Você está na página 1de 43

Apostila do Bacharel Livre em Teologia

Edição 1 de 2023 | Fase 1 | Módulo 1

Todos os direitos desta publicação Diretor Executivo


reservados à Núcleo Atos. Lucas Lorenzetti

Diretor Financeiro
É vedada a reprodução total ou
Gabriel Tarhun
parcial desta obra sem a prévia
autorização da empresa Núcleo Direção de Arte
Atos (CNPJ 46.149.164/0001-86), Marlon Baldessar
salvo como referência de
pesquisa ou citação Redação e revisão
acompanhada da respectiva Guilherme Oliveira

indicação.
Coordenadores Pedagógicos
Claudinéia Schmoeller
A violação dos direitos autorais é Leonardo Teixeira
crime estabelecido na Lei
n.9.610/98 e punido pelo artigo 194
do Código Penal. Edição 2023
Copyright © 2023
por Núcleo Atos

Associados
à ABED
Sumário

Oração I: orar para


conhecer à Deus 1
Oração II: orar para
responder à Palavra 6
Jejum: uma
fome do Espírito 15
Estudo da Palavra:
o compromisso 20
com a vida

Modelo de Estudo
MacArthur 27
Dicas 28
Oração I:
orar para
conhecer
a Deus
Oração I: para conhecer Deus

O tema “oração” é vital e precisa de cuidado, pois ele


ainda levanta muitas dúvidas, o entendimento errado têm
adulterado versículos-chave, por isso muitos cristãos
mantêm certas práticas contrárias à própria Bíblia, mas ela
aponta o modo correto de orar para que haja uma genuína
comunhão com Deus.

Ao analisar com atenção pode-se perceber conceitos e


costumes que, mesmo bem-intencionados, não têm base
bíblica, e na oração não é diferente. Então é preciso
compreender a estrutura, os tipos, a função e o significado
da oração para evitar desvios doutrinários, erros teológicos
e, principalmente, para se orar com eficácia.

É preciso olhar a definição geral da Bíblia para saber o


que a oração realmente é. Talvez não seja fácil ou cômodo,
mas só assim será possível aprender a falar com Deus e,
sobretudo, aprender a ouví-Lo. Afinal de contas, por que
orar? Qual é o poder da oração? Por que falar com Deus se
Ele já sabe de tudo?

Todo cristão já fez ou fará essas perguntas, pois uma


busca sincera levará a essas questões e elas devem ser
respondidas somente num lugar, a Bíblia, ela é a base de

Fase 1 Disciplinas Espirituais 2


Para se fazer uma
súplica é necessário
submeter os desejos
humanos à soberania
de Deus
tudo, inclusive da oração, pois antes de tudo a Palavra de
Deus já existia (e tudo criou!). Portanto, orientar a vida de
oração pelas Escrituras é fundamental.

A Bíblia diz que há 2 tipos de oração: Comunhão e


Súplica. Na comunhão o objetivo é contemplar o Ser de Deus,
é quando alguém experimenta o amor divino pela união
com Cristo, ou seja, é um período de qualidade com Ele, que
se desfruta com paz e descanso, e onde não há outra
intenção além de estar e conhecer Sua Pessoa.

A súplica é um pedido, mas não é um pedido qualquer,


ela é um pedido a Deus para que a Sua vontade seja
cumprida, para que a Criação e todos nela obedeçam, e
para que os desígnios divinos se realizem. Significa que para
se fazer uma súplica é necessário submeter os desejos
humanos à soberania de Deus e isso não é tão fácil.

Na maioria das vezes não é fácil porque os desejos


humanos estão controlando a vontade, um sinal disso é a
oração que se resume a pedidos, quantos cristãos
transformam Deus num “papai Noel” e se perdem em suas
listas de desejos? Mas o momento de oração deve ser
motivado pela intimidade sem segunda intenção!

Novamente, a oração não é motivo para afundar-se


nas próprias necessidades, ela é a ocasião para mergulhar
na graça de Deus. Haverá o momento para petições, mas ele

Fase 1 Disciplinas Espirituais 3


nunca será mais importante do que estar na presença
vivificante do Altíssimo, “conhecendo e prosseguindo em
conhecer a Deus”!

