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Empatia e Política: uma relação complicada

Oficina de Investigação Qualitativa e Quantitativa em Psicologia

Discentes:
Inês Leitão | up201904512
Joana Elisabete Borges Guimarães | up201807156
Luísa Francisca Andrade Gonçalves | up201807188
Maria Leonor Carvalho Teixeira | up201909732
Sara Bessa Montenegro | up201807129

Docentes:
Catarina Grande
Marisa Matias

Turma:
LP3C

2021/2022
I. Abstract

O presente estudo, cujos temas centrais são a política e a empatia, divide-se em duas
investigações: uma qualitativa e uma quantitativa. Na investigação qualitativa, procurámos
determinar de que modo os dirigentes políticos demonstram falta de empatia em debates e,
em particular, como a demonstram para com os moderadores - para tal, analisámos dois
debates políticos portugueses de 2022 (André Ventura versus Catarina Martins, e versus Inês
de Sousa Real). Na investigação quantitativa, por sua vez, averiguou-se se os níveis de
empatia e o género dos indivíduos influenciam o seu nível de apoio de legislações
progressistas, através da administração de um questionário e consequente análise estatística
dos resultados obtidos (testes t de student para amostras independentes). Concluímos,
respetivamente, que as principais expressões de falta de empatia são do tipo linguístico,
ocorrendo com maior frequência o denegrir (18) e a ironia (14); e que não existem diferenças
significativas, no que toca ao apoio de legislações progressistas, entre indivíduos com baixo e
alto nível de empatia, ou entre homens e mulheres. Os nossos resultados devem, contudo, ser
analisados à luz das suas limitações, sendo necessárias investigações futuras. Isto é
particularmente evidente para a relação entre o género e o apoio de legislações progressistas,
tema sobre o qual a literatura existente é escassa.

Palavras chave: Política, Empatia, Debates e Legislações progressistas.

II. Enquadramento Conceptual

Objetivo global da investigação

A política é definida no dicionário Oxford como o conjunto de atividades associadas à


governação de um país ou área, nomeadamente o debate entre partidos que pretendem estar
no poder. O voto político do eleitor deverá surgir, então, como determinante no modo como
os diferentes países são governados e na escolha das legislações que estão em vigor nos
mesmos.
Relevante para a escolha do eleitor sobre em que partido votar, é o debate político. O
primeiro debate de que há registo ocorreu em 1960, nos Estados Unidos da América, entre
Nixon e Kennedy. Atualmente 84 países em todo o mundo realizam debates regularmente.
Tendo em conta este uso abrangente de debates, e o seu papel significativo no auxílio e
orientação da tomada de decisões políticas por parte dos eleitores (Alexandre, 2014), o seu

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estudo é de grande relevância. O debate é “uma forma de interação linguística que coloca a
imagem pública do orador sob tesão e que tem como objetivo a apresentação de ideias''
(Castel & Cubo, 2010). No contexto político, o debate adota a finalidade de clarificar os
planos políticos dos candidatos e de conhecer/questionar os planos dos seus opositores. Um
debate eleitoral, que visa a eleição de um representante pelo povo, é segundo Barão (2005),
“uma discussão competitiva e contraditória durante o período eleitoral, que é transmitido para
um público”.
Em Portugal, os debates ocorrem na presença de pelo menos um moderador e são
estabelecidos blocos de tempo para os candidatos falarem, e organizam-se da seguinte forma:
1) Introdução do moderador; 2) Parte central do debate onde são feitas perguntas e
apresentados argumentos; 3) Declarações finais dirigidas aos eleitores; e 4) Encerramento do
debate pelo moderador.
Como esperado, o controlo da expressão verbal e não verbal surge como ferramenta
nos debates políticos, ferramenta esta que se relaciona com a empatia. Dado que a empatia,
ou falta dela, influencia o outcome dos debates, que por sua vez tem impacto nas decisões
políticas dos eleitores, parece-nos importante o estudo da empatia neste contexto: de que
modo os candidatos demonstram (falta de) empatia nos debates?
A empatia tem vindo a ser definida de duas formas: por um lado, enquanto fenómeno
essencialmente emocional, sendo a caraterística central que os observadores partilham o
estado emocional do alvo, ou um outro estado emocional em resposta ao estado emocional do
alvo. E por outro lado, a empatia tem sido definida enquanto fenómeno essencialmente
cognitivo, com a caraterística central de que os observadores distinguem com precisão o
estado interno do alvo, sem necessariamente experimentarem qualquer mudança emocional
eles próprios. Há, contudo, uma terceira abordagem que é hoje a mais aceite e a qual
consideramos no presente estudo, a da empatia enquanto fenómeno multidimensional que
inclui componentes emocionais e cognitivos.
Para além da já referida relevância da empatia no contexto de debates políticos, vários
estudos, maioritariamente realizados nos EUA, apontam para uma ligação importante entre a
empatia e a ideologia política, que é o resultado da cognição social motivada e se traduz num
sistema de valores que orientam a ação cívica de um indivíduo. De facto, vários autores
apontam a empatia como um bom preditor da visão e afiliação política, embora não seja o
único (Morris, 2020). Hasson et al. (2018), por exemplo, encontrou diferenças
estatisticamente significativas que indicavam que os democratas/liberais (o equivalente de
apoiantes de partidos de esquerda, em Portugal) estavam mais motivados para sentir empatia

