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O Preço do Poder

Copyright © 2016 Dudaah Fonseca

Capa: Annie Sabat/Intuição Design


Revisão: Valéria Avelar
Diagramação Digital: Dudaah Fonseca

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.


Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
Prólogo
Era mais um dia normal de trabalho para Elisa na mansão Medeiros. Desde cedo, aprendeu a
se virar sozinha, já que perdeu os pais aos dezoito anos de idade. Se viu desamparada no mundo,
e infelizmente teve que escolher entre estudo e trabalho. Para não passar necessidades, optou em
trabalhar, mesmo sabendo que uma formação superior poderia fazer falta no futuro.
Por sorte, conseguiu emprego como empregada na casa da família Medeiros, conhecidos pela
linhagem política. A exuberante mansão chamou sua atenção desde o dia que colocou os pés ali.
Além dela, havia mais dez empregados. Com o bom salário, pensava em mudar de vida, tentar
garantir um futuro certo.
O que Elisa não esperava, era se apaixonar perdidamente por Ricardo Medeiros. Um homem
que exalava poder e beleza a cada passo que dava. Os olhos azuis, de um tom claro durante o
dia, mudavam a tonalidade para um azul escuro durante a noite. Cada detalhe do rosto e corpo
do Ricardo, estava gravado na memória da Elisa, afinal, foi com ele que descobriu o mundo do
prazer, a entrega de corpos e de coração, também.
Durante os dez anos que Elisa trabalhou na mansão Medeiros, ela foi amante do Ricardo. Ela
tentou negar, mas seu amor por ele falou mais alto. Seus olhos ardiam toda vez que ela o via ao
lado da noiva, Cassandra. Uma mulher linda e educada, de família rica e muito bem vista perante
aos olhos da sociedade.
“Um dia poderemos assumir nosso amor, eu prometo.”
A frase que ouviu durante tantos anos do Ricardo, ecoava em sua cabeça. Hoje, com seus vinte
e oito anos de idade, ainda acreditava que um dia poderia construir uma família ao lado do
homem que amava. Muitas vezes sonhou com esse momento tão desejado, mas toda vez que abria
os olhos, ela se perguntava se isso realmente era verdade.
Muitas vezes enquanto encarava seu reflexo no espelho, sua mente se comparava com
Cassandra. Ao contrário dela, Elisa não teve uma educação refinada e não tinha uma família
abastada. Era apenas uma trabalhadora, que no momento, se via sem expectativas para o futuro.
A tristeza a abraçava, quando sua mente e seu coração a alertavam que nunca poderia ficar com
Ricardo. Ela sabia o quanto a carreira política dele era importante, e tinha certeza que ele, como
deputado, não gostaria de um escândalo, principalmente quando já arquitetava com orgulho e
poder nas veias, ser senador pelo Estado do Rio de Janeiro.
Fazia três semanas que Elisa vinha sentindo enjoos e tonturas, ao ponto de dona Glória, mãe do
Ricardo, fazê-la ficar de repouso. Sem alternativas, Elisa sabia que não era uma virose ou algum
problema no estômago. Os cinco testes diferentes de gravidez que comprou na farmácia
apontavam o que ela já desconfiava. Estava grávida.
— Não, posso acreditar. — Murmurou Elisa, acariciando sua barriga nua, sem vestígio algum de
gravidez.
As lágrimas que escorriam pelo seu rosto eram por dois motivos: felicidade e medo. Sempre
sonhou em ser mãe, cuidar e ensinar o seu serzinho a descobrir o mundo aos poucos. Mas o medo
fez suas mãos suarem, ela sabia que Ricardo ficaria furioso.
Elisa se assustou com a entrada repentina do Ricardo em seu quarto. Como de costume, às onze
horas da noite ele aparecia com sua costumeira calça de pijama de seda azul e uma camiseta
regata, mostrando seu corpo experiente e atlético. O sorriso que estampava o rosto do Ricardo se
desfez ao ver onde estavam as mãos da sua amante. Ele não é inepto, então perguntou:
— Espero que não seja o que estou pensando! — Sibilou, se aproximando da Elisa. Os minutos
em silêncio misturado com o choro copioso da sua amante, foi o suficiente para confirmar o que
desconfiou assim que entrou no quarto.
— E-Eu estou grávida. Podemos dar um jeito... — Ela murmurou, tentando encontrar o olhar
apaixonado do Ricardo. O mesmo olhar que via quando estavam juntos, se entregando ao prazer
e quando ele proferia suas promessas, porém, a única coisa que encontrou foram duas pedras de
gelo.
— Nem você e nem essa criança bastarda irão estragar meus planos. — Ele proferiu frio,
encarando os olhos chorosos da Elisa. Logo depois saiu do quarto sem olhar para trás.
Por nove meses, Elisa viveu em um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, onde Ricardo fez
questão que ela permanecesse escondida de todos, apenas recebendo visitas da mãe dele.
Durante todos esses meses, ele não a procurou para saber da sua saúde e muito menos da sua
filha. Ao descobrir que seria pai de uma menina, ficou aliviado, pois seu maior sonho era ter um
filho homem para seguir seus passos. E acreditava que sua noiva, Cassandra, daria o seu sonhado
herdeiro. E treinaria o seu filho, assim como foi treinado pelo pai, para se tornar um político
respeitado aos olhos do povo, e odiado pelas pessoas que o cercavam e encobriam a sua sujeira.
Às seis horas da tarde, nasceu Marina Mendes Medeiros. Primeira herdeira da família Medeiros.
Elisa teve medo, mas orou mentalmente para que nada de errado acontecesse com a sua
princesinha. Dona Glória esteve ao seu lado no momento mais feliz da sua vida. Ela pensou que a
dona Glória fosse rejeitá-la e julgá-la por ter sido amante de seu filho, mas nada fez.
— Por favor, dona Glória, não tire a minha filha de mim. — Implorou Elisa, se ajoelhando aos
pés da senhora elegante.
Ela não se importava de estar ali, se humilhando. Por sua filha, faria qualquer loucura. Assim
que sua filha nasceu, temia por esse dia infeliz. Ela queria fugir, mas estava sendo o tempo todo
vigiada pelos seguranças que o pai da sua filha deixou para impedi-la de dar um passo sem que
tivesse a autorização dele.
— Não faça isso! — Falou a senhora de idade, se afastando. — Marina ficará em boas mãos,
ao meu lado, que sou avó e do pai.
— Isso não é verdade! Ricardo, nem mesmo veio saber da filha durante todo esse tempo.
Deixei-me ir, juro que nunca contarei nada a ninguém.
— Não permitirei que minha primeira neta seja criada com pouco, sendo que pode ter tudo do
bom e do melhor. Assine esse documento passando a guarda total da Marina para o meu filho.
— Ela é tudo que tenho. Não posso fazer isso. Por favor! — Exclamou Elisa, chorando e unindo
as mãos em súplica.
— Minha neta terá a melhor educação, viverá no conforto. — Dona Glória, tentava acalmar
Elisa com suas palavras. — Você não tem o que oferecer para essa criança. Prefere ver sua filha
passando necessidades? É isso?
Elisa sabia que dona Glória, atingiu seu ponto fraco. Era evidente que não gostaria de ver sua
filha passando necessidades, mas ela pensou em trabalhar dia e noite para oferecer o melhor.
Porém, sabia que hoje em dia era difícil conseguir um bom emprego, principalmente quando não se
tinha estudos.
Com as mãos trêmulas, e com as lágrimas caindo em cima do documento na mesinha de centro
da elegante sala de estar do luxuoso apartamento, assinou, entregando o futuro da sua filha, do
seu bem mais precioso em vida e alma, nas mãos da família Medeiros.
Ela não tinha mais amor por Ricardo, depois de sentir a dor da decepção e indiferença, seus
sentimentos por ele acabaram. Seus sonhos foram esmagados pelo homem que mais amou, se
arrependia por ter sido tão ingênua, acreditando nas promessas dele. Entregou seu corpo e
coração em uma bandeja, para no final ser rejeitada. Ela sabia que seu maior pecado foi ter
aceitado ser amante do deputado, mas não podia se condenar por tê-lo amado. Elisa foi guiada
pelos seus pensamentos utópicos e deixou a realidade de lado. E nesse exato momento, estava
pagando por isso.
— Poderá visitá-la uma vez por mês. Aqui será o local da visita, manterei esse apartamento. —
Falou dona Glória, ao contrário do filho, ela estava feliz com a nova integrante da família
Medeiros.
A senhora elegante e de bom coração tentou convencer o filho a deixar a neta aos cuidados
da mãe, porém não reconhecia mais o seu garotinho, no fundo, seu coração sangrava por saber
que Ricardo se tornou um homem frio e calculista. Tudo para provar ao pai que fez história na
política. Mesmo depois de morto, seu marido atormentava o filho em pensamentos. Apenas ela e
seu filho sabiam como foi cruel viver ao lado do Juliano.
— É muito pouco... — Reclamou Elisa, estava com sua filha nos braços, balançando-a e sorrindo
entre lágrimas de tristeza. Seu coração queimava em saber que deixaria sua filhinha. Queria
aproveitar os poucos minutos com seu serzinho.
— É o melhor que pude fazer. — Falou a senhora, aproximando-se da Elisa.
— Desculpe-me, minha princesinha... — Elisa murmurava repetidamente, enquanto beijava a
mãozinha de sua filha.
Ela não se conformava em saber que perderia os momentos da vida da Marina. Elisa sempre
almejou participar de tudo relacionado à bebê, mas estaria se afastando dela com meses de
idade.
Assim que dona Glória saiu do apartamento levando sua filha, Elisa desabou no chão, seus olhos
já estavam cansados de tanto chorar, mesmo assim lágrimas continuavam marcando seu rosto. A
distância que teria da sua filha seria como uma navalha entrando em sua pele.
Depois de ter colocado algumas mudas de roupa em sua mochila velha, ela saiu do
apartamento, foi para a rua, pedindo aos céus que um dia sua filha a perdoasse por ter sido tão
fraca. Elisa queria ter lutado até o fim, mas o poder que a família Medeiros tinha poderia tornar
tudo pior. Infelizmente, ela não teve outro caminho.
Elisa sabia que tinha o poder de traçar as escolhas em sua vida. Em seus pensamentos, ela
projetava ser seu soldado de guerra, e de alguma forma, iria se redimir com a sua filha. Essa seria
a sua recuperação, acordaria todos os dias com fé.
CAPÍTULO 1 – ACORRENTADA

MARINA

Faltava uma semana para o meu aniversário de dezoito anos. Eu estava contando dias, horas e
segundos para alcançar a maioridade, pois assim poderia morar com a minha mãe e finalmente me
veria livre da podridão dessa mansão.
Sempre foi difícil para mim. Eu sorria falsamente, mostrando a todos o quanto era bem tratada
e feliz ao lado da família de modelo americano. Todas as vezes que ia visitar minha mãe, que
acontecia uma vez ao mês, ela me pedia perdão por não ter lutado por mim. Eu soube de toda a
história aos oito anos de idade, de início, eu fiquei chocada, uma atitude normal para uma criança,
então as peças em minha cabeça foram se montando.
Para as pessoas de fora, eu era apenas uma agregada, o que tornava tudo muito lindo aos
olhos do povo, que nem imaginavam a verdade. Ricardo, que se intitulava meu pai dentro da
mansão, e fora um tio querido, mal me dirigia a palavra. As poucas vezes que conversamos eram
sobre meus estudos e se eu estava precisando de algum material.
Minha vontade era de gritar, revirar sua mesa, para que ele sentisse o quanto eu era infeliz
morando aqui. Se ele não me amava como um pai deveria, por que não deixou que eu morasse
com a minha mãe? Lembro-me exatamente do dia que eu tomei coragem para perguntar isso a ele.
— Por favor, me deixa morar com a minha mãe? — Implorei, unindo as mãos.
Estávamos no seu escritório e seu assessor, Estefan, assistia toda a cena. Fingia estar anotando algo
em sua agenda de couro. Ricardo, estava com seus típicos óculos de graus, e seu terno feito sob
medida.
— Saia daqui, Marina! — Falou, sem direcionar o olhar para mim. Ele nunca me encarava, parecia
que até... tinha nojo de mim.
— Eu não aguento mais! Sua esposa me maltrata, olhe isso... — Declarei o que escondia há anos,
levantei as mangas compridas de minha blusa.
Eu não tive sorte no quesito família. A esposa mesquinha de meu pai me maltratava desde que eu
tinha nove anos de idade, mas antes disso, ela já atingia meu emocional com todas as pedras em mãos.
Sem dó e nem piedade. Olhei para o meu pai, que agora estava sem os óculos, se aproximando de
mim, e pelo canto do olho, vi que Estefan estava chocado com as marcas roxas. Quando as marcas
ficavam muito fortes, eu acabava nem indo visitar a minha mãe. Eu inventava qualquer desculpa, e isso
doía.
— Não minta, garota! Cassandra, não faria isso. — Meneei a cabeça, não acreditando em suas
palavras.
— Pelo amor de Deus! — Exclamei entre o choro, assustando-o com meu ataque de indignação. —
Pelo menos, me livre dela, me deixe morar com a minha mãe?
— Você tem quinze anos, e continuará sob o meu domínio. Deveria agradecer por ter uma mulher
fina como Cassandra para ensiná-la. Você tem o mesmo tratamento que suas irmãs. — Sorri sem
humor.
— Isso é uma grande mentira. E você sabe, Ricardo. — Suas pupilas estavam dilatadas, ele nunca
me ouviria chamá-lo de pai. — Você é um covarde que iludiu a minha mãe com suas promessas de um
amor vagabundo. Como pai, você é um nada, pois finge não ver o quanto sou infeliz morando aqui...
E como deputado você é um....
Antes que eu pudesse terminar de falar, senti o peso da mão do Ricardo na lateral direita do meu
rosto. Por conta da força, acabei cambaleando e me apoiei no braço de uma cadeira.
— Ricardo! — Repreendeu Estefan, se aproximando de mim. Não iria me rebaixar, não mais!
Voltei a minha postura, e mesmo com o rosto ardendo, afastei os fios de cabelo do meu rosto,
organizando meu aspecto diante do deputado. E um momento raro aconteceu, ele me encarou, sua
respiração estava nervosa.
— Um dia você irá se arrepender. E será tarde, sabe por quê? — Ele continuava paralisado, me
encarando. — Porque as pessoas mudam, Ricardo. A vida ensina muito. Você nunca mereceu o amor
da minha mãe, por isso eu quero que o amor que você fingiu e ainda finge não sentir por ela, o
sufoque.
Não me orgulhava de minhas palavras e sentimentos que sentia por Ricardo. Infelizmente, não
tive uma infância recheada com um herói protetor, nunca culpei minha mãe pela situação que eu
vivia ao lado da minha família paterna. Ela era jovem, se apaixonou e simplesmente acreditou nas
promessas. Eu queria o quanto antes vencer na vida profissional, e dar todo o conforto que a
minha mãe merecia, mesmo que ela não precisasse.
Fazia dois anos que minha mãe tinha se casado com Albestini Donatello, um senhor muito sensato,
sorridente e divertido, pelo menos era isso que a minha mãe falava dele, infelizmente, eu o
conhecia somente por fotos. Ricardo não permitiu que eu me aproximasse do meu padrasto, e para
garantir isso, seus seguranças sempre vigiavam o apartamento na Barra da Tijuca, local onde eu
me encontrava com a minha mãe.
Depois que a minha mãe me deixou com a vó Glória, passou duas noites em uma praça. Até que
Albestini a viu e quis ajudá-la. Ele era o dono de uma rede de cafeterias muito conhecida e para a
felicidade da minha mãe, ele a ajudou com os estudos, e em meio a tanta bondade, surgiu uma
amizade entrelaçada com o amor. Namoraram por dezesseis anos, e finalmente minha mãe aceitou
o pedido de casamento.
De alguma forma, minha mãe se sentia culpada e achava que não deveria ser feliz nem ter um
recomeço. Eu nunca permitiria que ela se fechasse para o mundo por minha causa. Era triste só nos
vermos uma vez ao mês, mas logo poderíamos ficar juntas o quanto quiséssemos.
Terminei os estudos ano passado, aos dezessete anos de idade, e comecei o ano ansiando pela
data do meu aniversário. Ricardo fez uma breve reunião em “família” e avisou que eu e minhas
irmãs deveríamos cursar Direito, assim ficaríamos a par das leis e poderíamos conseguir mais
prestígio em nossa futura carreira política. Mas nem em pesadelos eu pretendia entrar nesse meio.
Eu não generalizava os políticos, existiam pessoas muito corretas nesse meio, mas acreditava que
eram poucas. O fato era que não tinha vontade e não seguiria esse caminho para Ricardo me
elogiar, isso estava fora de cogitação.
— Querida, está pensativa hoje. O que houve? — Indagou a vó Glória.
Sua pele transmitia sua idade, mas ainda exibia elegância e serenidade. Ela era o meu bálsamo
nessa mansão. Eu adorava passar as tardes com ela no jardim, onde fazia questão de cuidar de
suas rosas vermelhas.
— Estou apenas pensando em como será a minha vida assim que eu sair daqui.
— Minha neta, você é dona de todo esse império. — Falou e seus olhos azuis me encararam
com expectativa.
— Nada é meu, vó. E não faço questão.
— Claro que é, minha neta. Sei que a relação com seu pai é ruim, existem algumas coisas sobre
o seu pai que talvez um dia você saiba e entenda.
— Espero que quando esse dia chegue, não seja tarde demais.
Direcionei minha atenção para a entrada da mansão. Cássia, minha irmã mais nova caminhava
em nossa direção com seu cachorro da raça labrador. Meu coração se apertava quando eu me
lembrava meu cachorrinho Lobo, da raça husky siberiano, que ganhei no meu aniversário de treze
anos, da vó Glória. Fiquei tão feliz e animada, pois finalmente teria um companheiro que retribuiria
meu carinho fielmente. Eu me recordo exatamente do dia que o perdi.
— Essa porcaria não ficará mais em minha casa, está ouvindo, sua nojentinha? — Falou minha
madrasta, segurando meus braços com força, cravando suas unhas longas e afiadas em minha pele.
— Por favor, prometo que não vou deixá-lo estragar mais nada. Eu juro! — Pedia, aos prantos.
Cassandra estava muito furiosa porque Lobo mordeu seu sapato. Fiquei surpresa, assim como ela,
quando o vi mordendo e babando o calçado caro. Eu segurei o riso, pois era normal filhotinhos
fazerem isso, aos poucos eles iriam aprendendo. Estava com ele apenas três semanas, ainda precisaria
de mais tempo para ensinar algumas coisas a ele.
— Tenho certeza que adorou ver esse verme estragando meu sapato, não é? — Ela falava
ameaçadoramente.
— Desculpe-me, eu...
— Eu irei agora mesmo jogar esse vira-lata em uma rua qualquer. Seu cachorrinho vai sofrer e
morrer, e a culpa será sua.
Eu não pude fazer nada. Ela simplesmente pegou Lobo e o colocou dentro do seu carro. Os latidos
do meu cachorrinho me deixaram desesperada, fui correndo atrás do carro enquanto ela dirigia em
direção à saída; e quando eu pretendia atravessar o portão para continuar seguindo o carro, os
seguranças me seguraram. Chorei tanto, mais tanto, que acabei dormindo.
À noite, quando minha avó chegou, eu contei tudo. Ela ficou indignada e prometeu que faria de
tudo para encontrar Lobo. Ricardo estava em uma campanha do seu partido na cidade de São Paulo,
apoiando os candidatos de lá. Minhas irmãs, não estavam na mansão. Elas passavam o dia fazendo
atividades como balé clássico, aula de língua estrangeira e etiqueta.
Passei quase dois meses em uma tristeza enorme, tinha pesadelos horríveis com Lobo, que por
pouco tempo trouxe cor para a minha vida solitária na mansão. Apesar de ter minha avó, não era a
mesma coisa. Quando Ricardo chegou de viagem, nada fez. Cassandra disse descaradamente que
doou meu cachorrinho para um orfanato que ela ajuda, pois ele estava fazendo muita bagunça na
mansão. Como eu esperava, Ricardo apenas concordou com a atitude da esposa.
— Ei, estou falando? — Cássia, chamou minha atenção.
— Pode repetir?
Ela sorriu, ajeitando seus óculos de graus.
Diferente da nossa irmã Cassindy, eu e Cássia nós dávamos muito bem. Apesar das opressões
da mãe dela, que fazia de tudo para que eu não convivesse com elas, Cássia era a única que me
abraçava, mostrando seu afeto. Éramos próximas e muitas vezes enfrentei minha madrasta quando
via que Cássia seria maltratada. Ela sempre falava o quanto Cassindy era elegante, bonita. Todos
os substantivos positivos que existiam, eram direcionados para sua querida filha.
— Amanhã essa casa estará cheia de pessoas. — Ela falou, enquanto soltava seu cachorro.
Logo Billy saiu correndo pelo imenso quintal. — Esqueceu que amanhã é aniversário do nosso pai?
Só de lembrar, uma desanimação me atingiu com tudo. Eu não gostava das festas, mas
infelizmente eu era obrigada a comparecer e atuar com um belo sorriso no rosto. Muitas vezes eu
me perguntava se Ricardo carregava algum peso na consciência. Querendo ou não, ele era o meu
pai. Nada mais certo do que eu ter sua proteção e amor, mas nem adiantava querer respostas,
afinal, ele nunca colocaria em risco sua carreira política.
— Estou vendo que amanhã não será um dia bom. — Comentou vó Glória, me encarando.
Parecia que ela sabia de alguma coisa.
— Nem me fale! Parece que já estou ouvindo minha mãe reclamar do meu vestido, sapato,
maquiagem e cabelo. — Disse Cássia, soltando um suspiro cansado.
Cassandra era venenosa. Por trás da mulher elegante, existia uma mulher mesquinha que fingia
ser serena e bondosa para a sociedade que a observava ao lado de meu pai. Há anos eu
encarava o meu reflexo no espelho e não gostava do que via. As palavras perversas dela me
perturbavam dia e noite, e tudo isso resultou em uma baixa autoestima. Eu tinha vergonha do meu
corpo.
— Você é uma moça linda. As duas são. — Elogiou vó Glória, nos roubando um sorriso. — A
beleza vem de dentro, o problema é que muitos deixam a beleza se perder. E vocês, minhas netas,
coloquem na cabeça que não tem nada de errado preferir uma calça jeans que um vestido. —
Acabamos rindo.
No aniversário de quinze anos da Cássia, estávamos cansadas de tantas trocas de roupas.
Minha irmã apenas queria se divertir e aproveitar sua noite, sem toda a elegância que sua mãe
exigia. Cansadas de ficar iguais duas marionetes, trocamos nossos vestidos de gala por calça
jeans, e os saltos altos por tênis. Só faltou os olhos da Cassandra saírem. Claro que ao término da
festa, ela deu “um piti”.
Estava deitada em minha cama, olhando para o ponto iluminado pela luz da lua que
atravessava a minha janela. Eu gostava do vento da noite, por isso deixava minha janela aberta.
Durante todos esses anos, eu me sentia acorrentada nessa mansão ao lado de pessoas que queria
distância, com exceção da vó Glória, Cássia, e alguns empregados da mansão. E eu temia que
essas correntes me destruíssem.
CAPÍTULO 2 – DECLÍNIO

