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Milhões de pessoas não têm acesso aos serviços modernos de energia

“O nosso dia começa antes das cinco da manhã, pois precisamos de arranjar água,
preparar o pequeno-almoço para a família e arranjar os filhos para irem para a escola.
Por volta das oito, começamos a recolher lenha. A viagem é de vários quilómetros.
Quando não conseguimos madeira, utilizamos o esterco dos animais para cozinhar –
mas isto é mau para os olhos e para as crianças.” – Elisabeth Faye, agricultora, 32 anos,
Mbuor, Senegal.

Em muitos países ricos está garantido o acesso à electricidade. Com um breve


estalido, as luzes acendem-se, a água aquece e a comida é cozinhada. O emprego e a
prosperidade são suportados pelos sistemas de energia, que sustêm a indústria moderna,
accionam computadores e redes de meios de transporte.

Para pessoas como Elisabeth Faye, o acesso à energia tem um significado muito
diferente. Recolher madeira para arder é uma actividade árdua e demorada. Leva 2 a 3
horas diárias. Quando não consegue recolher madeira não tem outra hipótese senão
utilizar o esterco dos animais para cozinhar – o que é um perigo para a saúde.

Em países em vias de desenvolvimento existem cerca de 2,5 milhares de milhões


de pessoas como Elisabeth Faye, que são forçadas a recorrer à biomassa – madeira
combustível, carvão vegetal e esterco de animais – para conseguirem a energia que
precisam para cozinhar. Na África Subsariana, mais de 80% da população depende da
biomassa tradicional para cozinhar, tal como acontece também com mais de metade da
população da Índia e da China.

O acesso desigual à electricidade moderna está intimamente relacionado com a


enorme desigualdade de oportunidades para o desenvolvimento humano. Os países com
baixos níveis de acesso aos serviços modernos de electricidade figuram no grupo mais
baixo do desenvolvimento humano. Dentro dos países, as desigualdades de acesso aos
serviços modernos de electricidade entre ricos e pobres e entre áreas rurais e urbanas
interagem com as elevadas desigualdades de oportunidades.

As populações e os países pobres pagam um preço elevado pelos défices em


abastecimento de energia moderna:

 Saúde. A poluição do ar dentro de casa, resultante do uso de combustíveis


sólidos, é o pior assassino. Mata 1,5 milhões de pessoas por ano, mais de
metade com menos de cinco anos, o que equivale a 4000 mortes por dia.
Contextualizando este número, ele excede os valores referentes à malária e à
tuberculose. A maior parte das vítimas são mulheres, crianças e pobres das
zonas rurais. A poluição do ar dentro das casas é também uma das principais
causas de infecções respiratórias e pneumonia nas crianças.

No Uganda, as crianças com menos de cinco anos sofrem 1 a 3 ataques de


infecções respiratórias graves por ano. Na Índia, onde três em cada quatro casas nas
áreas rurais dependem dos biocombustíveis para cozinharem e para se aquecerem, a
poluição daí derivada mata 17% das crianças. A electrificação está muitas vezes
associada aos avanços no campo da saúde. Por exemplo, no Bangladesh, a electrificação
no meio rural elevou os rendimentos em 11% - e evitou a morte de 25 crianças nas 1000
casas electrificadas.

 Género. As mulheres e as raparigas demoram muito tempo a recolher


madeira, acentuando a desigualdade de oportunidades no sustento e na
educação. Este trabalho é desgastante e exaustivo, sendo que carregam pesos
que ultrapassam em média os 20 kg. Uma investigação na parte rural da
Tanzânia apurou que as mulheres, nalgumas áreas, andam 5-10 km por dia,
recolhendo e carregando madeira, com pesos calculados entre 20 e 38 kg. Na
Índia rural, este trabalho pode ultrapassar as três horas diárias. Para além da
sobrecarga imediata sobre o físico e em tempo despendido, a recolha da
madeira combustível leva as raparigas a não irem à escola.

 Custos económicos. As casas pobres gastam muito em madeira combustível


ou no carvão vegetal. Na Guatemala e no Nepal, o gasto em madeira
representa 10-15% das despesas totais dos mais pobres. O tempo que as
mulheres despendem na recolha da madeira combustível tem significativos
custos, limitando as suas oportunidades. De um modo mais geral, o acesso
inadequado aos serviços modernos de electricidade diminui a produtividade
e as pessoas continuam pobres.

 Ambiente. A falta de acesso à energia moderna pode criar um ciclo vicioso


de retrocesso ambiental, económico e social. A produção insustentável de
carvão vegetal em resposta à crescente procura urbana provocou uma imensa
tensão em áreas circundantes de cidades como Luanda, em Angola, e Adis
Abeba, na Etiópia. Nalguns casos, a produção de carvão vegetal e a recolha
de madeira contribuíram para a desflorestação. À medida que os recursos
diminuem, o esterco e os resíduos são desviados para o uso do petróleo em
vez de serem aproveitados para lavrar os campos, diminuindo a
produtividade da terra.

O acesso dos pobres à electricidade disponível permanece uma prioridade no


desenvolvimento. Projecções actuais mostram que aumentou o número de pessoas que
confiam na biomassa, durante e para lá da próxima década, especialmente na África
Subsariana. Isto comprometerá o progresso para vários ODMs, incluindo os que se
relacionam com a sobrevivência materna e infantil, educação, redução da pobreza e
sustentabilidade ambiental.

Fonte: AIE 2006c;


Kelkar e Bhadwal, 2007;
Seck 2007b;
OMS 2006;
Banco Mundial 2007b

Questionário
1. Classifique o texto quanto a mancha gráfica.
2. Qual é o assunto tratado no texto?
3. Preste a tenção a frase retirada do texto “O emprego e a prosperidade são
suportados pelos sistemas de energia, que sustêm a indústria moderna, accionam
computadores e redes de meios de transporte”. De que maneira a energia
impulsiona o desenvolvimento?

4. Divide o texto em partes.

5. Identifique a tempo verbal predominante no texto. Apresente exemplos?

6. Qual é o ensinamento que se pode tirar deste texto?

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