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do que os conservadores (apoiantes de partidos de direita, em Portugal). Trabalhos de Waytz
et al. (2016) indicam que resultados em altos níveis de empatia se correlacionam
positivamente com o apoio a políticas tipicamente apoiadas por liberais. Também Loewen et
al. indicam diferenças na empatia entre liberais e conservadores, apontando que o apoio
partidário varia sistematicamente com as diferenças individuais no que toca à empatia e que
identificar-se com o partido conservador associa-se a empatia reduzida.
Tendo em conta os dados anteriores, indicadores da existência de uma correlação
entre maiores níveis de empatia e o apoio de legislações progressistas (relação esta que nos
propomos a investigar), e as diferenças de género e peso dos papéis de género rigorosamente
definidos pela sociedade, e sabendo que as mulheres têm geralmente níveis superiores de
empatia do que os homens (Eisenberg e Lennon, 1983), achamos interessante explorar
também de que modo o género influencia o apoio (ou não) de políticas de esquerda. Embora
não haja muita literatura que relacione diretamente estas duas variáveis (género e apoio de
legislação progressista), existem alguns aspetos teóricos que nos induziram a estudá-las. Por
exemplo, segundo Jesse Prinz (2011) existe evidência de que homens e mulheres apresentam
diferentes princípios morais. Gilligan (1982) afirmou que as mulheres tendem a ter uma ética
baseada no cuidado, em vez de princípios rígidos, o que se tem vindo a comprovar em vários
estudos feitos ao longo dos anos. Por fim, existe literatura que aponta que juízas mulheres
chegam a veredictos diferentes dos homens, quando está em questão discriminação sexual e
assédio sexual (Glynn & Sen, 2015), indicando-nos possivelmente uma visão mais liberal do
que os homens face a leis que contemplem estes aspetos e que lhes são mais próximas.
Em conclusão, aparentando a empatia ter um papel significativo a diversos níveis na
política, quisemos averiguar de que modo a empatia e a política se inter-relacionam. Em
particular, quisemos investigar a demonstração de falta de empatia nos debates políticos, bem
como a relação entre o apoio de legislações progressistas e a empatia, e o género (havendo
diferenças gerais e notáveis entre homens e mulheres ao nível da empatia).

III. Estudo 1
Questões de Investigação

Para auxiliar a operacionalização da investigação qualitativa, evidencia-se a


relevância da formulação de questões de investigação, que orientam a recolha e a análise de
dados. Considerando o estado da arte atual, emergiu interesse em estudar a presença e o tipo
de manifestações empáticas no âmbito dos debates políticos entre candidatos, assim como,

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entre os candidatos e o moderador do debate. Com isto formulamos as seguintes questões de
investigação:

Questão de Investigação 1 Original: De que forma os dirigentes políticos


demonstram empatia entre si em debates?

Questão de Investigação 2 Original: De que forma os dirigentes políticos


demonstram empatia para com os moderadores em debates?

Contudo, após a recolha dos dados, tornou-se evidente a ausência de manifestações


empáticas entre todos os membros constituintes do debate e como tal, surgiu a necessidade
em reformular ambas as questões, com vista a realizar uma análise dos dados de forma mais
adequada. Tendo isto em conta, a investigação qualitativa desenvolvida refocou-se na análise
da ausência de manifestações empáticas:

Questão de Investigação 1 Reformulada: De que forma os dirigentes políticos


revelam falta de empatia entre si em debates?

Questão de Investigação 2 Reformulada: De que forma os dirigentes políticos


revelam falta de empatia para com os moderadores em debates?

Ressalvamos que a pertinência das questões de investigação formuladas se prende


com a escassez de literatura que inclui o tema da empatia ligada aos debates políticos,
especialmente no seio português. O seu redesenho considerou também o facto da
agressividade se assumir como uma caraterística típica dos debates políticos na atualidade e
assim sendo, revelou-se de maior utilidade estudar os tipos de manifestações não empáticas.
Deste modo, concluímos que a nossa leitura deveria abranger todo o tipo de interações entre
os sujeitos-alvo, mais especificamente, as interações não empáticas, que ocorreram com
maior frequência e sob as quais o grupo se debruçou mais.

Método

O tipo de estudo patente na investigação qualitativa desenvolvida é do tipo descritivo


(Sampieri et al., 2013), uma vez que descreve situações e acontecimentos, tendo como
objetivo subjacente, o estudo da manifestação de um determinado fenômeno. Nas secções
seguintes serão apresentadas os participantes, o procedimento de recolha e análise dos dados,
aliados aos materiais e ao sistema de categorização que utilizamos.

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Participantes

Os participantes em causa eram figuras públicas e dois deles eram dirigentes políticos
de partidos com grande força mediática. Em primeiro lugar, Rosa de Oliveira Pinto, do sexo
feminino que desempenhou o papel de moderadora no debate político. Em segundo lugar,
Catarina Martins, também do sexo feminino, com 48 anos de idade, deputada da Assembleia
da República Portuguesa e dirigente politica do partido Bloco de Esquerda (BE). Por último,
André Ventura, do sexo masculino. com 39 anos de idade, também deputado da Assembleia
da República Portuguesa e dirigente politico do partido CHEGA.

Procedimento

O grupo decidiu realizar a observação de dois debates, embora apenas um foi alvo de
maior aprofundamento e análise. Foram escolhidos os debates, entre Inês de Sousa Real
(dirigente do PAN) e André Ventura (dirigente do CHEGA), assim como, entre Catarina
Martins (dirigente do BE) e André Ventura. Ressalvamos, também, que estes dois debates
foram escolhidos pois envolvem gêneros opostos e por isso, poderiam dinamizar ainda mais o
debate. Foram feitas as observações de ambos os debates, embora se tenha tornado visível a
pertinência em tornar o debate entre o BE e o CHEGA o foco da investigação, dado que, os
dados obtidos apresentaram-se os de maior utilidade para responder à questão de investigação
principal “Os candidatos nos debates analisados irão demonstrar falta de empatia,
nomeadamente sob a forma de descortesia verbal, um para com o outro.” Consideramos que
a pertinência dos dados está associada ao facto dos sujeitos alvo serem os dirigentes de duas
forças políticas opostas.

Os dados foram recolhidos através de anotações que as investigadoras transcreveram


para o protocolo de observação feitas de forma individual e, posteriormente, foram
expandidas e completadas com as anotações de todas as observadoras para posterior análise.
O processo de análise de dados, implica a redução da informação via a criação de categorias e
seguidamente, recorre-se a um processo de exploração das relações existentes entre as
categorias.

