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ESTUDO DA RETENÇÃO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DO INSTITUTO


FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS -
CAMPUS AVANÇADO PIUMHI
Diego Eloi da Silva
Gabriela Fernandes de Castro Souza
Henrique Martins Cardoso
Otaviano Geraldo da Silva Júnior
Jamil Rodrigues Junior
RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar os motivos que levam ao elevado índice de
retenção e evasão de discentes da graduação em disciplinas de nível básico. A partir da
análise de dados referentes ao desempenho de estudantes do curso de Engenharia Civil do
Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Avançado Piumhi e de depoimentos de alunos do
Campus, foram abordados os possíveis motivadores dessa problemática e debatido uma
solução passível de ser aplicada nas Universidades e Institutos. Foi apontado como um dos
maiores responsáveis, as deficiências no ensino da educação básica do país, que não é capaz
de preparar o estudante para o conhecimento exigido nos cursos de nível superior.

Palavras-chave: Retenção. Disciplinas básicas. Engenharia civil.

FAILURE STUDY IN THE CIVIL ENGINEERING COURSE OF MINAS GERAIS


EDUCATION, SCIENCE AND TECHNOLOGY FEDERAL INSTITUTE - CAMPUS
ADVANCED PIUMHI

ABSTRACT
The present paper aims to analyse the reasons that lead to the high rate of failure and evasion
of undergraduates in basic level disciplines. Based on the analysis of data concerning the
performance of students of the Civil Engineering course of the Federal Institute of Minas
Gerais - Piumhi Advanced Campus and statements of students from the Campus, were
approached the possible motivators of this problem and discussed a solution that could be
applied in Universities and Institutes. It was shown as one of the main responsible, the
deficiencies in the country’s basic education teaching, which is not able to prepare the student
for the knowledge required by colleges and universities.
Keywords: Retention. Basic Subjects. Civil Engineering.
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1 INTRODUÇÃO

A reprovação ao longo dos cursos de graduação nas instituições de ensino superior é


um tema muito discutido no Brasil, já que reflete as grandes deficiências enfrentadas pelo
sistema de educação do país.
Já nos primeiros anos de curso, a alta taxa de reprovação nas disciplinas básicas é um
dos maiores motivos de evasão e retenção. Em cursos onde a Matemática e a Física são a
base do ensino, como por exemplo as Engenharias, essa situação não é diferente. Esse
problema, ocorre de maneira indiscriminada principalmente em instituições públicas, trazendo
prejuízos tanto para instituição e o estudante, quanto para o estado.
A oferta de um número crescente de turmas por semestre, na tentativa de atender a
demanda dos reprovados; prejuízos econômicos por atrasos na conclusão dos cursos; elevado
número de evasões da universidade e consequentemente a redução de credibilidade do ensino
superior no país, são alguns dos problemas preponderantes que podem ser citados.
Existe uma dificuldade acerca da compreensão dessa problemática nos cursos
superiores do Brasil, principalmente analisando-se atentamente os cursos de engenharia, onde
se tem poucas produções científicas que visam o estudo desse problema. Dentre algumas
pesquisas já realizadas, é possível apontar um conjunto de aspectos que contribuem para o
“abandono” da graduação ou mesmo a “postergar” a data de conclusão.
Garzella (2013) aponta a forma de organização da disciplina e a qualidade da
mediação desenvolvida pelo professor em sala de aula como fortes determinantes do
aproveitamento insatisfatório de parcela significativa de alunos, sendo que os impactos
afetivos dessa experiência são marcadamente negativos em suas vidas acadêmicas.
Freire (1975) argumenta também como um dos motivos, a falta de contato com
disciplinas específicas do curso nos primeiros anos. Nesse período o estudante não consegue
assimilar a aplicabilidade dos conhecimentos obtidos na sala de aula, tornando o aprendizado
apenas uma memorização.
Buscando um melhor compreendimento sobre o problema em pauta, será apresentado
um estudo realizado no Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Avançado Piumhi,
embasado nos índices de retenção do curso superior em Bacharelado em Engenharia Civil.
2 DESENVOLVIMENTO

