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DA ESCRITA ACADÉMICA
EM PORTUGUÊS
ÍNDICE
1. O PLANO .......................................................................................................................... 1
1.1. PLANIFICAÇÃO DO TRABALHO ............................................................................. 1
1.2. PLANIFICAÇÃO DO TEXTO......................................................................................... 3
2. O PARÁGRAFO.................................................................................................................10
3. A FRASE............................................................................................................................ 17
4. A COESÃO ENTRE PARÁGRAFOS E FRASES .............................................................. 21
5. O NOME .........................................................................................................................30
5.1. O NOME, UNIDADE DE SENTIDO.............................................................................30
5.2. A EXPANSÃO DO NOME ........................................................................................... 33
5.3. O TÓPICO ...................................................................................................................36
5.4. A NOMINALIZAÇÃO ...................................................................................................40
5.5. A COESÃO REFERENCIAL .......................................................................................43
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................................46
Anexo A – Desafios ...............................................................................................................47
Anexo B – Exercícios .............................................................................................................50
INSTRUÇÕES - Como usar este manual
Não precisa de ler tudo. Identifique primeiro os pontos importantes para si,
ACEAP_Planificacao ACEAP_Coesao_Referencial
ACEAP_Paragrafo_Frase ACEAP_Nome
ACEAP_Ligacoes_Logicas ACEAP_Nominalizacao
de sentido.
menos extenso:
cada tarefa.
elenca todas as tarefas, o tempo necessário para cada uma e a respetiva data de
1
A lista deve ter a data de entrega no início. O cronograma deve ser feito retrospetivamente.
1
Data limite de submissão / entrega DD-MM-AAAA
Tarefas Tempo Datas-limite
Edição e formatação 5 m/ DD-MM-AAAA
página
Redação final 1 m/ DD-MM-AAAA
página
Elaborar a conclusão 3 dias DD-MM-AAAA
Fazer e elaborar a análise de dados 2 semanas DD-MM-AAAA
Elaborar a metodologia 1 semana DD-MM-AAAA
Pesquisar bibliografia + fazer a revisão da 4 semanas DD-MM-AAAA
literatura
Fazer um plano provisório 1 semana DD-MM-AAAA
Escolher o tema 2 semanas DD-MM-AAAA
cumprimento dos prazos, porque ajuda a libertar a mente para que se concentre
2
1.2. PLANIFICAÇÃO DO TEXTO
Deve ser escolhida uma perspetiva específica para abordar o tema escolhido.
Por exemplo:
(1) Tema da licenciatura em Português: A língua portuguesa na Europa e no mundo
Perspetiva: A língua portuguesa: uma pequena língua europeia / uma grande
língua mundial
(2) Tema da licenciatura em Filosofia: As origens do pensamento ocidental
Perspetiva: Platão e Aristóteles: dois monstros sagrados
(3) Tema da licenciatura em Ciência da Informação: Ciência Aberta
Perspetiva: O contributo das bibliotecas para a circulação da informação científica
em Open Access
(4) Tema da licenciatura em Geografia: As migrações
Perspetiva: Causas e consequências das migrações com destino ao continente
europeu
Como se vê pelos exemplos (1) a (4), escolhe-se uma perspetiva, ponto de
3
trabalho de campo, análise dos dados, reflexão pessoal, discussão com colegas e
docentes).2
– o mapa mental (ver figura 3) – e onde se assinalam as ligações entre elas – mapa
concetual.
a informação. Para transformar este mapa mental num mapa concetual, basta
2
O número de tarefas depende da disciplina e do tipo de pesquisa. Para simplificar, indicamos aqui
uma lista sumária.
4
acrescentar junto das è expressões como mas - porque - se - a fim de - antes /
numeração decimal (1., 2., 3. || 1.1., 1.2., 1.3. || 2.1., 2.2., 2.3., etc.).
Para evitar a angústia da folha (ou ecrã) em branco, sugere-se analisar alguns
índices de texto na área disciplinar do trabalho e fazer uma matriz muito genérica,
3
Para consultar índices, basta aceder ao repositório de uma instituição de ensino superior,
descarregar e analisar algumas teses de doutoramento ou dissertações de mestrado. Para a UC,
recomenda-se o Estudo Geral, disponível em https://estudogeral.uc.pt/
4
Índice apropriado para trabalhos no formato de ensaio, frequentes em Estudos Artísticos,
Clássicos, Literários, Filosofia, História… Como se pode ver pelo exemplo, é admissível uma certa
criatividade.
5
Silveirinha, M.J., & Peixinho, A.T. (2004). A construção discursiva dos imigrantes na imprensa.
Revista Crítica de Ciências Sociais 69, 117-137. URL: http://rccs.revues.org/1343; DOI:
10.4000/rccs.1343.
5
Figura 5 - Índice organizado por I(E)MRDC6
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
RESULTADOS
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
mostra de seguida.
1. INTRODUÇÃO
6
Índice apropriado para trabalhos de investigação aplicada no formato de artigo científico,
frequentes em Arqueologia, Geografia, Linguística, Turismo,… Como se pode ver pelo exemplo,
não existe praticamente variação.
7
Um trabalho académico não é um romance policial. Não se guarda para o fim a revelação mais
importante. Pelo contrário, ela é indicada logo na Introdução.
6
2. DESENVOLVIMENTO8
A organização dos tópicos nas diferentes secções deve seguir o que foi
(Tópicos ou I(E)MRDC, ver figuras 4 e 5). Deve prever-se um parágrafo para cada
tipos:
(5) ANTES Da II Guerra Mundial, existia uma aliança entre a Polónia, a Inglaterra e a França.
APÓS a Alemanha ter invadido a Polónia EM SETEMBRO DE 1939, os dois países aliados
viram-se obrigados a declarar a guerra.
(6) Antes da II Guerra Mundial, existia uma aliança entre a Polónia, a Inglaterra e a França. POR
ESSA RAZÃO, após a Alemanha ter invadido a Polónia em setembro de 1939, os dois países
aliados viram-se obrigados a declarar a guerra.
8
O título desta secção deve ser mais específico, relacionando-se com o tema e a perspetiva
escolhida.
7
(7) “Não apenas pelo seu número, mas também pela sua diversidade – a nível de desenho e de
materiais construtivos – e pelas relações estabelecidas entre si, toda esta rede de sítios
fortificados, complementada com o modelo miliciano para a sua guarnição, e com as
armadas militares, constitui um sistema defensivo territorial de elevado interesse
histórico, especialmente ao nível da história da arquitetura, urbanismo e paisagem.”9.
(8) [POSIÇÃO] Uma metodologia de investigação deve ser simultaneamente fiável e simples.
[PROPOSTA INICIAL] Em linguística, obtêm-se resultados fiáveis mediante a recolha de
produções junto de vários grupos de falantes ao longo de um período de tempo.
[ARGUMENTO CONTRA] No entanto, por razões práticas, esta metodologia não é
exequível no período de execução do projeto, que será de dois anos. [ARGUMENTO +
PROPOSTA ALTERNATIVA] Por essa razão, propomos uma metodologia simplificada, com
recolha de amostras de produções linguísticas ao longo de 6 meses junto de um grupo
heterogéneo. [ARGUMENTO FINAL + POSIÇÃO FINAL] Pensamos que esta solução de
compromisso permite conciliar a fiabilidade com a simplicidade na aplicação.
