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XLIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

"A contribuição da engenharia de produção para desenvolvimento sustentável


das organizações: Cadeias Circulares, sustentabilidade e tecnologias"
Fortaleza, Ceará, Brasil, 17 a 20 de outubro de 2023.

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: AS
CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA CENTELHA
Letícia Daré Silva (IFES)

Érika de Andrade Silva Leal (IFES)

Erivelto Fioresi de Sousa (IFES)

Guilherme Guilhermino Neto (IFES)

O Programa Centelha, executado pela Financiadora de Estudos e


Projetos (Finep) em parceria com as Fundações de Amparo à Pesquisa
e Inovação (Fap´s) estaduais, tem o propósito de estimular a criação de
empreendimentos inovadores, a partir da geração de novas ideias. Em
2020, o Espírito Santo apoiou a criação de 53 novas startups no âmbito
desse programa. O presente artigo tem como objetivo avaliar as
contribuições do programa Centelha para os 17 Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em termos metodológicos,
realizou-se um levantamento e classificação dos 53 projetos em relação
à aderência aos 17 ODS. Nossos principais achados mostraram que os
projetos apoiados no âmbito do Programa Centelha estão alinhados a
pelo menos 12 dos 17 ODS, com destaque para o ODS 9 - Indústria,
Inovação e Infraestrutura.

Palavras-chave: Programa Centelha; 17 Objetivos do Desenvolvimento


Sustentável, Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente, ODS,
Sustentabilidade.
XLIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
"A contribuição da engenharia de produção para desenvolvimento sustentável
das organizações: Cadeias Circulares, sustentabilidade e tecnologias"
Fortaleza, Ceará, Brasil, 17 a 20 de outubro de 2023.

1. Introdução
Ao longo da história, com os avanços da exploração dos recursos ambientais, sem a plena
consciência e monitoramento das consequências que tais atos poderiam acarretar, o homem
passou a retirar mais recursos da natureza do que ela seria capaz de “suportar”. Entretanto, com
a chegada do século XIX os problemas ambientais com relação ao uso excessivo dos recursos
naturais começaram a se agravar, pois com o aumento exponencial da população e o início da
Revolução Industrial o meio ambiente passou a ser afetado de forma bem mais intensa,
agressiva e irreversível que anteriormente (Passos, 2009).
De acordo com Passos (2009), a partir dessa perspectiva, a proteção do meio ambiente passou
a ser uma das bases que fundamentam a nova ordem nacional, sendo assim, a preocupação com
relação aos problemas ambientais envolve tanto os países desenvolvidos como os em
desenvolvimento, tornando necessária uma cooperação entre todas as Nações.
Tendo isso em vista, os Governos, em todo mundo, precisam estar comprometidos em
direcionar os recursos disponíveis para o financiamento de projetos que estejam em
consonância com a sustentabilidade expressa nos 17 Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima
e garantir que as pessoas em todos os lugares desfrutem de paz e prosperidade) que são
considerados nos Planos Nacionais de Desenvolvimento.
Chimhowu et al. (2019) destacaram que atualmente mais de 80% da população mundial vive
em economias que possuem algum plano nacional de desenvolvimento, percentual acima do
encontrado pelo Relatório do Banco Mundial elaborado em 2006, que afirmava que 62 países
no mundo possuíam planos de desenvolvimento naquele ano. Os autores mostraram que esse
ressurgimento dos planos de desenvolvimento, em parte pode ser explicado pela necessidade
de coordenação de atividades que levem os países a alcançarem os 17 ODS preconizado pelas
Nações Unidas. Ademais, parece haver um reconhecimento por parte dos policy-makers de que
as forças de mercado não podem coordenar as atividades que levam ao desenvolvimento e a
transformações estruturais (CHIMHOWU ET AL., 2019).
Nesse cenário, um desafio para os Governos é garantir que os projetos que são financiados com
recursos públicos venham colaborar para o alcance dos 17 ODS. Esse artigo pretende contribuir
para cobrir, ainda que parcialmente essa lacuna, no tocante à avaliação do financiamento de
projetos de inovação a título da subvenção econômica à inovação, que são recursos não
reembolsáveis repassados para as empresas realizarem atividades inovadoras.

