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EDUCAÇÃO FÍSICA, VIDA E MOVIMENTO

Coordenação: Prof. Dr. Go Tani

INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO Física ESCOLAR

1. Considerações iniciais

O reconhecimento de que a Educação Física brasileira mudou muito nestas últimas duas décadas
tem se tornado praticamente um consenso e, no contexto dessas mudanças, uma maior
preocupação com a Educação Física Escolar (EFE) tem sido apontada como um dos aspectos
mais marcantes (Tani, 1996, 1998a, 1998b).

De fato, a EFE foi colocada na ordem do dia das discussões de várias formas. Por exemplo, uma
quantidade substancial de eventos científicos e pedagógicos foi promovida para discuti-Ia,
resultando num volume considerável de material escrito em anais e periódicos. Com a
reestruturação dos cursos de preparação profissional, mediante a implantação do bacharelado, foi
inevitável refletir sobre a licenciatura, possibilitando maiores discussões sobre a EFE. Mais
recentemente, a elaboração da nova LDB implicou também novas reflexões a respeito.

Todavia, o resultado mais expressivo desse período de maior atenção à EFE seja, provavelmente,
a proposição de uma variedade de abordagens para o seu desenvolvimento, em forma de livros. A
proposição de abordagens como a humanista (Oliveira, 1980), a psicomotricista (Negrine, 1983),
a desenvolvimentista (Tani, Manoel, Kokubun & Proença, 1988), a construtivista (Freire, 1989),
a fenomenológica (Moreira, 1991), a sociológica (Betti, 1991), a histórico-crítica (Soares,
Taffarel, Varjal, Castellani Filho, Escobar & Bracht, 1992) e a antropológica (Daólio, 1995),
somente para citar algumas das mais conhecidas, provocou intensos debates acadêmicos, além de
sua disseminação por meio de cursos de aperfeiçoamento profissional em vários pontos do país.

Outros livros importantes foram publicados nesse período que direta ou indiretamente
contribuíram para a discussão da EFE. Novamente incorrendo no risco de ser traído pela memória
e cometer injustiças, as obras de Castellani Filho (1988), Faria Júnior (1981), Ferreira (1984),
Lovisolo (1995), Mariz de Oliveira, Betti & Mariz de Oliveira (1988), Medina (1983), Taffarel
(1985), podem ser citadas como as mais representativas que
influenciaram a opinião pública. .

Com todas estas publicações, debates, discussões e cursos, era de se esperar um grande salto
qualitativo na prática pedagógica da Educação Física nas escolas. Todavia, vários problemas têm
sido apontados (veja, por exemplo, Betti, 1991, 1992; Guerra de Resende, 1995; Mariz de
Oliveira, 1991; Tani, 1991, 1996, 1998a, 1998b), mostrando que isso infelizmente não aconteceu.

Diversas causas podem ser apontadas para explicar o ocorrido, mas basicamente as mudanças
foram observadas no meio acadêmico e não na esfera da prática profissional onde a EFE
efetivamente acontece. Com razão, o distanciamento entre o ambiente acadêmico e o profissional
têm sido denunciado como sendo um dos maiores problemas enfrentados pela área (Betti, 1996;
Bracht, 1993; Farinatti, 1992; Guerra de Resende, 1995; Tani, 1996; 1998a, 1998b). Há, na
realidade, uma mistura de indiferença e perplexidade na esfera profissional frente às discussões
no meio acadêmico. Isso se justifica, entre outros fatores, pelo fato de os debates acadêmicos,
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especialmente sobre as diferentes abordagens propostas, terem sido restritos às discussões de suas
bases conceituais, suas matrizes filosóficas, suas identificações ideológicas e suas posturas
políticas, não alcançando a realidade concreta da prática pedagógica em termos de discussões dos
objetivos, conteúdos e métodos de ensino.

É importante distinguir-se a dinâmica e as características das discussões na esfera acadêmica e


profissional. Na primeira há uma tendência de acentuarem-se as diferenças e, na segunda, a de se
buscar pontos convergentes que sejam úteis para a orientação, organização e desenvolvimento da
prática profissional (Tani, 1998a). No calor das discussões, os acadêmicos chegam até mesmo a
polemizar onde não existe nenhum espaço para tal. Para muitos, o responsável por essas
polêmicas é a fogueira das vaidades, um traço comum do meio acadêmico.

Decerto, as diferentes propostas acima referidas, em sua maioria, não foram escritas para que os
acadêmicos ficassem debatendo e criticando mutuamente, muito menos para que façam da crítica
um instrumento para fazer a opinião pública ser favorável a esta ou aquela abordagem
(normalmente a própria). As propostas foram apresentadas para os profissionais envolvidos com
a prática pedagógica no sistema de ensino. Portanto, a eles caberia a apreciação crítica do seu
conteúdo à luz de seus interesses e preocupações, sem nenhuma necessidade de intermediação de
acadêmicos.

Um outro fator que pode ter contribuído para a não ocorrência de mudanças substanciais na
prática pedagógica é que a maioria das abordagens não se preocupou em apresentar proposta de
roteiro completo. Uma abordagem de roteiro completo deve abranger desde princípios filosóficos
sobre o significado e objetivo da EFE, conteúdos devidamente estruturados, até metodologias de
ensino e avaliação. Deve mostrar a viabilidade de sua implementação e a antecipação de suas
possíveis conseqüências, além de apresentar sugestões claras de operacionalização para auxiliar o
professor, senão a solucionar, ao menos a formular melhor os seus problemas práticos. em outras
palavras, uma integração entre teoria e prática (Tani, 1998b).

Diante dessa situação, o presente projeto de capa citação profissional será desenvolvido com base
numa proposta de Educação Física que pretende alcançar o cotidiano dos professores nas escolas,
' discutindo objetivos, métodos e conteúdos de ensino nos diferentes anos de 'escolarização.

2. Proposta pedagógica

2.1. Fundamentos da proposta

A Educação Física está prevista, atualmente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) como um componente curricular da Educação Básica. Portanto, ela deve estar integrada a
proposta pedagógica da escola, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar.
Entretanto, a Educação Física, ainda hoje, não definiu claramente a sua função dentro da escola.
Definição essa que é dificultada por uma série de fatores dos quais destacamos alguns para uma
reflexão mais aprofundada (Tani & Manoel, 2004, para maiores detalhes).

O primeiro refere-se a confusão entre atividade_física e Educação Física. A Educação Física


envolve atividade física, mas nem toda atividade física é Educação Física. Caso contrário, todos
nós estaríamos fazendo Educação Física o dia todo, desde o despertar até o dormir, incluindo
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todas as atividades do cotidiano, do trabalho, do lazer e da vida social. Para que a atividade física
seja Educação Física, é preciso que algumas condições sejam preenchidas. Em primeiro lugar, ela
precisa estar vinculada a uma das cinco grandes categorias de movimento, que constituem o que
pode ser denominado de cultura do movimento (alguns preferem o conceito de cultura corporal,
cultura física ou cultura corporal de movimento), historicamente trabalhadas pela Educação
Física: o esporte, o jogo, o exercício, a ginástica e a dança. Em segundo lugar, ela necessita estar
vinculada ao alcance de objetivos claramente definidos, o que pressupõe a existência de um
projeto pedagógico ou de intervenção profissional específico à sua retaguarda. Qual ou quais
seriam esses projetos? Ainda que seja um assunto que envolva muita discussão, os seguintes
podem ser apontados como essenciais: a) estimular as pessoas a envolverem - se com atividades
físicas para aumentar e enriquecer o seu repertório motor, capacitando-as para melhor interagir
com o ambiente físico, social e cultural em que vivem; b) manter e promover a saúde,
proporcionando às pessoas oportunidades de adquirir conhecimentos, aptidões e atitudes
relacionados com um estilo de vida ativo; c) proporcionar o acesso à cultura do movimento para
dela participar, usufruir e ainda construir e transformar ao longo da vida, ou seja, um processo de
aculturação e de promoção do bem estar e qualidade de vida.

O segundo refere-se a ausência de uma reflexão mais aprofundada para diferenciar educação e
educação escolarizada e dentro desse contexto definir a função da Educação Física. Muitas
discussões em torno da identidade da EFE acabam confundindo as finalidades da educação com
os objetivos específicos da educação escolarizada. Por exemplo, é comum discussões acerca do
valor educativo do esporte ou a tentativa de sua legitimação como um fenômeno sociocultural de
grande contribuição para a educação, não diferenciarem claramente se está se referindo à
educação no sentido lato ou restrito (escolarização). O mesmo acontece quando se discute a
Educação Física na perspectiva da saúde, ou seja, a possível contribuição da atividade física
sistemática à manutenção e promoção da saúde. Muito freqüentemente, essa não diferenciação
tem levado a EFE a
assumir funções impróprias e a estabelecer objetivos incompatíveis com a sua real \ capacidade
de realização.

O terceiro refere-se a falta de distinção entre Educação Física e EFE, o que gera uma série de
ambigüidades acerca do conteúdo de ensino. O esporte, o jogo, a ginástica, o exercício e a dança
são categorias de movimento que se caracterizam como fenômenos socioculturais e constituem
uma parte importante do acervo cultural da humanidade. O conhecimento sistematizado e
acumulado historicamente acerca desses elementos da cultura do movimento é o que a EFE
procura disseminar por meio do ensino. Entenda-se como conhecimento sistematizado, o
conjunto de conhecimentos acerca da estrutura, organização e significado dessas categorias. de
movimento. Em outras palavras, o objetivo da EFE não é o de simplesmente oferecer
oportunidades de prática desses elementos da cultura do movimento num espaço denominado de
escola. Caso contrário, não haveria nenhuma possibilidade de distinção entre EFE e Educação
Física Não Escolar.

Dentro desse cenário, está plenamente justificado o chamado que a Educação Física deve fazer
para que um número cada vez maior de pessoas se envolva com a prática sistemática de atividade
física para ter acesso à cultura do movimento, incorporando um estilo de vida ativo para a
promoção do bem estar e qualidade de vida. No entanto, é importante reconhecer que esse
chamado tem apenas uma relação indireta com a EFE, pois, conforme já foi mencionado, ela tem
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como função básica possibilitar o acesso ao conhecimento sistematizado e acumulado
historicamente acerca da atividade física (movimento humano, cultura do movimento) e não
oferecer simplesmente oportunidades para a sua prática.

O domínio desse conhecimento sistematizado, disseminado pela EFE, é que leva as pessoas a
tomar decisões conscientes e refletidas acerca do seu envolvimento com a 'prática sistemática de
atividade física fora dela. Isso não quer dizer, obviamente, que a aula de Educação Física não
deva envolver a prática de atividade física, e nem que a aula não deva contribuir para um
envolvimento regular com essa prática. A prática, na EFE, constitui-se um importante meio para
se adquirir esse conhecimento sistematizado. Evidentemente, essa aquisição de conhecimento
deve ocorrer mediante uma prática que proporcione experiências positivas, ou seja, dê prazer ao
aluno. Uma prática que, como conseqüência, possibilite também influenciar o desenvolvimento
integrado das capacidades físicas, mentais e sociais.

Um exemplo prático de atividade física é oportuno para aprofundar esse entendimento. Vamos
supor que numa aula de Educação Física para alunos da 7a. série do ensino fundamental, discute-
se as implicações biológicas da prática da atividade física ou esporte. Uma das implicações seria
o desenvolvimento da capacidade aeróbia que é um componente fundamental da aptidão física, e
esta, um elemento imprescindível para a manutenção e promoção da saúde. Uma das formas de
desenvolver a capacidade aeróbia seria correr longas distâncias a uma velocidade moderada. Isso
causaria, inicialmente, modificações em alguns parâmetros fisiológicos como um aumento da
freqüência cardíaca e respiratória, e a sua subseqüente estabilização em um determinado nível
dependendo da condição física de cada aluno. Com a continuidade da prática haveria uma
adaptação do organismo, refletindo num ganho de aptidão. Trata-se de um processo muito bem
investigado e explicado pela fisiologia do exercício.

Para que os alunos adquiram esse conhecimento acerca da capacidade aeróbia (a forma de sua
aquisição, as suas dimensões e implicações que foram sistematizados e acumulados
historicamente pela Educação Física), o que se propõe é que os mesmos façam a verificação
"experimental" desse conhecimento, vivenciando na prática, por exemplo, as modificações nos
parâmetros fisiológicos a ela associadas e a sua posterior estabilização. Certamente, essa aula
seria bem diferente de uma outra, hegemonicamente presente na EFE atual, em que os alunos são
simplesmente requisitados a correr várias voltas ao redor da quadra esportiva para tentar melhorar
a sua capacidade aeróbia. O objetivo central da EFE não é fazer com que o aluno melhore a
capacidade aeróbia na escola. Ele deve sim aprender a como melhorá-Ia e adquirir os
conhecimentos acerca das dimensões e implicações biológicas, psicológicas, sociológicas e
culturais dessa capacidade.

Um outro exemplo ajuda a aprofundar ainda mais esse entendimento. O aluno aprende na escola
o conhecimento de que para ter sucesso na rebatida de uma bola é importante acompanhar
visualmente a sua trajetória até um certo ponto, correspondente ao início do movimento da
rebatida, para que a bola seja atingida no ponto adequado de contato, e não olhar para onde
pretende enviar a bola. O professor normalmente sintetiza todo esse conhecimento em uma frase:
"olho na bola". Por ter aprendido esse conhecimento na escola, o aluno usa-o em todas as
situações possíveis de prática, fora da escola, para melhorar a sua habilidade. Novamente, o
objetivo da Educação Física não é fazer com que o aluno melhore a habilidade motora na escola.

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É fazê-Io aprender a como melhorá-la e adquirir os conhecimentos acerca das dimensões e
implicações bio-psico-sócio-culturais dessa habilidade.

A EFE trabalha com o movimento humano. É amplamente reconhecido que o movimento tem
diferentes significados para o ser humano: biológico, psicológico, social, cultural e evolucionário.
O movimento desempenhou e desempenha um papel crucial no desenvolvimento humano. Não é
por acaso que as atividades físicas evoluíram em nossa cultura denotando a formação de valores a
ela atribuídos desde um utilitário caracterizado pelas atividades da vida diária (vestir-se,
alimentar-se, deslocar-se, manipular utensílios domésticos, etc.) e ocupacionais (habilidades
motoras exigidas no trabalho como digitar, operar um tomo, etc.), até valores de ordem pessoal e
estético manifesto em atividades expressivas (gestos, danças, ritos, etc.) e esportivas
(modalidades clássicas como atletismo, natação, hipismo, etc, e modalidades alternativas e de
aventura como escalada, rafting, orientação, etc.).

