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Trabalho de Direito Civil I

(Fertilização in Vitro)

Trabalho para créditos na disciplina de


Direito Civil I, do 3º Semestre
matutino do curso de Direito da
Universidade Salgado de Oliveira,
ministrada pela professora Dra.
Claudete Kramel, apresentado pelo
aluno Fabio Montalvão Silva Miranda
1 - Aspectos legais do tratamento de Fertilização in Vitro

1.1 – Esclarecimentos científicos do tratamento

Antes de entrarmos no aspecto jurídico que aborda o direito ao uso da


técnica da Fertilização in Vitro como tratamento à infertilidade, é necessário
termos um entendimento mínimo sobre quais são as alternativas que pacientes
acometidos de problemas da saúde ligados a fertilidade têm a sua disposição.
E também, o que, de fato, é a fertilização in vitro.

Segundo o site www.gineco.com.br , a infertilidade atinge até 15% dos


casais no mundo todo. O problema acontece quando a mulher não consegue
engravidar após um ano ou mais de tentativa com atividade sexual regular e
sem o uso de contraceptivos. Embora existam tratamentos da infertilidade, é
muito importante que sejam feitos somente após aconselhamento médico
criterioso, para evitar gerar expectativas e frustrações no casal.

O referido site ainda nos dá uma lista desses principais tratamentos de


infertilidade, que, associando com outros listados pelo site www.scielo.br, são:

A reversão de vasectomia; tratamento da varicocele; Inseminação


intrauterina; Indução da ovulação; Transferência intratubária de gametas; ICSI
(injeção introcitoplasmática de espermatozoide); Fertilização In Vitro (FIV).

É justamente esse último que interessa nos debruçarmos e iremos


explica-lo melhor, trazendo a explicação técnica-científica do renomado
Hospital Sírio-Libanês:

Fertilização in vitro – Reprodução Humana

Técnica também conhecida como "bebê de proveta", a fertilização in


vitro (FIV) é um processo em que a fertilização do óvulo com espermatozoide é
feita em laboratório. Os espermatozoides, com os óvulos, são colocados numa
cultura especialmente preparada e mantida em condições ideais de
temperatura em ambiente que simula as trompas. Se o processo evoluir
favoravelmente, os pré-embriões são transferidos para o útero da mãe.

Além da FIV convencional, existe a técnica conhecida como ICSI (da


sigla em inglês intra cytoplasmic sperm injection), em que o espermatozoide é
injetado dentro do óvulo. Essa opção costuma ser adotada quando se sabe,
previamente, que o espermatozoide não consegue fertilizar o óvulo por conta
própria.

O processo de fertilização consiste em três etapas que acontecem em


aproximadamente 15 dias:
Indução da ovulação – Os ovários são estimulados por medicações
habitualmente administradas por via subcutânea. Durante a indução, é
realizado o acompanhamento ultrassonográfico do crescimento dos folículos,
as bolsinhas que contêm os óvulos. Quando atingirem aproximadamente 18
milímetros, os óvulos estarão maduros e é, então, programada a coleta de
óvulos.

Coleta de óvulos – É o procedimento de aspiração dos folículos para captação


dos óvulos. Ocorre dentro do centro cirúrgico do Hospital Dia do Sírio-Libanês,
onde fica o laboratório de reprodução humana. A paciente é sedada e uma
agulha, guiada por ultrassom, é introduzida no interior dos ovários, por via
vaginal, para que os óvulos sejam captados. O procedimento dura
aproximadamente 20 minutos e a paciente recebe alta no mesmo dia.

Transferência embrionária – É a transferência de embriões para o interior do


útero da mulher, realizada após dois a cinco dias de desenvolvimento
embrionário in vitro. Ocorre também no centro cirúrgico, porém não requer
anestesia.

Para complementar nosso entendimento sobre o tema biológico da


Fertilização in Vitro, acrescentamos aqui as explicações do Dr. Fábio Eugênio,
especialista em Medicina Reprodutiva:

A Fertilização in Vitro (FIV) é um tratamento de alta eficácia indicado


para casos mais avançados de infertilidade. Assim, são realizados
especialmente onde a idade da mulher é superior a 35 anos e não teria bons
resultados se recorresse à inseminação intrauterina, por conta do
envelhecimento dos óvulos. Além disso, outras indicações clássicas são a
obstrução nas trompas, ou alterações do sêmen no espermograma.