3. CONCLUSÃO
Nesta parte, não se incluem ideias novas, porque a Conclusão resume apenas
tudo o que foi feito anteriormente, destacando o que é mais importante, como os
9
Mendiratta, S. (2012) Dispositivos do sistema defensivo da província do Norte do estado da Índia,
1521 – 1739. Tese de Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra, p. XI. Disponível em http://hdl.handle.net/10316/21363. Acesso em
16-01-2024.
8
3.2. Resumir os tópicos principais tratados ao longo do Desenvolvimento (ver 2.).
3.3. Reconhecer alguma limitação (uma ideia que não foi explorada por falta de
3.5. Sugerir pelo menos uma ideia que tenha ficado por explorar e que poderá ser
desenvolvida num outro trabalho (pode ser aproveitada a que foi referida em 3.3.).
Referências bibliográficas
Azevedo, M. (2001). Teses, relatórios e trabalhos escolares: sugestões para estruturação da
Clanchy, J., & Ballard, Brigitte. (2000). Como escrever ensaios: um guia para estudantes.
9
2. O PARÁGRAFO
aleatório de frases corretas. É produzido para ser compreendido por quem o lê,
pelo que deve ser claro, organizado, coeso, coerente e relevante. No caso dos
textos académicos, estas características são essenciais, pois é o texto que revela o
10
processo de compreensão global”, contribuindo para que “o processo de
integração das ideias e construção do sentido global seja facilitado” (Leite, 2017, p.
126).
tópico, traduzido por uma frase nuclear. Esta frase vem geralmente no início do
ii) Coerência: a frase nuclear – que traduz o tópico do parágrafo – deve ser
evidente e as outras frases do parágrafo devem reforçá-la ou desenvolvê-la; a
ligação entre as frases deve ser harmoniosa.
iii) Clareza: tal como o texto, o parágrafo deve ser claro e deve contribuir para a
evolução temática do texto.
[Se quiser testar a unidade, coerência e clareza do parágrafo, tente resumi-lo numa
frase.]
11
[Por exemplo, numa dissertação de Mestrado com 100 páginas, admitem-se
parágrafos mais extensos do que numa síntese, num resumo ou numa ficha de
sentido que, embora integrado num conjunto maior (o texto), tem autonomia
(recuo junto à margem esquerda do texto); ii) ou através de uma linha em branco a
“Para quem se escreve, na academia? A resposta a essa pergunta está condicionada à função
primária e operacional da escrita. A escrita pode ser um relato, uma comunicação, um ensaio, um
postulado, uma reflexão, uma instrução ou um debate – entre tantas outras possibilidades. Cada um
desses tipos de escrita acaba se configurando em razão de um interlocutor diferente. O “para
quem” da escrita é constituinte da própria escrita. O destinatário da escrita é, ao mesmo tempo, um
sujeito realmente existente e um sujeito possível. Realmente existente porque toda escrita dessa
natureza pressupõe um leitor, e esse leitor deve ser tomado como referência para o endereçamento
10
In: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-
iul.pt/consultorio/perguntas/paragrafos-distincao/13953 [consultado em 25-07-2022].
12
das ideias. Suas características, repertório e posição são indicadores para a escolha de estratégias
enunciativas e para a escolha do vocabulário. Mas também é um sujeito possível no sentido de se
considerar que a escrita deve atravessar o tempo e durar. Portanto, vale investir em um sujeito que
ainda-não está lá para ler, tanto no sentido de alguém que ainda-não existe porque não nasceu
como alguém que ainda-não chegou ao campo ou não acedeu àquele lugar de interlocutor desse
texto” (Pereira, 2013, p. 214)11.
● A negrito assinala-se a frase nuclear (no caso, note que não é a primeira
frase do parágrafo, mas está no início);
● Todas as frases contribuem para a informação sobre o tópico – a importância
do leitor na escrita:
o interlocutor
o “para quem se escreve”
o destinatário
o leitor
o sujeito possível
● Pode resumir-se o parágrafo a uma frase: Como toda a escrita, a escrita
académica é determinada pelo leitor, que é, ao mesmo tempo, concreto e
possível.
Helen Fulton chama a atenção para a resistência de muitos jornalistas em aceitarem a matriz
narrativa das notícias, argumentando com uma visão dicotómica que opõe hard a soft news. Esta
dicotomia assenta na separação entre informação e história, entre notícias e histórias de interesse
humano (Fulton, 2005, pp. 218-244), podendo subsumir-se na aparente oposição entre reportar e
narrar. A problemática não é recente e decorre em parte da lógica binária que preside à classificação
das notícias: as hard news, por um lado, geralmente sobre assuntos de política e de economia,
veiculadas pelos grandes meios de comunicação de referência; e, por outro lado, as soft news,
dedicadas a temas mais banais do quotidiano, presentes sobretudo no jornalismo popular ou em
certos géneros ‘menores’ e olhadas com suspeição pela elite profissional e com algum desprezo
pela academia. As hard news ajustam-se ao ideal informativo da objetividade jornalística, possuem
uma superestrutura protocolar e canónica (a pirâmide invertida) e obedecem a critérios de
construção específicos, estreitamente vinculados à ética e deontologia profissional: factualidade,
objetividade, imparcialidade, fontes, equilíbrio, etc. Pelo contrário, as soft news pressupõem um ato
narrativo mais empenhado e visível, a valorização das histórias individuais, um registo mais informal.
São geralmente estas últimas a serem classificadas como narrativas porque fundadas em
procedimentos de storytelling, com vista a captar a atenção (e a emoção) das audiências através de
estratégias de proximidade, propensas a uma apreensão mais emocional, logo, menos racional e
11 PEREIRA, M. V. (2013). “A escrita académica: do excessivo ao razoável”, Revista Brasileira de Educação, Vol. 18, 52, 213-244.
13
distanciada. Dir-se-á que, embora ambas sejam construções textuais que recorrem a procedimentos
retórico-narrativos, as primeiras tendem a apagar as marcas da enunciação e da construção
narrativa, oferecendo os ‘factos’ como se não existisse mediação. Trata-se, portanto, de uma
classificação simplista – como em regra são todas as dicotomias – que opõe o universo da
racionalidade – o logos – ao das emoções – o pathos, relegando a narrativa ao modo emocional
(Martins, 2020), o que foi já objeto de crítica quer pelos trabalhos contemporâneos em Análise do
Discurso e Análise Crítica do Discurso, quer pelos Estudos Culturais: “Contemporary work in
discourse and cultural theory, however, starts from the assumption that both hard and soft news
stories are types of narrative, although they are likely to be structured in different ways” (Fulton, 2005,
p. 227)12.
12
Peixinho, A. T. (2023). Relatório Estudos Narrativos Mediáticos. Universidade de Coimbra.
14
primeiras tendem a apagar as marcas da enunciação e da construção narrativa, oferecendo
os ‘factos’ como se não existisse mediação.
4. Comentário
Trata-se, portanto, de uma classificação simplista – como em regra são todas as dicotomias
– que opõe o universo da racionalidade – o logos – ao das emoções – o pathos, relegando a
narrativa ao modo emocional (Martins, 2020), o que foi já objeto de crítica quer pelos
trabalhos contemporâneos em Análise do Discurso e Análise Crítica do Discurso, quer pelos
Estudos Culturais: “Contemporary work in discourse and cultural theory, however, starts
from the assumption that both hard and soft news stories are types of narrative, although
they are likely to be structured in different ways” (Fulton, 2005, p. 227).
