Você está na página 1de 31

Professor Dr.

Francisco Airton Silva


(faps@ufpi.edu.br)

Pré-Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso:


Fundamentos e Orientações

Universidade Federal do Piauí - UFPI

Brasil
2020
Apresentação
Caro leitor, meu nome é Francisco Airton, sou professor no curso de Sistemas de
Informação na Universidade Federal do Piauí. Desde 2017 sou professor da disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso I (TCCI). Tal qual a maioria dos cursos de graduação,
a disciplina de TCCI antecede a disciplina que de fato o discente desenvolve e escreve a
monografia final. Por padrão, a disciplina de TCCI normalmente dá ao aluno uma visão
geral sobre metodologia de pesquisa e escrita científica. Neste momento também deve
ocorrer (se já não ocorreu) o primeiro contato com um professor que irá orientar o trabalho
do discente. Existem casos de alunos que já nesta etapa do curso vem realizando projetos
de Iniciação Científica (IC). Alunos de IC tendem a ter menos dificuldades com projeto
de pesquisa e escrita científica, porém muitos alunos por alguma razão não participaram
de projetos de IC. Pois bem, o resultado da disciplina de TCCI nada mais é do que um
pré-projeto de TCC. É fato que existem nas livrarias algumas dezenas de livros sobre
metodologia de pesquisa e escrita de monografia. No entanto, ao longo dos últimos anos
observei a necessidade de um material de estudo que abordasse a escrita especificamente
do pré-projeto de TCC. O pré-projeto de TCC possui algumas peculiaridades em relação
à monografia final pois se trata de um plano sobre o que será executado futuramente, ao
contrário da monografia.
Portanto, esta apostila tem o objetivo de auxiliar alunos e professores quanto à
escrita do pré-projeto de TCC através de três capítulos, descritos a seguir.

• Capítulo 01 - Os primeiros Passos: Esta primeira parte oferece uma introdução


sobre o tema de escrita científica, fala um pouco também sobre o desafio da escrita
de forma geral.

• Capítulo 02 - Estilo da Escrita Científica: Nesta parte o leitor encontrará dicas


de como deixar o texto mais claro e conciso, dando maior fluidez à leitura.

• Capítulo 03 - Estrutura do Pré-Projeto de TCC: Aqui elencamos as seções


que o pré-projeto deve possuir, discutindo cada uma delas.

Espero que este material lhe seja bastante útil. Bons Estudos!
Sumário

1 OS PRIMEIROS PASSOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1 O que é o Pré-projeto de TCC? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 O Conceito de Pesquisa Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 A Escolha do Tema e o Problema de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 A Escolha do Orientador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2 A ESCRITA CIENTÍFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.1 O Desafio de Escrever . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Onze Dicas Para uma Escrita Impecável . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.1 DICA 01: Não Cometer Erros Ortográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.2 DICA 02: Não Escrever Períodos Longos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.3 DICA 03: Escreva Parágrafos Coesos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2.4 DICA 04: Escreva Parágrafos Coerentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2.5 DICA 05: Mantenha o Verbo Próximo ao Sujeito . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.6 DICA 06: Dê Atenção à Vírgula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.7 DICA 07: Omita Expressões Desnecessárias . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.8 DICA 08: Evitar Repetição Excessiva de Determinadas Palavras . . . . . . . 18
2.2.9 DICA 09: Consistência Textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2.10 DICA 10: Padronização do Tamanho dos Parágrafos . . . . . . . . . . . . 20
2.2.11 DICA 11: Escreva de Forma Impessoal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3 ESTRUTURA DO PRÉ-PROJETO DE TCC . . . . . . . . . . . . . 22


3.1 Visão Geral da Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Título . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.4 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.4.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.5 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.6 Referencial Teórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.7 Metodologia e Cronograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4

1 Os Primeiros Passos

Este capitulo tratará de alguns aspectos que antecedem a escrita do pré-projeto de


TCC. Falaremos de pontos que o pesquisador deve ter em mente durante todo o processo
de trabalho.

1.1 O que é o Pré-projeto de TCC?


A primeira coisa que você deve entender é o conceito de pré-projeto de TCC. O
pré-projeto de TCC é um documento formal que segue uma estrutura previamente definida
pela instituição de ensino. Este documento deve apresentar uma descrição do que será
concebido em um projeto futuro, elencando desde objetivos a serem alcançados até um
cronograma de atividades. Normalmente este pré-projeto é o resultado de uma disciplina
que é conduzida durante todo um semestre. No(s) semestre(s) seguinte(s) é quando se
executará as atividades planejadas no pré-projeto para confeccionar a monografia final. A
função do pré-projeto de TCC é planejar qual vai ser a contribuição da monografia final.
O pré-projeto é um documento mais simples do que a monografia, uma vez que se trata de
um planejamento. O pré-projeto normalmente possui entre 10 a 15 páginas e a monografia
entre 30 e 40 páginas. Este número de páginas pode variar bastante de instituição para
instituição, mas é importante o aluno não ficar muito preocupado com o número de páginas.
As páginas surgem naturalmente à medida que vai se trabalhando e escrevendo aos poucos.
Existem diferenças também em relação às seções de cada documento. A Tabela 1 resume
tais diferenças.

Tabela 1 – Comparação Entre Pré-projeto de TCC e a Monografia


Pré-Projeto de TCC TCC/Monografia
Período do Curso Penúltimo Último
Objetivo Planejar a pesquisa a ser executada Executar a pesquisa planejada no
no semestre seguinte e definir todo pré-projeto de TCC e escrever a
o seu escopo. monografia final.
Número de Páginas De 11 a 15 páginas De 30 a 40 páginas
Seção de Resultados Não Sim
Seção de Cronograma Sim Não

Para acompanhar a produção do pré-projeto é comum existir a figura do professor


da disciplina de TCC e o professor orientador de TCC. Em muitas instituições, o professor
de TCC auxilia o aluno durante a produção do pré-projeto de TCC. É função também do
professor de TCC, ajudar a definir um tema, ensinar os fundamentos da escrita científica
e ajudar na escolha do orientador de TCC. O orientador de TCC por sua vez pode e deve
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 5

orientar o aluno a escrever o pré-projeto de TCC e bem como a monografia final em um


segundo momento. Obviamente, existem casos onde o professor de TCC e o orientador são
a mesma pessoa.
A confecção do pré-projeto serve como treinamento da escrita científica antes de
chegar na monografia. Outra questão é que um pré-projeto bem delimitado evita que
o discente se perca no meio do caminho. Obviamente, na concepção de tal documento
deve-se realizar um estudo sobre a temática de pesquisa e este expertise será usado
futuramente na escrita da monografia. Vale pontuar que há casos de instituições de ensino
que exigem a defesa do pré-projeto de TCC ao final do semestre e não apenas a entrega
do documento. Defender o pré-projeto diante de uma banca é uma oportunidade para o
aluno se familiarizar com a experiência da defesa da monografia e também receber um
feedback adicional sobre o planejamento da pesquisa científica.

1.2 O Conceito de Pesquisa Científica


Como ilustra a Figura 1, a pesquisa científica é a aplicação de um método sistemá-
tico, controlado, empírico, rigoroso, repetível, inovador e preciso para solucionar
um problema ou descobrir novas informações. Pesquisar é uma ação de busca de respostas
para determinadas perguntas. As perguntas devem ser o mais objetivas possível para que
se possa avaliar se as respostas foram satisfatórias ao final do processo. Nem toda pesquisa
é considerada científica. Apenas se obedecer aos critérios acima. Vale ressaltar que no
nosso contexto a pesquisa engloba desde o planejamento inicial, culminando no pré-projeto,
até a entrega da monografia no final do curso. Vamos então falar um pouco sobre cada
uma das características da pesquisa científica.
O termo sistemático indica algo que segue uma série de passos previamente
estabelecidos, algo que contém um método, onde há organização. Não se pode atropelar
as etapas de uma pesquisa, primeiramente deve-se elencar o tema, o problema, e seguir
posteriormente com um levantamento bibliográfico. Cada etapa destas possuem maneiras
indicadas de execução. O levantamento bibliográfico, por exemplo, deve ser feito buscando
conteúdos em fontes com confiabilidade. Não são permitidas fontes que não passaram por
alguma avaliação. Referenciar um web-blog qualquer, por exemplo, não é indicado, pois
não se sabe a veracidade dos fatos contidos nele. Em termos de organização, quando se
está fazendo uma pesquisa científica, todos os passos devem ser documentados. Você deve
por exemplo, baixar os artigos que são suas referências e organizá-los de forma a facilitar
a extração de informações.
Ser controlado significa trabalhar seguindo um cronograma e sempre visando
alcançar atingir os objetivos da pesquisa. Ter o controle é saber ajustar a forma de trabalhar
quando se é exigido. Pode acontecer dos resultados da pesquisa não serem satisfatórios,
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 6

