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Livro Eletrônico

Aula 05 - Profº Raphael Reis

Discursivas p/ TRF 3ª Região (Técnico Judiciário - Área


Administrativa) Sem correção - Pós-Edital
Carlos Roberto, Rafaela Freitas, Raphael de Oliveira Reis

- Rafael Alves dos Santos


Carlos Roberto, Rafaela Freitas, Raphael de Oliveira Reis
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1 – Apresentação ............................................................................................................... 2
1.1 Alguns Depoimentos ................................................................................................................... 2
1.2 Mãos à obra ................................................................................................................................ 3
2 – Direitos e cidadania.................................................................................................... 16
3 – Cultura e ideologia ..................................................................................................... 21
4 – Urbanização e Mobilidade Urbana ............................................................................. 28
4.1 Mobilidade Urbana ................................................................................................................... 34
5 – A Sociologia de Zygmunt Bauman .............................................................................. 36
5 – Tema para a 1ª correção ................................
............................................................ 39
6– Contatos com o Professor ........................................................................................... 40

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1 – APRESENTAÇÃO
Olá, tudo em paz?
Aqui é o Professor Raphael Reis. Estou muito feliz em estar com você ao longo de sua preparação
para o concurso do TRF-3, organizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC). É uma honra poder
contribuir com o seu objetivo. Desde já, saiba que estou à sua disposição.
Cada vez mais tenho me especializado na redação da banca FCC, especificamente nos critérios de
estrutura e conteúdo (macroestrutura). Nesse sentido, não vou poupar esforços para que você tenha
a melhor preparação para a prova discursiva. Inclusive, disponibilizei videoaulas do meu curso de
Ciências Humanas para Redação nas aulas de rodadas temáticas. Assim, você está diante de um
material de ponta e muito completo para mandar bem na redação da FCC.

1.1 ALGUNS DEPOIMENTOS

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1.2 MÃOS À OBRA

Sem mais delongas, vamos conhecer um pouco a Fundação Carlos Chagas, banca organizadora do
certame.
O famoso Sun Tzu (544 a.C - 496 a.C), general e filósofo chinês, dizia que se uma pessoa conhece a
si mesma e ao seu inimigo, não precisaria temer os resultados das batalhas. Já o filósofo Plutarco
(45 d.C – 120 d.C) nos deixou reflexões de como tirar proveito de nossos inimigos.
A Fundação Carlos Chagas (FCC) é uma instituição sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade
pública nas esferas federal, estadual e municipal. Dedica à avaliação de competências cognitivas e
profissionais e à pesquisa na área de educação.
Surgiu na década de 1960 a partir de um grupo de professores-pesquisadores universitários, que
defendiam uma educação superior voltada ao domínio mais amplo de conhecimentos, opondo-se
criticamente à especialização excessiva que caracteriza ainda hoje a formação superior no Brasil. Ou
seja, a FCC preza por uma formação humanista e interdisciplinar.

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Como entidade que realiza pesquisas sobre educação e sociedade, um de seus fundamentos é aquilo
que está em praticamente todos os documentos educacionais: formar um indivíduo capaz de
pensar criticamente e de forma autônoma – guarde isso! Além dessas características, suas provas
discursivas buscam referência no pensamento abstrato, isto é, conceitual de alguma reflexão
filosófica e/ou sociológica para relacioná-la e aplicá-la a uma problemática social presente em
nossa sociedade contemporânea.

Veja um exemplo que foi cobrado, em 2009, na prova discursiva do TRT 2ª Região, cargo
de Analista Judiciário:

A FCC aplica provas de concursos considerados de alto rendimento, portanto, há uma exigência de
que o candidato vá além do domínio da norma culta da língua portuguesa e do emprego do tipo
textual dissertativo-argumentativo. Espera-se do candidato uma reflexão amadurecida, que
mostre o seu repertório cultural, seu capital cultural. Justamente, é nesse sentido é que
pretendemos contribuir com a apresentação de temas e de conceitos de renomados pensadores das
Ciências Humanas para contribuir com a fundamentação de seus argumentos e com a sofisticação
de suas reflexões.
É válido ressaltar que a FCC vem cobrando dois tipos textuais em suas redações: dissertativo-
argumentativo e o estudo de caso. O primeiro é o mais conhecido (introdução, desenvolvimento e
conclusão), no qual o candidato precisará defender uma tese, um posicionamento a partir de
argumentos coerentes, lógicos, bem fundamentados. O segundo visa à análise de uma situação-
problema da realidade específica do conhecimento profissional do cargo almejado, isto é, o
candidato precisará movimentar conhecimento técnico de uma área específica do saber para
demonstrar como solucionaria determinada problemática.
Outro aspecto essencial para mandar bem na redação da Fundação Carlos Chagas (FCC) começa a
partir de uma leitura atenta do edital, para você saber como a banca avaliará seu texto e o que ela
espera de você.
Nos últimos anos, a FCC exige um mínimo de 20 (vinte) linhas e um máximo de 30 (trinta) linhas.
Particularmente, recomendamos aos nossos alunos não escrever menos de 25 (vinte e cinco) linhas,
uma vez que é preciso seguir uma estrutura adequada e demonstrar conteúdo sobre o que se está
discorrendo.

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O tipo de texto que a FCC exige para o seu concurso é o dissertativo-argumentativo. Porém, o que é
isso?
Segundo Othon M. Garcia1, “a dissertação tem como propósito principal expor ou explanar, explicar
ou interpretar ideias e a argumentação visa o convencimento, persuasão, influenciar o leitor ou
ouvinte”. Por isso, as etapas clássicas de introdução, desenvolvimento e conclusão 2 devem ser
observadas, para garantir que todos os elementos necessários à redação para concursos sejam
contemplados.
Abaixo uma sugestão clássica para a estrutura de sua redação:

Um parágrafo de Uma média de 5


introdução linhas

Dois a três parágrafos Se dois parágrafos,


de desenvolvimento uma média de 8 a 10
linhas;
Se três parágrafos,
uma média de 6 a 8
linhas.

Um parágrafo de Uma média de 5 linhas


conclusão

Segundo o edital, a FCC totaliza a redação em até 100 (cem) pontos, distribuídos da seguinte
maneira:

Conteúdo: 50 (cinquenta) pontos;


Estrutura: 40 (quarenta) pontos;
Expressão 10 (dez) pontos.

1 GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. FGV, 2006.


2
Uma dica de ouro para fazer uma boa conclusão em concursos, atendendo aos critérios de alcance social e crítica, é
seguir o que estabelece a competência V do ENEM, qual seja: propor intervenção social para a problemática proposta
pela banca. As bancas gostam bastante, porque mostra que o candidato está preocupado que seu texto tenha
aplicabilidade no mundo real, contribuindo com ideias novas por meio de uma atitude ética-política. Para uma boa
intervenção social é preciso que o texto contemple: qual ação?, quais são os responsáveis pela execução da ação,
como será executada? e sua respectiva finalidade. Claro, a ação tem que estar coerente com o que foi desenvolvido
ao longo do texto. Exemplo de intervenção social, cujo tema é mobilidade urbana: os governos municipais devem
implementar corredores exclusivos para o transporte coletivo público, a fim de diminuir o tempo de deslocamento dos usuários
e, por conseguinte, melhorar a mobilidade urbana.

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Mas, professor, o que quer dizer conteúdo, estrutura e expressão? Calma, “pequeno gafanhoto”,
já vamos explicar =)

O conteúdo é composto por 3 (três critérios avaliativos), a saber:

Perspectiva adotada no tratamento do tema;


Capacidade de análise e senso crítico em relação ao tema proposto;
Consistência dos argumentos, clareza e coerência no seu encadeamento.

Já a estrutura, compreende os seguintes critérios:

Respeito ao gênero dissertativo-argumentativo;


Progressão textual e encadeamento de ideias;
Articulação de frases e parágrafos (coesão textual).

Por último, a expressão, que é a aplicação da norma culta da língua portuguesa.

Aqui, especificamente, nos interessa a parte de conteúdo, que é nosso foco nas rodadas
temáticas.

Como você já viu, a FCC valoriza bastante o conteúdo, avaliando o repertório cultural do candidato 3.
Para isso, as rodadas temáticas pretendem aprofundar alguns temas de maior potencial de
cobrança. Além disso, ao longo das rodadas serão apresentados conceitos e reflexões que eu os
denomino de “curingas”, já que podem ser utilizados nos mais diversos assuntos, para melhorar a
capacidade de análise, estimular o senso crítico e a consistência dos argumentos.
Argumentar, de maneira geral, é fundamentar suas reflexões por meio de conhecimentos sobre o
assunto e persuadir o leitor (examinador) a tomar uma decisão – não vou entrar especificamente
nas técnicas para isso, uma vez que o Professor Carlos Roberto irá caprichar nessa parte ao longo do
nosso curso.
Os temas propostos pela FCC são de cunho filosóficos e sociológicos, portanto é preciso que o
candidato tenha uma perspectiva de coletividade (bem comum) da sociedade e de respeito aos

3 A perspectiva adotada no tratamento do tema é um bom exemplo de como a FCC avalia o conhecimento de mundo
do candidato, de suas leituras. Nesse quesito, avalia-se a profundidade e a base cultural. Quer saber se o candidato
consegue ir além do senso comum (originalidade). A partir disso, avalia-se também a capacidade de análise e o senso
crítico. É importante salientar que crítica, na perspectiva filosófica e sociológica, quer dizer exame, observação,
julgamento. Em resumo, a FCC avaliará o repertório cultural do candidato observando até que ponto o candidato
consegue expor ideias novas e interessantes para a vida real e o respectivo alcance social do texto.