15
Referências bibliográficas
Goldstein, N.; Louzada, M. S., & Ivamoto, R. (2009). O texto sem mistério. Leitura e Escrita
Leite, S. de A. (2017). Como Escrever Tudo em Português Correto. Manuscrito (pp. 126-
130).
Peixinho, A. T. (2014). “Redes textuais ou a nova Babel”. In Via Latina, n.º 11, Série VI, 106 –
111.
Zinsser, W. (2006). On Writing Well. 30Th Anniversary Edition. The Classic Guide to writing
nonfiction. Collins.
16
3. A FRASE
um sentido completo.
pontuadas.
13
Exemplos retirados de Almeida, P. D. (2022). “Tento na Língua”. Visão. Dossier Especial – O que é
escrever em bom português? – 4 a 10 de agosto, 31-43.
17
Nesta versão b), as frases não estão corretas, pois violam regras de pontuação:
no caso (1b), a vírgula separa o sujeito da frase do seu predicado; no caso (2b), a
simples tem 1 só verbo principal, enquanto uma frase complexa tem 2 ou mais
precisamente o jogo entre frases simples e frases complexas que nos permite
(3) “O jornalismo, tal como a história, apresenta-se como uma forma de conhecimento,
possuindo, simultaneamente, caráter narrativo.”15
Esta frase é uma frase complexa que se constrói a partir da articulação de duas
orações:
i) O jornalismo, tal como a história, apresenta-se como uma forma de
conhecimento;
14
Para esclarecer as dúvidas sobre pontuação, pode recorrer a um Prontuário. Sugere-se:
Bergstrom, M. & Reis, N. (2011). Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa. 50.ª ed. Porto:
Casa das Letras.
15
Mesquita, M. (2022). “Do prazer da boa história ao sonho do mapa-múndi”. Le Monde
Diplomatique (Edição Portuguesa), fevereiro (https://pt.mondediplo.com/2022/02/do-prazer-da-
boa-historia-ao-sonho-do-mapa-mundi.html)
18
ii) O jornalismo possui simultaneamente um caráter narrativo.
(4) “Ensaiar uma definição é sempre um risco, porque, como se aprende com a retórica, toda
a definição é um argumento.”16
Esta frase é uma frase complexa que se constrói a partir da articulação de três
orações:
i) Ensaiar uma definição é sempre um risco
ii) como se aprende com a retórica
iii) porque (...) toda a definição é um argumento
académico evite:
Referências bibliográficas
Almeida, P. D. (2022). “Tento na Língua”. Visão. Dossier Especial – O que é escrever em bom
Estrela, E. et al. (2013). Saber Escrever uma Tese e Outros Textos. D. Quixote.
Leite, S. de A. (2017). Como Escrever Tudo em Português Correto. Manuscrito (pp. 126-130).
Zinsser, W. (2006). On Writing Well. 30Th Anniversary Edition. The Classic Guide to writing nonfiction.
Collins.
16
Ver nota 13.
19
Faça os exercícios 1, 2, 3 e 11.2.do anexo B.
20
4. A COESÃO ENTRE PARÁGRAFOS E FRASES
concetual (ver 1.2. Planificação do texto), devem suceder-se de forma a que fique
claro para o leitor que lugar ocupa cada um e como se relaciona com o anterior e
o seguinte. Entre outros meios (ver 5.5. Coesão referencial), isto é conseguido
oposição:
(1) Numa síntese certeira, Raymond Garthoff escreveu que «(…) o Ocidente e, sobretudo, o
papel americano no fim da Guerra Fria foi necessário, mas não fundamental»56. Apesar
de terem participado no desfecho do conflito bipolar, tanto Reagan como Bush foram
atores secundários, o que se explica pelo facto de os próprios Estados Unidos terem tido
um papel relativamente pequeno na revolução de 1989/1991.
É certo que há várias decisões tomadas pelo governo norte-americano que contribuíram
para o colapso da URSS. Porém / Todavia / Contudo / No entanto / Não obstante /
Apesar disso, dito de forma simples, não foram os Estados Unidos que ganharam a
Guerra Fria, mas a URSS que a perdeu. E aqui Gorbachev foi o grande protagonista. Como
21
defendeu Tony Judt, (...), «não havia nenhuma autoridade compensadora, nenhum
movimento dissidente – quer na União Soviética, quer nos Estados seus clientes – que a
tivesse podido abater. Só um comunista o poderia fazer. E foi um comunista que o fez.»
Gorbachev levou a cabo a Perestroika e a Glasnost para salvar a URSS. Porém / Todavia
/ Contudo / No entanto / Não obstante / Apesar disso, ironicamente, foi essa tentativa
de reforma que a fez implodir.17
17
Sá, T.M. (2014). Os Estados Unidos e o fim da Guerra Fria. Relações Internacionais (R:I), (43), pp.
15-29.
22
Nas tabelas seguintes, encontra-se uma listagem não exaustiva de
18
Telha, S. (2012), Estudo de um Projeto de Investimento Hoteleiro, Relatório de estágio curricular
efetuado na empresa Nextconsulting, apresentado à Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra para obtenção do grau de mestre em Gestão, p. 23, texto modificado. Disponível em
http://hdl.handle.net/10316/21381. Consulta em 24-01-2024.
19
Ver nota 16.
23
Neste excerto de um relatório académico de Gestão, os articuladores
destacados permitem ao leitor organizar o seu próprio mapa mental de conceitos,
ajudando a fixar na sua memória os critérios que norteiam o estudo:
O texto faz uma enumeração, mas ela não aparece como uma listagem ao
24
introduzindo isto é – ou seja – ou melhor – i.e. – melhor face negativa que cada falante
uma dizendo – ou antes tenta preservar durante a
paráfrase, comunicação. Por outras
para melhor palavras, ao mesmo tempo que
entendimento pretende obter a aprovação do
da ideia outro (…), o falante esforça-se
por manter intacto o seu
território (i.e., salvaguardar a sua
face negativa), evitando a
intrusão alheia.”20
assinalado por Por outras palavras ou i.e. (abreviatura da expressão latina id est,
Quando se antecipa que o leitor poderá não entender logo a ideia, convém
conectores estão efetivamente a ligar duas formas diferentes da mesma ideia e não
20
Lopes, A.C., & Carapinha. (2019). Texto, coesão e coerência. Almedina / CELGA, p. 256.
25
(5) Faça um comentário do texto apresentado, mencionando especificamente / em
concreto / em particular os seguintes pontos: (…).
concretização do comentário.
26
Tabela 1.3. Articuladores e conectores de raciocínio lógico
Uso Articuladores e conectores Exemplo
Indicar Por essa razão – Desta forma – Deste modo –
relações de Assim – Consequentemente – Em O nível das águas subiu devido
causa e/ou de consequência – Por conseguinte – Daí que às alterações climáticas.
consequência porque – visto que – dado que – uma vez
que – já que – tendo em conta que – O nível das águas subiu, visto
considerando que – de (tal) modo que – que houve uma alteração do
devido a – por causa de clima.
21
Ribeiro, L.P. (2012). Maturação Biológica em Praticantes Desportivos nos anos peri-pubertários:
Estudo multimétodo e concorrente entre indicadores e protocolos. Excertos de Tese de
Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física para obtenção
27
As ligações lógicas desta tabela são provavelmente as mais conhecidas
Nestas duas frases, devido (a) e visto que estabelecem um nexo de causa /
consequência entre dois factos:
(i) O nível das águas subiu.
(ii) Houve alterações climáticas.
Tal como nos exemplos anteriores, o nexo existe desde que a informação foi
recolhida nas fontes e deve estar assinalado no mapa concetual (ver 1.2.