Orar assim faz o homem conhecer ao Senhor,


conhecê-Lo assim faz o homem “amar a Deus sobre todas
as coisas”, e na medida em que se ora desse jeito, todos os
afetos do homem são organizados (família, igreja, trabalho,
finanças, etc.) e vão para o devido lugar, pois o principal
amor foi colocado no lugar certo.

Quando alguém passa a agir assim, sua vida de oração


assume uma perspectiva melhor e ganha outras
prioridades, seus pedidos começam a ocupar cada vez
menos tempo e suas carências causam cada vez menos
ansiedade porque foi descoberta a verdadeira necessidade:
carência de Deus e fome de intimidade.

Se alguém passa a orar assim, o conhecimento


teológico também assume outra perspectiva, fundamenta
as experiências pessoais com Deus enquanto é consolidado
por elas. E uma boa maneira de começar isso é usar o Livro
de Salmos, fazer resumos e orá-los, criando uma rotina de:

Leitura > Estudo > Oração > Experiência

Esse tipo de meditação traz outro nível de

Fase 1 Disciplinas Espirituais 4


espiritualidade, inicia um processo que faz o cristão deixar
de orar PARA Deus e o leva a orar COM Deus, o faz abandonar
a oração ansiosa que busca uma benção material e leva ao
relacionamento vivo! Assim, mudar o motivo e o modo de
que busca uma benção material e leva ao relacionamento
vivo! Assim, mudar o motivo e o modo de orar faz toda a
diferença na caminhada cristã.

Obviamente, pedidos fazem parte da oração em


alguns momentos (Fp 4: 6,7), mas não são o objetivo central,
além disso, para chegar à oração ideal o ser humano deve
enfrentar seu vazio interior, o coração é um deserto que
muitos têm medo de encarar, mas a oração verdadeira fará
isso se encontrando com Deus para preencher o homem.

Também deve ficar claro que oração é relacionamento,


é conversa com Deus baseada na Bíblia, é contemplar a
revelação de Deus e se revelar para Ele, é
escutar/responder/reagir, é a continuação do diálogo que
Deus começou nas Escrituras, é ouvir/falar/fazer com Deus e
para Deus, é leitura da Bíblia acompanhada de meditação!

E esse é outro ponto importante, pois Deus é a Sua


própria Palavra (e a Palavra é Deus), assim como Jesus é o
Evangelho e Cristo é o verbo, ou seja, para se relacionar com
Deus é necessário se relacionar com a Bíblia, portanto, a
oração vem depois da leitura porque intimidade com Deus
significa intimidade com a Palavra dEle.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 5


Oração II:
orar para
responder
à Palavra
Oração II: para responder à Palavra

A aula anterior mostrou que a oração autêntica sempre


é baseada na Bíblia e que, para haver intimidade com Deus,
é preciso relacionamento com Sua Palavra porque ela é a
expressão da pessoa de Deus. Então, esta aula vai dar mais
um passo nessa direção com o intuito de fornecer mais
recursos para uma oração saudável.

É preciso admitir que, muitas vezes, a oração deixa de


ser uma resposta a Deus e transforma-se em resposta aos
desejos e necessidades, isso faz com que a oração ande em
círculos sem levar a lugar nenhum, apenas alimentando a
ansiedade e tornando Deus um objeto, um meio para saciar
uma vontade.

Orar é um gesto de aproximação de Deus. Por se basear


na Bíblia, orar aciona a cognição humana (percepção,
inteligência, sabedoria, etc.), portanto, se a oração é focada
nas sensações e emoções, ela fica vazia pois o Espírito de
Deus ministra no intelecto humano a partir da Palavra para
que a experiência de oração seja plena.

Se a mente está vazia de Palavra de Deus, a oração é


um exercício carnal baseado em misticismo, mas se o
objetivo é fazer da oração algo mais do que um ato de

Fase 1 Disciplinas Espirituais 7


vaidade religiosa, então é necessário usar as doutrinas
bíblicas para orar espiritualmente e conseguir avançar na
religiosa, então é necessário usar as doutrinas bíblicas para
orar espiritualmente e conseguir avançar na intimidade com
Deus.

