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Poderá votar no dia 8 de setembro, todo mundo que já for filiado ao PT, ou que venha
a se filiar até o dia 8 de junho de 2019.
No momento em que esta resolução foi aprovada, ainda não havia sido divulgado, pelo
Diretório Nacional do PT, o regulamento detalhado do 7º Congresso. Mesmo assim, a
tendência petista Articulação de Esquerda aprovou esta tese referente à “situação
política e tarefas – programa, estratégia e tática”, para debate no 7º Congresso do
Partido dos Trabalhadores, que comporá, juntamente com a tese “a construção e a
disputa de rumos do PT”, o conjunto da nossa contribuição ao debate do congresso
partidário.
Este nome funde duas ideias, que vem sendo desenvolvidas pelas resoluções da
tendência desde 2005 (“a esperança é vermelha”) e desde 2015 (“tempos de guerra”).
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setores da classe dominante. E deve ter como objetivo realizar reformas estruturais na
sociedade brasileira, numa direção socialista.
Apesar disso, seguem existindo dentro do PT pessoas e grupos que agem como se as
coisas continuassem “como antes, no quartel de Abrantes”.
Nossa atitude – não apenas da tendência petista Articulação de Esquerda, mas também
dos demais setores que lutaram pela realização do 7º Congresso – deve ser outra,
completamente diferente.
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Queremos um congresso que atualize nossa visão sobre o mundo, sobre a América
Latina e sobre o Brasil. Que faça um balanço da atuação do PT no último período. Que
aponte com qual programa e com qual estratégia vamos enfrentar a coalizão golpista.
E que detalhe as mudanças organizativas que se fazem necessárias, para que o PT
continue sendo o principal representante da classe trabalhadora brasileira.
A SITUAÇÃO INTERNACIONAL
O mundo hoje é multipolar, mas não é pacífico, lembrando a situação que precedeu as
duas grandes guerras mundiais. As instituições criadas depois da Segunda Guerra
(como a ONU, o FMI, o Banco Mundial), as criadas posteriormente (como a
Organização Mundial do Comércio) e muitas das criadas recentemente (como os
BRICS) não são capazes de superar a situação de desarranjo e crise por que passa o
mundo. Por todas as partes do planeta, crescem os conflitos, causados em última
instância pelos ataques dos capitalistas contra a classe trabalhadora e contra os povos
que vivem na periferia do capitalismo.
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Paradoxalmente, foi neste mesmo momento que os setores progressistas e de esquerda
conseguiram eleger o presidente do México, o que se por um lado impõe limites ao
novo governo mexicano, por outro lado demonstra as enormes potencialidades que
continuam existindo na região para as forças de esquerda.
Frente à ofensiva da direita e dos EUA, há reações diferentes nas esquerdas latino-
americanas, algumas das quais ficaram claras no debate sobre como enfrentar a
ameaça de guerra contra a Venezuela. Houve por um lado os que sugeriram uma quase
capitulação. De outro lado, estavam e seguem estando os que, como nós e a maioria do
Partido dos Trabalhadores, apoiamos a resistência contra o golpismo e o imperialismo.
Sendo assim, cabe à classe trabalhadora de cada país e aos povos da região liderar a
luta pela soberania nacional e integração regional, vinculando esta luta à defesa das
liberdades democráticas e dos direitos sociais. Esta luta só terá êxito pleno se a classe
trabalhadora conseguir controlar não apenas o poder político, mas também controlar a
economia de cada país e da região. Noutras palavras, a reação das classes dominantes
e dos EUA contra os governos progressistas e de esquerda exige, como resposta, mais
radicalidade, mais antiimperialismo e mais socialismo.
Neste sentido, a política internacional do Partido dos Trabalhadores deve ter como
absoluta prioridade o Foro de São Paulo. Em segundo lugar, a relação com os partidos
e setores de esquerda nos Estados Unidos, África, Europa e Ásia. Em terceiro lugar, a
relação com setores socialdemocratas e progressistas em todo o mundo. Num mundo
em que as classes dominantes acentuam o imperialismo, destroem as liberdades
democráticas e o bem estar social, nossas relações prioritárias são e devem continuar
sendo com os setores anti-imperialistas e anticapitalistas.