Planificação do texto). Por outras palavras, a ligação lógica está prevista muito antes
Existem muitas outras expressões que podem ser usadas para garantir a
coesão lógica entre parágrafos e frases. A sua aprendizagem é feita com treino de
fácil será fazê-los variar, ou mesmo lembrar-se deles quando forem precisos.
Numa fase inicial, sugere-se que organizem pequenas listas destas expressões
28
Referências bibliográficas
Costa Val, M.G. (2004). Texto, Textualidade e Textualização. Pedagogia Cidadã – Cadernos de
Halliday, M.A.K., & Hasan, R. (1976). Cohesion in English. Taylor & Francis.
Lopes, A.C.M., & Carapinha. M.C. (2013). Texto, Coesão e Coerência. Livraria Almedina / CELGA.
Mendes, A. (2013). Organização textual e coesão de orações. In E.P. Raposo et alii (Org.), Gramática
29
5. O NOME
natureza diversa (coisas, ideias, conceitos, espaços, etc.) e que aqui vamos designar
por “objetos”.
22
Lopes, M.A. (2019). A enfermagem hospitalar em Portugal entre os séculos XVI e XIX: mitos e
realidades. In Festas, C; Subtil, C.L.; Sá, L.O., & Costa, R.M.P. (Coord.). Sob o Signo da História
Comparada: a Enfermagem na Europa do Sul (pp. 8-19). Sociedade Portuguesa da História da
Enfermagem.
30
compreende, também, uma dimensão pública, contribuindo para a construção da
heteroimagem do proprietário […]23
Os nomes destes excertos são muitos e muito variados, e, por isso, também
são muitas e muito variadas as entidades a que, através deles, fazemos referência:
elementos (às vezes outros nomes) que lhes afinam o sentido. Por isso, falaremos
(2) A casa é o refúgio por excelência. Ela garante a separação e o abrigo em relação
a[o mundo exterior] . Obedecendo a uma ordem que só para [o(s) seu(s)
habitante(s) ] faz sentido] , ela não apenas constitui o recetáculo dos testemunhos
materiais que integram [a identidade de um ser humano ], como fornece o espaço
para que uma identidade privada possa manifestar-se ou mesmo objetivar-se.
Conquanto íntima, a casa compreende, também, uma dimensão pública,
contribuindo para a construção da heteroimagem do proprietário […]
23Ribeiro, M.B., & Brites, J. (2018). A casa atelier de António Tavares Ribeiro: um microcosmos
oitocentista. Biblos n.º 4, nova série, 32-59.
31
de sentido, ocupa um determinado espaço funcional dentro da estrutura
32
A expansão do nome enquanto unidade de sentido do texto através de
permite:
(ver 5.2.)
objeto.
33
No que toca à forma como um nome se refere a um dado objeto (coisa, ideia,
interior dos blocos nominais dos quais fazem parte, quer em blocos encaixados (ver
34
N + QUE os testemunhos (materiais) QUE integram a identidade (de um ser
humano)
N Prep N o conhecimento DE [a enfermagem (hospitalar) da Época
(Contemporânea)]
a investigação SOBRE [a história dos enfermeiros em Portugal ]
metodologia DE [a investigação (histórica)]
a construção DE [a heteroimagem do proprietário]
os funcionários DE [hospitais (portugueses)]
(1) A desconstrução é [um conceito da análise literária, hoje alargado à linguagem corrente,
que o entende como prática social e intelectual]. Desconstruir é [por em causa as ideias
instaladas e assim decidir se ainda são válidas ou se devem ser renovadas].
(3) Em Coimbra, existe um edifício com quase três séculos. Foi concebido como biblioteca, mas
transformou-se também num lugar de atração turística, sendo visitado [por mais de 200 mil
pessoas] por ano. A grande maioria sente-se sobretudo tocada pelo aparato visual: [os
dourados que recobrem as colunas (…)]. Outros deixam-se impressionar pela [grande
concentração de madeira entalhada], ou então, elevando a vista, reparam [nas figuras
femininas e nas inscrições latinas dos tetos]. Existe também [a considerável parcela daqueles
35
que se contentam em saber dos morcegos] (…). Por fim, há ainda [visitantes que perguntam
pelos livros]: querem saber se ainda são lidos (...).24
(4) Logo no século XVI houve anexação de hospitais [às misericórdias]. [Estas irmandades
portuguesas] eram instituições civis, sem qualquer dependência da Igreja e sem paralelo
noutros países.
5.3. O TÓPICO
diferença está relacionada com a posição no texto e a frequência com que ocorrem.
posição de sujeito [SU] da primeira frase e vai ser retomado várias vezes na mesma
(1) A casa [SU] é o refúgio por excelência. Ela [SU]garante a separação e o abrigo em
relação ao mundo exterior. Obedecendo a uma ordem que só para o(s) seu(s) habitante(s)
faz sentido, ela [SU]não apenas constitui o recetáculo dos testemunhos materiais que
integram a identidade de um ser humano, como fornece o espaço para que uma
24
Bernardes, J.A.C. (2015). A Biblioteca Geral, Alegoria da Universidade. In Bernardes, J.A.C;
Miguéis, A.E., & Ferreira, C.A.S. (Coord,). A Biblioteca da Universidade. Permanência e
Metamorfoses (pp. 293-309). Disponível em https://hdl.handle.net/10316/44052, acesso em 22-02-
2024.
36
identidade privada possa manifestar-se ou mesmo objetivar-se. Conquanto íntima, a casa
[SU] compreende, também, uma dimensão pública, contribuindo para a construção da
heteroimagem do proprietário.
O grupo nominal é retomado 3 vezes como sujeito, seja por um pronome, seja
pela repetição (casa è ela / ela è a casa), tornando-se assim mais saliente em
relação aos que aparecem uma única vez, como heteroimagem ou recetáculo. Estes
outros blocos nominais não ocorrem em posição de sujeito, pelo que não são
tópicos.
importante quanto mais destacada for a sua posição (= se for sujeito || tópico) e
quanto mais vezes for retomado ao longo do texto. Qualquer objeto de discurso
extensas do texto, como frases, parágrafos, secções, ou, até, o próprio texto.
temático do próprio texto, como se pode ver pelo título: A casa atelier de António
Tavares Ribeiro (…) e por uma das palavras-chave: (…), Casa-atelier (…).
para a posição de tópico. Por fim, há grupos nominais que ocupam a posição de
37
Este dinamismo do tópico exige algum cuidado na escrita do texto. Vejamos
dois exemplos no texto sobre plágio proposto no DESAFIO (ver anexo A):
(2) Os dados foram verificados a partir de textos que os docentes forneceram. Os textos
apresentam diferentes tipos de plágio, tendo em vista estabelecer critérios fiáveis para
construir um programa para detetar plágios user-friendly e de preço razoável, e para ser
usado em pequena escala no âmbito de um pequeno departamento de uma instituição.
Não há resultados globais para todas as tabelas que se apresentam nos anexos, porque
houve dificuldades em comparar tecnicamente textos que têm uma extensão muito
diferente e que tratam diferentes temas.
Os dados foram verificados a partir de textos que os docentes forneceram, que apresentam
diferentes tipos de plágio (ver tabelas nos anexos).
Os dados foram verificados a partir de textos que os docentes forneceram, e que apresentam
diferentes tipos de plágio (ver tabelas nos anexos). Esses dados podem ser usados
estabelecer critérios fiáveis para construir um programa para detetar plágios user-friendly e
de preço razoável, e para ser usado em pequena escala no âmbito de um pequeno
departamento de uma instituição.