Materiais
O processo de recolha de dados contemplou o uso de um protocolo de observação.
Este material diz respeito a uma tabela que inclui várias colunas, cada uma com um diferente

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propósito - identificação da observadora em questão, anotação do intervalo de tempo em que
determinado acontecimento observado ocorreu, descrição objetiva do acontecimento e
respetivas inferências da observadora face ao ocorrido. Para além disso, neste protocolo
também consta uma descrição dos sujeitos-alvo e do contexto de observação, assim como
outras informações adicionais como a duração do debate observado, o local de observação e a
data em que ocorreu. Face a isto apontamos que o debate observado se realizou nos estúdios
da CNN Portugal, teve uma duração de 27 minutos e 9 segundos e os sujeitos-alvo da
observação foram os dirigentes políticos André Ventura (CHEGA) e Catarina Martins (BE) e
a moderadora, Rosa de Oliveira Pinto. No que toca à descrição do contexto de observação,
aponta-se que os sujeitos-alvo se encontravam num estúdio de gravação composto por uma
mesa e três cadeiras onde os sujeitos se apresentavam sentados frente a frente - a moderadora
encontrava-se numa posição central entre dos dois candidatos, com André Ventura
posicionado à sua esquerda e Catarina Martins à direita da mesma.

Sistema de Categorização

A categorização é um processo cognitivo que facilita a organização na simplificação


da realidade dos sujeitos, agregando as pessoas, objetos, ideias, acontecimentos, instituições,
etc., em grupos com determinadas características comuns e que são percebidos como iguais
pelos seus membros, por isso, utilizamos este método para o estudo qualitativo para ser mais
fácil organizar as ideias, ou seja, as categorias. A lógica utilizada para a categorização foi
mista, pois tantos nos orientamos pela propostas teóricas de autores, como também fomos
reformulando as categorias consoante os dados que nos foram apresentados.

Após a recolha dos dados, procedeu-se à análise da informação obtida através do uso
do sistema de categorização. Assim, fez-se a definição das categorias e subcategorias
(Antecedentes; Processos (Cognitivos Simples); Rotulação; Denegrir; Autopromoção;
Insinuar que o candidato está a mentir ou a contradizer-se; Indiferença; Ironia; Arrogância /
Assertividade; Cordialidade; Interromper). Foram seguidas as seguintes etapas para a análise
dos dados e conseguinte formação de um sistema de categorização:

Primeiramente, foi efetuada uma revisão da literatura existente e um esboço inicial


com base na mesma. Mais especificamente, consideramos a proposta de Blas (2001) que
identifica 5 estratégias de descortesia utilizadas em debates - associação do interlocutor a
intenções negativas; insinuação que candidato está a mentir; ridicularização do adversário;

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formulação de comparações desvantajosas para o adversário; acusação de que interlocutor é
contraditório. Em seguida, associamos este esboço à proposta de Davis (2006), no que diz
respeito à empatia. Por fim, à tabela anterior juntou-se a proposta de Dallos (2012), em que
classificou-se as categorias em termos de linguagem. (Anexo 1 e 2)

Resultados e Discussão

Tal como supramencionado, na fase da análise dos dados recolhidos, o grupo de


investigação identificou no protocolo de observação final, os tipos de manifestações (não)
empáticas patentes nas interações entre os sujeitos-alvo. Na generalidade, os resultados
obtidos pelo grupo encontram-se sintetizados numa tabela, referente ao anexo 3. Na tabela,
os resultados são apresentados consoante a associação dos dois sistemas de categorização
utilizados no presente estudo. As colunas dizem respeito às categorias definidas pelo grupo
de investigação, com base nos contributos teóricos de Davis (2006) e Blas (2001), e, as linhas
representam os tipos de comportamentos, segundo Dallos (2012). Adicionalmente, na tabela
também consta a separação dos comportamentos identificados consoante a sua natureza - se
dizem respeito à descrição do acontecimento observado ou se correspondem a uma inferência
das observadoras.

Considerando uma avaliação mais generalista dos resultados, de facto compreende-se


a elevada presença de manifestações não-empáticas entre os sujeitos-alvo. No total, foram
identificadas 77 manifestações, sendo que ao nível do seu conteúdo, 74 são manifestações
não-empáticas e 3 são manifestações neutras. Desta forma, torna-se evidente a saliência das
categorias indicativas de falta de empatia nas interacções entre os candidatos e a moderadora
- antecedentes, rotulação, denegrir, autopromoção, insinuar que outro está a mentir,
desinteresse / desprezo (também denominado como indiferença), ironia, arrogância e
interrupções. Para além disto, no debate observado não se identificou qualquer tipo de
manifestação de empatia nas interacções entre os sujeitos, reconhecendo-se apenas
manifestações neutras de empatia. Isto porque as autoras decidiram não equivaler
manifestações de cordialidade a manifestações de natureza empática, uma vez que não
contempla nem a dimensão cognitiva nem emocional deste fenómeno - ou seja, na
cordialidade não parece haver distinção nem partilha do estado emocional do outro, é apenas
um comportamento baseado no respeito.

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Em seguida, os resultados obtidos serão expressos à luz de cada uma das questões de
investigação formuladas, incluindo-se também reflexões teóricas das autoras.

No que se refere à primeira questão de investigação “De que forma os dirigentes


políticos revelam falta de empatia entre si em debates?”, os resultados do presente estudo
corroboram tanto a questão formulada, como também a literatura que orientou o trabalho.
Neste contexto, os resultados encontrados foram mais informativos, quando comparados com
a informação extraída para a segunda questão de investigação. Tal como referido, os
comportamentos de cordialidade foram diminutos, tendo sido identificados apenas duas vezes
no decorrer do debate visionado, mais concretamente, no momento das declarações iniciais e
do encerramento do debate, exemplificando-se a saudação da moderadora e do candidato
adversário. Devemos sublinhar que dos 77 comportamentos identificados na amostra total de
comportamento, 74 destes são referentes à primeira questão de investigação formulada, ou
seja, dizem respeito à interação entre candidatos. A maior frequência de comportamentos
identificados entre os dois dirigentes políticos pode ser explicada pela natureza argumentativa
do debate, que implica a postura ativa dos candidatos políticos e um papel passivo por parte
dos moderadores.