Sem isso não se aprende a orar, o cristão permanece


imaturo e sua oração fica pequena pois Deus “não pode
falar” as coisas profundas, adultas e importantes dEle. É claro
que oração tem lugar para as emoções, mas elas não são a
regra porque a marca de um cristão que sabe conversar
com Deus é a LUCIDEZ.

Porém entre os cristãos há muita fantasia sobre o que a


oração é, ela ainda é vista como solução de dilemas e
problemas diários ou fonte de bênçãos materiais, isso está
errado. Orar é a resposta madura ao Deus da Bíblia e quem
não ora assim está falando sozinho pois a verdadeira
oração conversa com o que Deus já falou nas Escrituras.

Mas, infelizmente, o que se vê é a Palavra de Deus


dividindo sua autoridade com a intuição, superstição e
emocionalismo de líderes e irmãos sem conhecimento
teológico do que significa orar ao Senhor. E mesmo sem
saber, na maioria dos casos, o resultado são orações que
dizem o que a Bíblia NÃO diz.

Nos momentos de oração tem-se deixado a Bíblia de

Fase 1 Disciplinas Espirituais 8


A verdade é que
Deus fala o que
muitos cristãos
não querem ouvir
lado e vem se escolhendo outros tipos de diálogo. Na hora de
orar, o domínio próprio (dado pelo Espírito) tem sido
abandonado e a euforia assume o controle, e tantas coisas
mais têm impedido os cristãos de falar a coisa certa, ouvir a
e a euforia assume o controle, e tantas coisas mais têm
impedido os cristãos de falar a coisa certa, ouvir a coisa
certa e, até mesmo, orar ao Deus certo!

A verdade é que Deus fala mais do querem ouvir, Ele diz


coisas diferentes porque fala as palavras da Bíblia e esse
Deus bíblico é desconhecido para a maioria, Ele faz e fala
coisas que, lamentavelmente, são estranhas para quem não
conhece o Seu livro.

A verdade é que Deus fala o que muitos cristãos não


querem ouvir, ou seja, sem Palavra - sem oração - sem
intimidade - sem paternidade. Portanto a oração é atrofiada
na falta do elemento principal: a Palavra, e isso compromete
todo o relacionamento com o Deus Pai pois anula a Sua
adoção.

Sendo assim, somente o Espírito Santo pode restaurar


essa filiação, convencendo da Verdade que devolve o
acesso ao Pai ao levar ao encontro de Jesus, pois Cristo é a
encarnação do filho que devemos ser e do Evangelho que
devemos viver, mais ainda, Ele é a encarnação do Verbo que
devemos orar!

Fase 1 Disciplinas Espirituais 9


Sabendo dessas coisas, Jesus ensinou a Oração do Pai
Nosso, dando as referências necessárias para um
relacionamento real e confiável, no intuito de orientar
aqueles que buscam ao Senhor. Então, através do Filho o
cristão é exposto à Trindade e pelo Espírito Santo ele
participa dessa união, mas só existe intimidade mediada
pela oração.

Por isso segue abaixo a estrutura da Oração do Pai Nosso:

Pai nosso
¯
Deus quer se relacionar como um pai, por isso Ele adota
todos que aceitam Jesus, aceita-os como filhos,
encoraja-os a tratá-Lo como pai e os coloca em
comunidade sem individualismo - a família do Deus Pai.

Que estás nos céus


¯
Apesar de ser pai, Deus está no céu, Ele é pai celeste, ou
seja, Ele tem as qualidades de um pai terreno, mas sem os
defeitos e limitações que atrapalham a paternidade
humana.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 10


Santificado seja o teu nome
¯
Deus já é santo em Si, mas o pedido é para que o Senhor
seja glorificado na própria vida da pessoa, em cada área,
ao ponto que os outros vejam que o Deus dela é Santo.