2.1 O INSTITUTO
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O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais é uma


instituição que tem como objetivo oferecer educação de nível superior, básico e profissional.
É uma instituição multicampi, que oferta educação profissional e tecnológica em diferentes
áreas e modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e
tecnológicos às suas práticas pedagógicas.
O Campus avançado Piumhi foi inaugurado recentemente, em 2014, na cidade de
Piumhi-MG e hoje conta com dois cursos voltados para o setor da construção civil, sendo eles
o curso superior Bacharelado em Engenharia Civil e o curso Técnico em Edificações
subsequente. Atualmente oferece ensino gratuito a aproximadamente 222 alunos de diversas
regiões.

2.2 METODOLOGIA

O Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Avançado Piumhi, oferta anualmente


quarenta vagas de ingresso ao curso de Engenharia Civil, sendo reservadas as vagas para o
sistema de cotas , como disposto na Lei nº 12.711/2012.
Nesse campus os maiores índices de reprovação no primeiro ano do curso, estão
presentes nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral I, Física I e Geometria Analítica e
Álgebra Linear, que são matérias básicas do curso.
Diante dessa análise, e do fato de a pesquisa estar voltada para os indicadores
referentes às disciplinas básicas dos cursos de engenharia, o estudo foi embasado somente nas
disciplinas citadas.
As matérias em questão são oferecidas regularmente nos dois primeiros períodos do
curso de graduação , porém com a crescente demanda devido aos altos índices de reprovação
e por serem disciplinas essenciais para a continuidade do curso com pré-requisitos existentes
na grade curricular, são ofertadas turmas especiais em períodos em que essas disciplinas não
são regulares, sendo oferecidas em todos ou quase todos os semestres.
Em primeiro momento foram levantados dados juntamente ao departamento de
registros do instituto, onde foram obtidos dados a respeito de todas as turmas das disciplinas
destacadas, durante anos de 2015, 2016, 2017 e 2018. Foram coletados o número de
matriculados por disciplina e o número de reprovados ou evadidos em cada semestre letivo.
Em sequência foi elaborado um questionário eletrônico visando colher depoimentos de
alunos que já cursaram ou estão cursando essas matérias. O questionário foi elaborado a partir
da plataforma Formulários Google, disponibilizada gratuitamente.
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O questionário foi divulgado através de alguns setores de comunicação do campus, e


de grupos de mídias sociais em que os estudantes estão presentes. Nele os alunos poderiam
responder de forma anônima as seguintes questões: “Ano de início do curso?”, “Em que tipo
de instituição você cursou o ensino médio?’’, “Como você classificaria sua base de ensino
proveniente do ensino médio?”, “Você já foi reprovado nas disciplinas de Cálculo I,
Geometría Analítica e Álgebra Linear e/ou Física I no curso de Engenharia Civil?”, “Quantas
vezes você foi reprovado nessas disciplinas?”, “Quais dessas opções você acredita que pode
ter afetado significativamente a reprovação: Deficiência no ensino básico proveniente do
ensino médio; Falta de suporte oferecido pelo câmpus; Falta de capacitação dos docentes;
Falta de dedicação do próprio aluno?”, “O quanto sua base proveniente do ensino médio
afetou seu desempenho nas disciplinas básicas do curso de Engenharia civil?” e além disso,
um tópico para propor soluções para redução da taxa de reprovação nas disciplinas citadas.
A partir da obtenção desse conjunto de dados, prosseguiu-se com os tratamento das
informações coletadas referentes a cada uma das disciplinas abordadas, e individualmente os
dados foram apresentados. Posteriormente os resultados foram analisados e discutidos.

