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TRANSEXUAIS1
Resumo
O presente artigo visa o estudo acerca da legislação, de artigos, jurisprudência e demais
materiais que possam levar ao entendimento sobre o nome social e seu uso para pessoas
transgênero e travestis. A necessidade de se entender sobre o instituto “nome social” e de se
demonstrar que o transgênero e a travesti são vistos como grupos marginalizados se faz
substancial, ainda, para que se fundamente de maneira sólida o presente artigo. Para tanto,
serão analisados decretos e resoluções que buscaram diminuir o preconceito e elevar o nome
social a um patamar que passa a ter como objetivo maior a aceitação dos grupos sociais de
transgêneros e travestis, para sua melhor aceitação e para uma convivência harmoniosa entre
estes e a sociedade em geral.
Introdução
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Trabalho de Curso apresentado a Faculdade UNA de Catalão, como requisito parcial para a integralização do
Curso de Direito, sob orientação do professor Marcos de Oliveira Gonçalves Toledo.
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Ou seja, conforme disposto no artigo mencionado, o nome não poderá ser alterado,
sendo admitido apenas que, em caso de conhecimento público, se use algum apelido,
entretanto nada se refere com relação à modificação do mesmo. Admitindo, entretanto, que
se substitua o prenome em caso de colaboração para com a investigação de crime em
apuração, ou, ainda, como forma de “proteção à testemunha”.
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Visando a resolução deste problema de forma mais simples, quem têm problemas
com relação ao próprio nome acaba adotando um nome social, que nada mais é do que o
nome que prefere ser chamado(a) no cotidiano (CANÇADO, 2006).
A sociedade sempre aceitou que as pessoas se valham de nomes sociais, espécies de
apelidos ou pseudônimos, utilizados em substituição ao nome de registro, sem a necessidade
de efetiva alteração do nome registral. Inclusive, os nomes sociais gozam da mesma
proteção concedida ao nome de registro (desde que, é claro, utilizados para atividades
lícitas). A verdade é que, infelizmente, apenas se mostram problemáticos no caso de pessoas
transexuais (CANÇADO, 2006).
Para corroborar com o que foi dito no parágrafo anterior, basta que se observe o
seguinte: inexiste questionamento com relação ao nome de artistas, como, por exemplo,
Anitta, Fernanda Montenegro, Chay Suede, Cazuza, Tony Ramos ou Silvio Santos. Todos
estes nomes são sociais, utilizados em substituição, respectivamente, a Larissa, Arlete
Pinheiro, Roobertchay Domingues, Agenor de Miranda, Antonio de Carvalho e Senor
Abravanel (CANÇADO, 2006).
Assim, resta evidente que é respeitado, sem questionamentos, os nomes sociais
utilizados por pessoas cis gêneros – quem se identifica com o gênero que lhes foi atribuído
ao nascimento), mas continuam relutantes em respeitá-los no caso das pessoas transgênero,
por puro preconceito, evidenciando ainda mais as dificuldades que estas pessoas enfrentam.
No caso de pessoas transgêneros, a questão é mais complicada, pois a relutância da
sociedade em aceitar o nome social pode expor ao ridículo e até mesmo ao perigo, já que
vivemos no país que mais mata pessoas trans no mundo, segundo a ONG Transgender
Europe (TGEU, 2022).
Em 2022, o país ainda carrega a marca de ser o país que mais mata pessoas trans.
São 13 anos seguidos ocupando o posto de primeiro colocado no ranking mundial. O Dossiê
Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras registrou número
elevado de mortes de transgêneros em 2021 (BARREIROS, 2022).
Segundo o relatório, 140 pessoas transgênero foram assassinadas no país em 2021,
número composto pelas mortes de 135 travestis e mulheres transexuais e cinco homens trans
e pessoas trans masculinas. Comparando os dados com o ano de 2020, houve diminuição
nos casos narrados, pois neste ano foram registrados 175 assassinatos de pessoas trans.