Venha o teu Reino


¯
Expansão do domínio de Deus, de cada pessoa ao planeta
todo - através de missões, pregação da Palavra e vivência
do Evangelho.

Seja feita a tua vontade


¯
Deus tem um propósito em tudo, Seu plano é soberano e
queremos ver se cumprir, mesmo contra o nosso desejo,
pois é o bem maior e viver essa vontade é a felicidade real.

Assim na Terra como no Céu


¯
Deus já é exaltado, servido e obedecido no céu, mas que ocorra
na terra igualmente, e que possamos cooperar com isso.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 11


O pão nosso de cada dia dá-nos hoje
¯
O alimento fundamental representa a necessidade básica,
nem mais nem menos, para ser suprida em cada dia, sem
acumular pois o futuro está na mão de Deus. Assim, confie
nEle pois o sustento mínimo pode ser pedido, mas o que
passa disso não é promessa.

Perdoai as nossas dívidas


¯
Os pecados são dívidas impagáveis que temos com o
Criador. A única coisa a fazer é suplicar por perdão, pois
Deus está disposto a dar.

Assim como perdoamos aos nossos devedores


¯
Essa é a única condição para ficar sem dívidas diante de
Deus, e revela que somente filhos de Deus conseguem
perdoar porque entendem o sentido e valor. Sobretudo, a
saúde da vida de oração depende do perdão que damos
ao outro, ou não.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 12


E não nos deixeis cair em tentação
¯
Já somos inclinados para a queda e precisamos de
restauração, além disso, cada um é tentado pela própria
cobiça e fraquezas, mas há proteção para quem clamar a
Deus por ela.

Mas livra-nos do mal


¯
Também haverá lutas maiores que nós, o próprio Maligno e
todos os males que nos afastam de Deus, mas o triunfo de
Cristo garante a vitória sobre tudo isso.

Pois teu é o reino, o poder e a glória


¯
Além de um ato de adoração, aqui se vê como e porquê
Deus é capaz de realizar essa oração.

Para sempre
¯
Segundo a percepção humana, os 3 itens acima não têm
“prazo de validade”, indicando a natureza Eterna do Criador.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 13


Amém
¯
Significa “verdade sobre verdade”, o que expressa a
confiabilidade e fidelidade de Deus, e que podemos
concordar com o que foi dito.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 14


Jejum:
uma fome
do Espírito
Jejum: uma fome do Espírito

Originalmente, o jejum consiste da abstinência de


alimentos para subjugar o corpo e a vontade da carne,
desconectando-se da matéria para auxiliar o espírito.
Através do jejum a concentração espiritual melhora, a
oração ganha foco e a ligação com Deus aumenta, visto que
ele é um importante meio de santificação.

Levando-se em conta que o ser humano precisa de


quebrantamento e reconciliação com Deus, o jejum é um
ótimo e necessário complemento da oração para isso, pois a
ausência de comida ajuda a remover as distrações e
permite um foco maior no que é elementar, tornando a vida
espiritual mais precisa.

O jejum é praticado pelos cristãos desde os apóstolos, a


Igreja Primitiva herdou essa prática do Judaísmo e a
manteve porque Jesus orientou seus discípulos para que
jejuassem também, porém de forma diferente dos grupos
religiosos da época, pois essa disciplina havia sido
corrompida em seu propósito.

"Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os


hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os
homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente
que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, ponha óleo...

Fase 1 Disciplinas Espirituais 16


...sobre a cabeça e lave o rosto para que não pareça aos outros que
você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no secreto. E seu
Pai, que vê no secreto, o recompensará." (Mt 6: 16-18)

Já no Antigo Testamento o jejum fora distorcido, sendo


praticado ao mesmo tempo em que a maldade de Israel se
multiplicava (Is 58). No Novo Testamento, ele era usado para
autopromoção de fariseus buscando aparentar grande
espiritualidade, enquanto outros entendiam o jejum como
“moeda de troca” para receber o favor divino.

E isso não mudou, hoje acontece algo parecido na


comunidade cristã, que vê o jejum como uma “fórmula de
sucesso”, critério de avaliação, instrumento de penitência,
propaganda espiritual, fonte de mérito, prova de autoridade
e mecanismo para fazer Deus agir. Ou seja, muita coisa se
atribui ao jejum, menos o que ele realmente é.