MARINA

Acordei totalmente desanimada, pois hoje teria mais uma festa com pessoas elegantes e eu
precisaria passar uma imagem feliz para que todos percebessem o quanto a família Medeiros era
bondosa por acolher uma jovem. Se eles soubessem toda a humilhação que eu passava, mudariam
de ideia rapidinho.
Depois de tomar um banho e me arrumar, decidi vestir uma bermuda jeans e uma camiseta de
mangas curtas, calcei o meu All Star, e fiz um rabo de cavalo em meu longo cabelo castanho-
escuro. Eu tinha certeza que muitas pessoas ficariam felizes ao se olharem no espelho e
constatarem que tinham as características tanto do pai como da mãe. No meu caso, eu ficava
altamente feliz em saber que era a cópia fiel de minha amada mãe, por isso eu tinha quase
certeza que um dos motivos do Ricardo e sua esposa não me aceitarem, era o fato de sermos tão
parecidas.
Assim que entrei na sala de refeição, onde a “família feliz” estava tomando o maravilhoso café
da manhã, fui dar um beijo na bochecha da minha avó, fazendo-a retribuir com um sorriso doce,
antes de me sentar ao seu lado.
— Bom dia. — Cumprimentei todos por educação, mas não dirigi meu olhar para ninguém,
apenas para minha avó e minha irmã Cássia.
— Pensei que passaria o dia dormindo, querida. — Minha madrasta, como sempre, adorava me
provocar.
— Por acaso criaram uma nova lei onde é proibido dormir algumas horas a mais no sábado?
— Indaguei, enquanto preparava meu pão com queijo e presunto de peru.
— Está vendo como essa menina me desrespeita, meu amor. — Reclamou para meu pai.
— Hoje é meu aniversário e gostaria de paz. — Tomou um gole de seu café. — Esqueceu que
hoje é meu aniversário, Marina?
Em todos seus aniversários, sempre o parabenizava secamente. Se fossemos “normais”, seria um
dia de muita alegria e festa, mas era algo que eu não podia ter com meu pai. Ele me feriu e ainda
continuava aprofundando o corte com suas atitudes egoístas.
— Não, assim como não esqueci que o Deputado age como se eu não existisse. — Todos se
assustaram quando ele bateu o punho na mesa, balançando os objetos.
— Você deveria agradecer por ter um teto e tudo o que o dinheiro pode proporcionar. —
Levantou-se irritado, passando as mãos no cabelo.
— O senhor só fez isso para não se prejudicar.
— Minha neta, por favor...
— Não vovó, o Deputado precisa ouvir umas verdades. — Eu me levantei da cadeira, e estava
decidida enfrentar a fera. — O senhor sempre fechou os olhos para tudo que viu e ouviu de
minha parte. Não se importou com os maus-tratos físicos e emocionais que recebia da sua esposa
durante anos. Será que se esqueceu que fiquei quatro meses internada no hospital com pneumonia,
depois de ter dormido no porão junto com os ratos no chão frio e molhado?
Não pude evitar que minhas lágrimas saíssem. Só eu sabia o que foi viver por quase dezoito
anos nesse inferno, que para muitos que assistiam de fora achavam um verdadeiro paraíso.
Recordações daquela noite invadiam a minha memória.
— Por favorzinho, não me deixe sozinha, tenho medo do escuro. — Pedia e chorava desesperada,
tentando fazer de tudo para minha madrasta não me colocar de castigo no porão.
— Você ficará de castigo até amanhã. E se contar para alguém, farei pior, sua nojentinha.
Ela me jogou no porão e tentei impedir que me deixasse sozinha naquele cômodo escuro e frio,
onde eu podia ouvir os ruídos dos ratos. Simplesmente me joguei em suas pernas, agarrando-as com
toda minha força. Desejando que conseguisse detê-la, porém, era apenas uma criança de dez anos
que ainda não entendia por que estava ali.
— Não me deixe aqui... Eu faço tudo que quiser.
— Me solte! — Agarrou meus braços com força, me jogando para longe.
Então o baque da porta se fechando me fez tremer, fiquei gritando e batendo na porta. Até que
cansei, estava com sede e muito medo por estar sozinha. Encolhi minhas pernas, e comecei a chorar
baixinho com a cabeça apoiada em meus joelhos.
Eu estava na cozinha com a cozinheira Margarete ajudando-a preparar um bolo, e de repente,
Cassandra me puxou pelo braço e me levou para o porão.
No dia seguinte, quando acordei, estava sendo levada nos braços de um dos seguranças da
mansão e minha avó estava desesperada ao seu lado. Vó Glória precisou viajar para São Paulo junto
com Ricardo para acompanhá-lo na inauguração de uma casa de repouso para idosos. Fiquei meses
no hospital, e em nenhum momento Ricardo foi me visitar. Apenas vó Glória estava ao meu lado e
pedia perdão por ter se ausentado. Minha mãe de nada desconfio, deram a desculpa que eu estava
viajando, ela nunca soube o que eu passei nessa casa.
— Cale-se, Marina ou não respondo por mim.
— É lógico que ficará do lado da cobra.
— Veja bem como fala comigo, menina. — Ignorei a falsa indignação da Cassandra.
— Tenho nojo de tudo isso. — Inclinei meus braços, apontando para tudo que nos cercava. Suas
pupilas estavam dilatadas de raiva.
Saí da mansão e pedi para o motorista Pietro me levar até o flat, onde me encontrava com
Marcus. De todos os funcionários da mansão, Pietro e Margarete eram os únicos que eu confiava e
tinha consideração. Estava com meu coração palpitando de alegria por ver meu amado,
infelizmente, ainda não tínhamos assumido o nosso relacionamento, já que seu pai era o um dos
maiores doadores da campanha do Ricardo. Marcus preferia esperar o resultado da eleição para
assumir o nosso relacionamento, já que ele era candidato a deputado, e Ricardo, senador, e
segundo as últimas pesquisas, o partido METP estava à frente, e todos que faziam parte do círculo
estavam esperançosos. Mesmo assim, eu enfrentaria tudo para ficar com ele, eu já tinha passado
por coisa pior e aqui estava eu, viva para contar a história.
Assim que entrei no flat, fui encurralada pela figura máscula do meu namorado. Ele tomou meus
lábios selvagemente, e logo foi tirando minha roupa. Sua boca marcava cada pedacinho de minha
pele, e eu percebia a sua excitação pela forma voraz que estava me tomando. Eu era
completamente apaixonada por Marcus, e via o mesmo em seu olhar.
E Marcus preferia esperar o resultado da eleição para assumir o nosso relacionamento, já que
ele era candidato a deputado, e Ricardo, senador, e segundo as últimas pesquisas, o partido METP
estava à frente, e todos que faziam parte do círculo estavam esperançosos.
— A cada dia que passa, você fica mais gostosa. — Falou, beijando meus seios nus. Transamos
duas vezes selvagemente, como gostamos.
Apesar do Marcus viver falando o quanto eu era gostosa e linda, não conseguia ver isso
quando olhava para o meu reflexo no espelho. Minha consciência alertava que eu precisava de
ajuda profissional, pois não era normal todos me acharem bonita e eu não via isso, absolutamente
nada.
— Sexta-feira é meu aniversário, poderíamos fazer algo, juntos.
— Esqueceu que sexta-feira sairá o resultado das eleições? — Gemi, sentindo sua língua no
vale dos meus seios.
— Não, mas e depois?
— Terá a festa do partido.
— Não vejo a hora de assumirmos o nosso relacionamento. — Eu o puxei para beijá-lo
intensamente, e lamuriei ao sentir sua carícia em meu clitóris sensível.
— Paciência, moreninha.

***

Quando cheguei à mansão, já passava das seis da tarde. Foi maravilhoso passar todo esse
tempo com Marcus, e eu esperava que ele não demorasse muito para finalmente nos tirar das
sombras para que todos soubessem do nosso namoro.
Se eu pudesse, não participaria dessa festa, mas para evitar mais conflitos, era melhor estar
presente. A mansão toda estava ostentando uma decoração de primeira qualidade, e muitos
garçons estavam circulando pelo enorme salão de festas. Os convidados estavam chegando, e
infelizmente eu tive que pregar um sorriso falsamente feliz em meu rosto.
— Está linda, Mari. — Elogiou minha irmã Cássia.
— Você também. Passou o dia fora?
— Sim, passamos o dia no SPA, e Cassindy já estava lá desde cedo, por isso não estava no café
da manhã conosco. Pensei em chamá-la, mas depois da discussão que teve com nosso pai, você
saiu sem dizer nada e então tentei ligar para o seu celular.
— Meu celular ficou em casa.
Alguns convidados estavam dançando, outros em grupo conversando e alguns sentados às
elegantes mesas. A maioria era empresários de todos os ramos e políticos. Toda vez que o ar
entrava em meu corpo, eu me sentia melhor ao saber que faltava apenas uma semana para me
livrar de tudo isso. Eu lamentaria por não ter a presença constante de minha avó, mas não podia
continuar vivendo aqui.
Ricardo e sua esposa sorriam e posavam para os fotógrafos parecendo um verdadeiro casal
feliz. Cássia estava conversando com uma amiga, e até aquele momento, eu não tinha visto
Cassindy. Estava ansiosa para ver Marcus, que a qualquer momento chegaria com seus pais, mas
nós só nos encontraríamos ao término da festa, no flat.
— Amanhã visitará sua mãe? — Indagou vovó. Eu estava ao seu lado, sentada à mesa,
saboreando a refeição.
— Não, nos falamos pelo celular. Ela está em Curitiba junto com o marido resolvendo um
problema sério da cafeteria da cidade. Provavelmente, só voltarão na segunda-feira.
— Então poderíamos ao menos tomar nosso café amanhã na famosa cafeteria Donatello, sei
que adora o croissant de queijo de lá.
— A senhora sabe que é o melhor do mundo. — Ela sorriu.
Todos voltaram a atenção para o centro do salão, onde Ricardo estava ao lado da sua esposa.
Ambos seguravam uma taça de champanhe.
— Agradeço a todos que estão presentes. Sou grato por estar comemorando mais um
aniversário ao lado de minha família e amigos. Mas hoje, tive a honra de receber mais um
presente. O motivo é que minha adorável filha Cassindy e nosso futuro deputado Marcus Alvarez,
ficaram noivos.
Em meus olhos, caiu um véu negro, minhas mãos estavam trêmulas. Então uma dor se cravou em
meu coração quando vi Marcus e Cassindy andando para o centro, de mãos dadas, ambos
sorriam. Ele me enganou esse tempo todo? Não podia acreditar nisso. Quando percebi, já estava
me aproximando deles, e percebi que Marcus desfez o sorriso e seus olhos suplicavam para eu
manter minha boca fechada.
— Não pode ser possível, sabem por quê? — Vociferei, fazendo todos murmurarem sobre o
escândalo que eu estava criando. A música calma, que a pouco preenchia o ambiente, parou.
— Marina, por favor! — Disse Marcus.
— Ficou louca? Pode se retirar, depois iremos conversar sério. — Minha madrasta tentou
segurar meu antebraço, mas a afastei rudemente.
— Porque sou a namorada do Marcus. E hoje mesmo estávamos juntos em seu flat. Vai negar?
— As vozes de espanto das pessoas soavam alteradas, todos atentos com a minha declaração.
— Como assim? Quer dizer que é amante do meu noivo? — Indagou minha irmã, mas sua voz e
expressão não transmitiam surpresa.
— Pare com isso! Saia daqui! — Marcus agarrou a cintura da Cassindy, e senti nojo por saber
que fui feita de idiota esse tempo todo.
— Seja homem, Marcus, assuma o que tivemos até hoje. Onde acham que ele estava à tarde?
Passamos a tarde juntos, em seu flat. Você prometeu que ficaríamos juntos... — As lágrimas já
marcavam meu rosto. — Fale para todos!
— Ela é louca! Sempre se insinuou para mim. Precisa se tratar, garota. Eu amo a Cassindy. Você
é louca! — As palavras do Marcus me fizeram queimar por dentro.
— Chega disso, Marina! Retire-se, depois me acertarei com você. — Falou Ricardo.
Não sei como, mas minhas pernas voltaram a funcionar, me fazendo sair do salão de festas
correndo. Todos me olhavam e levantavam as hipóteses. Assim que entrei em meu quarto, peguei
minha mochila no guarda-roupas e coloquei de qualquer jeito algumas mudas de roupas e meus
documentos pessoais.
Saí correndo, e assim que meus pés pisaram no chão do lado de fora da mansão, olhei para
trás, gravando o dia que estaria cravado como uma faca em minha memória e coração. Jurei em
pensamentos que nunca mais colocaria os pés na mansão Medeiros.
Continuei andando por um bom tempo, até que finalmente avistei uma parada de ônibus. Não
sabia aonde minha mãe morava exatamente, além disso, ela só estaria de volta na segunda-feira.
Dentro do ônibus, sentada no banco, liguei para a minha mãe e notei alguns olhares em cima de
mim, provavelmente porque eu estava chorando.
No segundo toque, minha mãe atendeu e soltei um suspiro de alívio quando ouvi sua doce voz.
— Aconteceu alguma coisa meu serzinho?
— Preciso da senhora, mamãe.
CAPÍTULO 3 – INESPERADO

MARINA

Contei tudo que estava entalado na minha garganta para a minha mãe, absolutamente tudo que
sofri durante esses anos na mansão Medeiros. Ela se desesperou e começou a chorar, pedindo
perdão diversas vezes. Mantive todos os maus-tratos longe do conhecimento da minha mãe, tanto
eu como vó Glória achávamos melhor não colocar mais armas nessa guerra.
Minha mãe disse que amanhã mesmo estaria de volta, e me levaria para sua casa, onde eu já
tinha um quarto à minha espera, e que eu deveria pegar um táxi, já que era tarde e não tentar
encontrar a sua casa usando ônibus como transporte. Ela me deu as coordenadas para chegar ao
Hotel Sampaio, onde me identificaria como enteada do Albestini. Eu passaria a noite lá, e amanhã
me encontraria com ela na cafeteria Donatello.
Finalmente cheguei ao Hotel Sampaio, e meus olhos vagavam pela arquitetura clássica do hotel.
Estava tão distraída, que acabei batendo de frente com alguém, e por pouco não fui ao chão.
— Desculpe-me, não o vi.... — Quando levantei o rosto para olhar a pessoa que tinha
esbarrado, toda a movimentação das pessoas que passavam por nós e os ruídos dos automóveis
na avenida, sumiram.
Nunca havia ficado tão impressionada com uma beleza masculina. O corpo viril passava uma
imagem de poder, uma pessoa destemida. Seus olhos azuis cintilantes me avaliavam com
intensidade, e o formato másculo de seu rosto ficaria guardado em meus sonhos.
— Não tem problema. Você está bem? — Sua voz grave me despertou.
— Sim, não foi nada. A culpa é minha, estava distraída.
— Sem problemas, já que acabei conhecendo uma linda jovem. — Seus lábios brincaram em um
sorriso charmoso, e meus olhos caíram sobre eles, com sede.
— Eu preciso ir. Boa noite. — Quando tentei passar, senti sua mão quente em contato com a
minha pele, me deixando ardendo por dentro, era uma atração inexplicável.
— Poderia ao menos saber seu nome? Ficará muito tempo hospedada neste hotel?
— Marina, e não ficarei muito tempo.
Dei as costas, obrigando minhas pernas a não falharem. No hall do hotel, olhei para trás e o
homem misterioso continuava seu caminho, e ao seu lado dois homens trajando ternos escuros, supus
que deveriam ser seus seguranças. E pelo visto, fiquei tão fascinada pela perfeição em homem,
que nem notei a presença dos seguranças. Ao me aproximar do balcão da recepção, a
recepcionista sorriu, simpática.
— Boa noite. Sou Marina enteada do Albestini.
— Estávamos à sua espera, o senhor Donatello explicou tudo. Esse cartão é do seu quarto no
sexto andar, sinta-se à vontade para pedir qualquer coisa que precisar.
— Muito obrigada.
Depois de ter ficado um bom tempo debaixo do chuveiro, chorando por todos os
acontecimentos, finalmente sai e vesti apenas uma camiseta e calcinha. Liguei para a minha mãe
avisando que cheguei ao hotel, e ela confirmou que amanhã, antes do horário do almoço, estaria
de volta.
Dormi muito pouco à noite, estava aliviada por não estar mais vivendo debaixo do mesmo teto
que os Medeiros, mas a imagem do Marcus e Cassindy assombravam a minha mente, me fazendo
chorar novamente, principalmente quando me lembrava da manhã que passamos juntos em seu flat.
Eu estava sentindo nojo do meu corpo, os beijos e carícias dele estavam me causando repulsa.
Como pude ser tão cega? Durante todo nosso tempo de namoro, Marcus me alimentava com
promessas, e eu, como uma verdadeira mulher apaixonada, acreditei em cada palavra.