A par de uma análise mais detalhada dos resultados, torna-se evidente a identificação
frequente e maioritária das subcategorias Denegrir, com uma frequência de 18, e a Ironia,
com uma frequência de 14, no total. Quanto ao tipo de comportamento que mais sobressai na
nossa análise, é o comportamento linguístico, que diz respeito ao conteúdo e características
da conversa, tendo sido identificado 53 vezes. Por fim, na junção destas duas propostas de
categorização, compreendemos que o que se mais destacou foram os comportamentos
linguísticos de denegrir o adversário, com uma frequência de 13. Adicionalmente, também se
identificaram várias amostras comportamentais associadas a manifestações de arrogância
(frequência de 12) e de desinteresse ou desprezo pelos adversários (frequência de 9). Deste
modo, sobressai bastante o uso de estratégias que visam comprometer ou desacreditar a
imagem do candidato através da sua associação a intenções negativas, da sua
minimização/ridicularização, ou da afirmação da sua ausência de qualidades, exemplificado
através da seguinte citação de André Ventura - “(...) por bandidos que os senhores defendem
no vosso partido a não sei quantos anos”. Para além disso, foram múltiplas as afirmações
proclamadas pelos candidatos que assumem um teor jocoso, que contrasta com o ambiente
formal de um debate político. Tendo isto em conta, exemplifica-se a seguinte citação de

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Catarina Martins - "Só estou à espera de que o candidato da extrema-direita me acuse de ter
raptado o pai natal.”

Em suma, ao considerar-se as subcategorias mais identificadas na interação entre


André Ventura e Catarina Martins, é visível que a índole afetiva negativa que assumem. Com
isto, torna-se possível afirmar que o debate político observado foi pautado por estratégias de
minimização do adversário, de associação do opositor a pessoas ou situações associadas
características negativas, de ridicularização do oponente e de insinuação de mentira por parte
do opositor. Embora os comportamentos identificados não sejam violentos na sua natureza, é
de relevância destacar a agressividade verbal mascarada, que se identificou na comunicação
entre os candidatos políticos.

Estes resultados estão de acordo com as caraterísticas que as observadoras associam à


maioria dos debates políticos portugueses, assim como, com a literatura, embora esta seja
escassa. As autoras apontam a relevância de um estudo realizado recentemente no seio
costarriquenho (Heidke et al., 2020), cujos resultados parecem corroborar os nossos. Os
autores apontam que o ataque da imagem social tem-se tornado um fenômeno recorrente nos
debates eleitorais, verificado na nossa observação realizada, onde se identificou múltiplas
vezes o uso de estratégias de denegrir o adversário. O uso de estratégias que visam
deslegitimar os adversários parece ser considerado pelos dirigentes políticos, uma ferramenta
útil para a angariação de votos pelos eleitores e como tal, acabam por privilegiar estratégias
de natureza pouco ou não empática. Note-se também que o presente grupo de investigação
optou por observar o debate entre os partidos CHEGA e BE, uma vez que correspondem a
forças políticas opostas, representadas por dirigentes polémicos no seio português. Como tal,
especula-se que a elevada presença de comportamentos não empáticos possa ser também
atribuída à escolha do debate para análise.

No que se refere à segunda questão de investigação formulada - “De que forma os


dirigentes políticos revelam falta de empatia para com os moderadores em debates?” -
deve-se realçar a reduzida amostra de comportamento obtida através da observação do
debate, uma vez que dos 77 comportamentos identificados, apenas 3 destes se associam à
interação entre moderadora e candidatos. Mais especificamente, apenas ocorreu uma
manifestação neutra de empatia, nomeadamente, uma manifestação de cordialidade no final
do debate, pautado por agradecimentos à moderadora. Embora os resultados obtidos não
tenham sido muito informativos, volta-se a verificar que os comportamentos não empáticos

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se sobrepõem a comportamentos de outra natureza, identificados duas vezes na observação.
Designadamente, aponta-se o exemplo de uma interrupção identificada, da parte de André
Ventura para a moderadora, que foi associado pelas observadoras a um comportamento
revelador de arrogância.

Assim sendo, as autoras consideraram que o clima hostil frequentemente verificado


em debates políticos, pode ser expandido para a interação entre candidatos e moderadores,
embora se registem em menor frequência comportamentos não empáticos entre os mesmos.
Esta questão pode ser explicada pelo papel passivo que o moderado assume nos debates,
resultando em diminutas intervenções, que reduzem a possibilidade de se incorrer em
comportamentos não empáticos. Também deve ser alvo de consideração o facto dos
moderadores não serem adversários diretos dos candidatos e como tal, não são alvos de
estratégias ativas de denegrir, uma vez que há poucos benefícios potencialmente extraídos na
interação negativa entre candidato - moderador. Para além disso, as autoras também apontam
que a reduzida amostra comportamental possa ter como fator etiológico, a atenção
maioritariamente voltada para a interação entre André Ventura e Catarina Martins e que possa
ter negligenciado outros aspetos relevantes para a resposta à segunda questão de investigação.

IV. Estudo 2
Questões e Hipóteses de Investigação
No âmbito da investigação quantitativa e após considerações teóricas tornou-se
pertinente averiguar se existe alguma correlação entre os níveis de empatia de um sujeito e
uma visão política mais liberal, normalmente associado ao apoio de legislações progressistas.
Legislações progressistas dizem respeito a um conjunto de leis que envolvem ideias de
progresso, especificamente: a legalização da prostituição, a interrupção voluntária da
gravidez, a legalização da canábis e a legalização do casamento homoafetivo. Deste modo,
foi formulada a seguinte hipótese.