Infelizmente, na rotina religiosa de muitos cristãos, o


jejum não tem alimento, mas também não tem essência, é
usado sem o devido discernimento do que ele significa para
a vida espiritual, causando desvio e afastamento, além de
grande perda na experiência devocional e na vivência do
Evangelho.

Mas, afinal de contas, qual jejum agrada a Deus? A


Bíblia revela que o jejum ideal é aquele em que se abre mão
de algo bom por algo melhor, quando a pessoa se priva do

Fase 1 Disciplinas Espirituais 17


O jejum é
uma disciplina
espiritual que
prepara o
indivíduo para
servir melhor
ao Senhor
alimento para se humilhar e sujeitar o corpo ao espírito, para
render a carne, prostrar a alma e quebrantar o coração,
buscando auxílio, capacitação e intimidade com Deus.

O ser humano pode determinar o tempo, o modo e o


propósito do jejum, mas há indicações que vem de Deus por
meio da Bíblia, para serem vividas através de Cristo pelo
Espírito Santo. O jejum é um reflexo do interior, do
relacionamento com o Pai, e ele só faz sentido se a pessoa
vive a justiça do Reino e pratica a misericórdia de Deus.

Em outras palavras, o jejum faz parte de um estilo de


vida, portanto, se a pessoa não tem esse estilo de vida é inútil
jejuar porque o jejum depende das outras disciplinas
espirituais (oração, estudo bíblico, caridade, testemunho,
etc.), então é necessário voltar a esses fundamentos para
resgatar o sentido original do jejum.

“Então o Senhor dos Exércitos me falou: ‘Pergunte a todo o povo e aos


sacerdotes: Quando vocês jejuaram no quinto e no sétimo meses
durante os últimos setenta anos, foi de fato para mim que jejuaram?’’’
(Zc 7: 4-5)

A comunhão com Deus é a única recompensa possível


nesse processo, logo, a eficácia do jejum é medida pelo nível
de entendimento e intimidade alcançada. Além disso,
embora seja um ato voluntário e não uma lei, o jejum é uma
disciplina espiritual que prepara o indivíduo para servir

Fase 1 Disciplinas Espirituais 18


melhor ao Senhor.

E nesse período, quando alguém se privar de comida,


esse jejum deve ajustar seu ponto de vista, pois não se trata
de afligir o corpo, mas é sobre afligir a alma e a carne,
colocando-as num lugar de humilhação para mostrar que
são secundárias, porque o alimento é importante, e o corpo
também, mas Deus é prioridade.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 19


Estudo da
Palavra:
o compromisso
com a vida
Estudo da Palavra: o compromisso com a vida

Estudar a Palavra de Deus significa relacionar-se


pessoalmente com o próprio Deus, esse estudo nada mais é
do que adquirir a intimidade que está disponível em Cristo,
mas para acessá-la deve haver uma vida devocional e a
porta de entrada, dessa intimidade devocional, é entender o
livro que a revela - a Bíblia.

É necessário buscar o conhecimento de Deus, mas isso


deve ser feito do jeito certo e pelo motivo certo, do contrário
haverá desvios teológicos e Deus se afastará, pois a única
condição para a permanência do Espírito Santo é a sã
doutrina, portanto o estudo bíblico é insubstituível para uma
rotina espiritual verdadeira e profunda.

O estudo bíblico vem em primeiro lugar porque todas


as outras disciplinas espirituais decorrem da Palavra de
Deus, e mais, cada uma delas tem um processo e a soma
delas formam um outro processo (entenda-se
relacionamento). Nenhuma dessas disciplinas é instantânea
ou isolada, mas o fruto gerado é vital para o ser humano.

Esse relacionamento com a Bíblia é importante,


também, porque regularmente surgem ventos de doutrina
que tentam se infiltrar na Igreja (e até conseguem tocar

Fase 1 Disciplinas Espirituais 21


algumas comunidades), certas “modas” religiosas com
aparência espiritual, mas que semeiam engano. Logo,
deve-se estar alicerçado na Palavra de Deus para discernir e
rejeitar.