***

Como combinei de encontrar minha mãe na cafeteria Donatello, decidi tomar café da manhã lá,
ainda estava com a esperança de encontrar vó Glória, pois tínhamos combinados de ir a cafeteria,
assim eu poderia abraçá-la e pedir desculpas, se ela estivesse magoada. Eu não sabia o porquê,
mas minha avó parecia ter medo do Ricardo, e isso me assustava, já que ela era a mãe dele.
Existia algo mais por trás disso, eu tinha certeza.
Assim que entrei no estabelecimento, me senti em casa. Cumprimentei alguns funcionários que
passavam por mim, e na última mesa do lado da janela, vi vó Glória tomando seu típico cappuccino
cremoso. Eu a abracei afetuosamente e recebi o mesmo em troca.
— Sinto muito, minha neta. — Sua mão cobriu a minha por cima da mesa.
— A culpa não foi sua, vovó.
— Mas eu poderia ter evitado. — Encarei seus olhos azuis idênticos aos do Ricardo.
— Poderia?
— Sim, mas não tive coragem. Fiquei sabendo na quinta-feira sobre o possível noivado do
Marcus e sua irmã Cassindy.
— Por favor, não esconda mais nada.
— Seu pai, junto com Guilherme Alvarez, sempre desejaram unir o útil ao agradável. A verdade
é que Marcus também foi pego de surpresa pelo pai.
— Quer dizer que Marcus se casará por obrigação, tudo por...
— Tudo pelo poder, minha querida neta.
A revelação da vó Glória poderia mudar tudo, pois eu amava Marcus e enfrentaria qualquer
coisa para ficar ao seu lado. Mas depois da sua atuação perfeita de ontem à noite, eu fiquei
ciente que ele não era homem suficiente para assumir um relacionamento comigo. Se me amasse,
como declarava, teria negado a pressão do Ricardo e do seu pai. Tudo estava claro, todos
queriam lutar para manter o poder medíocre que tinham.
— Como a senhora sabia sobre Marcus e eu? — Indaguei quando me dei conta que nunca falei
nada a respeito.
— Não pense que pode esconder as coisas dessa velha aqui, querida. — Ela sorriu e seu
polegar acariciou o dorso da minha mão. — Fiquei sabendo quando ouvi uma conversa sua ao
telefone com Marcus, foi sem querer. Eu esperava que você conversasse a respeito comigo, mas
como não aconteceu...
— Vovó, eu estava em um relacionamento com Marcus há alguns meses, eu não sabia do
envolvimento dele com a Cassidy.
— Eu sei que você não faria isso, mesmo não gostando da sua irmã.
— Minha mãe chegará antes do almoço, ficarei aqui esperando por ela.
— Estou sabendo, ontem liguei para a Elisa. E como esperava, falou horrores para mim, e eu
não a culpo. Nunca aprovei o que meu filho fez para vocês, ele deve estar louco querendo notícias
suas, até colocou alguns seguranças da equipe para procurá-la, mas Cassandra o convenceu de
que logo você voltará.
— De jeito nenhum. Nem mesmo minha alma irá querer ficar naquela mansão depois de eu
morrer, vó. — Ela riu e eu admirei as rugas em seu rosto.
— Quando nós veremos novamente? — Seu timbre era melancólico.
— Por favor, vovó, não fique triste. — Beijei sua mão enrugada. — Sinceramente, não sei o que
farei agora da minha vida. Mas posso afirmar que irei vencer, mostrarei ao Ricardo Medeiros o
quanto é doloroso viver sentindo dor.
— Marina...
— Não diga nada, vovó. Ninguém poderá tirar essa mancha negra que está em meu coração.
Um dia, todos que me fizeram mal irão implorar pelo meu perdão, e não terão. Não me importo de
perder minha vaga no céu.
— Eu a entendo, minha neta. — Seus olhos brilhavam com as lágrimas que estavam descendo
lentamente pelo seu rosto.
— Agradeço por tudo que fez, vovó. Eu amo a senhora, e prometo sempre ligar, mantenha seu
celular por perto.
— Tudo bem, querida. Eu também te amo muito. Pode parecer errado, mas entre as minhas três
netas, você é a minha preferida, eu andaria ao seu lado de olhos fechados, e não me importaria
de queimar minha mão quando a colocasse no fogo por você.
Pietro veio buscar vó Glória, e aproveitei para me despedir dele, e pedi para mandar
lembranças à Margarete. Voltei para dentro da cafeteria e tomei meu café da manhã, peguei meu
celular dentro da mochila e mais uma vez visualizei uma quantidade enorme de ligações e
mensagens do Marcus. Desliguei o aparelho, retirei o chip e o joguei no lixo.
O sino da porta de entrada da cafeteria me chamou a atenção, e vi minha cópia fiel olhando
em minha direção. Elisa Mendes continuava uma mulher belíssima, e eu a admirava muito, então
levantei e me aconcheguei em seus braços, que me rodeavam de forma protetora.
— Perdoe-me, meu serzinho. — Murmurou com a voz embargada.
Entramos no escritório da cafeteria, e nos sentados no sofá de couro marrom. A decoração era
simples e cheia de vida, e eu sorri ao notar fotos minhas espalhadas pelo lugar. Mesmo convivendo
tão pouco com ela, nunca conseguiram desfazer nosso laço de amor.
— Estou chocada com tudo o que você me disse ontem, minha filha. Estou me sentindo a pior
pessoa do mundo. Sua avó me prometeu que a protegeria, Glória prometeu. — Falou chorando,
com nossas mãos unidas.
— Todas as vezes que fui maltratada fisicamente, vó Glória não estava em casa. Os
empregados de confiança nunca conseguiram impedir, afinal, dependem do emprego. Por favor,
mãezinha, não se culpe.
— Como não, Marina? Eu deveria ter lutado por você, mesmo que passássemos dificuldades.
Mas eu estava com medo que Ricardo tomasse uma atitude mais drástica, levá-la para outro país,
ou simplesmente fazer algo que eu nunca mais pudesse vê-la, e hoje, você nem mesmo saberia de
minha existência.
— O que importa é que estou longe daquela mansão. Nunca mais voltarei para lá.
— Eu me certificarei disso. — Acariciou as laterais de meu rosto.
— Não sei o que farei agora...
— Ainda tem muito tempo para pensar. Vamos para casa, Albestini está ansioso para conhecê-
la.
***

Era o dia do meu aniversário e passei o dia com minha mãe e meu padrasto em um passeio
turístico na nossa cidade maravilhosa. Não estava conseguindo comer direito nesses últimos dias,
ainda era tudo muito recente. Porém, nada se comparava em ter a minha mãe ao meu lado,
éramos tão parecidas não apenas fisicamente, tínhamos também a mesma personalidade.
Albestini era uma pessoa maravilhosa, e toda vez que falava ou estava perto da minha mãe,
deixava transparecer o amor em suas palavras e olhar. Ele comentou que tinha um filho, mas eles
tinham pouco contato, e não me explicou o motivo e eu não quis ser intrometida e ficar
perguntando. A única coisa que contou sobre o seu filho era que se chamava Enrico e que morava
com o avô materno.
Quando chegamos em casa, já passavam das cinco horas da tarde e minha mãe preparou
pipoca, então nos sentamos no sofá para escolhermos um filme. Entretanto, os canais estavam
anunciando os vencedores da eleição, e uma nova ferida foi aberta em meu corpo quando a
repórter anunciou com um enorme sorriso que o novo senador pelo Estado do Rio de Janeiro era o
admirável Ricardo Medeiros, e do mesmo partido, o novo deputado federal era Marcus Alvarez.
Eles conseguiram vencer mais uma vez. Mesmo com um clima tenso pairando sobre mim, prossegui
com o programa ao lado da minha mãe e seu marido.
Ganhei um novo celular da minha mãe, logo entrei em contato com a vó Glória e conversamos
bastante. Ela disse que Ricardo decidiu não me procurar mais e que ela estava com muitas
saudades. Fiquei chocada quando falou que Marcus perguntou sobre o meu paradeiro para ela, e
como esperava, vovó negou que sabia onde eu estava. Eu tinha certeza que se Marcus quisesse,
me encontraria, porém, deveria estar sendo controlado até o último fio de cabelo pelo partido, e
principalmente por Guilherme Alvarez.
Fazia um mês desde a trágica noite na mansão Medeiros, e a exatamente três semanas eu tinha
enjoos e tonturas. Assim como eu, minha mãe também desconfiava de uma provável gravidez.
Realizei três testes de farmácia, e pedi para minha mãe olhar o resultado.
— Qual o resultado?
— Todos deram positivos.
Era uma situação inesperada, algo que não deveria estar acontecendo. Eu não poderia deixar
a história se repetir, por isso manteria a existência do meu bebê em segredo. Seria uma grande
guerra, pois essa criança que crescia em meu ventre seria o primeiro neto ou neta da família
Medeiros e Alvarez. Com certeza eles iriam querer manter o meu bebê em suas mãos sujas e
mesquinhas para transformá-lo em algo desleal, ou até mesmo fazer com ele o mesmo que fizeram
comigo durante quase dezoito anos.
— Cuidarei do meu bebê, mãe. Eu o defenderei como uma verdadeira loba, pronta para
atacar sem recuar.
— Estarei ao lado de vocês, filha. — Ela me abraçou e eu senti seu amor e proteção, e isso
conseguiu afastar os meus medos.
CAPÍTULO 4 – ASCENSÃO

MARINA
Anos depois

Os nove anos que passaram, não cicatrizaram a ferida que todos da mansão Medeiros me
causaram. Não foi fácil ser mãe no início da idade adulta, principalmente quando ainda não tinha
planos para o futuro, a única coisa que estava em minha mente era que um dia iria me vingar, pois
a mancha negra que estava em meu coração se espalhou por todo o meu sangue.
Com a ajuda da minha mãe e meu padrasto, consegui me manter erguida em todos os meus
passos. Eu entrei para a faculdade para cursar administração, e foi lá que conheci Lucas Rosa, um
homem de personalidade incrível e admirável, logo nos tornamos amigos. Em nosso penúltimo ano
no curso, ele me convidou para trabalhar ao seu lado na empresa de segurança de sua família. Em
um primeiro momento, pensei que o certo seria ajudá-lo na administração, assim como eu já fazia
na rede da Cafeteria Donatello ao lado da minha mãe e seu marido. Entretanto, fiquei fascinada
pela adrenalina e a maneira que todos os seguranças eram altamente treinados no subsolo da
conceituada empresa Blindados. Foi então que tomei uma decisão: eu queria ser segurança
pessoal.
No início, Lucas questionou minha habilidade, que eu também não tinha conhecimento. Todos os
professores de artes marciais ficaram surpresos com a facilidade que eu aprendia as coisas e a
maneira que minha concentração e corpo trabalhavam juntos. Tudo isso levava um certo tempo até
conseguirmos buscar o equilíbrio que cada técnica exigia.
Quando nos formamos, Lucas abriu o jogo a respeito da Blindados. Falou que a empresa de sua
família fazia a segurança das pessoas mais importantes da sociedade, e muitas vezes eram
contratados para investigar casos de homicídios. Por isso mantinham a equipe de psicólogos e
médicos à disposição para todos os funcionários.
Eu trabalhava na Blindados há cinco anos, e cada missão que recebia e liderava, me fazia
sentir melhor. Era como se todas as minhas energias negativas se desaparecessem. Eu evitava ao
máximo assistir à televisão, pois odiava saber que o Senador e Deputado pelo Estado do Rio de
Janeiro ainda continuavam no poder. O mais doloroso era estar ciente que eu ainda sentia algo
por Marcus. Meu corpo traidor e minha mente masoquista insistiam em trazer recordações dos
momentos bons que passei ao lado do pai do meu filho.
Apesar de a minha gravidez ter surgido em um momento delicado, em momento algum passou
pela minha cabeça evitar o nascimento do meu filho. Ele era um anjo no meio de tantas pessoas
cruéis que me cercavam. Minha mãe me ajudou em tudo, assim como meu padrasto, e isso fez a
nossa amizade se transformar em amor de pai e filha, coisa que eu nunca tive antes.
Vó Glória ficou muita emocionada e feliz quando soube de minha gravidez, mas ao mesmo
tempo eu via medo em sua voz e olhar, toda vez que nos encontrávamos. Ela sabia que meu filho
seria uma grande disputa, caso as duas famílias soubessem da existência do Theodoro Mendes.
— A senhora irá ao meu jogo de futebol na sexta-feira? — Estava terminando de ajudar meu
filho a arrumar sua mochila escolar.
Era evidente que eu adoraria que Theo tivesse uma figura paterna, só eu sabia o quanto sofri
por não ter isso. Só descobri esse sentimento de pai e filha com Albestini, e ainda ficava admirada
com a maneira que ele me tratava com tanto carinho e amor. Minha mãe confessou que seu marido
quis várias vezes ajudá-la a pôr fim na ditadura que Ricardo havia imposto a nós duas, mas dona
Elisa não queria envolvê-lo e colocá-lo nesse jogo. E eu pensava da mesma forma, apesar de meu
padrasto ter dinheiro, nada se comparava ao poder dos Medeiros.
— Claro que sim, filho. Estarei ao lado da sua avó como líder de torcida. — Gesticulei, jogando
meus braços e mãos para cima, o que o fez revirar os olhos em desagrado.
— Por favor, mamãe, será o mico do ano. Tenho certeza que o vovô irá impedir.
— Não vai mesmo! Estou até com os pompons prontos. — Sua expressão era de espanto, mas
claro que não fiz nada disso. Eu adorava ver meu menino com vergonha.
— Eu já tenho nove anos, não preciso de toda essa atenção. Talvez seja melhor apenas o vovô
ir me assistir.
— Bom, então talvez eu vá sozinha com sua avó ao Tubarões, nesse sábado.
— Não, mãezinha, faça o que quiser, mas por favor, me leve ao Tubarões. É o melhor parque
aquático do mundo.
— Eu consigo ganhá-lo rapidinho, hein? — Eu o puxei para um abraço apertado, sentindo o
cheiro do seu cabelo.
Theo era muito parecido com o pai. Isso poderia me fazer mal, mas nada era capaz de trincar
o amor que eu sentia pelo meu filho. Agora, com meus vinte e sete anos de idade, percebi que
mudei tanto meu lado bom, como meu lado ruim. Esses dois sentimentos viviam dentro de mim,
principalmente quando sonhava com o dia em que todos que me humilharam, pagariam de alguma
forma pelo que fizeram.
Depois de deixar meu filho na escola, eu segui para a Blindados. Cumprimentei alguns
funcionários que passavam por mim, e segui direto para a sala de reuniões. Lucas me avisou que
teríamos um novo cliente da alta sociedade, e que iríamos decidir quais seguranças seriam
escolhidos.
— Bom dia. — Cumprimentei Lucas e Ruan.
— Bom dia. Bom, agora podemos começar. — Disse Ruan, me entregando a ficha do novo
cliente.
— Certo, vamos lá! — Lucas pausou para nos entregar mais um relatório do dia a dia do novo
cliente. — O novo cliente se chama Enrico Falcão, CEO das empresas de tecnologia Version 8. Ele
ficará definitivamente no Brasil e estará financiando alguns partidos políticos.
— Ele já sofreu ameaças? — Indagou Ruan.
— Sim, e tentaram sequestrá-lo ano passado nos Estados Unidos, por sorte, não conseguiram.
Enrico é um amigo meu, e meus pais admiram muito o avô dele, Arthur Falcão.
— Qual o motivo de ele querer mudar a empresa que fazia sua segurança? — Continuei lendo
a rotina do senhor Falcão no relatório.
— Por causa dessa falha que cometeram ano passado. Ele precisará de segurança pessoal o
acompanhando em sua rotina, principalmente em eventos, onde sabemos que o perigo é maior.
— Alguns dos nossos melhores guarda-costas estão em missão em São Paulo, Curitiba e Rio
Grande do Sul.
— Eu posso fazer isso. — Afirmei, encarando-os.
— Sei o quanto é competente, Marina. Mas tem certeza?
— Sim, Lucas. Estou alguns meses apenas liderando internamente. Eu preciso de ação.
— Acho excelente. Gostaria de assumir, mas vocês sabem que um de nós precisará manter a
liderança interna. Se quiser, Marina, posso assumir, sem problema.
— Pode deixar que eu assumo, Ruan.
— Então está decidido, você fará a segurança pessoal do Enrico Falcão. — Lucas pegou o
pequeno controle ao lado de sua pasta, apertando o botão e fazendo a tela do projetor descer.
— Marina, esse é Enrico Falcão.
Fiquei surpresa quando olhei para a imagem que apareceu na tela do projetor. Nove anos
atrás esbarrei em Enrico Falcão. Fiquei mais admirada ainda com a sua beleza máscula, que
apesar de estar trajando um terno, era notável sua forma robusta. Ele era simplesmente lindo.
Durante esses anos, uma vez ou outra me lembrava do charmoso e educado homem que esbarrei
na entrada do Hotel Sampaio, o qual eu nem sabia o nome, mas sua imagem estava gravada com
perfeição em minha mente, principalmente seus olhos e sorriso.
— Vocês se conhecem há muito tempo, Lucas? — Tentei não parecer muito interessada.
— Não tanto, apenas dois anos. Foi em um evento de empresas em Washington.
— Quando começarei?
— Amanhã mesmo. Hoje você fará a escolha da sua equipe e montar o plano. Enrico chegou há
duas semanas no país, e já mandei seis seguranças que ficarão fazendo a proteção até amanhã.
Depois, você e sua equipe entrarão em ação, Marina.
— Ok, Lucas. Bom, irei ao subsolo assistir um pouco do treino, e decidirei.
— Vou com você, Marina.
Ruan e eu estávamos assistindo ao treino, todos pareciam ótimos e concentrados. Eu pratiquei
muay thai e aikido, das dez artes marciais, as únicas que realmente me interessaram foram essas,
mesmo assim eu sabia um pouco das outras. Quem comandava as aulas de tiro era um policial
militar que se aposentou há um ano. Ao término do treino, com uma lista em mãos, convoquei os
cinco que escolhi: Paula, Afonso, K12, Caíque e Julio. Eles seriam o meu braço direito, e deixei para
Ruan escolher dez.
Meia hora depois, os cinco estavam em minha sala. Expliquei nossa missão e passei o relatório
da rotina do nosso cliente. O plano de rota, eu faria essa noite na minha casa, com calma, e
amanhã, assim que eu chegasse, passaria a eles.
Quando cheguei na casa da minha mãe, todos estavam na cozinha terminando de preparar o
jantar. Por conta do meu trabalho, minha mãe e meu padrasto cuidavam do Theo durante o dia, e
quando eu não tinha tantos afazeres, passava mais tempo em casa. Mas agora que eu seria a
segurança pessoal do Enrico Falcão, era bem provável que eu passasse mais tempo longe de casa.
Apesar de tudo, em momento algum meu filho reclamava. Ele entendia o meu trabalho, e eu
sempre estava atenta a tudo ao redor dele. Eu era muito observadora e o conhecia como a palma
da minha mão, fazendo de tudo para cobrir qualquer lugar vago que tivesse no coraçãozinho do
meu tesouro.
— Chegou na hora certa, filha. — Abracei minha mãe, que estava terminando de preparar uma
salada.
— É mesmo. — Senti os braços do meu filho rodeando minha cintura por trás, e virei com tudo,
agarrando-o. Theo era um menino muito saudável, carinhoso e inteligente.
— Acho que está bonita demais. — Enrugou o nariz, avaliando minha roupa.
Eu estava trajando uma calça jeans de lavagem preta, blusa de manga curta preta e meu
casaco de couro marrom, botas de cano curto preta. Sempre me vestia assim para trabalhar.
— Então quer que sua mãe ande feia? — Baguncei seu cabelo liso.
— Não, mas todos meus amigos a acham gata. — Suspirou, dramático.
— Deveria sentir orgulho, meu neto.
— O pai do meu amigo também a acha gata.
— Opa! É melhor pararmos por aqui. — Falei, fazendo-o sorrir.