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Este artigo tem como objetivo avaliar as contribuições do Programa Centelha para os 17
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Centelha é um programa, financiado com
recursos da subvenção econômica à inovação, que busca incentivar a criação de
empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora (CENTELHA, 2022).
Serão avaliados os projetos oriundos do Programa executado no estado do Espírito Santo. A
escolha por avaliar projetos desse estado se justifica pelo fato de ser o estado que se destacou
no Brasil na execução do programa, como pode ser visto em Centelha (2022).
Para tanto, o artigo está estruturado da seguinte forma. No item 2, a seguir, apresentamos o
referencial teórico construído a partir de uma revisão bibliográfica da literatura, trazendo como
referencial teórico um estudo desde a Conferência de Estocolmo até o surgimento dos 17
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável durante a Rio+20. No item 3, apresentamos os
procedimentos metodológicos que consiste em detalhar como foi realizado o levantamento dos
projetos aprovados no programa do Centelha e a classificação de cada um deles de acordo com
os 17 ODS. No item 4 apresentamos os resultados, e, por fim, no item 5 tem-se as considerações
finais do artigo.

2. Da Conferência de Estocolmo ao surgimento dos 17 ODS


Pode-se definir a sustentabilidade como sendo a capacidade de se sustentar, isso ocorre através
da prática de um desenvolvimento sustentável, o qual pode ser definido como um projeto que
“atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades” (Comissão mundial sobre meio ambiente e
desenvolvimento, 1991, p. 46). De acordo com Mikhailova (2004),

Há ainda 30 anos atrás os economistas estavam pouco preocupados com o meio


ambiente e o desenvolvimento sustentável, pois, esperava-se que a humanidade
fosse(ia) entrar no século dourado através do progresso tecnológico. Mas logo depois
surgiu a consciência de que os problemas ambientais já haviam atingido um tal grau de
tensão, que representavam um verdadeiro desafio à sobrevivência da humanidade. Isso
contribuiu para o desenvolvimento mais rápido dos estudos relacionados com o
conceito da sustentabilidade e de medidas de desenvolvimento sustentável.
(MIKHAILOVA, 2004, p. 26)

A Conferência de Estocolmo foi um marco importante na ecopolítica mundial, sendo


reconhecida por tentar melhorar a relação “Homem X Meio Ambiente” e por buscar um
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a redução da degradação ambiental.

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De acordo com Passos (2009, p. 12), a Conferência de Estocolmo foi o ponto de partida para a
conscientização do ser humano para preservar e melhorar o meio ambiente, sendo caracterizada
pelo despertar da consciência das nações com relação a essa realidade.
A partir da década de 1970 os debates sobre a preservação ambiental se ampliaram. Dessa
forma, o Clube de Roma – grupo de pessoas prestigiadas que se reúnem para debater um vasto
conjunto de assuntos relacionados a política, economia internacional e, sobretudo, ao meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável – emitiu um alarde sobre um futuro sombrio para os
países industrializados e para os que estavam em processo de industrialização, caso estes
continuassem a explorar os recursos ambientais de forma acelerada (Sobrinho, 2008, p. 86).
De acordo com Sobrinho (2008, p. 87), após a realização da Conferência de Estocolmo e da
realização das Teses do Clube de Roma, surgiu uma proposta de um novo modelo de
desenvolvimento, o qual precisaria levar em conta a preservação ambiental, ao mesmo tempo
em que buscava permitir o desenvolvimento dos países. Sendo assim, em 1973, Maurice Strong
surgiu com a ideia de um desenvolvimento sustentável (Ecodesenvolvimento). Entretanto, foi
Ignacy Sachs quem reformulou os princípios básicos dessa nova visão, a qual destacava seis
diretrizes que as políticas de desenvolvimento sustentável precisavam seguir, sendo elas:

[...] a) a satisfação das necessidades básicas; b) a solidariedade com as futuras


gerações; c) a participação da população envolvida; d) a preservação dos recursos
naturais e do meio ambiente em geral; e) elaboração de um sistema social garantindo
emprego, segurança social e respeito a outras culturas, e f) programas de educação.
(BRÜZEKE, 1993, p. 10)

Anos mais tarde, em 1987, realizou-se a Reunião da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, o qual teve como resultado a criação do documento “Nosso Futuro
Comum”, também conhecido como “Relatório de Brundtland”, o qual “[...] parte de uma visão
complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade global”
(Brüzeke, 1993, p. 7).
Cinco anos mais tarde, em julho de 1992, foi realizada, no Rio de Janeiro, a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 ou
Rio-92, a qual foi uma grande reunião destinada às discussões sobre a problemática ambiental,
além de ter sido a primeira de grande magnitude a acontecer após o término da Guerra Fria.
Esta reunião realizou a introdução do conceito do Desenvolvimento Sustentável na política
mundial. Segundo Machado (2005, p. 293), “Os compromissos firmados como resultado da

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Conferência incluem duas convenções, uma sobre Mudanças Climáticas e outra sobre a
Biodiversidade e o documento Declaração sobre Florestas”. Além disso, também se produziu
outros dois documentos de natureza política, nos quais não foram firmados compromissos, mas
sim estabelecidas diretrizes amplas e abrangentes que deveriam ser, futuramente,
implementadas pelos países membros, sendo estas: a “Declaração do Rio” e a “Agenda 21”
(Machado, 2005, p. 294).
A “Declaração do Rio” abordou os principais temas debatidos na Conferência, nela estão
estabelecidas as diretrizes mais gerais que deveriam pautar a necessidade de equacionar as
estreitas relações do desenvolvimento e meio ambiente, visando à construção do
desenvolvimento sustentável (Machado, 2005, p. 295).
Já a “Agenda 21” estabeleceu as diretrizes e referências para a implementação de políticas e
programas voltados para quatro áreas principais – Relações Econômicas e Sociais; Manejo e
Conservação dos Recursos para o Desenvolvimento; Fortalecimento do Papel dos Grupos
Sociais; e Meios de Implementação das diretrizes propostas (Machado, 2005, p. 296).
Em setembro de 2000, em Nova York, na sede das Nações Unidas, realizou-se a “Assembleia
do Milênio”, reunião em que governantes de vários países se uniram em um compromisso para
a campanha da paz, combate a erradicação da pobreza, promoção do desenvolvimento humano,
proteção ao ambiente comum, direitos humanos e democracia, os quais se tornaram conhecidos
como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) (Oliveira, 2006, p. 16), definindo-se,
assim, 8 objetivos com a meta de serem alcançados até o ano de 2015.
Carvalho & Barcellos (2014, p. 225) afirmam que “muitos países em desenvolvimento desenharam
estratégias nacionais de desenvolvimento explicitamente orientadas para atingir as metas dos
ODM e colocaram esses objetivos entre suas prioridades nacionais”.
Dois anos após a Assembleia do Milênio, em 2002, na cidade de Joanesburgo, África do Sul,
foi efetuada a “Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável”, conhecida como
“Rio+10”. Esta conferência buscou reforçar os compromissos traçados em 1922, na Agenda 21,
além disso, teve como propósito a obtenção de um plano de ação factível.
De acordo com Diniz (2002),

“Entre os desafios expressos no documento, menciona-se a continuidade de diversos


problemas ambientais de caráter global. Destaca-se, pela primeira vez, os problemas
associados à globalização, pois os benefícios e os custos a ela associados estão
distribuídos desigualmente. Aponta-se até mesmo o risco de a pobreza gerar a

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desconfiança nos sistemas democráticos, o que poderia provocar o surgimento de


sistemas ditatoriais.” (DINIZ, 2002, p. 33)