A Bíblia tem essa centralidade porque a fé vem através


do Evangelho contido nela (Rm 10:17), ele aponta as verdades
que devem sustentar a vida e em quem se deve crer. Assim,
o cristão e a Igreja devem estar fundamentados na Escritura,
e se desenvolver ao redor do Evangelho, para preservar a
revelação de Jesus e vivê-la plenamente.

Para tanto, será valioso ver o que a Bíblia diz sobre ela
mesma porque, ao longo de todo do texto, ela traz definições
importantes de sua natureza e propósito, como extrair seu
conteúdo, viver sua mensagem e se relacionar com seu
Autor, oferecendo um conhecimento essencial para quem
busca a Deus:

“Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante


a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar
para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.” (Tg 1:23, 24)

O espelho é o único modo de alguém olhar a si mesmo,


ele serve para tornar algo bom e detectar coisas ruins, e a
Bíblia é como um espelho também, que faz a pessoa
enxergar o que está oculto no seu interior para ordenar e

Fase 1 Disciplinas Espirituais 22


A Palavra de Deus
molda a realidade
para satisfazer os
desígnios do Criador
restaurar o que for preciso, porém deve-se apontar esse
espelho primeiro para si, e só depois ao próximo.

“Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça


a rocha?” (Jr 23:29)

Fogo e martelo são ferramentas para moldar ferro e


aço de acordo com a vontade do ferreiro. A voz do Altíssimo
trouxe o Universo à existência e definiu toda a criação, ou
seja, assim como fogo e martelo, a Palavra de Deus molda a
realidade para satisfazer os desígnios do Criador, e o
mesmo vale para Humanidade, principalmente, ao Seu povo.

"Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; ele é um escudo


para quem nele se refugia.” (Pv 30:5)

Sabendo que o Senhor se revelou através da Escritura e


que Ele protege os Seus, a Palavra de Deus é um lugar de
abrigo e pode ser considerada um escudo por quem a
obedece. Além disso, se um escudo é necessário, é porque
haverá ataques e ferimentos podem acontecer, mas Deus
pode curar.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 23


“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer
espada de dois gumes; ela penetra até dividir alma e espírito, juntas e
medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do
coração.” (Hb 4:12)

A espada de Deus é um bisturi, ou seja, a Bíblia é um


“instrumento clínico” criado para executar operações
precisas na alma, mente, espírito, psique e cognição
humanas, uma ferramenta cirúrgica capaz de intervenções
específicas no interior do ser humano para diagnosticar,
tratar e curar enfermidades, anomalias e traumas.

“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que


clareia o meu caminho.” (Sl 119:105)

Ficar parado olhando uma lâmpada deixa a pessoa


cega enquanto olhar, e no dia a dia ninguém faz isso, mas
usa-se a claridade dela para iluminar a realidade ao redor e
conseguir interagir, assim a Bíblia deve esclarecer lugares,
caminhos, eventos, coisas e pessoas para “acender” a vida,
por isso Deus disse “Haja luz”.

“Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do
que o mel à minha boca.” (Sl 119: 103)

Fase 1 Disciplinas Espirituais 24


Nas Escrituras o mel tem a ver com satisfação e alegria,
portanto o alvo do cristão é se transformar em alguém que
tem “prazer na lei de Deus”. Esse contentamento surge
quando o estudo da Bíblia torna-se relacionamento com a
Bíblia, desaguando em intimidade com o Pai.

“Eu sou o pão da vida.” (Jo 6:48)

No passado Israel comeu o maná do deserto, um pão


que tinha prazo de validade, era colhido apenas uma vez por
dia e todos que comeram dele pereceram, mas em Jesus
temos o legítimo Pão do Céu que concede a vida eterna
agora! Então alimentar-se de Cristo é comer (estudar) Suas
palavras, pois elas são espírito e vida.