Sistemático

Preciso Controlado

Pesquisa
Inovador Científica Empírico

Repetível Rigoroso

Figura 1 – Características da Pesquisa Científica

assim, tendo o controle sobre a pesquisa algo pode ser alterado na pesquisa, como os
materiais ou métodos. Ter o controle também é saber evitar problemas externos. Em
muitas pesquisas é necessário fazer experimentos para validar hipóteses. Vamos imaginar
um experimento na área da Medicina, onde se deseja testar a eficiência de um medicamento
com uma amostra de 100 pessoas durante uma semana. É mandatório controlar se estas
pessoas estão tomando a droga corretamente e se não estão ingerindo outros medicamentos.
Uma pesquisa empírica, também chamada de pesquisa de campo, pode ser en-
tendida como aquela em que é necessária comprovação prática de algo, seja através de
experimentos ou observação de determinado contexto para coleta de dados em campo.
Imagine que um veterinário quer descobrir a causa de um surto de uma doença em uma
determinada cidade. Ele deve observar (de forma empírica) cada caso e fazer anotações
sobre suas observações à fim de traçar alguma conclusão. Este tipo de pesquisa empírica é
a mais comum, mas existe também a pesquisa puramente teórica, que fica no campo das
ideias e teorias. A pesquisa teórica é mais frequente na área das humanas, como história
ou filosofia. No entanto, a pesquisa teórica e empírica podem serem realizadas de forma
complementar.
A palavra rigoroso já é autoexplicativa. Esta palavra está inclusa na definição
para dar ênfase à necessidade de levar a pesquisa à sério durante todo o processo. Levar
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 7

à sério significa não negligenciar medidas essenciais para tornar o projeto mais confiável.
Quando algo pode invalidar uma pesquisa chamamos de “viés”. Vamos dar um exemplo
a respeito dos trabalhos relacionados. Os trabalhos relacionados, como o nome indica,
são trabalhos semelhantes ao o que está sendo proposto. Deve-se mostrar que o trabalho
proposto possui diferenças para os trabalhos relacionados. Se esta comparação for feita de
forma errada, toda a pesquisa pode ser invalidada.
Uma pesquisa repetível significa que a mesma deve ser passível de ser repetida
por outro pesquisador. Para isso, é necessário que o pesquisador faça uma documentação
apurada de todo o processo e guarde qualquer insumo necessário à reexecução dos pro-
cessos. Toda pesquisa deve avançar baseada nos conhecimentos prévios produzidos pelas
pesquisas anteriores. A adequada documentação e comparação com trabalhos anteriores de
forma prática é o que garante o avanço da ciência. Na área da computação por exemplo,
vamos considerar a sub-área chamada de reconhecimento de imagem. Um programa de
computador pode detectar se uma imagem de raio-X de pulmão possui câncer de forma
automática. Constantes pesquisas procuram melhorar este tipo de programa à fim de
tornar o diagnóstico mais preciso. Portanto, para uma proposta ser válida é necessário que
os cientistas da computação possam repetir experimentos que foram feitos por trabalhos
anteriores e fazer comparações.
Uma pesquisa deve ser inovadora pois é apenas através da inovação que a ciên-
cia pode avançar. A palavra inovação em pesquisa está intimamente ligada à ideia de
contribuição. Para uma pesquisa ter uma contribuição deve criar algo novo e criar algo
novo é ser inovador. Vale ressaltar que este “novo” não precisa ser uma cura para todos
os cânceres. Até porque uma pesquisa deve ser baseada em pesquisas anteriores e dessa
forma sempre terá algo herdado de outros trabalhos. O importante é que por menor que
seja, haja alguma diferença que ninguém realizou ainda. Imagine um atleta de corrida de
alta velocidade. A cada campeonato o treinador contrata pesquisadores para identificar
alguma ação que possa tornar o atleta mais veloz.
O conhecimento científico deve ser algo preciso. Para ser um conhecimento científico
deve passar por um processo de validação, obedecendo métodos padronizados de testes. O
conhecimento popular por exemplo, não passa por nenhum processo de validação científica.
Em termos textuais palavras imprecisas como muito, pouco, alto ou baixo devem ser
substituídas por números. Na Pedagogia, por exemplo, não pode-se dizer apenas que
um método de aprendizagem é mais eficiente do que outro sem mostrar comprovação
estatística. Neste caso, é necessário criar grupos de alunos para testar cada método e
ao final contabilizar o sucesso ou fracasso baseando-se em critérios pré-estabelecidos. A
estatística está presente em praticamente todas as ciências e por isso, caso não tenha
conhecimento mínimo deste assunto procure estudar para aplicar na sua pesquisa.
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 8

1.3 A Escolha do Tema e o Problema de Pesquisa


O tema é o assunto que será estudado no TCC, ou seja, é o assunto abordado no
pré-projeto de TCC e na monografia. Trata-se da ideia mais geral, contemplando a área
de atuação e dando pistas do problema a ser abordado. O tema é descrito com poucas
palavras e deve ser possível supor qual a grande área de enquadramento ,baseando-se no
tema. Para facilitar, aqui vão alguns exemplos de temas em diferentes áreas:

• Área: Direito / Sub-área: Direito Penal / Tema: Homicídios contra a mulher nos
dias atuais;

• Área: Administração / Sub-área: Estruturas Organizacionais / Tema: O impacto das


mudanças nas organizações;

• Área: Enfermagem / Sub-área: Acompanhamento de Pacientes / Tema: Monitorização


de sinais vitais em pacientes graves;

• Área: Computação / Sub-área: Redes / Tema: Adoção da tecnologia 5G para guiar


veículos autônomos.

A escolha do tema não é uma tarefa simples pois o ideal é escolher algo que você
irá conduzir até o fim do curso. Mas não se preocupe, caso seja necessário mudar o tema,
isso pode ser combinado com o orientador em tempo hábil. Vamos discutir aqui alguns
aspectos que devem ser levados em consideração ao definir-se o tema de estudo. Dado que
você está cursando um curso de graduação, a grande área de estudos já situa-se na área do
curso, se for Medicina, a grande área é Medicina. Portanto, a primeira escolha na verdade
é qual sub-área deseja atuar. Uma sub-área da História é História do Brasil, por exemplo.
Você pode ainda escolher sub-áreas de sub-áreas especificando ainda mais o seu trabalho.
A escolha da sub-área e tema está diretamente ligado ao seu perfil de estudante.
Escolha um tema que você goste, pois quando se trabalha com o que se gosta,
o resultado tende a ter maior qualidade e o processo prazeroso. Nesta etapa do curso
você já deve ter observado quais assuntos você mais se identificou, quais disciplinas você
teve melhor desempenho. Vale até dar uma olhada nas notas do seu histórico escolar.
Normalmente os alunos se identificam mais com as disciplinas com naturezas mais práticas,
porém, podem se identificar com assuntos mais teóricos. É interessante que seu tema resida
dentro dessas sub-áreas que você aproveitou mais.
Escolha um tema que tenha material e recursos acessíveis para a pesquisa futura. Por
exemplo, imagine que um estudante brasileiro de Biologia quer estudar o desenvolvimento
de uma planta que existe apenas na Austrália. A não ser que este discente vá até a
Austrália fazer o estudo, sem a planta em si será inviável fazer tal projeto. Outro exemplo
mais simples são recursos literários. Muitas vezes a biblioteca da instituição de ensino não
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 9

possui exemplares relacionados ao tema, ou também não se encontra materiais na Internet.