Hipótese 3 Original: Maiores níveis de empatia associam-se a maiores níveis de apoio


de legislações progressistas.

Devido a limitações estatísticas, que serão aprofundadas posteriormente,


deparamo-nos com a necessidade de reformular a hipótese original, de modo a possibilitar-se

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a realização de um teste paramétrico. Com isto em vista, reformulamos a terceira hipótese
deste estudo para:

Hipótese 3 Reformulada: “Os sujeitos com maior empatia tendem a apoiar legislações
progressistas”.

No entanto, ambas as hipóteses foram baseadas nos mesmos estudos que apontam a
empatia como um bom preditor da visão e afiliação política, embora não seja o único (Morris,
2020).
Desde já, devemos ressalvar que muitos dos estudos neste âmbito foram desenvolvidos nos
Estados Unidos da América, que são caracterizados por uma maior polarização política do
que Portugal. No entanto, consideramos pertinente fazer uma correspondência com o
panorama político português, assim, os Democratas / Liberais nos EUA correspondem aos
partidos de esquerda em Portugal e os Republicanos / Conservadores nos EUA aos partidos
de direita em Portugal.

Tendo em conta as diferenças de género e peso dos papéis de género rigorosamente


definidos pela sociedade, achamos pertinente perceber em que extensão isto influência o
pensamento político e o apoio de legislações progressistas. Por isso, formulamos a seguinte
hipótese.

Hipótese 4: As mulheres tendem a apoiar legislações progressistas mais do que os


homens.

Embora não haja muita literatura que relacione diretamente estas duas variáveis
(género e apoio de legislação progressista), existem alguns aspetos teóricos, que foram
referidos anteriormente no enquadramento concetual, que nos levaram a estudar esta
hipótese.

Método

Uma vez que o objetivo desta investigação é responder às questões de investigação


propostas, recorreu-se ao método quantitativo de modo que fosse possível realizar esta tarefa.
Assim, para averiguar as perguntas que guiam este trabalho, a investigação foi dividida em
algumas etapas, nomeadamente a elaboração do instrumento de recolha de dados e a posterior
realização do pré-teste, a aplicação do instrumento à população e, finalmente, a análise dos

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dados recolhidos em função das hipóteses de investigação. Assim, de modo a descrever estes
processos, esta secção será dividida em três subsecções: Amostra e Procedimentos de
Recolha de Dados; Instrumentos e as suas Qualidades Psicométricas e Procedimento de
Análise de Dados.

Amostra e Procedimentos de Recolha de Dados

De modo a recolher os dados necessários para testar as hipóteses de investigação foi


elaborado um questionário de resposta online, este questionário foi sujeito a um pré-teste, ou
seja, foram conduzidas diversas entrevistas cognitivas em que foi pedido a uma pessoa que
tivesse pouca experiência a responder questionários ou tivesse um nível académico mais
baixo que respondesse ao questionário e indicasse todas as dificuldades que surgissem ao
longo do processo. Este procedimento permitiu ajustar algumas das questões presentes no
instrumento de modo que este fosse acessível a uma maior porção da população.

Assim, o questionário foi distribuído pelos estudantes da UC OIQQP através de um


link, sendo que foi requisitado que este fosse aplicado apelando à diversidade relativamente
ao género, idade e nível académico, é importante referir que foram também recolhidos os
consentimentos informados, que referiam a duração do questionário (15 minutos), assim
como a confidencialidade dos dados. Deste modo, foram registadas um total de 594 pessoas
que responderam ao questionário onde existia uma boa diversificação ao nível das
caraterísticas dos participantes. Contudo, após a limpeza da base de dados permaneceu um
total de 558 participantes.

Instrumentos e as suas Qualidades Psicométricas

Como foi referido anteriormente, o instrumento utilizado para a recolha de dados foi
um questionário de resposta online. Este teve como objetivo recolher informação
sociodemográfica, como o género e a idade e informação relativa aos níveis de empatia dos
participantes e os seus níveis de concordância relativamente a leis progressistas. Para avaliar
a empatia foi utilizado o IRI (Interpersonal Reactivity Index), este é um instrumento de
medida de empatia que toma como ponto de partida a noção de que a empatia consiste num
conjunto de construtos separados, mas relacionados, segundo o modelo de Davis. O
instrumento contém quatro subescalas de sete itens, cada uma tocando uma faceta separada
da empatia. Contudo, neste questionário, o número de itens do IRI foi reduzido para 18.
Relativamente ao nível de concordância com a legislação progressista, foi pedido aos

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participantes que indicassem numa escala de 5 pontos (de "discordo completamente" a
"concordo totalmente") qual a sua posição relativamente às leis progressistas, como por
exemplo, a legalização da prostituição ou a legalização do aborto. Estas questões foram
elaboradas pelas professoras da UC, sendo que a escala é constituída por 10 perguntas.

Assim, após a recolha dos dados foi calculado o Alfa de Cronbach de modo a
averiguar a consistência interna. A escala de empatia apresenta um alfa de .625 e a escala
relativa ao apoio da das legislações progressista apresenta um alfa de .847, e uma vez que
valores de alfa de Cronbach entre 0,70 e 0,90 indicam uma boa consistência interna (Oviedo,
Campo-Arias, 2005) é possível afirmar que ambas as escalas possuem uma boa consistência
interna.

Procedimento de Análise de Dados

Em primeiro lugar, foi necessário eliminar alguns dos participantes de modo a limpar a base
de dados. Primeiramente a variável género foi recodificada, sendo que aqueles que
responderam “outro” ou “prefiro não responder” foram eliminados uma vez que existiam
numa proporção muito baixa, além disso uma da hipótese de investigação propostas neste
estudo pretendia avaliar diferenças entre homens e mulheres, desta forma estes participantes
não eram relevantes nesta investigação. Foram ainda eliminadas as respostas referentes a
variáveis que não diziam respeito a esta investigação, bem como menores de idade e
participantes que não responderam a itens suficientes, sendo que esse limite foi de no
máximo 3 omissos. Seguidamente, as variáveis da escala de empatia e do apoio às leis
progressistas foram reconfiguradas. Finalmente, foi criada uma variável denominada
"empatia total" que engloba as 4 dimensões da empatia.