“...A semente é a palavra de Deus…” (Lc 8:11b)

Semente é outra metáfora que define bem o que a


Palavra de Deus é e faz, uma semente carrega o potencial de
vida, ela tem dentro de si a árvore e os frutos, mas precisa de
água, terra, ar, luz e temperatura adequadas, e cuidado para
ela brotar, crescer e frutificar com saúde. Assim a Palavra de
Deus funciona em nós também.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 25


“Livrem-se de toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e
toda espécie de maledicência. Como crianças recém-nascidas,
desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele
cresçam para a salvação, agora que provaram que o Senhor é bom.”
(1 Pe 2: 1-3)

Aqui o apóstolo Pedro contrapõe as obras da carne


com a salvação, comparando o desejo de um bebê por
comida com o desejo do cristão pela Palavra de Deus, ou
seja, alguém que não experimentou (entendeu) a bondade
de Deus não tem essa fome, mas a salvação é desfrutada
pela maturidade que vem das Escrituras.

Deus também usa a Palavra para capacitar e santificar


Seus filhos (Jo 17), então, quando não há nada para distrair, o
que o Espírito Santo pode fazer quando sobra apenas você e
a Bíblia? Você já se deu essa chance? Poderia dar mais
tempo? Daria um espaço maior para o Evangelho? Daria
mais liberdade para o Espírito Santo te fazer livre?

Sobretudo, a principal razão para estudar as Escrituras


é DEVOÇÃO, um afeto/fome de Deus que impulsiona alguém
a buscar mais dEle, um querer crescente que ultrapassa o
estudo burocrático até a alegria da salvação; um conhecer
a Deus que transborda dos cultos de domingo para a casa,
família, trabalho e amigos até a rotina comum.

Então experimente ficar mais a sós com a Escritura,


ouvir o Espírito ministrar a Palavra de Deus e ter sua fé

Fase 1 Disciplinas Espirituais 26


aumentada, a mente renovada e o coração apascentado. A
parte final da videoaula vai revelar um modelo de
leitura/estudo da Bíblia, por isso aproveite, use essa
disciplina, viva essa graça e experimente ser transformado!

“Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim


de que o povo entendesse o que estava sendo lido. [...] Então todo o
povo saiu para comer, beber, repartir com os que nada tinham
preparado e para comemorar com grande alegria, pois agora
compreendiam as palavras que lhes foram explicadas.” (Ne 8: 8,12)

Abaixo segue um esquema de estudo bíblico.

Modelo de Estudo MacArthur

1. Leia primeiro a Bíblia (e só depois leia livros sobre ela).

2. Leia o Antigo Testamento (A.T.) uma vez por ano.

3. O A.T. tem 39 livros (lendo 20 minutos por dia termina-se


em 1 ano).

4. Anote suas dúvidas (a releitura frequente responderá boa


parte delas).

5. O maior foco de leitura da Bíblia deve ser o Novo


Testamento (N.T.), pois ele contém o ápice da revelação de
Deus (N.T. explica o A.T.).

Fase 1 Disciplinas Espirituais 27


6. Leia os livros pequenos do N.T. uma vez por dia (durante
30 dias).

7. Os livros mais longos, divida em 3 partes e leia cada parte


por 30 dias.

8. Alterne um livro longo e um livro curto (assim você lerá


todo o N.T. em 2 anos e meio).

9. Use a mesma versão da Bíblia para fixar o texto.

Dicas

0. Deus fez a Bíblia para ser lida e interpretada.

1. Por exemplo: se alguém não ler os livros de Ezequiel e


Daniel, não poderá entender o Livro de Apocalipse.

2. Não podemos aplicar a mensagem sem interpretar o


texto.

3. Você lê, interpreta, entende, explica e aplica na vida.

4. Não mistifique o texto (“O anjo tirou a pedra… A pedra da


dúvida, do medo”. Isso não está no texto, nunca vai ter o
mesmo poder).

Fase 1 Disciplinas Espirituais 28


5. Use bons comentários e dicionários bíblicos (ver na
bibliografia dos nossos materiais).

6. Medite.

7. Ore.

Fase 1 Disciplinas Espirituais 29

Você também pode gostar