2.3 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL 1

O cálculo diferencial e integral 1 é uma disciplina básica, oferecida geralmente no


primeiro ou segundo período. É obrigatória em cursos de diversas áreas de conhecimento,
inclusive em todos os cursos de Engenharia do Brasil.
O cálculo auxilia no entendimento de vários conceitos e definições na matemática,
química, física e na economia, e é, certamente, uma das disciplinas que possuem as maiores
taxas de reprovações em cursos de graduação. Essa dificuldade se deve, em maior parte, a
falta do conhecimento prévio em várias áreas da matemática necessário para o seu bom
aproveitamento.
No IFMG - Campus Avançado Piumhi o Cálculo 1 é uma disciplina obrigatória do
primeiro período do curso de Engenharia Civil. Sua ementa aborda: Números Reais; Funções;
Limite e Continuidade; Derivadas e Aplicações e Integrais. É imposta como pré-requisito para
várias disciplinas ao longo do curso, e por isso é responsável, também, pelos maiores índices
de retenção do campus.
Além das turmas regulares no início de cada ano letivo, são oferecidas pelo campus
algumas turmas especiais de acordo com a demanda de cada período. A tabela e o gráfico
abaixo mostram os índices de reprovação nessa matéria desde 2015 até o presente momento:
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Tabela 1 - Relação entre o número de matriculados e o número de reprovações em Cálculo 1

Cálculo 1 (Turma Regular) Cálculo l (Turma especial)

Nº de Taxa de Nº de
Nº de reprovados/e reprovação reprovados/e Taxa de reprovação
Período matriculados vadidos (%) Período Nº de matriculados vadidos (%)

2015/1 38 21 55,26% 2016/2 35 25 71,43%

2016/1 42 27 64,29% 2017/1 23 14 60,87%

2017/1 31 18 58,06% 2017/2 32 18 56,25%

2018/1 44 30 68,18% 2018/1 7 2 28,57%

Fonte : IFMG - Campus Avançado Piumhi.

Gráfico 1 - Taxa de reprovação em cada período nas turmas de Cálculo 1


Fonte : Arquivo Pessoal.

2.4 GEOMETRÍA ANALÍTICA E ÁLGEBRA LINEAR

As disciplinas de Geometria analitica e Algebra Linear assim como em muitos centros


de ensino superior, são, no curso de Engenharia Civil do IFMG - Campus Piumhi, unificadas
em uma única disciplina.
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Essa disciplina conhecida pela sigla Gaal, é uma obrigatória do primeiro período, mas
devido aos índices de reprovações são ofertadas turmas extras. Sua ementa aborda: Matrizes;
Determinantes; Sistemas Lineares; Vetores no Plano e no Espaço; Retas e Planos; Espaços
Euclidianos; Diagonalização; Cônicas e Quádricas.
A seguir são apresentados os dados levantados a respeito das taxas de reprovação
nesta disciplina:

Tabela 2 - Relação entre o número de matriculados e o número de reprovações em Gaal

Geometría Analítica e Álgebra Linear (Turma regular) Geometría Analítica e Álgebra Linear (Turma especial)

Nº de Taxa de Nº de Taxa de
Nº de reprovados/ reprovação Nº de reprovados/ reprovação
Período matriculados evadidos (%) Período matriculados evadidos (%)

2015/1 40 20 50% 2016/2 32 18 56,25%

2016/1 42 22 52,38% 2017/1 13 6 46,15%

2017/1 32 18 56,25% 2017/2 31 18 58,06%

2018/1 44 21 47,73%

Fonte : IFMG - Campus Avançado Piumhi.


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Gráfico 2 - Taxa de reprovação em cada período nas turmas de Gaal


Fonte : Arquivo Pessoal.