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direitos humanos, mesmo que isso não esteja expresso em edital. Segundo os maiores especialistas
em provas discursivas, o candidato precisa levar em consideração o objetivo social do texto, porque
a FCC e muitas outras bancas esperam o alcance social do que está sendo dito - não é à toa que os
temas têm cunho filosófico e sociológico.
Ter conhecimento sociopolítico crítico é atender às expectativas da banca. Para isso, é importante a
habilidade linguística de compreender e interpretar os comandos/textos motivadores.
É justamente por meio do alcance social do texto que a FCC avaliará o senso crítico e a perspectiva
adotada.
Seguem alguns passos estratégicos para compreender bem os comandos/textos motivadores da
FCC:
 Leia os comandos/textos motivadores;
 Leia uma segunda vez assinalando as palavras-chave e como você pode encaixá-las em seus
parágrafos de desenvolvimento;
 Faça um projeto de sua redação, apontando esquematicamente o que será abordado na
introdução, nos parágrafos de desenvolvimento e na conclusão;
 Responda: qual é o alcance social do meu texto?;
 Faça o rascunho. Corrija o seu rascunho; e
 Passe a limpo com concentração evitando rasuras.
Visto essas considerações iniciais de nosso “inimigo”, vamos completar o estudo dele apresentando
os temas que caíram nas edições anteriores (2014-2019).
Saber os temas das edições anteriores faz com que possamos “prever” determinadas
movimentações de nosso “inimigo”. Ademais, nos força a ter insights sobre os mais diversos
assuntos e pensar em “estratégias” para mandar bem na redação.

Ano Cargo Descrição do assunto

Tema: a Formação de
2018 MPE-PE: Técnico
Leitores

Tema: persuasão e
2018 MPE-PE: Analista
alteridade

2018 SEAD-AP: Técnico Tema: o avanço da


depressão no mundo
contemporâneo

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Tema: o papel da
2018 SEAD-AP: Analista memória na
compreensão da
sociedade

Tema: O uso de
2018 TRT-15: Técnico Câmeras de vídeo e o
direito à privacidade

Tema: Autenticidade
2018 TRT-15: Analista
e diferença

Tema: A informação
2018 TRT-6: Analista em face do descrédito
institucional

Tema: A comunicação
e os conflitos que
2018 TRT-6: Técnico
surgem com a
diversidade

2017 TST: Técnico Judiciário Tema central:


inteligência coletiva
na rede

Compartilhamento
informacional

Mundo virtual

Projeção do ser
humano

2017 TRE-SP: Técnico Princípio da Equidade


Judiciário

2017 TRE-PR Ideologia dos juízes

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Técnica do jurista

Subjetividade do
jurista

2017 TST: Analista Participação


Judiciário

Passividade

Pseudoatividade

Legitimação do poder

2017 Defensoria Pública do Turismo


estado do RS

Agressões contra
turistas: exploração e
elevação dos preços

Cidades vivem do
turismo

Turismo predatório

2016 TRT 20ª Região: Tema central: ciência


Técnico Judiciário

Utopias da ciência

Possibilidades e
limites

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Objetos de
investigação e de
solução para as
problemáticas sociais

2016 TRT 20ª Região: Tema central: direito


Analista Judiciário à cidade

Urbanização

Gentrificação

Mobilidade Urbana

2016 TRT 23ª Região: Tema central: o medo


Técnico Judiciário – e a inveja em uma
Enfermagem do sociedade
Trabalho e outras segmentada
especialidades

Urbanização

Segregação Social

Desigualdade Social

2016 TRT 23 Região: Tema central:


Analista Judiciário importância dos
museus

Artes e Estética

Aprendizado de
História

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Cultura
Conflito com novas
percepções estéticas

2016 TRT 14ª Região: Tema central: Lei


Analista Judiciário complementar nº
150/2015: o trabalho
extraordinário do
empregado
doméstico e a
compensação de
jornada de trabalho

Conquista de novos
direitos

O trabalho na
sociedade
contemporânea

O trabalho nas
diversas classes sociais

2015 TRT 9ª Região: Tema central: a


Técnico Judiciário imagem como
produtora de sentidos
na modernidade

Arte e verdade

Fotografia

Século XX e XXI:
cultura do audiovisual

Memória e seleção

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2015 TRT 4ª Região:


Analista Judiciário Tema central:
revitalização das
culturas tradicionais e
a promoção do
respeito à diversidade

Cultura e Sociedade

Globalização

Multiculturalismo

2015 TRT 4ª Região: Tema central: as


Técnico Judiciário competições
esportivas
internacionais como
instrumento de
manutenção da paz e
da igualdade no
mundo moderno

Olimpíadas Grécia e o
resgate/permanência
de seu ideal

Esporte como união e


interação dos povos

Interferência política

2015 TRT 3ª Região: Tema central:


Técnico Judiciário informação nos meios
de comunicação

Indústria Cultural

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A diferença entre
opinião, informação e
conhecimento

Meios de
comunicação
tradicionais X meios
de comunicação
alternativos (internet)

Democratização da
informação

Socialização e
formação de
percepções do mundo

2015 TRT 15ª Região: Tema central: o peso


Técnico Judiciário – da infância na fase
Especialidade adulta
Enfermagem e outras A importância dos
processos de
socialização na
infância, que terão
influência na vida
adulta

Socialização familiar e
escolar

Desenvolvimento
infantil

Proteção da Criança e
do Adolescente

2014 TRT 16ª Região: Tema central:


Analista Judiciário coletividade e
individualidade

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A sociedade e os
indivíduos

Instituições sociais e
ação social

Causas coletivas e a
singularidade dos
sujeitos

2014 TRT 2ª Região: Tema central:


Analista Judiciário objetividade e
subjetividade nos
meios de
comunicação

Fato jornalístico

O fato entre a
objetividade e a
subjetividade

Representação

2014 TRT 19ª Região: Tema central: o ideal


Analista Judiciário de sociedade em
contraposição ao
respeito à diversidade

Sociedade ideal

Mundo sensível e
inteligível em Platão

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É possível ter uma


noção abstrata,

imutável e perfeita de
sociedade?

O “ideal” pode estar


na vida concreta,
buscando o que há de
melhor em vários
aspectos da vida e da
dinâmica social

O ideal de sociedade
precisa estar em
constante mudança
para incluir as mais
diversas concepções

de diversidade: étnica,
sexual, religiosa, etc.

Por último, está disponível nas rodadas temáticas videoaulas que irão reforçar o conteúdo. Nelas
comento temas de provas anteriores e trabalho diretamente a estrutura argumentativa. Então, é
muito importante você assisti-las. Sem mais delongas, vamos às rodadas temáticas!

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2 – DIREITOS E CIDADANIA

Direitos Civis,
HUMANOS
DIREITOS

Políticos e Sociais

Cidadania
==132685==

Movimentos
Sociais

Antes de iniciarmos a aula, lá vai uma dica de ouro que pode salvar sua redação: as bancas não
gostam de argumentos que desrespeitem os direitos humanos, uma vez que o princípio da
dignidade humana perpassa por toda Constituição Federal de 1988. Eu sei que é um tema que gera
debates acalorados, mas é importante seguirmos o que dispõe a nossa Lei máxima e ficar por dentro
dos debates acadêmicos.
Nesta aula vamos entender o que são os direitos humanos, sua relação com a cidadania e seu
processo de construção.
O debate sobre direitos humanos e sobre cidadania ocupa lugar de destaque na agenda política e
no cotidiano de todos nós. Parte da população, a meu ver, sem o exercício da reflexão crítica e
influenciada muitas vezes pelo senso comum, denomina os direitos humanos como algo de
intelectuais de esquerda para proteger bandidos, o que revela desconhecimento e reducionismo
sobre o assunto.
A concepção de direitos humanos é vinculada à concepção de cidadania. Ambas fazem referência a
uma composição de diversos direitos (civis, políticos e sociais), que atendam cada vez mais a todos
(mulheres, negros, crianças, adolescentes, consumidor, idosos, etc.).
Tanto os direitos humanos como o conceito de cidadania na concepção supracitada surgem a partir
do Estado Moderno, principalmente com o Estado de bem-estar social e consolidado no Estado
Democrático de Direito, ambos de fundamentação no pensamento liberal que defende as liberdades
individuais e a igualdade de todos perante a lei. Ou seja, podemos desconstruir a ideia de que
direitos humanos é uma concepção do pensamento de esquerda em sua origem.