Vale fazer uma ressalva aqui. Quando na Internet não se encontra bons materiais (livros e
artigos), isso pode indicar que o tema não seja relevante. Mas o que vem a ser um tema
relevante?
Antes de responder à pergunta acima é importante saber que dentro de um tema
podem haver vários problemas e o problema escolhido de pesquisa é o norte de todo o
trabalho. Um tema relevante é aquele onde se encontram problemas ainda não resolvidos.
Para exemplificar, consideremos o tema “Adoção da tecnologia 5G para guiar veículos
autônomos”. Dentro deste tema pode-se atacar o problema da falta de cibersegurança na
comunicação de dispositivos ou também pode-se estudar os riscos de acidentes causados
por tais veículos. Obviamente, o estudante deve notar que a relevância do problema
escolhido é igualmente importante. O problema de pesquisa para ser relevante deve trazer
transtornos para a população de alguma forma. Estes transtornos podem se materializar
de diferentes formas, tais como: financeiros, materiais, saúde etc. O principal problema
do tema “Homicídios contra a mulher nos dias atuais” é bem óbvio, o homicídio em si.
Neste caso a proposta de pesquisa pode objetivar criar novas políticas de conscientização
da denúncia de maus tratos contra a mulher. Em outras palavras, o problema é relevante
quando a sua solução trará benefícios para alguém, e tal fato deve ser ressaltado de forma
explícita na escrita do pré-projeto. Uma boa sugestão é procurar um problema da sua
própria realidade, algo na sua comunidade, na sua instituição de ensino, algo entre seus
amigos etc; Se isto ocorrer certamente você estará mais engajado em propor uma solução
viável para seu problema.
Se com as dicas acima você ainda está em dúvida qual caminho seguir, existe uma
outra boa prática. Você pode ler as monografias do seu curso de semestres anteriores.
Toda instituição de ensino guarda os exemplares de TCC de forma física e/ou digital.
Procure se informar onde estas monografias estão disponíveis. Caso sua instituição possua
uma biblioteca, é o primeiro lugar onde deve se informar. Dê preferência a trabalhos
mais recentes. Quanto mais recente melhor, pois assim pode acontecer de você estender a
proposta de um trabalho existente.
Por fim, depois que você escolheu o tema, escolheu o problema e definiu quem se
beneficiará da solução do problema, você deve pensar em como vai solucionar ou mitigar
o problema. É neste momento que deve-se refletir sobre qual será o diferencial da sua
proposta. Para saber se sua proposta tem um diferencial, obviamente você deverá fazer
um levantamento bibliográfico e um estudo de trabalhos relacionados. O levantamento
bibliográfico (ou referencial teórico) é um apanhado de conceitos levantados da literatura
para preparar o leitor para entender a proposta. O referencial teórico deve constar tanto no
pré-projeto quanto na monografia como uma seção. Já os trabalhos relacionados são uma
listagem e discussão dos trabalhos científicos que realizaram algo parecido ou complementar
Capítulo 1. Os Primeiros Passos 10

à sua proposta. Mais à frente falaremos sobre como escrever estas e outras seções.

1.4 A Escolha do Orientador


A escolha do orientador é uma decisão muito importante para o sucesso do seu
trabalho. Primeiramente é necessário destacar que esta escolha às vezes pode ser sim-
plesmente baseada em qual professor tem mais proximidade com o tema escolhido. Para
isto, uma alternativa é o aluno acessar os currículos dos professores do curso. Na plata-
forma Lattes (http://lattes.cnpq.br/) você encontra tais currículos. Procure observar as
disciplinas que o professor já ministrou, projetos de pesquisa que já executou e claro as
publicações científicas. Converse com colegas que já estão na etapa final da monografia
para colher informações de seus orientadores, como eles orientam, como se organizam, se
dão acompanhamento de perto ou não, etc. Quando você tiver decidido qual professor irá
entrar em contado é imprescindível ir preparado.
Você deve estudar bastante sobre o tema que quer explorar antes mesmo de procurar
um orientador. Para se preparar para o primeiro contato com o(a) professor(a) é interessante
o aluno escrever em um papel um resumo da ideia do projeto. Delimite o tema, o problema
e talvez uma proposta de solução. Peça ao professor um feedback sobre a proposta e
pergunte sobre a disponibilidade do mesmo para sua orientação. Muitos professores já
possuem problemas de pesquisa que desejam explorar e oferecem tais problemas com
escopos já delimitados aos orientandos. Mesmo em situações como estas, o estudante pode
e deve avaliar as sugestões e talvez alterar ou incrementar as ideias. Tenha em mente que os
orientadores valorizam aspectos como por exemplo: proatividade, curiosidade, assiduidade,
boa comunicação e determinação. Portanto, desenvolver tais características para executar
um bom projeto de pesquisa é algo que faz a diferença.
11

2 A Escrita Científica

Todo mundo sabe que escrever não é fácil, e a escrita científica requer um rigor
maior do que outros tipos de texto. O rigor textual vai desde a corretude ortográfica até a
ligação de ideias entre parágrafos. No fim, um texto científico de qualidade é aquele que o
leitor não precisa de esforçar muito para entender, é aquele que faz a leitura fluir e não
obriga o leitor a ficar relendo o texto. Neste capítulo falaremos especificamente sobre a
escrita científica.

2.1 O Desafio de Escrever


Tradicionalmente, o brasileiro não possui em sua maioria uma cultura de leitor,
muito menos de escritor. Talvez por essa limitação cultural exista ainda uma preocupação
muito grande com a escrita do pré-projeto e da monografia. Eu costumo dizer que se o
aluno gostava de escrever redação no ensino médio isso pode indicar que o mesmo não
terá muito problema quanto à escrita em si do TCC. Se você se encaixa no quadro das
pessoas que não gostam de escrever e está receoso com a escrita do TCC, iremos discutir
agora alguns direcionamentos que o ajudarão nesta jornada.
Imagine que você deve escrever um simples parágrafo relatando o que você fez nas
últimas 5 horas, considerando que você estava acordado, claro. Muito provavelmente você
irá executar esta tarefa com maestria, a não ser que você tenha um memória ruim. Esta
tarefa se torna fácil pois você sabe exatamente o que você irá escrever, então é só “por no
papel”. Escrever um trabalho científico, como o pré-projeto, é uma atividade orientada,
onde anteriormente houve uma preparação para tal. A escrita científica é diferente de
escrever um conto, uma história de ficção científica por exemplo. Acredito que a maioria
dos escritores não possuem toda a história na cabeça e vão pouco a pouco criando o
enredo à medida que escrevem. Na escrita científica não comece a escrever antes de ler
bastante sobre o assunto e conversar com diferentes pessoas sobre suas ideias. Você pode
até mesmo fazer pequenas anotações, insights, mas não o documento final que será entregue.
A ansiedade em ter um documento finalizado deve ser controlada. No entanto, não quero
dizer que você deva ir postergando a escrita do documento! Cuidado! Vá elaborando as
ideias na sua cabeça e escrevendo aos poucos. Se deixar para última hora também é um
risco muito grande.
Para amadurecer as ideias antes de colocar no papel é sugerível fazer apresentações
em slides para o seu orientador de forma periódica. Com os apontamentos do professor
em mãos você terá mais insumos para escrever. Procure usar o tempo de forma sábia. Se
você possuir, por exemplo, quatro meses para escrever o pré-projeto faça dois cronogramas
Capítulo 2. A Escrita Científica 12

de entregas. Um primeiro cronograma é o que você irá combinar com seu orientador.
Um segundo cronograma é baseado neste primeiro cronograma só que com prazos mais
apertados para você fazer as entregas para si próprio. Esta simples dica pode parecer
estranha, mas nós todos possuímos uma pré disposição para deixar tarefas para última
hora. Trabalhar com duas datas limite pode ajudar bastante no cumprimento de prazos.
Ao escrever, para ajudar a não se desviar do tema do trabalho você deve ter em
mente uma ideia chave. A ideia chave normalmente acaba sendo o chamado objetivo geral
do trabalho. Falaremos mais à frente sobre objetivos do trabalho, mas adianto que é algo
primordial. Em poucas palavras, o objetivo geral é o que se deseja alcançar com a execução
do pré-projeto, qual o problema que se deseja atacar e qual solução. Você deve ser capaz
de explicar sua ideia chave para qualquer pessoa de qualquer idade e qualquer nível escolar.
Este exercício de explicar para qualquer pessoa traz um alto domínio do tema ao longo do
tempo.
Com esta ideia chave em mente, apenas “conte uma história”. Qualquer história
possui sub-partes, compondo um começo, meio e fim; com o pré-projeto não é diferente.
Você deve pensar inicialmente nas sub-partes que quer escrever. O documento possui sub-
partes que são chamadas de seções. As seções possuem parágrafos. Os parágrafos possuem
frases. Ao planejar uma seção você pode planejar a ideia de cada um dos parágrafos, ou
seja, já pode definir previamente quantos parágrafos e qual a ideia central de cada um
deles. Depois é só ir escrevendo. Tomando como exemplo esta seção, antes mesmo de
escrever qualquer palavra eu pensei nas ideias central de cada um dos parágrafos. Ter
apenas uma ideia central em cada parágrafo é algo que faz muita diferença para um texto
de qualidade. Parágrafos com esta característica são chamados de “parágrafos coerentes”.
Falaremos mais sobre isso posteriormente.
Outra dica que faz a diferença é sempre ler e reescrever o que se escreve. Quando
você está escrevendo um parágrafo, não precisa ficar parando para fazer pequenas correções,
pois isso pode cortar a fluidez do raciocínio. Ao terminar de escrever o parágrafo você
lê várias vezes o que escreveu e ajuste a escrita buscando maior clareza e corretude. Um
texto nunca estará perfeito, mas você deve buscar a perfeição constantemente. Um texto
bem escrito sintaticamente e semanticamente atrai e engaja a atenção do leitor. Você pode
contar também com a ajuda de outras pessoas para lerem seu documento. É comum o
escritor com o tempo não perceber erros no texto por estar muito habituado a lê-lo, daí
vale pedir para seu orientador revisar sempre que possível. Não podemos esquecer dos
corretores automáticos de escrita. Praticamente todo editor de texto possui um corretor
automático. Se você usar o Microsoft Office Word, por exemplo, deixe o corretor ativado e
atente-se às sugestões de correção.
Capítulo 2. A Escrita Científica 13

2.2 Onze Dicas Para uma Escrita Impecável


Nesta seção falaremos sobre algumas dicas para tornar a sua escrita impecável. Mas
antes, temos que destacar a diferença entre frase, oração e período. Frase é um enunciado
de sentido completo e pode ser formada por uma ou mais palavras; oração é uma frase
que contenha um verbo (ou locução verbal); e período é uma frase formada por uma ou
mais orações, podendo então ser simples ou composto.

