as
necessidades e as realizações, além de assegurar um serviço eficiente de avaliação do
produto educativo.
Os cursos de Turismo/Hotelaria devem ofertar algumas possibilidades de estudo
individualizado, como uma forma de trasladar a responsabilidade de aprendizagem para o
acadêmico, além de diminuir o contraste inicial de conhecimentos.
As instituições de ensino superior devem dedicar maiores esforços na ampliação das
suas relações com as empresas públicas e privadas e estar em sintonia com as mudanças no
mercado.
A tendência é que a formação de recursos humanos seja feita em alternância entre
escolas e empresas, o estágio obrigatório terá de ser tratado como prioridade pelas
instituições de ensino, tanto públicas como privadas.
Maiores recursos e esforços terão de ser investidos no planejamento e supervisão,
pois como constatado na pesquisa com os gerentes de hotéis, o que o mercado hoteleiro
sente falta, é de atividades práticas e de extensão no currículo dos estudantes e egressos,
que mostrem como é o dia-a-dia dentro de um hotel. Além disso, requerem profissionais
com iniciativa, espírito de liderança, trabalho em equipe, postura profissional, ética, etc.
A hotelaria de Curitiba ainda não reconhece o valor do Bacharel em
Turismo/Hotelaria, dando preferência para aqueles profissionais com cursos técnico-
profissionalizantes ou para aqueles com anos de experiência, sem levar em conta que o
conhecimento que se adquire em um curso de graduação não é superado com tanta rapidez
quanto o do curso técnico-profissionalizante. Além do que, em um Curso de Graduação o
estudante tem a oportunidade de desenvolver-se intelectualmente, por meio de seu espírito
crítico e analítico, podendo aplicá-lo tanto em sua vida profissional, quanto em seu
desenvolvimento pessoal e da sociedade em que está inserido.
A pesquisa realizada foi centrada no papel que a educação possui no âmbito da
atividade turística, na necessidade de possuir a visão teórica e o exercício prático para
proporcionar uma base sólida ao futuro profissional da área. Para tanto, definir as
expectativas do mercado de trabalho torna-se fundamental para melhor planejar, organizar e
avaliar as práticas pedagógicas nos centros formadores intimamente relacionadas às
características da demanda deste setor.
Por fim, o turismo sustentável só pode existir com profissionais sustentáveis, ou
seja, aqueles que consideram permanentemente os conceitos da “empregabilidade” e da
“trabalhabilidade”.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIAVENATO, M. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Ed. Atlas, 1981.


COOPER, C.; SHEPHERD, R.; WESTLAKE. Educating the Educators in Tourism: a
manual of tourism and hospitality. Surrey: WTO/Univ. of Surrey, 1996.
DENCKER, Ada F. M. Pesquisa e Interdisciplinaridade no Ensino Superior: uma
experiência no Curso de Turismo. São Paulo: Ed. Aleph, 2002.
FRIGOTTO, G. (Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século.
Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.
GÂNDARA, José Manoel G. Quais profissionais o curso de turismo da Universidade
Federal do Paraná forma? – realidade e perspectivas. Projeto de pesquisa. Curitiba:
UFPR, 1995.
PURDUE, J. et al. Comparison of present and future competencies required for club
managers. International Journal of Contemporary Hospitality Management. Vol. 14.
Nº 3. Bradford: Emerald, 2002.
RESENDE, Enio. O Livro das Competências. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000.
SCHLÜTER, Regina G. Investigación en Turismo y Hotelería. Buenos Aires: CIET, 2000.
SEBRAE/FÓRUM PARA O TURISMO SUSTENTÁVEL NO PARANÁ. Os números do
Turismo no mundo, no Brasil e no Paraná. Curitiba: SEBRAE, 2002.
PARANÁ TURISMO. Fluxo Turístico da Cidade de Curitiba 2002. Curitiba: SETP, 2003.

Página web
www.conarh.com.br

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