A EFE não apenas por direito, mas de fato, detém o conhecimento e a competência para atender
as necessidades e expectativas da sociedade em relação ao movimento humano. Assim, ela se
define como uma disciplina curricular que tem como meta a disseminação do conhecimento
sistematizado e acumulado historicamente sobre o movimento humano. Para alcançar essa meta,
promove, fundamentalmente, três tipos de aprendizagem: aprendizagem do movimento, através
do movimento e sobre o movimento.

Tomemos como exemplo o pular corda. Na aprendizagem do movimento, o aluno aprende a pular
e principalmente a como aprender a pular corda. Em outras palavras, adquire o conhecimento e
na medida das possibilidades a capacidade de como controlar os seus movimentos da melhor
forma possível para alcançar o objetivo. Isso envolve atividades como pensar, planejar, tomar
decisões, tentar, avaliar, ousar e persistir que levam à aquisição de conhecimentos sobre os
procedimentos, os processos e os fatores envolvidos na melhoria da qualidade do movimento. Por
ter o domínio desses conhecimentos - aprendidos na educação física escolar -, a criança pratica
essa atividade de forma consciente, espontânea e diferenciada em todas as situações possíveis
fora da escola para enriquecer o seu repertório motor e melhorar a qualidade do movimento.

Na aprendizagem através do movimento, o envolvimento com o pular corda possibilita a


aquisição, por exemplo, de conceitos como perto, longe, alto, baixo, círculo, giro, forte, fraco,
ritmo, força e velocidade, como também o desenvolvimento da sociabilidade mediante interação
grupal, cooperação, competição e desempenho de funções. Em outras palavras, o pular corda é
usado como um meio para desenvolver outras capacidades e conhecimentos que não aqueles
diretamente vinculados à melhoria da qualidade do movimento. O pular corda constitui um meio
para o aluno aprender sobre si mesmo, sobre o meio ambiente físico, social e cultural em que
vive.

Na realidade, a aprendizagem do movimento e a aprendizagem através do movimento estão


intimamente ligadas e não podem ser mutuamente exclusivas. São como duas faces de uma
mesma moeda. Numa experiência de movimento é difícil separá-Ias. Quando o movimento de
pular corda é praticado na perspectiva da aprendizagem do movimento, poderá também estar
resultando na aquisição de conceitos como ritmo e velocidade, assim como no desenvolvimento
da capacidade de cooperação e ou competição em razão do movimento ser praticado
normalmente em situação de dupla ou de grupo (aprendizagem através do movimento). Isso quer
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dizer que a aprendizagem do movimento resulta normalmente na aprendizagem através do
movimento, sendo a condição para tal ocorrência uma decisão adequada de cunho
fundamentalmente metodológico.

No entanto, a aprendizagem através do movimento não leva necessariamente à aprendizagem do


movimento, mesmo porque se o movimento é utilizado como meio para alcançar um fim,
pressupõe-se que ele já esteja desenvolvido. A aprendizagem através do movimento não tem
preocupação com a melhoria da qualidade do movimento. Além disso, por tratar-se de um meio
para um fim, a aprendizagem através do movimento pode ser utilizada por qualquer disciplina
curricular. Por exemplo, na disciplina de português, a alfabetização pode ser desenvolvida com o
uso do movimento como meio, assim como a aprendizagem de figuras geométricas e de conceitos
da física nas disciplinas de matemática e ciências. A aprendizagem do movimento, por sua vez, é
de responsabilidade da Educação Física. Se ela não a desenvolver, nenhuma outra disciplina se
encarregará desse empreendimento tão importante e, nesse caso, a educação do aluno estará
seguramente incompleta.

Na aprendizagem sobre o movimento, o aluno aprende sobre as dimensões e implicações bio-


psico-sócio-culturais do pular corda, ou seja, conhecimentos relevantes não apenas pelo seu valor
cultural e informacional, mas também utilitário e instrumental. Por exemplo, quais seriam as
implicações biológicas da prática do pular corda? Sob o ponto de vista da fisiologia do exercício,
da bioquímica do exercício, da biomecânica, da cineantropometria, quais seriam os cuidados a
serem observados na prática e quais seriam as implicações em termos, por exemplo, de saúde?
Quais seriam as implicações e dimensões psicológicas e comportamentais da prática do pular
corda? Quais seriam as suas implicações e relações, por exemplo, com a questão da busca da
autonomia na aprendizagem e execução dos movimentos e com o desenvolvimento do auto-
conceito, da auto-estima, do controle de estresse e assim por diante? E as dimensões e
implicações sociológicas e culturais da prática do pular corda? Sob o ponto de vista sociocultural,
quais seriam os aspectos importantes para um envolvimento apropriado com essa atividade?
Quais seriam os ganhos educacionais e culturais resultantes do acesso a esses conhecimentos? Os
conhecimentos acerca das dimensões e implicações bio-psico-sócio-culturais do movimento
humano devem ser adquiridos de forma associada a valores que levem à prática sistemática de
atividade física no futuro.

Como esses três tipos de aprendizagem estão intimamente relacionados, o grande desafio para a
EFE é, tendo como premissa a interação, definir suas prioridades consideradas as especificidades
da Educação Física e as características dos alunos quanto a sua capacidade e prontidão para
aprender. No nosso entender (Tani et alii, 1988; Tani, 1991, para maiores detalhes), a
aprendizagem do movimento, com implicações para a aprendizagem através do movimento, é
prioritária nas séries iniciais do ensino fundamental, da mesma forma que a aprendizagem sobre o
movimento é no ensino médio. Se a aprendizagem através do movimento é priorizada, perde-se a
especificidade da EFE, pois, como já foi visto, ela pode ser trabalhada por qualquer outra
disciplina curricular. A aprendizagem do movimento harmonicamente integrada à aprendizagem
sobre o movimento e, portanto, com implicações também para a aprendizagem através do
movimento, é prioritária nas séries finais do ensino fundamental. A aprendizagem sobre o
movimento é, por sua vez, prioritária no ensino médio.

2.2. Princípios gerais


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Princípios gerais referem-se a importantes aspectos que necessitam ser considerados no processo
de escolarização, não necessariamente específicos da Educação Física, mas fundamentais para o
seu desenvolvimento.

2.2.1. Ambiente de aprendizagem

Os alunos irão atingir o objetivo do programa de EFE se eles desenvolverem um desejo de


envolver-se com as aulas. O objetivo será melhor alcançado num ambiente em que os alunos
sintam-se física e emocionalmente seguros; onde sejam oferecidas uma variedade de experiências
de aprendizagem, apropriadas em termos de desenvolvimento. Existem muitos fatores a serem
considerados quando da criação de um ambiente de aprendizagem, entre eles: a) seleção de
atividades que sejam relevantes, significativas e prazerosas; b) articulação entre instrução,
resultados de aprendizagem e estratégias de avaliação; c) aprendizagem mediante participação
ativa do aluno; d) diferenças individuais quanto a maneiras e ritmos de aprendizagem; e)
aprendizagem como um processo individual e em grupo; f) oportunidades para praticar e
demonstrar crescimento e realização; g) elementos de risco e desafio fornecidos em um ambiente
seguro; h) considerações sobre e para as experiências passadas; i) administração do tempo e j)
especialidade do professor.

2.2.2. Aprender a ser e conviver

A escola pode ser um espaço privilegiado para a socialização da criança, pois ela tem a
oportunidade de aprender as regras de convivência com as outras crianças. Desenvolver atitudes e
valores ganha importância, pois no mundo moderno vê-se, cada vez mais, uma redução dos
espaços de convivência e de encontro.

A aula, além de um momento de transmissão e construção do conhecimento, também é


Um momento de interação social. Como toda interação entre pessoas, envolve valores e atitudes.
Qualquer atitude do professor já é um aprendizado para seus alunos, já que sua
influência sobre eles é muito grande. Todo comportamento do professor - a forma como se
comunica, como trata os outros, como explica - sempre será acompanhado de valores. Além
disso, um outro aspecto muito importante refere-se à sua relação afetiva com os alunos, em que
precisa estabelecer o equilíbrio entre carisma e respeito. 05 alunos precisam ser conquistados!

A EFE deve oferecer atividades que reforcem atitudes e valores positivos no aluno, na sua
relação consigo mesmo e com os outros. As aulas de Educação Física têm a característica de
utilizar muitas tarefas em grupo, as quais representam espaço privilegiado para se trabalhar as
atitudes e valores nas relações pessoais. Assim, por exemplo, todas as atitudes e valores
envolvidos em um jogo podem ser experimentados e discutidos. Atitudes de competição, assim
como valores associados à vitória e à derrota, freqüentemente geram conflitos, e não podem
passar os limites do respeito. Tais situações não podem perder de vista que o objetivo principal é
a aprendizagem inclusive de atitudes e de valores. É certo que levar o aluno a aprender a ser e
conviver com os outros, não é objetivo específico da Educação Física, mas como disciplina
curricular, ela não pode desconsiderá-Ios nem deixar de explicitá-Ios.

2.2.3. Aula ativa, vida ativa


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Vida ativa é uma maneira de viver que valoriza as atividades físicas e sua integração em rotinas
diárias e no lazer. As aulas de EFE fornecem oportunidades para os alunos participarem de
atividades físicas que podem promover bem estar e um nível funcional de aptidão física. Por
meio dessa participação, os alunos adquirem conhecimentos para fazer escolhas apropriadas e
estabelecer objetivos pessoais que aumentem a qualidade de suas vidas.

O hábito de uma vida ativa é uma responsabilidade coletiva que envolve alunos, pais,
professores, escola e comunidade. Em cada dia, dentro de casa, na escola, ou na comunidade,
existe um tempo disponível, estruturado ou não, no qual a prática de atividade física pode
contribuir para o bem estar das pessoas. Os benefícios da atividade física aumentam
proporcionalmente ao tempo e regularidade de prática, assim deve-se procurar explorar ao
máximo a quantidade de tempo disponível dentro do contexto escolar.

Uma abordagem que seja sensível a uma prática culturalmente significativa e apropriada em
termos de desenvolvimento, que enfatize o prazer na participação, tem mais chance de fomentar
nos alunos o desejo de praticar atividade física ao longo da vida. Uma vida ativa é vital para um
crescimento e desenvolvimento apropriados, e os benefícios são amplamente reconhecidos. Os
alunos não desenvolvem automaticamente os conhecimentos, as habilidades e as atitudes que
levam a um estilo de vida ativo e saudável. Tal aprendizagem deve começar na infância. Escolas
e professores podem ser os primeiros facilitadores no fornecimento de oportunidades para o
desenvolvimento de um desejo vitalício de participar de atividades físicas. O programa de EFE
que contribua para uma vida ativa deve procurar: a) criar um desejo de participar, permitindo a
incorporação da atividade física no cotidiano; b) adequar a natureza, a forma, a freqüência e a
intensidade da atividade às capacidades de cada pessoa, necessidades, aspirações e interesses; o)
oferecer oportunidades para participação em atividades como competições interescolares e
interclasses, atividades recreativas e culturais; d) apoiar a compreensão da relevância da atividade
física dentro da comunidade; e) oferecer uma diversidade de oportunidades para permitir escolhas
e
f) basear a prática sobre atividades físicas que possam ser desfrutadas ao longo de toda a vida e
que tenham condições atuais ou futuras de serem incorporadas na cultura do movimento da
comunidade.

MÓDULO 2:

PEDAGOGIA DO MOVIMENTO: 1ªA 4aª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

1.Finalidades
Finalidades Conhecimentos

Adquirir conhecimento acerca de como Dicas e informações essenciais


melhorar a qualidade de movimento
Ampliar o repertório de movimentos e Locomoção, manipulação, equilíbrio e
melhorar a sua qualidade controle postural, combinação de
movimentos, atividades rítmicas e
linguagem do movimento.

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Adquirir conhecimentos sobre as dimensões Biológicas
e implicações do movimento Comportamentais Socioculturais

Ter e permitir acesso à cultura do Jogo Dança Ginástica


movimento

1.1. Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade do movimento

A escola, segundo a UNESCO, estabelece como um de seus pilares o "aprender a aprender".


Desta forma, nas aulas de Educação Física, o professor deve procurar desenvolver no aluno a
autonomia no processo de melhoria na qualidade do movimento, ou seja, aquisição de habilidades
motoras. Para tanto, o aluno deve ter acesso às informações que se referem a descrições,
procedimentos e dicas factuais que destaquem os aspectos essenciais para sua aprendizagem. Por
exemplo, no ensino do rolamento para frente, o aluno deve aprender que uns dos aspectos
essenciais para o sucesso na sua execução é que o queixo deverá estar colado no peito e não ficar
simplesmente repetindo o movimento para tentar adquirir habilidade. É o mesmo que acontece,
por exemplo, na matemática. Quando o professor de matemática ensina a equação de segundo
grau, ele não se limita a propor repetição de exercícios, mas ensina o raciocínio lógico necessário
para compreensão e solução do problema, possibilitando aos alunos a aquisição de capacidade
para exercitarem autonomamente e assim melhorem a sua competência. Com isso, a EFE passa
também a possuir um conhecimento claramente definido para ser avaliado, independente do nível
de habilidade motora ou desempenho motor do aluno. Em suma, conhecer acerca de como
melhorar a qualidade do movimento significa ser capaz de identificar os procedimentos e dicas
essenciais necessári9s à aquisição de habilidades motoras. A aquisição desse conhecimento na
escola possibilita ao aluno a sua utilização em todas as oportunidades de prática fora da escola,
para melhorar a habilidade.
Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade do movimento é um aspecto da
aprendizagem do movimento que se constitui um dos objetivos centrais da EFE, especialmente
quando se considera a realidade do sistema de ensino quanto a dias e horas de aula semanais,
número de alunos por classe, espaços e materiais didáticos disponíveis.