Não namorei ninguém desde Marcus, apenas ia de vez em quando para um barzinho com
Jordana, uma amiga da época da faculdade. Quando surgia alguém interessante, eu terminava a
noite em um hotel e nada mais acontecia depois. O único homem que eu pretendia ter ao meu lado
pelo resto da minha vida era o meu filho.
— Você é jovem, Marina. Seu filho e sua mãe tem razão quando dizem que deve namorar.
Realmente, minha mãe e meu filho me apoiavam ao extremo para encontrar meu par perfeito.
Mas isso estava longe de acontecer, eu estava ótima sozinha, apenas ao lado da minha família.
Poderia parecer besteira, mas o que eu passei com Marcus, ouvindo suas promessas, a maneira
que me entreguei a ele, me fez pensar que talvez eu nunca mais viveria isso com outro homem. Eu
não sabia se seria capaz de amar novamente.
Depois do jantar, meu filho e seu avô foram jogar uma partida de videogame na sala de estar,
enquanto eu ajudava a minha mãe arrumar a cozinha.
— Aconteceu alguma coisa? Percebi que Albestini está meio aéreo.
— Sim, meu serzinho. O filho dele chegou semanas atrás e até agora não veio procurá-lo.
— Confesso que ainda tenho curiosidade em entender qual o problema dele com o filho.
— Os dois passaram por um grande trauma, e depois disso, Enrico foi morar com o avô
materno. E nunca mais quis saber do pai, mesmo ele tentando entrar em contato. Enrico
simplesmente o ignora. — Acabei sorrindo, lembrando de Enrico Falcão.
— O novo cliente da Blindados também se chama Enrico.
— É um nome forte e bonito.
— Eu também acho. — Terminei de guardar a última louça. — E qual foi esse trauma, mãe?
— Adoraria poder contar, mas nem para mim Albestini falou. Mesmo assim, acho que o filho
dele, com seus trinta e quatro anos de idade, já deveria ter procurado o pai e tentado uma
reaproximação.
Assim que cheguei em casa, conferi o dever escolar do Theo, e tudo estava certinho. Depois de
tomar um banho, fui deitar ao lado do meu filho em sua cama e ficamos conversando até ele cair
no sono. Sempre tive mania de ficar velando seu sono, de senti-lo bem pertinho de mim.
Já era madrugada quando terminei de montar a rota, e dormi com a imagem de Enrico Falcão
em meus pensamentos.
Antes de ir para a Blindados, fui para a cafeteria Donatello me encontrar com vó Glória. Liguei
para Lucas, perguntando o horário que o senhor Falcão chegaria, e ele me garantiu que
marcaram a reunião para às dez da manhã. Ao entrar no estabelecimento, encontrei minha avó em
nossa mesa de sempre.
— Bom dia, vovó. — Eu a abracei, beijando sua testa.
— Está belíssima, minha neta. — Elogiou com um enorme sorriso.
— Pensei que só nos veríamos no domingo de manhã, assim poderia ver Theo.
Meu filho sabia que vó Glória era a sua bisavó, mas para ele achava que era somente por
consideração. Eu sabia que futuramente a minha mentira poderia ter uma consequência, mas eu
preferia não pensar nisso.
— Precisava conversar urgente com você, querida. Por isso mandei a mensagem tarde da noite.
— Então fale, vovó.
— Deixar a existência do seu filho longe do conhecimento do outro lado da família pode trazer
grandes consequências.
— Seja clara.
— Durante todos esses anos, sua irmã Cassindy tem tentado engravidar, porém não conseguiu
segurar suas quatros gestações. Isso tem abalado muito o seu pai, Marcus e Guilherme.
Eu e Cassindy tínhamos apenas dois meses de diferença. A última vez que eu a vi ao lado do
Marcus, estavam em uma foto e pareciam felizes, mas no fundo, eu sabia que poderia ser tudo um
grande teatro.
— Isso não é problema meu, vó. Talvez seja um castigo para todos eles.
— Não fale assim, minha neta adorada. — Suas duas mãos pousaram em cima das minhas
mãos.
— Desculpe-me, mas não posso ser falsa. Tudo que estão passando ainda é pouco. Eu ainda
sinto dor por tudo que me causaram. E meu filho nunca terá nenhum laço com essas duas famílias,
apenas você.
— Seu filho é tudo que eles sonham, Marina. Seu pai sempre almejou ter um descendente
homem. Marcus e Guilherme anseiam a mesma coisa. Eles querem um futuro sucessor tanto na
política, como herdeiro.
— Não interessa! Do meu filho eles não irão se aproximar. Eu sou capaz de tudo para evitar
isso, vovó.
— Querendo ou não, seu filho é um legítimo Medeiros e Alvarez. Theodoro Mendes, o filho de
mãe solteira, na verdade é Theodoro Mendes Medeiros Alvarez, o grande herdeiro de ambas as
famílias.
— Está errada, vó Glória. Meu filho sempre será Theodoro Mendes.
— Eles estão desesperados. Desejam muito um menino.
— Por que não adotam? — Vó Glória deu um sorriso sem humor, meneando a cabeça.
— Pelo fato de quererem os dois sangues legítimos.
— Nenhum deles chegará perto do meu filho.
Enquanto dirigia, tentava manter minha mente livre da conversa que tive a pouco com vó Glória.
Lutei para chegar onde estava hoje, e ainda pretendia ir mais longe, tudo para estar preparada
quando apontassem as facas em minha direção. Eu seria o escudo que protegeria o meu filho.
CAPÍTULO 5 – A LOBA
ENRICO

Estou me sentindo em casa. Finalmente, depois de tantos anos, voltei definitivamente para o
Brasil, e aos poucos estarei visitando os pontos turísticos da minha cidade maravilhosa. Estava
pensando há muito tempo em voltar, porém, antes precisava organizar tudo minuciosamente para
fazer a mudança da sede da Version 8 para o Rio de Janeiro.
Há duas semanas eu estava atolado de trabalho, afinal, precisaria organizar todos os projetos
novamente para ter certeza que nada tinha ficado para trás. Desde meus sete anos de idade que
moro com meu avô, Arthur Falcão, o lendário magnata do ramo da tecnologia. Aos vinte sete anos,
assumi a empresa da qual meu avô tem orgulho grandioso, principalmente carinho, pois minha mãe
Teresa estava ao seu lado e pretendia seguir os passos dele. Mas infelizmente não aconteceu,
minha mãe faleceu em um trágico acidente de carro.
Pensei que mesmo sentindo o vazio deixado por minha adorável mãe, meu pai faria de tudo
para preencher. Me enganei feio, pois o senhor Albestini Donatello, se fechou em seu mundo e por
pouco não aconteceu o pior comigo. Passei vinte sete anos longe do meu pai, algo que lutei dia
após dia para esquecer, porém a mágoa só aumentou.
Depois de alguns anos longe, meu pai pareceu voltar para realidade, mas já era tarde demais
para reatarmos nossa relação de pai e filho. Ele tentou se aproximar, entretanto, nunca permiti, e
ainda não queria isso. Soube que ele se casou com uma mulher de caráter e muito bonita. Apesar
de nossas sombras escuras, estou feliz por meu pai ter seguido em frente.
— Bom dia, Rico. — Me surpreendi com a visita do meu avô. Eu estava em minha nova sala
tentando adiantar o trabalho.
— Não esperava sua visita, vovô. — Eu me aproximei, abraçando-o com carinho.
— Sei que está cheio de trabalho, mas queria conversar. — Apontei para o jogo clássico de
sofá para sentarmos.
— Aconteceu algo?
— Ontem, seu pai me ligou e nos convidou para jantar em sua casa, assim conheceremos a nova
família dele. — A nova família se resumia a minha madrasta, irmã postiça e sobrinho postiço. Ainda
não os conhecia, e também não queria essa aproximação.
— Se o senhor quiser ir, fique à vontade, mas eu não irei.
— Estou velho, Rico. Odiaria fechar meus olhos eternamente sabendo que meu neto e o pai
continuam brigados. Faz tanto tempo, talvez seja o momento de superar isso.
— Estou admirado com o senhor falando assim, afinal, até pouco tempo, afirmava que eu tinha
razão.
— Eu agia dessa maneira, pois eu também estava sofrendo com a perda da sua mãe, minha
adorável e amada filha. — Encarou suas mãos demostrando emoção, por conta das lembranças.
— Quero vê-lo construindo uma família, tendo ao seu lado uma grande mulher que seja forte nos
momentos mais difíceis, e que principalmente, você esteja de bem com seu pai.
— Esse papel de casamenteiro está ficando chato, vovô. — Resmunguei, fazendo-o rir.
— Ainda não aceitei o fato de ter rompido com Alexandra. Uma moça linda, educada, de boa
família e que principalmente, o amava.
— Pois eu aceitei muito bem. — Balancei os ombros, como um garoto rebelde. — Não a amava,
e não poderia mantê-la de enfeite ao meu lado.
— Alguma outra mulher o conquistou?
— Não, a verdade é que nenhuma mulher com quem estive me fez perder a linha de raciocínio.
Todas eram lindas, com belezas e personalidades diferentes, porém, nada que me amarrasse.
— Alexandra parecia perfeita.
— Realmente ela o conquistou. — Ele sorriu amigável. — Não posso negar o quão linda e
inteligente Alexandra é, contudo, não poderia retribuir o amor dela.
— Anseio muito vê-lo casado e com vários filhos. Eu irei adorar mimar meus bisnetos.
— Eu também, mas ainda não encontrei a dona do meu coração.
— Admiro muito o homem que se tonou, não apenas nos negócios, digo também no quesito
romance. Você poderia muito bem-estar aproveitando seu status de solteiro com uma e com outra,
porém, se mantém romântico. Tudo como deve ser, primeiro um encontro, uma boa conversa e
finalmente o beijo.
— Está em mim, vovô. Não posso mudar esse meu lado, e por ser um romântico incurável,
mantenho a esperança de encontrar minha mulher antes dos quarenta. — Fiz uma careta, o
fazendo rir, meneando a cabeça.
— Gostaria que pensasse com calma sobre aceitar o convite do seu pai. — Concordei para pôr
fim ao assunto. — Agora, vamos falar sobre a contratação da nova equipe de segurança.
Conversou com Lucas?
— Sim, amanhã às dez da manhã teremos uma reunião, onde conhecerei meu segurança
pessoal e a nova equipe.
— Sei que odeia toda essa proteção, mas é necessária. Não se esqueça que ano passado
quase foi sequestrado, em pensar que poderia perdê-lo, meu neto. — Ele pausou, puxando e
soltando um ar melancólico.
Realmente, eu não gostava de andar para todos os lados com uma equipe de segurança me
rodeando. Eu tinha minha privacidade, mas não como gostaria. E meu avô Arthur tinha razão, eu
não podia vacilar com a minha segurança, e tive certeza desse fato ano passado, quando
tentaram me sequestrar.
— Excelente, a verdade é que gostaria há muito tempo que a Blindados comandasse a sua
segurança, mas decidi confiar na empresa do Travis. — Bufou, se recriminando.
— Não é necessário voltar mais nesse assunto.
— Tem razão. E como está se adaptando em sua nova residência?
Eu estava morando em minha nova casa havia uma semana. Comprei o lar dos meus sonhos no
bairro do Leblon, tendo como vista o Jardim Botânico e a Lagoa Rodrigo de Freitas. A mansão era
enorme e muita espaçosa, dentro de um condomínio muito respeitado. Confesso que quando estava
escolhendo a dedo minha residência, ficava imaginando vivendo ali ao lado da minha futura
amada, nossos futuros filhos e meus dois cachorros.
— Estou adorando, inclusive Louise tem me mimado muito.
— Ela também tem me deixado mal-acostumado, principalmente quando faz a feijoada que
tanto adoro.
***
Assim que cheguei em casa, fui recebido por meus dois fiéis companheiros, Lobo e Tatá, filhotes
de husky siberiano. Ambos eram descendentes de um cachorro da mesma raça que encontrei doze
anos atrás enquanto fazia minha caminhada de rotina pelo calçadão. Quando vi o filhotinho, notei
que tinha uma coleira com o nome Lobo gravado nela, e parecia perdido, mas infelizmente não
tinha endereço. Para a minha tristeza, Lobo faleceu de velhice há dois anos, mas deixou dois
descendentes resultado do cruzamento dele com a cadela da mesma raça de propriedade de um
amigo que morava nos Estados Unidos. Procriaram quatro, eu fiquei com dois e os outros dois
ficaram com Will. E para homenagear meu fiel amigo durante doze anos, dei o mesmo nome ao
filhote macho.
— Como estão, seus gordinhos? — Eles continuaram animados, querendo arrancar toda atenção
possível de mim.
— Falando com essas bolas bagunceiras? — Indagou Louise, se aproximando.
Louise era uma senhora muito dedicada, e com seus cinquenta anos, tinha mais energia que uma
criança. Ela acompanhava o vô Arthur e eu por onde quer que fossemos. Nossa adorável Louise,
dividia seu tempo entre a minha casa e o apartamento do meu avô.
— Não fale assim, Louise. Eles ficam chateados. — Brinquei, fazendo com que ela revirasse os
olhos. Ela reclamava muito dos meus bebês, mas não vivia sem eles.
— Irei deixá-lo com esses dois. No forno, tem uma deliciosa lasanha de frango e a salada
fresca está em cima do balcão. Coma tudo, Riquinho.
— Tudo bem, Louise. Boa noite, até amanhã.
Depois de fazer a deliciosa refeição, me certifiquei de colocar a ração para os meus
bagunceiros. Aproveitei o tempo para verificar as pastas que continham alguns documentos, no meu
escritório. De repente, parei tudo o que estava fazendo para encarar a pulseira que eu guardava
com tanto carinho há nove anos. Às vezes, eu parecia um doente, pois guardá-la e admirá-la, me
lembrava da jovem que encontrei na entrada do Hotel Sampaio.
O cabelo chocolate, seus olhos cor avelã e seu corpo coberto pelo vestido delicado, me
chamavam para cuidar dela. Eu queria que fossemos dois seres em um único. Sim, foi inevitável não
sentir a excitação violenta me corroendo com tanto afinco, que precisei me controlar para não ser
um verdadeiro pervertido, como eu era na cama. Eu ainda era capaz de ouvir sua voz me dizendo
o seu nome, Marina.
Infelizmente, estava indo para um jantar de negócios e quando voltei, decidi esperar pela
manhã do dia seguinte para conversar com ela, e descobrir por que tinha um olhar triste que não
combinava nada com seu espírito jovem. Porém, me deparei com a notícia que ela havia deixado o
hotel pela manhã bem cedo, e o que restou para manter a lembrança viva foi a pulseira que ela
deixou para trás. Deveria ter devolvido, mas queria uma desculpa para encontrá-la no dia
seguinte, eu tinha certeza que ela demorou para se dar conta de que havia perdido a pulseira.
Eu adorava admirar o delicado objeto de ouro que tinha o símbolo do infinito e as iniciais M e E.
Eu só poderia estar ficando realmente louco por sentir ciúme da letra E, afinal, uma curiosidade
enorme crescia em mim para saber se essa inicial era de um namorado, e sabe-se lá se hoje não
seria marido. Não. Não e não!
Na época, eu estava namorando Alexandra, e tentei ao máximo amá-la, porém nada
aconteceu. Adorava a companhia e conversa que tínhamos, na cama a satisfazia como um
verdadeiro devasso que era, mas não conseguia sentir a mesma satisfação do prazer da carne.
Era incompleto, alcançava o ápice pensando em outra, o que era um absurdo, mas não conseguia
controlar meus pensamentos.
Por isso eu acreditava em amor à primeira vista. Um sentimento que apareceu ao ver a garota
uma única vez, uma completa desconhecida, a única coisa que eu sabia era o seu primeiro nome, e
ele estava gravado em meu coração. Era um sentimento bom e perturbador ao mesmo tempo.
***

