Você está na página 1de 4

Universidade Federal do Vale do São Francisco

Colegiado de Psicologia
Tópicos em Linguística

Roteiro de Leitura I
Linguística e Psicanálise

O texto trata de um ponto-chave: a impossibilidade, “ordem do não-realizável”(p.


46), da falta (como um elemento que nos constitui).

O Início disto vem do Complexo de castração definido por Freud. A base deste
complexo tem relação com a angústia provocada pelo medo do menino perder seu
pênis. Essa angústia da perda também ocorre nas meninas e ambas têm um valor
moral que rege a vida de todos.

Para Lacan, a falta é aquilo que nos acompanha e nos marca ao longo da existência.
O Significante seria, desse modo, uma expressão da falta: a causa da falta e a falta
como causa do significante.

“O significante não está vinculado somente ao seu potencial lingüístico, assim como o
prazer não está ligado ao potencial genital, e sim ao significante. Para a Psicanálise, o
significante toma uma outra configuração, que redimensiona a questão da linguagem e da
língua, colocando-o em seu lugar potencial por excelência, que é o da constituição
psíquica, que está para além do lingüístico e do prazer dito genital. Há aí a credibilidade
e a aposta incondicional nos poderes do significante.” (MALISKA, 2002, p. 49)

Vejam:

“A castração é a falta simbólica de um objeto real, causando, portanto, uma


impossibilidade que atinge a todos, mas também é a única possibilidade de haver cultura,
por exemplo, ou mesmo o próprio sujeito. O que Lacan propõe não é a negação da
castração; ao contrário, é, a partir de sua aceitação, fazer disso algo diferente cujo o efeito
não será mais de angústia, e sim de uma ‘invenção’” (MALISKA, 2002, p. 46)
Índices do texto

1 Observem que Lacan redefiniu conceitos freudianos, utilizando-os, reinterpretando-os


e também trazendo outros campos do Saber, como a Linguística estrutural de base
saussiriana. (pp. 44-45).

2 Observem que, ao que parece, Freud abriu o caminho para as redefinições, o que reforça
uma ideia de que Lacan renovou ou reinaugurou a Psicanálise em um viés moderno, mas
sem se desligar das obras seminais do médico vienense. (pp. 45-46).

3 Ao tratar do significante, Lacan o coloca como aquele que não só marca o sujeito (“um
significante é o que representa um sujeito para outro significante” (LACAN,1988, p. 197,
apud MALISKA, 2002, p. 46), mas também tenta compensar uma falta, tapar um buraco,
preencher uma ausência.

Observem aqui que Lacan “descola”o signo, pois separa o significado e nos deixa apenas
o significante. Este, por sua vez, entra em uma roda incessante de busca do significado.
No meio disso, estamos nós, significantes subjetivos destinados a lidar com a falta e tentar
simbolizá-la (vejam aqui de novo o termo “símbolo”, que comentei ao final da aula do
dia 07) através dos significantes.

“Em outras palavras, a falta é, neste momento, de uma ordem fálica, que demanda algo
na tentativa de suturar o buraco, significar a falta, fazendo com que toda significação seja
fálica. ‘O falo é o significante privilegiado dessa marca, onde a parte do logos se conjuga
com o advento do desejo.’ (LACAN, 1998, p.699). Desta forma, podemos deduzir que a
significação só pode ser de uma ordem fálica.” (MALISKA, 2002, p. 46)

4 - Observem também que tudo pode ser significado ou significável, apesar de nem tudo
ser significantes. Neste sentido, Maliska (2002, p. 46) faz uma correlação com os termos
da sexualidade, em “que as coisas são sexualizáveis e não sexuais, e que o significante
por si só esbarra em sua impossibilidade de significação.” (Idem).
5 – Antes de existirmos, de fato, somos tomados pelo Significante. Como? Os pais que
aguardam o filho nascer, lhe atribuem um nome (significante), idealizam o ser que vem
(no sentido de terem ideias sobre ele). Quando nascemos, o Significante já nos rodeia,
nos marca e nos toma: temos um nome que nos singulariza, portanto, nos põe no Mundo
dos signos, em meio a outros significantes. (ver parágrafo 2 da página 47).

6 – O Outro. Quem nos traz o Significante? O Outro, aquele que é o Tesouro dos
significantes.

O Significante fálico – O Outro : aquele que instaura a Lei.

O bebê nasce e rompe-se a membrana que o protege: faz-se um homem partido, fal(t)ante:

“[...] com um ovo se pode fazer tanto um homem quanto um homelete [...]” (LACAN,
1988, p. 186, apud MALISKA, 2002, p. 48)

7 – A falta também se faz no sexo e no falar. O sexo é a satisfação momentânea, marcado


por um ápice que é a pequena morte (“petit mort”, nome dado ao orgasmo pelos franceses).
É uma satisfação que não encerra, não se satisfaz, a falta não se completa. Fala-se para
trazer satisfação, como o sexo. Falar, falar, falar: não cessa.

8 - O bebê que chora sente necessidade e desejo, mas não domina os Significantes, ainda,
mesmo tomado por eles. O Outro, este que traz a Lei, instaura os significantes sobre este
ser. Instaura o desejo, aquilo que é da ordem do desejo em significantes (o bebê sente
fome, sente dor, sente falta, o bebê sente paz): tudo isso é significante trazido pelo Outro.
O bebê já lida com uma falta que não cessa e os Significantes aí vêm para tentar “colar”
nessa falta, dar-lhe significado. (ver parágrafo 2 da página 49)

9 – No último parágrafo, ele trata do conceito de Real, não o real. Este é um conceito-
chave em Lacan e perpassa pelo Significante. O Real nada tem a ver com o real. O Real
compõe uma das partes do chamado Nó borromeano; as outras são o Simbólico e o
Imaginário. No Simbólico, estão os signos (a roda incessante de Significantes); o
Imaginário é aquilo que nos faz percebermos como sujeitos, uma imagem de si; o Real é
o que escapa, é aquilo que não temos como “colar” um Significante, pois o Real não
aceita que se escreva, que se simbolize, pois o Real “não cessa de não se escrever.”

[continua...]

Você também pode gostar