Quadro de exemplos

Locomoção Informações essenciais Erros comuns


Auxiliar a corrida com a movimentação
Correr Movimento descoordenado dos braços
dos
braços
Saltar Flexionar os joelhos no momento do salto Sincronização inadequada da extensão
dos joelhos em relação ao movimento
Auxiliar com o impulso dos braços
dos
braços

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Manipulação Informações essenciais Erros comuns

Arremessar Pé de apoio (oposto ao braço de Não usar todo o


arremesso) corpo no arremesso,
à frente especialmente o movimento do
quadril

Quicar Amortecer a bola com a mão e empurrá- Bater na bola


Ia contra o solo

Chutar Pé de apoio na linha da bola Colocação inadequada do pé de


apoio
Rebater Olhar a bola Olhar onde quer rebater a bola
Posicionar-se de lado para realizar a
rotação do tronco

Receber Olhar a bola Esperar a bola com os braços


Posição de recepção estendidos

Combinação Informações essenciais Erros comuns


Correr - saltar Flexionar o joelho no momento do salto Parar antes de saltar
Auxiliar o salto com o movimento dos
braços
Saltar - Ao saltar preparar a posição de arremesso Desequilíbrio do corpo no momento do
arremessar arremesso

Equilíbrio e Informações essenciais Erros comuns


controle
postural
Rolamento Colocar o queixo no peito Apoiar a cabeça no solo e não sobre as
para frente Deixar o corpo grupado mãos
Provocar desequilíbrio para a frente Não colocar o queixo no peito
Apoio das mãos no solo Não deixar o corpo grupado
Tocar o solo com as costas Não provocar desequilíbrio para frente
Manter o corpo grupado até o fim do
movimento
Parada de A testa e as mãos deverão formar um Apoiar a testa e as mãos na mesma linha
cabeça triângulo

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Estratégias Informações essenciais Erros comuns
de jogo
Queimada Olhar a bola Não olhar a bola
Ficar distante da bola Quando esta estiver Ficar perto do campo adversário quando
com o adversário este tiver a posse de bola
Não ficar de costas para a bola Formar grupos
Ficar separado dos colegas quando Não passar a bola
passar a bola Ser lento ao fugir e ao arremessar a bola
Ser rápido para arremessar e para fugir da Não tentar pegar a bola
bola
Tentar pegar a bola
Desmarcação Estar em constante movimentação Ficar parado
Ser lento no deslocamento
Deslocar-se rapidamente
Não criar uma linha de passe
Procurar espaços vazios Movimentar-se numa única direção
Criar uma linha de passe
Ficar no campo visual do marcador
Mudança rápida de direção
Sair do campo visual do marcador
Posicionar-se entre a bola e o jogador a Não se posicionar entre a bola e o
Marcação
ser marcado jogador a ser marcado
Não perder o contato visual com a bola e
o jogador a ser marcado

1.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade

Os alunos precisam provocar mudanças no seu comportamento motor, refinando-o e


diversificando-o. A capacidade dos alunos de se adaptarem ao ambiente resulta na aquisição de
uma gama de habilidades motoras. Didaticamente, elas podem ser divididas em pelo menos cinco
grandes grupos: locomotoras, manipulativas (controle de objetos), equilíbrio e controle postural,
combinações básicas de habilidades (didaticamente construídas) e combinações específicas
próprias da cultura do movimento. Além dessas categorias de habilidades motoras, dois outros
aspectos são cruciais para o incremento da qualidade do movimento - o ritmo e os conceitos de
movimento. Eles são aspectos constitutivos da própria possibilidade de movimento.

a) As habilidades locomotoras referem-se àqueles movimentos que implicam no deslocamento de


todo o corpo, como uma unidade. Estão incluídas dentro desse grupo de habilidades as diversas
formas de rastejar (rolar, andar, correr, deslizar, saltar, escalar, etc.), com ou sem implementos
(perna de pau, patins, etc.).

b) As habilidades manipulativas envolvem controle do e sobre objetos, como o próprio nome diz
(no caso da Educação Física, principalmente bolas), buscando atingir uma determinada meta.

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Estão incluídas dentro desse grupo de habilidades as diversas formas de arremessar e receber
objetos, chutar, driblar, quicar, rebater, etc.

c) Poucos percebem a dificuldade que é nossa capacidade de nos mantermos alinhados e


equilibrados em suportes precários, frente a constantes e muitas vezes inesperadas demandas de
movimentos locomotores ou manipulativos. Os exemplos mais clássicos do nosso controle
postural, ou muitas vezes da falta dele, são as posturas estáticas em pé e sentada, envolvidas em
inúmeras atividades funcionais fora e dentro da escola. Entretanto, essa verdadeira "plataforma
postural" faz muito mais que manter o corpo em uma postura estática apropriada - ela sustenta
todas as nossas ações locomotoras e manipulativas. Assim, as habilidades de controle, orientação
e equilíbrio postural referem-se a nossa capacidade de lidar com as forças gravitacionais e
oferecer um suporte contínuo para realização de movimentos. Toda vez que nos movemos,
alteramos profundamente a distribuição das forças que atuam sobre o corpo, de uma forma que,
se não controlada, impediria a própria movimentação que gerou o desequilíbrio. No entanto,
somos capazes não só de antecipar essas mudanças, mantendo a orientação e equilíbrio postural1
necessário para que a meta seja atingida, como também de realizar ajustes posturais
compensatórios frente às mudanças que não puderam ser previstas antecipadamente. Estão
incluídas dentro desse grupo aquelas habilidades com uma demanda crítica sobre a capacidade de
manter o equilíbrio estático ou dinâmico, assim como aquelas que demandam consciência
corporal crítica do estado de tensão e relaxamento dos músculos ou grupos musculares (apoios
invertidos, posturas ginásticas estáticas e etc.).

d) A combinação básica de habilidades fundamentais refere-se àquelas reorganizações primárias


dentro das próprias habilidades locomotoras (correr e saltar, por exemplo) ou entre as habilidades
locomotoras e manipulativas. São as combinações didaticamente construídas que servem de base
para inúmeras habilidades específicas da cultura do movimento.

e) Combinação de habilidades fundamentais implicadas na cultura do movimento (ginástica,


dança e jogo) refere-se a combinações presentes em atividades físicas com significado cultural,
ou seja, próprias da cultura do movimento. Estão incluídas dentro desse grupo, por exemplo, salto
em distância, arremessar ao gol, correr e fintar em situações de jogo de regras, etc.

f) - As atividades rítmicas possibilitam explorar aspectos fundamentais da organização temporal


do movimento como sincronização, timing e ritmo. O ritmo caracteriza-se como um fluxo
constante e dinâmico mediante o qual diversos processos corporais se manifestam.
Necessariamente intrínseco ao movimento, o ritmo é a manifestação harmônica de determinada
ação motora em um intervalo temporal. Assim, as atividades rítmicas têm como principal
objetivo proporcionar experiências que enriqueçam a percepção e organização temporal do
movimento.
12

g) Se pedirmos para alguém realizar um movimento com os braços e em seguida para que essa
mesma pessoa descreva o movimento que realizou, estaremos envolvendo-a em uma tarefa
extremamente difícil. Movimentos, de uma forma geral, são fenômenos difíceis de serem
descritos e, portanto, de serem comunicados. Um avanço significativo para a solução desse
problema foi o sistema proposto por Rudolf Laban (1978) para descrever movimentos de
dançarinos. A grande contribuição de Laban foi construir um sistema de notação de movimento,
12
capaz de representá-Io na forma de linguagem verbal. Essa linguagem, além de ser uma
ferramenta importante para ajudar o professor de Educação Física a construir experiências de
aprendizagem, é também muito útil para o aluno explorar e desenvolver a qualidade do seu
movimento. A linguagem do movimento ajuda o aluno a falar sobre movimento, a construir uma
idéia motora do movimento a ser aprendido ou executado e a planejar soluções funcionais para
situações novas. Em geral, a linguagem do movimento é composta por verbos (correr, girar,
saltar, esticar, etc.) e termos associados ao verbo, ou seja, advérbios (para trás, em cima, sobre,
em ziguezague, etc.). A linguagem do movimento pode ser organizada em quatro eixos descritos
abaixo.

o que o corpo ou suas partes estão fazendo

Partes do corpo Ações corporais Ação de partes do corpo


Cabeça Dobrar Suportar
Tronco Esticar Conduzir
Membros Torcer Aplicar força
Girar Receber forca

Categorias de movimento

Locomotoras: mover-se de um espaço o para o outro;


Equilíbrio e controle postural: permanecer no mesmo espaço;
Manipulação: lançar, receber e manusear objetos.

Formas corporais Para os lados Direções


Ampla Diagonal Para frente
Arredondada Para cima Para trás
Torcida Para baixo
Quebrada

O uso do espaço Níveis Extensões do corpo


Área Alto Grande/pequeno
Espaço pessoal Médio Perto/longe
Espaço coletivo Baixo Simétrico/assimétrico

Trajetórias*
Reta
Em curva
Ziguezague
13
* tanto no ar quanto no espaço; tanto com relação ao corpo quanto a objetos lançados ou
recebidos.

Características (qualidades) do movimento

Força Velocidade Fluência


Forte, intenso, pesado, Rápido, explosivo, súbito Travado,controlado,
musculatura tensa truncado, desajeitado

Fraco, fácil, leve, Devagar, cuidadoso


flutuante, músculos lento, músculos relaxados Solto, suave, fluído, contínuo
soltos

Relacionamentos com pessoas e ou objetos

Outras partes do corpo Objetos ou equipamentos Pessoas


Simétricas /assimétricas Perto/ longe Contrastar, Alternar
Atrás / na frente Dentro / fora Suceder, Espelhar
Acima / abaixo Em cima / em baixo Seguir, Imitar
Sobre /sob Interceptar

Estimulo
Visual
Auditivo
Proprioceptivo

Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade refere-se ao compromisso com a


aprendizagem de uma variedade de habilidades motoras, significativas ao contexto do aluno e
relativas às suas possibilidades de desempenho. A preocupação aqui está voltada
predominantemente para a ampliação do acervo motor do aluno que se constitui a base para o
desenvolvimento de movimentos mais complexos nas fases mais adiantadas do desenvolvimento.
Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade é um aspecto da aprendizagem
do movimento que deve ser perseguido na EFE como uma importante meta educacional. No
entanto, é fundamental o entendimento de que o seu alcance depende muito das condições que o
sistema de ensino oferece, por exemplo, a freqüência e duração das aulas, espaços e materiais,
conforme foi salientado e argumentado anteriormente. Esse é o motivo pelo qual a aquisição do
conhecimento acerca de como melhorar a qualidade de movimento, e não a melhoria da
qualidade do movimento propriamente dita, constituir-se uma das principais finalidades da EFE
nesta proposta.
14
1.3. Adquirir conhecimentos sobre as dimensões e implicações do movimento

Aprendizagem sobre o movimento refere-se a aquisição de conhecimentos acerca das dimensões


e implicações biológicas, psicológicas, sociológicas e culturais do movimento humano. São
conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas de pesquisa da Educação Física cujo domínio
por parte dos alunos tem um valor não apenas informacional e cultural como também utilitário e
instrumental. Em outras palavras, esses conhecimentos possibilitam uma compreensão mais
abrangente e aprofundada do movimento humano como um elemento fundamental para a vida e
inserem o aluno à cultura de movimento não apenas para dela participar e usufruir, como também
para construir e transformar.

Os conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas de pesquisa têm aumentado


substancialmente nas últimas décadas. São conhecimentos que descrevem e explicam, por
exemplo, as dimensões e os efeitos fisiológicos, biomecânicos, psicológicos, comportamentais e
socioculturais da atividade física. Infelizmente, esses conhecimentos têm tido pequeno impacto
nos programas de educação física, especialmente escolar, e têm sido pouco explorados como
conteúdo de ensino nos diferentes níveis de escolarização. Provavelmente, a visão de Educação
Física como uma disciplina eminentemente prática que ainda prevalece no meio escolar tem sido
um dos fatores que inibem a disseminação desses conhecimentos. Não seria exagero afirmar que
a Internet constitui-se hoje um veículo provavelmente muito mais atraente e eficiente no
desempenho dessa tarefa.

Sem aprendizagem sobre o movimento, certamente a EFE estaria incompleta, pois ela constitui-
se um. de seus objetivos centrais. É necessário, portanto, selecionar conhecimentos relevantes à
luz de critérios e valores educacionalmente orientados, que necessitam ser disseminados na EFE
e organizá-los de forma seqüencial em correspondência ao processo de escolarização. Como
esses conhecimentos referem-se, na maioria das vezes, a relação causa-efeito ou correlação entre
variáveis, ou ainda são conceitos acadêmicos mais elaborados e abstratos, o estágio de
desenvolvimento cognitivo em que se encontram os alunos constitui-se um importante referencial
a ser considerado para a definição da ordem seqüencial dos conteúdos.

1.4. Ter e permitir acesso à cultura do movimento

O ser humano se distingue de outras espécies animais porque criou um sistema de símbolos para
dar significado às suas relações com os outros e com a natureza. Esse conhecimento - conjunto de
significados de suas experiências - que determina sua forma de agir, é o que denominamos de
cultura. Toda sociedade insere um conjunto de significados simbólicos ao corpo. A forma como o
corpo é tratado e como o gesto é utilizado na comunicação ê em outras atividades, expressa como
as relações sociais são reguladas. Portanto, é possível relacionar as atividades motoras e as
sociedades em que se manifestam. Assim, o futebol no Brasil e o futebol americano nos EUA, diz
muito das características próprias dessas culturas.

