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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Letras – Linguística e Língua Portuguesa


Disciplina: Teorias e Práticas do Discurso
Professora: Jane Quintiliano Guimarães Silva
Alunos: Lairson Barbosa da Costa
Jair Alcindo Lobo de Melo

POLIFONIA E ARGUMENTAÇÃO EM O VIÉS DA BURRICE OU UMA


QUESTÃO DE DEBOCHE À LUZ DE DUCROT

Lairson Costa
Jair Melo

1 INTRODUÇÃO

Nosso encontro mais de perto com Ducrot aconteceu na disciplina Teorias e


Práticas do Discurso, módulo I, ministrada pela Professora Jane Quintiliano. Mesmo já
tendo estudado autores que tratam da enunciação e do enunciado, foi na teoria postulada
por Ducrot e colaboradores – primeiramente Jean-Claude Anscombre; depois Marion
Carel – que consegui compreender com mais clareza os constituintes do enunciado:
locutor e enunciadores propostos nessa teoria. Por isso me desafiei a construir este
artigo que serve como avaliação final da disciplina citada.
Embora minhas pesquisas não estejam relacionadas com a linguística aplicada,
vi na Teoria da Argumentação na Língua de Ducrot e colaboradores, em particular as
teorias dos topoi1 e mais recentemente a teoria dos blocos semânticos, uma excelente
contribuição para as minhas práticas como professor no ensino de leitura e produção de
texto desenvolvidas nos diversos níveis de ensino do Instituto Federal do Pará. Prova

1
Interessam-me neste trabalho os topoi que, segundo Ducrot (apud Moura, 1998, p. 4), “são fontes de
discurso, e não como o terceiro termo, como a garantia que assegura e valida a passagem de uma ideia à
outra ideia, de um argumento a uma conclusão. [...], pois no início da teoria dos topoi havia a tendência
(uma tendência equivocada) de apresentar o topos como um princípio inferencial [...]”.
desta contribuição, entre outros, é o trabalho de Elenice Maris Larroza Andersen, que
mostra como a polifonia de Ducrot pode, como afirma Barbisan ( ), ajudar alunos a
identificarem “a presença do tu no discurso do eu e, pelo trabalho de reescritura em
sala de aula, ensine-os a produzir textos”.
Como nosso trabalho se enquadra principalmente como revisão bibliográfica,
utilizamos como metodologia a leitura de obras que consideramos mais importantes
para explicar os conceitos-chave para este artigo, bem como selecionamos como corpus
os excertos do artigo de opinião de autoria de Marina Andrade: O viés da burrice ou
uma questão de deboche, publicado no jornal Ultrajano a fim de, por meio dos
conceitos escolhidos, fazermos breve análise. Ainda como estratégia metodológica,
apresentamos o percurso feito por Ducrot e colaboradores para construir essa teoria que
orienta o desenvolvimento das pesquisas em Semântica Argumentativa, com ênfase
naqueles que dizem respeito ao recorte feito neste trabalho: polifonia, argumentação,
encadeamento argumentativo, topoi e TBS. Por isto, não obedeceremos linearmente à
sequência cronológica destes percursos. Consideraremos na análise do artigo “O viés...”
o enunciado e seus constituintes: locutor os enunciadores – a argumentação pelo viés da
polifonia do enunciado –, os encadeamentos argumentativos, bem como os operadores
argumentativos que marcam a polifonia, uma vez que o objetivo deste artigo é
apresentar como se dá o processo de construção de sentidos na língua instaurados no
discurso por meio da polifonia e da argumentação.
Dada a proposta deste trabalho, o de servir apenas como avaliação de
conclusão de disciplina, limitar-nos-emos a tecer breves comentários sobre os percursos
teóricos que permitiram a Ducrot e parceiros chegarem à formulação de seu construto
teórico.