A partir dos estudos de Diniz (2002), percebe-se que a Rio+10 foi marcada pelo destaque dado
aos problemas gerados pela globalização, além de detalhar um plano de implementação que,
apesar de não conter metas quantitativas, introduz uma ação coletiva rumo à proteção ambiental
juntamente com o desenvolvimento social e econômico.
No ano de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, ocorreu a “Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável”, conhecida como Rio+20, a qual superou o número de
delegações oficiais da Rio-92, tornando-se a maior de todos os tempos. A Rio+20 teve como
objetivos superar as dificuldades encontradas nos anos anteriores, discussão da renovação do
compromisso político com o desenvolvimento sustentável e a avaliação do progresso ambiental.
Desse modo, diversos assuntos relevantes no cenário socioambiental foram debatidos nesse
momento, tais como as mudanças climáticas, as emissões de gases de efeito estufa e os
mecanismos para incentivar a Economia Verde (Pimenta & Nardelli, 2015, p. 1265).
Em vista dos estudos sobre a Rio+20, Oliveira (2018) diz que,

O legado imediato da Rio+20 ainda é difícil de mensurar, mas apoia-se em fatos como
o sucesso do desenvolvimento sustentável no meio empresarial, onde as empresas
adotam cada vez mais o meio ambiente como forma de obter lucros [...]. (OLIVEIRA,
2018, p. 359)

Logo, foi a partir da Rio+20 que as bases para a criação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) foram lançadas. Em setembro de 2015, as 193 nações aprovaram o
documento denominado “Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável”, o qual estabelece um conjunto de 17 objetivos e 169 metas a
serem alcançadas pelas nações até o ano de 2030. Este projeto, lançado pela ONU, busca
alcançar um futuro melhor e mais sustentável para todos, baseando-se em décadas de trabalho
dos países juntamente com a ONU, incluindo o Departamento de Assuntos Econômicos e
Sociais da ONU (Silva et al., 2018).
Os ODS referem-se a um conjunto de metas que visam a redução da pobreza, a promoção social
e a proteção ao meio ambiente, sendo que estas deverão servir como guia para os países em
suas obtenções de resultados específicos.

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Silva, Soares e Baptista (2018) citam um pouco sobre os 17 ODS e seus objetivos gerais, os
quais são trazidos no quadro abaixo (Figura 1).

Figura 1: Os 17 ODS

Fonte: Roma (2019)

Dos 17 ODS apresentados acima, os oito primeiros já estavam contidos nos ODM. Sendo assim,
foram idealizados mais nove objetivos visando estimular ações em cinco áreas prioritárias:
pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria.
Segundo Roma (2019),

O desafio maior que se apresenta no momento, portanto, é fazer com que os ODS e
suas respectivas metas se internalizem e se interiorizem, de fato, em nosso país,
permitindo que seu potencial de indutor do desenvolvimento sustentável realmente se
concretize e traga os benefícios almejados para a nossa sociedade, no horizonte
temporal de 2030. (ROMA, 2019, p. 39)

Logo, ainda temos um longo caminho a ser percorrido para que, de fato, consigamos colocar
em prática, de maneira íntegra, os 17 ODS que foram estabelecidos pela Assembleia Geral das
Nações Unidas. Entretanto, muitas organizações já começaram a incorporar, em seus novos
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projetos, ações que buscam obter uma melhor relação com o meio ambiente e a integração com
a sociedade. Sendo assim, cada vez mais os indicadores ODS precisam ser utilizados pelos
tomadores de decisão e gestores dos setores público/privado das empresas, a fim de se planejar
ações/causas e formular políticas públicas, visto que a adoção de indicadores ODS por estes é
de fundamental importância para garantir a evolução de suas produções e a aplicação das
observações e conclusões delas derivadas para o alcance efetivo dos objetivos trazidos na
Agenda 2030 (Kronemberger, 2019, p. 44).

