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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 44(2) :257·63, jul./dez.

1987

USO DE ANTIBIÚTICOS COMO FATOR ANTIESTRESSE NAS VACINAÇOES


DE FRANGOS DE CORTE (1 )

(Utilization of antibiotics as antistress factor on vacination of broiters)

ALBINO EUGIÔNIO FERRE IRA ZIRLlS (2), PAULO CARLOS DA SILVA (2) e RAIMUNDO NONATO GOMES
DE SOUZA (3)

R E SU MO: Este ensaio teve por finalidade estudar a ação de três antibióticos, em dois
níveis, como fator antiestresse por ocasião da vacinação contra a doença de newcastle e
bouba aviária. Sete tratamentos foram comparados entre si: TI; ração básica sem an-
tibiótico; T2 ; ração suplementada com 100 g/t de clorotetraciclina; T3 ; ração suple-
.nentada com 200 g/t de clorotetraciclina; T 4 ; ração suplementada com 100 g/t de oxi-
tetraciclina; T 5 ; ração suplementada com 200 g/t de oxitetraciclina; T 6 ; ração suple-
mentada com 100 g/t de eritromicina e T7 = ração suplementada com 200 g/t de er i-
tromicina. A análise estatística dos resultados não revelou diferenças significativas (P <
0,05) determinadas pelos tratamentos quanto ao peso vivo, conversão alimentar e índice
de mortalidade, no período de zero a 35 dias e zero a 63 dias de idade, durante o inverno
e verão.

INTRODUÇÃO

Na avicultura industrial são reco- perda em peso, e, às vezes, rrortalidade.


rendáveí.s vacinações contra as doenças de Nesse período, geralmente os avicultores
newcastle e bouba aviária, as quais, nor- empregamindiscr~nadamente os antibióti-
malrrente, provocam no organí.srro das aves a cos, visando a reduzir esse estado de ten-
síndrome estresse, que se traduz por menor são.
ingestão de alimentos, cem conseqüente

(1) Projeto IZ-387. Recebido para publicação em setembro de 1987.


(2) Da Seção "de Avicultura, Divisão de Zootecnia Diversificada.
(3) Do Posto de Avicultura de Brotas.

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MX>RE et alii (1946) rrost.raranque Quando o uso de antibiótico é conti-


frangos alimentados com dietas sintéticas nuado em um determinado ambi~nte, segundo
cresciam mais quando se adicionava estrep- observações de WAIBEL et alii (1954) e
tomicina à ração. Parecia que o antibióti- LIBBY & SCHAIBLE (1955), a resposta de
co inibia certos grupos de bactérias pre- crescllnento de frangos torna-se menor. Is-
judiciais que atuariam no metabolismo das to levou os autores a concluírem que os
vitaminas ou produziam toxinas. antibióticos reduzem o número de microrga-
nismos nocivos no ambiente; ass ím, mesmo
Trabalhos com os mesmos objetivos as aves que não recebiam antibióticos eram
foram realizados, entre outros, por HEUSER beneficiadas. Posterionrente, NELSON et
& IDRRIS (1952), POTIER et alii (1962), alii (1963) verificaram queda da eficiên-
<ll1BS & OOSSARD (1963), WALDROUP et alii cia dos antibióticos no decorrer de um pe-
(1970) e MARCH et alii (1972); em nos.so ríodo de três anos.
meio, por LOPES et alii (1979a).
Por outro lado, diversos pesquisado-
res divulgaram que o uso de antibióticos
o efeito do antibiótico caro esti- aumenta o número de microrganismos resis-
mulantes de crescimento não ficou confina-
tentes (BARNES, 1958, SOJKA & CARNAGHAM,
do somente a frangos. Foi demonstrado t~ 1961 e LOPES et alii, 1979b). Mesmo assim,
bém em marrecos, por BRANION & HII.J..
segundo BIRD (1967), nos Estados Unidos,
(1952), em codornas, por MRAZ et alii
entre 1951 e 1969, os antibióticos econo-
(1956), e em faisões, por smrr et alii
mizaram três milhões de toneladas de ração
(1954).
para frangos, levando-se em conta somente
seus efeitos na conversão alimentar. Tra-
STF'.....BURTH
et alii (1951) sugeriram
duziram-se ainda na economia substancial
que os antibióticos podem melhorar o cres-
em outros custos de produção, caro o
cimento de frangos pela inibição de cres-
aumento da velocidade de crescimento e a
cimento de bactérias intestinais prejudi-
redução da IlDrtalidade.
ciais.
U presente trabalho foi planejado
MACHLIN et alii (1952) e WEsr & Hill... visando a verificar o valor das adições de
(1955) demonstraram que a demanda de pro- três antibióticos em dois diferentes ní-
teína para a velocidade máxima de cresci- veis às rações, por ocasião da vacinação
mento era menor em frangos alimentados com contra a doença de newcastle e bouba aviá-
antibióticos. r1a.