2.5 FÍSICA l

A disciplina de Física I é umas das matérias precursoras do curso de Engenharia Civil


e é a base para o entendimento de diversas disciplinas específicas do curso.
No curso em questão ela é ofertada regularmente no segundo período, e tem como pré-
requisito a disciplina de Cálculo I. Sua ementa explana os seguintes conteúdos: Cinemática;
Dinâmica de uma partícula; Trabalho e Energia; Conservação; Momento linear; Dinâmica de
um Sistema de Partículas; Conservação do Momento Linear; Forças Internas e Externas;
Rotação de uma partícula; Torque; Momento angular; Conservação do Momento Angular e
Dinâmica do Corpo Rígido.
Assim como as demais disciplinas que estão em pauta neste artigo, são ofertadas
turma especiais, fora dos períodos regulares, de acordo com a demanda e a disponibilidade do
campus.
Logo abaixo são apresentados os dados referentes a esta disciplina:
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Tabela 3 - Relação entre o número de matriculados e o número de reprovações em Física 1

Física l (Turma regular) Física l (Turma especial)

Nº de Taxa de Nº de
Nº de reprovados/ reprovação Nº de reprovados/ Taxa de
Período matriculados evadidos (%) Período matriculados evadidos reprovação (%)

2015/2 16 3 18,75% 2016/1 26 11 42,31%

2016/2 28 18 64,29% 2017/1 26 15 57,69%

2017/2 35 10 28,57% 2018/1 25 16 64%

Fonte : IFMG - Campus Avançado Piumhi.

Gráfico 3 - Taxa de reprovação em cada período nas turmas de Física 1


Fonte : Arquivo Pessoal.

2.6 DISCUSSÕES

Observando os dados apresentados, é perceptível a elevada taxa de reprovação nas


disciplinas destacadas. Tais reprovações elevam significativamente o tempo de conclusão do
curso, devido ao sistema de pré-requisitos presente na grade curricular, onde o estudante
depende da conclusão de uma matéria para se matricular e cursar algumas das disciplinas dos
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próximos períodos. Essa postergação no tempo de formação acaba desestimulando o aluno, e


muita das vezes é o principal fator responsável por desistências do curso.
Como discutido anteriormente esse é um sério problema enfrentado não só pelo IFMG
- Campus Avançado Piumhi, mas, também, é uma situação vivenciada e discutida por muitas
instituições de ensino superior no Brasil.
Com o objetivo de elencar os possíveis fatores que propiciam essa enorme dificuldade
enfrentada pelos estudantes de Engenharia nas disciplinas básicas do curso, foi indagado
dentro de um questionário divulgado ao corpo discente do campus, conforme citado
anteriormente, a seguinte questão: “Quais opções você acredita que podem ter afetado
significativamente sua reprovação ?”. Das respostas apuradas, 71,8% dos alunos que já foram
reprovados em umas das disciplinas, apontaram a “Deficiência do ensino básico” como o
fator que deflagrou a repetência.
É importante observar que as disciplinas sobre as quais o estudo foi embasado são as
que possuem a relação mais direta com o ensino básico. RISSI E MARCONDES observam a
existência de “[...] descompasso entre a Matemática vista na Educação Básica e os
conhecimentos prévios necessários para cursar disciplinas no Ensino Superior. Constatamos
que muitos conceitos nunca foram vistos pelos estudantes e quando vistos, sucedeu-se de
forma superficial. Exatamente nesta série em que esta diferença se evidencia, dificultando a
permanência do estudante no curso. [...]”.
Ainda de acordo com RISSI e MARCONDES a base matemática do ensino médio não
é satisfatória para a universidade. Além disso, a grande maioria dos estudantes que prestam
vestibular nessas áreas sempre tiveram êxito nas disciplinas de matemática, mas quando se
deparam com o denso conteúdo abordado já no início do curso e com um inédito baixo
rendimento nas disciplinas, acabam sendo desestimulados. A partir desses obstáculos surge a
indolência no curso e, caso o estudante não tenha ingressado na profissão apropriada ao seu
perfil, essa desmotivação pode ser o gatilho para a desistência.
Essa carência quanto a detenção dos conteúdos base para o bom desempenho nas
disciplinas iniciais dos cursos superiores, reflete o caos vivenciado nas redes de educação
básica do país.
Um indício dessa atual situação, analisando-se em âmbito internacional, é o resultado
do exame realizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla
em inglês) em 2015. Essa prova é dirigida pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde foram avaliados 70 países e economias, entre 35
membros da OCDE e 35 parceiros, incluindo o Brasil.
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A avaliação acontece a cada três anos e oferece um perfil básico de conhecimentos e