A transmissão do patrimônio cultural historicamente acumulado é uma das funções essenciais da


escola. Pensando na cultura brasileira, tal fato ganha relevância, dada a riqueza de influências que
sofreu de outras culturas. Desse modo, é fundamental que nas aulas de EFE, ao mesmo tempo
15
que amplia o repertório de movimentos e melhora a sua qualidade, o aluno tenha oportunidade de
conhecer as diferentes manifestações da cultura do movimento (dança, jogo, ginástica).

a) Dança - desde a Antigüidade, a humanidade faz uso da dança como uma forma de
comunicação e expressão. Dentre as manifestações rítmicas e expressivas relatadas destacam-se
as danças sacras, danças de guerra e as danças profanas, com caráter recreativo. Além do seu
caráter de comunicação e expressão, a dança deve ser encarada como um importante elemento na
construção e no resgate da cultura popular de uma nação. Assim, as danças do folclore popular
bem como as danças contemporâneas e as atividades rítmicas e expressivas devem ser
contempladas durante os ciclos escolares.

b) Ginástica - refere-se, nesse programa, às atividades que visam o domínio do corpo e que se
apresentam por meio de figuras estáticas ou dinâmicas, que envolvem força e equilíbrio,
coordenando eixos e alavancas.

c) Jogo - Atividade lúdica regulada por regras. Podem ser classificados em: a) invasão/territorial -
salva bandeira, chutegol; b) rede - cambio, peteca; c) perseguição pega-pega, mãe da rua, duro-
mole; d) alvo - amarelinha, queimada; e) rebatida - base 4, taco. Podem também ser classificados
em: a) jogos globalizados - jogos que fazem parte da cultura seja ela regional ou de nível
nacional, onde poderão ser jogados em diferentes lugares com possíveis variações de regras e/ou
nomes; b) jogos populares; c) jogos cooperativos - jogos em que a dimensão cooperativa é
destacada e a dimensão competitiva minimizada.

2. Objetivos gerais

2.1. Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade de movimento

a) Conhecer e aplicar informações essenciais (dicas) para a execução das habilidades


motoras fundamentais.
b) Conhecer e aplicar informações essenciais (dicas) para a execução de combinações
das habilidades motoras fundamentais.
c) Conhecer e aplicar informações essenciais (dicas) para a execução de combinações das
habilidades motoras fundamentais em jogos de baixa, média e alta organização.

2.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade

a) Demonstrar capacidade de executar as habilidades motoras fundamentais, considerando o nível


esperado de desenvolvimento motor e as condições de aprendizagem.
b) Conhecer e aplicar a linguagem do movimento referente ao que o corpo está fazendo e
o uso do espaço.
c) Demonstrar capacidade de executar combinações básicas das habilidades motoras
fundamentais, considerando o nível esperado de desenvolvimento motor e as
condições de aprendizagem.
16
d) Conhecer a aplicar a linguagem do movimento referente às características do
movimento e relacionamentos.
e) Demonstrar capacidade de executar combinações básicas das habilidades motoras
fundamentais. em jogos de baixa organização, considerando o nível esperado de
desenvolvimento motor e as condições de aprendizagem.
f) Demonstrar capacidade de executar combinações básicas das habilidades motoras
fundamentais em jogos de média organização, considerando o nível esperado de
desenvolvimento motor e as condições de aprendizagem.
g) Demonstrar capacidade de executar combinações básicas das habilidades motoras
fundamentais em jogo de alta organização, considerando o nível esperado de
desenvolvimento motor e as condições de aprendizagem.

2.3. Adquirir conhecimentos sobre as implicações e dimensões do movimento

a) Ter conhecimento das dimensões e implicações biológicas do movimento.


b) Ter conhecimento das dimensões e implicações comportamentais do movimento. c) Ter
conhecimento das dimensões e implicações socioculturais do movimento.

2.4. Ter e permitir acesso à cultura de movimento

a) Ter conhecimento de atividades próprias da cultura do movimento - jogos cooperativos,


cantigas de roda e exercícios de solo - de acordo com o nível de desenvolvimento e as condições
de aprendizagem.
b) Ter conhecimento de atividades próprias da cultura do movimento - jogos populares, danças
folclóricas e exercícios de solo com materiais - de acordo com o nível de desenvolvimento e as
condições de aprendizagem.
c) Ter conhecimento e saber organizar atividades próprias da cultura do movimento jogos
mundiais, dança e exercícios com aparelhos - de' acordo com o nível de desenvolvimento e as
condições de aprendizagem.
d) Ter conhecimento, saber organizar e usufruir atividades próprias da cultura do movimento
como jogos, dança e seqüências de ginástica, de acordo com o nível de desenvolvimento e as
condições de aprendizagem.

MÓDULO 3:
PEDAGOGIA DO MOVIMENTO: Sa. A Sa. SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

1. Finalidades
Finalidades Conhecimentos

Adquirir conhecimento acerca de como Dicas e informações essenciais


melhorar a qualidade de movimento
Ampliar o repertório de movimentos e
melhorar a sua qualidade Habilidades motoras específicas Atividades
rítmicas
Adquirir conhecimentos sobre as dimensões Biológicas Comportamentais Sócio-

17
e implicações do movimento culturais

Ter e permitir acesso a cultura do Jogo Dança Esporte


movimento

1.1. Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade do movimento

A escola, segundo a UNESCO, estabelece como um de seus pilares o "aprender a aprender".


Desta forma, nas aulas de Educação Física, o professor deve procurar desenvolver no aluno a
autonomia no processo de melhoria na qualidade do movimento, ou seja, aquisição de habilidades
motoras. Para tanto, o aluno deve ter acesso às informações que se referem às descrições,
procedimentos e dicas factuais que destaquem os aspectos essenciais para sua aprendizagem. Por
exemplo, no ensino do rolamento para frente, o aluno deve aprender que uns dos aspectos
essenciais para o sucesso na sua execução é que o queixo deverá estar colado no peito e não ficar
simplesmente repetindo o movimento para tentar adquirir habilidade. É o mesmo que acontece,
por exemplo, na matemática. Quando o professor de matemática ensina a equação de segundo
grau, ele não se limita a propor repetição de exercícios, mas ensina o raciocínio lógico necessário
para compreensão e solução do problema, possibilitando aos alunos a aquisição de capacidade
para exercitarem autonomamente e assim melhorem a sua competência. Com isso, a EFE passa
também a possuir um conhecimento claramente definido para ser avaliado, independente do nível
de habilidade matara ou desempenho motor do aluno. Em suma, conhecer acerca de como
melhorar a qualidade do movimento significa ser capaz de identificar os procedimentos e dicas
essenciais necessários à aquisição de habilidades mataras. A aquisição desse conhecimento na
escola possibilita ao aluno a sua utilização em todas as oportunidades de prática fora da escola,
para melhorar a habilidade.

Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade do movimento é um aspecto da


aprendizagem do movimento que se constitui. um dos objetivos centrais da EFE, especialmente
quando se considera a realidade do sistema de ensino quanto a dias e horas de aula semanais,
número de alunos por classe, espaços e materiais didáticos disponíveis.
Quadro de exemplos: habilidades motoras especificas utilizadas no basquetebol

Habilidades Dicas Erros Comuns


Drible parado Bater na bola com os dedos. Palma da mão na bola
Ação das mãos Ação de io-io com a mão que está na bola, Bater na bola
empurrar da bola na direção do chão.
Olhos Olhar a quadra para jogadores livres, para
oportunidades de passes, lançamentos, ver os Olhar para bola
adversários.
Drible de Driblar rapidamente pela quadra com a bola baixa Driblar muito alto
velocidade
Executar 3 passos para a direita, ficar com a bola
na mão direita, rapidamente girar para que as Carregar a bola

18
Giro costas fiquem viradas para o adversário, trocar a
bola de mão, ficar com a bola baixa no giro.
2 polegares atrás da bola
Dedos espalhados pela bola
Passe Olhos no alvo Posição das mãos e dedos .
Estender os braços horizontalmente, seguidos
pelos polegares para baixo
Palmas das mãos Terminam para fora.
Recepção Mãos abertas Posição das mãos
Puxar a bola para si
Passe de peito e Passe com as duas mãos na altura do peito ou na Posição das mãos
pingado Direção do chão
Dedos abertos Dedos fechados
Arremesso Mãos altas, como segurando uma bandeja. Bola segurada pela palma
Mão Cotovelo faz um L com mão que esta com a bola da mão
arremessadora Bola rola pelos dedos, punho flexiona-se A bola e jogada
Mão não Colocada ao lado da bola, dedos apenas tocam a
arremessadora bola
Pernas Levemente flexionadas Força insuficientemente
usada pelas pernas
Cotovelos para fora Mãos não ficam na
Segurando a Bola fica na altura da cintura e ao lado posição de arremesso,
bola Mãos na posição de arremesso muito perto
Bola segurada muito alta
ou muito baixa
Defesa Uma mão em frente à bola, outra na linha do passe
Um olho no jogador e outro na linha do passe

1.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade

Os alunos precisam provocar mudanças no seu comportamento motor, refinando-o e


diversificando-o. A capacidade dos alunos de se adaptarem ao ambiente implica na aquisição de
uma gama de habilidades motoras específicas. Didaticamente, essas habilidades são
manifestações corporais que queremos realmente que nossos alunos adquiram, devem ser
selecionadas pelo professor e que sejam relevante para os alunos. Além das habilidades motoras,
outro aspecto crucial para o incremento da qualidade do movimento é o ritmo. É um aspecto
constitutivo da própria possibilidade de movimento.

a) Habilidades motoras específicas implicadas na cultura do movimento (ginástica, dança, jogos,


esporte) referem-se a combinações presentes em atividades físicas com significado cultural, ou
seja, próprias da cultura do movimento. Estão incluídas dentro desse grupo as habilidades
motoras que constituem as modalidades esportivas, por exemplo, salto em distância, drible ou
passe de peito no basquetebol, rebater a peteca, chute a gol no futebol, toque e manchete no
voleibol, e as habilidades motoras específicas de outras manifestações da cultura de movimento
selecionadas pelo professor.

19
b) As atividades rítmicas possibilitam explorar aspectos fundamentais da organização temporal
do movimento como sincronização, timing e ritmo. O ritmo caracteriza-se como um fluxo
constante e dinâmico mediante o qual diversos processos corporais se manifestam.
Necessariamente intrínseco ao movimento, o ritmo é a manifestação harmônica de determinada
ação matara em um intervalo temporal. Assim, as atividades rítmicas têm como principal objetivo
proporcionar experiências que enriqueçam a percepção e organização temporal do movimento.

Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade refere-se ao compromisso com a


aprendizagem de uma variedade de habilidades mataras específicas, significativas ao contexto do
aluno e relativas às suas possibilidades de desempenho. A preocupação aqui está voltada
predominantemente para a ampliação do acervo motor do aluno que se constitui a base para o
desenvolvimento de movimentos mais complexos nas fases mais adiantadas do desenvolvimento.
Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade é um aspecto da aprendizagem
do movimento que deve ser perseguido na EFE como uma importante meta educacional. No
entanto, é fundamental o entendimento de que o seu alcance depende muito das condições que o
sistema de ensino oferece, por exemplo, a freqüência e duração das aulas, espaços e materiais,
conforme foi salientado e argumentado anteriormente. Esse é o motivo pelo qual a aquisição do
conhecimento acerca de como melhorar a qualidade de movimento, e não a melhoria da
qualidade do movimento propriamente dita, constituir-se uma das principais finalidades da EFE
nesta proposta.

1.3. Adquirir conhecimentos sobre as dimensões e implicações do movimento

Aprendizagem sobre o movimento refere-se a aquisição de conhecimentos acerca das dimensões


e implicações biológicas, psicológicas, sociológicas e culturais do movimento humano. São
conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas de pesquisa da Educação Física cujo domínio
por parte dos alunos tem um valor não apenas informacional e cultural como também utilitário e
instrumental. Em outras palavras, esses conhecimentos possibilitam uma compreensão mais
abrangente e aprofundada do movimento humano como um elemento fundamental para a vida e
inserem o aluno à cultura de movimento não apenas para dela participar e usufruir, como também
para construir e transformar.

Os conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas de pesquisa têm aumentado


substancialmente nas últimas décadas. São conhecimentos que descrevem e explicam, por
exemplo, as dimensões e os efeitos fisiológicos, biomecânicos, psicológicos, comportamentais e
socioculturais da atividade física. Infelizmente, esses conhecimentos têm tido pequeno impacto
nos programas de educação física, especialmente escolar, e têm sido pouco explorados como
conteúdo de ensino nos diferentes níveis de escolarização. Provavelmente, a visão de Educação
Física como uma disciplina eminentemente prática que ainda prevalece no meio escolar tem sido
um dos fatores que inibem a disseminação desses conhecimentos. Não seria exagero afirmar que
a Internet constitui~se hoje um veículo provavelmente muito mais atraente e eficiente no
desempenho dessa tarefa.

Sem aprendizagem sobre o movimento, certamente a EFE estaria incompleta, pois ela constitui-
se um de seus objetivos centrais. É necessário, portanto, selecionar conhecimentos relevantes à
luz de critérios e valores educacionalmente orientados,. que necessitam ser disseminados na EFE
e organizá-Ios de forma seqüencial em correspondência ao processo de escolarização. Como
20
esses conhecimentos referem-se, na maioria das vezes, a relação causa-efeito ou correlação entre
variáveis, ou ainda são conceitos acadêmicos mais elaborados e abstratos, o estágio de
desenvolvimento cognitivo em que se encontram os alunos constitui-se um importante referencial
a ser considerado para a definição da ordem seqüencial dos conteúdos.

1.4. Ter e permitir acesso à cultura de movimento

O ser humano se distingue de outras espécies animais porque criou um sistema de símbolos para
dar significado às suas relações com os outros e com a natureza. Esse conhecimento - conjunto de
significados de suas experiências - que determina sua forma de agir é o que denominamos de
cultura. Toda sociedade insere um conjunto de significados simbólicos ao corpo. A forma como o
corpo é tratado e como o gesto é utilizado na comunicação e em outras atividades, expressa como
as relações sociais são reguladas. Portanto, é possível relacionar as atividades motoras e as
sociedades em que se manifestam. Assim, o futebol no Brasil e o futebol americano nos EUA, diz
muito das características próprias dessas culturas.