38
(3) Este trabalho destina-se a estudar o fenómeno do plágio na Universidade de Coimbra.
Utiliza um inquérito e o objetivo é analisar as respostas de docentes, porque o plágio é um
problema muito sério na universidade. Os resultados do inquérito que foi feito aos
docentes mostram que o plágio é um problema sério quando aparece no meio
académico.
(4) Logo no século XVI houve anexação de hospitais às misericórdias. Estas irmandades
portuguesas eram instituições civis, sem qualquer dependência da Igreja e sem paralelo
noutros países.25
subordinada (na expressão “anexação de…”). Não é tópico, porque não é o sujeito
25 Lopes, M.A. (2019). A enfermagem hospitalar em Portugal entre os séculos XVI e XIX: mitos e
realidades. In Festas, C; Subtil, C.L.; Sá, L.O., & Costa, R.M.P. (Coord.). Sob o Signo da História
Comparada: a Enfermagem na Europa do Sul (pp. 8-19). Sociedade Portuguesa da História da
Enfermagem.
26 Damásio, M. (2013) O sentimento de si. Corpo, emoção e consciência. Temas & Debates.
39
assume a posição de sujeito, passando a constituir um novo tópico acerca do qual
mas deixa de ser tópico, porque também não é sujeito – ocupa uma posição menos
5.4. A NOMINALIZAÇÃO
Depois de vermos processos para expandir o nome e ampliar a informação,
suporte para narrar, descrever, expor ou argumentar (ver 1.2. Planificação do texto).
nominalizações:
(1) A análise das traduções portuguesas dos contos de Perrault pelos Estudos Descritivos
da Tradução, que incluem os sistemas social, cultural e literário, proporciona uma
visão mais ampla e consistente da sua receção.27
27
Bárbara, M.E. (2014). Os contos de Perrault em Portugal no Estado Novo. Tese de Doutoramento
em Tradução, apresentada à FLUC, p. 7-8, disponível em http://hdl.handle.net/10316/23758,
acesso em 15-11-2020, texto adaptado.
40
(i) N + Prep + N, como em [a análise] + [das traduções]
(ii) N + Adj, como em [traduções] + [portuguesas]
(iii) N + relativa com que, como em [Estudos Descritivos da Tradução] + [que
incluem os sistemas social, cultural e literário]
sobre plágio proposto nos DESAFIOS (ver Anexo A). Veja-se o excerto seguinte:
(2) Os professores informaram que tinham identificado uma primeira fonte de material plagiado
e que essa fonte era o trabalho que os alunos tinham copiado de manuais e de teses.
Informaram também que a segunda fonte mais comum era o material que tinha sido
copiado da Internet, e que tinha sido cortado ou não, e a seguir tinha sido colado no texto
que tinha sido solicitado aos estudantes nos enunciados dos trabalhos pedidos pelos
professores. 21 professores reportaram nas respostas abertas que os estudantes tinham
copiado dos colegas sem terem referenciado que o tinham feito.
41
Todas as frases dizem respeito a uma única referência, que pode ser expressa
através de uma só nominalização: “identificação de fontes de plágio”. Como
podemos constatar pelo texto, há 3 fontes possíveis, que também podem ser
resumidas por nominalizações, em vez de constituírem frases completas:
● trabalho copiado de manuais e teses
● material copiado da Internet
● (material) copiado do trabalho de colegas
Uma revisão pode tornar o texto mais elegante, claro e ainda mais curto:
O corte de informações não afeta o texto, uma vez que o leitor reconstrói
facilmente que manuais e teses foram copiados (o adjetivo “plagiado” na referência
inicial é suficiente para garantir a ideia). Quanto à existência de cortes, ela não é
relevante – cortado ou não, o material será sempre copiado.
do nome (ver 5.2.) – é muito produtiva no discurso académico para sintetizar uma
42
importante. Como resultado, a informação mais importante fica automaticamente
conhecido, o texto obriga a retomas variadas, não apenas para que o leitor o
identifique de forma inequívoca, mas também para que haja coesão entre objetos,
forma original vai sendo ora retomada ora substituída, adotando formas mais
28
Ferreira, C. (2007). Manuel de Oliveira: um amor feliz. VINTE E UM POR VINTE E UM nº 3: O
CINEMA NO PORTO. O ESTADO DA ARTE, Porto: ESAP, 2007, pp. 76-86. Disponível
em http://hdl.handle.net/10400.26/28323, p. 76.
43
por sinónimos parciais: as primeiras (que incluem a “inspiração cinematográfica”)
e as segundas (que correspondem às paixões pelo cinema e pela cidade do Porto).
(2) Tenho um amigo que, há alguns anos, apresentou uma série de seminários sobre
ética a grandes empresas. [Ø] Contou-me que perguntava muitas vezes aos
executivos se [Ø] estavam a preparar algum tipo de livro de regras éticas para os
empregados. Se [Ø] respondiam que sim, ele surpreendia-os ao pedir-lhes que[Ø]
fizessem o favor de parar.
À primeira vista, parece não haver retomas dos grupos nominais [um amigo]
e [os executivos], as duas entidades de que se fala neste excerto. Contudo, se
colocarmos o texto com uma explicitação dessas retomas – o que resulta em (5),
uma produção absurda – vemos que é a sua omissão ou ausência que está
precisamente a permitir que o leitor ligue os grupos nominais uns aos outros, isto
é, que identifique de forma inequívoca os objetos de que o texto fala:
(3) *Tenho um amigo que, há alguns anos, apresentou uma série de seminários sobre
ética a grandes empresas. O amigo/O mesmo contou-me que o amigo/ele
perguntava muitas vezes aos executivos se os executivos / os mesmos / eles estavam
a preparar algum tipo de livro de regras éticas para os empregados. Se os executivos
/ eles / os mesmos respondiam que sim, ele surpreendia-os ao pedir-lhes que os
executivos / os mesmos / eles fizessem o favor de parar.
o leitor reconstrua uma certa coerência entre aquilo de que se fala fora do texto. É
(4) A paisagem é constituída por um conjunto de elementos, dos quais fazem parte os
processos naturais e a sua utilização pelos grupos humanos, apresentando determinada
organização e estrutura espacial. Qualquer componente depende do todo, resultando
sempre da sua interação no tempo e no espaço. Desta forma, é a materialização das
componentes físicas e humanas que reveste de sentido aquilo a que chamamos
paisagem e que constitui, no fundo, o território.”29
29
Castro, E.; Cunha, L.; & Santos, N.N. (2008). Análise integrada da paisagem da raia central
portuguesa. Minerva 5(2), 139-147. Disponível em http://hdl.handle.net/10316/12157, p. 140.
44
especificam esses elementos através de novos grupos nominais expandidos
(processos naturais + utilização pelos grupos humanos + organização e
estrutura espacial). Nas frases seguintes, novos grupos são associados aos
anteriores (componentes físicas + (componentes humanas + interação no
tempo e no espaço), como se pode ver no esquema seguinte:
ausência ou omissão. Assim, ao mesmo tempo que retoma o que já foi dito, o texto
Referências bibliográficas
Halliday, M.A.K., & Hasan, R. (1976). Cohesion in English. Taylor & Francis.
Lobo, M. (2013). Dependências referenciais. In E.P. Raposo et alii (Org.), Gramática do Português
(2177-2227). Fundação Calouste Gulbenkian, vol. II.