— Está ficando feio para o lado de vocês. — Estava lamentando, olhando para o meu par de
sapatos italianos que Lobo e Tatá estragaram.
— O café já está pronto, agora saia para eu poder arrumar seu quarto, Riquinho. — Louise
entrou no quarto, toda elétrica, como sempre. Até que notou o estrago da vez em minhas mãos. —
Mais um par para o lixo. — Ela sorriu, encarando os criminosos que estavam me encarando com
seus grandes olhos azuis parecendo inocentes.
— Pessoal, não podem mais estragar nada. — Lobo e Tatá se deitaram no chão, fazendo
gracinhas. Como resistir a essas duas fofuras?
Às nove horas da manhã eu estava entrando na empresa Blindados, e tinha que admitir que
adorei a estrutura do edifício, era uma arquitetura antiga, perfeitamente ampliada com a
tecnologia. Os seguranças me acompanhavam e eu tentei parecer o mais confortável possível, mas
na verdade não estava.
— Que bom vê-lo, amigo. — Proferiu Lucas, me abraçando.
— Estou feliz por estar aqui. Vim antes do horário marcado para conversarmos um pouco. E
conhecer melhor sua empresa.
— Ótimo! Vejamos... Podemos começar pelo subsolo, onde é realizado os treinamentos.
— Estou começando me animar. — Ele sorriu.
Fiquei muito impressionado com a estrutura do subsolo, notei que a área de treinamentos era
muito bem equipada e ao longe vi vários homens e mulheres, cada um concentrado e dedicado a
uma arte marcial.
— Não sabia que já estavam aqui. — Falou um homem ao entrar na sala.
— Enrico veio mais cedo para conhecer melhor a empresa. Esse aqui é Ruan, um dos líderes.
— Espero que possamos atender suas expectativas, senhor Falcão. — Cumprimentou, mostrando
ser um ótimo profissional.
Voltamos nossa atenção para a equipe que treinava lá embaixo, a distância não era muita.
Percebi que eles não podiam nos ver através das enormes janelas cobertas por uma película que
cobriam uma parede inteira. Enquanto conversávamos, minha atenção foi atraída para o corpo
feminino que estava dando tudo de si com um colega de equipe no tatame de muay thai. Estava
fissurado pela beleza forte naquele corpo feminino.
— Aquela será sua segurança pessoal. — Falou Lucas, se afastando para ir ao local onde
havia um equipamento sofisticado de som. E através do microfone, ele anunciou: — Marina, por
favor, compareça a sala de reuniões.
Fiquei atento para saber qual daquelas mulheres atenderia o chamado. Então, para a minha
surpresa, a linda mulher que estava secando, pareceu sair de sua concentração, olhando para o
alto.
Puta Merda! Era a Marina, a jovem que conseguiu cravar meu coração, tão linda e misteriosa,
com seu olhar poderoso. Minha boca ficou seca, enquanto meus olhos acompanhavam as gotas de
suor em seu lindo rosto, e alguns se perdendo no vale dos seus seios. Estava parecendo um animal
enjaulado pronto para atacar.
— Pelo visto, a Loba chamou sua atenção. — Comentou Ruan, segurando um sorriso.
— Loba? — Questionei, intrigado pelo apelido.
— É assim que Marina é conhecida por nós. É um apelido que o professor de aikido a batizou.
— Interessante. — Balbuciei, montando uma grande armadilha em pensamentos. — Então essa
é a loba.
***
Estava mais ansioso que uma criança para abrir o presente na noite de Natal. Eu acreditava em
muitas coisas sobre a teoria do destino, por isso achava que deveríamos aproveitar todos os
segundos de nossa vida. E falhei em minha crença no passado ao deixar Marina escapar, mas
agora eu queria conquistá-la e amá-la sem limites. Esperava qualquer coisa, aliás, imaginei
diversas opções sobre como seria meu reencontro com Marina, mas nunca pensei que ela seria a
minha segurança pessoal. Estava esperando um grandalhão mal-encarado, sem humor e irritante,
não uma gostosa, uma verdadeira coceira em minha ferida.

— Bom dia! — Lembro-me exatamente de sua voz doce e marcante.


— Bom dia, Marina. Podemos começar agora a reunião, já que terminei de mostrar as
dependências da empresa. — Disse Lucas, olhando para os documentos em suas mãos. — Esse é o
senhor Falcão. — Ele me apresentou, encarando-a, e finalmente tive a atenção da Loba.
Será que ela se lembrava de mim? Ela me avaliou e eu estava gostando daquilo. Mas
rapidamente Marina voltou a sua postura dura, como se quisesse mostrar o tempo todo o quanto
era forte. Eu não duvidava disso, mas todos nós gostávamos de carinho e em algumas horas, era
preciso baixar as armas e simplesmente ter um apoio. Quero ser tudo isso e muito mais para ela.
— É um prazer conhecê-lo, senhor Falcão.
Não sabe o quanto, loba.
— O prazer é meu. — Eu me levantei para apertarmos as mãos. Foi magnífico sentir o contato
de sua pele macia. Oh, Deus! Eu precisava me controlar, não podia assustá-la.
— Vamos começar? — Indagou Ruan.
— Sim, claro. — Eu me sentei novamente na cadeira.
Lucas falou sobre o funcionamento da equipe e como seriam as trocas. Eles estariam
preparados para viagens que eu precisaria fazer, e eu tentava ficar o mais atento possível, mas
estava observando Marina. Quando foi sua vez de falar, meus olhos se fixaram em seus lábios
marcados pelo batom claro.
— Está de acordo, senhor Falcão? — Inquiriu Lucas.
Sim, estava de acordo que Marina era a mulher mais bela que já vi em minha vida.
— Sim, estou de acordo.
— Bom, então agora é com a Marina.
Sai da sala de reuniões com ela ao meu lado. Meu corpo estava por um fio, uma vontade
enorme crescia para conhecê-la melhor, saber seus medos, sonhos, comida preferida, se gostava
mais do dia ou da noite. Tudo isso me interessava. Ao chegarmos ao hall da empresa, os novos
seguranças foram apresentados rapidamente, em seguida se espalharam, e somente três
continuaram ao nosso lado. Meu motorista, Maurilio, já me esperava com a porta aberta e dois
carros com seguranças estavam logo atrás.
— Entre primeiro, por favor. — Pedi educadamente. Ela mantinha sua postura firme.
Não, por muito tempo. Ela que me aguardasse!
— Irei na frente com seu motorista, senhor Falcão.
Fiquei um tempo encarando a figura altamente forte por fora, e me perguntava se por dentro
ela também teria essa força toda?
Sua calça jeans de lavagem escura acomodava perfeitamente seu corpo curvilíneo, pura e
naturalmente brasileiro. A camiseta preta e a jaqueta marrom de couro a deixavam quente. Minhas
veias pulsavam com força em meu membro, poderia muito bem agarrá-la e mostrar quem
mandava, mas eu queria amá-la da maneira que sempre desejei fazer com a mulher da minha
vida.
Deus do céu! Eu poderia está louco, mas sentia que essa figura à minha frente era a metade de
meu ser, e eu finalmente poderia tornar meus sonhos em realidade ao lado dela. Eu ainda a
colocaria contra a parede, pois tinha certeza que ela me reconheceu, mas estava agindo
profissionalmente. E tentava manter uma imagem séria o tempo todo.
— Faço questão...
— Tenho certeza que o senhor tem coisas mais importantes para fazer do que ficar batendo
papo desnecessário comigo.
Ela ainda seria a minha mulher.
CAPÍTULO 6 – ROLETA RUSSA

MARINA

Mesmo de costas, sentia o olhar de Enrico Falcão em mim. Eu estava tentando ao manter as
trocas de palavras seguras, não queria que ele percebesse o efeito que causava em mim, não
seria nada profissional, além disso, eu precisava manter meu foco. O máximo que poderia
acontecer entre nós dois era coisa de uma noite.
Notei que ele me avaliou assim que entrei na sala de reuniões, lógico que eu já tinha notado sua
presença, porém tentei disfarçar ao máximo a ansiedade por estar diante dele, um homem que
exalava masculinidade com uma beleza inquestionável. Sem dúvida, ele tinha me reconhecido, mas
eu cruzava os dedos para que o senhor Falcão não puxasse assunto sobre o passado.
Eu precisava ter sempre em mente que em minha vida o único homem que teria espaço era o
meu filho. Por mais que eu negasse, tinha um sentimento brotando em mim em relação a Enrico, e
não queria isso. Eu tinha a ambição de pisar em todos aqueles que me humilharam no passado
havia anos. Infelizmente, eu não sabia quando conseguiria fazer isso, ou até mesmo se esse dia
chegaria. Era um sonho impuro que eu carregava dentro de mim, e eu não poderia colocar mais
um inocente nessa história.
Minha mente estava dominada por pensamentos perigosos. Enrico Falcão era influente, se
duvidasse, até mais que os Medeiros e Alvarez. Apesar de não trabalhar no ramo político, era um
empresário muito influente e financiava diversos partidos nacionais e internacionais, e isso me
chamou bastante atenção em sua ficha. Seria muito asqueroso da minha parte usá-lo para realizar
minha sonhada vingança?
Santo Deus! No que eu estava pensando? Nunca poderia fazer isso com ele. Sem dúvida, o
senhor Falcão merecia uma bela mulher, que não tivesse um coração tão frágil como o meu.
Muito tempo atrás eu deixei de acreditar que poderia ser amada por um homem, assim como fui
por Marcus. Claro, que ainda guardava cinzas de tudo que ele me causou, mas me sentia amada
em seus braços, mesmo tudo sendo uma grande mentira para Marcus, para mim foi tudo muito real.
— Agora terei uma reunião, poderá me esperar em meu escritório. — Falou o senhor Falcão,
enquanto entrávamos no hall da sua magnífica empresa.
— Estaremos esperando o senhor na porta da sala de reuniões. — Entramos no elevador. K12,
Caíque e Júlio entraram também.
— Não é para tanto. Podem ficar à vontade, pois o andar da presidência tem apenas o meu
escritório e a sala de reuniões.
— Iremos verificar todo o local e poderemos colocar dois homens na entrada do andar. Assim
ficará mais seguro.
— Tudo bem, faça o que achar melhor. — Eu estava realmente surpresa por ele estar sendo
simpático, concordando com a minha decisão.
Assim que chegamos ao andar da presidência, Caíque e Júlio averiguaram o local rapidamente,
e ficaram na entrada assumindo o posto. K12 e eu continuamos seguindo o senhor Falcão.
— Essa é a Pinha, a minha secretária. — Estendi a mão para ela, a cumprimentando. K12 fez o
mesmo em seguida.
Ao entrarmos em seu escritório, eu notei que ele ainda estava decorando-o. Algumas caixas
ainda estavam do lado esquerdo de sua enorme mesa de vidro, onde ficava um computador de
última geração na cor prata, e vários documentos espalhados por cima. K12 avisou que iria
conhecer a sala de vigilância e ficaria por lá até que eu o chamasse. Permaneci em pé e meus
olhos vagaram curiosos pela coleção de livros da estante de vidro com detalhes em madeira.
— Senhor Falcão, todos os sócios estão o aguardando na sala de reuniões. — A voz da
secretária pelo telefone me despertou.
— Já estou indo, Pinha. — Respondeu, pegando alguns papéis da mesa. Notei que ele era do
tipo organizado em sua desorganização, já que no meio da bagunça toda, parecia saber muito
bem onde encontrar cada coisa.
— Se precisar de alguma coisa, não hesite em pedir para Pinha. — Aproximou-se, mantendo
uma distância segura entre nós.
— Não se preocupe, senhor Falcão. — Tentei ao máximo manter meu timbre firme. Recebi como
resposta apenas seu olhar avaliador e sedutor.
Quando saiu da sala, pude relaxar os ombros e finalmente soltar a respiração. Uma hora
passou e nada de ele voltar, então comecei a observar melhor a exuberante sala. Parei em frente
à enorme janela que ocupava uma parede inteira, do chão ao teto, e a vista da cidade
maravilhosa me trouxe paz. Peguei meu celular no bolso da calça e liguei para o meu filho, que
atendeu no primeiro toque.
— Oi, mamãe. — Fechei os olhos, assimilando com carinho sua voz.
— Como você está? Já almoçou?
— Sim, e daqui a pouco irei me preparar para a natação.
— Certo. E como foi a aula hoje?
— Boa, tirando a aula de espanhol, todas foram boas.
— Hoje, provavelmente irei demorar mais para chegar em casa. Amanhã, antes de levá-lo para
escola, explicarei direitinho minha nova missão.
— A vovó comentou a respeito enquanto almoçávamos. Não fique grilada, mãe, eu entendo
perfeitamente.
— Não quero que pense que o meu trabalho é mais importante que você, meu filho. Eu o amo
muitíssimo.
— Eu também, mamãe. Nesse sábado ainda iremos ao Tubarões?
— Farei de tudo para irmos, e não esqueci do seu jogo na sexta-feira. Eu também estarei lá
torcendo por você, Theo.
— Tudo bem. A vovó está mandando beijos.
— Mande para ela também. Eu amo vocês.
Eu me afastei da janela e fiquei encarando a elegante mesa do executivo, onde tinha dois
grandes porta-retratos. No primeiro, uma foto de uma criança que aparenta ter menos de dez
anos, sendo abraçado por um senhor, e pela cor dos olhos, eu não tinha dúvidas que se tratava do
seu avô ou pai. E na segunda, uma linda mulher que sorria, beijando as bochechas dele; nessa
imagem ele parecia ter alguns anos a menos. Desde pequeno ele mostrava o quão belo seria.
Minhas mãos estavam coçando para pegar os porta-retratos e admirar as fotos de perto, mas
preferi não arriscar.
— Não precisa ficar em pé o tempo todo, pode se sentar. — Me direcionei ao lugar de antes, e
vesti as armaduras.
— Estou bem, obrigada.
— Pedi nosso almoço. Espero que seja do seu agrado.
— Não é necessário, daqui a pouco outro segurança assumirá meu lugar e poderei sair para
almoçar.
— Nada disso! Você é a minha segurança e eu corro perigo quando a senhorita não está por
perto. — Tive vontade de rir, e não foi pouca. Ele estava jogando comigo e eu precisava manter a
postura.
— Tenha toda certeza que ficará protegido com qualquer um de nossa equipe, senhor Falcão.

— Confio em você, Marina. E quero tê-la ao meu lado sempre que puder. Aceite almoçar
comigo, faremos a refeição aqui mesmo, assim poderemos conversar sobre que fizemos durante
todos esses anos, desde o dia que nos esbarramos na entrada do Hotel Sampaio.
Estávamos fazendo nossa refeição em silêncio, e eu estava muito incomodada com os olhos azuis
mais lindos que já vi em toda minha vida, me encarando. O que será que Enrico estava pensando?
— Está muito calada.
— Não tenho o que falar.
— Vivo com você em meus sonhos, desde o dia que nos conhecemos.
— Não lembro.
Ótimo, Marina! Você era uma péssima atriz.
— É uma péssima mentirosa, Loba. — Engoli com dificuldade, quando o ouvi me chamar pelo
apelido.
Meus colegas de trabalho me chamavam pelo meu nome, mas eu estava ciente que quando
falavam de mim, eles me chamavam pelo apelido que o professor de aikido me deu.
— Estou satisfeita.
— Não fuja de mim, pois irei até o fim. — Ele levou seu corpo mais à frente, se inclinando sobre
a mesa. Seu olhar me recriminava por querer sair dessa situação.
— Senhor Falcão, por favor...
— Enrico. — Que homem mais mandão! — Ainda guardo sua pulseira. Imaginei durante todos
esses anos como seria se eu tivesse me aproximado de você, e agora estamos frente a frente.
Podemos dizer que foi uma obra divina, destino ou simplesmente tinha que acontecer. Está
preparada para ouvir o que tenho a falar?
Eu realmente havia perdido minha pulseira da sorte que ganhei da minha mãe, e nela tinha as
nossas inicias entre o símbolo do infinito. Adorava aquele objeto, pois significa nosso amor
incondicional de mãe e filha, mas eu só senti falta dias depois e fiquei brava comigo mesma por ter
sido desleixada.
— Sinceramente, não. — Murmurei, fazendo-o dar um sorriso de lado.
Por favor, não sorria!
— Mesmo assim, irei falar. — Ele pausou, encostando suas costas na cadeira e mantendo seus
olhos fixos nos meus. — Tudo de mim será seu, Marina.
Suas palavras me atingiram com verdade e força. Uma pequena vertigem me atingiu, porém
ainda estava presa com suas palavras e timbre forte de sua voz máscula. Parecia que eu estava
em um verdadeiro jogo de roleta russa, afinal, eu não sabia se seria atingida pela bala.
— Você só pode estar brincando! Preste atenção, Enrico...
— Preste atenção você, Marina. — Apoiou seus braços na mesa. — Não quero brincar de
casinha, sei o que quero. E há anos tenho vontade de amá-la com toda paixão que surgiu assim
que meus olhos encontram os seus. Estou pedindo uma oportunidade.
— Não estou interessada. E vamos ficar por aqui. — Eu me levantei da cadeira, indo para o
lado oposto.
— Aceite, posso ser tudo que sonha em um homem, meu bem. — Ele se aproximou e quando
tentei me esquivar, ele segurou minha nuca com força e leveza ao mesmo tempo.
— Pare com isso, Enrico! Não quero compromisso com você. — Murmurei, lutando contra minhas
próprias palavras.
— É comprometida? É isso? — Indagou, nervoso.
— Não.
— Então, qual o problema?
— Apenas não quero compromisso com ninguém. E chega disso! — Tentei sair, porém ele se
aproximou mais, mantendo as mãos em mim.
— Está pensando que sou um moleque? — Inquiriu, me avaliando. Não respondi, continuei
mantendo nosso contato pelo olhar. — Quero você ao meu lado, tanto que chega a ser loucura.
Desejo lhe comprar flores, chocolates, segurar sua mão em todos os momentos e beijá-la muito. Meu
corpo será seu escudo e cobertor, quero amá-la com verdades, Marina.
Nunca em minha vida pensei que ouviria promessas de amor novamente. As palavras de Enrico
eram bonitas e puras, mas mesmo assim, eu sabia o que já tinha passado por ter acreditado em
promessas. Agora eu carregava uma dor no coração causado por uma desilusão amorosa, além
disso, eu escondia de duas famílias o fruto desse amor ilusório. Esse homem à minha frente me
aceitaria em sua vida com toda essa bagagem?
— É complicado, minha vida é complicada. Não quero envolver mais ninguém para pagar por
minhas escolhas.
— Então diga, meu amor, o que tanto a perturba? Posso resolver tudo, absolutamente tudo.
Basta me falar. — Fechei os olhos, deixando as lágrimas saírem.
Eu estava me sentindo tão indefesa, até parecia que eu havia esquecido de como me defender,
e principalmente, defender as pessoas. Mas quem eu queria enganar? Até uma mulher
independente que conseguiu superar as humilhações precisava de um corpo quente para apoiar a
cabeça, fechar os olhos e simplesmente se sentir protegida.
Enrico Falcão me amaria sabendo tudo que passei? E apoiaria a vontade que guardo de pisar
em todos aqueles que me humilharam? E principalmente, aceitaria o meu filho, o meu bem mais
precioso que tinha nessa vida? Esse homem estaria disposto a fazer tudo por mim?
CAPÍTULO 7 – CONQUISTAR