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É comum, não somente no Brasil, partidos considerados de esquerda ou de centro-esquerda


incorporarem em suas lutas a defesa dos direitos humanos, enquanto partidos considerados de
direita fizeram uma guinada ideológica ao conservadorismo político e/ou religioso, os quais têm
dificuldade em aceitar e reconhecer alguns dos direitos humanos.
Outro senso comum é de que os direitos humanos são para defender bandidos ou que não existem
direitos para os “humanos direitos” – esses bordões são utilizados em programas sensacionalistas
de televisão que difundem essa ideia. Pelo contrário, os direitos humanos reconhecem a dignidade
a todos e a aplicação da Lei a todos. Ou seja, para evitar a barbárie, a destruição de um pelo outro,
ou de arbitrariedades do próprio Estado é que se defende a aplicação do que é disposto no
conjunto de leis.
Alguns podem pensar: “mas se uma pessoa rouba, mata ou estupra, como considerá-lo humano,
portador de direitos?” Certamente são questões complexas que geram muitos debates. Os direitos
humanos como veremos vão muito além da questão penal (crimes) e têm como ponto de partida
que todos são portadores de direitos. Nesses casos, o primeiro impulso é o revide com violência, a
raiva e o aniquilamento do outro, isto é, “fazer justiça com as próprias mãos”. No entanto, o Estado
não pode permitir a barbárie dos cidadãos e de seus agentes, muito menos a “correção de um erro
com outro”. Deve-se aplicar aquilo que é disposto em seu conjunto de leis e nos tratados
internacionais nos quais é signatário, cujo objetivo idealizado institucionalmente, no caso penal, é a
ressocialização daquele que infringiu as regras sociais por mais hediondo que um crime seja.
Ressalto, os Direitos Humanos vão muito além da questão penal. É uma iniciativa de reconhecer a
dignidade inerente a todos, evitar a barbárie, promover a igualdade e a liberdade de todos
independente de raça, de religião e de gênero.
Em âmbito mundial é com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que se estende
a liberdade e a igualdade de direitos a todos em vários aspectos: econômico, social e cultural. Esses
direitos estão acima de qualquer poder existente e em caso de violação devem ser punidos.
A Declaração de 1948 condenou qualquer tipo de escravidão e de tortura, estabeleceu o direito à
liberdade de expressão e de consciência, o direito de ir e vir e o direito à educação e à cidadania.

Conheça os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos


Humanos de 1948, criada pela Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU).

Conquistas de direitos e o exercício da cidadania estão associados nas sociedades modernas e


democráticas. Ao estudar a concepção de cidadania, o sociólogo Thomas Marshall (1893-1981)
afirma que cidadania não nasce pronta e acabada, mas é uma construção gradativa de novos
direitos, conquistados por diferentes atores sociais, ao longo da sociedade capitalista.

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Para Thomas Marshall, cidadania é


a conquista de novos direitos

Marshall valoriza a cidadania como elemento de mudança social. Define 3 tipos de direitos (civis,
políticos e sociais) que configuram as garantias aos cidadãos. Para ele, a cidadania é uma construção
que perpassa pela luta e obtenção de novos direitos. No final do século XX e início do século XXI
podemos perceber que outros direitos estão se consolidando, especificamente no que se refere aos
consumidores (Código de Defesa do Consumidor), idosos (Estatuto do Idoso), crianças e
adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), LGBTTIs (reconhecimento em 2011 pelo
STF da união de pessoas do mesmo sexo), dos animais (medidas protetivas), etc.
Em resumo, nas sociedades democráticas, cidadão é aquele que tem a garantia dos direitos civis,
políticos e sociais, cuja construção é constante e inserida em várias disputas. Para o pleno exercício
da cidadania é importante lembrar que não basta estar no papel, mas sim que seja concretizada de
fato e estendida a todos.

Podemos indagar se esses direitos são de fatos acessíveis e praticados por todos.

Na sociedade contemporânea, os capitais econômicos, políticos e simbólicos têm distribuição


desigual entre as pessoas e entre os grupos sociais. Assim, a divisão dos direitos do cidadão em
civis, políticos e sociais nem sempre dá conta de explicar a dinâmica social. Uma outra forma de
pensar a cidadania em sua concretude são as concepções de cidadania formal e substantiva.
A cidadania formal é aquela que é garantida pelas leis, que institui a igualdade das pessoas perante
a lei, isto é, faculta ao cidadão a luta jurídica pelo reconhecimento de determinados direitos. Isso é
importante porque evita a tirania e reconhece que todos merecem tratamento igual. Por outro lado,
temos a cidadania substantiva, qual seja, aquela que vivenciamos no cotidiano, que muitas vezes
impede a prática de fato da cidadania. Mostra que pode até existir a igualdade jurídica, que também
é bastante questionável, mas principalmente aponta as diversas desigualdades entre as pessoas em
seus direitos básicos como educação de qualidade, acesso à moradia e de reconhecimento de suas
demandas específicas como acontece com as mulheres, com os negros, com as pessoas deficientes
e com as pessoas LGBTTIs.
Os direitos em sua concretização real (não somente na lei) são vivenciados de formas diferentes,
dependendo do grupo social pertencente. Um exemplo é o direito clássico de ir e vir. Alguns espaços
públicos são apropriados por particulares, que impedem a entrada de outras pessoas, como já
aconteceu em alguns casos de condomínios fechados de proibirem a passagem em determinada via
pública, impedindo a circulação livre dos cidadãos. Outro exemplo são os magnatas que tentam
apropriar parte de algumas praias que perpassam por suas mansões, impedindo o acesso de outras

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pessoas. Assim, temos várias outras situações como os shoppings centers que contratam seguranças
e vigias que barram qualquer pessoa que aparentemente podem trazer algum transtorno, por se
apresentarem de forma “não condizente”, isto é, pessoas sem poder de consumo.
A defesa dos direitos humanos convive com sua violação e muitas vezes um entendimento limitado
do que realmente são. A diminuição do fosso que há entre aquilo que está previsto (cidadania
formal) e aquilo que realmente acontece (cidadania substantiva) só será possível à medida em que
houver mais debates públicos, lutas constantes, fortalecimento das instituições democráticas e
atuação dos movimentos sociais.
Os movimentos sociais têm papel fundamental nesse processo de luta em defesa e conquista de
direitos. São ações coletivas que visam manter ou mudar determinada situação, podendo ter
atuação local, regional, nacional ou até internacional.
E sobre o Brasil, especificamente, o que temos a dizer?
Refletir sobre os direitos e a cidadania no Brasil é fazer uma reflexão “histórica a contrapelo”. Se na
Europa de Marshall os direitos foram desenvolvidos na sequência direitos civis, políticos e sociais,
no Brasil, segundo o historiador e cientista político, José Murilo de Carvalho, não se desenvolveu
assim. Para ele, aqui tivemos primeiro os direitos sociais e depois os direitos políticos e civis.
O Brasil desconheceu por muito tempo a noção liberal de liberdade individual e de igualdade perante
a lei. A escravidão durou praticamente 4 séculos e os homens considerados livres tinham direitos
civis e políticos restritos e muitos desses direitos ficavam só no papel. Os coronéis da República Velha
(1889-1930) estavam acima da lei e ditavam suas influências naquilo que ficou denominado de
oligarquia. O direito de ir e vir, a inviolabilidade de domicílios e a proteção da integridade física
estavam submetidos aos seus mandos.
Somente em meados da República Velha que começaram algumas conquistas como o direito de
organização dos trabalhadores de poderem fazer greve. No entanto, aos olhos da oligarquia e dos
governantes, a questão social e as reivindicações eram uma “questão de polícia”, de repressão.
Outro fator é a restrição do direito de votar e ser votado, de escolher. A exigência de alfabetização
que veio desde o Brasil Império fazia com que poucos pudessem fazer parte das eleições – essas
ainda eram controladas pelos coronéis no chamado voto de cabresto, na República Velha.
Os direitos civis, políticos e sociais praticamente inexistiam no período colonial, imperial e na
primeira república. A assistência social ficava sob responsabilidade das irmandades religiosas ou de
sociedade de auxílio mútuo organizadas por pessoas leigas. Essas instituições funcionavam para
quem contribuía oferecendo empréstimos e garantia auxílios em caso de doenças. Ou seja, o Estado
não se envolvia nessas questões.
Os direitos dos trabalhadores, os quais ganharam muita força nas cidades industrializadas como nas
capitais do Rio de Janeiro e São Paulo, mesmo quando previstos não eram respeitados. As
autoridades faziam vistas grossas, como foi o caso da regulamentação da mão de obra infantil (1891)
e do direito às férias (1926). No campo, as condições ainda eram piores. Os trabalhadores rurais
eram totalmente dependentes dos proprietários desde sua alimentação a um remédio numa relação
paternalista.