A SITUAÇÃO NACIONAL
É preciso perceber, também, que o governo Bolsonaro não é uma completa novidade.
Suas ações e seu programa constituem uma radicalização das quatro principais
características da sociedade brasileira, ao longo dos últimos séculos:
*a dependência externa, frente aos portugueses, aos ingleses e agora aos EUA;
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“margem de manobra” para uma experiência reformista no Brasil. Não porque a
esquerda não queira ser reformista, mas porque a classe dominante não aceita nem
mesmo pequenas reformas.
Cada golpe tem sua história. No caso do golpe mais recente, ele foi realizado em três
fases: o impeachment sem crime de responsabilidade, que afastou a presidenta Dilma
em 2016; a condenação, prisão e interdição de Lula, ocorrida ao longo de 2018; e a
eleição de Jair Bolsonaro, em outubro de 2018.
A eleição de Bolsonaro não era inevitável: contra Lula, ele perderia; contra Haddad,
ganhou apoiado por um tsunami de fake news, um crime eleitoral bancado por
empresários, em caixa eleitoral paralelo multimilionário. E, mesmo assim, porque
antes houve um derretimento das demais candidaturas conservadoras.
O golpe de 2016-2018, como os outros, foi possível graças a uma ampla frente
antidemocrática, composta pelos políticos conservadores, pelos setores médios
tradicionais, pela mídia oligopolista, pelo partido judiciário, pela cúpula militar, por
empresas disfarçadas de igrejas, pelos governos dos EUA e de Israel, pelo grande
capital. O clã familiar dos Bolsonaro foi, portanto, instrumento de uma operação mais
ampla.
A eleição de Bolsonaro e seu governo não são, portanto, um “ponto fora da curva” na
história do Brasil. Mas há pelo menos duas novidades importantes, em relação aos
golpes de 1954 e de 1964: a) pela primeira vez, assistimos a uma vitória eleitoral da
extrema-direita, em associação explícita com o “partido militar”; b) nunca antes em
nossa história o crime organizado chegou tão perto da presidência da República.
Este programa vem sendo executado pelo governo Bolsonaro, desde o primeiro dia.
Submissão aos EUA, ao ponto de colocar o Brasil em pé de guerra contra a Venezuela.
Adoção de medidas que aumentam o desemprego, reduzem o salário direto e indireto,
destroem o sistema público de aposentadoria em benefício dos interesses do capital
financeiro. Estímulo à violência e a militarização da vida cotidiana, ataque contra as
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liberdades civis e os direitos humanos, agressão contra os sindicatos e os partidos de
esquerda, ataques contra o pensamento democrático e socialista.
É este ciclo inédito que os golpistas encerraram, com a ruptura ocorrida entre 2016 e
2018. Daqui para frente, eles farão de tudo para que voltemos àquela situação em que
apenas os partidos da classe dominante poderão disputar e vencer eleições. E, se
necessário for, podem inclusive apelar para restrições abertamente ditatoriais.
Na prática, seremos levados de volta aos anos 1920: o Brasil convertido em país
periférico, uma economia de fazenda e mineração, a questão social convertida em caso
de polícia, a política baseada na tutela militar.
Isto tudo, mais as medidas que visam impedir que a esquerda possa voltar ao governo
federal, empurram o Brasil para uma situação política de profunda instabilidade e
crise, econômica, social e política.
Em qualquer caso, desde 2005, mais notadamente depois do segundo turno de 2014 e
seguramente depois do triplo golpe ocorrido entre 2016 e 2018
(impeachment/prisão/eleição), houve uma alteração profunda nas condições
estratégicas que nos permitiram vencer quatro eleições presidenciais seguidas e
governar o país por 13 anos.