A transmissão do patrimônio cultural historicamente acumulado é uma das funções essenciais da


escola. Pensando na cultura brasileira, tal fato ganha relevância, dada a riqueza de influências que
sofreu de outras culturas. Desse modo, é fundamental que nas aulas de EFE, ao mesmo tempo em
que amplia o repertório de movimentos e melhora a sua qualidade, o aluno tenha oportunidade de
conhecer as diferentes manifestações da cultura do movimento (dança, jogo, esporte).

a) Dança - desde a Antigüidade, a humanidade faz uso da dança como uma forma de
comunicação e expressão. Dentre as manifestações rítmicas e expressivas relatadas destacam-se
as danças sacras, danças de guerra e as danças profanas, com caráter recreativo. Além do seu
caráter de comunicação e expressão, a dança deve ser encarada como um importante elemento na
construção e no resgate da cultura popular de uma nação. Assim, as danças do folclore popular
bem como as danças contemporâneas e as atividades rítmicas e expressivas devem ser
contempladas durante os ciclos escolares.

b) Jogo - Atividade lúdica regula-da por regras. Podem ser classificados em: a) jogos populares -
jogos que fazem parte da cultura, seja ela regional ou nacional, que possuem em comum a
característica de poder ser praticado segundo as tradições locais dos jogadores, sofrendo
mudanças no seu espaço de jogo, regras e mesmo nome; b) jogos mundiais - podem ou não fazer
parte da nossa cultura.

c) Esporte - Caracteriza-se por ter suas regras previamente definidas em outros espaços
(federações e confederações), fora do contexto dos participantes locais. É importante ressaltar
que optou-se por incluir os esportes organizados, olímpicos ou não, tendo claro o espaço e papel
da cultura de movimento dentro do programa, isto é,
desenvolvimento pessoal e cultural do aluno. .

2. Objetivos gerais

2.1. Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade de movimento


- Conhecer e aplicar informações_ essenciais (dicas) para a execução das habilidades
motoras específicas.
21
2.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade
a) Demonstrar familiaridade com os pré-requisitos motores das habilidades específicas a
serem aprendidas.
b) Demonstrar capacidade de executar as habilidades motoras específicas em tarefas
motoras, considerando o nível esperado de desenvolvimento motor e as condições de
aprendizagem.
c) Demonstrar capacidade de executar as habilidades motoras específicas em jogos
reduzidos, considerando o nível esperado de desenvolvimento motor e as condições de
aprendizagem.
d) Demonstrar capacidade de executar as habilidades motoras específicas em grandes jogos,
considerando o nível esperado de desenvolvimento motor e as condições de aprendizagem.

2.3. Adquirir conhecimentos sobre as implicações e dimensões do movimento


a) Ter conhecimento das dimensões e implicações biológicas do movimento.
b) Ter conhecimento das dimensões e implicações comportamentais do movimento.
c) Ter conhecimento das dimensões e implicações socioculturais do movimento.

2.4. Ter e permitir acesso à cultura de movimento


a) Ter conhecimento de atividades próprias da cultura do movimento - jogo, dança e esporte - de
acordo com o nível de desenvolvimento e as condições de aprendizagem.

Módulo 4:

PEDAGOGIA DO MOVIMENTO: ENSINO MÉDIO


1. Finalidades

Finalidades Conhecimentos

Adquirir conhecimento acerca de como Dicas e informações essenciais


melhorar
e manter a qualidade de movimento
Ampliar o repertório de movimentos e Atividades específicas das categorias de
melhorar a sua qualidade movimento "Esporte", "Exercício" e
"Dança"

Adquirir conhecimentos sobre as dimensões Biológicas Comportamentais Socioculturais


e implicações do movimento

Ter e permitir acesso à cultura do Esportes: coletivos, individuais/luta e auto-


movimento testagem

Exercícios de força, resistência


cardiorespiratória,
flexibilidade/alongamento e velocidade

22
Danças: tradicionais (folclórica como frevo,
valsa, etc) e contemporâneas (forró, dança
de rua, samba, samba rock

1.1. Adquirir conhecimentos acerca de como melhorar a qualidade do movimento


Um dos objetivos primordiais da Educação Física no ensino médio é que a prática de atividades
físicas torne-se significativa e seja incorporada na vida diária dos alunos,
especialmente após o término da escolarização básica. .

Desta forma, as diretrizes do programa para as séries finais da escolarização inclinam-se no


sentido da busca de autonomia em relação à prática - conhecimentos que permitam ao aluno,
escolher, modificar e adaptar diversos componentes das atividades físicas, para que a sua prática
seja otimizada. Isso implica não apenas a aquisição de conhecimentos específicos ao longo do
ensino fundamental, mas principalmente, de postura crítica em relação a tais conhecimentos.

Para tanto é necessário que o aluno adquira conhecimentos mais aprofundados acerca de como
melhorar a qualidade de seu movimento. Isso implica obter noções acerca dos princípios do
treinamento, ou seja, de que maneira os conhecimentos adquiridos anteriormente podem ser
sistematizados e aplicados a sua prática de acordo com diferentes situações e condições como: a)
suas características pessoais: motivações, preferências, potencialidades e necessidades com
relação à prática de atividades físicas; b) seus objetivos durante a prática: manutenção da saúde,
lazer, estética, comunicação e expressão; c) as características da atividade: locais disponíveis para
a prática, habilidades envolvidas, materiais necessários, adaptações necessárias.

1.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade

Como se sabe, ao longo de sua existência, a humanidade tem desempenhado e desenvolvido


atividades físicas atribuindo-lhe valores, desde aqueles utilitários, caracterizados pelas. atividades
da vida diária (vestir-se, alimentar-se, deslocar-se, manipular utensílios domésticos, etc.) e
ocupacionais (habilidades motoras exigidas no trabalho como digitar, operar um tomo, etc.), até
valores de ordem pessoal e estético manifestos em atividades expressivas (gestos, danças, ritos,
etc.) e esportivas (modalidades clássicas como atletismo, natação, hipismo, etc, e modalidades
alternativas e de aventura como escalada, rafting, orientação, etc.). Dentre tais atividades, a
Educação Física tem abordado o esporte, o jogo, a ginástica, o exercício e a dança como
categorias de movimento caracterizadas como fenômenos socioculturais que constituem uma
parte importante do acervo cultural da humanidade. No ensino médio, o jogo e a
ginástica ganham especificidade em virtude das características do aluno - adolescente e, portanto,
essas categorias (ginástica e jogo) passam a inserir-se nas categorias "esporte", "exercício" e
"dança".

Didaticamente essas categorias podem ser divididas da seguinte forma:

Esporte:
Coletivo (por ex.: futsal, basquetebol, handebol e voleibol) Individual (por ex.: atletismo e/ou
ginástica artística) Luta (por ex.: capoeira)
Auto-testagem (p.ex.: orientação)
23
Exercício:
Força
Resistência cardiorespiratória Flexibilidade
Velocidade

Dança:
Tradicionais (folclóricas): frevo
Contemporâneas: forró, dança de rua, samba, samba-rock

1.3. Adquirir conhecimentos sobre as dimensões e implicações do movimento

Conforme enfatizado anteriormente, o presente programa propõe que no ensino médio a


aquisição de conhecimentos sobre as dimensões e implicações bio-psicp-sócio-culturais do
movimento seja o seu "carro chefe". Entende-se que, durante este período de escolarização, essas
dimensões e implicações assumem uma importância crucial devido ao potencial aumento da
possibilidade de discutir esses conhecimentos e aplicá-los na organização da prática atual e
futura, possibilitado pelo próprio desenvolvimento cognitivo dos alunos.

O estudante do ensino médio possui ferramentas cognitivas sofisticadas que permitem não apenas
a compreensão de tais dimensões e implicações, como também o estabelecimento das mais
variadas relações entre elas. É fundamental que a EFE capacite o aluno a utilizar tais
conhecimentos na escolha e desenvolvimento de suas próprias práticas ao longo da vida.

1.4. Ter e permitir acesso à cultura do movimento

O acesso à cultura de movimento pode ser amplamente vislumbrado, à medida que podem ser
traçadas novas formas de ampliar o leque de conhecimentos acerca da diversidade cultural, tanto
no Brasil como em todo o mundo. Além do desenvolvimento de ferramentas de pesquisa e
análise de tais manifestações, é crucial que o aluno compreenda as relações que elas mantém com
a evolução histórica, sócio-econômica, geopolítica e outras áreas do conhecimento que ao se falar
de cultura, necessariamente se entrecruzam.

2. Objetivos gerais

2.1. Adquirir conhecimento acerca de como melhorar a qualidade de movimento


a) Conhecer os princípios do treinamento físico e suas formas de aplicação, considerando
diferentes variáveis.
b) Identificar as atividades mais adequadas para sua própria prática, considerando
características pessoais e características da atividade.
c) Construir um programa de atividade física que contemple essas duas categorias - tipo
de atividade e princípios de treinamento.

2.2. Ampliar o repertório de movimentos e melhorar a sua qualidade


a) Demonstrar capacidade de compreender e executar, no nível esperado para estágio de
24
desenvolvimento motor e fase de aprendizagem, diversas modalidades esportivas: individuais e
coletivas.
b) Demonstrar capacidade de compreender e executar, no nível esperado para estágio de
desenvolvimento motor e fase de aprendizagem, diversas atividades expressivas.
c) Demonstrar capacidade de compreender e executar, no nível esperado para estágio de
desenvolvimento motor e fase de aprendizagem, diversas atividades de auto-testagem.
d) Demonstrar capacidade de adaptar modalidades e outras atividades de acordo com
diferentes finalidades.

2.3. Adquirir conhecimentos sobre as implicações e dimensões do movimento a) Ter


conhecimento das dimensões e implicações biológicas do movimento. . b) Ter conhecimento das
dimensões e implicações comportamentais do movimento. c) Ter conhecimento das dimensões e
implicações socioculturais do movimento. d) Relacionar as dimensões e implicações nas três
diferentes esferas à prática de
atividade física.

2.4. Ter e permitir acesso à cultura de movimento


a) Ter conhecimento das relações estabelecidas entre a prática motora e diferentes
contextos culturais.
b) Ter conhecimento das relações entre as práticas motoras e diferentes contextos
históricos e políticos.
c) Desenvolver ferramentas de pesquisa e análise acerca de diferentes manifestações da
prática de atividade física.
d) Analisar diferentes possibilidades de usufruir atividades próprias da cultura de
movimento.

MÓDULO 5:

DIMENSÕES E IMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS DO MOVIMENTO HUMANO

1. Fundamentos

Uma importante função da EFE é a transmissão aos alunos de conhecimentos relacionados à


prática de atividade física quanto a sua dimensão biológica. Os conhecimentos dessa dimensão
têm duas funções básicas: a primeira é fornecer autonomia aos alunos para uma prática efetiva e
segura de exercícios físicos, durante e após a vida escolar; a segunda é transmitir a importância
desse aspecto da cultura do movimento para a adoção de um estilo de vida saudável.

A possibilidade de praticar atividade física autonomamente facilita a adoção de um estilo de vida


saudável, no qual a aderência pode deixar de ser um processo sazonal para ser um estado durante
toda a vida. A compreensão das dimensões biológicas da atividade física implica incorporar o
valor da sua prática na adição de qualidade de vida e saúde. Dessa forma, a transmissão das
dimensões e implicações biológicas da atividade física deve acontecer desde as primeiras séries
do ensino fundamental até o final do ensino médio.

25
Porém, os temas relacionados aos aspectos biológicos são complexos de forma que e os
conteúdos pertinentes a cada uma das séries do ensino devem ser ajustados ao desenvolvimento
cognitivo e às experiências prévias dos alunos. Isso evidencia que não se pode padronizar os
conteúdos para todas escolas e regiões. Por exemplo, alunos que vivem na zona rural devem ter
conteúdos e estratégias de ensino diferenciados dos alunos de grandes centros urbanos.

Em linhas gerais, o primeiro ciclo do ensino fundamental deve trabalhar com conceitos básicos
da prática de atividade física que sejam mais concretos e centrados em cada aluno. Ou seja, o
aluno deve conhecer os efeitos que a atividade física produz no seu corpo, sem se preocupar em
entender conceitos que exijam uma grande capacidade de abstração.

Por exemplo, o aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental deve ser capaz de entender como
o exercício eleva a produção de energia do organismo, aumentando a requisição de oxigênio.
Essa necessidade de oxigênio aumenta tanto a freqüência respiratória quanto cardíaca. Ficar
cansado após, ou durante a prática, é uma conseqüência normal e a ausência do cansaço pode
indicar problemas mais graves. Além disso, o processo de termorregulação deve ser introduzido
para que os alunos tenham condições de julgar qual a vestimenta mais adequada para cada
situação de prática. Quando a vestimenta adequada não for possível por razões econômicas,
conceitos de reposição hídrica e de pausas freqüentes devem ser mais enfatizados.

Outro tema importante para os alunos do primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental é a
percepção de crescimento. Avaliações biométricas são essenciais para que eles entendam que
seus corpos estão aumentando em suas proporções. A associação do crescimento com a qualidade
da alimentação, explicando de maneira simplificada como os principais grupos de nutrientes
auxiliam o crescimento corporal é muito importante. Os alunos desses ciclos apresentam,
normalmente, dietas pouco ricas em vitaminas e sais minerais e ricas em carboidratos e gorduras
saturadas. Na verdade, esse é um tema que o professor de Educação Física pode desenvolver em
conjunto com o conteúdo de ciências que a professora de sala geralmente trabalha.

Vale relembrar que as idades entre 6 e 10 anos representam um período de vida do ser humano no
qual o organismo está pronto a responder e a se adaptar aos estímulos produzidos pela atividade
física, facilitando o desenvolvimento neuromotor dos alunos. Além disso, sabe-se que a ausência
de estímulos motores pode afetar diretamente o seu desenvolvimento social e cognitivo. Por isso,
um outro tema a ser abordado nos dois primeiros ciclos do ensino fundamental e a relação entre
aspectos biológicos da atividade física e a aquisição de habilidades motoras básicas e suas
combinações. Propõe-se que a prática de atividade física que enfatiza o desenvolvimento
psicomotor deve ter prioridade, particularmente nas séries iniciais do primeiro ciclo.

Já no terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental, os alunos passam por estágios de


desenvolvimento cognitivo em que a capacidade de abstração é aumentada e conteúdos teóricos
podem ser progressivamente trabalhados. Os conceitos acerca das capacidades físicas básicas já
podem ser apresentados. Porém, estratégias de ensino que envolvam a experiência concreta da
manifestação de cada capacidade devem ser aplicadas. Por exemplo, um circuito de atividades no
qual as diversas solicitações de força sejam concretamente experimentadas. Numa estação a
sobrecarga a ser vencida deve ser elevada e o aluno deve executar o maior número de repetições
possível. Já na outra estação, uma sobrecarga leve deve ser vencida e, de novo, o maior número
de repetições possível executado. Nessa situação os conceitos de força máxima e resistência de
26
força podem ser compreendidos. Além disso, a descrição das experiências individuais quanto ao
número de repetições pode fornecer indicativos das diferenças de performance entre os alunos,
desenvolvendo a idéia de força relativa.