Em relação à primeira hipótese, inicialmente foi proposto fazer uma correlação,


porém após a verificação dos pressupostos verificamos que não existia linearidade, desta
forma não foi possível realizar o teste. Assim, foi realizado um teste T para amostras
independentes, sendo que dentro da variável empatia foram criadas 2 categorias, isto é,
pessoas com muita empatia e pessoas com pouca empatia, seguidamente, foi realizado o teste
de modo a perceber se existiam diferenças significativas.

Relativamente à segunda hipótese foi realizado um teste T para amostras


independentes onde foram verificados os pressupostos.

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Resultados
Recorreu-se a uma correlação para verificar se as variações dos níveis de empatia
estão associadas às variações nos níveis de apoio de legislações progressistas. Após a
verificação do pressuposto da normalidade e da não verificação da linearidade (Anexo 4) não
pudemos continuar o teste, o que nos levou a estudar a empatia como uma variável categorial
com duas categorias, em vez de uma variável métrica.
Desta forma, recorreu-se a um Teste T para amostras independentes para verificar se as
variações dos níveis de apoio de legislações progressistas dependem dos níveis de empatia.
Após a verificação dos pressupostos estatísticos, equilíbrio amostral, normalidade e
homogeneidade de variâncias, analisou-se os resultados do teste e verificou-se a hipótese nula
[t(486)= -1.39, p= .164, g= -.126].
Assim concluímos que os sujeitos com maiores níveis de empatia (M= 3.81, DP= 0.782) não
diferem significativamente dos sujeitos com menores níveis de empatia (M= 3.71, DP=
0.749) em relação ao apoio de legislações progressistas.

Em seguida, foi realizado um Teste T para amostras independentes para verificar se as


variações no apoio de legislações progressistas dependem do género (mulheres e homens).
Após a verificação dos pressupostos estatísticos, equilíbrio amostral, normalidade e
homogeneidade de variâncias, analisou-se os resultados do teste e verificou-se a hipótese nula
[t(519)=1.70, p= .089, g= .151].
Assim concluímos que as mulheres (M= 3.80, DP= 0.764) não diferem significativamente
dos homens (M= 3.69, DP= 0.760) em relação ao apoio de legislações progressistas.

Discussão

Como foi possível perceber através da apresentação dos resultados, ambas as


hipóteses acabaram por não ser confirmadas. Assim, nesta discussão pretende-se teorizar
através de literatura os motivos pelo qual isto pode ter ocorrido.

Relativamente à primeira hipótese, uma vez que esta não foi confirmada, é possível
afirmar que não existem diferenças significativas entre indivíduos com elevada empatia e
indivíduos com baixa empatia, relativamente ao nível de concordância com leis progressistas.
Apesar de este resultado ir contra aquilo que era expectável de acordo com a revisão de

15
literatura realizada inicialmente, foi possível encontrar autores que, de facto, afirmam que a
empatia não tem assim tanta influência no que diz respeito ao apoio das leis mais
progressistas.

Bloom (2016) afirma que "Embora haja alguma associação entre empatia e políticas
progressistas, essa associação não é tão forte como as pessoas pensam que é”, isto porque
como o autor afirma, a empatia não nos dá informação relativamente a estas questões, pois
nem sempre estão diretamente envolvidas, como o autor afirma “ser contra a empatia não nos
dirá o que pensa relativamente ao controle de armas, tributação, assistência médica e afins;
não vai dizer-lhe em quem votar, ou como deve ser sua filosofia política geral”

Assim, Bloom defende a supressão da empatia nas decisões políticas e teoriza também
que esta não é informativa acerca da filosofia política de um indivíduo. Como tal, o autor
afirma que a empatia potencia a criação de enviesamento que pode resultar em
consequências, tanto negativas como positivas. Além disso. estudos indicam que nem sempre
a empatia está na fonte de comportamentos prossociais, exemplificando-se um estudo em que
a empatia se revelou o motivo para comportamento imoral e agressivo – neste estudo, sujeitos
que sentiram mais empatia por um indivíduo desfavorecido engajaram mais em
comportamento agressivo face ao oponente, com vista a ganharem dinheiro para o indivíduo
desfavorecido.

É também importante recordar o facto da literatura utilizada para fundamentar esta


hipótese não é portuguesa, sendo na sua maioria relativa aos EUA. Este país tem uma
organização política bastante diferente, em Portugal, os polos políticos estão divididos entre
Esquerda e Direita enquanto que nos EUA esta divisão é feita entre Liberais e Conservadores,
ainda que hajam algumas semelhanças relativamente a estas ideologias, elas não são iguais e
é importante ter isso em consideração quando se pretende adaptar a literatura. Além disso, os
EUA é fortemente caracterizado por uma grande polarização política, especialmente em
comparação com Portugal, podendo isto resultar numa maior divergência entre o apoio ou
não apoio de determinada legislação progressista.

Também é importante ressaltar que a literatura utilizada para sustentar as hipóteses


não parece considerar outros fatores explicativos e possivelmente preponderantes para avaliar
a relação entre empatia e apoio de leis progressistas. Com isto constatamos a potencial
interferência de outras variáveis nos resultados. Quanto aos dados sociodemográficos dos

16
participantes, estudos indicam que indivíduos que tem uma filha tendem a ter uma visão
política mais liberal, ao contrário dos que têm filhos, nomeadamente no que se refere a visões
políticas relativas à equidade de género ou questões feministas, contemplado no questionário,
por exemplo através de perguntas sobre o aborto (Glynn & Sen, 2015). Por este motivo, seria
também interessante estudar esta variável “ter filhas ou não” na nossa amostra e verificar o
seu possível impacto.