2.2.1 DICA 01: Não Cometer Erros Ortográficos


A ortografia dita as regras para a correta grafia das palavras. Da origem da palavra,
“orto” quer dizer correto e “grafia”, escrita. Por exemplo: referência é com “c”. Ao redigir
“referênssia”, há, portanto, um erro ortográfico. Fazem parte da ortografia o uso dos
sinais gráficos, sinais de pontuação e a crase. Nada desqualifica mais um autor do que
erros ortográficos, por isso esta é a dica número 1. Curiosamente é o erro mais fácil de
identificar e corrigir, devido à existência de corretores automáticos de texto. Como falado
anteriormente, o Microsoft Office Word possui um corretor muito eficiente, basta deixar o
corretor ativado, mas não fique refém dele.
Um texto científico deve ser revisado muitas vezes. O texto deve ser como um
diamante sendo lapidado aos poucos. Com esta alusão, imagine um ponto preto no diamante,
é este o impacto causado por erros ortográficos. Sabendo que estes tipos de erros podem
ser facilmente identificados por software, o leitor vai imaginar que a execução da pesquisa
em si não teve zelo. Assim, um bom conteúdo pode até passar despercebido. Abaixo segue
uma lista de alguns erros ortográficos comuns:

• Mais ou mas. O “mais” com “i” é igual o +. Ou seja, tem sempre o significado
de quantidade (adição). Já o “mas” (sem “i”), é uma conjunção com significado de
oposição ou restrição.

• Concerteza. O correto é COM CERTEZA, escrito de forma separada e com a letra


“m” e não “n”. COM CERTEZA você não erra essa, não é?!

• Menas ou menos. Não importa qual seja a palavra que vem depois, o correto é
usar sempre o “MENOS”. Ele é um advérbio que não sofre flexão de gênero, ou seja,
nunca passa para o feminino.

• As veses. ÀS VEZES, você pode errar como essa expressão é escrita. Então lembre-se:
ÀS VEZES tem crase no “A” e é escrito com “Z” e depois “S”.

• A partir de ou à partir de. A partir de ou à partir de? Errado: À partir de novem-


bro, estarei de férias. Correto: A partir de novembro, estarei de férias. Explicação:
Não se usa crase antes de verbos.
Capítulo 2. A Escrita Científica 14

• Porque/Por que/Porquê/Por quê. Porque, junto e sem acento, é uma conjunção


e serve para ligar duas ideias, duas orações. É usado quando a segunda parte apresenta
uma explicação ou causa em relação à primeira. Já a forma por que, separado e
sem acento, é um advérbio interrogativo de causa e é usada quando pedimos por
uma causa ou motivo, não necessariamente em uma oração que termine com ponto
de interrogação. Porquê, junto e com acento, substitui as palavras razão, causa ou
motivo. É um substantivo e, como tal, tem plural e pode vir acompanhado por
artigos, pronomes e adjetivos. A palavra geralmente é antecedida de artigo “o” ou
“um”. Use a expressão por quê, separado e com acento, quando ela estiver no fim da
oração, seja pergunta ou não.

2.2.2 DICA 02: Não Escrever Períodos Longos


Chega a ser engraçado o que irei falar agora. O leitor não pode se cansar quando
estiver lendo seu texto. Imagine que você deve ler um texto em voz alta e o texto não possui
vírgulas e também não tem pontos final no final dos períodos. Neste cenário você irá perder
o fôlego. A correta pontuação e escrever períodos curtos permite respirar naturalmente,
sem esforço. Outra vantagem é reduzir o risco de erros de concordância e reduzir o risco
também de termos ambíguos. Sempre que forem detectados períodos muito longos com
várias orações coordenadas, deve-se procurar dividi-los em períodos menores, usando
pontos para isso. O ideal é ter várias orações separadas por ponto. Mas deve-se observar
que cada oração quando lida individualmente faça sentido, tendo sujeito, verbo e objeto,
quando for o caso.
O limite máximo do tamanho dos períodos depende obviamente do tamanho da
fonte e do tamanho das margens do template. No entanto, normalmente três linhas costuma
ser uma boa referência. Este controle do seu texto com o tempo passa a ser natural. Você
escreve períodos curtos sem se preocupar. Quando não se tem prática deve-se fazer uma
varredura no texto fazendo as devidas alterações. Vale até fazer leituras em voz alta para
identificar este problema. Se demorar muito para expirar então vale uma quebra de período.
Obseve os exemplos abaixo.

Exemplo Ruim: A revisão sistemática consiste em investigar e avaliar trabalhos


anteriores que estão relacionados, contribuindo para realização dos objetivos da pesquisa
e esses objetivos são para responder algumas questões de semáforos inteligentes em redes
veiculares onde as questões identificadas são inúmeras.

Exemplo Bom: A revisão sistemática consiste em investigar e avaliar trabalhos anteriores


que estão relacionados. A revisão contribui para realização dos objetivos da pesquisa.
Esses objetivos são para responder algumas questões de semáforos inteligentes em redes
veiculares. As questões identificadas são inúmeras.
Capítulo 2. A Escrita Científica 15

2.2.3 DICA 03: Escreva Parágrafos Coesos


Coesão indica o quanto os períodos do parágrafo estão “ligados” entre si. Esta
ligação dos períodos ajuda na fluidez da leitura, mas cuidado com uso excessivo de
conjunções. Conjunções são palavras que atuam como elementos de ligação entre termos
semelhantes de uma oração ou entre duas orações, estabelecendo relações de coordenação
ou de subordinação (exemplos: também, porém, portanto, pois, embora etc). Pode parecer
que sem conjunções o texto fica sem “nexo”, mas muitas vezes as conjunções podem
ser omitidas. Para facilitar atingir bons níveis de coesão basta seguir uma dica sobre
encadeamento. Procure verificar se as expressões do final do período estão correlacionadas
ao início do período seguinte, como mostra a Figura 2.

Período 01 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO

Período 02 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO Parágrafo 01

Período 03 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO

Período 01 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO

Período 02 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO Parágrafo 02

Período 03 SUJEITO ...... VERBO ...... PREDICADO

Figura 2 – Ilustração da Ideia de Coesão entre Períodos do Parágrafo

Como pode observar na Figura 2, além da coesão entre os períodos dentro do


parágrafo, deve-se também se preocupar com a ligação de um parágrafo com o parágrafo
seguinte. Você pode estar se perguntando como é esta ligação na prática. Não precisa
ser todo o predicado igual ao sujeito seguinte, até porque o predicado pode ter várias
expressões. Também não precisa ser exatamente a mesma expressão, escrita da mesma
forma no predicado e no sujeito, pode ser apenas a ideia. Considere o exemplo da Figura 3
para entender melhor. Observe que as palavras empresa e marcos servem como ligações
diretas entre os períodos.

2.2.4 DICA 04: Escreva Parágrafos Coerentes


Coerência é uma divisão lógica do texto em unidades consistentes. Esta unidade
pode ser o próprio parágrafo. Cada parágrafo deve focar em apenas uma ideia central. Ao
Capítulo 2. A Escrita Científica 16

O plano de negócios é uma ferramenta fundamental para o sucesso de uma empresa.

Toda empresa precisa desde o início saber onde quer chegar e quais marcos quer alcançar.

Os marcos a serem alcançados vão desde altos faturamentos à satisfação do cliente.

Figura 3 – Exemplo de Coesão entre Períodos do Parágrafo.

longo do parágrafo deve-se explicitar todas as ideias ao redor desta ideia central tecendo
um raciocínio para convencer o leitor. Uma das vantagens é que o leitor já identifica no
início da leitura do parágrafo se ele é ou não importante, podendo saltar para o próximo
sem perdas de informação. Isso ocorre pois espera-se que o primeiro período possua uma
relação muito forte com todos os outros períodos do parágrafo. Portanto, a princípio,
lendo apenas o primeiro período já se tem indícios do que se trata o parágrafo. Além
da vantagem da aceleração da leitura saltando parágrafos quando necessário, o leitor em
poucos segundos pode ter também uma visão geral do documento.