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Embora previsto na Constituição Monarquista de 1824, a educação primária como obrigação do


Estado nunca foi efetivada. Depois, com a Constituição Republicana de 1891, essa obrigação foi
retirada e deixada para ser uma questão particular. Para se ter uma ideia, o Estado só se
comprometeu com a educação obrigatória do ensino básico (o que hoje equivale o ensino
fundamental), no período da Ditadura Militar, em 1971. Nesse contexto, precisava de mão de obra
para o desenvolvimento da indústria.
De 1930 a 1985, os direitos civis e os direitos políticos variaram bastante, sendo alguns restritos e
outros abolidos. Na Constituição de 1946 houve avanços nos direitos políticos, com a extensão do
voto tanto para homens como para mulheres maiores de 18 anos (excluídos os analfabetos), o que
fez o nível de participação aumentar: em 1945 era de 13,4% da população. Em 1950 era de 15,9% e
em 1960 de 18%. Embora baixo, a participação estava crescendo.
Os direitos sociais tiveram certa evolução, embora sempre controlados e supervisionados pelo
Estado. Essa configuração fez o sociólogo Wanderley Guilherme dos Santos chamar de “cidadania
regulada”, isto é, uma cidadania restrita e sempre vigiada pelo Estado, do ponto de vista legal e/ou
policial.
Em plena a Ditadura do Estado Novo (1937-1945), alguns direitos sociais foram implementados,
como a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e com a Consolidação das Leis do
Trabalho (1943), que estabeleceu um grande marco e, atualmente, está passando por modificações.
Dentre as conquistas foi estabelecida a jornada de 8 horas diárias, a regulamentação do trabalho
feminino e infantil, férias remuneradas e salário mínimo.
Para garantir o que dispunha a CLT foi montada uma estrutura jurídica (Justiça do Trabalho), sindical
e previdenciária (Instituto de Aposentadorias e Pensões). Nessa fase, os sindicatos ficaram sob a
tutela do Estado, senão não eram reconhecidos e poderiam perder as proteções do Estado. Assim,
acabavam perdendo a liberdade em agir de forma crítica e reivindicatória.
No período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), os direitos civis e políticos foram restringidos.
Através dos Atos Institucionais tornavam lei a falta de direitos, portanto podemos concluir que lei
nem sempre corresponde a direitos, à justiça.
A partir de 1978, no Governo Geisel, começou a abertura lenta e gradual. Foi votado o fim do AI-5
e, em 1979, foi sancionada a Lei de Anistia, que permitiu a volta dos brasileiros exilados.
Se no período da Ditadura Civil-Militar, os direitos civis e políticos foram extintos, alguns direitos
sociais foram criados para transparecer um mínimo de cidadania para as autoridades internacionais.
Foi implementado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que abrangeu o trabalhador
rural, os empregados domésticos e os trabalhadores autônomos e criou o regime próprio para o
funcionalismo público. Estabeleceram como obrigatoriedade do Estado a garantia do ensino básico
de 8 anos e incentivou a compra da casa própria pela população de baixa renda, através de crédito
facilitado.

Na redemocratização, pós 1985, pela primeira vez na História de nosso país, os direitos
civis, políticos e sociais foram garantidos e estendidos a todos em Lei, com a Constituição
de 1988. Esses direitos humanos estão acima dos governos e legalmente definidos.

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3 – CULTURA E IDEOLOGIA

Ações Humanas

CULTURA E IDEOLOGIA Diversidade

Etnocentrismo

Cultura de
Massa
Sociedade do
Consumo

É comum você já ter dito ou escutado as seguintes frases: “se comporte que nem homem”, “as
mulheres são frágeis”, “esta lutadora nem parece mulher”, entre muitas outras. Além dessas,
escutamos também cotidianamente alguns adjetivos sobre “raças”, tais como: “os negros são
indolentes”, “os índios são preguiçosos” e as “pessoas pobres são violentas”.
Essas e muitas outras frases são permeadas de preconceitos. Refletem a crença na existência de uma
natureza humana, uma essência humana, que teria a tendência de ser a mesma em todos os tempos
e lugares, e que as diferenças existentes são naturais.
Ao dizer que determinada coisa existe naturalmente, é dizer que essa coisa existe necessariamente,
e que não pode mudar tendo característica universal. Ora, então podemos concluir que não
dependem da ação e da intenção dos seres humanos, basta deixar a “natureza” agir. Sabemos que
essa forma de pensar não procede, já que os seres humanos são construídos culturalmente e
historicamente.
“Ser homem ou ser mulher” depende da construção social, o que irá variar no tempo e no espaço.
Depende do que cada sociedade atribui como características a cada gênero e o que espera de
comportamentos e sentimentos do “homem” e da “mulher”. Por exemplo, em nossa sociedade
contemporânea foi atribuído aos meninos a cor azul, brincar com carros e bonecos, jogar futebol, se
comportar como “machos”, não podem chorar, precisam ser fortes, etc. Já as meninas ficaram com
a cor rosa, devem brincar com bonecas, fazer dança, usar vestido e ser sensível, etc.
Será que essas características são naturais e universais, ou fazem parte de uma determinada
construção cultural e histórica que depende das ações humanas?

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A antropóloga Margareth Mead (1901-1978) investigou o modo como os indivíduos recebiam os


elementos de sua cultura e a maneira como isso formava sua personalidade. Seu objeto de pesquisa
era compreender as condições de socialização da personalidade feminina e masculina. Analisou três
povos (Arapesh, Mundugumor e Chambuli), da Nova Guiné, na Oceania. Percebeu diferenças
significativas entre esses povos.
Entre os Arepesh não havia diferenciação entre homens e mulheres, pois ambos eram educados
para ser dóceis e sensíveis. Os Mundugumor também não havia diferenciação: os indivíduos de
ambos os sexos eram educados para a agressividade, caracterizando relações de rivalidade. Já os
Chambuli havia distinção entre homens e mulheres, mas de modo bem diferente do que
conhecemos: a mulher era educada para ser extrovertida, empreendedora, dinâmica e solidária com
o membro de seu sexo, enquanto os homens eram educados para serem sensíveis, preocupados
com a aparência e invejosos. Isso resultava em uma sociedade em que as mulheres detinham o
poder econômico e garantiam a sustentação do grupo. Aos homens ficavam reservadas funções
domésticas, cerimoniais e estéticas.
Em resumo, os estudos de Mead e de tantos outros antropólogos e sociólogos mostram que as
diferenças de personalidade, de comportamento, de vestimenta, de gostos não estão vinculadas a
características biológicas (sexo), mas sim como cada sociedade e cultura define a educação e os
processos de socialização desde a tenra infância.
No que se refere àquelas frases sobre a preguiça dos índios ou a malandragem dos negros, sabemos
que essas afirmações têm uma construção histórica. Os índios antes do trabalho compulsório tinham
um ritmo e forma de lidar com o tempo e com a natureza bem diferente dos europeus. Buscavam
na natureza o suficiente para alimentar a tribo.
Já os negros africanos, quando do período da escravidão, eram considerados fortes e inteligentes
para trabalharem no engenho de açúcar. No entanto, com a abolição, que veio quando a elite
econômica considerou mais lucrativa a mão de obra imigrante, porque a mão de obra escrava ficou
cara e escassa, além da necessidade de se adaptarem a mão de obra assalariada, vincularam que os
negros não serviam mais para a lavoura de café e para as fábricas, visto que eram “indolentes e
malandros”.
Mas, afinal, o que significa cultura?
Há dois significados como ponto de partida, a saber:
O primeiro está relacionado à etimologia da palavra quem advém do latim (cultivar, criar, tomar
conta e cuidar). Assim, cultura estava associada à agricultura, ao culto dos deuses, cuidado do corpo
e da alma das crianças (paideia). Nessa concepção, os seres humanos são considerados seres
naturais diferenciando-se das plantas e animais pela linguagem e uso da razão. Sua natureza deve
ser educada, cultivada de acordo com os valores da sociedade, ou seja, é uma natureza que adquire
costumes.
Já uma segunda concepção, a partir do século XVIII, percebe a cultura como resultado e
consequência das ações dos seres humanos: obras arquitetônicas, arte, religião, ciência, filosofia,
política, vestimenta, alimentação, linguagem, etc. Ou seja, uma concepção bem ampla que torna
cultura sinônimo de civilização e separa natureza de cultura.

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Na medida em que essa segunda concepção foi se consolidando, cultura passou a significar também
a relação que os seres humanos socialmente organizados estabelecem com o tempo e com o espaço,
com outros seres humanos e com a natureza.
Se somos seres históricos e culturais, isto é, uma construção de ações dos homens no tempo e no
espaço, podemos considerar que dependendo da sociedade em que vivemos e de nossos processos
de socialização (família, escola, religião, trabalho, grupo social, etc.) vamos ter certas formas de
pensar, sentir e agir na sociedade. Isso tudo nos leva a pensar na diversidade humana, cultural e
ideológica. Contudo, sabemos que um dos maiores desafios - não somente da sociedade
contemporânea -, é a aceitação das diversidades entre sociedades diferentes ou entre os próprios
homens de uma mesma sociedade. Isso ocorre porque temos a tendência de acreditar que nosso
grupo social ou determinada ideia ou determinado comportamento que defendemos como correto
são os melhores, que são pontos de vista superiores.

Quando há um grupo ou sociedade que se considera superior, uma civilização mais


avançada do que as demais, isso se configura como etnocentrismo (uma determinada
etnia ou sociedade como centro).

Na história não faltam exemplos: na Antiguidade, os gregos consideravam “bárbaros” aqueles que
não falavam grego e que não compartilhavam a estrutura democrática da pólis. Na expansão
marítima europeia, os povos americanos foram considerados “selvagens”. Inclusive, um dos maiores
debates do século XVI e XVII era se os índios e os escravos africanos tinham ou não alma. Outro
exemplo é o “Destino Manifesto”, crença dos norte-americanos do século XIX de que deveriam
expandir seu domínio por toda a América, por pensarem que eram povos mais avançados.
O etnocentrismo gera intolerância e preconceitos diversos. A crença da superioridade do branco em
relação ao negro faz parte de vários períodos da História (escravidão, os princípios da raça ariana
que Hitler defendia e a política de embranquecimento que ganhou força na década de 1930 no
Brasil). Além disso, com a globalização há o pressuposto de que a cultura ocidental e os valores
“democráticos” são superiores e que os demais países e culturas diferentes devem assumi-los.
O etnocentrismo pode levar a consequências sérias em nossa convivência com os outros e nas
relações com os povos, tais como: aversão ao imigrante, guerras, racismo, intolerância religiosa.
Por outro lado, podemos pensar se de fato existe alguma cultura “pura”. Mesmo antes da
globalização, em vários momentos da história as sociedades absorvem aspectos culturais de outras.
Podemos citar a relação do Império Romano ao dominar a Grécia, absorvendo e valorizando vários
aspectos da cultura grega.
No século XX e início do XXI, com a superação das fronteiras geográficas existentes através do
cinema, da televisão e principalmente da internet, as trocas culturais se intensificaram e os contatos
passaram a ter múltiplos pontos de origem. Assim, hoje se fala em culturas híbridas, porque não se
pode considerar uma cultura como de um único país, mas como parte de uma imensa cultura
mundial.

