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Meditação enquanto oração:

Definição:

Em sentido amplo, chamamos de meditação todo ato da inteligência pelo qual se busca
uma verdade de modo discursivo, isto é, por meio de raciocínios; contemplação, por
sua vez, é a visão admirada de alguma verdade.

Em sentido especial, enquanto Cristão, a meditação espiritual é o EXERCÍCIO DAS


POTÊNCIAS INTERIORES DA ALMA (inteligência, vontade e imaginação) no qual
REFLETIMOS SOBRE ALGUMA VERDADE RELIGIOSA, a fim de que A NOSSA VONTADE IRROMPA EM
AFETOS PIEDOSOS e formule assim determinações PRÁTICAS para uma vida cristã mais
perfeita
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Essa é a definição que dá às palavras o místico e filósofo Ricardo de São Vítor:
“Meditação é a estudiosa investigação de uma verdade oculta. Mas uma coisa é a
meditação, outra a contemplação. À meditação cabe perscrutar o que está oculto; à
contemplação, admirar o que foi descoberto” (De exterminio mali 2.1.15). Antes dele
já dissera o Pseudo-Agostinho: “Contemplação é a alegre admiração de uma verdade
perspícua” (De spiritu et anima 38), ou seja, feita evidente ou clara para a
inteligência.
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Diferença entre meditação e contemplação, enquanto exercícios espirituais:

Ora, à meditação e à contemplação, consideradas como exercícios espirituais para


progredir nas virtudes, devemos acrescentar ainda o papel correspondente à vontade,
e assim completamos suas respectivas definições: a meditação espiritual é o
exercício das potências interiores da alma (inteligência, vontade e imaginação) no
qual refletimos sobre alguma verdade religiosa, a fim de que a nossa vontade
irrompa em afetos piedosos e formule assim determinações práticas para uma vida
cristã mais perfeita; (COMO JÁ FOI DITO)

a contemplação, por outro lado, é o exercício da inteligência pelo qual, de modo


intuitivo e sem discurso, admiramos alguma verdade revelada, de forma que a vontade
irrompe em afetos intensos em direção à Deus.

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Diferença de meditação e contemplação para Oração (que é gênero destas):

A diferença essencial e específica entre elas está no ato da inteligência, que é


discursivo na primeira, e intuitivo na segunda. Ambas diferem da oração em geral,
na medida em que esta, em si mesma, dispensa considerações de ordem intelectual, ao
passo que aquelas não exigem necessariamente pedidos e preces, ainda que estas
eventualmente as acompanhem (F. Naval, Theologiæ Asceticæ et Mysticæ Cursus. 2.ª
ed., Turim: Marietti, 1925, p. 70s, n. 58).

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ADIÇÃO A DEFINIÇÃO DE MEDITAÇÃO:

Em outras palavras, a meditação nada mais é do que a consideração piedosa e


afetuosa das coisas divinas, pela qual somos movidos a louvar a Deus, a imitar as
virtudes de Cristo e dos santos, a abraçar o que é bom e a fugir ao que é mal. Diz-
se afetuosa porque consiste menos na ação da inteligência que no afeto da vontade,
na medida em que o seu objetivo é provocar-nos a amar a Deus, odiar o pecado,
desprezar as coisas caducas deste mundo etc.

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Aparece na Bíblia? Sim.

Eis por que Davi, muito exercitado neste gênero de oração, dizia: No decorrer da
minha reflexão, um fogo se ateou (Sl 38,4), quer dizer, surgiu em sua alma um
fervor e prontidão para fugir ao que é mau e seguir o que é bom, para desprezar o
que é temporal e buscar o que é eterno.

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Observação:

— Ao falarem dos graus de oração na via ascética, ou purgativa, os autores


espirituais costumam distinguir entre: 1.º a oração vocal, assim chamada não porque
se reze com os lábios (pode ser feita interiormente, em silêncio), mas porque
consiste em recitar com atenção alguma fórmula preestabelecida, sem que haja, ao
menos de regra, alguma consideração mais profunda do que se diz ou se pensa; 2.º a
meditação, também chamada oração discursiva ou mental, definida anteriormente; e
3.º a contemplação ativa, ou oração de simplicidade, identificado por alguns com a
oração afetiva.

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Quais são suas partes? Ou seja, como realizar?

São quatro as partes da meditação: 1) preparação, 2) representação, 3) consideração


e 4) colóquio e propósito, que convém terminar com alguma petição.

