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O Inconsciente

O que não é?
▪ O contrário da consciência
▪ Lugar do caos e irracionalidade humana
▪ Um território desconhecido e misterioso
▪ As profundezas da mente
▪ Uma substância material ou espiritual
▪ Um lugar físico ou anatômico
O ele mostra?
▪ Que é tanto ou mais ativo do que a própria consciência e, inclusive, a influência
▪ Que é determinante
▪ Daí as associações “livres” provarem que são, na verdade, escravas

▪ Que é, portanto, estruturado, MAS de forma diferente do Cs


Reflexão…
▪ Se o sistema Pcs/Cs tem uma estrutura e o sistema Ics tem OUTRA
estrutura, então os humanos tem que conviver com pelo menos
DUAS estruturas DIFERENTES trabalhando?

▪ PROSSIGAMOS…
La cu nas
▪ Formações do inconsciente: sonho, lapso, ato falho, chiste e sintomas.

“…o sujeito sente-se como que atropelado por um outro sujeito que ele
desconhece, mas que se impõe a sua fala produzindo trocas de nomes e
esquecimentos cujo sentido lhe escapa”

▪ Sujeito do enunciado X Sujeito da enunciação


▪ significado consciente x significante inconsciente

▪ O inconsciente torna-se “visível” onde falha o império consciente, e isso é


evidência de sua existência, seu funcionamento independente.
O inconsciente e o simbólico
▪ O inconsciente é uma “forma”, isto é, uma configuração, uma “lei de articulação”
▪ Vale lembrar: diferente do consciente

“O que define, portanto, o inconsciente não são os seus conteúdos, mas o modo
segundo o qual ele opera, impondo a esses conteúdos uma determinada forma”

▪ Daí fica a questão: se ele é um “sistema de configuração”, um conjunto de leis, ele


deve ser redigido, editado, por uma linguagem simbólica.

▪ O simbólico é sempre um sistema de ligação arbitrária entre palavras, enunciados,


frases, etc.
O inconsciente e o simbólico
▪ Exemplo: vagina (buraco, receptáculo, gravidez, parto) seios (amamentação,
cuidados, afeto), mãe, lar (comida, limpeza, roupas, organização), mulher. Logo, as
mulheres são afetuosas e cuidadoras do lar. São mães.
▪ Lei: “se vagina, então, mãe”.

▪ Questão: o que a vagina tem a ver com a mãe?


▪ relação arbitrária, portanto, simbólica.

“O que a linguagem vai permitir — e esta é uma tese defendida por Lacan — é um
afastamento do indivíduo em relação à vivência, o que lhe possibilita [...] uma certa
autonomia com respeito à realidade”
Leitura de texto-exemplo
Dona Dalva teve uma vida sofrida. Viveu na pele as dores do discurso
sexista/machista sobre o papel das mulheres como redentoras da família e do lar.
Sobre como "ser mãe é padecer no paraíso", e coisas do tipo. Comeu o pão que o
diabo amassou para criar seus filhos como mãe solo.

E tendo chegado a vez de sua prole entrar na vida adulta, não deixou de ensinar e, por
vezes, forçar o mesmo sexismo e machismo do qual padeceu toda a vida.
Secretamente torcia para que seus filhos padecessem como ela própria, sem se dar
conta disso conscientemente.

O inconsciente é estruturado do mesmo modo que uma linguagem: em códigos. E o


sexismo e machismo está codificado no inconsciente da Dona Dalva que, apesar de
todas as queixas conscientes da vida que teve e do tanto que sofreu, repete o
machismo/ sexismo na sua relação com os próprios filhos.
Estrutura do inconsciente
▪ Econômica: investimento, desinvestimento ou contrainvestimento de “energias”,
libido, em representações

▪ representações de coisas
▪ representações de palavras

▪ Para Freud, o Ics detém somente representações de coisas, enquanto que o


Pcs/Cs abriga representações de palavras
As Características do sistema
inconsciente
“As leis que presidem o funcionamento do sistema Ics não são as mesmas que
presidem o funcionamento do sistema Pcs/Cs. Assim sendo, no sistema Ics
podem coexistir, lado a lado, duas representações contraditórias sem que isso
implique a eliminação de uma delas.”