2 PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES: Enunciação, enunciado, argumentação

Para Ducrot (1967, p. 168), a enunciação é um acontecimento que se dá pelo


aparecimento do enunciado. Tal acontecimento tem caráter estritamente temporal. Nele
algo que não existia passa à existência, mas não mais existirá depois. Essa aparição
momentânea do enunciado, a que Ducrot chama de enunciação, tem sua origem em um
sujeito falante, cujo objetivo é comunicar um sentido a alguém. Para Ducrot e
Anscombre (1994, apud LUNARD, 2012), a enunciação é a “atividade da linguagem
exercida por quem fala no momento em que fala”. O enunciado, para Ducrot (1987, p.
164), “traz consigo uma qualificação da enunciação”, de modo que constitui o sentido
do enunciado.
Com relação à argumentação, Ducrot (idem) afirma ser argumento “um
enunciado que, ao ser dito, por sua significação leva a uma outra significação, uma
conclusão. O autor continua afirmando que “significação” deve ser usada para
caracterizar semanticamente uma frase; enquanto sentido para caracterizar
semanticamente o enunciado.
Ducrot (2002) afirma que o sentido provém do discurso, que são os
encadeamentos argumentativos, ou seja, a “sequência de duas proposições (no sentido
sintático do termo) ligadas por um conector”.
É nessa descrição da enunciação constituindo o sentido que devemos distinguir
o autor das palavras (locutor) e os agentes dos atos ilocucionários (enunciadores).
A teoria de Ducrot, segundo Flores e Teixeira (2005, apud LUNARD, 2012, p.
30), é “uma semântica argumentativa voltada para as questões da enunciação, porque
considera no sentido do enunciado a presença de diferentes vozes, ou seja, a polifonia e
os princípios argumentativos que direcionam os sentidos dos enunciados”.
Segundo Moura, em 1983 Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre
apresentam, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, o artigo
L’argumetacion dans la langue, considerado basilar na construção teórica da Teoria da
Argumentação na Língua. Nesse artigo, numa abordagem semântico-argumentativa, os
autores tratam a argumentação como a função mais importante da linguagem.
Para Ducrot, como expressa na teoria, a argumentação está inscrita na própria
língua. Sua teoria, segundo Jacob (1990), está em oposição à ideia de que “o sujeito
falante apresenta um argumento como justificativa para uma determinada conclusão”,
ou seja, ao fato de o argumento conter um fato e se constituir na apresentação de uma
razão. Isto, segundo Ducrot, é não creditar a conclusão à linguística, mas à logica, à
psicologia ou à sociologia. Assim, a razão, para Jacob (1990, p. 157), “se decompõe em
um argumento e uma lei, sendo esta a responsável pelo “salto” do argumento para a
conclusão”. O autor dá o seguinte exemplo:

(A): Você é amigo de espiões


(C): Você é um espião
(L): “Diga com quem andas que direi quem és”
Jacob diz que, seguindo a perspectiva apresentada acima, “esta sequência
argumentativa seria analisada por meio da identificação de uma lei (um princípio geral
comum aos falantes – [L]), que somada a um argumento (uma informação específica
sobre um estado de coisas do mundo, um fato – [A]), formaria a razão responsável pela
conclusão (C).
Ducrot (apud MOURA, 1998, p. 4) não concorda com a perspectiva dessa
análise e tal posicionamento é reiterado por ele ao dizer em entrevista a Moura que lhe
parece “que a ideia geral que domina todo o meu trabalho é a percepção de que a língua
(mais precisamente, deveríamos falar em discurso) não pode ser reduzida à função
informativa e que as frases da língua comportam, semanticamente, elementos que não
equivalem às condições de verdade” e que seus trabalhos com Anscombre (1995),
Raccah (1995), Carel (1995), entre outros, embora reconhecendo divergências em seus
trabalhos anteriores, fazem descrição integral da língua sem a utilização da noção de
condição de verdade.

SEÇÕES A APRESENTAR

ARGUMENTAÇÃO EM DUCROT

A teoria da argumentação é baseada nos trabalhos publicados, no final dos anos


1970, de Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre: de Ducrot et. al. (1980): Les mots
du discours; de Ducrot e Anscombre (1983) el fundamental L’argumentation dans la
langue; de Ducrot (1984): Le dire et le dit; de Anscombre (1995): Théorie des topoï.

Os pontos de partida desta teoria estão no paradigma estrutural (notadamente no


que se à semântica estrutural paradigmática), na filosofia analítica inglesa de Austin e
Searle e sua rejeição do verificacionismo e da teoria da enunciação de Benveniste.

Os estudos de Ducrot estão inseridos em uma concepção estruturalista integrada,


porque rejeita a concepção de língua como conjunto de estruturas e regras independente
de toda enunciação e contexto. Nos estudos da teoria do autor, é possível observamos
elementos da pragmática, dos estudos do discurso, muito embora a preocupação de
Ducrot seja de descrever a língua. Ele nega a ideia de que a língua tem primeiramente
uma função referencial e que o sentido do enunciado se julgue em termos de verdade e
falsidade.