Lopes, A.C.M., & Carapinha. M.C. (2013). Texto, Coesão e Coerência. Livraria Almedina / CELGA.
45
6. CONCLUSÃO
46
Anexo A – Desafios
Desafio para os tópicos 2. O Parágrafo e 3. A Frase.
(1) Identifique as frases nucleares nos parágrafos abaixo transcritos e resuma cada
parágrafo numa frase.
Uma “comunidade de prática”, conceito aqui entendido no sentido de Lave & Wenger
(1998), pressupõe sempre um conjunto de rituais comunicativos simbólicos. No caso das
comunidades científicas, que envolvem instituições de investigação e de ensino superior,
esses rituais, além de formas consensuais de disseminar conhecimento, constituem-se como
protocolos de acesso e de certificação de pertença. Investigações que culminam na
concessão do grau de doutoramento assumem caráter iniciático, uma vez que são exigidas
provas para sancionar de iure a entrada de um novo membro no grupo. Na aparência, a
apresentação e a defesa bem sucedida de uma tese são atividades formativas, inseridas num
processo educativo coroado por um diploma. Na prática, porém, trata-se de atividades de
postulação, que conferem aos novos membros das tribos científicas o direito a exercerem
atividades profissionais institucionalizadas, ligadas à investigação e ao ensino.
Os rituais comunicativos são apenas algumas das práticas de recrutamento, formação e
qualificação das comunidades científicas e incluem também as comunicações em encontros,
os pedidos de financiamento institucional para projetos de investigação e, sobretudo, a
publicação de artigos. São comuns a todas as unidades de investigação, às equipas que
partilham temas de trabalho, ou aos grupos que se reúnem regularmente em encontros e
congressos. Consequentemente, essas comunidades também se configuram como
«comunidades discursivas» (Swales, 1990: 23–27), isto é, grupos de pessoas não
geograficamente circunscritas, mas unidas por formas de comunicação com uma dimensão
contratual explícita ou implícita, e norteadas por objetivos específicos e comuns. Além da
prova pública de doutoramento, o ritual comunicativo mais importante partilhado pelos
membros dessas comunidades é a publicação de artigos científicos em revistas da
especialidade, de preferência indexadas com alto coeficiente em bases de dados como a
Scopus ou a Web of Science, o que pressupõe revisão cega por pares, mais conhecidos pela
designação (não sinónima) de gatekeepers.30
47
(2) Nos espaços vazios, introduza expressões lógicas de ligação tal como no exemplo,
de acordo com o sentido global do texto [= Os EUA não desencadearam o fim da
URSS, foi Gorbachov que provocou esse fim, paradoxalmente quando queria salvá-
la].
(3a) A casa é o refúgio por excelência. Ela garante a separação em relação ao mundo
exterior. [...] Conquanto íntima, a casa compreende, também, uma dimensão pública,
contribuindo para a construção da heteroimagem do proprietário.32
(3b) Debrucemo-nos agora sobre os funcionários de hospitais portugueses, para
concluirmos quem era, efetivamente, o pessoal de enfermagem.33
31
Sá, T.M. (2014). Os Estados Unidos e o fim da Guerra Fria. Relações Internacionais (R:I), (43), pp.
15-29.
32
Ribeiro, M.B., & Brites, J. (2018). A casa atelier de António Tavares Ribeiro: um microcosmos
oitocentista. Biblos n.º 4, nova série, 32-59.
33 Lopes, M.A. (2019). A enfermagem hospitalar em Portugal entre os séculos XVI e XIX: mitos e
realidades. In Festas, C; Subtil, C.L.; Sá, L.O., & Costa, R.M.P. (Coord.). Sob o Signo da História
48
Desafio para o tópico 5. O Nome
Report, Computer Assisted Assessment Center, University of Lutton, p. 4 - 10, tradução modificada).
49
Anexo B – Exercícios
As palavras de Joe Biden que abrem este texto, proferidas em fevereiro de 2021 na
Conferência de Segurança de Munique, são ilustrativas da janela de oportunidade que a nova
Administração norte-americana representa para a parceria Estados Unidos-União Europeia
(UE). Ao longo do discurso, Biden deixou clara a vontade de reavivar as relações com a Europa
e, em particular, com a UE. Mas este “regresso” dos Estados Unidos à Europa não isenta a
parceria transatlântica de grandes desafios. O relacionamento entre os Estados Unidos e a UE
foi, ao longo dos anos, marcado por dinâmicas contraditórias de cooperação e de
competição. Se a partilha dos valores fundamentais em que assenta a ordem internacional
liberal uniu os dois atores, a rivalidade comercial, as visões diferentes sobre a necessidade do
uso da força ou desacordos em relação ao contributo dos Estados europeus para a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) constituem apenas alguns exemplos de
temáticas que colocaram, não raras vezes, os Estados Unidos e a UE (ou parte da UE) em
campos opostos. Não obstante esta alternância entre momentos de maior aproximação e
momentos de maior afastamento, o reconhecimento da importância da aliança entre os dois
atores por parte das suas lideranças manteve a parceria transatlântica como um elemento
constante das respetivas políticas externas. A título de exemplo, relembre-se que a conclusão
da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento entre a UE e os Estados Unidos era
uma das dez prioridades da Comissão Juncker (2014-2019); também a Estratégia Global da
UE (2016) previa explicitamente o aprofundamento da cooperação com os Estados Unidos
em inúmeros domínios, que incluíam, entre outros, a relação com a NATO, o acordo
comercial, a gestão de crises, o combate ao terrorismo, a cibersegurança, a migração, a
energia e o clima. A eleição de Donald Trump em 2016 veio alterar este cenário. Durante os
quatro anos do seu mandato, Trump materializou o lema de campanha “America first” numa
política externa (neo) isolacionista que retirou os Estados Unidos do palco principal das
relações internacionais, ao reduzir drasticamente as suas responsabilidades e compromissos
como ator global, e alienou o apoio dos seus aliados tradicionais. A vitória de Biden e as suas
declarações (e ações) iniciais fizeram renascer a esperança de um regresso dos Estados
Unidos e do seu envolvimento e comprometimento com a solução dos problemas globais.
Na Europa, as reações foram de entusiasmo e de abertura à cooperação. A pergunta que se
impõe é, no entanto, que tipo de cooperação será esta? A leitura do documento estratégico
que a delineia parece permitir concluir que os sobressaltos provocados pela Administração
Trump tiveram o efeito de unir a Europa em torno de uma lição que esta tardava a aprender:
parceria não é sinónimo de dependência.35
35
Camisão, I. (2021). “Biden e o regresso da parceria transatlântica. Oportunidades e desafios”,
Relações Internacionais, n.º 69, 69-77.
50
51
2. Faça o mesmo exercício com o texto que se segue: Leia-o e divida-o em
parágrafos.