Deve-se ter o cuidado, no entanto, do conceito de capacidades físicas não ser trabalhado de forma
isolada, pois careceria de significado. A importância do desenvolvimento dessas capacidades para
uma vida saudável deve ser enfatizada. A força como componente fundamental para a saúde do
aparato ósteo-articular, a resistência aeróbia para a saúde do aparelho cardiovascular são bons
exemplos para enfatizar a importância do desenvolvimento da dimensão biológica da atividade
física para a saúde e o bem-estar. Nesse quadro, um modelo de aptidão física simplificado, no
qual os componentes da aptidão esportiva e da aptidão voltada à saúde sejam descritos já seria
suficiente.

Nessa fase, dicas quanto à execução correta dos movimentos a serem aprendidos já podem ter um
nível de complexidade maior e conceitos básicos de ergonomia nos exercícios já podem ser
trabalhados. Além disso, seria extremamente interessante se o professor de Educação Física
trabalhasse em conjunto com o professor de Ciências já que alguns conteúdos podem ser
sobrepostos e trabalhados com diferentes enfoques facilitando o processo de compreensão e
retenção dos mesmos. Como exemplo, pode-se citar o conhecimento do sistema muscular
_esque1ético nas aulas de Ciência e a sua aplicabilidade dentro do contexto da Educação Física
relacionando-os com os exercícios executados, pelo menos em relação aos grandes grupos
musculares.

Um ponto fundamental para crianças na faixa etária de- 11 a 14 anos é compreender os processos
biológicos decorrentes do fenômeno pubertário. O entendimento das alterações estruturais,
principalmente para as meninas, é essencial para evitar vários problemas. Como exemplo pode-se
destacar como o ganho de massa gorda nessa fase da vida pode levar à problemas físicos que
acompanham as pessoas para o resto de suas vidas.

No ensino médio, com os alunos já em estágios mais avançados do seu desenvolvimento


cognitivo, a complexidade do conteúdo pode ser aumentada.e uma visão mais abrangente do
desenvolvimento das capacidades físicas, das adaptações fisiológicas e morfológicas decorrentes
do desenvolvimento das mesmas e a interação desse desenvolvimento com os modelos de aptidão
física voltados à saúde podem ser trabalhados. A idéia de doenças hipocinéticas e suas
implicações na saúde do ser humano também devem ser enfatizadas. Com a aquisição de
conhecimentos de mecânica clássica, os alunos podem ser expostos a conceitos de centro de
gravidade, forças e torque, pois são esses que norte iam a execução dos exercícios. Os princípios
básicos do treinamento também devem ser explanados para que os alunos entendam a
necessidade de progressão e variabilidade na atividade física praticada. Na realidade, o professor
tem que ter consciência de que esse é o último ciclo no qual os benefícios de um estilo de vida
'saudável podem ser reforçados e enfatizados para os alunos. Nesse estágio oficinas, gincanas e
trabalhos em grupo com pesquisas nas mais diversas fontes podem ser utilizados como estratégias
para aprendizagem e fixação dos conteúdos referentes às dimensões biológicas da atividade
física.

Em suma, no primeiro ciclo do ensino fundamental (18. a 48. série), os seguintes conteúdos
relacionados às dimensões e implicações biológicas podem ser trabalhados:
27
- relação entre a intensidade da atividade física e as freqüências cardíaca e respiratória. -
conceitos básicos de temperatura externa e interna e a implicação de ambas na prática de
atividade física.
- relação entre as dimensões biológicas da atividade física e a aquisição das habilidades motoras
básicas e suas combinações.
- crescimento corporal e sua relação com a nutrição

Para segundo ciclo (58. a 88. série) os seguintes conteúdos são sugeridos:

- definição das capacidades físicas básicas e a relação entre elas.


- o impacto positivo das capacidades físicas na saúde e qualidade de vida - modelos simplificados
de aptidão física
- conceitos básicos de ergonomia para prática de exercícios físicos

Para o ensino médio, sugere-se os seguintes conteúdos:

- adaptações morfológicas e fisiológicas decorrentes de exercícios enfatizando diferentes


capacidades físicas
- interação entre as adaptações fisiológicas e morfológicas e os modelos de aptidão física -
alterações na aptidão física no decorrer das décadas de vida
- princípios do treinamento físico

2. Conceitos fundamentais, implicações e orientações:

Atividade física
 Qualquer movimento corporal produzido por músculos esqueléticos que resulta em gasto
energético acima dos níveis de repouso

Exercício físico
 Seqüência planejada de movimentos que é repetida sistematicamente com o
objetivo de elevar o rendimento

Saúde
 É uma situação de ótimo bem estar que contribui para a qualidade de vida. É mais que
ausência de doenças, apesar de ausência de doenças ser importante para uma boa saúde.
A saúde ótima inclui um alto nível de prontidão mental, social, emocional, espiritual e
física dentro dos limites da hereditariedade e das incapacidades pessoais.

Fatores de risco
 A falta de movimento durante toda a idade adulta aumenta o risco de ocorrência de
doenças hipocinéticas

Fatores de risco

28
 Educar os alunos acerca da importância da atividade física, como forma de diminuir a
ocorrência de doenças hipocinéticas, é tarefa primordial do professor de Educação Física

Fatores primários
 Fumo
 Hipertensão
 Colesterol e triglicérides .
 Inatividade física
 Ansiedade

Fatores secundários
 Obesidade
 Diabetes
 Antecedentes familiares
 Sexo masculino
 Idade avançada

Fatores de risco para hipertensão controláveis .


 Resistência à insulina
 Obesidade
 Dieta
 Inatividade física

Fatores não controláveis


 Antecedentes familiares de hipertensão .
 Idade avançada
 Raça

Colesterol
 Substância macia e oleosa encontrada entre os lipídeos na circulação
sanguínea e nas células
 200 mg/dl fator de risco
 < 200 ideal
 entre 200 e 239 limite . >240alto

Infarto
 É a morte de parte do músculo cardíaco devido a uma perda repentina do aporte
sangüíneo

Acidente vascular cerebral


 Lesão repentina, ou rapidamente desenvolvida, do cérebro devido a causas
- vasculares/circulatórias.

Obesidade
 Quando o indivíduo possui uma quantidade excessiva de gordura corporal .

29
 mais de 25% nos homens (10-25%)
 mais de 35% nas mulheres (18-30%)
 IMC > 30 kg/m2

Riscos da obesidade
 Aumenta taxa da mortalidade
 Altera funções corporais normais
 Aumenta risco de hipertensão, diabete, colesterol, infarto .
 Efeitos psicológicos

Causas potenciais da obesidade


 Predisposição genética
 Trauma emocional ou fisiológico .
 Desequilíbrio hormonal
 Fatores culturais e familiares
 Composição da dieta
 Inatividade física

Osteoporose
 Condição na qual há uma diminuição da massa óssea

Como o exercício reduz o risco


 Melhora a contratilidade do coração, capacidade de trabalho e circulação .
 Melhora o perfil do lipídios no sangue
 Controla hipertensão moderada

Como o exercício reduz o risco


 Controla peso corporal e melhora composição corporal .
 Alivia stress
 Reduz resistência à insulina

Como o exercício reduz o risco


 Ajuda a construir e manter ossos, músculos e articulações saudáveis .
 Ajuda adultos idosos a tornarem-se mais fortes e capazes de mover-se .
 Promove bem estar psicológico

Composição Corporal
 Refere-se à composição química do corpo
 massa de gordura
 massa livre de gordura ou massa magra

Alteração na quantidade de gordura


 Aumento relativo da gordura após a maturação

30
ingestão calórica

atividade física

habilidade para mobilizar gordura

Alteração na quantidade de gordura


 Diminuição na massa magra após 30 anos
massa muscular

densidade óssea

atividade física

Efeito do treinamento físico

Gasto calórico

Taxa metabólica basal

Mobilização de gordura

Massa gorda

Massa magra
 Controle do apetite

Princípios biológicos .
 Sobrecarga
 Reversibilidade
 Individualidade biológica
 Especificidade

Princípios biológicos
 Sobrecarga
A fim de se obter adaptações positivas, o organismo humano deve ser submetido a cargas de
treinamento superiores ao estímulo que ele esteja acostumado

Acomodação
 Diminuição da resposta de um fenômeno biológico a um estímulo contínuo

31
Volume de treinamento
 Quantidade total de trabalho realizado num exercício, numa unidade de treino ou num
ciclo de treino

Intensidade do treinamento
 Trabalho realizado na unidade de tempo, grau de esforço ou percentual de uma
capacidade momentânea

Princípios biológicos
Sobrecarga
 aumento do volume
 aumento da intensidade .
 aumento da freqüência .
 variabilidade da atividade

Princípios biológicos
 Reversibilidade Um vez que você para de oferecer estímulos ao corpo o condicionamento
físico irá diminuir e retomar a condição encontrada antes do período de treinamento

Princípios biológicos
 Individualidade Biológica Cada um de nós possui características individuais que
determinam o ritmo e o grau de adaptação a um programa de treinamento físico

Princípios biológicos
 Especificidade As adaptações decorrentes do treinamento são específicas em relação ao
tipo de atividade e ao volume e intensidade dos exercícios

Capacidade física
 Capacidade que pode ser treinada, melhorada. Há a interação entre genótipo e fenótipo

Flexibilidade
Conceito
 Amplitude de movimento disponível em uma articulação ou grupo de articulações

Componentes
 Mobilidade articular. Elasticidade muscular

Flexibilidade
 Valor máximo na passagem da infância para a adolescência.
 Diminuição progressiva a partir da puberdade

Benefícios
 Atividades diárias.
 Lesões

Flexibilidade: métodos de treinamento


32
Princípios básicos
 Respeitar individualidade .
 Alongar o músculo além de seu comprimento normal (desconforto como limiar)
 Aumentar amplitude progressivamente

Princípios básicos
 Início da sessão de treinamento
 Treinar freqüentemente
 Aquecimento prévio
 Manter a posição de alongamento por um período de 30 segundos

Força
 Capacidade que o músculo tem de gerar tensão

Adaptações
 Alterações morfológicas (aumento da massa muscular). Melhoria da capacidade
coordenativa (adaptação neural)

Benefícios
 Menor fadiga nas atividades diárias e recreativas.
 Minimizar riscos de lesões
 Manutenção da composição corporal

Benefícios
 Densidade mineral óssea
 Diminuição do tremor senil
 Independência na terceira idade .
 Bem estar geral e aparência física

Segurança
 Não treine sozinho
 Conheça o equipamento
 Peça auxílio sempre que necessário
 Utilize o equipamento de acordo com sua finalidade

Segurança
 Mantenha o local de treino organizado
 Com máquinas, verifique cabos, polias e pinos de segurança .
 Não treine se uma lesão pode ser agravada

Treinamento de força
 Treinamento não era recomendado .
 falta de eficiência
 imaturidade óssea

33
 Lesões
 interferência no crescimento

Treinamento de força
 Não há evidência que o treinamento de força ofereça maior risco
 Incidência
 gravidade das lesões

Recomendações
 Explicação sobre esteróides anabolizantes
 Avaliação médica e ortopédica

Recomendações
 Evitar levantar pesos acima da cabeça
 Evitar cargas máximas
 Equipamento adequado e supervisão especializada

Recomendações
 Iniciar com formas simples de sobrecarga
 Evitar situações competitivas

Resistência
 Capacidade de resistir à fadiga em movimentos repetidos sem perda aparente da eficiência

Adaptações ao treinamento aeróbio


 Artérias coronárias maiores
 Aumenta tamanho do coração
 Aumenta capacidade de bombeamento do coração

Adaptações ao treinamento aeróbio


 Melhora a circulação nos vasos que circundam o coração
 Reduz a pressão arterial em indivíduos com hipertensão moderada

Variáveis
 Distância
 Duração
 Intervalo (recuperação)
 Tipo de intervalo
 Número de repetições

Classificação
Geral e local
 Aeróbia e anaeróbia

Coordenação

34
 Capacidade de organizar e controlar o movimento

Coordenação
 Interação entre o sistema nervoso central e a musculatura esquelética . perceber e analisar
informações
 programar uma resposta motora
 executar o mais fielmente possível ao programa motor

Benefícios do treino de coordenação


 Maior capacidade de adaptação a modificações do ambiente
 Proteção contra lesões.
 . Importância do repertório motor

Fatores que influenciam


 Idade
 Capacidade de aprendizagem
 Experiência motora
 Capacidade de adaptação
 Fadiga

Efeito da idade
 Puberdade: estagnação ou diminuição
 Maturação da coordenação motora ocorre antes da maturação sexual
 Ocorre junto com a melhoria na percepção e análise da informação

Termorregulação
Temperatura corporal
 Pode exceder 40° C durante o exercício
 Pequenos aumentos na temperatura aumentam a eficiência dos sistemas energéticos

Reposição de fluídos
 Repor fluídos é mais importante que repor eletrólitos .
 Não se guiar pela sensação de sede
 Beber pequenas quantidades com maior freqüência

Cuidados
 Evitar exercícios em condições de alta umidade e temperatura
 Atenção com o horário de prática
 Vestimenta leve, com cores claras
 Beber bastante líquido

Aquecimento
 Preparação fisiológica
 Preparação psicológica

35
Aquecimento
 Ativo versus Passivo
 Geral versus Específico

Benefícios
 Prepara os sistemas cardiorrespiratório e muscular
 Aumento do fluxo sanguíneo
 Aumento da mobilidade articular
 Aumento da temperatura muscular

Benefícios
 Prontidão para a prática
 Melhora na função neuromuscular
 Redução no risco de lesão

Intensidade e duração
 Individuais e relacionados ao nível do praticante
 Condições climáticas

Princípios básicos
 Exercícios de baixa intensidade e alongamentos
 Volta à calma

Hipertensão

Desempenho físico e maturação

Habilidades motoras

Força

Capacidade aeróbia/anaeróbia

Tolerância ao calor

MÓDULO 6:
DIMENSÕES E IMPLICAÇÕES COMPORTAMENTAIS DO MOVIMENTO HUMANO

o comportamento humano é composto por três domínios básicos: cognitivo (atividades


intelectuais ou operações mentais), afetivo-social (sentimentos e emoções) e motor
(movimentos). Em todo comportamento, ao mesmo tempo em que os três domínios interagem, há
predominância de um sobre os demais. Numa jogada de xadrez e num movimento específico de
halterofilismo, todos os domínios estão presentes, mas há
predominância do domínio cognitivo no primeiro exemplo e do domínio motor no segundo.

