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Autor/a: Mark Pimentel, Richard J Saad, Millie D Long, Satish S C RaoFuente: Am J Gastroenterol . 2020 Feb;115(2):165-178. doi:
10.14309/ajg.0000000000000501. ACG Clinical Guideline: Small Intestinal Bacterial Overgrowth
Principais recomendações
Introdução
O supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO, sua sigla em inglês) é definido pela
presença de um número excessivo de bactérias no intestino delgado causando sintomas
gastrointestinais (GI). Essas bactérias são geralmente coliformes, tipicamente encontrados no
cólon, e incluem, predominantemente, espécies Gram negativas aeróbicas e anaeróbicas capazes
de fermentar carboidratos.
Tais sintomas podem incluir, mas não podem estar limitados a náusea, sensação de distensão,
flatulência, distensão abdominal, cólicas abdominais, dor abdominal, diarreia e/ou constipação.
Em casos extremos, pode-se citar esteatorreia, perda de peso, anemia, deficiência de vitamina e
/ou inflamação da mucosa do intestino delgado.
Figura 1: Resumo gráfico sobre as atualizações das diretrizes clínicas da ACG. Siglas: DM: Diabetes
mellitus; HIV: vírus da imunodeficiência humana; IDCV: Imunodeficiência comum variável; SII: Síndrome
do intestino irritável; IBPs: inibidores da bomba de prótons.
Diagnóstico
Teste respiratório
Um método diagnóstico alternativo é a medição do gás hidrogênio exalado na respiração, após a
ingestão de uma quantidade fixa de um substrato de carboidrato, glicose ou lactulose. De acordo
com a declaração do Consenso Norte-Americano sobre testes expirados do hidrogênio, um
aumento maior ou igual a 20 partes por milhão (ppm) da linha de base neste elemento em 90
minutos é considerado positivo para diagnosticar SIBO. É um teste barato, não invasivo e
amplamente disponível, no entanto requer a aplicação de vários critérios rigorosos aos pacientes.
Estes incluem evitar antibióticos por quatro semanas antes do teste; interromper fármacos
procinéticos e laxantes uma semana antes do exame; evitar carboidratos complexos 12 horas
antes; e evitar o tabagismo e exercícios extenuantes no dia do teste, pois o primeiro pode
aumentar e o segundo diminuir os níveis de hidrogênio respiratório.
A premissa do teste é que as células humanas são incapazes de produzir os gases hidrogênio e
metano. Consequentemente, se esses podem ser detectados em amostras de respiração, isso
significa que são produzidos por outra fonte, como fermentação por micróbios no intestino.
Sendo assim, após a ingesta de uma quantidade de carboidratos, o açúcar é rapidamente
fermentado pelas bactérias para produzir gás hidrogênio.
Um fator importante que pode confundir a interpretação dos testes expiratórios de lactulose é o
tempo de trânsito oro cecal. Se o agente chegasse ao ceco antes de 90 minutos devido ao trânsito
acelerado, isso poderia explicar um teste respiratório de lactulose positivo em vez de implicar
SIBO. Também é possível que a má absorção de glicose possa levar a um teste respiratório
positivo desse sacarídeo.
Além disso, o limite de corte para a definição de cultura positiva tem sido controverso.
Recentemente, o Consenso Norte-Americano relatou que a literatura aponta com mais precisão
para uma contagem de colônias bacterianas de 103 unidades formadoras de colônia por
mililitro (CFU/mL) em um aspirado duodenal/jejunal como diagnóstico de SIBO.
No entanto, o teste tem diversas limitações: é demorado, caro e invasivo que requer sedação e
traz os riscos usuais da endoscopia, mas é tecnicamente simples e amplamente realizado.
Reconhece-se que os testes respiratórios atuais têm baixa sensibilidade e especificidade e que
estudos adicionais são necessários para as suas padronizações. Atualmente, uma cápsula ingerida
por vir oral está em desenvolvimento com objetivo de medir o hidrogênio e o dióxido de carbono
in vivo após uma refeição com carboidratos e pode fornecer uma alternativa melhor às técnicas
atuais de medicação de hidrogênio expirado.
Além disso, tecnologias de cápsulas adicionais que podem coletar amostras de bactérias do
intestino delgado são emergentes e poderiam fornecer uma avaliação mais direta e precisa da
SIBO.
A alegação mais controversa relacionada à SIBO tem sido sua implicação na patogênese da
síndrome do intestino irritável (SII). Embora a taxa de supercrescimento bacteriano na síndrome
seja debatida, estudos sugeriram que até 78% dos indivíduos com SII sofrem de SIBO.
Outras evidências de que a SII esteja associada à SIBO são baseadas no uso bem-sucedido de
antibióticos no tratamento. Em 2015, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou um
antibiótico não absorvido, a rifaximina, para o tratamento da SII com diarreia com base no
entendimento existente de que uma possível causa subjacente da SII é a perturbação do
microbioma. Um subconjunto de participantes também foi submetido ao teste respiratório. Os
resultados sugeriram que o benefício do fármaco foi observado em indivíduos com SII com níveis
anormais de hidrogênio basal durante o teste respiratório da lactulose. De fato, 76% dos
indivíduos com um teste respiratório inicial positivo que se tornou negativo após um curso de
antibióticos foram definidos como responsivos. Isso suportou ainda mais que os níveis
microbianos alterados podem desempenhar um papel na SII.