Quando se nasce pensa-se com o quê? Não há palavras ainda, não existem signos escritos ou
ouvidos cheios de significado e de potenciais interpretações, que concentram conceitos e
ideias. Existe som, que já existia antes, nos nove meses molhados que temos dentro da barriga
das mães, ainda; existem, quando se sai para o mundo e se abrem pela primeira vez os olhos,
as primeiras imagens, sem foco nem cor, são feitas de luz e de omissão de luz apenas,
portanto. O som e a luz, tal como o tato logo a seguir, serão os primeiros estímulos e,
eventualmente, a primeira base de uma linguagem silenciosa e em monólogo, que os bebés
terão nos primeiros meses e sobre a qual não sabemos quase nada. Do pensamento
individual e solitário à aprendizagem e construção de uma linguagem coletiva, e para o
coletivo, vai um longo processo. E um facto: a palavra, escrita ou falada torna-se, em quase
todas as culturas, a base da comunicação, o abecedário espantoso e multidiverso com que
tentamos apreender o mundo e comunicá-lo, comunicarmo-nos. É a ferramenta da
aproximação, com uma questão de fundo sempre a contaminá-la: se não sabemos
determinada língua as palavras podem ter significado nulo para o outro. É aqui que entram
as imagens. De novo, porque estão no princípio, e sempre, pois acompanham-nos durante a
vida, convocando mil significados, pese embora tenham tido diferentes valores e valor ao
longo da evolução da nossa espécie. É aqui que entra o design, muito especificamente o
design de símbolos, de logótipos, de ícones, de sinalética. Um designer gráfico pode criar
todo um abecedário visual desenhado para, especificamente, comunicarmos entre nós. Sem
recorrer a palavras. E sem representar letras. Só criando símbolos para conceitos, que usam
forma, cor, movimento até, nesta nossa era digital. O desafio maior seria a criação de uma
linguagem visual que fosse entendida independentemente da raiz cultural ou social de cada
um de nós e, ainda, da idade que temos, o esperanto das imagens, a mais democrática e
transversal das linguagens. Se olhar para o seu smartphone, seja de que marca for, verá esta
tentativa, todas as apps têm um ícone próprio, muitos deles sem recorrerem a nenhuma
palavra; se olhar para as ruas nas cidades, verá o mesmo, na sua sinalética uma cidade revela
o seu interesse em comunicar de forma universal, tal como uma empresa ou instituição o pode
fazer. Ao acompanhar as palestras, na semana passada, do designer americano Lance
Wyman, que passou parte importante dos seus 85 anos, começou aos 29, a desenhar ícones
para um dos maiores eventos mundiais, os Jogos Olímpicos, e nunca mais parou, não há
como não pensar neste poder enorme que o design gráfico tem e que às vezes tem sido,
mesmo assim, pouco explorado, para nos ajudar num tema central a todos. Falo da união e
comunhão entre os povos.36
36
Moura Guedes, G. (2023). “Da linguagem”. Revista E, 2 de junho de 2023, p.74.
52
3. Leia o seguinte texto e corrija-o, organizando e reestruturando os parágrafos.
Primeiramente, vale a pena explicar o contexto de cada texto em separado. O primeiro, que
fala da relação das notícias com o mundo real, reflete sobre a importância de as notícias terem
de ser o mais verdadeiras possível. Quando o leitor lê ou vê uma notícia, ou seja, tanto em
papel como em formato audiovisual, procura sempre que o conteúdo lhe seja próximo e real.
Além do conteúdo, também procura um formato que lhe seja familiar, ou seja, uma boa
construção noticiosa dentro dos parâmetros da norma jornalística. O segundo texto, por sua
vez, fala da importância da habilidade de escrever uma boa notícia. Apesar de se pedir a um
profissional jornalista que respeite a norma da língua em que escreve e os princípios da
redação jornalística, também se pede que acrescente algo que torne o seu texto único. Logo,
é nessa medida que os dois textos se unem. Quem assiste uma notícia procura sempre que a
notícia seja verdadeira, mas também interessante e cativante. Há dois bons exemplos para
ilustrar esta questão. Por exemplo, há imensas pessoas que ligam a televisão na SIC só porque
é Rodrigo Guedes a apresentar o telejornal. Ele respeita os princípios e bases jornalísticas,
mas dá uma “forma pessoal”, recorrendo à linguagem paraverbal, (a professora universitária
Joana Vieira Santos explica isto na sua obra Linguagem e Comunicação, por exemplo) à
apresentação dos noticiários. Outro exemplo é a preferência dos leitores em pagarem a
subscrição mensal do jornal Público e terem acesso a notícias de alguns jornalistas em
específico. Procuram nesses a habilidade de escrita, a forma como usam a norma da língua
portuguesa, mas sobretudo a capacidade de entre tantas notícias iguais em vários sites –
devido ao efeito do imediatismo – terem a capacidade de torná-las únicas. É isso que o leitor
procura hoje em dia: o que destaque e cative, mas seja verdadeiro.37
37 Resposta a uma pergunta de um exame de Discurso e Comunicação, unidade curricular do 1.º ciclo em Jornalismo e Comunicação (texto adaptado).
53
jornalista, a fim de reunir os elementos relativos ao referente objetivo” (Mesquita, 2003, p.
132).
Destacam-se nestas observações alguns aspetos que merecem ponderação: a definição
do que se entende serem os traços principais do retratado; quem e o que os determina; em
função de que objetivos. Mário Mesquita responde parcialmente a estas perguntas,
argumentando que é a “interpretação do jornalista”. A esta interpretação acrescentam-se
ainda fatores intrínsecos ao processo de produção noticiosa e ao funcionamento do sistema
mediático: i) o valor noticioso da figura; ii) o género discursivo e o formato da narrativa; iii) o
tipo de medium; e iv) a linha editorial do meio de comunicação social.
Estes são fatores de relativização suficientemente expressivos, em número e capacidade
de impacto, que justificam uma ponderação quando se utiliza o conceito de personagem
jornalística. Embora a pessoa seja “elo fundamental” e tenha uma importante componente
indicial, há uma considerável margem de construção e de figuração (Reis, 2018 e 2021) que
traduz, se não uma distinção nítida entre pessoa e personagem, pelo menos o estatuto
dúplice da personagem jornalística. Assume-se, pois, que a personagem, tal como outras
categorias da narrativa, são sempre produto de uma mise-en-récit à qual o analista e o
investigador, mas também o jornalista, devem estar atentos.
É, portanto, essencial cruzar a dimensão narratológica – o estudo da personagem como
categoria particular da narrativa – com a dimensão deontológica – como resultado de um fazer
adstrito a procedimentos de produção e construção, regulados por normas e valores
profissionais. Acrescenta-se a estas duas dimensões uma terceira, a da ética narrativa (Ricoeur,
1983): como laboratório do agir humano, a sua mediação em três tempos, permite aceder ao
poder da narrativa na construção da realidade. Por isso, exatidão, rigor, autenticidade,
contenção devem ser deveres dos meios de comunicação social quando dão a ler os atores
sociais que protagonizam as notícias.
Considerando os procedimentos de produção noticiosa, bem como o funcionamento do
sistema mediático, uma linha de reflexão importante é a que analisa os múltiplos níveis de
construção da personagem jornalística. O regime de representação não depende
exclusivamente da capacidade seletiva e compositiva de quem produz as notícias, em função
de mecanismos e de uma práxis profissional específica. Depende também de uma relação de
forças, entre máquinas de comunicação e de imagem, cada vez mais sofisticadas, sobretudo
em alguns domínios de atuação (como a política ou o desporto), e as redações. O produto
que chega ao público é já o resultado de composições intersubjetivas, dialógicas e altamente
profissionalizadas. Daí que, de acordo com Mário Mesquita, a personagem jornalística resulta
sempre de um espaço de negociação entre promotores (máquinas de comunicação),
construtores (media) e consumidores (os públicos) (Mesquita, 2003, p. 138).