36
Por movimento entende-se o deslocamento do corpo e membros produzidos como uma
conseqüência do padrão espacial e temporal da contração muscular, ou seja, algo observável.
Ação motora é uma resposta orientada a uma meta por meio de movimentos do corpo e/ou
membros. Por sua vez, habilidade é uma ação complexa e intencional que envolve mecanismos
(sensorial, central e motor) que, mediante o processo de aprendizagem, tornou-se organizada e
coordenada de tal forma a alcançar objetivos predeterminados com máxima certeza.

Aprendizagem é um fenômeno não observável diretamente e, portanto, só pode ser deduzida


através do comportamento ou do desempenho de uma pessoa. Algumas características acerca
desse desempenho são indicadores da aprendizagem ou da aquisição de uma habilidade motora.
A característica principal que identifica que a aprendizagem ocorreu é que o desempenho
melhorou ao longo de um período de tempo no qual houve prática. As mudanças no
comportamento observado correspondem à melhoria na capacidade de solucionar problemas
motores. Esta melhoria em desempenho pode ser marcada, por exemplo, por certas características
que são relacionadas com a consistência/variabilidade da resposta motora. Além disso, tais
mudanças não deveriam ser passageiras, ao contrário, essa melhoria é resultado da prática e é
relativamente permanente.

Como foi dito, um aspecto que acompanha o processo de aquisição de uma habilidade motora é a
diminuição de variabilidade no desempenho de tentativa para tentativa. Em outras palavras, o
comportamento torna-se mais consistente. Nesse sentido, a prática da habilidade a ser aprendida é
crucial para que ocorra uma melhoria progressiva e duradoura no desempenho.

Com o objetivo de compreender o comportamento observado e também como ocorre a aquisição


de uma habilidade motora, são identificadas algumas etapas desde a chegada das informações
disponíveis no ambiente, até a execução do movimento que foi planejado pelo executante. A
chegada de estímulos ambientais poderia ser, por exemplo, a detecção da velocidade e direção de
uma bola. Nessa situação, o praticante relaciona essas informações com experiências anteriores
no sentido não apenas da recepção da bola, mas também considerando o objetivo final, ou seja, se
é mais adequado reter a bola ou passar imediatamente a um companheiro de equipe, ou ainda se
há alguém que poderia interceptar o passe. Essas informações são interpretadas, classificadas e
integradas e, em função disso, toma-se a decisão a respeito de qual a ação motora mais adequada
nessa situação. A partir daí, o(s) movimento(s) é(são) organizado(s) e seqüenciado(s),
desencadeando os comandos motores pertinentes, isto é, a ação motora propriamente dita é
executada. Essa compreensão do desempenho motor tem sido caracterizada como processamento
de informações. O modelo de performance humana de Marteniuk (1976) ilustra esse processo.

Modelo de performance humana (Marteniuk, 1976). ( o desenho não saiu)

Informações Ambientais

Feedback..lntrínseco

Órgãos dos Sentidos

Mecanismo Perceptivo
37
Mecanismo Decisório

Os órgãos dos sentidos são responsáveis por transformar e codificar os diferentes estímulos em
impulsos nervosos e manter e modificar o estado de alerta, ativação e nível de atenção. O
mecanismo perceptivo, através dos processos de discriminação, identificação e classificação dos
impulsos nervosos, fornece a descrição do meio ambiente interno e externo para o mecanismo de
decisão e armazena as informações na memória perceptiva para uso na predição de situações no
futuro. O mecanismo decisório tem a função de selecionar a resposta (plano de ação) adequada,
levando-se em consideração as demandas correntes do meio ambiente e os objetivos originais da
ação motora. O mecanismo efetor tem o papel de selecionar e integrar os comandos motores que
eventualmente produzirão o movimento desejado, ou seja, através dos processos de organização
hierárquica e seqüencial, preparar a resposta de tal forma que o aparato neuro-muscular possa ser
mobilizado para executar o plano de ação selecionado. Os circuitos de feedback modificam o
movimento quando ele não está sendo executado conforme planejado e avaliam o resultado do
movimento no meio ambiente, utilizando-se de informações produzidas pelo próprio movimento.

Durante a aquisição de habilidades motoras, os aprendizes passam por três fases: 1) inicial ou
cognitiva, 2) intermediária ou associativa e 3) final ou autônoma. Na fase inicial, enfatiza-se a
compreensão do que está para ser feito, ou seja, do objetivo da habilidade, das informações que
devem ser de fato consideradas, e do plano de ação que deve ser elaborado mediante a
organização seqüencial dos seus componentes. É uma fase marcada por um grande número de
erros, os quais tendem a ser grosseiros. O aprendiz tem consciência que erra, mas não é capaz de
diagnosticar as causas do erro e, portanto, não consegue visualizar aquilo que deve ser feito para
corrigi-Io. Diz-se que o mecanismo de detecção e correção de erro ainda está para ser
desenvolvido.

Na segunda fase de aprendizagem, a associativa, ocorre gradual redução do erro e conseqüente


refinamento da habilidade. Com prática, a ação motora torna-se organizada tanto em aspectos
espaciais como temporais. Associada a ela, um elemento fundamental é o feedback, que pode ser
intrínseco e o extrínseco. As informações que o aprendiz obtém do próprio sistema sensorial
sobre a execução do movimento e o seu resultado no meio ambiente são denominadas de
feedback intrínseco (ou inerente, interno, sensorial). O papel de fontes de informação intrínseca,
advindas do sistema sensorial (visão e propriocepção), é fundamental para que o aprendiz tome
ciência da posição de seu corpo e das partes dele. Numa situação de incapacidade para detectar a
causa dos erros, o indivíduo necessita receber informações adicionais de fontes externas sobre a
execução e o resultado do movimento. Por exemplo, quando um professor informa ao aluno se a
execução de uma cambalhota foi correta ou quais características da cambalhota foram executadas
de forma insatisfatória. A esse tipo de informação, que é acrescentada às informações sensoriais
do próprio indivíduo, dá-se o nome de feedback extrínseco (aumentado ou externo). Essas
informações internas e externas são utilizadas na avaliação do desempenho em cada tentativa
executada.

Gentile (1972) formulou um modelo que mostra como o aprendiz pode utilizar o feedback para
adquirir uma habilidade motora. Depois de executado o movimento, o aprendiz normalmente
pergunta a si mesmo se a execução saiu conforme planejada e se a meta foi alcançada. Da
combinação de respostas a essas perguntas podem-se derivar quatro situações.
38
A primeira possibilidade é não alcançar o objetivo e sequer executar a ação motora conforme
planejada (não/não). Quando isso acontece, o aprendiz pode adotar várias estratégias. Uma delas
é repetir algumas vezes o plano de ação originalmente planejado. Se o resultado for
repetidamente uma falha completa, possivelmente a revisão do plano ou a reavaliação das
condições do meio ambiente não serão suficientes para solucionar o problema. Nesse caso a
alternativa é alterar o objetivo. Muito provavelmente, o aprendiz superestimou o objetivo em
relação à capacidade real dele. A insistência em manter o mesmo objetivo poderá resultar numa
sucessão de fracassos e levar à queda de motivação ou até mesmo ao abandono da aprendizagem.

Caso o objetivo não tenha sido alcançado, porém o movimento foi executado conforme planejado
(não/sim), o aprendiz percebe que algo está errado com o plano de ação. A estratégia lógica para
a resposta seguinte é a revisão do plano. Na hipótese de, após algumas revisões, as respostas
"sim" para a execução e "não" para o resultado
prevalecer, uma estratégia diferente deve ser considerada. Talvez o problema esteja na .
identificação e seleção das informações importantes do meio ambiente. É preciso aqui identificar
pistas importantes. Pode acontecer de o aprendiz estar atento a pistas falsas ou irrelevantes.

Esquema de avaliação do desempenho motor (Gentile, 1972)

o movimento foi executado conforme


planejado?

SIM NÃO

O objetivo
foi alcançado? Obteve a idéia do
Surpresa
SIM
movimento

Algo errado Tudo errado

NÃO

39
Surpresa é o resultado experimentado quando o objetivo é alcançado, porém não por meio da
ação motora conforme planejada (sim/não). Nesse caso, é interessante saber qual será a estratégia
a ser aplicada na próxima tentativa. Existem basicamente três alternativas: a) repetir o plano de
ação que, embora executado de maneira errada, resultou numa ação bem sucedida; b) executar a
ação conforme foi originalmente planejada; e c) executar ambas as alternativas para decidir
depois qual é a correta. No entanto, convém ressaltar que não é comum se experimentar muitas
surpresas durante o processo de aprendizagem.

Quando o objetivo for alcançado pela execução de uma ação conforme planejada (sim/sim),
pode-se considerar que o aprendiz obteve a idéia do movimento correto e, de acordo com a lei do
efeito, a possibilidade do mesmo plano de ação ser utilizado nas próximas tentativas torna-se
bastante alta. Em outras palavras, a avaliação reforçará a ocorrência da mesma resposta e a
preocupação central transfere-se para o refinamento da habilidade com correções nos detalhes da
ação motora. No exemplo do rebater um saque no tênis de mesa, o aprendiz já consegue devolver
a bola para o lado do sacador.

Conforme já foi mencionado, durante a fase intermediária de aprendizagem, especialmente nas


suas tentativas iniciais, embora o aprendiz possa saber que algo está sendo executado errado,
muitas vezes ele não está em condições de detectar as origens e as características do erro
cometido. Em outras palavras, o aprendiz não sabe que alterações fazer na próxima tentativa para
melhorar o desempenho. Nessa situação, ele necessita receber informações específicas de fontes
externas (feedback extrínseco).

A fase autônoma de aprendizagem é alcançada com continuidade da prática após alcançar-se o


estágio em que se obtém a idéia do movimento correto. A execução da ação motora torna-se
independente das demandas da atenção, o que promove menor esforço cognitivo para controlar a
ação, de forma que o aprendiz pode se ocupar com outros aspectos do desempenho ou mesmo
realizar uma outra tarefa simultaneamente.

Quanto ao ambiente de execução, as habilidades motoras podem ser predominantemente fechadas


ou abertas. São fechadas quando o ambiente é estável e previsível e quando é possível prever as
condições do ambiente durante a execução. Nessa situação, é recomendável fixar o padrão de
movimento e fortalecer a relação entre estímulo e resposta motora. Numa habilidade aberta, além
de o ambiente ser instável e imprevisível, não é possível prever as condições do ambiente durante
a execução. Recomenda-se, portanto, praticar em diferentes condições ambientais e sem a
preocupação de fornecer especificações técnicas sobre detalhes.
É necessário distinguir habilidades motoras de capacidades motoras. As segundas servem de base
para as primeiras. Várias capacidades podem sustentar uma habilidade, assim como uma única
capacidade pode sustentar várias habilidades. Enquanto algumas capacidades são sensíveis à
prática/treinamento (força, velocidade, resistência e flexibilidade), outras não (tempo de reação,
coordenação multimembros, equilíbrio e pontaria). Essas capacidades pouco treináveis carregam
forte componente genético e, portanto, têm sido apontadas como um dos responsáveis pelas

40
diferenças individuais. Logo, cabe reconsiderar o mito de que ter habilidade motora é um dom.
Esse mito surge da idéia da existência de uma capacidade motora geral, capaz de fazer com que
uma pessoa tenha bom desempenho em todas as habilidades que executa. Entretanto, vários
estudos mostraram que as capacidades motoras são independentes e específicas. As capacidades
mais gerais são necessárias para a performance em estágios iniciais, ao passo que capacidades
mais específicas à habilidade estão relacionadas ao sucesso em estágios avançados. Portanto, a
performance inicial não é um indicador confiável para prever o sucesso futuro, pois a importância
das capacidades muda ao longo do processo.
Isto significa que o professor não deve "menosprezar" o potencial de seus alunos. Outras
capacidades pouco treináveis são a destreza manual e dos dedos, velocidade de movimento de
braço e estabilidade de braço e mão.

O desenvolvimento das habilidades motoras tem sido explicado pela integração entre maturação e
experiência. Os limites hipotéticos de realização motora são estabelecidos pelos genes, mas é o
ambiente que determina a extensão em que as potencialidades, dentro desses limites, são
desenvolvidas. O desenvolvimento motor ocorre em uma seqüência variável em sua progressão,
mas invariável em sua ordem. Os primeiros movimentos são os fetais executados ainda na barriga
da mãe. Até mais ou menos quatro meses de idade, o bebê executa movimentos espontâneos e
reflexos. A próxima fase é a de movimentos rudimentares (até aproximadamente os dois anos de
idade). Até os sete anos, os movimentos executados são denominados fundamentais (habilidades
básicas). Esses movimentos apresentam uma seqüência de desenvolvimento caracterizada por um
aumento da eficiência biomecânica e incorporação de novos elementos à estrutura do movimento.
Trata-se de uma fase de aquisição e estabilização dos movimentos. A fase de combinação de
movimentos fundamentais ocorre até mais ou menos os 12 anos e é caracterizada pela
diversificação e combinação de movimentos fundamentais. A partir dessa fase, dificilmente
podemos dizer que um movimento é totalmente novo; é mais prudente considerar a execução de
movimentos como reorganização das habilidades básicas dentro dos padrões motores
crescentemente complexos (fase de movimentos culturalmente determinados, a partir dos 12
anos).