habilidades dos estudantes. Reúne informações sobre variáveis demográficas e sociais de cada
país e oferece indicadores de monitoramento dos sistemas de ensino ao longo dos anos. O
Brasil padeceu nas últimas posições dessa avaliação, ficando na 63ª posição em ciências, 59ª
em leitura e na 66ª colocação em matemática.
Sob outra perspectiva, observando do ponto de vista nacional, ou seja, internamente, o
Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), é um indicador capaz de expor com
ênfase os problemas vivenciados na educação brasileira.
Criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), este índice foi formulado a fim de medir a qualidade do aprendizado nacional
e estabelecer metas para a melhoria do ensino. Ele é calculado a partir de dois componentes: a
taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados
pelo Inep, sendo que os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado
anualmente.
A meta para o Brasil é alcançar a média 6.0 até 2021, patamar educacional
correspondente ao de países modelos em educação, como os Estados Unidos, Canadá,
Inglaterra e Suécia, no entanto, a situação atual é bem diferente desse objetivo. Nos últimos
três anos em que o Ideb foi levantado (2013, 2015, 2017), as metas estipuladas para os anos
finais do ensino fundamental e para o ensino médio não foram atingidas. Em 2017 por
exemplo, a meta nacional era de 5.0 para os anos finais do ensino fundamental, entretanto o
resultado atingiu somente 4.7.
No ensino médio a situação ainda é mais agravante. No mesmo ano a meta nacional a
ser atingida era de 4.7, porém o IDEB observado foi de somente 3.8. Uma diferença de 0.9
pontos, que é relativamente grande levando em conta que as media vão de 0 a 10.
Ainda atentando-se para os dados fornecidos pelo Ideb, é possível observar a
discrepância entre a qualidade de ensino nas redes de públicas e privadas. O indicador mostra
uma eminente disparidade entre as médias nacionais obtidas nos dois casos. Em 2017 a
média atingida no ensino médio pelas instituições públicas foi de 3.5, contra 5.8 da rede de
ensino privada, um desequilíbrio de 65,7%.
A fim de questionar possíveis soluções, dentro do questionário dirigido a comunidade
acadêmica, também foi aberto um espaço para que os estudantes pudessem propor, de forma
anônima, sugestões a fim de solucionar, ou pelo menos amenizar o problema em questão.
A seguir estão alguns dos depoimentos obtidos: “Oferecer uma disciplina como pré-
cálculo por exemplo, para que os discentes possam revisar o conteúdo do ensino médio e ter
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um melhor desempenho durante o curso!”; “Melhoramento da rede pública de ensino,


principalmente no ensino médio.”; “Tutoriais para matérias básicas de matemática.”; “Deveria
haver alguma preparação antes de começar a disciplina em si, por exemplo, em cálculo 1,
haver um pré-cálculo, pois muitas pessoas não possuem uma base boa do ensino médio e
acabam "sofrendo" na disciplina.”; “Programas de tutoria.”; “Implantação de disciplinas de
nivelamento no conhecimento básico dessas áreas.”
3 CONCLUSÃO