Isso incluir perceber que transformar o Brasil passa pela luta da classe trabalhadora
contra a classe dos capitalistas, e nessa luta a classe trabalhadora deve usar as mais
variadas ferramentas, como os sindicatos, os movimentos sociais, as entidades
estudantis, a UNE, o MST, a CUT, a Frente Brasil Popular, com destaque para o
Partido dos Trabalhadores. As disputas eleitorais e a ação de governos só contribuirão
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para mudar o Brasil, à medida que estejam articuladas com o processo de organização,
conscientização e mobilização da classe trabalhadora.
Mudar a estratégia inclui reafirmar a integralidade de nossa luta pelos direitos das
mulheres, especialmente das mulheres trabalhadoras, que alias são maioria absoluta da
população brasileira; pelos direitos dos negros e das negras, especialmente daqueles e
daquelas que fazem parte da classe trabalhadora, lembrando que o Brasil é um dos
países com maior número de afrodescendentes do mundo inteiro; pelos direitos das
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, lembrando que o Brasil
é um dos países onde mais crimes são cometidos contra esses setores da população;
pelos direitos da juventude, num país em que grande parte da população tem menos de
30 anos, são filhos da classe trabalhadora, com dificuldade de estudar, trabalhar e
viver com dignidade; pela defesa das questões ambientais e dos povos originários,
num país que há séculos vem sendo saqueado em benefício dos de cima e dos de fora.
A luta da classe trabalhadora brasileira bebe da teoria e da prática de todos os que
lutaram por uma sociedade sem exploradores nem explorados, sem opressão nem
dominação de nenhum tipo.
Mudar a estratégia inclui perceber que, no Brasil, a classe dominante sempre controlou
o poder de Estado, raramente tendo perdido o controle dos governos e parlamentos.
Especialmente num país em que a classe dominante tem um DNA golpista, a classe
trabalhadora deve lutar pelo poder de Estado, não apenas pelo governo. Esta luta pelo
poder inclui várias formas de luta de massa, inclusive a eleitoral, mas só será completa
quando a maioria do povo brasileiro fizer uma grande revolução política e social,
construindo um Estado de novo tipo, incluindo aí meios de comunicação, judiciário e
forças armadas que sejam controlados pela maioria da população brasileira.
O governo Jair Bolsonaro é apoiado pela maioria do Senado e pela maioria da Câmara
dos Deputados. Entretanto, o Partido Social Liberal (ao qual Jair Bolsonaro é filiado) é
minoritário tanto no Senado quanto na Câmara: 4 senadores em um total de 81
senadores; e 52 deputados em um total de 513 deputados.
Além do governo e do parlamento, o governo Jairo Bolsonaro foi eleito com amplo
apoio nas Forças Armadas e no sistema judiciário.
Entretanto, desde o dia da posse até o final de abril, a aparência pública é de que se
trata de um governo cheio de conflitos internos, que incluem disputas públicas entre o
presidente e o vice-presidente. Os conflitos são tamanhos, que há quem especule sobre
a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro não chegar até o final do mandato.
Uma das fontes de conflito está na relação entre o presidente e alguns dos principais
meios de comunicação do país, como a Rede Globo e o jornal Folha de S. Paulo. Estes
meios de comunicação apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula e
fizeram campanha contra a candidatura do PT nas eleições presidenciais de 2018.
Entretanto, mantém uma relação tensa com Bolsonaro, por diversos motivos:
*Bolsonaro considera que a grande mídia é contra ele, aposta nas redes sociais e vem
cortando verbas publicitárias.
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Outra fonte de conflito está na relação entre o presidente e a política tradicional, mais
precisamente os parlamentares eleitos pelos partidos de centro e direita que apoiaram
Bolsonaro para derrotar o PT. Esses conflitos tem duas fontes principais:
*embora tenha sido parlamentar por 28 anos, Bolsonaro construiu para si mesmo a
imagem de um político “antissistema”, que "não compactua" com a "velha forma" de
fazer política. Mas sem os partidos tradicionais da centro-direita, Bolsonaro terá
muitas dificuldades em governar. Até o momento em que aprovamos esta resolução, o
governo ainda não conseguiu construir um modus vivendi com o parlamento;
Uma terceira fonte de conflito tem relação com as expectativas criadas e as entregas
realizadas.