A Teoria da Argumentação na Língua de Ducrot nasce dos estudos do


estruturalismo Sausurriano e trabalha com a noção de relação em que a descrição dos
elementos linguísticos do sentido e da argumentação se dá por intermédio da relação
entre os próprios elementos linguísticos. A teoria tem dois objetivos: o primeiro é se
contrapor à concepção tradicional de sentido e o segundo é se contrapor à concepção
tradicional de argumentação. O autor faz uma crítica aos estudos que ele denomina de
estudos tradicionais de argumentação: os estudos da antiga retórica e dos diferentes
estudos da retórica moderna, da retórica mais contemporânea, por isso Ducrot faz uma
crítica a esses estudos da retórica, dizendo que eles são uma teoria ingênua da
argumentação.

Para ele, a concepção tradicional de argumentação lida com três concepções:

1º condição: O discurso deve conter dois segmentos: A e C. O segmento A é o


argumento e o C é a conclusão.

Exemplo: “Faz bom tempo, vamos passear”

A: Faz bom tempo é o argumento que leva à conclusão “passear”

B: Vamos passear

2ª condição A indica um fato F

Se A indica um fato F, é suscetível de ser falso ou verdadeiro, logo pode ser


julgado independente de C. Esse argumento indica um fato. Esse fato “Faz bom tempo”
pode ser julgado em termos de verdade ou falsidade. Isso pode, ainda, ser feito
independentemente da conclusão que se tire dele.

Estratégia: pedir a aprovação do interlocutor antes da conclusão.

Ex.: Você concorda que faz calor/bom tempo?


Crítica: Para Ducrot (1988), isso não é uma estratégia eficiente do ponto de
vista argumentativo, porque, dependendo da concepção que se tem de “bom tempo” ou
de “calor”, se vai chegar a uma conclusão ou a outra. Para o autor, as palavras não têm
sentido completo antes das conclusões que podem ser retiradas delas.

A e C são dois segmentos de um mesmo enunciado.

Exemplo a: “Faz calor, vamos passear”

Exemplo b: ‘Faz calor, não vamos passear

No exemplo (a), o argumento “Faz calor” pode ser interpretado como algo bom
como algo positivo que lhe permite passear, mas no exemplo (b) o argumento “Faz
calor” é entendido como algo desagradável que não me permite passear. Se pensarmos
não em termos semânticos, mas em termos pragmáticos, o segmento “Faz calor, vamos
passear” numa região fria, faz todo sentido, mas o mesmo segmento dito no contexto da
realidade de regiões muito quentes já não faz tanto sentido. Para Ducrot, fazer essa
relação do fato com a conclusão é extremamente complexo porque as palavras não têm
sentido isoladamente sem a relação dela com outras palavras.

3ª condição: para que haja argumentação, na concepção tradicional, é necessário


que a conclusão C possa ser inferida a partir do fato F, e não necessariamente a partir do
segmento, ou seja, há uma relação de implicação entre F e C. Se o argumento leva à
conclusão e o argumento está relacionado com o fato, então é o fato que vai permitir a
conclusão. É a noção de calor, é o tipo de calor, é a natureza do calor que vai nos
permitir chamar ou não para passear ou concluir que não é possível passear. Para Ducrot
(1988), o laço argumentativo que une F (fato) a C (conclusão) não está determinado
pela língua, mas depende de outros fatores (da lógica, da psicologia ou talvez do
conhecimento de mundo dos interlocutores) e não necessariamente do elemento
linguístico.

A língua, nesse caso, está restrita a fornecer conectores como logo, então etc.
Ex.: Faz calor, logo vamos passear. Ex.: faz calor, mas não vamos passear. Então o
papel da língua seria fornecer os elementos conectores que fazem a relação entre o fato
e a conclusão. Nessa perspectiva, a língua desempenha um papel muito reduzido na
argumentação, porque, em sua essência, a argumentação estaria fora da língua
Ducrot faz uma crítica à concepção retórica de argumentação, para o autor, a
Retórica ocupa-se dos fatos, dos valores, dos Topoi, das crenças, em suma, de todos os
elementos que levam à argumentação, portanto à determinada conclusão, e não à língua
em si. Para o autor, a conclusão não se explica por intermédio do fato, mas também pela
própria forma linguística. Ducrot começa a analisar determinados enunciados que se
referem ao mesmo fato, mas que levam a conclusões contrárias, diferentes, no mesmo
contexto.