Exemplo Ruim: As populações de golfinhos está ameaçada em várias partes da costa


nordestina brasileira. Os ursos, por sua vez, não estão sofrendo com o derretimento das
geleiras. Somente quando o homem entender a importância dos povos indígenas é que a
natureza será valorizada.

Exemplo Bom: As plantas possuem grande importância na vida e rotina de grupos


indígenas, principalmente os Guarani. Os Caipora Guarani são um grupo do tronco
linguístico guarani, que possuem relação íntima com a natureza, de modo que encontram
nesta a fonte de sobrevivência. Por isso é importante proteger a natureza pois assim
protegeremos os Guarani e outros povos indígenas.

Observe que no exemplo ruim, de forma bem exagerada, apresenta três períodos
totalmente desconexos. O leitor pensaria que o parágrafo falaria sobre golfinhos, mas os
dois períodos que seguem falam de ursos e índios. Já no exemplo bom temos três períodos
bem relacionados, abordando o tema sobre os povos indígenas Guarani.

2.2.5 DICA 05: Mantenha o Verbo Próximo ao Sujeito


A ordem natural das palavras de uma oração é sujeito-verbo-objeto. Foi assim
que você aprendeu a escrever orações, e ainda é o melhor caminho. Quando você coloca
modificadores entre duas ou todas as três partes essenciais, fica mais difícil para o usuário
entender você. Uma maneira simples de adicionar clareza à sua escrita é manter o sujeito
e o verbo de uma oração juntos. Quando eles são separados por muitas outras palavras, os
leitores precisam procurar pelas palavras que pertencem um ao outro. Isso pode se tornar
Capítulo 2. A Escrita Científica 17

ainda mais confuso se o período incluir outros verbos. Veja os exemplos abaixo.

Exemplo Ruim: Os agricultores que entendem a diferença entre os requisitos de solo das
plantas quando são mudas e seus requisitos quando maduras estão em alta demanda.

Exemplo Bom: Os agricultores estão em alta demanda se puderem entender a diferença


entre os requisitos de solo das plantas quando são mudas e seus requisitos quando estão
maduros.

Esta dica tem um alto poder de dar clareza ao texto. Por isso, procure exercitar
esta dica. Parta de um texto que você escreveu recentemente e sublinhe todos os sujeitos e
verbos e depois tente reescrever posicionando-os de forma mais próxima e leia em voz alta.

2.2.6 DICA 06: Dê Atenção à Vírgula


A quebra dos períodos independentes com sinal de ponto final é muito importante,
porém, outra preocupação que deve ser constante é o correto uso da vírgula. A vírgula serve
para dar pausas leves e influenciam muito no sentido das frases. Suas pausas permitem
também uma leitura mais harmoniosa. Uma primeira regra de uso é que a vírgula separa
"explicações"que estão na oração. Explicações que interrompem a oração são mudanças de
pensamento e devem ser separadas por vírgula. Observe o exemplo a seguir:

A coleta de dados, que durou duas semanas, foi realizada com 30 pessoas.

Observe que a oração continuará tendo sentido completo se você omitir a expressão
“que durou duas semanas”. Outra regra é que a vírgula separa orações independentes.
Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Veja o
exemplo:

Executamos a coleta dos dados, registramos os dados em uma planilha, filtramos os


valores mais relevantes, por fim, sintetizamos os resultados.

Quando você se deparar com uma conjunção adversativa (exemplos: “mas”, “po-
rém”, “contudo”, “no entanto”, “todavia”, entre outras) você deve colocar uma vírgula
antes. Observe os exemplos:

O levantamento bibliográfico foi executado, mas foram encontrados apenas cinco trabalhos
relevantes.
Existem diversas leis trabalhistas, porém apenas poucas são aplicadas corretamente.
Capítulo 2. A Escrita Científica 18

2.2.7 DICA 07: Omita Expressões Desnecessárias


A escrita científica por padrão é direta, ou seja, sem arrodeios. O texto tem que
ser enxuto, sem palavras que não agreguem valor ao sentido das ideias passadas. Por isso,
sempre que estiver escrevendo releia o texto para tentar identificar expressões que possam
ser retiradas sem prejuízo. A Tabela 2 mostra alguns exemplos que se encaixam nesta
regra. Em alguns casos há uma omissão total e em outros pode-se fazer uma substituição.

Tabela 2 – Exemplos de Omissão de Palavras


Expressão Com Palavras Desnecessárias Expressão Sem Palavras Desnecessárias
Não existe dúvidas que exista tal relação. Sem dúvidas existe tal relação.
O experimento foi um processo que durou três O experimento durou três dias.
dias.
aconteceu devido ao fato de que não poderia ser aconteceu porque não poderia ser diferente
diferente
apesar do fato que existiam dois... embora existiam dois....
seu paciente, que foi diagnosticado com a doença, seu paciente, diagnosticado com a doença, não
não tinha muito tempo tinha muito tempo

2.2.8 DICA 08: Evitar Repetição Excessiva de Determinadas Palavras


A repetição de palavras (ou expressões) no mesmo parágrafo normalmente não
prejudica o sentido das frases, mas pode deixar o texto pobre. Um texto pobre pode
indicar falta de zelo na escrita ou mesmo limitação textual do autor. Portanto, não vamos
tratar a repetição como um erro mas como um alerta para ser observado. A correção
obviamente é simples, bastando revisar o texto e ao identificar as palavras repetidas poder
substituí-las por sinônimos. Existe um site bem conhecido que você pode estar pesquisando
sinônimos: <https://www.sinonimos.com.br/>. Uma palavra muito repetida é a conjunção
adversativa “mas” que liga duas orações ou palavras, expressando ideia de contraste ou
compensação. Esta palavra pode ser substituída por outras conjunções como:

porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante

Outra conjunção muito comum é a conjunção conclusiva “portanto”. Este tipo


de conjunção liga a oração anterior a uma oração que expressa ideia de conclusão ou
consequência. Veja outras conjunções conclusivas:

por conseguinte, logo, consequentemente, por isso, assim sendo, por consequência, sendo
assim, desse modo, dessa forma, dessa maneira, por isto, deste modo, desta forma, desta
maneira, então, assim, pois
Capítulo 2. A Escrita Científica 19

Além dos sinônimos podem ser aplicadas outras técnicas como a Hiperonímia e
a Hiponímia. Hiperonímia consiste em usar palavras que possuem um significado mais
amplo do que o da substituída. Hiponímia consiste em trocar um termo mais abrangente
por outro mais específico. Veja os exemplos que seguem:

Hiperonímia
ex: João tomou um remédio que não lhe fez bem. Parece que a medicação estava vencida.
Note que “remédio” é um tipo de medicação. Este termo abrange mais itens do que
aquele.
Hiponímia
ex: Artur estava muito nervoso e precisou de um remédio. Depois de tomar o calmante,
porém, ele ficou mais tranquilo.
Perceba que o elemento “calmante” é apenas um dos que compõem a classe dos remédios.

2.2.9 DICA 09: Consistência Textual


O cérebro é formado por uma enorme rede de fios muito finos, entrelaçados como
um espaguete, tecida por bilhões de células nervosas – os neurônios. A tarefa do neurônio é
conduzir as mensagens dentro do cérebro e do sistema nervoso, fazendo ligações chamadas
de sinapses. Estudos afirmam que por volta dos 12 meses um bebê chega a produzir o
dobro sinapses do que o de um adulto. Estas sinapses permitem um aprendizado com uma
velocidade gigantesca. O aprendizado acontece principalmente através da relação entre
coisas e fatos. Por exemplo, um bebê muitas vezes sorri ao ver qualquer coisa que se pareça
com um rosto humano pois possui o mesmo padrão do rosto dos pais. Portanto, quanto
mais semelhante duas coisas são mais fácil será a assimilação feita pelo nosso cérebro. Ok,
mas qual a relação disto com meu texto?
O seu texto tem que fazer o leitor não se esforçar para entendê-lo. Para isso,
devemos buscar uma padronização durante todo o texto, e chamamos isto de consistência
textual. A consistência pode ser entendido como ausência de contradição, aquilo que se
mantêm inalterado. Vamos falar sobre três formas de consistência textual: consistência
de termos, consistência de acrônimos, e consistência verbal.
Cada área do conhecimento humano geralmente usa um vocabulário que transmite
uma variedade de conceitos especializados por meio da linguagem técnica. Os termos
técnicos do seu texto devem ser escritos da mesma forma em todo o documento, ou
seja, ter consistência de termos. Vamos pegar um termo da biologia. A expressão
“membrana plasmática” pode ser chamada também por “plasmalema”. Se você no início
do seu documento científico usou o termo membrana plasmática, deverá usar membrana
plasmática até o final. A padronização não é apenas sobre o termo em si mas como ele
é escrito. Se escrever com as primeiras letras maiúsculas (Membrana Plasmática), você
Capítulo 2. A Escrita Científica 20

deverá continuar escrevendo desta forma também por todo o texto.