Uma quarta fonte de conflito está no estilo de atuação do clã familiar do presidente.
Há provas crescentes de envolvimento de seu clã, presidente incluído, com o crime
organizado, com milícias, contrabando, crimes de todo o tipo. Embora as forças
armadas e o partido do judiciário façam de tudo para proteger o presidente, esta
proteção é dificultada pelo papel destacado que os filhos do presidente assumiram na
definição da política do governo.
Tudo isto somado produz uma crescente erosão na imagem do presidente. Vale
lembrar que cerca de 57 milhões de eleitores votaram nele, contra em torno de 78
milhões de pessoas que não votaram. Ou seja: a erosão na imagem do presidente, com
a consequente redução das pessoas que o defendem espontaneamente, mais o
descrédito dos que não votaram nele, adicionado a rejeição dos que votaram contra
ele, muito facilmente gera a impressão de que a imagem do presidente estaria
desmoronando. Mas esta impressão não deve ser, ao menos no momento, exagerada.
Há uma erosão sim, ela pode se acelerar muito, mas ainda não chegamos a um ponto
de não retorno. Inclusive porque o governo possui uma base de apoio muito forte, o
que inclui um "exoesqueleto" garantido pelos militares.
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Cabe lembrar, também, que a atitude do governo frente a erosão de sua imagem não é
de recuo. Pelo contrário, o período janeiro-abril de 2019 foi de ofensiva intensa contra
os direitos sociais, contra as liberdades democráticas e contra a soberania nacional, Ou
seja: a erosão de imagem está ligada em grande medida ao cumprimento do programa
ultraliberal, entreguista e autoritário.
Neste sentido, é preciso ter claro que o clã Bolsonaro, por mais tosco que pareça ser,
mantém vínculos com pensadores e instituições internacionais da extrema direita. Um
dos casos mais destacados é a relação entre Steve Bannon e o deputado federal
Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente.
Por tudo isso, é preciso superar a interpretação ingênua que se faz acerca de algumas
atitudes aparentemente bizarras do presidente e de seu clã nas redes sociais. Claro que
eles cometem erros, mas grande parte de suas opções é consciente e baseada numa
estratégia que foi eficaz nas eleições presidenciais, não apenas no Brasil, mas também
em outros países do mundo.
A decisão recente do TSJ deve ser vista neste contexto: por um lado, convalidou a
prisão e a condenação de Lula. Por outro lado, reduziu a pena e a multa. Mas a
redução foi cirúrgica, pois torna em tese possível que Lula saia em condicional no mês
de setembro. Sendo que em agosto, um mês antes, Lula deve ser julgado (e
provavelmente condenado) em um segundo processo. A conclusão é que Lula também
é utilizado como "moeda de troca", como "refem" nas disputas entre os diferentes
integrantes da coalizão que governa o país.
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atitude da maior parte da classe trabalhadora, que está crescentemente insatisfeita, mas
que AINDA não se mobilizou com a força necessária para impor uma outra saída para
a crise nacional.
Ao longo dos primeiros meses de governo Bolsonaro, ficou claro existirem inúmeros
conflitos no interior da coalizão golpista. Ficou claro, também, que sua base social e
eleitoral pode ser abalada, tanto por estes conflitos, quando principalmente pelos
efeitos práticos da ação de governo, especialmente a crise e o desemprego. Ficou
claro, finalmente, que existe uma possibilidade real da reforma da previdência não ser
aprovada pelo Congresso Nacional. O que faria a crise política vai se agudizar ainda
mais.
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A estratégia e os métodos eleitorais, governamentais, parlamentares, partidários, de
organização e mobilização que predominaram até agora, não são adequados ou
suficientes para contribuir para uma mudança na correlação de forças.