Outra variável importante de se controlar na amostra poderá ser “os grupos-alvo


abordados nos itens do questionário”. Isto porque é apontado que liberais tendencialmente
têm mais empatia para com mais com grupos sociais alargados ou distantes, enquanto que
conservadores sentem mais empatia por círculos mais pequenos e próximos (Hasson et al.,
2018, as cited in Waytz et al., 2016). Por este motivo, a discrepância de resultados
comparativamente à literatura poderá também estar aliado às escolhas dos grupos-alvo
abordados, sendo importante a equivalência dos grupos para as visões políticas.

Relativamente à segunda hipótese, a partir dos resultados foi também possível


constatar que não existem diferenças significativas entre mulheres e homens em relação ao
apoio de legislações progressistas. Face a isto foi especulado que atualmente os papéis de
género na sociedade são cada vez mais permeáveis, não se estabelecendo uma relação rígida
entre o homem e a instrumentalidade vs a mulher e a emocionalidade, que outrora já fora
conferida aos géneros. Isto pode ter influência no sentido em que o expectável seria as
mulheres serem mais solidárias para estas questões, de um ponto de vista mais empático,
contudo como foi possível verificar na hipótese anterior, esta variável nem sempre influencia
no apoio às legislações mais progressistas.

Seria também importante ter em conta os dados sociodemográficos apresentados pela


amostra. Assim, outro ponto importante a ter em conta nesta discussão é o facto de a amostra
ter, em geral, um elevado nível académico. Este é um dado interessante na medida em que
nos indica que uma vez que os homens desta amostra têm no geral um nível académico mais
elevado, terão também mais acesso a informação relativamente a questões como o aborto e
dessa forma é possível especular que este será um dos motivos para não existirem diferenças
significativas no apoio destas leis relativamente às mulheres que tendem a dar mais apoio a
estas legislações um vez que são diretamente afetados por elas.

17
Uma outra questão que se prende com estes resultados e que seria interessante
explorar, é o facto de que a masculinidade tende a associar-se mais à empatia cognitiva,
enquanto a feminilidade parece estar mais associada à empatia emocional. Como tal e de
modo a obter resultados mais informativos, seria importante fazer uma análise dos dados
tendo em conta as subescalas da empatia (Davis, 1983), ao invés de apenas fazer um cálculo
do score geral da empatia. Por exemplo, poderíamos ter comparado os resultados entre
homens e mulheres na escala de Tomada de Perspetiva, onde seria de esperar os homens
obterem scores mais elevados.

V. Conclusão
Após o estudo da empatia associada à política, concluímos que os dirigentes políticos não
têm comportamentos empáticos, entre eles e com o moderador, durante os debates políticos e
não existem diferenças significativas de género e níveis de empatia no apoio de legislações
progressistas. Assim, não encontramos diferenças de género nem no apoio de legislações
progressistas, nem nos comportamentos empáticos dos dirigentes políticos.

Limitações

Reconhecemos que os nossos resultados podem estar intimamente ligados a alguns vieses
durante todo processo. No estudo qualitativo, o visionamento de vídeos (o que tornou a
observação menos natural), em vez de situações ao vivo, e de serem apenas dois debates
(devido ao tempo limitado), o viés do observador, a ausência do fator novidade, uma vez que
já tínhamos expectativas criadas sobre o que íamos observar, o grande número de
interrupções e interpelações (o que tornou mais complicada a percepção e registo) e a
dificuldade de encontrar literatura que nos auxilie na análise e interpretação dos resultados,
foram fatores que podem ter alterado significativamente os resultados apresentados, bem
como a interpretação dos mesmos.

Em relação ao estudo quantitativo, a aplicação dos questionários por conveniência resultou


numa amostra não representativa da população portuguesa, nomeadamente no nível de ensino
que é muito superior na nossa amostra, o viés dos participantes (devido às suas características
muito específicas e à desejabilidade social) e a escassez de literatura (sobretudo em relação à
associação de género e apoio de legislações progressistas) e a quase ausência de literatura em
relação ao panorama de Portugal no que toca à empatia e à política.

18
Implicações

Em relação ao primeiro estudo, considerámos que realizar a observação ao vivo, permitiria


captar melhor os comportamentos simultâneos dos sujeitos, uma vez que no vídeo, as vezes a
câmara só focava numa pessoa, uma amostra maior (através da observação de debates com
mais que um candidato ou de mais debates) permitiria generalizar os resultados encontrados
com mais confiança e que o nosso estudo é útil para a literatura desta área, uma vez que esta é
escassa, sobretudo em Portugal. No futuro consideramos pertinente expandir este estudo,
através do estudo de questões como “como é que o uso destas estratégias influenciam a
opinião pública” ou “a adoção de uma postura menos empática pode estar relacionada com a
alta taxa de abstenção” .

No que toca ao estudo quantitativo, julgamos que o nosso estudo poderá servir de guia para
estudos futuros, especialmente a parte referente à nossa segunda hipótese, visto que a
literatura nesta área é muito escassa e estes estudos podem ser extremamente úteis no
combate ao preconceito, a análise da empatia consoante o género pode ser realizada por
subescalas, ao invés de obtenção de score total de empatia e podem ser estudadas outras
variáveis como a religiosidade, ter uma filha e habilitações literárias.

VI. Referências Bibliográficas

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21
ANEXOS

Anexo 1 - Sistema de Codificação, segundo as propostas de Davis (2006) e Blas (2001).

Antecedentes Processos Resultados Resultados


Intrapessoais Interpessoais

Esta categoria não Apresenta 5 subcategorias: Não encontramos Apresenta 3


tem subcategorias. nenhuma subcategorias:
Utilizaremos a ● Não Cognitivos subcategoria que
própria categoria, se enquadrasse, - Ironia;
através do exemplo - Não encontramos nenhuma subcategoria nem a própria
da corrupção, que se enquadrasse. categoria nos - Arrogância /
integrado no domínio pareceu útil para o Assertividade (na
situacional e ● Cognitivos Simples (4) nosso trabalho. linha de pensamento
enquanto uma da Agressão Verbal);
“situação forte” – - Rotulação (ou Labeling);
uma que tem grande - Cordialidade;
força para evocar - Denegrir (ou Direct Association);
uma resposta - Interromper.
emocional dos - Autopromoção (também relativo à
observadores. Direct Association);

- Insinuar que o candidato


está a mentir ou a contradizer-se
(pareceu-nos uma subcategoria
semelhante e relacionada com a Direct
Association).