Ainda assim, o número permanece superior ao de 2019, anterior à pandemia de covid-19,
quando foram mortas 124 pessoas trans (BARREIROS, 2022).
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transexuais, que servem para tratamento nominal em toda a administração pública estadual
(RIO GRANDE DO SUL, 2012).
O Distrito Federal publicou, em 09/05/2013, o Decreto n.º 34.350, regulamentando o
instituto perante a administração distrital, contudo, no dia seguinte, o Diário Oficial publicou
a revogação do respectivo decreto. (CERQUEIRA, 2015).
Há também legislação instituindo o nome social para travestis e transexuais nos
seguintes entes federativos: Piauí (Lei n.º 5.916 de 2009), Estado de São Paulo (Decreto n.º
55.588/2010), Estado de Pernambuco (Decreto n.º 35.051 de 2010), Estado do Rio de Janeiro
(Decreto n.º 43.065/2011), Estado do Mato Grosso do Sul (Decreto n.º 13.684 de 2013). De
forma setorial, apenas para tratamento perante alguns órgãos públicos, podemos mencionar:
na Bahia, a Portaria n.º 220 de 2009-SEDES; na Paraíba, a Portaria n.º 41 de 2009-GS; no
Município de Manaus, a Portaria n.º 151 de 2010-GS/SEMASDH (CERQUEIRA, 2015).
Ocorre que, com relação aos dispositivos legais citados anteriormente, fora realizado
com o intuito de exemplificar que, por se tratar de tema que, de certa forma, gera polêmica,
fora tardiamente iniciado, tendo como primeiro registro o Decreto do Estado do Pará, que fora
feito em 2008.
O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, do ano de 2015, passou a prever, em
seu edital, a possibilidade de utilização do nome social para os estudantes travestis e
transexuais que assim desejem (CERQUEIRA, 2015).
Assim, em relação a outros institutos, observa-se que “nome social” é relativamente
novo, entretanto está a se difundir rapidamente entre os diversos entes federativos, bem como
pela própria União, como forma de respeitar as decisões individuais de cada cidadão, bem
como para respeitar a identidade de gênero dos brasileiros.
formas de preconceito e discriminação a que são submetidos diuturnamente. Diante desta dura
realidade, muitos transgêneros são obrigados a levar uma vida clandestina e impossibilitados,
muitas vezes, de resgatar a sua própria história (BAHIA; CANCELIER, 2017, p. 108).
outro lado, a promoção de ações, programas e políticas públicas que contribuam para a
superação dessas desigualdades (MPPR, 2022).
Neste sentido, observa-se que os princípios constitucionais, já citados, são os
responsáveis pela tutela e permissão do uso do “nome social”, principalmente como forma de
reduzir a discriminação sofrida por certos grupos sociais.
Os mandamentos constitucionais já citados, bem como os princípios da igualdade, da
não discriminação e da liberdade, em todas as suas dimensões, devem ser interpretados em
conjunto com a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969), o Protocolo de São
Salvador (1988), a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e
Formas correlatas de Intolerância, os Princípios de Yogyakarta (YOGYAKARTA, 2006) e
demais documentos internacionais correlatos. Dessa forma, a aplicação das normas passa por
um controle multinível para uma mais adequada tutela de direitos humanos (MPPR, 2022).
Quanto aos Princípios de Yogyakarta, vale mencionar que o princípio 19 faz
referência especificamente ao Direito à Liberdade de Opinião e de Expressão de identidade ou
autonomia pessoal, inclusive quanto à escolha de nome, sendo que, para assegurar o pleno
gozo de tal direito, deverão ser tomadas todas as medidas necessárias, quais sejam, apenas,
obedecer aos requisitos e mandamentos legais, como, por exemplo, ir ao cartório para
manifestar em registro a vontade de que se use um determinado nome para o tratamento
adequado daquele indivíduo (YOGYAKARTA, 2006).
