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INDUSTRIA CULTURAL: FILME ZEPOTHA

Ana Julia Deina Scholz, Denise Magalhães Manini, Gabriela Passoni Ribeiro,
Nycole Luiza Debiasi Guarezi, Pedro Pierdoná Marques e Rebeca Soares de
Macedo – (Turma Marcello Serpa)

Apresentação: 22 de setembro de 2023 – 2° grupo

1 Contexto do tema – meios de comunicação ou formato de apresentação do


produto

Emily Jeffri, uma influenciadora/cantora, postou na plataforma “Tiktok” um vídeo


em que incita os espectadores a divulgar uma ideia que a mesma teve de criar um
filme falso dos anos 80, chamado de “Zepotha”.

Ok, então uma ideia nova: e se criássemos um filme falso de terror dos anos
80 chamado 'Zepotha' e começássemos a comentar "meu Deus, você se
parece EXATAMENTE com aquela garota de Zepotha" ou "espere, você se
parece exatamente com _________ de Zepotha" em “thirst trap” que nós
vermos. Juntos testemunharemos o desenvolvimento de novas histórias,
personagens principais surgirão, etc. E poderemos convencer milhares de
pessoas de que este filme de terror dos anos 80 com um título estranho
realmente existe. (JEFFRI, 2023)

A ideia repercutiu de forma rápida pela plataforma digital e está sendo utilizada
como forma de entretenimento pelos usuários. A criadora do conteúdo incentivou a
propagação postando vídeos sobre o assunto, sempre utilizando a mesma música
tratando-a como se fosse da trilha sonora do filme.

Essa invenção teve como objetivo de Jeffri, essencialmente, divulgar o novo


álbum da cantora, lançado em agosto de 2023. As músicas foram usadas por todos
os consumidores da rede social nos vídeos que falam sobre o “Zepotha”, e a
composição “DO YOU REMEMBER ME???” se tornou viral e foi considerada a
principal marca registrada desse tipo de material.
2 Descrição do tema e olhar do grupo sobre o papel da Indústria Cultural no
cenário proposto

Após o vídeo repercutir, várias pessoas começaram a apoiar essa ideia de


fato comentando que as pessoas parecem com os personagens inventados e criaram
vários conteúdos relacionados ao tema, se caracterizando de acordo com a
personalidade dos protagonistas, fazendo edições como se fossem cenas reais do
filme, criaram cenas, pôsteres e trailers falsos. Além disso, os usuários estão
afirmando que a obra cinematográfica é sim verdadeira e que só não é possível achá-
la na internet por ser muito antiga e estar disponível apenas em DVD ou VHS.

Theodor Adorno foi um dos pensadores que fundaram a Escola de Frankfurt


e foi muito importante para a criação do conceito de Indústria Cultural, em que acredita
na ideologia do consumismo e na forma de persuasão. Para Adorno, essa concepção
também utiliza a arte, por exemplo a música, para agradar o consumidor e fazer ele
acreditar que a obra é apenas uma forma de entretenimento, não uma maneira de
consumismo. O resultado é obtido reunindo elementos que estão captando a atenção
da cultura popular.

Além disso, Emily Jeffri seguiu uma abordagem semelhante ao argumento de


Edward Bernays, um teórico americano, que explorou a maneira como as opiniões e
comportamentos podem ser influenciados por meio de estratégias de comunicação.
Assim como Bernays enfatizou a importância de entender os desejos e necessidades
das massas para moldar mensagens persuasivas, Emily identificou o interesse por
filmes de terror e trilhas sonoras para criar uma narrativa envolvente que cativasse a
atenção e o envolvimento das pessoas. Dessa maneira, podemos dizer que “A
propaganda moderna é um esforço consistente e permanente para criar ou moldar
eventos para influenciar as relações do público com uma empresa, ideia ou grupo. ”
(Bernays, 1928).

Segundo Bikhchandani, empresário indiano, existe um conceito conhecido


como “efeito manada”, em que cada vez mais pessoas influenciam outras a consumir
determinado produto e esse comportamento resulta da chamada “cascata
informacional” que faz um indivíduo analisar as ações de outro e seguir um processo
de imitação que vai sendo acompanhado por cada vez mais espectadores.
George Orwell era um escritor e jornalista que estava preocupado com
questões políticas e sociais, e suas obras muitas vezes abordavam temas como
totalitarismo, controle governamental, propaganda e manipulação da verdade. "1984"
é uma distopia que descreve um mundo governado por um regime totalitário que
controla a informação e a realidade, enquanto "A Revolução dos Bichos" é uma
alegoria que satiriza a Revolução Russa e critica a corrupção do poder.

Embora Orwell não tenha desenvolvido diretamente a teoria da indústria


cultural, suas obras são frequentemente interpretadas como alertas sobre os perigos
da manipulação da informação, do controle do governo sobre a cultura e da
conformidade das massas.

Ademais, as ideias de Walter Lippmann sobre a opinião pública e o papel da


mídia de massa também tiveram influência na discussão sobre a relação entre a mídia,
a cultura popular e a sociedade. Uma de suas obras mais influentes é "Opinião
Pública" (1922), na qual ele aborda como a opinião pública é moldada pela mídia,
pelas elites intelectuais e pelos líderes políticos. Lippmann argumentou que o público
em geral não tinha a capacidade de compreender completamente os complexos
problemas políticos e sociais e, portanto, dependia de símbolos e estereótipos
simplificados fornecidos pela mídia e pela elite intelectual para formar suas opiniões.

Essa visão de Lippmann se alinha de certa forma com a teoria da indústria


cultural, que argumenta que a cultura popular é moldada e controlada por elites
culturais e econômicas, incluindo a mídia de massa.