● Cognitivos Avançados (1)

- Indiferença (ou Role Taking, sendo que


neste caso se alia à ausência de tomada de
perspetiva).

Anexo 2 - Definição operacional das categorias e subcategorias formuladas.

1) Antecedentes - Corresponde às características do sujeito alvo, como por exemplo a


sua personalidade, assim como, às condições da situação, nomeadamente a sua força.
A “força da situação” corresponde ao poder que um contexto situacional tem para
evocar uma resposta emocional, ou seja, uma situação forte suscita emoções intensas.
Estes aspetos referidos, numa primeira instância, influenciam o posterior decorrer do
debate.

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Processos - Para Davis, são os mecanismos através dos quais os resultados empáticos são
obtidos. No nosso trabalho, consideramos os processos como os mecanismos através dos
quais os resultados não empáticos são produzidos. São os “meios”.
● Não Cognitivos - Requerem pouca atividade cognitiva, como a mímica motora, mas
esta dimensão não foi encontrada na nossa análise.

● Cognitivos Simples - Implicam alguma habilidade cognitiva.

2) Rotulação - De acordo com Eisenberg et al. (1991), a rotulação (“labeling”) consiste


na interpretação de deixas/pistas com o conhecimento básico dos significados
associados a pistas perceptivas. Por exemplo, se um observador tiver conhecimento de
que uma boca com os cantos para cima indica felicidade, irá rotular alguém com essa
expressão como estando “feliz”, independentemente de outras deixas presentes na
situação.
3) Denegrir (Minimização / Ridicularização) - Qualquer comunicação, explícita ou
implícita, que visa comprometer ou desacreditar a imagem do candidato através da
sua associação a intenções negativas, da sua minimização/ridicularização, ou da
afirmação da sua ausência de qualidades. Deixar o outro malvisto.
4) Autopromoção (Qualidades Próprias) - Qualquer comunicação, explícita ou
implícita, que contribua para a construção de uma auto-imagem favorável, através da
associação do próprio a intenções positivas e a qualidades/valores desejáveis.
Deixar-se bem-visto.
5) Insinuar que o candidato está a mentir ou a contradizer-se - Diz respeito a todos os
comportamentos e falas que direta ou indiretamente afirmam que o que o outro está a
dizer não é verdade ou contradiz algo mencionado anteriormente.
6) Indiferença (Desinteresse / Desprezo) - Considerando-se a proposta de Davis (2006),
esta subcategoria diz respeito à ausência de Role Taking ou Tomada de Perspetiva.
Engloba todos os comportamentos que revelam ausência de interesse ou atenção a um
dado estímulo. Neste caso, caracterizam-se também pelo desprezo e a
desconsideração pelo sujeito-alvo.
7) Ironia - São todos os comportamentos que satirizam o adversário e que visam à sua
desmoralização. É marcado pelo tom jocoso e que pode ser exemplificado pelo riso,
pois é um elemento auxiliar que funciona para descredibilizar ou satirizar a fala do
outro.

23
8) Arrogância - Atitude superioridade aos demais ou da pessoa que assume um
comportamento prepotente, desprezando os outros, pode ser feita através da expressão
consciente, directa, clara e equilibrada, com o objectivo de comunicar as ideias ou
defender os seus pontos de vista (assertividade).
9) Cordialidade - Comportamento informal e educado, especialmente em ambientes de
trabalho.
10) Interromper - Diz respeito a todos os comportamentos de interrupção,
descontinuidade ou suspensão do discurso de outra pessoa

Anexo 3 - Tabela de resultados.

Anexo 4 - Linearidade

Anexo 5 - Tabela de participação dos membros do grupo

Nome do estudante Participação

Inês Leitão 20%

24
Joana Guimarães 20%

Luísa Gonçalves 20%

Maria Teixeira 20%

Sara Montenegro 20%

Total 100%

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Reflexão

Findada a unidade curricular, consideramos que todos os aprendizados foram úteis, tanto para
o resto da nossa formação, como para a nossa vida profissional no futuro. Estas aulas e
sobretudo o trabalho, permitiram-nos perceber em maior profundidade como se realizam os
estudos qualitativos e os quantitativos e as suas diferenças e aprender na prática como se
processa a realização de um artigo científico.

No entanto, sentimos que a avaliação desta unidade curricular é demasiado extensa e


trabalhosa, tendo em conta que é apenas um semestre, porque foram colocados objetivos
demasiado elevados, o que se refletiu em muitos momentos de avaliação, que ficaram
demasiado próximos uns dos outros, não nos dando tempo suficiente para cada um deles.
Estes aspectos aliados à exigência de conteúdos que nunca tinham sido lecionados não
permitiu que alcançássemos todo o potencial que gostaríamos, por isso julgamos que os
conteúdos que anteriormente eram de Estatística III e que agora fazem parte do mestrado, não
deviam ser avaliados nesta UC ou deveriam ser lecionados nas aulas teóricas.

Para além disto, achamos que o tempo dedicado a cada parte deveria ser mais equilibrado,
uma vez que consideramos que ambas as partes são igualmente relevantes e que as notas dos
vários momentos de avaliação poderiam ser fornecidas durante o semestre de modo a servir
de feedback para as outras avaliações.

Por fim, reconhecemos que os power points fornecidos e a quantidade de detalhe das
orientações dadas é um ponto extremamente positivo e contribuíram para uma melhor
compreensão dos conteúdos e do que era esperado em cada avaliação.

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