▪ Uma representação contraditória a outra pode ser mais ou menos investida, mas não
precisa ser eliminada, como ocorre no sistema Pcs/Cs. Não há lugar para a negação
no inconsciente.
As Características do sistema
inconsciente
▪ Princípio do Prazer: prazer é “redução de tensão” proporcionada pelo “escoamento”
da energia investida.

▪ Sistema Ics: busca descarregar a energia investida (satisfação) da maneira mais


rápida, pelo caminho mais curto, “saltando” entre representações:
▪ Condensação: união de representações pelo condensamento de investimento em uma só,
que representa as outras por serem tomadas como similares.
▪ Deslocamento: “no processo primário há um deslizar contínuo do investimento, de uma
representação para outra, o que lhe confere o caráter aparentemente absurdo que se
manifesta, por exemplo, nos sonhos”.
▪ Nos termos da linguística: metáfora (condensação) e deslocamento (metonímia)
▪ Lacan: “o inconsciente é estruturado COMO uma linguagem”.
O inconsciente é estruturado
como uma linguagem
▪ Saussure: ▪ Lacan:
▪ Signo: (significado + significante) = ▪ significante – significante = significado
significação ▪ Signo: significante | significado
▪ Valor: signos - signo - signo =
significação
O inconsciente é estruturado
como uma linguagem
“O que Lacan nos diz, numa crítica a toda filosofia que procura o significado, é que o
significante não tem por função representar o significado, mas que ele precede e
determina o significado”

▪ Isto é: A depender de como os significantes se articulam, teremos diferentes


significados (inconscientes).
▪ Metáfora: sobreposição dos significantes, isto é, uma condensação deles
▪ Metonímia: substituição entre os significantes, isto é, um deslocamento contíguo deles

“Condensação e deslocamento desempenhariam, no sonho, uma função homóloga à


da metáfora e metonímia no discurso. [...] os mecanismos apontados por Freud como
responsáveis pela elaboração onírica não se restringem aos sonhos, mas vão ser
apontados como mecanismos fundamentais do inconsciente em geral.”
Exemplos…
▪ Metáfora: “Ela é uma mãe”
▪ há uma condensação, sobreposição: cuidadosa, atenciosa, carinhosa, doadora, como
similares
▪ “mãe”, aqui, é uma metáfora de alguém “dedicado” ao outro. Ela é COMO uma mãe.

▪ Metonímia: “Meu filho me completa como mulher”


▪ há um deslocamento, neste caso uma substituição: mãe pela mulher.
▪ mulher de forma alguma é igual à mãe, mas é estabelecida uma relação arbitrária

▪ Sistema Pcs/Cs:
▪ Ser mulher: estudar, trabalhar, namorar, transar, amar, casar, ter casa, ser mãe
▪ Sistema Ics:
▪ Ser mulher: ser mãe
Emergência do inconsciente e
clivagem originária
● Perda arcaica: o parto, a separação do bebê de uma parte de si mesmo: a mãe

○ Objeto específico instintual (auto-conservação): o leite materno


■ satisfação com objeto definido, instintual, reflexa.
■ concentração da satisfação, ainda instintual

○ Objeto substituto primeiro, pulsional: o seio da mãe


■ satisfação parcial, apoiada no instinto, mas sem a função de autoconservação
■ o seio materno é um primeiro, mas não definitivo, objeto substituto
■ a criança procurará objetos externos substitutos que para compensar perda arcaica

“...paralelamente à satisfação de uma necessidade (fome) produz-se um prazer no


sugar. Ora, esse prazer, ao mesmo tempo que tem seu apoio no instinto, diferencia-se
dele, posto que não tem mais por objetivo a autoconservação. É esse apoio-desvio o
que marca a emergência da pulsão. “
Emergência do inconsciente e
clivagem originária
○ Objetos (outros) substitutos da pulsão
■ a satisfação parcial nos objetos externos é “introjetada”
■ os objetos externos na realidade passam a ser representados internamente
■ Autoerotismo: satisfação com o próprio corpo

● Zonas erógenas
○ qualquer parte do corpo pode tornar-se uma forma de satisfação pulsional parcial
■ do bico para a própria mão
○ o autoerotismo, a relação de si consigo mesmo, é substituída pela relação de si com a
linguagem.

“Assim como foi dito que a palavra engendra a morte da coisa e que é necessário que
a coisa se perca para ser representada, da mesma maneira o sujeito, ao se nomear
em seu discurso e para ser nomeado pela palavra do outro, se perde na sua realidade
ou sua verdade”

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