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Quer um exemplo simples? Cada vez mais é comum no ocidente praticantes de meditação, que é
uma prática da cultura oriental. Por sua vez, cada vez mais o oriente se abre ao ocidente, enviando
alunos para as faculdades americanas e europeias.
Isso não significa que a cultura particular de uma região, grupo social ou país tenha desaparecido.
Elas convivem com essas trocas híbridas que atingem o nosso cotidiano através da música, pintura,
linguagem, cinema, literatura. Essas formas híbridas ao mesmo tempo coexistem com aquilo que é
específico. Isso ressalta a importância de preservar e promover a diversidade.
Outro aspecto relevante do debate que tangencia a ideia de cultura é a sua separação entre cultura
popular e erudita. É comum encontrarmos especialistas que classificam a cultura em dois tipos: a
erudita e a popular. Essa classificação tem como ponto de partida a divisão da sociedade em classes,
na qual haveria uma identificação da elite e da classe média tradicional com determinados gostos e
produções culturais como música clássica, artes plásticas, escultura, museu, pintura, teatro e
literatura. Por outro lado, a cultura popular é aquela atribuída às camadas populares da sociedade
como o funk, o rap, o grafite, o folclore, o carnaval, o artesanato.
O tipo de visão acima tem a tendência de desconsiderar a circulação que há entre as diversas
produções culturais entre as classes sociais. Nesse sentido, as obras eruditas seriam aquelas mais
valorizadas, consideradas mais legítimas na sociedade em comparação à cultura popular. Isso quer
dizer também que há uma dominância cultural da elite, dos seus valores e estilo de vida.
Outros autores vão dizer que não faz sentido separar cultura em popular ou erudita. Para eles,
cultura é um processo relacionado ao trabalho seja o de ensinar uma criança (concepção de paideia
dos gregos) ou de cuidar da agricultura. Assim, todas as pessoas têm cultura, porque através de seu
trabalho desenvolvem ações, criam algo: a renda de uma toalha, a construção de uma casa, a
elaboração de uma música, a reflexão filosófica, etc. Portanto, cultura é algo que se faz, e não apenas
um produto que se adquire. Nessa visão, como dissemos, não faz sentido diferenciar cultura erudita
e cultura popular, porque tudo é cultura.
Por outro lado, quando se afirma que alguém tem mais cultura do que outra pessoa num sentido de
superioridade, como elemento de diferenciação social ou de imposição, aí não se trataria mais de
cultura, e sim de ideologia.
Se a concepção de cultura começa na Antiguidade, o conceito de ideologia começa a aparecer na
Idade Moderna.
O filósofo e matemático Francis Bacon (1561-1626) defendia que além de uma observação rigorosa
e a necessidade de comprovar algo através da experimentação, era necessário que os cientistas se
libertassem daquilo que ele chamou de ídolos, isto é, falsas noções que poderiam ser da própria
limitação da natureza humana, dos sentidos, da linguagem e das próprias concepções filosóficas ou
científicas cultivadas como verdades. Em resumo, os “ídolos” são falsas noções, ideias erradas e
irracionais.
A primeira vez que de fato a palavra ideologia foi empregada foi em 1801, quando o pensador
francês Destutt de Tracy a empregou como o estudo das ideias, procurando explicar fenômenos que
interfeririam na formação das ideias como vontade, razão, percepção e memória.

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O filósofo alemão Karl Marx vai dizer que a ideologia era um sistema elaborado de representações
e de ideias que correspondem a formas de consciência que os homens têm em determinada época.
A classe dominante não dominaria somente a vida material, mas também a vida intelectual. Para
ele, ideologia é a inversão da realidade, um falseamento da realidade.
Outro autor de destaque que irá discutir sobre ideologia é Karl Mannheim (1893-1947). Para ele,
ideologia poderia ser conceituada de duas formas: particular e total. A primeira corresponde à
ocultação da realidade, incluindo mentiras conscientes e ocultamentos subconscientes, que provoca
enganos. Já a ideologia total é a visão de mundo de uma determinada classe, que reproduziria suas
ideias.
Para Mannheim, as ideologias são sempre conservadoras, pois expressam o pensamento das classes
dominantes. Já a utopia estaria associada às classes oprimidas, que querem mudanças.
No nosso dia a dia exprimimos várias ideias, ações e comportamentos ideológicos. A partir da
concepção de ideologia de Karl Marx e de Karl Mannheim a sociedade capitalista segue a lógica do
Mercado, que produz maneiras específicas de pensar, sentir e agir no mundo. Essa lógica pretende
ser universal e identifica a realidade social com o que as classes dominantes pensam, ocultando
assim contradições existentes e silenciando outras formas de representações.
Você pode estar pensando: “onde começa a cultura e onde termina a ideologia ou vice-versa?” Para
muitos autores esses dois conceitos precisam ser analisados conjuntamente, principalmente para
entender o processo de dominação nas sociedades capitalistas.
O autor marxista italiano, Antônio Gramsci (1891-1937), analisa a cultura e a ideologia por meio do
conceito de hegemonia e dos aparelhos de hegemonia. Hegemonia significa preponderância,
supremacia, ou seja, como determinada classe dominante consegue fazer com o que seu projeto
seja aceito pelos dominados, desarticulando a visão de mundo autônoma de cada grupo
potencialmente adversário. Isso, para ele, é feito através dos aparelhos de hegemonia, que são
práticas intelectuais e organização no interior do Estado e na Sociedade Civil como o sistema
educativo, o processo de comunicação, as artes, etc. Portanto, exercem convencimento e não
somente coerção.
Para Gramsci, somente a coerção não consegue fazer com que uma classe seja dominante. A classe
dominante precisa persuadir e convencer por meio de intelectuais a serviço do poder, das
instituições sociais e da comunicação (jornais, revistas, televisão, cinema, internet) a maioria das
pessoas, inclusive as classes dominadas. Por este processo, cria-se uma visão que seria comum a
todos, uma única possível visão.
Para combater esse tipo de dominação hegemônica, Gramsci aponta a possibilidade de ações de
contra-hegemonia, que poderiam ser desenvolvidas por intelectuais orgânicos vinculados à classe
trabalhadora, na defesa de seus interesses devendo ocupar gradativamente espaços na Sociedade
Civil e no próprio Estado. Assim, combateriam os ideais burgueses divulgados pela escola e pelos
meios de comunicação de massa, colocando outras possibilidades de pensar, agir e sentir na
sociedade.
Outro pensador que analisou o processo de dominação é Pierre Bourdieu. Ele desenvolveu o
conceito de violência simbólica. Com esse conceito ele pretendeu identificar formas culturais que

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impõem e fazem com que as pessoas aceitem como normal, natural, algo que é uma construção
histórica, social. Violência simbólica é um processo interiorizado de forma inconsciente pelos
indivíduos através de suas socializações, portanto afeta dominantes e dominados.
Um exemplo é a dominação masculina, que ao longo da história atribui determinadas características
aos homens como virilidade, força, defesa, ser o provedor da família, enquanto as mulheres seriam
passivas, frágeis e cuidariam do espaço doméstico e da educação da prole. Assim, as mulheres
deveriam se submeter aos homens. Veja que esse processo é interiorizado de forma inconsciente e
se impõe tanto aos homens quanto as mulheres. Nessa perspectiva, na medida em que os
indivíduos se tornam conscientes do processo de violência simbólica e das dominações existentes,
há uma liberdade maior de romper, de questionar o senso comum.
Ainda, para Bourdieu, é pela cultura que os dominantes garantem o controle ideológico,
desenvolvendo uma prática, cujo objetivo é manter a distinção social entre as classes.
Determinados gostos marcariam quem é de uma determinada classe ou de outra. Os gostos da elite
econômica e cultural como apreciar bons vinhos, saborear uma comida refinada (gourmet), usar
determinadas marcas de roupa, praticar esportes como golfe ou tênis, ler livros clássicos e escutar
músicas eruditas, etc. seriam valores superiores, de pessoas cultas, que os distinguem dos demais.
Ou seja, esses valores considerados melhores nada mais é do que uma imposição cultural (violência
simbólica), que definiria quem tem ou não cultura, o que é legítimo ou não. Essas classificações
são aceitas e naturalizadas pela maioria das pessoas.