ENRICO

Durante a reunião, tentei manter o nível de concentração enquanto discutia com os meus sócios o
programa de privacidade que a equipe de criação da empresa nos apresentou. Todos estavam
empolgados, e muitas ideias foram trocadas e discutidas, sem dúvida esse programa seria de
grande interesse para as pessoas influentes, afinal, todos queriam manter a sua privacidade.
Percebi que Marina fugia do meu olhar, e isso provava que de alguma forma eu mexia com ela.
O que era maravilhoso, e a minha vontade era de cantar e saltitar de tanta alegria por essa
simples constatação. Eu estava como um verdadeiro garoto apaixonado pela garota mais linda
que já conheceu, como se tudo dependesse de estar ao lado dela, sentindo o contato macio de sua
pele.
Eu não queria perder tempo com joguinhos de conquista, estava bem ciente o que sentia pela
Marina, e precisava provar esse frenesi. Engoli meus receios e abri o jogo sobre tudo que vinha
sentindo, que não a esqueci desde o dia que nos esbarramos, mas claro que deixei de fora a
parte que eu ficava encarando sua pulseira por horas, sonhando de olhos abertos como seria tê-la
ao meu lado.
— Estou esperando uma resposta, Marina. — Ela mantinha seus olhos fechados, enquanto as
lágrimas fugiam de seus olhos. Meu coração se apertava por saber que ela sofria. Eu enxugava
suas lágrimas à medida que meus lábios beijavam por onde elas tentavam deslizar.
— Não é nada! — Murmurou, e continuei distribuindo beijos em seu rosto tão perfeito e macio.
— Pare com isso, por favor, Enrico.
— Não quero, e sei que você também não deseja isso.
— Eu, não o desejo! — Parei com as carícias, encarando-a.
— É a segunda vez que mente para mim, Loba. — Meu polegar direito acariciou o canto de
seus lábios, que eram tão convidativos.
Vamos lá Enrico, precisa se controlar.
— Eu sou sua segurança pessoal e precisamos manter o profissionalismo. Podemos ser amigos,
mais que isso, não poderá acontecer.
Talvez, seja melhor perder o controle.
— Tem medo que eu a magoe?
— Apenas quero evitar um problema futuro.
Essa doeu! Ainda bem que eu não desistia tão facilmente, principalmente quando tinha a ver
com um futuro que sempre sonhei ao lado da minha amada.
— Entenda que não estou brincando com você, não sou desses. Quero realizar seus sonhos, e
principalmente, estar com você. Sempre quis formar uma família grande, e em todos os meus
sonhos, você é a senhora Falcão. — Seus lábios abriram levemente, e seus olhos me avaliaram com
muita cautela, como se esperasse algum traço de mentira.
Desculpe-me, meu amor, mas não encontrará nada, a não ser isso, a verdade.
— Tudo que me disse é muito bonito, aos meus olhos, um grande conto de fadas. — Ela pausou,
olhando para um ponto da sala, depois se direcionou para mim. — Tenho certeza que a mulher
que o tiver será muito sortuda, mas infelizmente, não serei ela.
Oh, porra! Claro que será!
— Provarei o contrário. E quer saber de mais uma coisa?
— Enrico...
— Calada! — Coloquei as minhas mãos na lateral de seu pescoço, erguendo-a para me olhar.
— Quando eu puser minhas mãos em você, espero do fundo do meu coração, que esteja
preparada. Será minha inteirinha, pode gritar, xingar, me bater. Não irei me importar com nada,
pois se entregará a mim como você nunca fez antes, Loba.
A vontade de beijá-la era grande, mas eu só faria isso quando tivesse certeza que ela não se
afastaria de mim. Um passo de cada vez, e eu conseguiria chegar onde eu ansiava, e quando a
amasse, mostraria isso com todo carinho e força, até nossos corpos ficarem esvaecidos de tanto
fazer amor.
Era óbvio que ficaríamos um bom tempo trocando palavras, por isso era melhor eu provocá-la
um pouco, apesar de detestar joguinhos de conquista, mas no momento isso era necessário para
fisgar minha Loba. Antes de me afastar, beijei demoradamente sua testa e voltei para a minha
mesa, me ligando ao máximo no trabalho. Pelo canto do olho, percebi que ela ficou um pouco
desconcertada, contudo, não deixou transparecer, então retornou a sua postura profissional.
Desde que voltei ao meu lar, Júlio Marcondes, um grande amigo, me convidou diversas vezes
para curtimos a noite em uma balada conhecida. Recusei todas, pois não era fã de música alta e
multidão, eu preferia algo mais íntimo, mas como precisava conquistar Marina, tinha que usar
alguns artifícios nada legais, e era melhor eu começar a fazer promessa, caso minhas tentativas
falhassem.
Confesso que não estava sendo nada fácil ficar no mesmo ambiente que Marina, e não poder
realizar meus desejos puros e sujos.
Concentração, Enrico!
Procurei o número do Júlio em minha agenda no celular e liguei para ele, que atendeu no
quarto toque.
— Como está, careta? — Indagou, sem disfarçar o tom de deboche pelo apelido que me deu.
— Bem, obrigado. Ainda está de pé a proposta de sairmos?
— Sério? Quer dizer, não esperava que me ligasse para isso. Estou muito surpreso, Rico.
— Imagino, mas estou precisando relaxar. — Peguei Marina me olhando duas vezes. Eu podia
apostar que deveria estar passando mil e uma besteiras em sua cabecinha, e eu tinha certeza que
ela achava que era uma mulher do outro lado da linha.
— Que maravilha! Podemos nos encontrar no Pub Rio.
— Combinado, apenas me mande o endereço por mensagem.
Encerro o expediente para tentar relaxar um pouco. Tiro meu paletó, e dobro as mangas de
minha camisa social cor vinho, em seguida, abro os três primeiros botões. Durante todo o percurso
até minha casa, Marina em momento algum me encarou, ela parecia inquieta, mas eu a peguei
duas vezes me olhando pelo retrovisor, e apenas retribui com um belo sorriso.
— Até amanhã, senhor Falcão. — Estranhei, pois o combinado seria o meu segurança ficar
hospedado na minha casa.
— Como assim? O combinado era que você dormiria aqui. Inclusive mandei preparar um quarto
para você.
— Outro segurança ocupará meu lugar aqui na casa. Eu o acompanharei durante o dia, mas à
noite será outro.
— Acontece que só aceitarei você debaixo do meu teto.
— Isso não é discutível. Já cumpri com meus serviços durante todo o dia, senhor Falcão. E todos
da equipe são de confiança.
— Não me importo! Quero você e ponto!
— Como expliquei, já finalizei meus serviços por hoje. Amanhã cedo eu estarei aguardo o
senhor na entrada da sua residência.
— Ainda irei sair, então você terá que me acompanhar. — Ela suspirou, derrotada, com um
pingo de raiva.
— Como o senhor quiser. Estarei esperando aqui.
— Adoraria que entrasse em minha casa, assim poderia...
— Em outra ocasião. Prefiro esperar aqui.
— Tudo bem! Não demoro.
Assim que entrei a sala, fui recepcionado pelo Lobo e a Tatá. Como não tinha muito tempo a
perder, apenas fiz carinho neles, e fiéis como eram, me acompanharam até o meu quarto. Depois
de um banho rápido, coloquei uma calça jeans de lavagem clara, e uma camiseta de linho azul-
escura, e antes de sair, me certifiquei que os bagunceiros tivessem ração e água limpa.
Quando entramos no pub, por um momento pensei em voltar atrás, mas era por uma causa
nobre. Marina estava ao meu lado, e eu não conseguia ler sua expressão, já os outros seguranças
estavam espalhados, tudo para me dar privacidade. Porém, a minha segurança pessoal precisava
ficar como uma sombra. E eu estava adorando isso.
Encontrei Júlio conversando com um homem e três mulheres, todas lindas e muito atraentes. Olhei
ao redor e vi minha segurança do outro lado, me acompanhando com seus olhos cor avelã. Seu
olhar era misterioso e consegui identificar tristeza. Eu queria desvendá-la e descobrir seus
segredos, mas antes de qualquer coisa, precisava fazê-la enxergar meu amor, principalmente,
aceitá-lo sem medo.
— Por um momento pensei que tivesse desistido. — Comentou Júlio, animado.
— Aqui estou para relaxar.
Júlio me apresentou as três mulheres. Tentei me envolver no papo, porém minha total atenção
estava em minha Loba. Tive que me segurar para não afastar os caras que tinham se aproximado
dela, ainda bem que ela dispensou todos. Eu queria vê-la perder o controle, me puxar e dizer sim,
eu aceito. Poderia ser tudo mais simples.
Resolvi pular para parte dois do plano, dançar com uma mulher.
Estava dançando com uma bela loira ao som da música Gorilla do Bruno Mars, mas meus olhos
estavam concentrados em minha segurança, podia sentir um leve tremor de seus pensamentos e
corpo à distância. As batidas estavam quentes, sensuais, então deixei a mulher, agradecendo a
dança. Meus passos estavam firmes e ao mesmo tempo pareciam que nunca alcançariam a minha
Loba.
— Dança comigo? — Sussurrei bem pertinho de seu ouvido.
— Não, obrigada! Tenho certeza que a loira adoraria continuar dançando com o senhor.
Ela estava com ciúme?
— Entregue-se a mim, minha Loba.
— Chega de joguinho.
— Não estou jogando. Apenas quero fazê-la enxergar que posso ser o homem ideal.
— Está fazendo um bom trabalho, dançando, ou melhor, se esfregando com a loira.
Adorei vê-la com ciúme!
— Sabe muito bem que eu estava apenas dançando com ela. Agora irei mostrar a você como
eu dançaria com a minha mulher. — Segurei sua mão com firmeza, nos levando ao meio da pista
de dança.
CAPÍTULO 8 – TÁTICA

MARINA

Eu realmente estava incomodada com a maneira sem vergonha que Enrico estava dançando
com a loira bonita. Entretanto, estava tentando ao máximo manter minha máscara fria, afinal, eu
estava ali a trabalho. Só não esperava que o senhor Falcão me puxasse para a pista de dança.
Isso não ia prestar.
Minha consciência me alertava do perigo eminente. Estávamos no meio de várias pessoas
absortas dançando. Tentei soltar minha mão do aperto forte de Enrico, mas foi uma tentativa inútil.
Poderia muito bem usar um golpe de defesa pessoal, mas eu não podia chamar tanta atenção e eu
dependia desse emprego.
— Feche os olhos, minha Loba. Agora saberá como danço com a minha mulher. — Sussurrou em
meu ouvido.
— Já falei...
— Calada! — Infernos de homem mandão! — Você é minha mulher, por isso mostrarei como
dançaremos.
Já que eu estava nessa fogueira, o melhor seria me queimar de uma vez sem me importar. Nem
que fosse apenas por uma noite. Apesar do clima bom dentro do pub, senti um calor e
formigamento tomar meu corpo por inteiro. Atrás de mim, o corpo másculo e sem dúvida bem
definido, se encostou em minhas costas, e sem questionar nada, pegou meu braço direito e o
envolveu em seu pescoço por trás, agarrando sua nuca.
Sua mão direita entrou embaixo da minha blusa, esquentando minha pele. As batidas da música
eram extremamente sensuais, calmas mas com uma melodia forte, e com os meus olhos fechados, me
desliguei do resto, aproveitando um momento que nunca tive em minha vida. Sentia seu quadril se
mexendo com tanta eficácia, que por um momento poderia julgá-lo como profissional da dança.
Sem jeito, tentei acompanhar seu movimento, mas de repente ele parou, sua mão esquerda na
lateral de minha cintura. Novamente Enrico voltou a rebolar com maestria, agora me ensinando.
Suspirei, e prendi meus lábios entre meus dentes ao sentir seus dedos deslizando em minha barriga
com tanta leveza, me fazendo esquentar, seu polegar desceu, parando debaixo de meu umbigo e
fazendo movimentos circulares perigosos.
As luzes baixas deixavam tudo mais sensual. Eu ainda estava meio boba com a maneira que
esse homem dançava e me fazia acompanhá-lo. Enrico era terno, carinhoso, um sonho para
qualquer mulher e por um momento fiquei tensa, sabendo que não daríamos certo. Não enquanto
eu ainda tivesse dúvidas sobre me vingar de todos aqueles que me humilharam.
— Sei que não coloca fé no nosso amor. — Murmurou, logo em seguida mordiscou minha orelha.
— Nosso amor? — Indaguei surpresa por suas palavras terem sido anunciadas com tanta
naturalidade.
Era lógico que seria maravilhoso ter um homem como ele ao meu lado, eu tinha certeza que
seria um bom exemplo ao meu filho. Mas Enrico não merecia se envolver com todos os meus medos
e problemas. E se eu estava me esquivando das suas tentativas diretas era para o bem dele, seria
trágico se eu o magoasse.
— Você me faz sentir bem, como se houvesse apenas o paraíso. — Ele me virou, tirando sua
mão direita de dentro de minha blusa. — Seja minha, meu bem?
Como um homem poderia ser tão decidido assim? Era algo extremamente novo para mim.
Gostaria de tatuar em minha vida que eu seria do Enrico Falcão se as circunstâncias fossem outras,
mas eu não tenho mais tanta fé em um final feliz para a minha vida amorosa. Depois do que
aconteceu, prometi que não colocaria mais meu coração em jogo. Eu seria fria e calculista,
entretanto estava deixando Enrico me dominar, mesmo não querendo.
Estávamos muito próximos, ele segurava a minha cintura com firmeza, nos encaixando
perfeitamente. A música era outra, diferente da primeira, as batidas estavam mais fortes e
expressivas, mas ainda sensual. Pensei que estranhariam a nossa proximidade, mas todos
continuaram com suas danças. Sua mão esquerda entrou em meu cabelo, segurando minha nuca de
maneira firme. Ficamos olho no olho à medida que ele rebolava, me fazendo segui-lo.
Sem dúvida minhas bochechas estavam rubras, podia até imaginar as gotas de suor se
formando em meu corpo. Nunca fiquei tão admirada com um homem dançando, a maneira que seus
olhos estavam fixos aos meus, e nunca perdia o rebolado, estava acabando com meu juízo. A
ferocidade de seus olhos azuis cintilantes estava me lendo como sempre fazia
Oh, Deus ele ia me beijar.
Seus olhos deixaram os meus, para cair sobre meus lábios. Um sorriso de lado me fez delirar
com a possibilidade do meu pensamento estar certo. Senti minha garganta secar, como se eu
precisasse dele para me saciar. Colando sua testa na minha, sem perder os movimentos sensuais de
seu quadril, encostou seus lábios nos meus. Voltei a fechar os olhos, desejando que o esperado
beijo acontecesse, mas Enrico continuou com a provocação, beijando levemente meus lábios por
fora, puxando-os entre seus dentes, me torturando sem piedade. Eu sabia o que o senhor Falcão
queria que eu implorasse.
Suas mãos desceram descaradamente pela minha bunda, me fazendo colar mais ao seu corpo.
Com seu rebolado perfeito, senti sua ereção por cima da calça jeans, e sem querer, soltei um
lamurio de excitação.
— Poderia muito bem beijá-la a força, mas quero ouvir da sua boquinha linda que me deseja
tanto quanto a desejo. — Cochichou, jocoso.
Sem responder a ele com palavras, agarrei a sua nuca puxando-o de encontro a mim. Tomei
seus lábios, violando todos os centímetros de sua boca em um desejo inexplicável e altamente
prazeroso. Agarrando minha nuca, ele se entregou mais ao nosso beijo, enquanto nossas línguas
duelavam, buscando alívio. Pouco tempo atrás, eu acreditava que ficaria trancada do lado de fora
do paraíso até meu último suspiro, entretanto, eu achava que eu tinha um anjo que estava disposto
a enfrentar o inferno interno que eu vivia.
Os pensamentos mais devassos se apoderaram de minha mente, coisas que nunca pensei em
fazer, me inundavam por completo. Se ele me levasse naquele momento para o canto escuro do
pub, não me importaria com nada, deixaria todos os meus receios trancados para aproveitar o
momento prazeroso com Enrico. Suas mãos apalpavam minha bunda, me deixando sem ar com a
intensidade do beijo, e pela primeira vez eu queria me exibir como mulher para ele, vencendo
minha insegurança pela minha aparência. Tudo para satisfazê-lo.
— Fique comigo, Marina. —Ordenou, passeando seu polegar pelos meus lábios.
— Não daria certo. — Queria poder dizer o contrário, mas eu precisava livrá-lo de sofrer ao
meu lado.
— Nem você e nem eu, temos o poder de saber o futuro. Eu estou aqui declarando o quanto a
amo e a quero ao meu lado para ama-la e protege-la.
— Algumas coisas sobre mim, de alguma forma, irão nos prejudicar. Só estou evitando um
sofrimento a mais.
— Amores verdadeiros enfrentam os piores momentos juntos, e continuam juntos depois de tudo.
— Selou nossos lábios levemente. — Nosso amor é verdadeiro, sei disso. Estou botando fé em nós
dois, meu bem.