Até porque a tática adotada pelo governo Bolsonaro é ofensiva: atacar o movimento
sindical, mobilizar contra a “velha política”, emitir sinais de que pode adotar novas
medidas de exceção. Isso comprova que não estamos diante de um governo “normal”.
Um de seus objetivos declarados é destruir seus inimigos. Não apenas derrotar.
Este governo pode sofrer muitas derrotas parciais e, inclusive, Bolsonaro pode não
chegar ao final de seu mandato. Mas, repetimos, o “exoesqueleto” deste governo é
composto por mais de 60 militares ocupando postos estratégicos no governo federal,
inclusive a vice-presidência da República, que lá chegaram como parte de uma “frente
ampla antidemocrática” apoiada pelo PIG, pelo partido do judiciário, pelo grande
capital. Esta coalizão e este governo não serão derrotados do mesmo jeito que
derrotamos os governos tucanos em 2002.
Acontece que a única “frente democrática” capaz de derrotar este governo é aquela
que seja capaz de mobilizar o povo. E para isto não basta falar de “liberdades
democráticas”. É preciso falar da defesa da soberania nacional e, principalmente, dos
direitos sociais da imensa maioria do povo brasileiro. Motivo pelo qual não faz sentido
construir uma “frente” com os setores supostamente moderados do golpismo, mas que
compartilham do programa ultraneoliberal. Nem faz sentido defender alianças
estratégicas com setores oposicionistas, mas que defendem arrocho salarial e
capitalização da previdência.
Assim, o caminho real para constituir uma “ampla frente” passa pelo fortalecimento da
Frente Brasil Popular como instrumento de mobilização das lutas populares, em
articulação com a Frente Povo Sem Medo, com as centrais sindicais, os movimentos
populares e sociais, o mundo da arte e da cultura, as juventudes, as mulheres, os
movimentos LGBTs, os movimentos de combate ao racismo.
Portanto, construir uma "frente popular" é imperativo para conquistar o apoio das
classes trabalhadoras, seja para derrotar Bolsonaro e a coalizão que o sustenta, seja
para lutar por um projeto democrático, popular e socialista.
O caminho para derrotar este governo é, no fundamental, o mesmo que teve sucesso
contra a ditadura militar, no final dos anos 1970: a luta de massas em torno dos
objetivos populares.
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Por isso, mais do que nunca, política e organização são inseparáveis. Radicalizar a
retórica, mas manter o estilo parlamentar e institucional de funcionamento e trabalho,
não passa de bravata.
O governo Bolsonaro não cairá sozinho, nem será substituído por algo melhor, se não
houver luta, capaz de aglutinar importantes setores sociais, tais como as lutas e
mobilizações em defesa da educação, do SUS, do financiamento público à moradia e
outras. Sendo assim, nossa tarefa neste ano de 2019 é concentrar todos os esforços em:
*defender as organizações da classe trabalhadora e lutar por Lula Livre, pois enquanto
Lula estiver sequestrado, enquanto sua pena não for anulada, é porque continuamos
num estado de exceção;
O único setor que a PEC 006/2019 não atinge são os militares. Estes foram objeto de
outro Projeto, que amplia as distorções na previdência entre civis e militares, além de
ampliar as distorções entre os próprios militares.
As medidas propostas pela PEC 006/2019 farão com que os brasileiros e as brasileiras
se aposentem mais tarde; contribuam por mais tempo; recolham contribuições
maiores; recebam benefícios menores; não tenham garantia de correção automática
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dos valores recebidos. As mulheres serão as maiores prejudicadas pelas mudanças
propostas.
As duas principais mudanças propostas pela PEC 006/2019, entretanto, dizem respeito
ao modelo de aposentadoria. No Brasil, a aposentadoria é tema constitucional; a PEC
propõe tirar o assunto da Constituição. Hoje, a aposentadora pública é baseada no
principal da universalidade e da solidariedade intergeracional. Todos os trabalhadores
que estão na ativa contribuem para pagar as aposentadorias dos que já deixaram o
mercado de trabalho. A proposta da PEC 006/2019 quer introduzir o modelo de
capitalização: cada trabalhador contribuirá numa conta privada, para garantir a sua
própria aposentadoria.