A prática no processo de aquisição de uma habilidade motora significa testar sucessivamente, de


tentativa para tentativa, o planejamento de uma determinada ação motora. Embora pareça óbvio,
é importante enfatizar que o aperfeiçoamento e refinamento da ação só serão possíveis através da
prática, pois é a partir dela que há a melhoria do desempenho característica do processo de
aprendizagem motora. Portanto, a prática não é encarada como uma simples repetição de
movimento, mas sim a testagem de um plano de ação, cujo aperfeiçoamento dependerá da
interpretação das informações do ambiente, das experiências passadas, da capacidade de
solucionar problemas, da organização e seqüenciamento da ação e da execução propriamente
dita. Nesse sentido, o professor tem a função de facilitador desse processo.

A prática pode ser organizada de forma a facilitar a aquisição de habilidades motoras. A seguir
são apresentadas algumas dicas originárias de conhecimentos científicos da área de
Aprendizagem Motora:

· Preferir mais sessões de curta duração.


· Não praticar um movimento novo em estado de fadiga extrema.
. Estabelecer metas.
41
. Na fase inicial, evitar variações da prática.
. Depois da fase inicial, variar a prática.
· Não "massacrar" o aprendiz com informação a todo momento.
· Manipular o ambiente e/ou a própria habilidade (outro padrão ou o mesmo padrão
variando distância, direção e força).
. Detectar o erro por si próprio(a).
. Auto-corrigir-se.
· Observar alguém que execute bem o movimento e prestar atenção nos pontos
cruciais.
· Fracionar a habilidade apenas quando a integração entre as partes não é forte.
. Aproveitar elementos de tarefas aprendidas anteriormente. que podem ser
semelhantes àqueles da habilidade-alvo.

Os conhecimentos acerca dos mecanismos de execução do movimento e sobre o processo pelo


qual esse movimento é aperfeiçoado, resultando na aquisição de habilidade motora, constituem-se
importantes informações específicas de natureza comportamental. Tais informações podem se
transformar em dicas essenciais que o aluno utiliza nas oportunidades de prática, fora das aulas
de Educação Física e durante toda a sua vida, para adquirir habilidades motoras e delas desfrutar
para o bem estar e qualidade de vida.

MÓDULO 7:
DIMENSÕES E IMPLICAÇÕES SOCIOCUL TURAIS DO MOVIMENTO HUMANO

1. O homem e a cultura

O ser humano se difere de outras espécies de animais, pois nem todo comportamento que
apresenta depende de uma estrutura genética, e nem se desenvolve automaticamente na sua
relação com a natureza. Determinados comportamentos e capacidades dependem de aprendizado.
Para que isso ocorra, o ser humano necessita de outros que o ensinem e o ajudem a desenvolver
suas capacidades.

O homem, portanto, necessita da transmissão do conhecimento construído pelos seus


antepassados, adquiridos pelas experiências de gerações e gerações. O aprendizado só é possível
porque o homem desenvolveu a linguagem, que foi resultado de sua capacidade de criar um
sistema de símbolos. Os outros animais não têm a possibilidade de transmitir a experiência de um
comportamento particular. Por exemplo, um cachorro é capaz de aprender alguns
comportamentos, mas é incapaz de transmiti-Ios a um outro cachorro, ou repeti-los em
circunstâncias diferentes. Por esta razão, o homem precisa viver em sociedade, caso contrário,
desenvolveria só as características instintivas e animais.

O que diferencia o homem dos outros animais é a sua capacidade de pensar, de ter experiências,
transformá-las numa linguagem com significado e transmiti-las para outros seres de sua espécie.
Ele é capaz de imaginar um objeto antes mesmo de construí-lo, ou seja, situar e diferenciar as
experiências no tempo. É capaz de criar situações, emoções, classificar, agrupar, segundo
critérios determinados.

42
Assim, o homem passou a dar significado a tudo que se refere a sua relação <?com os outros e
com a natureza. Esse conhecimento - conjunto de significados de suas experiências - que
determina sua forma de agir é o que denominamos de cultura. O conhecimento que o homem tem
do mundo é resultado dessa elaboração simbólica, que é constantemente modificado e transmitido
às gerações seguintes. Vivendo em grupos e nas mais diversas condições geográficas, o homem
foi capaz de transformar e representar o ambiente natural, de acordo com suas necessidades e seu
modo de ver o mundo. O resultado desse dinamismo é a criação de uma diversidade de culturas.

2. Sociedade, corpo e práticas corporais

Toda sociedade insere um conjunto de significados simbólicos ao corpo e às práticas corporais. A


forma como o corpo é tratado e como o gesto é utilizado na comunicação e em outras atividades,
expressa como as relações sociais são reguladas em cada cultura. Assim, o corpo é objeto de
vários significados que expressam como uma sociedade trata aspectos como a beleza, a
sexualidade, a religiosidade, o masculino, o feminino, etc. Atualmente, o corpo está em
evidencia, ou seja, ele se tornou um objeto de grande exposição. Essa exposição se dá na forma
como nos vestimos (ele está menos escondido) e como nos meios de comunicação ele está mais
exposto e desnudado (propagandas, filmes, novelas, etc.).

Outro aspecto que tem sido muito discutido pela sociedade atual, e que, também, está vinculado
ao corpo, é o conceito de qualidade de vida, que enfatiza a necessidade e a importância da
atividade física (além de uma alimentação saudável, de controle de peso, de cuidados estéticos).
Isso pode ser comprovado pelos programas de ginástica na televisão, revistas especializadas em
programas de ginástica, jornais e revistas (principalmente as femininas) que reservam reportagens
para o tema, a proliferação das academias de ginástica, e por fim a figura do "personal trainer",
um fenômeno recente nessa valorização da atividade física e da saúde. Portanto, a preocupação
com o corpo é o centro de todo esse processo, o que gera e determina toda uma série de
comportamentos das pessoas.

Uma outra prática corporal que tem conquistado cada vez mais espaço na sociedade moderna é o
esporte. Para comprovar tal fato basta notar a grande quantidade de revistas e publicações
esportivas, e o espaço que ocupa nos jornais, nos noticiários da televisão, além dos diversos
programas esportivos. É que o esporte virou um grande espetáculo que envolve muito
investimento e lucro. Os esportistas são constantemente requisitados para as diversas campanhas
publicitárias dos mais diversos produtos.

Cada cultura tem um modo peculiar de se apropriar de um determinado esporte. Por exemplo, o
futebol tem um enorme significado cultural para o brasileiro. Ele é motivo de orgulho nacional,
resultado dos cinco títulos mundiais. Não dá para falar de Brasil sem mencionar esse esporte e
vice-versa. Entretanto, este esporte não tem a mesma popularidade nos EUA. Lá, um dos esportes
de preferência é o futebol americano. E ele possui um formato (regras, número de jogadores,
tamanho do campo) diferente do restante do mundo, que pratica o Rugbi. Portanto, é possível
relacionar os esportes e as sociedades em que se manifestam. Assim, o futebol no Brasil e o
futebol americano nos EUA, dizem muito das características próprias dessas culturas.

3. Dimensões culturais do movimento humano na aula de Educação Física

43
A transmissão do patrimônio cultural historicamente acumulado é uma das funções essenciais da
escola. Pensando na cultura brasileira, tal fato ganha relevância, dada a riqueza de influências que
sofreu de outras culturas. Assim, cada disciplina curricular, além de seu conteúdo especifico -
fruto da produção da sua área de conhecimento precisa situar historicamente como tal
conhecimento foi construído e qual a seu significado para a vida do aluno. Desse modo, é
fundamental que nas aulas de Educação Física, o aluno tenha oportunidade de conhecer as
práticas corporais de sua cultura que, aqui, serão denominadas de cultura de movimento.

As atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, que fazem parte da cultura de
movimento, são: o jogo, o esporte, a ginástica, a dança, o exercício e a luta. Por exemplo,
o futebol além de ser um meio para desenvolver as habilidades motoras, possui um
significado extremamente importante para a identidade cultural do brasileiro. Por que o futebol
tornou-se um esporte tão popular no Brasil? O que ele tem que permite uma série de significações
simbólicas, religiosas, políticas e culturais? A riqueza da nossa cultura poderá ser estudada por
meio de um esporte que já nasceu múltiplo na sua origem, praticado por portugueses, italianos,
alemães, austríacos e brasileiros. O futebol, que foi introduzido no Brasil pelas escolas religiosas,
ao se tornar popular, permitiu a ascensão social dos jogadores das classes populares
(principalmente dos negros). A sociedade brasileira apropriou-se deste esporte dando-lhe
características próprias de nossa cultura. Basta ver como denominamos o nosso estilo de jogar de
futebol em relação aos de outros países. Portanto, o futebol, que já é fonte de grande motivação
dos alunos, poderá leva-los a uma maior compreensão de sua cultura.

Da mesma forma, a dança, a ginástica, o jogo, o exercício e a luta poderão servir de meio para
que o aluno conheça as implicações do significado cultural que a sociedade lhes dá, e assim,
contribuir para a formação de sua identidade cultural. Portanto, o aluno deverá, através das aulas
de Educação Física, ser capaz de compreender as implicações e as dimensões sociais e culturais
das práticas corporais presentes na cultura do movimento:

a) Conhecer a origem cultural e a histórica de cada atividade;


b) Identificar, descrever, experimentar e demonstrar suas variadas manifestações (por
exemplo, os vários tipos de jogos e brincadeiras folclóricas ou os exercícios da ginástica
acrobática como a estrela, o rodante, a parada de mãos);
c) Aprender as regras, os mecanismos de organização e administração de cada atividade (por
exemplo, como se organiza um torneio de ginástica artística e como é o sistema de pontuação);
d) Identificar, reconhecer e respeitar uma atividade enquanto memória e preservação de
uma cultura (por exemplo, a capoeira);
e) Reconhecer e compreender a dança como atividade artística e expressiva (de idéias,
sentimentos, emoções) e relacioná-Ia à cultura em que ela se manifesta (por exemplo,
as danças regionais);
f) Reconhecer e compreender a relação que a sociedade faz entre gênero e práticas
corporais;
g) Reconhecer, compreender e discutir quais os aspectos que a sociedade valoriza
esteticamente em relação ao corpo;
h) Reconhecer, relacionar e compreender o esporte como elemento da cultura em que
se manifesta; i) Discutir as implicações sociais e culturais do fenômeno esportivo; j) Identificar,
reconhecer e diferenciar as várias dimensões das práticas corporais (como
44
de lazer, de esporte, de saúde e de entretenimento) e discutir suas implicações para
seus envolvidos; .
k) Reconhecer o corpo e o gesto como portador de significados culturais e discutir as
implicações para o comportamento das pessoas; .

IDENTIFICAR / DESCREVER / EXPERIMENTAR / DEMONSTRAR RECONHECER /


COMPREENDER / DISCUTIR

O SIGNIFICADO SOCIAL E CULTURAL

ESPORTE/GINÁSTICA/ DANÇA /JOGO/EXERCÍCIO

4. Dimensões sociais do movimento humano na aula de Educação Física

A escola é um espaço privilegiado para a socialização da criança, pois ela tem a oportunidade de
aprender as regras de convivência com as outras crianças. Desenvolver atitudes e valores ganha
importância, pois no mundo moderno vê-se, cada vez mais, uma redução dos espaços públicos,
ou seja, espaços de convivência e de encontro.

A aula, além de um momento de transmissão e construção do conhecimento, também é


. um momento de interação social. Como toda interação entre pessoas, envolve valores e atitudes.
Qualquer atitude do professor já é um aprendizado para seus alunos, já que sua influência sobre
eles é muito grande. Todo comportamento do professor: a. forma como se comunica, como trata
os outros, como explica, sempre será. acompanhado de valores. Outro aspecto se refere à relação
afetiva com os alunos, em que o professor precisa estabelecer o equilíbrio entre carisma e
respeito. Os alunos precisam ser conquistados.

A Educação Física, como componente curricular da escola deve oferecer atividades que reforcem
atitudes e valores positivos no aluno, na sua relação consigo mesmo e com os outros. As aulas de
EFE têm a característica de utilizar muitas tarefas em grupo, as quais representam espaço
privilegiado para se trabalhar as atitudes e valores nas relações pessoais. Assim, por exemplo,
todas as atitudes e valores envolvidos em um jogo podem ser experimentados e discutidos.
Atitudes de competição, assim como valores associados à vitória e à derrota, freqüentemente
geram conflitos, e não podem passar os limites do respeito ao outro. Tais situações não podem
perder de vista que o objetivo principal é a aprendizagem, inclusive, de atitudes e de valores.
É certo que levar o aluno a aprender a ser e conviver com os outros, não é objetivo específico da
Educação Física, mas como disciplina curricular, ela não pode desconsiderá-Ios, nem deixar de
explicitá-Ios.

45
4.1 Aprender a ser e a conviver nas aulas de educação física

Identificar / Descrever / Experimentar / Demonstrar

Atitudes e Valores

Respeito / cooperação / atenção / responsabilidade / colaboração / participação / resolução de


conflitos / organização / autonomia

à atividade a si mesmo / outros

Demonstrar em relação à atividade


 Colaboração na organização da aula e das atividades;
 Preservação dos materiais;
 Participação em todas as atividades da aula;
 Respeito às regras dos jogos;
 Uso de uniforme adequado.

Identificar, descrever, experimentar, demonstrar ou incorporar em relação a si mesmo e/ou


aos outros
 Participação em todas as atividades da aula;
 Compartilhamento de idéias, espaço, tempo e materiais com os outros nas atividades
motoras;
 Cooperação com os outros em pequenos e grandes grupos;
 Reconhecimento de atitudes de cooperação e colaboração presentes nos jogos de equipe;
 Respeito às regras estabelecidas durante o jogo; Colaboração, auxílio e incentivo os
outros no processo de aprendizagem de habilidades motoras;
 Tratamento e comunicação respeitosa ao professor e aos colegas; Disposição em resolver
os conflitos inerentes ao jogo;
 Respeito aos colegas antes, durante e após o .jogo;
 Reconhecimento de funções de liderança e de colaboração presentes nos jogos ou nas
atividades em grupo;
 Respeito às próprias limitações e possibilidades, e às dos outros, na aprendizagem e
desenvolvimento das habilidades motoras; Respeitar as diferenças de desempenho dos
outros, presentes nas atividades motoras;
 Entender e respeitar os erros dos outros;
 Disposição para discutir positivamente o significado da vitória e da derrota nos jogos;
46
 Entender os aspectos cooperativos e competitivos presentes nos jogos ou atividades em
grupo;
 Respeito ao direito de participação de todos.

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