Saímos do centro de dança, nos focando em um corredor calmo. Eu estava entre seus braços
estendidos na parede, me mantendo dentro de seu campo sem escapatória.
— Como pode ter certeza desse amor? Isso é loucura, nos esbarramos há nove anos, trocamos
algumas palavras e nada mais. E por ironia do destino, nos encontramos novamente. Isso para você
é amor?
— Sim, amor à primeira vista. — Ele sorriu, me estudando com calma. — Eu acredito em
primeiro olhar, e principalmente, que o amor pode nascer de repente. Sou romântico a esse ponto,
e até mais um pouco, se duvidar. Espero que esteja pronta para ouvir tudo que tenho a dizer.
— Toda vez que diz isso, vem bomba. — Mordi o canto do lábio, nervosa para ouvir seu
verdadeiro frenesi de palavras.
— Eu amo você há exatamente nove anos, Marina. No início pensei que era apenas uma
atração, mas seus olhos, sorriso, seu corpo moldado pelo vestido delicado, ficaram pregados em
minha mente e coração. Deus sabe dos meus sonhos puros com você e impuros também. —
Declarou, com seus lábios brincando em um sorriso de garoto.
— Não estava preparada para ouvir isso.
— Sinto que todo esse sentimento é recíproco. Estou certo?
Sem poder controlar, Marcus veio em meus pensamentos. O pai do meu filho ainda tinha uma
parte do meu coração, me descobri mulher ao seu lado em alguns sentidos. A decepção foi
monstruosa, mas eu ainda pretendia fazê-lo pedir perdão por tudo que havia feito para mim. Eu o
queria ver de joelhos, implorando para que eu o perdoasse, coisa que eu não faria. Não era
apenas Marcus que eu ansiava ver dessa maneira, eu queria o mesmo para Ricardo, Cassandra e
Cassindy. Eu tinha em mente que não havia religião que me salvasse por todo esse rancor que eu
guardava, e principalmente, por querer vingança. Não faria isso apenas por mim, mas igualmente
pela a minha mãe e meu filho. Eu odiava sentir algo bom pelo Marcus, porém, não conseguia
mudar isso, mas ao mesmo tempo, a sensação de amar Enrico era forte, violenta e medrosa.
— Sim, você está certo. — Seus olhos azuis me olhavam com tanto carinho, que me emocionei.
Era um carinho que vi apenas uma vez no olhar de outro homem.
— E por que repudiar nosso amor?
— Tenho motivos de sobra. Um deles é que sou sua segurança particular, trabalho para você.
Não sou a mulher certa para estar ao seu lado. Você precisa de uma... Dama da sociedade, e eu
não sou nada disso, e também não quero isso para a minha vida.
— Não diga o que eu preciso, pois sei muito bem o que quero. Que tipo de homem acha que
sou? — Indagou, puto de raiva.
— Não quis insinuar isso...
— Não estou à procura de uma mulher para servir de modelo ao meu lado. Quero uma mulher
de verdade, e você é o que sempre sonhei. Só fico indignado porque foge de mim. Tenho que
provar mais alguma coisa sobre o quanto estou sendo verdadeiro?
— Se fujo é para o seu bem. E não precisa provar nada, absolutamente nada.
— Então seja minha, meu bem. Farei dos nossos dias e noites, os melhores. Nunca pensarei
apenas em mim, minhas decisões serão sempre pensando em nós dois. Seja minha amada, amiga,
amante, mãe dos meus filhos, simplesmente seja a senhora Falcão?
Oh, meu Deus. Ele não estava falando isso!
— Enrico, por Deus! — Exclamei, atônica.
— Não precisamos nos casar amanhã, mas daqui a alguns meses. Não me faça esperar mais
nove anos, minha Loba.
— Isso é brincadeira, certo? — Abaixou sua cabeça na curva de meu pescoço, e ao sentir seus
beijos ali, fechei os olhos.
Ele está distraindo-a, Marina!
— Estou esperando uma resposta.
Eu poderia negar tudo que vinha sentindo, mas eu merecia ser amada com verdades, pois
pretendia retribuir igualmente. Eu ainda guardava as minhas inseguranças, não apenas pela
possibilidade de sair ferida novamente, mas também com a minha imagem. Será que eu realmente
era boa o suficiente para Enrico Falcão? Eu não gostava da minha aparência, passei anos ouvindo
meus defeitos, e quando olhava meu reflexo no espelho, só conseguia visualizar isso. Respirei fundo
e balbuciei a minha decisão.
— Aceito. E será tudo do meu jeito.
Uma chuva de beijos foi disparada em meu rosto, nunca pensei que o veria sorrindo com tanta
alegria. Envolvendo seus braços em meu corpo, me perdi em seu abraço aconchegante e protetor e
tudo pareceu mais leve ao meu redor. Ele me trazia paz.
Ao sairmos do pub, me senti um pouco desconfortável, pois os meus colegas de profissão
presenciaram o espetáculo que Enrico fez na pista de dança comigo. Eles eram sigilosos e eu tinha
certeza que não falariam nada para gerar comentários na Blindados, mas mesmo assim eu sabia
que não fui nada profissional, afinal, Enrico era o nosso cliente e meu dever como sua segurança
particular era protegê-lo.
Na calçada do elegante estabelecimento, esperávamos o motorista trazer o carro, e estranhei a
aproximação de quatro homens vestidos casualmente, que pensei que passariam direto para
entrada. Mas me enganei, e assim que tentaram avançar em Enrico, rapidamente desferi golpes
certeiros, assim como os meus colegas de profissão, e logo, os homens estavam ao chão. K12 ligou
para a central relatando o ocorrido, e os acompanharia para descobrir quem eram e
principalmente, se tinha alguém por trás desse atentado.
— Você está bem? — Ele estava sentado ao meu lado, enquanto Maurilio dirigia o veículo até a
residência do Enrico.
— Eu que deveria perguntar. — Sorri, recebendo um olhar feroz.
— Não brinque com isso! Como pode ser segurança particular? É um perigo.
— Gosto do que faço, e estou nessa faz alguns anos.
— Não poderia ter escolhido uma profissão mais tranquila?
— Tipo?
— Bailarina, doceira, cantora... Sei lá, qualquer outra coisa. — Não pude evitar o sorriso.
— É melhor se acostumar. — Ele segurou meu rosto com carinho, dando um selinho em meus
lábios.
— Amo você, meu bem. — Murmurou, beijando meu pescoço. — Adoraria dormir com você.
Por mais que eu estivesse louca por Enrico, gostaria de esperar mais antes de fazermos sexo, eu
queria estar segura da minha aparência. Meus casos de uma noite eram bons, mas eu exigia luz
baixa, tudo para evitar que olhassem meu corpo com clareza.
— Eu acho melhor esperarmos mais. — Falei, sem graça.
— Realmente quero apenas dormir, sentir o calor de seu corpo. Só faremos amor quando
estivermos um tempo juntos, é lógico que estou louco para amá-la por inteiro, entretanto, prefiro
esperar nosso momento.
Era muita perfeição.
— Mesmo assim, vamos com calma. — Ele assentiu.
— Tudo por você.

***

Acordei cedo para verificar a tarefa escolar do meu filho, e como de costume, estava tudo
certo. Theo era um aluno dedicado, o primeiro da turma, suas notas eram altas, líder de alguns
comitês estudantis e do time de futebol da escola. Como mãe, sempre acompanhava o
desenvolvimento do meu filho, e nunca precisei ficar no pé dele pedindo para estudar. Meu menino
era responsável e envolvia todos com sua inteligência, alegria e sorriso, e seus olhos eram
realmente um charme por serem tão expressivos.
— Promete que qualquer coisa que precisar ligará para mim? — Indaguei ao meu filho.
Conversei com ele a respeito da minha nova missão no trabalho, e avisei que meus horários
seriam corridos, contudo, nunca o deixaria de lado. Quando Theo completou sete anos de idade,
decidi comprar um celular para ele, caso algo acontecesse e eu não estivesse por perto.
— Sim, mamãe. Prometo de pé junto.
— Não esqueci do seu jogo na sexta-feira. Irei prestigiá-lo, além disso, meu uniforme de torcida
está pronto. — Ele coçou a nuca sem graça, e eu me segurei para não rir.
— Sabe mãe, não é necessário.
— Eu sei meu bebê, mas sabe o quanto sou coruja.
— Ah, Deus! Tudo bem! — Murmurou, nada contente.
— Estou brincando, Theo. — Eu o abracei, beijando seu cabelo. — Está precisando de algo?
— Não... Bom, no dia doze terá uma comemoração de pai e filho na escola, mas não irei
participar.
Isso me cortava profundamente, eu sabia o quanto era difícil para Theo não ter pai, eu passei
por isso. Ele me perguntou uma vez a respeito, e como uma covarde, fugi de seu questionamento
inocente e curioso. Theo estava crescendo, e hoje, com seus nove anos de idade, me surpreendia
com tamanha sabedoria e amadurecimento. Os anos passaram e eu sabia que não poderia me
esquivar das perguntas as quais ele tinha todo o direito de saber as respostas.
— Eu posso ir, se preferir, seu avô também pode ir. O que acha?
— Meu pai magoou muito você? Por isso nunca me falou dele?
— É complicado, não fique pensando nisso. Eu e seus avós sempre estaremos ao seu lado. —
Ele me abraçou, e encerramos o assunto.
Hoje ele poderia aceitar minha maneira de protegê-lo, mas eu sabia que lá na frente ele
poderia rejeitar isso.
CAPÍTULO 9 – ATEAR FOGO

MARINA

Finalmente era sexta-feira e eu teria a tarde toda de folga, tudo para ir assistir meu filho jogar.
Esses dias não tinham sido fáceis emocionalmente, já que Enrico sempre que podia, roubava beijos
e abraços, mas confesso que tudo era bem retribuído. A presença dele me fazia bem, nossas
conversas eram tranquilas e a todo momento seus lindos olhos me estudavam por completo.
— Pensei que só a veria na segunda-feira. — Falou Lucas, assim que entrei em seu escritório.
Graças ao show de dança que Enrico fez comigo, decidi que deveria o quanto antes colocar
Lucas a par da situação. Querendo ou não, acabaria surgindo comentários a respeito disso.
— Precisava conversar com você. — Sentei na cadeira, tentando ocultar qualquer nervosismo
em minha voz e postura.
Ainda sofria com as humilhações que passei por quase dezoito anos na mansão Medeiros, uma
vez ou outra eu tinha alguns pesadelos de momentos cruéis nos quais fui alvo. Não contei toda a
verdade sobre o que acontecia na mansão para a minha mãe, optei em esconder as coisas das
quais eu tinha muita vergonha. Com o tempo, e buscando um poder incrível de minha mente,
consegui firmar uma postura confiante e decidida. Mas só quando se tratava de trabalho ou de
defender a minha família, no fundo eu sofria muito e tudo acarretava para piorar ainda mais a
minha autoestima, que eu lutava tanto para melhorar, mas não conseguia isso.
— É sobre seu relacionamento com Enrico? — Inquiriu, me deixando perplexa.
Aquele mandão já falou sobre nós dois!
— É sim, e não deixarei o meu envolvimento com Enrico atrapalhar meu trabalho. Gosto do que
faço e preservarei ao máximo.
— Eu apoio o relacionamento de vocês. — Ele sorriu e relaxou em sua cadeira de couro. —
Mas sabe que logo a mídia irá descobrir sobre o namoro de vocês, então sugiro que esteja
preparada.
— Não estamos namorando. Estamos nos conhecendo. — Lucas arqueou a sobrancelha, em
dúvida.
Parece que o senhor Falcão, contou outra história.
— Enrico pareceu bem convicto em afirmar que estão namorando. — Disse, jocoso.
— Depois resolvo isso. — Puxei uma respiração, soltando com lentidão em seguida. Queria ter
certeza que meu “namoro” com Enrico não iria atrapalhar meu trabalho e outros planos futuros. —
Então está tudo bem?
— Sim, Marina. Estou na torcida por vocês dois, o que mais quero é vê-la feliz ao lado de meu
amigo. Além disso, tenho certeza que Theo irá adorar Enrico. Eles já se conheceram?
Desviei meu olhar. Não queria colocar Enrico na vida do meu filho, sendo que mais tarde, meu
menino poderia sofrer com as consequências. Estava claro que não havia dúvidas que Enrico seria
um exemplo, e um parceiro e tanto para Theo, mas até quando? O medo ainda estava pulsando
em mim, meus receios eram fortes, justamente por saber o que era sofrer. Antes de contar a
respeito do meu filho para Enrico, eu precisava ter certeza de tudo que estávamos começando a
viver juntos.
— Ainda não, é muito recente. E gostaria de pedir que não falasse a respeito do meu filho
para Enrico. Contarei quando achar o momento certo.
— Está pensando que seu filho seria um problema para Enrico?
— A questão é que não quero colocar uma pessoa na vida do meu filho, correndo o risco de
mais tarde ele sofrer com a partida.
— Deus do céu! — Segurou a minha mão carinhosamente por cima de sua mesa. — Sei que
sofreu com o pai do Theo, mas não fique com minhocas na cabeça achando que todos os homens
farão o mesmo que ele.
Além da minha mãe e do meu padrasto, Lucas era o único que sabia da minha história com os
Medeiros e Marcus Alvarez. Eu podia confiar nele, por isso desabafei, jogando em seu colo meus
sentimentos mais escuros.
— Sei disso, contudo, quero ir com calma. E gostaria que mantivesse Theo em segredo.
— Espero que não seja por muito tempo. Enrico merece saber sobre o filho maravilhoso que
você tem. Seria um grave erro manter Theo às escondidas por um longo período. Pense bem,
Marina.
— Estou avisada. E minha decisão é para o bem do meu menino.
— Nunca duvidei de suas atitudes como mãe, só não quero ver meus dois amigos magoados por
motivos que poderiam ser evitados.
— Pode deixar, eu sei o que faço.

***
Estou com um sorriso extremante bobo por ver meu menino jogando. Estávamos na quadra ao ar
livre na escola, minha mãe e meu padrasto estavam dividindo a alegria de ver o neto marcando
um gol. Theo, a cada momento mostrava seu poder em comandar, administrar e colocar ordem.
Comecei a perceber isso, quando seus colegas iam realizar trabalhos lá em casa, ele sempre
separava a função de cada um, e resolvia qualquer contratempo sem ficar estressado. Isso só me
fazia pensar que nas veias do meu filho corria o sangue dos Medeiros e Alvarez.
— Pela bagunça que fizeram ao entrar, tenho certeza que ganharam. — Comentou Osmar
atrás do balcão.
Ao término do jogo, meu filho e o avô convidaram todos os colegas e pais de seu time para
comemorar a vitória na cafeteria, e tudo por conta da casa. E como esperava, o time entrou
fazendo bagunça com algumas buzinas e pandeiros. Albestini juntou quatro mesas e várias
cadeiras para Theo e os amigos sentarem.
— Ganharam de três a um. — Ele sorriu, olhando para o meu filho com admiração.
Osmar era o único sobrinho de Albestini, ou melhor, único parente. Ele morou durante muito
tempo na Itália e há dois anos estava residindo no Rio de Janeiro. Meu padrasto agora estava em
uma fase de lua de mel eterna com a minha mãe, então Osmar estava cuidando da administração
das cafeterias, mas mesmo assim Albestini e dona Elisa faziam questão de continuar auxiliando.
— Fico feliz em ver meu tio sorrindo. — Osmar falou enquanto organizávamos os cupcakes na
bandeja para servir os meninos.
— O seu primo aceitou o convite para o jantar?
— Digamos que meu primo é um mimado egoísta.
— Parece que ele tem seus motivos para ter se afastado do pai.
— Claro que tem. Mas acho que Enrico deveria crescer e perceber que a vida é curta demais
para viver com mágoas.
Mesmo sem conhecer Enrico Donatello, eu entendia perfeitamente porque preferia a distância, e
ao ouvir esse nome forte e bonito, me lembrei do senhor Falcão. Eu o deixei louco por ter recusado
passar o dia ao seu lado.
— Só o conheço por fotos de infância. Por que Albestini não tem fotos dele na fase adulta?
— Meu tio se sente preso ao passado. É como se ele quisesse voltar ao tempo.
— Entendo.
— É raro, mas às vezes Enrico aprece na imprensa.
— Minha mãe comentou que ele comanda a empresa do avô materno.
— Sim, é verdade.
— Não me lembro de já tê-lo visto na televisão ou qualquer coisa do tipo. — Balbuciei
pensativa, pois teria reconhecido pelo nome.
— Talvez seja pelo fato da senhorita se recusar a assistir televisão, ler jornais e revistas. — Ele
tem razão. Faço tudo isso para evitar saber dos Medeiros e Marcus Alvarez.

MARCUS
Eu estava esgotado, cheio de trabalho e cansado de ouvir as reclamações da Cassindy e
exigências do meu pai. Tudo poderia ter sido diferente, porém fui fraco, deveria comandar minha
vida, assim como faço com as decisões que envolve o Estado.
Meus pensamentos são inundados pelo oceano que Marina Medeiros representa em minha vida.
Naquela trágica noite, agi como um verdadeiro covarde, tudo para conquistar o poder. Lembrar
de seus lindos olhos tristes e angustiados, me matam todos os dias. Ela ficou como louca da história,
mas não iria mudar nada.
Pensei que Ricardo iria procurar a filha e trazê-la de volta a mansão, assim eu poderia me
explicar a ela, e faria de tudo para persuadi-la, manipulá-la e seduzi-la, pois assim ficaria ao meu
lado como amante. E quem sabe, futuramente, poderíamos assumir um compromisso diante da
sociedade.
Eu amava Marina, apesar das minhas mentiras e maneira errada de ter demostrado esse amor.
Meus sentimentos eram verdadeiros e me queimavam tanto que nem a chuva era capaz de apagar
essa chama, e eu tinha perseverança que ela voltaria para mim, eu a terei ao meu lado de
qualquer forma, nem que fosse a força.
— Estar prestando atenção, Marcus? — Indagou meu pai.
— Desculpe-me, estou com um pouco de dor de cabeça.
— Pedirei para mandarem um analgésico. — Chamou a empregada, que minutos depois trouxe
uma bandeja com um copo de água e o comprimido, que engoli rapidamente.
— Prossiga, por favor. — Pedi, querendo me livrar logo do meu pai.
— Os doadores estão querendo realizar uma grande festa convidando todos da alta
sociedade, buscando mais aliados para as próximas eleições. Seria perfeito se até lá Cassindy
engravidasse. Todos os veriam como uma bela família e com um futuro sucessor.
— O senhor sabe que estamos tentando.
Era evidente que tanto minha família como a família da minha esposa, almejavam um
primogênito, e de preferência menino. Essa criança nem existia e já era alvo de planos poderosos
para continuar as linhagens das duas famílias. Eu sonhava com o dia que teria o meu filho, mas era
algo que estava ficando em um canto abandonado pelo fato da minha esposa ter tido abortos
espontâneos nas gestações.
— Seja mais firme. Precisaremos dessa criança hoje e principalmente no futuro. Seu filho será o
primeiro herdeiro tanto dos Medeiros quanto nosso, uma nova geração. Tem noção do poder que
esse ser terá em mãos?
Realmente meu filho seria um diamante bruto. Além da junção das riquezas de ambas as
famílias, também tínhamos investimentos em outras áreas tanto nacionais como internacionais, e o
sobrenome pesado já faria toda diferença, principalmente ligado à política.
Ricardo tentou inserir Cassindy na política, uma tentativa falha. A mesma não tinha um pingo de
responsabilidade e lábia para lidar com o povo. Cássia por sua vez, tentou ao máximo se dar bem
no meio, porém preferia se manter em seu mundo de leituras, se esquecendo do resto, por fim, as
duas filhas do senador eram um zero à esquerda. E nesses momentos eu pensava que Marina era
o oposto. E me orgulhava muito disso.
— Tenho sim, é impossível esquecer com a pressão que o senhor faz vinte quatro horas.
— Sem ironias! Vocês precisam procurar um médico, pois tem algo errado para ela não
conseguir segurar nem mesmo uma gestação.
Essa dúvida estava me corroendo. Há alguns anos pedi para realizarmos exames, porém
Cassindy recusou todos dizendo que aborto espontâneo era comum. Eu tinha certeza que existia
algo mais, e para evitar mais brigas, decidi esquecer esse assunto.
— Meu filho irá nascer.
— Espero que esteja certo disso.
***