Onde foi adotado, o regime de capitalização permitiu grandes negócios para o setor
financeiro; mas jogou a maioria dos aposentados numa situação de velhice miserável.
O governo Bolsonaro defende que a reforma deve ser feita, entre outros motivos
porque a população estaria envelhecendo e também porque o déficit tornaria a
previdência insustentável.
Este tipo de argumento vem sendo utilizado desde o dia seguinte à aprovação da
Constituição de 1988. Mas há inúmeros estudos demonstrando que o chamado déficit
da previdência é uma falácia contábil. Além disso, a experiência recente demonstrou o
impacto positivo, sobre o financiamento da previdência, que resulta da geração de
empregos formalizados e da cobrança das empresas criminosamente inadimplentes.
Tanto nas oposições, quanto na base do governo, a reforma proposta por Bolsonaro
não foi bem aceita. Claro que convicções podem mudar, especialmente se os bancos
resolverem participar ativamente do convencimento de certos parlamentares. Claro,
também, que a reforma pode parecer pior ou melhor, a depender do número de pessoas
que participe das mobilizações contra a reforma. Destaca-se, nesse sentido, a greve
geral convocada por todas as centrais sindicais, durante o 1º de Maio unificado.
Importante dizer que esta greve geral só terá êxito se ela for, não apenas um anúncio,
mas um processo a ser construído em cada ambiente de trabalho, estudo e moradia.
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Os que defendem isto desconsideram ou minimizam três questões. A primeira questão:
para a reforma ser derrotada, é preciso que a maioria da população tome conhecimento
da proposta. É mais fácil fazer isso, como fizemos no caso da reforma proposta por
Temer, apresentando o conjunto da reforma como negativa. A segunda questão: a
reforma é mesmo globalmente negativa. Não há nada de aproveitável. E, diferente das
feitas anteriormente, esta introduz a desconstitucionalização e a capitalização. Terceira
questão: a tática para derrotar é uma, a tática para negociar é outra. Adotada a tática de
negociar, as bancadas de oposição teriam que defender aspectos da proposta do
governo e, além disso, teriam que abrir mão de diversos instrumentos, por exemplo a
obstrução das sessões. E o resultado mais provável, a preços de hoje, não seria o mal
menor, mas o mal maior.
Lula foi preso para impedir que concorresse às eleições de 2018, para impedir que
fizesse campanha nas eleições de 2018 e, principalmente, para facilitar a operação de
cerco e aniquilamento que um setor da direita pretende executar contra a esquerda em
geral e contra o PT em particular;
Lula não foi preso porque seria culpado, Lula não foi preso porque teria cometido
crimes, Lula não foi preso por ter sido submetido a um julgamento justo. A narrativa
da direita apresenta o PT como uma quadrilha e Lula como seu chefe. Mas Lula é, na
verdade, um preso político. Os que divergem de Lula, inclusive no que diz respeito às
relações mantidas com o empresariado em geral e com empresários em particular, têm
todo o direito de fazê-lo, mas não devem confundir isto com as causas de sua prisão.
Não lutamos apenas pela liberdade de Lula. Lutamos pela anulação de sua pena. Para
a direita, condenar seguidas vezes Lula, restringir seus direitos (como dar entrevista,
votar, ir ao funeral do irmão) e mantê-lo preso “até apodrecer” é parte importante da
operação para alinhar o Brasil aos EUA, ampliar a exploração e restringir as
liberdades da classe trabalhadora. Para a esquerda, lutar por anular a pena e libertar
Lula é parte importante da luta por derrotar o governo de extrema direita e suas
políticas.