Exemplo:

a- O que você achou do jogo do flamengo.

b- O time jogou pouco

c- O time jogou um pouco.

Temos o mesmo fato: O flamengo jogou, com duas estruturas linguísticas


distintas, as quais possibilitam distintas conclusões: uma conclusão negativa de que o
time teve um desempenho abaixo do esperado; outra positiva que nos leva à
compreensão de que o time, pelo menos, tentou jogar, se esforçou minimamente. Ou
seja, temos os mesmos elementos (time, fato, contexto), com conclusões bem diferentes,
porque a forma linguística utilizada leva a direções argumentativas, leva a orientações
completamente diferentes e até opostas.

Ao observar os fatos da natureza da língua, Ducrot propõe uma nova teoria da


argumentação para dizer que a argumentação está na língua. Não está nos fatos, na
lógica, na psicologia ou em outros elementos. Por ser uma teoria de natureza linguística
e uma teoria semântica, o autor também quer se opor a uma concepção tradicional de
sentido. O autor afirma que, tradicionalmente, o sentido é descrito através de três
indicações: objetivas, subjetivas e intersubjetivas.

No exemplo: Maricota é inteligente, o aspecto Objetiva desse enunciado seria de


que o enunciado serve para descrever Maricota. O aspecto subjetivo seria de que o
locutor o qual disse o anunciado tem uma espécie de admiração por Maricota e, por fim,
o aspecto intersubjetivo seria de que um enunciado como esse permite ao locutor que
fale com seu interlocutor ou que se dirija ao seu interlocutor no sentido de que se passe
a confiar em Maricota ou se passe a dar credibilidade a Maricota.

Para Ducrot, o aspecto objetivo é o que se denomina de denotação nos estudos


da semântica e os aspectos subjetivo e intersubjetivo é o que comumente se chama de
conotação. O autor quer eliminar essa dicotomia Denotação-Conotação, pois, para ele, a
linguagem não tem uma parte objetiva, nem os enunciados descrevem a realidade (a
teoria para Ducrot é não veritativa). Se a linguagem ordinária, em algum momento, se
torna objetiva, é através dos aspectos objetivos e subjetivos.

Não acredito que a linguagem ordinária possua uma parte


objetiva tampouco acredito que os enunciados da
linguagem deem acesso direto à realidade; em todo caso
não a descreve diretamente (DUCROT,1988, p.50)

Para Ducrot (1988), se a linguagem ordinária (linguagem do dia a dia) descreve


a realidade, isso se dá por meio dos aspectos subjetivos e intersubjetivos e a esses
aspectos ele denomina de valor argumentativo dos enunciados. Argumentação, para o
autor, seria a reunião dos aspectos subjetivos e intersubjetivos, mas também com a
orientação argumentativa que é gerada no enunciado a partir do uso de determinado
elemento linguístico. Por essa razão, Ducrot afirma que a língua é fundamentalmente
argumentativa, porque as estruturas da língua, quando são utilizadas em um
determinado anunciado, permitem determinadas orientações e estão ali em razão dos
aspectos, subjetivos e intersubjetivos (aspectos que têm a ver com o uso da linguagem e
consequentemente com a sua funcionalidade).

Ducrot (1988) assevera que o valor argumentativo de uma palavra ou de um


termo de uma estrutura é orientação que essa palavra dá ao discurso. O autor afirma que

Na verdade, no meu ponto de vista, o emprego de uma


determinada palavra, de uma determinada expressão
linguística, torna possível ou não uma determinada
continuação do discurso e o valor argumentativo de uma
palavra é exatamente o conjunto dessas possibilidades ou
impossibilidades de continuação do discurso que está, de
alguma forma, relacionado com o emprego dessa palavra
naquele discurso. (DUCROT, 1988, p.51)
Quando utilizamos determinada palavra, esta permite que o discurso continue
numa dada direção, isso para o Autor é a argumentação. Essa direção também é ao
mesmo tempo o sentindo. Ducrot recupera o sentido do inglês (sense) que é ao mesmo
tempo significação (meaning) e direção (direction). O autor, ao tratar de sentido, está
falando de significação, mas também está tratando de direção. A palavra tem algo que
traz de significação, da sua essência determinada pelos usos que se têm dessa palavra,
em diferentes contextos, mas que permite determinada direção no discurso.