Estudos em pacientes com fatores de risco anatômicos de causas intrínsecas, como diverticulose
do intestino delgado ou formação de fístula ou consequências iatrogênicas, como anastomose
ileocolônica ou estenose/aderência pós-radiação, mostraram uma maior prevalência de SIBO.
Idade avançada e sexo feminino também estão associados a uma maior probabilidade de
supercrescimento bacteriano, talvez por causa de atrasos no trânsito intestinal. Outras doenças
sistêmicas conhecidas por alterar a motilidade e que estão associadas à SIBO incluem doença de
Parkinson, insuficiência renal crônica, amiloidose, esclerose sistêmica, hipotireoidismo e
diabetes mellitus.
Várias outras condições foram associadas à SIBO, incluindo cirrose e peritonite bacteriana
espontânea, pancreatite crônica, fibrose cística, fibromialgia, alcoolismo e esclerose múltipla,
mas o(s) potencial(is) mecanismo(s) subjacente(s) a essas relações permanece(m) incerto(s).
Os inibidores da bomba de prótons (IBPs) são os medicamentos mais comuns usados para tratar
pacientes que sofrem de sintomas gastrointestinais inexplicados. Spiegel e colaboradores (2008)
relataram que a maioria dos usuários que usavam esses medicamentos eram propensos a
desenvolver SIBO. Por exemplo, um estudo retrospectivo que incluiu dados de 1.263 aspirados
duodenais observou que o uso de IBP foi significativamente mais prevalente em pacientes com
resultados de cultura duodenal positivos em comparação com aqueles com culturas negativas
(52,6% vs 30,2%). Da mesma forma, uma metanálise de 19 estudos com mais de 7.000 indivíduos
confirmou um risco até 3 vezes maior de SIBO com o uso de IBP.
Tratamento
Antibióticos
O uso de antibióticos tem sido a pedra angular da terapia para o tratamento de SIBO. No entanto,
devido ao desenvolvimento de bactérias resistentes, reações adversas e aumento de infecções
oportunistas, é necessária uma abordagem mais cautelosa.
Em geral, a evidência para o uso de antibióticos em SIBO foi limitada a pequenos ensaios clínicos
de baixa a modesta qualidade. Dentre os estudados, inclui-se: amoxicilina-ácido clavulânico,
clortetraciclina, ciprofloxacina, doxiciclina, metronidazol, neomicina, norfloxacina, rifaximina,
tetraciclina e trimetoprima-sulfametoxazol.
O mais investigado é a rifaximina, por ser um fármaco sistêmico bem tolerado com baixa
biodisponibilidade oral e cujos efeitos antimicrobianos podem ser aumentados na presença dos
ácidos biliares. Uma revisão sistemática que incluiu doses variadas de 600 mg a 1.600 mg por dia
com duração de 5 a 28 dias demonstrou que a taxa de erradicação geral foi em torno de 70,8%.
No entanto, os investigadores observaram que a qualidade da maioria dos estudos era ruim.
Dieta
Há uma variedade de mecanismos propostos pelos quais a manipulação dietética pode ser
benéfica no tratamento da SIBO, no entanto, o tema dominante é a redução de produtos
fermentáveis. Na maioria dos casos, isso envolve uma abordagem de baixo teor de fibras, bem
como evitar açúcares alcoólicos e outros adoçantes fermentáveis, como a sucralose. Além disso,
prebióticos como a inulina também devem ser evitados.
No entanto, os dados sobre o uso de dieta para SIBO são principalmente extensões dos estudos
para SII. Uma metanálise recente de baixo FODMAP e dietas sem glúten na SII observou que não
havia boas evidências para apoiar a segunda abordagem e “evidências de qualidade muito baixa”
para a primeira.
Apesar destas conclusões, os dados suportam que uma dieta com baixo teor de
FODMAP está associada a menos produtos de fermentação.
Probióticos
O conceito de usar probióticos para tratar uma condição com excesso de bactérias parece
contraintuitivo. No entanto, um estudo sugeriu que este pode ter ações procinéticas. Talvez
mudanças nas bactérias também possam ser facilitadas por esse tipo de tratamento, efetuando
uma mudança nos sintomas ou no padrão de gases no teste respiratório.
Direções futuras
Como apontado pela diretriz, embora medidas indiretas para avaliação de SIBO usando teste
respiratório sejam a abordagem mais prática, parte do desafio é que essa tecnologia fornece uma
imagem incompleta da dinâmica de fermentação no intestino. A razão pela qual o hidrogênio não
se correlacionou claramente com os sintomas no ensaio clínico pode ser que o hidrogênio é
consumido no intestino para produzir metano e gases H2S. Como tal, medir apenas metano e
hidrogênio produz uma imagem incompleta. Por isso, são necessários novos testes para
determinar com maior clareza o diagnóstico da SIBO. Além disso, é importante desenvolver
questionários validados para SIBO, pois os sintomas carecem de especificidade.
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