Foi visível, ao observar dentre as sugestões apresentadas pelos estudantes, que todas
elas possuem relação direta com a questão da qualidade da base do ensino proveniente do
ciclo fundamental e médio dos alunos. Também é preciso atentar-se ao fato de que esse
desnivelamento afeta principalmente estudantes que vieram da rede pública de ensino, tendo
em vista que 76,3% dos alunos que responderam o questionário estudaram durante toda ou em
maior parte da sua vida em escola pública.
A inserção na grade curricular do primeiro período de matérias “pré” talvez seja
umas das melhores soluções que podem ser apresentadas. Essa disciplinas proporcionam o
resgate de conteúdos esquecidos ou até mesmo que não foram vistos durante o ensino básico.
Isso oferece uma capacitação e nivelamento da turma, para que, quando, chegarem as
disciplinas abordadas, tenham conhecimento prévio o suficiente para a obtenção de um bom
desempenho. Algumas instituições de ensino superior já contam com a disciplina de pré-
cálculo no primeiro período da graduação, e isso vem gerando bons resultados.
Os sistemas de monitorias também citados já vem sendo aplicados no campus.
São ofertadas vagas para monitores, sendo algumas remuneradas com bolsas. No entanto,
devido a falta de recursos disponíveis, não é possível ofertar bolsas de monitoria remunerada
para todas as disciplinas em todos os períodos letivos. Vagas para monitoria voluntária
também vem sendo aplicadas, e estão trazendo bons resultados. O incentivo se dá pelo fato
que o estudante conta com horas complementares para executar essa tarefa. Esse sistema
beneficia tanto o aluno ao auxiliá-lo nas dificuldades apresentadas na matéria, quanto ao ao
monitor, que é ainda mais incentivado a estudar e relembrar conteúdos que talvez já tenham
sido esquecidos.
Todavia, todas essas possíveis soluções, discutidas para minimizar o tema
problematizado, são paliativas, visto que o problema está propenso a continuar ocorrendo se
de fato não for extinta as carências do ensino básico oferecido no Brasil.
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O Brasil é uma nação com enormes desigualdades sociais e econômicas, que


podem ser diminuídas se as desigualdades na educação forem erradicadas. A dessemelhança
entre o nível de ensino nos setores públicos e privados deve ser estreitada e a população de
classes mais desfavorecidas precisa ter acesso a ensino de qualidade. Essa é uma questão
complexa a ser tratada, porém é fato que incentivos e investimentos nesse setor devem ser
olhado como prioridade, sabendo que ele é base para o crescimento do país.
Recentemente foi aprovada abertura do curso técnico em edificações integrado ao
ensino médio no campus Piumhi. Isso oferecerá ensino médio gratuito e de qualidade a
estudantes da cidade Piumhi e região, tendo em vista que os Institutos Federais estão entre as
instituições de ensino da rede pública com melhores índices de desempenho no ensino médio.
Essa pesquisa serviu como meio de crescimento à todos os estudantes envolvidos,
onde foi possível compreender com maior clareza as questões envolvidas no baixo
desempenho dos alunos na instituição . Apesar das carências na base proveniente do ciclo
básico de ensino ser o problema tratado como o maior responsável pela evasão e retenção no
curso de Engenharia Civil do Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Avançado Piumhi,
no decorrer do estudo e coleta de dados, notou-se que diversos fatores podem influenciar esse
problema ,sendo impossível afirmar que esse é o único responsável por esse fenômeno.
Para uma compreensão mais ampla do assunto problematizado, se faz necessária
uma análise mais profunda sobre o tema, mas certamente esse estudo foi uma grande
iniciativa para novas observações e discussões acerca de um planejamento de ações que
visem minimizar a retenção e evasão no curso de Engenharia de Civil do IFMG - Campus
Avançado Piumhi..

REFERÊNCIAS

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de Minas Gerais. 2009. 214 f. Dissertação de Pós-Graduação em Educação - Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 1975, 107 f. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1975.

Campello, A. V. C; Lins, L.N. Metodologia de Análise e Tratamento da Evasão e


Retenção em Cursos de Graduação de Instituições Federais de Ensino Superior. 2008, 13
13

f. Dissertação de Pesquisa - XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Rio de


Janeiro, 2008.

Villela , L. B; Condé, U. D. C. Disciplinas básicas do curso de Engenharia de Produção


como possível causa de retenção e evasão. 2018, 11 f. Dissertação de Pesquisa -
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018.

Rissi, M.C. ; Marcondes, M. A. S. (orgs). Estudo sobre a reprovação e retenção nos cursos
de graduação. 2009, 168 f . Relatório - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Índice de


Desenvolvimento da Educação Básica. 2018. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/>. Acesso em: 17 out. 2018.

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