3 Reflexão crítica do grupo sobre o tema com base nos teóricos

A história de Emily Jeffri influencer e cantora de 18 anos e a sua estratégia de


marketing intrigante oferece uma oportunidade para uma análise crítica dos pontos
estudados por três personalidades relevantes:

Relação com o Pensamento de Edward Bernays:


A estratégia de Emily reflete o pensamento de Edward Bernays na medida em
que ela conscientemente moldou a percepção e o comportamento das pessoas
através de uma narrativa fabricada. Ela usou a influência social e a persuasão para
criar uma demanda (interesse pelo filme) que, na realidade, não existia. Isso se alinha
com a ideia de Bernays de que a manipulação consciente pode direcionar as massas.

Relação com o Pensamento de Walter Lippmann:

A estratégia de Emily também se relaciona com Lippmann, pois demonstra


como as pessoas muitas vezes formam opiniões com base em informações seletivas
e na influência de outros. As pessoas aderiram à narrativa de "Zepotha" sem verificar
a veracidade, destacando a importância das informações transmitidas pela mídia e
pelas redes sociais na formação da opinião pública.

Relação com o Pensamento de George Orwell:

Embora a estratégia de Emily seja mais benigna do que os cenários distópicos


de controle de informação descritos por Orwell em "1984", ela também demonstra
como as narrativas podem ser construídas para influenciar a percepção e a realidade
percebida. No caso de "Zepotha", uma realidade fictícia foi construída com sucesso e
amplamente aceita, destacando o poder da narrativa na construção da realidade
percebida.

A ligação entre as estratégias utilizadas e os estudos do George Orwell,


Edward Bernays e o Walter Lippmann

Marketing Limpo sem Investimento:

Emily Jeffri demonstra a capacidade de conduzir um marketing eficaz sem


gastar dinheiro significativo em publicidade tradicional, um aspecto que se alinha com
a visão de George Orwell em "1984". Em seu livro, Orwell descreve um Estado
totalitário que controla a informação e a propaganda. Emily, ao evitar investimentos
em publicidade tradicional, ilustra como indivíduos podem explorar alternativas
criativas para contornar o controle da informação, um conceito que ressoa com a
resistência contra a manipulação da verdade estatal no livro "1984".
Persuasão e Convencimento:

A estratégia de Emily Jeffri tem base forte na persuasão e no convencimento,


algo que também era fundamental nas teorias de Edward Bernays. Bernays acreditava
na capacidade de influenciar as massas por meio de técnicas psicológicas e de
relações públicas. A forma como Emily convenceu as pessoas a participarem de sua
narrativa fictícia, mesmo sem investimento, é um exemplo de como as estratégias de
persuasão de Bernays ainda são relevantes na era digital.

Adesão por Conta de Ter Virado uma Trend:

A estratégia de Emily de criar uma tendência fictícia, "Zepotha," destaca como


as tendências podem influenciar a adesão das massas, algo que se relaciona com as
preocupações de Walter Lippmann em "Public Opinion." Lippmann argumentou que
as pessoas frequentemente formam suas opiniões com base em informações
seletivas e na influência de outros. A tendência de "Zepotha" ilustra como as narrativas
populares e a pressão social podem levar as pessoas a aderirem a algo, mesmo que
não haja base real para isso, refletindo as ideias de Lippmann sobre a formação da
opinião pública.

Portanto, a história de Emily Jeffri e sua estratégia de marketing para


divulgação de seu álbum de músicas direcionadas a filmes de terror se conectam aos
estudos de Orwell, Bernays e Lippmann ao demonstrar como as narrativas, a
persuasão e as tendências podem ser usadas para influenciar as massas e moldar a
percepção pública E que o marketing contemporâneo pode ser altamente eficaz ao
aproveitar a persuasão, a tendência e a criação de narrativas para influenciar as
massas.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Emily jeffri. Disponível em:


<https://open.spotify.com/intlpt/artist/7j7NWasrRsalHoY7DgMLhK>. Acesso em: 12
set. 2023.

GARCIA, G. What is ‘Zepotha?’ everything you need to know about TikTok’s viral
fake movie. Disponível em:
<https://www.cosmopolitan.com/lifestyle/a44808730/what-is-zepotha-tiktok-movie/>.
Acesso em: 12 set. 2023.

JEFFRI, E. Ranking the Zepotha soundtrack. TikTok, 14 ago. 2023. Disponível em:
<https://www.tiktok.com/@emilyffsge/video/7267301847579348256?embed_source=
121355059%2C121351166%2C121331973%2C120811592%>

PORFÍRIO, F. Escola de Frankfurt: contexto, autores, obras., 21 mar. 2011.


Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-escola-frankfurt.htm>.
Acesso em: 12 set. 2023

“Propaganda”, a obra maior. Disponível em:


<https://www.newsmuseum.pt/pt/spinwall/propaganda-obra-maior>. Acesso em: 13
set. 2023.

GUEDES, P.; BASSETTO, L. “EFEITO MANADA” NAS MÍDIAS SOCIAIS: ANÁLISE


DO PAPEL DOS MICROINFLUENCIADORES NO INSTAGRAM. [s.d.].

RAMINELLI, F. P. Perspectivas de análise da obra 1984 de George Orwell sob a


ótica dos direitos fundamentais de terceira geração. Revista Espaço Ac, 2014.

LIPMANN, W.; OPINIÃO PÚBLICA, Tradução e Prefácio de Jacques A. Winberg - RJ:


Vozes, 2008 (Obra da Coleção Clássicos da Comunicação Social)
<https://www.academia.edu/36402627/LIVRO_WALTER_LIPPMANN_OPINI%C3%83O_P%
C3%9ABLICA>

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