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A luta pela libertação de Lula, assim como pela anulação de sua pena, é inseparável
das demais lutas do povo brasileiro, como a defesa da previdência, das liberdades
democráticas e dos direitos sociais, da soberania nacional, da paz e da Venezuela. A
luta por Lula livre só terá êxito através da mobilização de massa, não havendo motivo
algum para acreditar em conchavos com a direita, nem tampouco em decisões judiciais
favoráveis.
A luta pela liberdade de Lula ainda não é consenso entre as forças de esquerda,
democratas e progressistas no Brasil. Mesmo dentro do PT, há setores que não sabem,
não entendem ou não querem perceber o papel central desta luta, no atual contexto
histórico. O que quer dizer que não percebem o papel central que jogou a chamada
Operação Lava Jato, tanto no golpe quanto na eleição de Bolsonaro. Há setores e
lideranças do Partido que afirmavam, ainda em 2018, que a Operação Lava Jato teria
aspectos positivos.
Também há os que acreditam que Lula teria mesmo cometido ou deixado cometer
alguns malfeitos; portanto, o problema não estaria na condenação, mas sim no caráter
seletivo da punição ou no exagero da pena. Um caso extremo desta posição é o de Ciro
Gomes, que faz coro com a direita.
A história poderia ter sido outra, se já em 2005 o PT tivesse modificado sua estratégia,
se tivesse enfrentado o monopólio da mídia, se não tivesse mantido ilusões acerca do
papel do empresariado, da mídia, do judiciário, dos partidos de centro e direita, das
forças armadas, se tivesse adotado outra tática frente ao chamado “mensalão”.
Quem se cala, quem relativiza, quem não se mobiliza a favor da campanha Lula Livre,
contribui por ação ou omissão com os propósitos da coalizão que deu o golpe de 2016
e venceu as eleições de 2018. Não haverá liberdades democráticas, enquanto Lula não
estiver livre e suas penas anuladas.
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O pacote de caráter supostamente “anticrime”, proposto pelo ministro Sérgio Moro,
faz parte, ao lado da tutela militar, de um conjunto de medidas que visam instalar no
Brasil um estado de exceção.
É preciso entender o seguinte: o estado de exceção que as medidas propostas por Moro
buscam instaurar é necessário a este governo, não apenas para impedir que a esquerda
possa derrotá-lo, mas também para lidar com algumas das consequências do programa
de Bolsonaro.
Com o estado de exceção, trata-se de legalizar que a questão social passa a ser um
caso de polícia, como nos anos 1920.
O pacote “anticrime” de Moro contém uma série de medidas que visam aumentar o
patamar da punição contra quem comete crimes de menor potencial ofensivo e com
isso inchar ainda mais o nosso já degradado sistema penitenciário. É o
aprofundamento do já existente processo de criminalização da pobreza, que atinge,
sobretudo, a população negra.
Mas o pacote “anticrime” Moro não para por aí. Medidas de criminalização dos
movimentos sociais, a legalização da prisão sem condenação definitiva, restrições de
comunicação e de acesso aos advogados e ao mundo fora das prisões para quem
cumpre pena, tudo isto está sendo apresentado no pacote. É líquido e certo que Lula é
alvo destas medidas e que o endurecimento das suas condições carcerárias é um
objetivo do atual ministério controlado pelo ex-juiz.
Não titubeamos em afirmar que o conjunto de medidas apresentadas por Moro não é
solução para o problema da segurança pública no Brasil. Já está exaustivamente
demonstrado que o aumento da repressão, do encarceramento, das penas e do caráter
autoritário da persecução criminal não resolvem problemas como a violência, o crime
organizado e a corrupção.
O PT não tem receio de apresentar ao país a nossa visão sobre o que é uma política de
segurança pública voltada para o bem-estar do povo e para o efetivo combate à
violência, numa sociedade livre, justa e menos desigual.
Já o programa ultraliberal que está sendo aplicado pelo governo Bolsonaro vai causar,
no curto e no médio prazos, um grande empobrecimento da população e por isso
precisa vir junto com medidas de endurecimento que, na prática, têm como objetivo
conter tensões sociais, criminalizando os pobres, os manifestantes, as organizações e
lideranças políticas populares.