MATERIAL E MÉrOoos

o experimentofoi realizado no Posto corte, sendo setecentos machos e setecen-


de Avicultura de Brotas, no período de ja- tas fêmeas, divididos em parcelas de cin-
neiro/fevereiro e junho/julho dé 1975, com qÜenta aves cada uma, uniformes quanto ao
1.400 pintos de um dia de linhagem para peso, sendo 25 machos e 25 fêmeas. O deli-

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neamento estatístico foi de blocos ao aca- As campânulas foram mantidas


_ a o320C na
so, com quatro blocos e igual número de prlmelra semana e com reduçao de 3 C a ca-
repetições. Sete tratamentos foram compa- da serrana.
rados:
Foi utilizada ração inicial nos pri-
meiros dias e de acabamento dos 36 até os
63 dias de idade, época de encerramento do
T = ração sem antibiótico (testemu-
1 experimento. Ração e água foram fornecidos
Ilha);
ad Lib i tum,

T ração suplementada com 100 gft Os antibióticos foram adicionados à


2
de clorotetraciclina; ração inicial somente nos sexto, sétimo e
T ração suplementada com 200 gft oitavo dias e nos 272, 282 e 292 dias,
3 que corresponderam aos dias anterior, du-
de clorotetraciclina;
rante e posterior à aplicação de vacina
T ração suplementada com 100 gft contra doença de newcastle e bouba aviá-
4
de oxitetraciclina; rla, respectivamente.
T = ração suplementada com 200 gft
5 O período experimental foi 63 dias,
de oxitetraciclina;
realizado em duas estações: inverno e ve-
T = ração suplementada com 100 gf : rão.
6
de eritromicina;
Os parâmetros adotados para comparar
T ração suplementada com 200 gft os tratamentos entre si foram o peso vivo,
·7
de eritranicina. a conversão alimentar e a mortalidade en-
tre zero a 35 dias e zero a 63 dias de
idade.

As aves foram criadas sobre cama, na


Os resultados foram interpretados
lotação de dez aves por metro quadrado.
pela análise de variância, exceção feita
o aquecimento foi efetuado por cam- aos referentes à mortalidade, que foram
pânulas elétricas, no inverno, durante o analisados pelo método do quiquadrado
período de 28 dias, e no verão, 21 dias. (X2), ambos descritos por GOMES (1976).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias referentes ao peso vivo e A análise estatística mostrou que os


conversão alimentar, respectivamente para tratamentos não tiveram influência sobre o
os períodos de zero a 35 dias e de zero a peso vivo em nenhum dos períodos (inverno
63 dias de idade, são apresentadas no qua- e verão). Entretanto, HEUSER & NORRIS
dro 1, juntamente com o erro-oadrão das (1952), POITER et alii (1962), MARCH et
médias de tratamentos e o coeficiente de alii (1972) e LOPES et alii (1979a) obser-
variação. varam melhoras significativas com a suple-

