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Introdução

Jacques Lacan usou a palavra francesa forclusion (foraclusão ou forclusão)


para traduzir o termo alemão Verwerfung, anteriormente representado em francês
como rejet (repúdio). Sigmund Freud tinha introduzido o termo foraclusão, juntamente
com negação (Verneinung) e repressão (Verdrängung) como um mecanismo de defesa.
Esta operação de repúdio afeta especialmente significantes altamente significativos,
como o Nome-do-Pai, o fiador da castração. Lacan via a foraclusão do Nome-do-
pai como o mecanismo característico da Psicose.

Segundo Lacan a Psicose é específica e determinada tendo uma lógica e rigor,


não sendo apresentada como um estado de espírito por qualquer pessoa. É uma estrutura
de linguagem, assim como a neurose, na relação do sujeito com o significante. Ela é
constituída pela rejeição (Verwerfung) como foraclusão do significante Nome-do-Pai.
Ou seja, o ser do sujeito não entra em uma simbolização; não é recalcado, mas rejeitado.

Na psicose o eu emprega procedimentos para se sair bem com diversas


exigências, defendendo-se assim das pulsões. Tornando-se a causa do distúrbio.
Fomenta uma nova produção: a alucinação. Inviabiliza a transferência e vive a realidade
tendo sua imaginação/fantasia inserida na mesma de forma comum, sendo assim,
realidade e ficção passam não são diferenciadas.

Por que a Foraclusão Acontece?

Poderíamos considerar como explicação o fato de a mãe não reconhecer ou


apresentar para a criança a lei, separando-a dessa figura paterna que essa lei representa,
impedindo assim esse relacionamento. Ou, doutra forma, esse pai, não se inscreve nesse
relacionamento, sendo incapaz de assumir a simbologia da lei, invalidando assim seu
papel castrador.

Não é louco quem quer, só é louco quem pode

Como já mencionado nesse opúsculo, a loucura não é privilégio de todos, mas


uma característica de algumas pessoas que a podem desenvolvê-la. A psicose é
considerada uma estrutura clínica cuja referência ao Édipo é o seu divisor de águas entre
ela e a neurose.
Freud e a Psicose

Em 1894, Freud afirmou haver uma defesa haver na psicose uma defesa mais
enérgica do que existiria na neurose: o Eu rejeita a representação insuportável, como se
essa representação jamais tivesse alcançado o mesmo, ou seja, projeta essa
representação ao mundo exterior.

O Nome-do-Pai

Lacan introduz a noção do “Nome-do-Pai”, dizendo que cada significante


conecta-se a outro significante, simbolizando assim, a falta que introduz ao existir. É o
nome-do-pai que possibilita ao ser humano suportar e manter o desejo, sem ele, essa
falta torna-se insuportável, devoradora, como uma força de sucção, uma ferida no corpo
que produz uma dívida que jamais será paga.

Entre a criança e a mãe deve haver uma mediação ou mediador, que introduz a
proibição ou a lei de interdição, negativando a criança como objeto de uso da mãe. Essa
é a metáfora do pai: O nome-do-pai, demonstrando à criança que o desejo da mãe está
em outro local ou em outro alguém, sendo ela própria submetida a uma lei. A ausência
da mãe se dá em função do significante nome-do-pai inscrito no Outro.

A criança tem em sua mãe o Outro (o primeiro tempo lógico do Édipo). O nome-
do-pai vem barrar o Outro (mãe) onipotente e absoluto para criança, fazendo com que a
criança seja inserida na ordem simbólica desse Outro que não legaliza seus caprichos.

Quando esse pagamento simbólico de comprometimento com o nome-do-pai não


é feito, existe uma equivalência ao campo da psicose. É não ser incluído no tempo
próprio na metáfora da lei que é estabelecida na relação: criança, mãe e representante da
Lei (geralmente figura paterna). O sujeito não é submetido à castração simbólica, não
havendo assim a possibilidade de a significação fálica ocorrer. Esse não acesso ao falo,
significante que traz significação sob seu sexo, tem como efeito uma problemática fora
do sexo, não participando da partilha dos sexos. O psicótico é um sujeito ex-sexo.

É o nome-do-pai é o significante que possibilita ao sujeito entrar na linguagem,


articulando sua cadeia de significantes, essa não-inscrição desse significante no Outro
acarreta aquilo que para Lacan marca o essencial da psicose: os distúrbios da linguagem
e, principalmente a alucinação.
Bibliografia

Guerra, Andréa M.C. A psicose. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.


HENRIQUES, Rogério Paes. A psicose na contemporaneidade e seus novos
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QUINET, Antonio. Psicose e laço social: esquizofrenia, paranóia e melanco. 2.ed. –
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