1) A preparação necessária para meditar é tripla: remota, que é uma vida de luta
habitual contra o pecado e de esforço para dedicar-se, segundo as próprias
possibilidades, à perfeição cristã (afinal, quem faz do pecado uma vocação e vive
voltado só para as coisas do mundo não está em condições de elevar-se para
considerar as verdades da fé ou para falar a Deus com intimidade); próxima, que é
ler na noite anterior os pontos que se pretende meditar no dia seguinte (de
preferência pela manhã, recomendam os autores) e afastar da mente as preocupações
com cuidados e necessidades temporais (o espírito deve estar tranquilo e em paz
para poder refletir adequadamente); e imediata, que consiste em alguns atos para
bem dispor o corpo e a alma (por exemplo, traçar o sinal da cruz; rezar com calma
um Pai-nosso e uma Ave-Maria; fazer um ato de fé divina na presença de Deus, a quem
devemos tratar ali como um “tu” próximo e amável, não como um “ele” distante e
impessoal; de joelhos, adorá-lo humildemente e pedir-lhe a graça de realizar esse
santo exercício; implorar o patrocínio da Virgem Maria e dos santos).

RESUMO:

Remota - Dedicar a vida a uma luta contra imperfeições e pecado, desejar a


perfeição cristã.
Próxima - Ler os pontos a serem meditados na noite anterior e pela manhã meditar
sobre.
Imediata - Rezar com calma antes e se por na presença de Deus e pedir humildemente
a ajuda dos celestes.
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2) A representação não é mais do que o uso da imaginação, pela qual buscamos
representar mentalmente os pontos a serem meditados. É como se tivéssemos diante
dos olhos o lugar, as pessoas e ações expressas numa cena do Evangelho ou num
determinado mistério. Assim, por exemplo, se formos meditar sobre a crucificação,
podemos imaginar o monte Calvário, Cristo sendo pregado na cruz, a multidão de
homens que assiste àquele cruel espetáculo etc. Se formos meditar sobre a morte,
podemos imaginar-nos no leito, pálidos e moribundos, e assim por diante. O objetivo
da representação é, por um lado, evitar as distrações e, por outro, estimular a
vontade a ter afetos de arrependimento, de compaixão, de temor etc. A representação
não é, portanto, a finalidade da meditação, mas um meio para alcançá-la; por isso,
não precisa (nem deve) durar todo o tempo da meditação, mas somente o necessário
para que o fiel experimente movimentos interiores de amor, penitência, alegria etc.

RESUMO: Imaginar o mistério com bastante detalhes, olhar para ele e estimular a
vontade naquele objeto em particular para incitar o amor.

3) A consideração, que é como que o “corpo” da meditação, é o ato da inteligência


pelo qual ponderamos atentamente tudo o que está contido em cada ponto a ser
meditado, com o desejo e a intenção de colher dali algum fruto espiritual. É mais
fácil discorrer sobre as circunstâncias de uma cena ou mistério. Se, por exemplo,
formos meditar sobre a Paixão de Cristo, podemos considerar: Quem sofre? O Filho de
Deus, criador do céu e da terra. O que sofre? As maiores dores que jamais houve.
Como sofre? Pregado a um madeiro, com os membros todos chagados. Por quem sofre?
Por mim, criatura indigna e ingrata. Por que sofre? Para me salvar da condenação
eterna, e assim por diante.

RESUMO: Detalhar aquele mistério e focar sua inteligência naquilo. Por exemplo, a
crucificação: Quem sofre? Por quem? Como sofre? O quanto sofre? Para que?

4) Por fim, temos o colóquio. Tendo ponderado cuidadosamente a matéria de cada


ponto (ou daquele que mais nos chamou a atenção) e estimulado a vontade a realizar
atos de amor, de arrependimento ou de algum outro afeto, devemos falar a Deus a
esse respeito, como quem fala a um Senhor que é também Amigo. Embora a oração de
petição não seja essencial à meditação, como esta não será completa se não se
traduzir em algum propósito concreto, relacionado (de preferência) com o tema
meditado, convém concluir este piedoso exercício com algum pedido (por exemplo,
luzes e contrição para fazer bem a próxima confissão, paciência para suportar
cristãmente uma dificuldade, graças para progredir numa determinada virtude etc.).

RESUMO: Estimulada a vontade pelo foco da inteligência, transmute essa vontade em


atos práticos de amor, arrependimento. Fale com Deus a respeito disso, traduza em
algum propósito concreto os frutos da meditação.
Se possível, peça a Deus algo, como suportar uma dificuldade, luzes ou progredir em
alguma virtude.

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