Contando com a estimulação, a fecundação in vitro, a implantação dos


embriões e o exame que detectará o sucesso ou não do procedimento, a
Fertilização in Vitro costuma durar em torno de 25 dias.

Só para ilustrar, os custos da FIV variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

Normalmente a técnica é utilizada para casais em que a mulher tenha


problemas nas trompas ou endometriose, o que pode dificultar a chegada dos
espermatozoides até o óvulo. Também pode ser feita em casos de problemas
na produção de gametas no homem.

O uso dos medicamentos para indução de ovulação é contraindicado


em alguns casos. Entre eles, mulheres com carcinoma ovariano, uterino ou
mamário e tumores do hipotálamo ou da glândula pituitária.
1.2 – Apresentação do cenário de Impasse entre o tratamento e as normas
legais

Feita essa introdução científica detalhada sobre o que é a Fertilização


in Vitro, para que serve, seus processos, entre tantos outros detalhes, nos
ocuparemos a seguir de buscar as fundamentações jurídicas que pessoas,
casais ou não, se utilizam para conseguirem que os seus tratamentos,
utilizando-se dessa técnica (FIV) seja fornecida sem a necessidade de que eles
tenham que custeá-las, pois como vimos são valores altos, muito fora da
realidade da maioria de nossa população. Além das bases jurídicas que
baseiam as demandas, apresentaremos também algumas decisões já
proferidas no Sistema Jurídico Brasileiro acerca dessa matéria.

Antes ainda de adentrarmos nas exposições dos textos normativos de


nosso Sistema Jurídico no tocante ao escopo da reprodução humana, há de se
explicar o motivo de, o tratamento de saúde em questão, está sendo aqui
abordado com a proposta de apresentar um olhar de caráter legal sobre ele.
Acontece que, como será evidenciado logo abaixo, a Legislação Brasileira
garante o direito ao Planejamento Familiar, tanto para a concepção como para
a contracepção, inclusive o custeio desse tratamento. Todavia não há textos
legais que determinem especificamente os nomes dos tratamentos que devem
ser garantidos para a Reprodução Humana Assistida.

Desta forma, há algum tempo o SUS – Sistema Único de Saúde, do


Governo Federal, não tinha o tratamento de fertilização in Vitro listado como
um dos procedimentos de saúde cobertos pelo mesmo. Hoje já é possível fazer
este tratamento diretamente pela Regulação do SUS. Entretanto poucas
pessoas que necessitam dele têm conhecimento desse direito.

Mas o maior impasse até hoje é em relação aos Planos de Saúde


particulares. Ocorre que eles têm por obrigação prestar a cobertura de todos os
procedimentos listados pela a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar,
agência reguladora desses planos, que é ligada ao Ministério da Saúde, no
entanto, como poderá ser visto nas imagens mais abaixo, nas Figuras: 1, 1.1 e
1.2, a Fertilização in Vitro, não se encontra no rol de procedimentos
obrigatórios de cobertura pelos planos privados de saúde. Aliado a isso, muitos
desses planos acabam colocando cláusulas em seus contratos de prestação de
serviços ao consumidor de que esse e outros tratamentos não são cobertos, se
apegando nessas duas situações para se respaldarem na negativa a este tipo
específico de tratamento.

No entanto, as doenças de infertilidade são descritas pela OMS –


Organização Mundial de Saúde, constando no CID – Código Internacional de
Doenças, utilizado em nosso sistema de saúde, como pode ser verificado na
imagem da Figura 2. Há portanto, argumentos jurídicos que se refutar a tratar
doenças conhecidas e legalmente reguladas é um desrespeito ao direito
fundamental da Dignidade da Pessoa Humana.

