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A importância da compatibilidade de um probiótico com

agentes anticoccidianos
Publicado: 19/07/2021
Autor/s. : Vinicius de Queiroz Teixeira, Gerente de Serviços Técnicos da Evonik
Introdução
A coccidiose aviária, causada por espécies do gênero Eimeria, é uma das doenças infecciosas de maior
importância econômica na avicultura industrial, apesar da disponibilidade de fármacos anticoccidianos
presentes no mercado (Berchieri e Macari, 2000).
O processo infeccioso é rápido, de 4 a 7 dias e caracteriza-se pela multiplicação do parasita nas células do
epitélio intestinais do hospedeiro, causando danos significativos à mucosa intestinal. Essas lesões podem
ocorrer em diversos segmentos do intestino, conforme a espécie que esteja ocorrendo.
Algumas medidas de manejo são utilizadas para minimizar o grau de contaminação do ambiente com esses
protozoários mas não são suficientes para prevenir a infecção por esses agentes. Por isso os anticoccidianos
são administrados via ração para prevenir a doença e as perdas econômicas causadas por ela.
Os anticoccidianos devem ser utilizados de forma profilática, pois antes que os sintomas ou perdas de
desempenho sejam evidentes, o epitélio intestinal já terá sofrido importantes lesões. Adicionalmente, o
tratamento de uma infecção em curso não interrompe totalmente o surto. Desta forma, a adição de
anticoccidianos na ração de frangos de corte é uma prática comum (Allen et al., 2002; Greif et al., 2001).
De uma forma geral, probióticos são utilizados na avicultura pois podem trazer benefícios ao desempenho
produtivo das aves como a melhora da conversão alimentar, redução da mortalidade, estímulo ao sistema
imune e proteção do hospedeiro contra patógenos entéricos (Siragusa, 2012). Sabemos que alguns dos
anticoccidianos que utilizamos na produção avícola possuem efeitos antibacterianos e com isso teriam ação
também sobre os probióticos adicionados às dietas. Desta forma é fundamental a confirmação da
compatibilidade dos probióticos com os agentes anticoccidianos antes de adicioná-los às rações.
Objetivo
Validar a compatibilidade do Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940, Ecobiol®, com uma série de
anticoccidianos comumente utilizados na avicultura, como monensina sódica, diclazuril, nicarbazina,
cloridrato de robenidina, salinomicina sódica, lasalocida sódica, associação de narasina com nicarbazina,
maduramicina, decoquinato e semduramicina sódica.
Materiais e métodos
Para essa validação dois tipos de avaliações foram realizadas, testes in vitro e in vivo.
A compatibilidade com a monensina sódica, diclazuril e nicarbazina foram estudadas por meio do ensaio
de Concentração Inibitória Mínima (MIC), teste in vitro. Nesta técnica determina-se a menor concentração
de uma molécula que inibe o crescimento da bactéria em estudo. Seguimos a recomendação da Autoridade
Europeia para Segurança dos Alimentos, EFSA, para a determinação da compatibilidade de um probiótico
com moléculas, onde a cepa avaliada deve resistir a pelo menos quatro vezes a dose máxima de bula do
fármaco em estudo.
A compatibilidade com robenidina, salinomicina, lasalocida, diclazuril, associação de narasina com
nicarbazina, monensina, maduramicina, decoquinato e semduramicina foi avaliada in vivo, com a
recuperação do Ecobiol® em conteúdo cecal de aves alimentadas com as diversas moléculas administradas
nas rações das aves em sua dose máxima de bula.
Ambos os ensaios, in vitro e in vivo, foram realizados de acordo com as metodologias indicadas no manual
técnico de “Compatibilidade de aditivos zootécnicos microbianos com outros aditivos que apresentam
atividade antimicrobiana” da EFSA-FEEDDAP.
Experimento In Vitro
O inóculo foi preparado a partir de colônias isoladas do Ecobiol®, a fim de se obter uma diluição de
1,0x108 UFC/ml.
Todos os anticoccidianos foram preparados de acordo com as recomendações dos fabricantes e foram feitas
as diluições necessárias para o atendimento da compatibilidade do probiótico com as moléculas em estudo
de acordo com a determinação da EFSA, conforme tabela 1.
A MIC foi calculada como a média de três repetições da mesma concentração de cada um dos
anticoccidianos. O Ecobiol® foi considerado compatível com a molécula quando a MIC da molécula foi
quatro vezes maior que sua concentração máxima na ração.
Experimentos In Vivo
Foram realizados dois experimentos para avaliar a compatibilidade do Ecobiol® com anticoccidianos em
frangos de corte até os 21 dias de idade. Em ambos os experimentos os anticoccidianos foram incluídos na
ração na dose máxima recomendada e confirmadas por análises químicas. As dietas basais possuíam níveis
usuais da indústria e sua composição base era milho, trigo e farelo de soja. O Ecobiol® foi incluído em uma
dose padrão de 1,0x109 UFC/kg de ração, também confirmado por análise de recuperação de esporos
viáveis. No final dos experimentos foram coletados conteúdo cecal de 18 aves por tratamento e foi realizada
a contagem de B. amyloliquefaciens CECT 5940 viáveis.
Resultados
No experimento in vitro houve crescimento do Ecobiol® em todas as concentrações testadas. Portanto, os
resultados indicam que o Ecobiol® é compatível com os anticoccidianos monensina sódica, diclazuril e
nicarbazina.
Nos experimentos in vivo, tanto na avaliação 1 (tabela 2) e na avaliação 2 (tabela 3), a saúde das aves e o
desempenho foram considerados normais durante o estudo e não foram detectadas diferenças significativas
entre os tratamentos, exceto no tratamento com maduramicina, que teve impacto negativo no peso corporal
e no ganho de peso final do teste (34,7 vs. 32,1 g/d; P<0,05). Em ambos os testes a contagem de
Ecobiol® foi adequada para todos os tratamentos, diferindo em aproximadamente ± 0,5 log UFC/g digesta.
No experimento 1, mesmo com diferenças estatísticas observadas, todos os tratamentos não diferiram do
controle e atenderam a recuperação necessária.
Conclusões
Baseado em todas as avaliações realizadas foi possível concluir que o Ecobiol® é compatível com todos os
anticoccidianos comerciais testados
 Allen P.C. and R.H. Fettered. 2002. Recent advances in biology and immunobiology of Eimeria sopecies
abd inb diagnosis and control of infection with these coccidian parasites of poultry. Clin Microbiol Rev.
15(1):58-65.
 Bercheri Junior A and Macari M. 2000. Doenças das aves. FACTA. (7.1) 391:405.
 Greif G., Harder A. and A. Haberkorn. 2001. Chemotherapeutic approaches to protozoa: Coccidiae-current
level of knowledge and outlook. Parasitol Res.87(11):973-5.
 Siragusa G. R. 2012. Modern probiology- Direct fed microbials and the avian gut microbiota. Proceedings
of the Australian Poultry Science Symposium. 23. 120:133.
 Technical guidance - Compatibility of zootechnical microbial additives with other additives showing
antimicrobial activity. The EFSA Journal (2008) 658, 1-5 DOI: 10.2903/j.efsa.2008.658.
ANEXOS
Referências bibliográficas

Autor : Vinícius Teixeira

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