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Quadro 1.'Peso vivo e conversão alimentar; m~dias por ave

Tratamentos Peso vivo Conversão alimentar


(g) (g ração/g de peso vivo)

Inverno
(0-35 dias) (0-63 dias) (0-35 dias) (0-63 dias)

T 851,66 1.933,22 2,02 2,51


1
T 845,09 1.912,76 2,14 2,48
2
T 857,15 1.941,68 2,14 2,53
3
T 876,96 1.982,17 2,07 2,49
4
T 879,10 1.986,53 2,07 2,51
5
T 870,75 1.955,20 2,05 2,50
6
T 860.29 1.984,06 2,07 2,48
7

Erro-padrão
das m~dias 11,08 23,24 0,02 0,02
CV (%) 2,57 2,36 1,73 1,19
Verão
A T1 789,25 1.639,00 1,90 2,54
B T 804,75 1.683,75 1,94 2,53
2
C T 829,50 1.741,75 1,93 2,52
3
D T 819,25 1.699,75 1,91 2,51
4
E T 858,00 1.757,75 1,89 2,49
5
F T 826,00 1.731,50 1,95 2,52
6
G T 800,25 1.718,25 1,93 2,50
7

Erro-padrão
das m~dias 14,80 25,07 0,03 0,03
CV (%) 3,62 2,93 3,04 2,00

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mentação de antibióticos durante o período A conversão alimentar não apresentou


de trinta dias, contrariando, assim, os diferenças significativas entre os trata-
resultados obtidos no presente trabalho, mentos nos períodos de zero a 35 e de zero
onde se utilizaram antibióticos em dois a 63 dias de idade, tanto no inverno como
períodos curtos, de três dias cada um. no verão, o que contraria as observações
de MARCH et alii (1972) e POTTER et alii
A análise não rrostrou também, para o (1962), que apresentaram conversão melhor
período de zero a 63 dias, tanto no inver- nas aves que receberam antibióticos.
no como no verão, diferenças significati-
vas sobre o peso vivo, o que vem de encon-
tro aos trabalhos de HEUSER & NORRIS
(1952), mms & BOSSARD l 1963), WALDROUP A ocorrência de rrortalidade foi mí-
et alii (1970) e LOPES et alii (1979a). nlma e não influenciada pelos tratamentos.

CONCLUSÕES

A análise estatística do presente Os resultados sugerem a necessaoade


experimento, que testou à ação de três an- de se efetuar novos experimentos, pos-
tibióticos no 'período de vacinação contra sivelmente em ambientes de criação inten-
a doença de newcastle e bouba aviária, não siva cem no mínimo quatro criações ao ano
detectou diferenças significativas quanto e um esquema de imunização de duas vacina-
ao peso vivo, conversão alimentar e índice ções contra a doença de newcastle e urna
de rrortalidade entre as aves subret.i.das contra a bouba aviária, nos esquemas
,aos diferentes tratamentos. atuais para frangos de corte.

SUMMARY: The objective of this experiment was to study the effect of three antibio-
tics, in two levels as an antistress factor on vacination against Newcastle disease and
Fowlpox. Seven treatments were compared: TI = ration without antibiotic; T 2 = ration
supplemented with 100 9 of chlortetracvcline per metric ton.; T 3 = ration supplemented
with 200 9 of chlortetracvcline per rnetric ton.; T 4 = ration supplemented with 100 9
oxitetracycline per metric ton.; T 5 = ration supplemented with 200 9 oxi tetracvcline
per metric ton.; T 6 = ration supplemented with 100 9 erithromicin per metric ton.; T 7
= ration supplemented with 200 9 erithromicin per metric tono Statistical analysis did
not show differences (P < 0,05) as to live weight, feed conversion and rate of mortality
that could be attributed to the treatments, in the period to O to 35 davs and O to 63
davs, during winter and summer.

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