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Emergência étnica e ruralidades no cariri paraibano:

a experiência da comunidade quilombola


Sítio Cantinho de São João Batista – Paraíba/Brasil

SOUZA, Wallace Gomes Ferreira


ALVES, Beatriz da Silva
SIQUEIRA, Gleicilene da Silva
FARIAS, Vinicios Matheus dos Santos

RESUMO: Os territórios das comunidades remanescentes de quilombos no


Brasil são caracterizados por uma experiência sócio-histórica definida a partir de
uma ancestralidade negra, logo, o território deve ser pensado como produto
socio temporal do trabalho humano. Dentro desta mesma lógica, a identidade
cultural desses grupos não são heranças sanguíneas, mas se constrói por
modos de vida que são históricos, dinâmicos e complexos, dentre estes, a luta
por acesso a direitos sociais, a exemplo do direito ao território, que teve seu
marco no Brasil com o decreto 4.887 de 20 de novembro de 2003, que busca
regulamentar o Art. 68 da ADCT – Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias, bem como, na luta por segurança alimentar, educação, lazer,
acesso a água e saúde. A comunidade quilombola Sítio Cantinho de São João
Batista está localizado em pleno semiárido nordestino no munícipio de Serra
Branca, no estado da Paraíba/Brasil. Destacamos que o semiárido brasileiro é
um dos semiáridos mais povoados do mundo, e particularmente com uma
presença de comunidades negras rurais, muitas em processos de articulação
socio políticas e emergência étnica que se caracteriza por um processo de
autodefinição histórica como comunidades remanescentes de quilombos. O
quilombo Cantinho possui uma história de fundação atrelada ao processo de
concentração fundiária. Srº Severino Moreno, liderança da comunidade, nos
relatou um dos mitos de fundação da comunidade, que segundo relatos orais se
originou no período escravocrata, surgindo, pelo abandono das pessoas
escravizadas que tornavam-se “inúteis” para esses senhores, uns pela idade já
avançada e outros por mutilações ocasionadas pelas violências físicas da
escravidão. Os sujeitos escravizados eram mandados para o ‘cantinho’, uma das
extremidades da antiga Fazenda Serra Branca, latifúndio que se liga a história
de ocupação do território do cariri paraibano e a família Oliveira Lêdo, famosa
pelo domínio de grandes extensões territoriais na Paraíba. A comunidade tem
na agricultura familiar o principal meio de subsistência das famílias, 67% dos
moradores fazem uso da terra para o cultivo de milho, feijão, fava, melancia e
jerimum e 11% divide as práticas da agricultura com a extração de madeira. No
tocante a renda, constatamos que 54% das famílias que vivem na comunidade
têm uma renda mensal entre 780,00 até 1.300 reais, na composição dessa renda
familiar a aposentadoria rural corresponde a 21%. Em relação as condições de
acesso à educação formal e o grau de escolaridade da população um percentual
muito pequeno chega ao ensino médio e ao ensino superior. Os dados da
pesquisa foram levantados a partir de diário de campo e questionários
censitários. Concluímos reafirmando que o território é a chave que aciona a
emergência de um sentimento de pertença, fundamental na construção da
identidade étnica. Os sujeitos se pensam inicialmente como pertencentes a um
lugar, onde seus avos, pais e ele mesmo com seus filhos vivem, deste modo, um
grupo étnico é uma comunidade política-organizacional produzida a partir de
certas interações sociais que possuem um caráter dinâmico, dando forma as
muitas ruralidades na sociedade brasileira.

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