Por fim, destacamos o conceito de Indústria Cultural dos pensadores Theodor Adorno (1903-1969)
e Max Horkheimer (1895-1973), da Escola de Frankfurt. Por meio desse conceito, eles explicaram a
exploração comercial e a vulgarização da cultura, como efeito da dominação ideológica no sistema
capitalista.
Criticavam a cultura de massa, na qual as empresas visavam somente o consumo e sua respectiva
lucratividade, impondo uma adesão ao sistema capitalista dominante. Isso, para os autores, levariam
a uma homogeneização das pessoas, de sua subjetividade. Nessa perspectiva, o entretenimento
independente de qual seja, seria alienante porque sugere a resignação e não propõem uma reflexão
crítica sobre a sociedade em que vivemos.
A Indústria Cultural vende ao público produtos para agradá-lo, e não para informar ou fazer pensar.
Dessa forma, as produções culturais proporcionam uma fuga da realidade, para fazer com que os
indivíduos continuem aceitando “naturalmente” a exploração do sistema capitalista.
Essa ideia de que a Indústria Cultural estaria destruindo a capacidade crítica foi criticada por Walter
Benjamin, companheiro de Adorno e Horkheimer na Escola de Frankfurt. Para ele, a indústria cultural
poderia levar a arte e a cultura a um número maior de pessoas, devido à reprodução em larga escala,
portanto, elas não ficariam mais restritas a determinadas classes.

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Podemos também fazer um exercício de reflexão filosófica de que tanto a cultura como a ideologia
podem moldar a nossa forma de agir, pensar e sentir o mundo, no entanto, isso não se dá de forma
avassaladora e mecânica (automática), porque há a subjetividade do indivíduo e também sua
reflexão crítica. Claro, muitas pessoas são influenciadas pelas formas manipuladoras dos meios de
comunicação e tendem a reproduzir o senso comum, contudo, existem pessoas que filtram e
reelaboram a informação e se posicionam de maneira crítica.
Uma das formas de “contra-hegemonia” à produção da indústria cultural, utilizando um conceito
que acabamos de ver do pensador Gramsci são as formas alternativas de informação (blog, canais
no YouTube, sites), além de intelectuais que buscam refletir criticamente as produções
cinematográficas e televisivas.
Com a internet existe a possibilidade de explorar excelentes informações. Dependendo de como é
utilizada é possível entrar em contato com vários pontos de vistas e ao mesmo tempo formular juízos
e posicionamentos. Cabe, é claro, o discernimento e a procura de fontes confiáveis. Por outro lado,
podemos indagar: se quem oferece as principais plataformas na internet são empresas gigantescas
como o Google, o Facebook, a Microsoft, a Apple, cujo interesse é incentivar a sociedade de
consumo, além de que controlam as informações e os sites de busca, como é possível falar em
liberdade e democratização da informação e do conhecimento? Dessa forma, voltaremos as
reflexões filosóficas: o que é liberdade? O que é conhecimento? Como construir um conhecimento
livre na sociedade contemporânea?

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4 – URBANIZAÇÃO E MOBILIDADE URBANA

Direito à
cidade
Segregação

URBANIZAÇÃO
socioespacial
Mobilidade
Urbana

Gentrificação
Cidades
Globais
Esporte e
Revitalização urbana

Os temas Urbanização e Mobilidade Urbana são complementares. Primeiro vamos analisar o


processo de urbanização e depois vamos focar na mobilidade urbana. Ambos temas já apareceram
em várias provas discursivas, portanto, todo o cuidado é pouco!
O filósofo Aristóteles conferia à cidade certo destaque em suas reflexões. Para ele, não era possível
pensar o ser humano deslocado ou dissociado da ideia de cidade. Lembrando que para esse filósofo,
o ser humano é um animal político e social. Isto é, vive em sociedade e estabelece relações entre
si.
Em sua etimologia, cidade vem de pólis, que está associada à ideia de política e cidadania. Ora, então
já podemos estabelecer um pressuposto importante, qual seja: há uma relação intrínseca entre
políticas urbanas e cidadania e, por conseguinte, à qualidade de vida das pessoas.

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As palavras cidadania e qualidade de vida são palavras-chave que podem ser aplicadas
em praticamente todas as redações e temas.

Diferente da época de Aristóteles, as cidades passaram a ter maior importância e preponderância a


partir do século XVIII. Isso não é à toa. É justamente nesse século que temos a 1ª Revolução Industrial
(a partir de 1750), que juntamente com a Revolução Francesa (1789-1799), vai dar forma àquilo que
ficou cunhado como Idade Contemporânea.
A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra produziu um primeiro efeito: uma migração da
população campesina para os centros urbanos que surgiam, em busca de empregos e melhores
condições de vida.
De lá para cá, o processo de urbanização se intensificou em escala mundial – atualmente está num
ritmo acelerado. Segundo dados da ONU (2015) já somos mais de 7,2 bilhões de habitantes e a
maioria vive nas cidades.
Esse rápido crescimento tem colocado desafios na agenda política e são objetos de estudo de
diversos especialistas.
A 3ª Conferência da ONU sobre “Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável”, realizada em
2015, preocupou-se em discutir como enfrentar as desigualdades sociais e a pobreza. Chegaram a
17 ações, cujos país signatários deveriam implementar nos próximos 20 anos.
Essas ações direcionam o debate para o Direito à Cidade.

Guarde isso!
A expressão DIREITO À CIDADE precisa aparecer na sua redação se o tema for
urbanização ou mobilidade urbana!

Quando falamos em direito à cidade, isto quer dizer que é preciso pensar como garantir à população
uma melhor qualidade de vida por meio da apropriação da riqueza gerada, dos bens e serviços
produzidos, acesso aos bens patrimoniais e culturais. Essa preocupação advém do fato de que cada
vez mais a sociedade está desigual nos aspectos econômicos, simbólicos e culturais. Poucas pessoas
conseguem se apropriar desses direitos, o que leva a uma segregação socioespacial intensificada
pelo aceleramento da urbanização.
O impacto da segregação socioespacial é visível, principalmente na vida daquelas pessoas da camada
popular que habitam regiões periféricas na cidade. Precisam, por exemplo, fazer grandes
deslocamentos para trabalhar e estudar, perdendo tempo considerável de seu dia. Ademais, há um
aumento dos custos e piores condições na qualidade de vida.
A tendência é que muitas regiões fiquem sem equipamentos e serviços públicos essenciais como
linhas de transporte coletivo, postos de saúde, escolas, creches, etc. que não conseguem crescer na

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mesma proporção da demanda. Além disso, o acesso aos bens patrimoniais, turísticos e culturais
da cidade ficam distantes dos bairros periféricos, o que fere o direito à cidade.
Um caso emblemático são as políticas habitacionais como, por exemplo, o programa “Minha casa,
Minha Vida”. É uma política pública, ao meu ver, muito importante que pretende diminuir o déficit
habitacional, o qual é muito alto no Brasil (segundo dados recentes da Fundação João Pinheiro há
um déficit de mais de 6 milhões de residências e cerca de 12 milhões de domicílios encontram-se
inadequados para se viver no Brasil). Por outro lado, as construções do “Minha Casa, Minha Vida”
são realizadas, geralmente, em bairros mais distantes do centro da cidade e não há um planejamento
prévio dos municípios em ofertar às regiões que receberam ou recebem o programa mencionado,
os serviços públicos. Assim, nestas regiões, a população carece de escolas e creches próximas à
residência; muitas vezes não há postos de saúde, o que faz com que se recorra a outros bairros,
congestionando a rede de atendimento; os horários das linhas do transporte coletivo são precários;
e a segurança dos moradores se torna também uma problemática – muitos conjuntos habitacionais
são invadidos e viraram pontos do tráfico de drogas.
Outros dois efeitos da segregação socioespacial são a gentrificação e a construção de condomínios
fechados, que atendem à demanda de segurança da classe média tradicional e da elite econômica.
A gentrificação é

um processo de valorização (especulação) imobiliária de uma região que leva à expulsão das famílias
de renda mais baixa

Vou dar um exemplo concreto que aconteceu na minha cidade (Juiz de Fora/MG), mas que com
certeza você vai identificar situação semelhante em outras cidades de médio e grande porte. Aqui
temos um bairro chamado Dom Bosco. Ele possui uma população próxima a 18 mil habitantes que
é formada, em sua maioria, por pessoas negras, de baixa escolaridade e menor poder aquisitivo. A
partir de 2005, a região passou por uma intensa especulação imobiliária, tendo como marco a
instalação de um shopping center e a retirada de um dos espaços de lazer dos moradores (um campo
de futebol de terra, que deu espaço a uma área verde que fica em frente ao shopping). Em seguida
foram construídas outras obras: um hospital privado, prédios comerciais, hotéis, faculdade
particular, etc. Isso fez com que os aluguéis e os produtos aumentassem, expulsando parte da
população do bairro e fazendo com que outra parte literalmente subisse o morro, no que ficou
conhecido como “chapadão”. Neste, não há redes de esgoto, não há coleta seletiva, muito menos
transporte público.

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Já os condomínios fechados têm sido a “vedete” das construtoras que realizam empreendimentos
para a classe A. São formas de isolar determinado espaço do contato exterior “violento”, para
garantir a segurança de seus moradores. É comum disponibilizarem dentro dos condomínios uma

rede de serviços como segurança privada, academia de ginástica, espaço de lazer, ou seja, há uma
intensificação da separação de classes sociais ou grupos sociais no espaço geográfico das cidades.