A mesma ideia vale para a consistência de acrônimos, no início do texto você
dá a definição de um acrônimo e depois você poderá usar o acrônimo por todo o texto.
Por exemplo, Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Após esta
definição, você pode usar apenas CPMF daqui em diante. Em documentos científicos é
importante ter uma tabela de definição de acrônimos nas partes iniciais do documento.
Em um documento científico podem ter diferentes tempos verbais. Vamos ter em
mente o documento de pré-projeto de TCC que é o foco deste material. Na seção de
Trabalhos Relacionados, por exemplo, pode-se ter o tempo verbal passado: “...até 2013
existiam apenas dois métodos comprovados...”. Na seção Proposta você deve usar o tempo
futuro: “Serão adotadas duas ferramentas de medição de energia... ”. A consistência
verbal que mencionamos anteriormente está contida dentro de cada seção. Na seção
Proposta deve prevalecer o tempo verbal futuro e na seção Trabalhos Relacionados deve
prevalecer o tempo verbal passado.

2.2.10 DICA 10: Padronização do Tamanho dos Parágrafos


Os antigos arquitetos gregos buscavam a perfeição harmônica em suas construções,
usando da matemática para construir edifícios que expressassem a racionalidade da
Humanidade. A arquitetura grega se baseava, principalmente, pelo uso de cálculos e
perspectiva para alcançar a simetria e harmonia perfeita nas obras. Portanto, segundo a
arquitetura clássica, a simetria é essencial pois traz consigo a beleza e a resistência das
construções. No contexto da escrita não é diferente, precisamos buscar simetria em alguns
elementos textuais como os períodos e também os parágrafos.
Os parágrafos devem ter uma padronização do tamanho por quantidade de linhas.
É complicado indicar um número adequado de linhas por parágrafo mas podemos dizer
que não pode ser nem muito pequeno nem muito grande. Parágrafos muitos pequenos pode
indicar falta de conteúdo e criatividade para explicar suas ideias. Parágrafos muito extensos
podem ser enfadonhos e prolixos, correndo o risco de abordar mais de uma ideia chave.
Vamos considerar hipoteticamente oito linhas como sendo um bom padrão de tamanho de
parágrafo, observe três possibilidades de escrita na Figura 4.

2.2.11 DICA 11: Escreva de Forma Impessoal


Na escrita científica o autor deve fazer um esforço para se distanciar do assunto
abordado, isto é, ele faz uso da “impessoalidade”. Você deve procurar elaborar seu texto
utilizando-se de preferência a terceira pessoa no singular (geralmente acompanhados do
pronome “se”) e verbo na voz ativa. Qundo tiver que destacar uma ideia você pode
substituir expressões como “eu acho”, “na minha opinião”, “do meu ponto de vista” etc.,
Capítulo 2. A Escrita Científica 21

❖ Tamanho Bom ❖ Tamanho Ruim ❖ Assimétricos


❖ Simétricos (muito pequenos)

Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla

Figura 4 – Ilustração de Exemplos de Tamanhos de Parágrafos.

por outras mais gerais, como “é bom lembrar”, “é preciso considerar”, “é importante”,
“convém observar” e outras. Por fim, observe os exemplos abaixo:

Exemplos Ruins
Eu acho que este TCC tem tudo para ser um sucesso.
Na minha opinião o escopo deste trabalho está bem definido.
De acordo com o meu ponto de vista existem trabalhos suficientes para embasar o
trabalho.
Exemplos Bons
Sabe-se que existem poucas maneiras de se elaborar um experimento corretamente.
Entende-se dessa maneira que não foi ferida nenhuma regra previamente estabelecida.
Recomenda-se adotar a técnica XPTO pois se mostrou mais eficiente.
22

3 Estrutura do Pré-Projeto de TCC

Este capítulo tratará da estrutura do pré-projeto. Você já viu até aqui a ideia do
que é pesquisa científica e aprendeu a melhorar sua escrita. Este é um momento crucial
que é a escrita em si, a composição do pré-projeto. Reiterando o que foi falado antes, não
comece a escrever sem ter lido bastante sobre o assunto e discutido com seu orientador.
Feito isso, vamos lá!

3.1 Visão Geral da Estrutura


Sobre a estrutura do pré-projeto, cada instituição possui seu modelo. Porém, iremos
sugerir um modelo enxuto aqui com as partes mais essenciais. Estamos utilizando o
termo partes porque o documento além das seções possui também o título e resumo.
Pois bem, a Figura 5 mostra as partes do pré-projeto e como eles estão dispostos em
quantidade de páginas. Como falado anteriormente (na Seção 1.1), esta apostila considera
aceitável o pré-projeto com número total de páginas entre 11 e 15 páginas. A Figura 5
ilustra o mínimo de páginas por cada parte. As seções Justificativa, Referencial Teórico
e Metodologia/Cronograma podem englobar uma página a mais cada uma, além destas
destacadas na figura.
Título + Resumo

Metodologia

Cronograma
Justificativa

Referências
Introdução

Referencial
Teórico

Página 01 Página 02 Página 03 Página 04 Página 05 Página 06 Página 07 Página 08 Página 09 Página 10 Página 11

Figura 5 – Previsão de Divisão do Pré-Projeto por Páginas

3.2 Título
O título, apesar de ser uma pequena parte do trabalho em questão de número de
palavras, possui uma grande significância. O título deve resumir toda a ideia do trabalho
de forma clara e precisa. O tempo das pessoas é cada vez mais limitado. A partir do
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 23

título o leitor decide se o trabalho é relevante para ele ou não em poucos segundos. Assim,
um título mal elaborado pode fazer com que o trabalho nunca seja lido e referenciado.
Trabalhos científicos são disponibilizados por repositórios online. Assim, o título bem
construído do seu pré-projeto também se torna mais indexável por tais repositórios. No
começo do trabalho você já pode pensar no título, porém é sugerível ir atualizando-o à
medida que o pré-projeto evolui. Considerando que o tema e o problema já foram definidos,
a elaboração do título se torna mais fácil. Uma dica inicial é você pensar nas manchetes
de jornais, em como elas são muito sucintas. No caso da produção acadêmica, os dados
mais relevantes costumam ser a finalidade do estudo e as técnicas ou os recursos utilizados
para compor o título. A seguir elencamos os erros mais comuns ao elaborar um título:

1. Fuga do tema: há pessoas que fogem do tema na elaboração do título, mesmo que
o intuito seja passar as informações compreendidas como necessárias. Lembre-se:
“menos é mais”;

2. Confusão: há pessoas que fazem jogos de palavras na construção do título, o que o


torna confuso. O objetivo do título é esclarecer o leitor e convidá-lo a continuar a
leitura. Ele deve ser mais uma “isca” do que um “enigma”;

3. Pouca praticidade: o título não é seu artigo. Por isso, são desnecessários períodos
longos. É importante a praticidade e informar ao leitor o que ele precisa para seguir
em frente;

4. Abrangência: um título que diga “A Concepção dos Direitos Humanos no Brasil”,


por exemplo, passa uma impressão muito genérica e imprecisa. Na maioria dos casos,
o autor só tratou a perspectiva de um autor específico ou alguns autores e não fez
um diálogo mais profundo entre os estudiosos e pesquisadores do tema. Demonstre
especificidade no seu título, e não abrangência.

5. Vocabulário: não é recomendado usar expressões, trejeitos e gírias de oralidade


(“né”, “daí”, “tipo assim”, “tá ligado”), nem mesmo abreviações de internet como
(“vc”, “cmg” “tb”, “q”, “pq”, “qdo”, “pra”). Use as palavras por extenso, especial-
mente porque permitirá uma melhor identificação do seu trabalho no Google e nas
Bases Bibliográficas;

6. Falta de revisão: revise seus textos e evite erros ortográficos e gramaticais, e não
confie cegamente em corretores automáticos!

Além destas seis dicas acima devemos mencionar também que o seu título deve ser
conexo com o restante do seu trabalho, sobretudo resumo e desenvolvimento. Um deve ser
complemento do outro. Isso mostrará ao leitor que você tem qualidade técnica tanto de
pesquisa quanto de redação. Não alimente falsas esperanças no seu leitor. Seja honesto
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 24

na elaboração do título de acordo com o nível técnico do seu trabalho. Se a sua pesquisa
ainda está em fase de desenvolvimento e não tem resultados concisos, não elabore um
título que induza o leitor a pensar que encontrará a solução de todos os seus problemas,
por exemplo. Você só deve “bater o martelo” do título ao final, mesmo que já tenha uma
ideia provisória. Com o trabalho finalizado, você saberá exatamente quais as palavras
necessárias para fornecer ao título tudo aquilo que ele precisa demonstrar. Por isso, sem
pressa!