Desta forma, o nome social deve ser observado nos ambientes públicos e privados,
como respeito à identidade de gênero e aos direitos fundamentais à liberdade de expressão e
dignidade da pessoa humana.
Vale ressaltar que não há lei federal que garanta o uso do nome social aos Transexuais
e Travestis. O Decreto Estadual n.º 1.675/2009 é responsável por determinar aos órgãos da
Administração Direta e Indireta do Estado do Pará o respeito ao nome público de Transexuais
e Travestis (PARÁ, 2019).
O Decreto em comento tem como base a aplicação do art. 3º, inciso IV, da CF/88, que
elencou como um de seus objetivos fundamentais promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, orientação sexual, cor, idade, deficiência e quaisquer outras formas de
discriminação (PARÁ, 2019).
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Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de dois mil e dezesseis, no Diário Oficial
da União, fora publicado o Decreto n.º 8.727/2016, que autoriza o uso do nome social e o
reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da administração
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pública federal. O decreto foi assinado pela então presidenta Dilma Rousseff, com o intuito de
permitir que as pessoas tenham seu nome social em crachás e formulários, por exemplo
(MPPE, 2016).
Segundo o texto normativo, o nome social configura a designação pela qual a pessoa
se identifica e é socialmente reconhecida. Já a de gênero trata da dimensão da identidade no
que diz respeito à forma como ela se relaciona com as representações de masculinidade e
feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem relação necessária com o sexo
atribuído ao nascimento (BRASIL, 2016).
Em uma passagem da íntegra do que diz o texto legal se observa que os órgãos e as
entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, em seus atos e
procedimentos, deverão adotar o nome social da pessoa travesti ou transexual, de acordo com
seu requerimento e com o disposto no decreto. Sendo vedado o uso de expressões pejorativas
e discriminatórias para referir-se a pessoas travestis ou transexuais (BRASIL, 2016).
Trata-se de um dispositivo legal que visa legitimar os direitos pessoais inerentes a
todos, inclusive às travestis e aos transexuais, o que não era tão respeitado, tendo em vista a
obrigação do uso do nome civil em crachás e demais procedimentos internos realizados em
seu serviço. Como já dito em partes anteriores do trabalho, o uso do nome social para pessoas
cis gênero não costuma ser contestado, entretanto, por puro preconceito, para travestis e
transexuais, sim.
Ainda de acordo com o texto legal, registros dos sistemas de informação, cadastros,
programas, serviços, fichas, formulários, prontuários e congêneres de órgãos e das entidades
da administração pública federal deverão conter o campo “nome social” em destaque,
acompanhado do nome civil, que será utilizado apenas para fins administrativos internos
(MPPE, 2016).
Vale destacar, ao final, que a partir da publicação do decreto, o nome social já poderia
ser requerido, ainda que houvesse um prazo de seis meses para que os formulários fossem
adequados, e de até um ano para que todos os sistemas informatizados implantassem a
mudança.
4. Alteração do nome
aduzido no caput do art. 58, da Lei n.º 6.015/73 e das hipóteses de alteração do nome
(ORTEGA, 2017).
Assim, pode-se inferir que, em princípio, pelo art. 58, da Lei de Registros Públicos,
o prenome era imutável, por ser norma de ordem pública. Porém, se a finalidade do registro
público é espelhar a veracidade dos fatos da vida e entendendo-se que o nome civil é a real
individualização da pessoa humana no seio familiar e na sociedade, é possível, nas hipóteses
previstas em lei, além das hipóteses trazidas pela doutrina e pela jurisprudência, modificar o
prenome (CHAVES; ROSENVALD, p. 173-174, 2007).