3. Metodologia
Este trabalho foi elaborado conforme as etapas definidas na Figura 2.

Figura 2: Metodologia adotada para a elaboração do estudo

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Conforme apresentado no fluxograma da Figura 1, após a definição do objetivo da pesquisa,


procurou-se definir um conjunto de palavras-chaves, utilizadas isoladamente, que melhor
representasse o tema proposto para a criação do referencial teórico. Algumas palavras-chave
usadas foram: “Conferência de Estocolmo”; “Relatório Brundtland”; “Agenda 21”, Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio’; “Rio+10”; “Rio+20”; “17 Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável”. Foram feitas buscas em português no google acadêmico utilizando-se a
combinação das palavras-chave apresentadas. Na sequência, a partir da leitura dos resumos, os
artigos foram selecionados e realizou-se o referencial teórico a partir das pesquisas relacionadas
ao tema.
Para a realizar a avaliação da contribuição do Programa para o ODS, fez-se uma leitura de cada
um dos projetos aprovados no programa do Centelha e classificando-os em relação aos 17 ODS
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em que se verificou a aderência do projeto ao objetivo, sendo que um projeto pode contribuir
para mais de um ODS.

4. Resultados e discussões

4.1. Programa Centelha


O programa Centelha, cujo nome significa “fagulha”, surgiu no ano de 2019 com o intuito de
incentivar a criação e o desenvolvimento de empreendimentos inovadores, além de difundir a
cultura empreendedora no país, fazendo com que haja um maior apoio para o surgimento de
novas empresas no Brasil. É promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
(MCTI) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), juntamente com o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das
Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e Fundação CERTI (CENTELHA, 2022).
A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapes) lançou em 2019, no Espírito Santo (ES),
o Edital para a inscrição e submissão de ideias inovadoras desenvolvidas por pessoas físicas e
empresas. O Centelha Capixaba recebeu apoio de diversas instituições do Estado e obteve
destaque em diversos aspectos no Brasil, visto que obteve o primeiro lugar no país com relação
ao número de ideias submetidas. Além disso, o Espírito Santo foi o estado que forneceu apoio
financeiro para um maior número de startups, se comparado às outras regiões do país,
investindo R$ 3.1 milhões em 53 startups localizadas em 10 dos seus 78 municípios.
Durante a realização do programa, as empresas selecionadas receberam acesso a capacitações,
mentorias e apoio de uma rede de incubadoras existente no ES, sendo que, nas três fases do
programa, mais de 7.000 pessoas foram capacitadas em diversas atividades inovadoras no
estado.

4.2. Centelha e os 17 ODS


No ano de 2020, 53 projetos foram aprovados para receberem apoio financeiro para seu
desenvolvimento a partir de investimentos feitos pelo programa Centelha. Dentre esses
projetos, 10 estão inseridos na área de Computação, Robótica e Automação, 8 são da área da
Educação, 10 na área da Saúde, 19 estão na área de Serviços e 6 estão classificados na área de
Sustentabilidade.
Com a finalidade de relacionar cada projeto com os ODS, realizou-se uma classificação com
base nos resumos divulgados pelas empresas desenvolvedoras dos projetos com relação às

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ações e impactos que estes buscavam trazer para a sociedade em geral, é válido destacar que
um projeto pode estar relacionado a mais de um ODS. Desse modo, tornou-se possível
identificar que, dentre os 53 projetos, aproximadamente 86,79% deles se enquadraram dentro
do ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura), seguido pelo ODS 10 (Redução das
desigualdades) com aproximadamente 28,30% e em terceiro temos o ODS 3 (Boa saúde e bem-
estar) o qual está inserido em aproximadamente, 24,53% dos projetos.
Após a classificação, coletou-se os dados com relação ao valor destinado a cada um dos projetos
aprovados. A partir desses dados, foi possível encontrar qual o valor investido em ações
relacionadas com cada um dos 17 ODS (Figura 3). Logo, ao analisarmos os resultados,
identificou-se que o ODS 9 foi o que mais recebeu contribuição, seguido pelos ODS 10 e 3,
como esperado, visto que esses também foram os mais utilizados pelas empresas do programa
do Centelha. Entretanto, nota-se que os ODS 16 e 12 também se destacam entre os projetos que
receberam alto valor de investimento.