Além do mais, existem diversas jurisprudências, mesmo que ainda não


sendo Súmulas Vinculantes, que constantemente têm dado ganhos de causa
aos cidadãos, detentores desse direito constitucional. As decisões vêm sendo
dadas tanto favoráveis, quando o pedido é do consumidor, pessoa física,
quanto desfavorável quando a arguição vem por parte dos planos de saúde,
como exposto na Figura 3, que traz um exemplo de sentença no AgInt no
AREsp 1247888 MS 2018/0033311-2.

Dispositivos legais que fundamentam o custeio, por parte do Governo


Federal, nos tratamentos científicos de saúde para a Reprodução Humana
(Concepção), que integra normativamente o Planejamento Familiar:

Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana;

[...]

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:

[...]

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única


ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

[...]

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

[...]

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da


paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas. Regulamento

Código Civil – Lei 10406/02

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a


condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família.

[...]

§ 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao


Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse
direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou
públicas.

Lei 9263/96 (Regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do


planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências.):

Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o


disposto nesta Lei.

Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o


conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de
constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo
casal.

[...]

Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de


atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento
global e integral à saúde.

Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em


todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a
garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher,
ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os
seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras:

I - a assistência à concepção e contracepção;

[...]
Art. 4º O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e
educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos
e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade.

Parágrafo único - O Sistema Único de Saúde promoverá o treinamento


de recursos humanos, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando
a promoção de ações de atendimento à saúde reprodutiva.

Art. 5º - É dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde, em


associação, no que couber, às instâncias componentes do sistema
educacional, promover condições e recursos informativos, educacionais,
técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do planejamento familiar.

Art. 6º As ações de planejamento familiar serão exercidas pelas


instituições públicas e privadas, filantrópicas ou não, nos termos desta Lei e
das normas de funcionamento e mecanismos de fiscalização estabelecidos
pelas instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde.

[...]

Art. 9º Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão


oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção
cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das
pessoas, garantida a liberdade de opção.

Parágrafo único. A prescrição a que se refere o caput só poderá ocorrer


mediante avaliação e acompanhamento clínico e com informação sobre os
seus riscos, vantagens, desvantagens e eficácia.

Lei 9656/98: (Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à


saúde):

Art. 35-C. É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos:

III - de planejamento familiar. (Incluído pela Lei nº 11.935, de


2009)
ANEXOS

ANS:

Figura 1

Figura 1.1

Figura 1.2
CID – Código Internacional de Doenças:

Figura 2

STJ – Superior Tribunal de Justiça

Figura 3.
REFERÊNCIAS:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
72032007000200008 – acessado em 04/12/2019.

https://www.gineco.com.br/saude-feminina/infertilidade/tratamento-da-
infertilidade/ - acessado em 04/12/2019.

https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/especialidades/centro-
reproducao-humana/Paginas/reproducao-humana-fertilizacao-in-vitro.aspx –
acessado em 04/12/2019.

https://medicinareprodutiva.com.br/fertilizacao-in-vitro/dez-coisas-que-voce-
precisa-saber-antes-de-fazer-uma-fiv/ - acessado em 04/12/2019.

http://www.ans.gov.br/planos-de-saude-e-operadoras/espaco-do-
consumidor/verificar-cobertura-de-plano – acessado em 04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm (Constituição
da República Federativa do Brasil) – acessado em 04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9656.htm – acessado em 04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11935.htm –
acessado em 04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9263.htm – acessado em
04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9961.htm – acessado em 04/12/2019.

https://www.medicinanet.com.br/pesquisa/cid10/nome/infertilidade.htm –
acessado em 04/12/2019.

https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/661791411/agravo-interno-no-agravo-
em-recurso-especial-agint-no-aresp-1247888-ms-2018-0033311-2?ref=serp –
acessado em 04/12/2019.

https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/569854154/re-no-recurso-especial-re-
no-resp-1692179-sp-2017-0203592-6?ref=serp – acessado em 04/12/2019.

https://jus.com.br/artigos/43037/o-direito-a-reproducao-assistida-pelos-
segurados-de-planos-de-saude-nos-casos-de-infertilidade – acessado em
04/12/2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm – acessado em
04/12/2019.

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