Um quarto tópico de reflexão particularmente relevante tem que ver com a medialidade
narrativa, isto é, a relação entre personagem e dispositivos de mediação, pois, em função
destes e das suas linguagens, a personagem jornalística é sujeita a procedimentos de
construção diversos com diferentes níveis de impacto nos modos de visibilidade pública. Se,
na década de 90 do século passado, Marc Lits reconhecia o impacto da ‘inflação galopante
da imagem televisiva’ na relação entre a esfera pública e privada, hoje, na era digital, pautada
pela instantaneidade, pela multimedialidade e pelo acesso aparentemente fácil a um espaço
público fragmentário, essa relação é ainda mais porosa e ambígua. Embora sem referir o
54
conceito de transmedialidade, Lits (2001 e 2009) chama a atenção para o impacto dos
dispositivos de mediação, das linguagens e das lógicas comunicacionais dos sistemas
mediáticos na configuração de personagens. Para o estudo de caso que se propõe neste
artigo, será, pois, importante ter em consideração as especificidades da linguagem televisiva,
o impacto que a televisão teve no consumo de informação no período e contexto em estudo
(pandemia de COVID-19), bem como o funcionamento em rede da informação, que
rapidamente circula, se dissemina e é apropriada e transformada pelo cidadão comum.
Recorde-se ainda que a construção do herói (conceito que se retomará adiante) – e mais
recentemente também de celebridades – sempre dependeu da imagem e das tecnologias de
mediação, uma vez que visibilidade e notoriedade estão intimamente relacionadas (Cathcart,
1994).
Em síntese, pode afirmar-se que a compreensão da personagem jornalística como uma
categoria particular e central nas narrativas jornalísticas exige a ponderação destes aspetos,
o que permitirá entendê-la como entidade que vive na encruzilhada da realidade, da
representação e do mito (Lits, 2008, p. 141).38
a) Havia em Coimbra inúmeros lentes e todos decerto tinham ócios, não os empregavam a
escrever compêndios; o saber necessário para confecionar a sebenta, iam buscá-lo aos
livros franceses. (Eça de Queirós)
b) A afirmação “A língua mundial é o inglês” pode significar que uma parte significativa da
população mundial fala inglês. Não existe nenhuma prova em abono desta afirmação. A
prova mais fidedigna que existe – o número de falantes –, que reconhecidamente não pode
ser mais precisa, mostra exatamente o contrário.5.3. A informação está à nossa volta. Todas
as pessoas têm alguma informação. Como se explicará neste capítulo, nenhum objeto físico
pode em absoluto conter ou armazenar informação. A própria informação não é física. É
abstrata.
c) Na maior parte das vezes, o ser humano age racionalmente. As pessoas comentam quando
alguém se comporta de uma forma irracional.
d) Uma sociedade é culturalmente evoluída. Uma sociedade é democrática. A democracia é
indissociável da evolução da cultura.
38 Peixinho, A. T. & Santos, C. A. (2023). “Construção televisiva de um herói em tempo de COVID-19: o caso do Coordenador da Task force para a
55
6. Para cada alínea, redija uma frase completa. NB: existem várias soluções
possíveis.
b) A investigação sobre a história dos enfermeiros em Portugal em períodos históricos recentes tem
conhecido desenvolvimentos assinaláveis, fruto de esforços de historiadores especialistas em
39
Damásio, M. (2013) O sentimento de si. Corpo, emoção e consciência. Temas & Debates.
56
História Social e de enfermeiros informados sobre a epistemologia historiográfica e a metodologia
da investigação histórica [...].40
“N Adj” “N de N” “N que…”.
Exemplo:
contexto musicológico
8.2. Qual a função destes elementos adicionais (Adjetivo– outro nome – (…) que (…)
no sentido do grupo nominal?
8.3. Analise os grupos nominais a negrito, tendo em conta a sua posição na frase
e relações no texto.
40
Lopes, M.A. (2019). A enfermagem hospitalar em Portugal entre os séculos XVI e XIX: mitos e
realidades. In Festas, C; Subtil, C.L.; Sá, L.O., & Costa, R.M.P. (Coord.). Sob o Signo da História
Comparada: a Enfermagem na Europa do Sul (pp. 8-19). Sociedade Portuguesa da História da
Enfermagem.
41
Práticas de Arquivo em Artes Performativas. Coimbra, Portugal: Imprensa da Universidade de
Coimbra, 2020. Disponível em https://discovery.ucl.ac.uk/id/eprint/10111866/1/105-
Book%20Manuscript-430-1-10-20200807.pdf
57
Andreia Nogueira parte também de um contexto musicológico para questionar as
dificuldades de construção de um arquivo dedicado aos criadores nacionais. Esta questão
percorre, noutro tempo histórico, as formas da atenção e o trabalho de documentação
conduzido por José Abreu e Paulo Estudante. Esta dupla de investigadores tem vindo a
estudar e a promover a interpretação dos manuscritos que se encontram depositados nos
arquivos musicais da Biblioteca da Universidade de Coimbra.
Interessa sobretudo fazer aqui referência aos três grandes inquéritos sociológicos sobre
leitura que até hoje se realizaram em Portugal. O primeiro desses inquéritos, Hábitos de
Leitura em Portugal: Inquérito Sociológico – realizado em 1988 (Freitas e Santos, 1991, 1992a,
1992b) teve como objetivo “fornecer elementos sobre as práticas de leitura em Portugal”,
respondendo a perguntas como: “quem lê? O que lê? Com que frequência? Que livros e
quantos livros se possuem? Quem compra e quantos livros se compra? Onde se realiza o
aprovisionamento de livros? Qual o lugar da leitura entre escolhas culturais?” (Freitas e Santos,
1991, p. 67). Em 1995 foi realizado o segundo inquérito sociológico, Hábitos de Leitura: Um
Inquérito à População Portuguesa, que teve como finalidade “caracterizar e analisar os
42
Ver nota 6.
43
Ver nota 5.
44
Ver nota 6.
58
hábitos de leitura dos portugueses” (Freitas, Casanova e Alves, 1997, p. 17). O último
inquérito socioló- gico sobre leitura realizado em Portugal decorreu em 2006/2007 (Santos et
al., 2007). Algumas das questões que orientaram este estudo foram: “quem lê, o que lê, onde
lê, porque lê (ou não), qual o lugar da leitura no conjunto das práticas culturais, quais as
evoluções que se podem detetar relativamente a anteriores inquéritos à população realizados
em Portugal?”45
45
Santos et al. (2007). Análise Social, lvi (4.º), 2021 (n.º 241), pp. 642-666.
46
Ver nota 11.
59
progenitores terem de fazer horas extraordinárias, apenas para resolver as necessidades
elementares. (…) As consequências são facilmente previsíveis. O tempo de contacto entre
pais e filhos diminuiu drasticamente. Cresceu enormemente o número de pais que entregam
os filhos aos cuidados da televisão, da mesma forma que cresceu o número de crianças
fechadas em casa, o alcoolismo infantil, o consumo de drogas por menores, a criminalidade
e a violência de menores ou contra eles, entre outras consequências evidentes para a saúde,
a educação e a capacidade de participação numa sociedade democrática, para já não falar
da mera capacidade de sobrevivência.”47
Escolha uma referência a um objeto de discurso e escreva outro texto a partir daí,
dando-lhe a sua própria perspetiva e adaptando-o à sociedade que melhor
conhece (800 a 1000 palavras). Pode enviar o texto para cea@fl.uc.pt, para receber
correção e sugestões sobre a sua escrita.
BOM TRABALHO!
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Chomsky, N. (2000). A democracia e os mercados na nova ordem mundial. Antígona, pp. 81 – 82.
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