Figura 3: Investimentos destinados a cada um dos 17 ODS

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Dentre os 53 projetos aprovados, um caso destacado atualmente é o projeto Jade Autism


pertencente a Santa Clara Desenvolvimento de Software. Esta startup desenvolve softwares
para tablet, smartphone ou computador, os quais buscam estimular funções cognitivas de
crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Este projeto obteve destaque ao ser a
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grande vencedora do Web Summit Rio de 2023, o qual é considerado o maior evento de
tecnologia e inovação do mundo.
Com relação ao produto submetido e aprovado pelo Centelha, desenvolvido por neurologistas,
psicólogos e terapeutas, o Jade Autism é um aplicativo que oferece desenvolvimento cognitivo
para crianças e adolescentes com autismo, atraso no desenvolvimento e dificuldades de
aprendizagem. O App já foi utilizado por mais de 100 mil famílias em 179 países, sendo que,
no Brasil, cerca de 65 centros de tratamento voltados a crianças com deficiência e escolas
públicas usam a ferramenta.
Este projeto foi enquadrado nos ODS 3,4 e 9. Esse enquadramento só é possível a partir da
leitura pelo menos do resumo do projeto, pois a classificação das atividades econômicas da
empresa são todas voltadas para apenas o ODS 9.

5. Considerações finais
Com o aumento da exploração ambiental, o início da escassez de alguns recursos naturais e o
aumento da população, juntamente com o início da Revolução Industrial, o meio ambiente
passou a ser afetado de forma intensa e irreversível. Dessa forma, começou a surgir uma maior
consciência ambiental por parte da sociedade, logo esta passou a tomar novas iniciativas a fim
de buscar a preservação dos recursos naturais presentes no planeta, além de implementar
normas jurídicas específicas para a proteção do meio ambiente.
A história da Conferência de Estocolmo até o surgimento dos 17 ODS mostra a evolução do
conceito de desenvolvimento sustentável e a importância da conscientização ambiental em
escala global. Desde a década de 1970, líderes mundiais se reuniram várias vezes para discutir
e estabelecer planos de ação para proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento
sustentável.
A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, adotada em 2015, estabeleceu uma série
de objetivos ambiciosos para serem alcançados em nível global, como a erradicação da pobreza,
a promoção da energia limpa e a proteção da biodiversidade. Esses objetivos são um
compromisso global para tornar o mundo mais justo e sustentável, em vista disso, o mundo
passou a estar voltado para o cumprimento das metas estabelecidas nos 17 ODS.
Logo, a partir das informações coletadas por essa pesquisa é possível perceber que todos os
países devem trabalhar juntos para alcançar esses objetivos. Sendo assim, é necessário
promover a educação, conscientização e ações individuais e coletivas para proteger o meio

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ambiente e promover um mundo mais justo e sustentável, desse modo, a colaboração global é
fundamental para alcançar esses objetivos.
A partir dos resultados encontrados, pode-se perceber que o programa Centelha está voltado
para o incentivo do desenvolvimento de empresas com ideias inovadoras, as quais contribuem
para o alcance dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Sendo assim, torna-se evidente que o apoio a programas como o Centelha deve se difundir por
todos os países que buscam atingir as metas que visam a redução da pobreza, a promoção social
e a proteção ao meio ambiente, visto que estes trazem contribuições significativas para um
maior desenvolvimento sustentável da sociedade, integrando a população e gerando uma
melhor qualidade de vida para todos que dela fazem parte.

Referências

BRÜZEKE, F. J. O problema do desenvolvimento sustentável. 1993.

CARVALHO, P. G. M. DE; BARCELLOS, F. C. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio-ODM: Uma


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MACHADO, V. F et al. A produção do discurso do desenvolvimento sustentável: de Estocolmo à Rio-92.


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