Desafios da Urbanização:

Econômicos Ambientais Sociais

Uma vez que há uma A poluição, os constantes A pobreza tem sido


migração para os centros congestionamentos, a falta discutida frequentemente
urbanos, a economia formal de saneamento básico são pelos organismos
apresenta dificuldades para problemas dos países menos internacionais, uma vez
absorver a força de desenvolvidos que é um problema
trabalho, o que faz com que economicamente; crônico do sistema
pessoas pobres e de menos Como há uma alta taxa de capitalista e de difícil
qualificação encontre na migração interna, como amenização;
economia informal sua acontece, por exemplo, no Os serviços públicos não
sobrevivência. Isso sem Brasil, de pessoas do Norte e conseguem satisfazer as
nenhuma garantia Nordeste para o Sudeste, em demandas para o
trabalhista ou proteção busca de melhores condições atendimento de saúde,
social. de vida somado a outros emprego, planejamento
fatores de exclusão, familiar, educação.
aumentam as áreas
“subnormais”, isto é, o
processo de “favelização”.
São áreas sem
regulamentação, sem
planejamento habitacional e
com ausência de serviços
básicos: coleta de lixo,
iluminação, saneamento
básico, etc;
Com o aceleramento da
urbanização os recursos
naturais têm sido exauridos e
coloca-se em debate a
sustentabilidade.
Sustentabilidade essa que,

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segundo Bauman, não se


preocupa com o meio-
ambiente em si, mas com a
continuidade de uma
sociedade capaz de produzir
sempre para o consumo.

Outra característica de nossa atualidade são as megacidades (população superior a 10 milhões de


pessoas). Aliás, 12% da população mundial já vive em uma megacidade – as cidades de São Paulo e
do Rio de Janeiro são megacidades. Alguma delas como as de Tóquio, Nova York e Londres além de
serem megacidades são consideradas também como cidades globais, uma vez que reúnem um
complexo financeiro, de serviços (principalmente consultoria especializada), tecnológico e cultural
que influenciam outras cidades.
Nessa era de globalização, uma outra preocupação da agenda internacional é com a sustentabilidade
e com a governança. Nesse cenário, surgem as “cidades inteligentes” (smart cities), que são sistemas
de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o
desenvolvimento econômico e a melhoria na qualidade de vida. Para isso, a ideia de cidades
inteligentes está estruturada em dois eixos principais:

- uso estratégico de informação e comunicação na gestão urbana.


- desenvolvimento sustentável e uso de soluções tecnológicas.

As mais famosas smart cities são: Songdo (Coreia do Sul), que produziu novas alternativas para a
mobilidade urbana como os táxis aquáticos, espaços verdes e sistema pneumático de gestão de
resíduos); Copenhague (Dinamarca), que além de seus deliciosos chocolates rsrs baliza-se pelo
conceito de carbono zero, criando uma infraestrutura para o uso de bicicletas como o principal meio
de transporte; e Santa Ana (E.U.A), que tem um sistema de água reutilizável, inclusive a do vaso
sanitário.
No que se refere à governança das cidades, a administração pública municipal ganha destaque,
principalmente a liderança de prefeitos. Isso porque os Estados-Nações cada vez mais mostram
incapazes de lidar com as tendências globais e transferem aos municípios várias responsabilidades
na chamada política de descentralização ou municipalização. Nesse sentido, para muitos
especialistas como Manuel Castells, “as cidades globais tendem a resolver problemas econômicos e
socioculturais de maneira muito mais efetiva”.
Na medida em que as cidades assumem uma nova importância no sistema global, o papel dos
prefeitos muda. Ganham destaque e podem ser agentes capazes de mobilizarem agendas urbanas
e melhorar o perfil internacional da cidade. As cidades de Lisboa e Barcelona, que se tornaram
exemplo de centros urbanos bem planejados, é um indicativo da importância dos prefeitos nesse
novo cenário globalizado, porque foram eles que lideraram os debates, as alternativas e a busca de
financiamento.

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Por fim, destaco a relação entre esporte e revitalização urbana. Eventos mundiais como as
Olimpíadas e a Copa do Mundo tendem a impulsionar mudanças urbanas nos países que vão sediá-
los. Um bom exemplo foi a cidade de Londres quando sediou as Olimpíadas em 2012. Lá,
conseguiram regenerar em torno de 500 acres de terra em regiões pobres (Zona Leste de Londres),
trazendo melhorias de serviços, de transporte e empregos. Por outro lado, mesmo que o esporte
tende a impulsionar a revitalização urbana, isso nem sempre gera consequências positivas. As
Olimpíadas (2016) e a Copa do Mundo (2014) no Brasil mostraram que não ocorreram as mudanças
urbanas esperadas: não existiram mudanças significativas na mobilidade urbana, muitas obras
viraram “elefantes brancos”, casos de superfaturamento e aumento do déficit do orçamento público
em diversas cidades e estados.

Por fim, sintetizo aqui nossas reflexões sobre urbanização com as palavras do sociólogo Anthony
Giddens:
“Assim como a globalização, a urbanização tem dois lados e é contraditória. Ela tem efeitos criativos
e destrutivos sobre as cidades. Por um lado, permite a concentração de pessoas, bens, serviços e
oportunidades, mas, ao mesmo tempo, fragmenta e enfraquece a coerência dos lugares, tradições
e redes existentes”.

Principais Leis que norteiam as políticas urbanas no Brasil:


As principais leis que regulamentam a política urbana no Brasil são: o Estatuto da Cidade, o Plano
Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do Solo.
O Estatuto da Cidade é uma legislação federal que norteia normas de ordem pública e de interesse
social, regulamentando o uso da propriedade em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar
dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental.
Já o Plano Diretor, é aplicado nos estados e nos municípios. É o instrumento básico da política
urbana e do planejamento estratégico, visando à qualidade de vida e um estudo aprofundado sobre
o estado ou a cidade, apontando os seus limites, o que é preciso fazer nos próximos anos
(geralmente é válido por 10 anos) e onde e como as cidades podem crescer. Avalia também os
impactos de vizinhança e ambiental, devido aos grandes empreendimentos previstos.
Por último, temos a Lei de Uso e Ocupação do Solo, que é uma legislação de âmbito municipal. Ela
precisa seguir os princípios do Estatuto da Cidade e estar de acordo com o previsto no Plano Diretor.
Estabelece critérios e parâmetros de uso e ocupação do solo, isto é, o que pode ser construído, em
quais condições e onde. Portanto, é uma forma de controlar o crescimento urbano e prever a
necessidade de novos equipamentos públicos.

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4.1 MOBILIDADE URBANA

A mobilidade urbana está na agenda pública há bastante tempo, afinal, um dos maiores desafios das
cidades de médio e grande porte são as políticas urbanas e, nelas, o planejamento da mobilidade
urbana. É válido ressaltar as famosas “Manifestações de Junho” de 2013. Começaram com uma
demanda bem específica que envolve a mobilidade urbana: protestos contra o aumento da
passagem na cidade de São Paulo, reivindicações para a melhoria do transporte coletivo e passe livre
estudantil. Por tudo isso, é um tema sempre potencial, que pode ser cobrado na prova discursiva.

De forma bem sucinta, mobilidade urbana são as condições de deslocamento da população no


espaço geográfico das cidades.
Quando falamos de cidade, podemos lembrar dos seguintes filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Para eles, felicidade está relacionada ao bem comum dos cidadãos. Nessa perspectiva e associado
ao contexto social em que vivemos, o transporte coletivo deve se sobrepor ao transporte
individual, visando à cidade como um espaço de todos, compartilhado e democrático. Assim,
mobilidade urbana não é só o fluir do trânsito e o deslocamento da população, mas, sobretudo, um
espaço de convivência democrática com os diversos tipos de locomoção, incluindo pessoas com
deficiência e priorizando a segurança dos pedestres.

Como são feitos os deslocamentos da população nas cidades:

Transporte Individual Transporte Coletivo

Carro Ônibus

Moto Metrô

Bicicleta Táxi

Skate* Uber**

A pé BRT

Uber** VLT

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Veja que podemos separar os deslocamentos em dois principais grupos: transporte individual e
transporte coletivo.
Uma curiosidade é que o skate foi considerado em algumas cidades como um meio de transporte e
passou por regulamentação. Já o sistema do aplicativo Uber tem trazido muitos debates e ainda
estão em abertas muitas questões: é um transporte individual ou coletivo? Há críticas dos sindicatos
de taxistas que defendem que o Uber é uma concorrência desleal, porque não paga os mesmos
impostos que os táxis, não passam por vistorias e saturam o mercado. Outra crítica é a precarização
do trabalho porque nesse sistema não há vínculo empregatício e nenhuma proteção trabalhista –
ver os protestos de motoristas de Uber na França e no Brasil recentemente.
Pensar a mobilidade urbana como ressaltamos é também pensar sobre a inclusão. Como as
pessoas com deficiência (cadeirantes, cegos, surdos) ou com mobilidade reduzida podem ter uma
cidade que permita um deslocamento mais seguro e inclusivo?
Outros desafios: diminuir o congestionamento e a poluição; evitar e controlar o adensamento
urbano (ocupação intensa e desordenada do solo); garantir transporte público mais rápido,
confortável e com preço justo; e criar infraestrutura por meio de planejamento exequível.