O sentido é essa significação e essa direção, por isso não podemos separar
sentido de argumentação. O sentido tem a ver com direção nessa perspectiva, logo a
argumentação está ligada ao sentido estrito do enunciado, mas também à direção que
esse enunciado dá em um determinado discurso. Para teoria da argumentação na língua,
frase e anunciado não são a mesma coisa, sentido e significação também não são a
mesma coisa.

Conceitos Básicos.

Frase é uma entidade linguística abstrata, que não pertence ao nível do


observável, nós não falamos frases, segundo a teoria da argumentação na língua, nós
falamos anunciados.

Enunciados são manifestações na frase, eles são observáveis, porque são fruto
de uma interação ou de uma enunciação. É uma das muitas realizações de uma frase da
língua. Exemplos como Neomízio trabalhou pouco e Neomízio trabalhou um pouco são
enunciados, porque são produzidos por sujeitos em um determinado contexto de uso de
língua.

Sentido é o valor semântico do enunciado, o enunciado produzido por alguém


carrega um sentido.

Significação é o valor semântico da frase. A frase X+ Verbo +um pouco indica


uma continuação positiva. A frase X+ Verbo+ pouco tem uma continuação negativa,
isso é significação. É aquilo que já vem como dado pela língua de alguma maneira pelas
várias ocorrências daquela frase em determinados enunciados.
Para Ducrot,

O enunciado é a realidade empírica, observável, e a frase é


uma entidade teórica linguística, construída pelo linguista.
(...) Recordo que chama sentido ao valor semântico do
enunciado e significação ao valor semântico da frase.
(DUCROT, 1988, p.65)

A frase está para a língua, descrever as frases é descrever uma língua. O


enunciado está para o discurso, quando descrevemos um grupo de enunciados que
formam um texto, estamos descrevendo um discurso para essa teoria. A enunciação é
um acontecimento histórico (e, portanto, único) que consiste na aparição de um
enunciado. Ducrot afirma que é a aparição Hic et nunc de um enunciado, ou seja, é a
aparição do aqui e agora de um enunciado. A língua é o conjunto das frases, portanto
descrever a língua é descrever as frases que uma língua possui. Discurso é uma sucessão
de enunciados, que é composto por vários enunciados.

Se tenho um discurso D, este pode fragmentar-se nos


enunciados e1, e2, e3 etc. E cada um desses enunciados é
a realização de uma frase. (DUCROT, 1988, p.53)

Ducrot faz uma distinção entre segmento e enunciado. Para o autor, segmento é
a parte de um enunciado. No exemplo: “Faz calor lá for, vamos passear”, temos um
único enunciado composto por dois segmentos, porque a noção de calor está relacionada
com a noção de passeio, e a noção e passeio está relacionada com a noção de calor,
portanto eles não são enunciados diferentes. Como toda descrição é dada pela relação
entre os elementos linguísticos, se há um bloco de elementos linguísticos que tem um
sentido único então esse bloco vai ser um enunciado.

Se o segmento S1 tem sentido a partir do segmento S2, a


sequência S1 + S2 constitui um único enunciado.
(DUCROT, 1988, p.53)

Texto é um discurso que pode ser objeto de uma única escolha, e cujo fim, por
exemplo, já é previsto pelo autor no momento em que redige o seu começo.
Para concluir..

O que é argumentação para Ducrot?

Argumentação é sentido e orientação. É o que se denomina de continuidade


discursiva. Para teoria da argumentação da língua, argumentar não é convencer, não é
ganhar adesão, argumentar é orientar o discurso em razão de determinadas conclusões.
É dotar o discurso de determinada orientação, provocando determinados efeitos de
sentido quando se faz essa orientação. Essas orientações já estão previstas, de certa
forma, na própria estrutura (e no léxico) da língua. Da estrutura elas passam para o
discurso e vão se materializar no discurso em razão da constituição daquele discurso e
da relação entre os elementos que estão presentes dele.

ENUNCIADO, POLIFONIA (VOZES) EM DUCROT

TEORIA DOS TOPOI

TBS
ANÁLISE DO TEXTO O “VIÉS DA BURRICE...”

Bibliografia consultada

ANSCOMBRE, J.-C.; DUCROT, O. La argumentación en la lengua. Madrid: Gredos,


1994.

DUCROT, Oswald. Polifonía y argumentación. Cali: Universidad del Valle, 1988.

(Tradução de Ana Beatriz Campo e Emma Rodríguez)

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