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Trata-se de um governo que vende a falsa ideia de que vai combater a violência com
mais repressão e, ao mesmo tempo, adota medidas para possibilitar maior alcance a
armas de fogo. É fundamental que sejam desmascarados e carimbados: são anti-povo,
anti-direitos, anti-vida, pró-violência.
A execução política da vereadora Marielle Franco (RJ) e a relação deste crime com as
milícias cariocas e com um ambiente próximo do presidente da República reforçam a
gravidade da situação que estamos vivendo.
Não nos enganamos: o alvo de Moro e do governo Bolsonaro são os pobres, negros e
negras, a esquerda em geral, o PT e Lula. Não mediremos esforços para derrotar, nas
ruas e no Congresso, o referido projeto.
Nosso apoio à Venezuela deve ser ativo: trata-se de difundir as razões da Venezuela,
desmascarar os pretextos do imperialismo e das oligarquias, organizar manifestações
em todo o Brasil e enviar delegações solidárias à Venezuela.
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Nosso apoio inclui e supõe, também, polemizar com aqueles setores que — a pretexto
de diferenças que mantém com as posições do PSUV e do chamado chavismo —
adotam posições de solidariedade “condicional” à Venezuela. Os que sinceramente
defendem mudanças na política do chavismo, precisam antes de mais nada cerrar
fileiras para defender a sobrevivência da República Bolivariana da Venezuela. Pois se
o imperialismo e a oligarquia vencerem, não haverá correção de rumo possível.
CENÁRIOS E DESAFIOS
O governo Bolsonaro conseguirá chegar até o final? Vai conseguir implementar seu
programa? A que custo? Através de que meios?
Não há como responder, de maneira definitiva e inequívoca, a todas nem a cada uma
destas perguntas, pois o que acontecerá depende de três variáveis: 1/ a evolução da
situação internacional, 2/ a manutenção (ou não) da unidade entre as forças que deram
o golpe e 3/ a intensidade e a direção com que atue a oposição, especialmente a
oposição de esquerda ao governo Bolsonaro.
Bolsonaro pode não chegar ao fim de seu mandato, como Fernando Collor e Jânio
Quadros não chegaram. Mas isso não quer dizer que a frente ampla golpista e o
governo resultante não consigam aplicar seu programa. Bolsonaro é, em certa medida,
uma peça descartável. Como já foi dito, o “exoesqueleto” do governo Bolsonaro é
composto por mais de 60 militares ocupando postos estratégicos no governo federal,
inclusive a vice-presidência da República.
Nos próximos dias, semanas e meses, haverá grandes batalhas no Brasil: contra a
reforma da previdência, contra as medidas de (in)segurança propostas pelo governo,
em defesa dos direitos sociais e humanos, em defesa da educação pública, gratuita e de
qualidade, em defesa das liberdades democráticas, em defesa da paz e da Venezuela,
em defesa de Lula Livre e pela anulação de suas penas.
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explícito. Este risco não se contorna recuando, desistindo de disputar, desistindo de
vencer. As ameaças de endurecimento se enfrentam ampliando nosso investimento na
politização e na organização das classes trabalhadoras, do povo brasileiro.
O Partido dos Trabalhadores resiste, mas não tem como objetivo apenas resistir. O
objetivo do PT e de toda a esquerda é resistir, é derrotar o governo Bolsonaro e a
coalizão que o sustenta, é voltar a governar o Brasil, é realizar transformações
profundas na sociedade brasileira.
No seu discurso de posse, o presidente da extrema direita disse que sua posse era “o
dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. No que depender do Partido
dos Trabalhadores, será o contrário. Pois num país em que a classe dominante só tem a
oferecer, ao povo, mais dependência, exploração e opressão, a verdadeira esperança é
vermelha e bate do lado esquerdo do peito: o socialismo.
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