Existem situações que dão ensejo a alteração do prenome, inicialmente se tem sobre
o prenome que exponha seu portador ao ridículo, ao vexame, que cause constrangimento ou
que seja exótico. Neste caso, o julgador deve sentir o drama do indivíduo e compreender
que a lei não possui vontade única, mas várias vontades. E, diante da complexidade da vida,
deverá aplicar a lei na realização do mais justo. O parágrafo único do art. 55, da Lei de
Registros Públicos, dispõe que (BRASIL, 1973):
A partir da lei que editou a primeira Lei de Registros Públicos – Lei n.º 13.484/2017
– a autorização judicial não é mais exigida, fazendo surgir, no âmbito do Registro Civil de
Pessoas Naturais, a possibilidade de retificação extrajudicial de assentos quando ocorrer
erros de grafia e outros erros evidentes resultantes quando da feitura do registro, no próprio
cartório, realizada sem a necessidade de sentença proferida pela autoridade judicial
competente (ORTEGA, 2017).
Outra possibilidade é a da alteração de prenome para incluir apelido público notório
ou nome, sendo esta a permissão legal para acrescentar apelido público notório ou substituir
o prenome por ele, desde que o apelido seja lícito. Um exemplo é o nome do Presidente
Lula, que acrescentou o apelido Lula ao seu nome completo, passando a se chamar Luiz
Inácio Lula da Silva. A possibilidade se dá da leitura do art. 58, da Lei de Registros
Públicos (BRASIL, 1973).
Existem também a possibilidade de alteração do prenome pelo uso prolongado e
constante; por conta da pronúncia, por conta da homonímia (quando existem vários nomes
iguais e o portador deseja alterar o seu por este motivo); existe também a possibilidade da
alteração do prenome por conta da maioridade.
Neste último caso citado, independentemente de justificação, poderá o interessado
alterar seu nome, desde que não prejudique o sobrenome a terceiros, na fluência do primeiro
ano após a maioridade civil (dos 18 aos 19 anos), de acordo com o art. 56, da Lei de
Registros Públicos, que aduz que: “O interessado, no primeiro ano após ter atingido a
maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela
imprensa” (BRASIL, 1973).
Sendo esta a única hipótese de modificação imotivada, bastando a vontade do titular.
Na ocorrência desta possibilidade, apenas o nome poderá ser alterado, deixando o
sobrenome intacto. Esgotado esse prazo decadencial, a retificação só poderá ser judicial,
devendo ser fundamentada.
Existem, ainda, outras possibilidades de alteração de nome, quais sejam, a alteração
do prenome estrangeiro; alteração do prenome para proteção da vítima ou testemunha; e,
por fim, a alteração de prenome por conta da adoção. Esta última, fundamentando-se na Lei
8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, no art. 47, §5º (BRASIL, 1990).
Considerações finais
Referências
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil – Volume único. 12ª edição. Ed. Método.
2022.
TERMO DE COMPROMISSO DE ORIGINALIDADE E RESPONSABILIDADE
Nós, Anna Carolina Duarte Saraiva e Lorrainy Maria Silva, alunas do Curso de
Direito, declaramos, para os devidos fins, que o trabalho de curso (TC) que elaboramos e ora
apresentado, com o título “A necessidade de aceitação do uso do nome social para pessoas
e científicos de ORIGINALIDADE.
Nesse sentido, declaramos, para os devidos fins, que o referido trabalho foi elaborado
com base nas nossas próprias palavras, ideias, opiniões e juízos de valor deste, não havendo
nele, por exemplo, reprodução de ideias e/ou palavras de outra pessoa como se minhas
por conseguinte, acarreta na reprovação deste trabalho: a apresentação de artigo que seja
cópia integral de outro trabalho, do próprio autor ou de terceiros; utilização no artigo de ideias
e palavras de outras pessoas sem a necessária referência a esse autor; e, a utilização das ideias
Por fim, declaramos, nos termos do art. 5º, inciso IX, da Constituição Federal, que as
opiniões contidas nesse trabalho não coincidem, necessariamente, com as da Faculdade UNA
de Catalão.
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