3.3 Resumo
O resumo é uma versão expandida do título. Como no título, no resumo você
deve escrever algo que chame a atenção. Vamos dar um exemplo na área da computação.
Centenas de monografias em Computação são defendidas a cada ano apenas no Brasil. Se
contarmos outros países, ainda teremos uma infinidade de material científico disponível
cujo índice de produção aumenta cada vez mais. Esperar que alguém leia uma monografia
cujo resumo diz “Este trabalho apresenta um estudo sobre bancos de dados” é esperar
demais. Afinal, essa frase diz muito pouco. O que efetivamente esse “estudo” poderia ter
gerado em termos de informação nova que poderia interessar a alguém que trabalhe com
bancos de dados? Seria muito mais informativo um resumo que dissesse algo do tipo “Este
trabalho demonstra que as sete formas normais de bancos de dados não são suficientes para
evitar um problema de inconsistência dos dados identificado aqui como...”. Se o leitor está
acostumado a trabalhar com as sete formas normais e acha que elas explicam como deve
ser um bom banco de dados relacional, então ele ficará curioso para ver que caso estranho
é esse que não é atendido pelas formas conhecidas. Ao longo do texto, mais detalhes serão
dados, mas a atenção do leitor já foi conquistada.
Portanto, o resumo é efetivamente o lugar para vender o peixe. Se o autor não
conseguir deixar um leitor interessado no resumo, não conseguirá fazer com que ele leia
seu trabalho quando há tanto outro material de boa qualidade disponível. Além disso,
sistemas de indexação em bases de dados de abstracts também não vão identificar o
trabalho adequadamente.
Uma coisa que não se faz no resumo é revisão bibliográfica. A não ser que seja
vital para a compreensão do trabalho, não se deve fazer citações bibliográficas no resumo.
Não é razoável perder valiosas linhas citando trabalhos de outras pessoas. Esse espaço é
reservado para o autor do trabalho dizer a que veio e o que trouxe. O resumo deve conter
uma explicação bastante clara sobre o real problema abordado no trabalho, pois pessoas
com problemas semelhantes poderão se interessar. Além disso, um esboço da solução usada
deve ser também apresentado se for um trabalho finalizado, como um monografia, pois
pessoas que usem tecnologias parecidas poderão também se interessar em ver uma possível
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 25

nova classe de problemas sendo resolvidos por essa tecnologia.


O resumo deve ser o mais breve possível. Procure reduzir as frases ao mínimo
possível. O leitor lê prioritariamente resumos curtos. O resumo é escrito geralmente em um
único parágrafo, mas iremos dividi-lo em três partes visando facilitar a leitura e buscando
obter maior padronização. No pré-projeto use a seguinte sequência de ideias: Contexto,
Problema, e Proposta. Você deve explicitamente colocar estas três palavras no resumo. Esta
forma de divisão em blocos é chamada de resumo estruturado e dá ao leitor informações
mais diretas sobre o que é o trabalho. Observe a Figura 6. Você deve tentar escrever o
conteúdo dos três blocos, onde cada bloco deverá ter por volta de cinco linhas!

Contexto: Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
Problema: bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
Proposta: bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bl
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b
bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla b

Figura 6 – Estética do Resumo do Pré-projeto

Os enunciados dos três blocos são intuitivos mas iremos falar um pouco sobre cada
um. O Contexto aborda a área onde o trabalho se situa, pode dar conceitos gerais ou
mesmo alguma estatística sobre o tema. No Problema você deve explicitar qual o problema
que você deseja atacar, também podendo incluir alguma estatística para enfatizar a gravi-
dade do mesmo. Na Proposta você deve indicar qual o caminho que pretende trilhar para
resolver o problema. Logo abaixo apresentamos um exemplo de resumo bem delineado na
área de computação.
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 26

Contexto: O glaucoma é uma doença ocular caracterizada pela lesão do nervo óptico,
geralmente associada ao aumento da pressão intraocular. Essa doença é responsável pela
segunda maior causa de cegueira no mundo, atrás apenas da catarata. Apesar de não ter
cura, o paciente com glaucoma diagnosticado precocemente possui maiores chances de
obter um tratamento em tempo hábil, evitando a progressão da doença e, consequente-
mente, a perda da visão.
Problema: O diagnóstico do glaucoma pode ser realizado através de exames oftalmológi-
cos, que são submetidos à análise pelos especialistas. No entanto, devido ao exaustivo
processo de análise desses exames, que pode ocasionar falhas, técnicas computacionais,
como processamento de imagens e aprendizado de máquina, têm sido amplamente explo-
radas para integrarem ferramentas que auxiliem os profissionais da saúde no diagnóstico
da patologia.
Proposta: Este pré-projeto visa investigar o uso de uma abordagem de aprendizado
profundo para a identificação de glaucoma em imagens de retina, fornecendo uma segunda
opinião ao especialista e contribuindo para o diagnóstico precoce da doença. A abordagem
baseia-se na Rede Neural de Cápsula, uma Rede Neural Convolucional que utiliza camadas
adicionais denominadas cápsulas, com o intuito de formar representações mais estáveis
dos dados de entrada.

3.4 Introdução
A introdução é um modelo expandido do resumo. A introdução deve introduzir o
leitor ao tema do estudo e, fundamentalmente, dar ao leitor as razões que justificam o
objetivo do estudo. Você deve não apenas justificar cada variável teórica a ser estudada,
mas também o que pretende fazer com elas (descrevê–las, avaliar associações entre elas, ou
testar relação de causa e efeito). Este último aspecto é fundamental e é o mais negligenciado
nos artigos de pior qualidade.
Para avaliar a qualidade da Introdução, retire dela o objetivo do estudo e peça
a um leitor da área que a leia e lhe diga qual será o objetivo do estudo. Se ele acertar
plenamente, o conteúdo argumentativo de sua Introdução está adequado. Tudo deve ter
uma razão. Não pode dizer apenas que testará isso para ver se tem o efeito, deve haver
um objetivo. Nada pode “cair do céu”. Deve–se responder ao leitor as seguintes questões:
por que essa este objeto de estudo? Por que espera que tenha esse efeito (melhora)? Por
que este ambiente de testes? Se uma dessas questões não estiver respondida, a Introdução
está incompleta.
Seja pontual e vá direto ao ponto. Leia Introduções de monografias de boa qualidade
e veja como as Introduções são curtas e diretas. Você encontra bons trabalhos no repositório
da USP: <http://www.tcc.sc.usp.br/index.php?option=com_jumi&fileid=23&Itemid=
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 27

142&lang=br>.
Para nosso pré-projeto iremos dividir a Introdução em subpartes, inclusive com
uma subseção explícita. Na seção da introdução você deve escrever a ideia do contexto e
do problema. Logo depois você irá escrever os Objetivos em uma subseção, que nada mais
é do que como você irá resolver o problema.

3.4.1 Objetivos
O objetivo da pesquisa deve ser diretamente verificável ao final do trabalho. Um
bom objetivo de pesquisa possivelmente irá demonstrar que alguma hipótese sendo testada
é ou não verdadeira. Portanto, o objetivo geral e os objetivos específicos do trabalho
devem ser expressos na forma de uma condição não trivial cujo sucesso possa vir a ser
verificado ao final do trabalho. Um objetivo bem expresso em geral terá verbos como
“demonstrar”, “provar”, “melhorar” (de acordo com alguma métrica definida) etc. Deve-se
tomar cuidado com certos verbos que determinam objetivos cuja verificação é trivial e,
portanto, inadequada. Entre eles pode-se citar “propor”, “estudar”, “apresentar” etc. Se o
objetivo do trabalho é propor algo, basta que a coisa seja proposta para que o objetivo
seja atingido e, portanto, essa forma é trivial e inadequada, pois a definição do objetivo
não menciona a qualidade daquilo que será proposto.
Se o objetivo do trabalho é estudar algo, então ele terá sido alcançado se aquilo foi
estudado, não importando se alguma nova informação foi aprendida ou não, sendo, portanto,
inadequado como objetivo de pesquisa. Estudar, normalmente, é o objetivo do aluno e não
do trabalho. Se o objetivo do trabalho consiste em apresentar algo, novamente ele é trivial
e inadequado. Uma simples apresentação não produz necessariamente conhecimento novo.
Por exemplo, “o objetivo deste trabalho é apresentar os operadores da lógica booleana”; tal
objetivo pode ser alcançado com um pequeno texto explicando os operadores conhecidos,
mas, como não traz informação nova, não é um objetivo de pesquisa. A proposta, o estudo
e a apresentação podem ser justificáveis como objetivo de pesquisa desde que o objeto da
proposta, estudo ou da apresentação seja algo original.
Os objetivos específicos devem ser escolhidos da mesma forma que o objetivo geral,
ou seja, devem ser não triviais e verificáveis ao final do trabalho. Normalmente, os objetivos
específicos não são etapas do trabalho, mas subprodutos. Deve-se tomar cuidado para não
confundir os objetivos específicos com os passos do método de pesquisa. A implementação
de um protótipo ou a coleta de dados empíricos possivelmente serão etapas dentro de um
trabalho e, portanto, parte do método de trabalho. Esses passos não são, assim, objetivos
específicos. Deve-se entender, portanto, que os objetivos específicos são detalhamentos ou
subprodutos do objetivo geral. Se o objetivo geral consiste em provar uma determinada
hipótese, os objetivos específicos podem estabelecer a prova de uma série de condições
associadas a tal hipótese. Vamos mostrar logo abaixo um exemplo de objetivos de um
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 28

trabalho bem delineado:

Este pré-projeto tem como objetivo geral desenvolver uma metodologia para o diagnóstico
precoce do glaucoma, por meio de um processo supervisionado de aprendizado de má-
quina, usando fundamentos de aprendizado profundo em imagens de retina. Os objetivos
específicos deste trabalho são:

1. Aplicar conceitos de aprendizado profundo nas imagens de retina com o intuito de


identificar padrões relevantes para a classificação de glaucoma;

2. Avaliar a viabilidade do uso da arquitetura CapsNet para a identificação da doença,


utilizando bases públicas de imagens de retina;

3. Construir uma metodologia para classificação de glaucoma, que possa ser aplicada
no auxílio ao diagnóstico da doença.

3.5 Justificativa
A seção de Justificativa vêm logo após a seção de Introdução, objetivando dar
justificativas que convençam o leitor que o trabalho é importante para alguém. Uma
hipótese de um trabalho é muito arriscada se não estiver solidamente apoiada em uma
boa justificativa que apresente evidências de que vale a pena investir tempo e recursos
na tentativa de comprovar a hipótese. Uma boa hipótese precisa ser justificável. Em uma
monografia, pode-se justificar o tema de pesquisa, mas mais importante ainda é justificar
a escolha do objetivo. Por exemplo, se o tema de pesquisa é “compactação de texto”, o
objetivo de pesquisa é obter um algoritmo com maior grau de compactação do que os
algoritmos comerciais, e a hipótese de pesquisa pode consistir em utilizar um determinado
modelo de rede neural para realizar essa compactação, então a justificativa do tema deverá
se concentrar em mostrar que é necessário obter algoritmos de compactação melhores.
Adicionalmente, a justificativa da hipótese deverá se concentrar em apresentar
evidências de que o modelo de rede neural escolhido poderá produzir resultados melhores do
que os algoritmos comerciais. Em geral, a justificativa do tema aparece na contextualização
do trabalho, em que se tenta justificar ao leitor que o problema escolhido realmente é
relevante (no exemplo anterior, compactação de textos). É necessário apresentar alguma
evidência de que uma determinada linha de pesquisa pode levar a bons resultados quando
ainda não se efetuou essa pesquisa (no exemplo anterior, justificar o uso do modelo
específico de redes neurais para compactar textos). Essas evidências podem ser referências
a outros trabalhos que eventualmente mostraram algum tipo de resultado que aponte para
a viabilidade da hipótese escolhida, ou ainda em dados colhidos preliminarmente pelo
próprio autor do trabalho ou em um estudo de caso.
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 29

3.6 Referencial Teórico


O referencial teórico é um texto estruturado escrito com redação acadêmica formal,
resultante da busca, recuperação e organização da literatura sobre um tema a ser pesquisado,
proporcionando uma base teórica consistente para o desenvolvimento de um trabalho de
pesquisa. Espera-se encontrar vários elementos importantes em um referencial teórico,
porém dois se destacam:

• Base teórica de suporte ao trabalho de pesquisa;

• Lacunas de pesquisa existentes, identificadas na literatura.

O referencial teórico pode ser considerado como um resultado que, para ser obtido,
depende da realização de uma revisão da literatura. Na verdade, a revisão da literatura
e identificação do estado da arte são essenciais em qualquer projeto de pesquisa, como teses,
dissertações, artigos científicos etc., uma vez que novos conhecimentos se desenvolvem a
partir da evolução do conhecimento existente. O acúmulo de conhecimento, na realidade, é
uma condição essencial para desenvolvimento de qualquer campo científico. O entendimento
da literatura sobre determinado tema é o primeiro passo na elaboração e condução de
trabalhos de pesquisa, sendo necessário para o avanço do conhecimento em determinada
área.
Uma revisão de literatura pode ser definida como “a seleção de documentos dispo-
níveis sobre um tópico que contêm informações, ideias, dados e evidências sobre um ponto
de vista ou que expressem visões específicas da natureza de um tópico e como o mesmo
tem sido investigado, bem como a avaliação desses documentos”. Em poucas palavras,
uma revisão de literatura é uma síntese sobre determinado tema, sendo a “espinha dorsal”
de praticamente todos os textos científicos. A condução de uma revisão de literatura
é comumente tratada como um procedimento de fácil realização. No entanto, embora
estudantes e pesquisadores, em geral, o realizem de maneira relativamente simples, a
qualidade das revisões varia consideravelmente, o que impacta nos resultados obtidos e,
consequentemente, no texto de referencial teórico.
Isso ocorre porque fazer um levantamento do estado da arte é um grande desafio.
As bases científicas são repositório de milhares de periódicos com artigos relevantes
publicados por pesquisadores de todo o globo, que se acumulam diariamente em novas
publicações, sem contar os livros e eventos científicos. Neste caso, qualidade significa
abrangência, profundidade, rigor, consistência, clareza, análise e síntese efetivas de tudo
que foi produzido sobre determinado assunto. Espera-se que uma revisão de literatura
sintetize o conhecimento acerca de uma determinada temática e conduza a uma reflexão do
que o acúmulo do conhecimento no tema significa. Na verdade, uma revisão de literatura
deve apresentar o que é atualmente conhecido sobre o tópico em investigação e identificar
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 30

o que não é ainda compreendido na área de conhecimento em estudo. Sendo assim, um


processo de revisão da literatura deve ser cuidadosamente planejado e executado, para
a obtenção de resultados que permitam ampla compreensão sobre o estado da arte em
determinado tema e que forneçam bases para o avanço do conhecimento.

3.7 Metodologia e Cronograma


Falar sobre metodologia nada mais é do que descrever os caminhos metodológicos e
apresentar as técnicas que serão utilizadas ao longo da investigação. Tudo deve se alinhar
aos objetivos propostos, à rapidez, eficácia e confiabilidade. Na pesquisa bibliográfica, a
metodologia consiste em selecionar as leituras e fazer a análise do material, com uma visão
seletiva, crítica, analítica ou descritiva. Na pesquisa documental e também na de campo,
a metodologia varia de acordo com o tipo de investigação. Numa pesquisa experimental, o
estudante deve indicar o procedimento de testagem. Na descritiva, é necessário indicar
como será feita a observação (por questionário, entrevista, análise documental, etc.).
Exemplo: um aluno do curso de Publicidade e Propaganda vai estudar o tema “Uso
do Snapchat pelas marcas para atingir os jovens”. Para conseguir informações relevantes,
ele aplicará um questionário com questões fechadas em uma amostra do público-alvo.
Essa explicação de como ele conseguirá os dados para a sua pesquisa é um exemplo de
metodologia.
Agora, se esse mesmo estudante pretende aplicar um questionário online com o
Google Docs, ele terá que explicar o uso dessa ferramenta na coleta de dados. O pesquisador
pode listar outros procedimentos que serão usados para recolher dados, como gravação de
conversas, entrevistas e vídeos de aulas. É interessante reservar um espaço para apresentar
as hipóteses, ou seja, suposições que serão validadas ou desconsideradas após a realização
da pesquisa. É sugerível também desenhar um fluxograma de atividades com as etapas da
pesquisa. Segue abaixo um exemplo de fluxograma de atividades na Figura 7.
Vamos falar um pouco agora sobre o cronograma. O cronograma é um elemento
pós-textual dentro do pré-projeto. Ele determina as datas e os prazos para executar as
principais etapas da pesquisa, por isso garante a organização do aluno. No cronograma, é
possível definir as etapas que acontecem simultaneamente e também aquelas que dependem
da realização de fases anteriores. O tempo disponível para fazer o estudo pode ser dividido
em diferentes etapas, como levantamento bibliográfico, coleta de fontes, análise, aplicação de
questionário, tabulação de dados, organização do roteiro, redação do trabalho, apresentação,
revisão e entrega final. O cronograma deve incluir o período refente ao TCC II, ou seja o
período de um semestre.
Capítulo 3. Estrutura do Pré-Projeto de TCC 31

Figura 7 – Exemplo de Fluxograma de Metodologia

Você também pode gostar