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5 – A SOCIOLOGIA DE ZYGMUNT BAUMAN


Zygmunt Bauman é considerado um dos sociólogos mais importantes do século XX. Suas concepções
teóricas abrangem vários objetos e realizam uma interdisciplinaridade das áreas humanas do saber.
Posso garantir que se você fizer referência ao pensamento de Bauman em sua redação, usando-o de
maneira correta e contextualizada em suas reflexões, isso mostrará uma baita sofisticação
argumentativa aos corretores, o que causará impacto positivo.
Como você já viu ao longo deste material, Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”,
que pretende explicar as transformações que o mundo passou a partir da 2ª Guerra Mundial até
os dias atuais.
Após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), a ideia de progresso da humanidade se esvaiu, visto as
arbitrariedades que aconteceram nesse período, com destaque para o Holocausto dos Judeus e para
os mais de 60 milhões de mortos. Em seguida veio a bipolarização do mundo (bloco capitalista
americano X bloco socialista soviético), que irá marcar a Guerra Fria (1946-1990), no qual a tensão
era enorme (pela primeira vez na História, a ameaça de dizimar os seres humanos através do uso da
bomba atômica era uma real possibilidade). De lá para cá, temos uma intensificação de vários
conflitos étnicos e geográficos no mundo. Acompanhamos o desenvolvimento da “Globalização”,
que vem transformando a paisagem social moderna. Estamos presenciando o medo do terrorismo
em escala mundial, os conflitos imigratórios, a superação das barreiras geográficas, uma sociedade
do e para o consumo, um sistema econômico capitalista que cada vez mais aumenta as
desigualdades sociais, etc.
O panorama acima configura a modernidade líquida.

Para Bauman, a modernidade líquida é um mundo sem forma, de incertezas, de medos, de ausência
da concepção de progresso e da fragilidade nas relações sociais. Esse atual momento do período
histórico é diferente do que ele denomina de “modernidade sólida”, que começou a ser concebida
com o Renascimento (valores do humanismo) e consolidada com o Racionalismo (René Descartes,
Francis Bacon, Espinosa) e com o Iluminismo (John Locke, Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Kant,
etc.).
Na modernidade sólida havia a preocupação de organizar a sociedade por meio de leis civis e do
exercício da ética. Existe a rigidez nas relações sociais entre os sujeitos e as instituições sociais. A
crença na razão para que o homem dominasse a natureza e intervisse de maneira a proporcionar o
bem-estar coletivo. O conhecimento era extremamente valorizado, bem como a sua divulgação
(lembrar dos Iluministas que debatiam suas ideias nas ruas e nos salões, além de organizar o saber
sobre diversos assuntos - Enciclopédia). Os avanços das investigações científicas e filosóficas eram
notórios. As principais concepções políticas do século XIX (liberal e marxista), cada um a seu modo,
objetivavam o progresso da sociedade e o melhoramento dela.

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Contrapondo-se a algumas características da modernidade sólida (XVI-1945), a sociedade líquida


(1946- até os dias atuais) está sem forma definida, um período de transição. A liquidez da sociedade
não consegue tomar forma, porque está em constante transformação. Não consegue desenvolver
um projeto coletivo de sociedade a longo prazo – a política e suas reivindicações estão cada vez mais
fragmentadas. Outra característica marcante para Bauman é que se perdeu a ideia de utopia, o que
faz com que se perca o caráter reflexivo em relação à sociedade.
Os indivíduos “líquidos” estão preocupados em buscar o prazer individual, o sucesso individual,
abdicando a concepção de bem-estar da coletividade. A atual sociedade está sendo regida cada vez
mais pelos valores e regras do Mercado, cujas concepções introjetam no indivíduo as ideias de
concorrência, de felicidade no consumo e que o indivíduo basta em si mesmo.
O Mercado não propicia um planejamento de vida, já que os empregos são cada vez mais voláteis,
temporários e flexíveis. Se antes alguém entrava numa determinada empresa e se aposentava nela,
agora, isso não existe mais (as pessoas passam por várias experiências e são sondadas
frequentemente pelo desemprego). O Estado também não consegue colocar em prática aquilo que
prometeu, não consegue garantir os direitos sociais básicos. Cada vez mais oferece menos aos
cidadãos.
Com o advento da modernidade líquida, a estrutura social moderna em torno da fixidez, da razão e
do progresso se dilui. Para o sociólogo polonês, as relações passam a ser voláteis. As instituições
sociais passam por uma descrença e não são mais pontos de referência. A sociedade estrutura suas
relações principalmente pelas conexões virtuais, passando a perder ou a desconhecer as noções de
intimidade, de privacidade e de individualidade – há uma necessidade de comunicar tudo nas redes
sociais, a rotina do dia a dia (desde um café da manhã a uma briga com a namorada) é compartilhada.
Costumo brincar que o cogito de Descartes mudou para: “estou nas redes sociais, logo existo”.
Perde-se o tempo interior, a reflexão com a realidade. Isso tem intensificado a solidão e modificado
a maneira da produção do trabalho (cada vez mais é incentivado o trabalhador a realizar suas
funções em casa e através de aplicativos de colaboração).
Nesta mesma perspectiva, presenciamos a liquidez dos valores. O conhecimento é fragmentado e
apressado (como se fosse um fast-food). Mal a pessoa lê uma manchete de revista ou de jornal já
acha que domina o assunto. No Brasil é incrível a quantidade de “pensadores” nas redes sociais.
Conseguem concordar ou refutar rapidamente uma ideia, sem nenhuma reflexão. É comum
encontrarmos pessoas que criticam o pensamento de Marx sem nunca ter lido sequer um livro dele,
ou de pessoas que querem definir o pensamento político da direita sem conhecer nenhum autor
desta corrente. Isso é devido ao processo de “aceleramento do tempo”, no qual tudo tem que ser
feito instantaneamente. Contudo, o conhecimento e a reflexão são processos que levam tempo.
Os valores éticos, os quais são pensados desde a Antiguidade Clássica, estão em crise. Por exemplo,
o nosso bom e velho conhecido, o filósofo Aristóteles, dizia que o exercício da ética leva à felicidade
e à responsabilidade do indivíduo. Para ele, ética é um hábito, portanto, precisa ser praticada. Para

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os iluministas, a liberdade de um sujeito termina quando começa a de outro, o que reflete a ideia de
bem comum, de respeito. Na sociedade líquida, o que interessa é a vontade individual: “se eu quero,
eu posso”. A partir disso, a liberdade do outro é desrespeitada. É comum encontrarmos pessoas em
lugares coletivos como, por exemplo, no ônibus, ligar o seu celular ou rádio em altura alta, obrigando
os demais escutarem a mesma música – isso também se verifica no trânsito ou em outras esferas
das relações sociais.
O medo se transforma em uma política tanto do Estado como do Mercado, o que restringe a
liberdade. Há o medo do desemprego. Há o medo de se relacionar amorosamente (as relações são
frágeis e incertas). Há o medo de ficar doente e não conseguir atendimento. Há seguros para tudo,
que vão desde o seguro de carro ao seguro de vida. A indústria do medo faz com que as pessoas
cerquem suas residências, se distancie do contato com outras pessoas e as áreas públicas são
evitadas. A violência aumenta em números vertiginosos. As incertezas são diversas.
Você deve estar se perguntando: “então, Bauman quer a volta da modernidade sólida e acredita que
ela é melhor do que a modernidade líquida?” Não. Para ele, a modernidade líquida é um
desdobramento ou uma consequência das promessas não efetivadas da modernidade sólida.
Por fim, você pode também estar se perguntando também: “o que fazer?” Geralmente, o sociólogo
ou filósofo é aquele pensador que está preocupado em entender a sociedade, e não em fazer
previsões ou apontar caminhos a serem seguidos. Porém, Bauman nos dá algumas pistas a partir da
metáfora que utiliza do “caçador e do jardineiro”.
Para ele, a metáfora que simboliza a era pré-moderna é a do caçador. Sua principal tarefa é defender
os terrenos de sua ação de toda e qualquer interferência humana, com objetivo de defender,
preservar e conservar o “equilíbrio natural”. A ação do caçador repousa sobre a crença de que as
coisas estão no seu melhor momento, de que o mundo é um sistema divino, em que cada criatura
tem o seu lugar legítimo e funcional. Por outro lado, a metáfora do jardineiro revela a era moderna.
O jardineiro assume que não haveria ordem no mundo, mas ela depende da constante atenção e
esforço coletivo de cada um. Sabe que tipo de planta deve crescer ou não, e que tudo está sob seus
cuidados. Ele força a sua concepção prévia, o seu enredo, incentivando o crescimento de certos tipos
de planta e destruindo aquelas que não são desejáveis, as ervas “daninhas”. É do jardineiro que
tendem a sair os mais fervorosos produtores de utopias. “Se ouvimos discursos que pregam o fim
das utopias, é porque o jardineiro está sendo trocado, novamente, pela ideia do caçador”, ressaltava
Bauman.

Zygmunt Bauman publicou mais de 40 livros. Destaco aqui alguns:

44 cartas do mundo moderno líquido


Modernidade Líquida
Amor Líquido

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5 – TEMA PARA A 1ª CORREÇÃO4


Vamos treinar um pouco?

Esta é a sua 1ª redação de três.

4
Somente para os alunos que adquiriram o pacote do curso com correções.

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6– CONTATOS COM O PROFESSOR

Professor Raphael Reis

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