Esse final de semana Cassindy foi para a nossa casa em Búzios junto com sua mãe. Agradeci
aos céus, pois o que mais precisava era de uns dias de paz em minha vida adestrada, então
aceitei o convite do meu amigo Raul para acompanhá-lo ao parque aquático Tubarões, um dos
mais conhecidos do Rio.
Raul era médico e muito bem casado, tinha uma vida tranquila e feliz ao lado da esposa e filho.
Seu filho Renan tinha dez anos de idade e cativava todos com sua simpatia, e para evitar ser
conhecido, optei por usar bermuda jeans, camiseta de manga curta branca, boné e óculos escuros.
Eu estava me sentindo relaxado, então pedi para equipe de segurança ficar longe, dando
privacidade e não chamando atenção.
— Que bom que decidiu vir.
— Eu estava precisando fugir dos assessores, do meu pai e principalmente, da minha esposa.
— Fique tranquilo, quando menos esperar, conseguirão o tão sonhado filho.
— Espero que sim.
Tomei um gole do refrescante suco de goiaba e fiquei admirando a enorme lanchonete muito
bem caracterizada, parecíamos que estávamos no fundo do mar. A enorme janela de vidro dava
visão para a saída do parque.
— No começo, Sabrina também demorou para engravidar, e Renan veio em um momento bom
em nossas vidas. Talvez vocês devessem relaxar e não ficar colocando pressão.
— É difícil quando a família toda fica cobrando.
— Ainda não acredito que decidiu entrar para a política. Acreditei que seguiria outro rumo.
O motivo de eu ter me candidatado foi planejado para alcançar mais poder para as duas
famílias, assim como meu casamento com Cassindy. Tudo jogada de marketing. Minha vida era um
verdadeiro inferno, e nem o dinheiro que eu tinha foi capaz de me fazer esquecer da Marina. Eu
era infeliz, essa era a pura verdade.
— Confesso que não sou feliz em minha profissão. — Pausei, tentando encontrar as palavras
certas. — Ainda tenho vontade de viajar pelo mundo por tempo indeterminado.
— Um grande projeto esse. — Ele riu, comendo um salgadinho. — Você está fazendo um ótimo
trabalho como deputado, sempre que posso, acompanho os noticiários.
Se ele soubesse a corrupção que estava correndo por debaixo dos panos, provavelmente
atiraria a primeira coisa que visse na frente em mim.
— Sem dúvida alguma. — Murmurei.
Olhei em direção a saída, e um pequeno sorriso se formou em meu rosto ao observar os pais
com seus filhos. Eu queria muito viver isso com meu herdeiro, queria ser o melhor pai. Infelizmente,
meu pai sempre esteve ocupado demais com o trabalho para me dar atenção, e minha mãe seguiu
o mesmo rumo. Apesar disso, eu não tinha muito do que reclamar, nunca me faltou nada.
De longe, admirei uma linda mulher, muito linda. Estava usando um short jeans e uma blusa de
mangas longa estilo tropical. Seu longo cabelo escuro ondulado era um verdadeiro espetáculo de
perfeição, e ela estava falando com alguém ao celular, e quando virou de lado, as vidas ao meu
redor perderam o sentindo.
Minha moreninha.
Lá estava meu grande amor... Todos meus dias e noites, passei pensando em Marina. Ela estava
tão perfeita. Se antes eu já ficava admirado com sua beleza, agora, adulta estava ainda mais
bela. Sem me importar com meu amigo ao meu lado, me levantei da cadeira, ainda em choque, me
direcionando até onde ela estava. Quando cheguei lá fora, olhei de um lado ao outro, tentando
ver se a encontrava, segui mais à frente, porém não a vi mais. Os meus seguranças se
aproximaram cautelosamente, percebendo que algo havia tirado minha atenção, então disse a eles
que não era nada e voltei para dentro da lanchonete.
— Por que saiu daquele jeito?
— Pensei ter visto um conhecido, Raul.
Durante todos esses anos não me atrevi ir atrás da Marina. Meu pai sempre estava de olho em
mim, o velho sempre mantinha o controle de tudo. E por medo de perder meu precioso luxo, preferi
não arriscar. A única coisa que eu sabia era que a minha moreninha estava com a mãe e o
padrasto. Muitas vezes eu perguntei sobre ela para a dona Glória, mas ela nunca me contou nada
a respeito da neta, somente isso.
Agora que eu era deputado, e consegui recentemente que meu pai passasse todos os bens para
minhas mãos, eu iria atrás da Marina. Talvez ela pudesse me dar o que a fútil da irmã dela não foi
capaz.
Meu herdeiro.
CAPÍTULO 10 – TUDO DE MIM

MARINA

Como esses dias passei correndo de um lado para outro, senti que era necessário aproveitar ao
máximo meu filho. Jamais me perdoaria perder os melhores momentos do meu menino. Ser mãe no
início da fase adulta foi complicado, a minha sorte era que a minha mãe soube me passar suas
experiências ao ser privada de ter isso comigo. Eram coisas desse tipo que me faziam nunca
perdoar Ricardo Medeiros.
No sábado, levei Theo ao clube aquático Tubarões. Minha mãe e meu padrasto também nos
acompanharam e foi uma verdadeira diversão, consegui relaxar e pensar mais sobre minhas
decisões. Não sabia como e nem por onde começar, mas a única coisa que eu tinha certeza era
que eu me vingaria. Eles não mereciam ser perdoados, eu queria ver em seus olhares o medo,
assim como eu tive durante todo o tempo em que vivi naquela mansão.
Passei o restante do dia assistindo a uma maratona de filmes com meu filho. Eu me desliguei do
mundo lá fora, me permitindo viver em uma bolha de aço com meu bem mais precioso. Recebi
algumas ligações do Enrico Falcão, porém, mandei apenas uma mensagem avisando que na
segunda-feira nos veríamos, e como esperava, tentou descobrir onde eu morava perguntando
para a equipe que estava com ele, mas esses dados eram sigilosos. Agradeci aos céus, a última
coisa que eu queria era ter Enrico batendo à minha porta.
A conversa que eu tive com Lucas, clareou um pouco mais a minha mente, ele tinha razão
quando disse que Enrico merecia saber sobre o meu filho. Entretanto, não queria arriscar tanto e
deixar meu filho sofrer com a minha decisão mais tarde. Eu precisava ter certeza do que iria
acontecer futuramente.
O que sabia do senhor Falcão era o que foi me apresentado em sua ficha. Fiquei imaginando
como um executivo tão bem-sucedido, conseguia fugir da mídia. Outra coisa que ficava martelando
na minha cabeça era como ele se interessou por mim?
E muitas outras perguntas rondavam minha mente.
— Convidei o vovô para ir comigo para comemoração de pai e filho.
Eu estava terminando de preparar seu lanche da escola quando disse isso, o que me fez parar
automaticamente para avaliar meu menino. Pensei que encontraria uma expressão triste, porém
Theo parecia não se abalar por não ter pai. Quer dizer... Ele tinha a mim, avó e o avô. Nossos dias
e noites eram somente para Theo, mas mesmo assim, eu sabia o que era sentir não ter um pai.
— Que maravilha, filho. Tenho certeza que seu avô ficou contente.
— Sim, com um sorriso e tanto. — Ele sorriu
Domingo passado não encontrei com vó Glória, como de costume, na Cafeteria Donatello. Ela me
ligou avisando que estava um pouco indisposta, e preferiu passar o dia descansando. Fiquei
preocupada, infelizmente minha avó não tinha mais tanta disposição como antes e todo o cuidado
era necessário para manter sua saúde de ferro.
Hoje minha mãe levaria Theo para escola, como foi combinado até que eu conseguisse uma
rotina sendo segurança particular do senhor Falcão. Ao chegar em sua magnífica mansão,
cumprimentei dois colegas de trabalho que estavam devidamente em seus postos na entrada da
residência. Toquei a campainha, e logo uma senhora de cabelo na altura dos ombros e sorriso
simpático me recebeu, me estudando de cima a baixo. Não me senti incomodada, não era um olhar
superior, e sim de curiosidade.
— Bom dia. Sou a segurança particular do senhor Falcão.
— Ah, sim... Entre, querida. Acabei de preparar um bolo de cenoura maravilhoso.
Parei assim que dois cachorrinhos muito fofos se enroscaram em mim, querendo atenção. Eles me
fizeram lembrar do Lobo, pois eram da mesma raça. Hoje meu cachorrinho estaria velho, ou então
já teria falecido. Se eu não estivesse enganada, os cães dessa raça viviam em torno de onze, doze
anos. Me abaixei para acariciar as duas bolas fofas.
— Pelo visto, esses dois bagunceiros já estão jogando charme. — Falou a senhora, divertida,
mesmo tentando ficar com uma expressão séria.
— Percebi que a senhora é fã deles. — Ela sorriu, se rendendo.
— Por favor, me chame de Louise. Não tem como não gostar do Lobo e da Tatá.
Fiquei surpresa pelo macho ter o mesmo nome do meu cachorrinho. Uma tristeza tomou conta de
mim ao lembrar do dia que Cassandra sumiu com meu filhotinho. O prazer daquela víbora era me
ver sofrendo.
Um leve puxar na ponta da minha jaqueta me fez voltar ao momento real. Agarrei o Lobo, o
encarando com aquele jeito sapeca. Então meus olhos caíram sobre sua coleira, que era idêntica
àquela que meu cachorrinho tinha na época.
Seria muita coincidência?
— Bom dia, meu amor. — A voz rouca soou atrás de mim.
Eu estava... Perplexa. Primeiro, o nome do cachorro, em seguida a coleira que era idêntica à
coleira do meu filhotinho e agora Enrico me chamando de meu amor.
Santo Deus… Era muita coisa para uma manhã só.
— Estou admirada com sua namorada. Tenho certeza que seu avô irá adorá-la, Riquinho. —
Falou Louise, nos avaliando com muito carinho com o mesmo olhar que me analisou antes. Agora eu
entendia tudo.
— Não somos...
— Por favor, Louise, nos deixe sozinhos. Antes de irmos tomar café, precisamos conversar.
— Tudo bem, menino.
Ela saiu, e a Tatá foi atrás dela, pulando em suas pernas, mas Lobo continuou comigo.
— Conheceu meus companheiros. Eles adoraram você.
— Eles são muito fofos. — Ele fez uma careta engraçada, e eu segurei o riso.
— Tatá é fofa, mas Lobo dá medo. — Eu ri.
— Oh, ele é muito valente. — Brinquei, fazendo com que ele risse também. Levantei com Lobo
em meus braços. — Eu tinha um cachorro da mesma raça, com o mesmo nome e a mesma coleira.
Posso afirmar que a coleira é idêntica. Aonde você a comprou?
Ele me estudou por um tempo e ao mesmo tempo seus pensamentos pareciam estar longe. Lobo
não parou quieto em meu colo, então decidi soltá-lo, que correu diretamente para os pés do Enrico.
Não teria como confundir a coleira, pois quando ganhei meu cachorrinho da vó Glória, ela tinha
mandado fazer uma coleira especial com o nome dele gravado, porém, esqueceu de pôr o
endereço atrás.
— Esse aqui e a outra são filhotes do Lobo que encontrei enquanto caminhava no calçadão. E
essa coleira era dele. Decidi pôr o mesmo nome e a coleira em homenagem ao meu fiel
companheiro que faleceu de velhice há dois anos. — Ele pausou, e fique encarando-o
completamente espantada e.... Feliz. Sim, feliz em saber que meu filhotinho não sofreu nas ruas.
Enrico esteve com ele todos esses anos, até o último momento.
E eu não sabia o porquê, mas senti uma necessidade tremenda de abraçá-lo em forma de
agradecimento. Poderia parecer bobo, mas o que Cassandra fez, foi por pura maldade. Então
literalmente joguei meus braços ao redor do Enrico, e descansei minha cabeça na curva do seu
pescoço, sentindo seu cheiro de... Homem gostoso. Seus braços se fechando ao redor do meu corpo
me trouxe paz e proteção e uma vontade de chorar surgiu. Era como se eu não tivesse medo de
mostrar a esse homem que eu precisava dele e que eu não era tão forte como parecia.
Eu precisava dele.
Permiti que meu nariz deslizasse pela região de seu pescoço, subindo na lateral de seu queixo,
sentindo sua barba rala que o deixa mais charmoso e misterioso. De olhos fechados, encostei meu
nariz no seu, eu estava com medo de abrir os olhos e nosso momento sumir. Umedeci meus lábios
encostando-os, ansiando em provar os lábios espertos do Enrico.
— Quero tanto.... — Balbuciou, e suas mãos apertavam minha cintura com força.
— Ainda fico me perguntando, por que não me beijou. — Falei humorada, e senti seus ombros
relaxarem.
— Gosto quando você tem iniciativa.
— Por quê? — Minha mão afagava sua nuca.
— Simplesmente porque prova que meus sentimentos são correspondidos.
Encarei seus lindos olhos, e ali só vi amor transbordando. Minha mão acariciou a lateral de seu
rosto, sem poder mais esperar, eu o beijei sôfrega, nossas línguas duelavam com tanta maestria e
calor, fazendo nossos corpos se aproximarem mais, nos entregando ao máximo. Aos poucos,
diminuíamos a intensidade e brinquei com seus lábios, puxando-os, que acabaram um pouco
coloridos por conta de meu batom, o que me fez sorrir.
— Ficou com um pouco de batom. — Com meu polegar, eu limpei seus lábios.
— Não tem problema. Tudo que vem de você, receberei de bom grado.
— É bom saber disso. — Sussurrei, pensando em meu filho.
— Ainda estou puto por ter me abandonado durante esse final de semana.
— Precisava ficar um pouco com a minha família.
— E por que não me convidou para conhecê-los? Sabia que nenhum desses brutamontes quis me
falar onde você mora?
— Ainda é muito cedo para você conhecer minha família. E sim, eles são bem sigilosos.
— Eu não acho cedo, muito pelo contrário. Afinal, em breve será a minha noiva.
Como ele poderia falar isso com tanta… Naturalidade?
— Já falamos sobre isso. Nem estamos namorando ainda.
— Claro que estamos. — Ele segurou meu rosto firmemente com suas mãos grandes, fazendo
com que eu o encarasse. — Não quero que ninguém pense que você é um caso, e muito menos que
a senhorita pense dessa forma. Eu te amo! Agora vamos tomar café da manhã.
Durante o café, Enrico me contou como adorava o mundo da tecnologia. Eu estava atenta ao
assunto, mas mesmo assim minha atenção estava sendo dividida, pois Lobo e Tatá estavam afoitos
aos nossos pés. Mas quando ouviram a voz de comando do Enrico, se comportaram no mesmo
instante.
— E esse é meu quarto. — Falou Enrico ao entrarmos no exuberante cômodo.
Há pouco ele me mostrava com muita empolgação toda mansão. Tudo era muito sofisticado,
porém não perdeu o aconchego e cara de lar. E eu devo ressaltar que de todos os lugares que me
apresentou, seu quarto tinha uma vista única.
Sentir a brisa em meu rosto e cabelo, era como se eu estivesse em casa.
— Sua casa é maravilhosa, mas devo confessar que essa vista é perfeita. É o melhor de tudo.
— Me senti mais relaxada quando ele me abraçou por trás.
— Aqui iremos construir nossa família, meu bem. — Murmurou no meu ouvido, como se fosse um
segredo só nosso.
Em momentos como esse, Enrico me deixava desestabilizada, pois eu gostaria muito de ter essa
certeza que ele adorava me mostrar. Eu acreditava em suas palavras, porém amadureci o
suficiente para saber que não podia viver de palavras bonitas, afinal, eram essas que sempre
desejávamos ouvir.
— Como pode ter tanta certeza?
— O amor que sinto por você basta.

***

Dois meses havia se passado, e arriscaria falar que foram os melhores da minha vida. Ainda
não contei sobre meu filho para Enrico, e odiava o fato da insegurança ainda grudar em mim como
um carrapato. Lucas tinha me cobrado a respeito, e eu sempre desviava o assunto, e por ser um
bom amigo, acabava cedendo.
— Parece que toda vez que o vejo, cresceu mais. — Comentou vó Glória, observando Theo
conversar com Osmar no balcão.
Graças a Deus ela havia melhorado da gripe forte que a atingiu. Inúmeras vezes tive vontade
de visitá-la, mas nem mesmo isso foi capaz de me fazer pisar naquela mansão novamente.
— E mais esperto também.
— Vejo que você está mais sorridente. Sinto cheiro de romance. — Ela sorriu, arqueando a
sobrancelha cheia de questionamentos.
— Acho que finalmente encontrei o amor em forma de homem.
Contei desde o dia que conheci Enrico para minha avó e ela ouvia tudo com muita atenção,
como se estivesse assistindo ou lendo uma verdadeira história de amor. Aproveitei que Theo estava
distraído com Osmar, assim poderia contar tudo para vó Glória.
— Estou muito feliz por você, minha querida.
— Eu também, agora preciso me preparar para contar sobre meu filho ao Enrico e vice-versa.
— Quer ouvir um sábio conselho dessa sua querida velha?
— Adoraria.
— Viva, minha neta. — Ela segurou minha mão, e notei seus olhos brilharem. — Enrico não veio
por acaso em sua vida e na vida do seu filho. Não notou?
— Não estou entendendo....
— Enrico tem em mãos a bela missão de proteger você e seu filho. Minhas orações estão sendo
realizadas, pois o que mais desejei está acontecendo. Um homem digno de você apareceu para
ser sua arma e escudo.
— Ainda irei me vingar de todos eles, vovó. Mas deixarei meu filho e Enrico fora disso.
— Não cometa o mesmo erro que sua mãe. — Seu polegar acariciava a junção de meus dedos.
— A senhora está sabendo de algo, não é? Por favor, vovó não esconda nada!
— Cassindy engravidou e há duas semanas perdeu o bebê. Estávamos todos jantando na
mansão, e de repente, ela se exaltou. Infelizmente essa criança não veio ao mundo. Seu pai,
Guilherme e Marcus, estão loucos. Seu pai e Guilherme tem grandes planos para o primogênito.
— Por que tanta... Ganância em ter um herdeiro? Isso já é loucura demais.
— Pense bem, minha neta. Seu pai sempre sonhou em ter um filho homem, bruto e forte. Porém
seus planos foram falhos, Deus não permitiu que ele fosse pai de um menino. Você e suas irmãs são
apenas um enfeite. De início, seu pai tentou colocar Cassindy e Cássia na política, mas nenhuma das
duas obteve sucesso e isso o deixou furioso. As próximas eleições serão uma verdadeira guerra de
poder. O partido do seu pai está perdendo a força.
— Eles querem montar uma nova família? É isso?
— Mais que isso! Eles querem um sucessor, pois caso eles caiam, futuramente poderão se erguer
tendo o herdeiro no poder. Tudo, absolutamente tudo será no nome do primogênito.
— Espero que todos eles sejam humilhados e pisados. Quero meu filho longe de tudo isso!
— Aí que você se engana, minha neta. Tenho certeza que percebeu como Theo é decidido e
inteligente. Essa decisão estará nas mãos de seu filho.
— É sujeira demais, vovó.
— Com certeza, mas apesar de tudo isso, notei que Marcus anda mais sorridente, o olhar triste
que morava nele… Pareceu evaporar.
— Não quero saber desse homem.
— Desculpe-me.
— Está tudo bem. Eu que estou um pouco nervosa com essa conversa toda.
— Então vamos mudar de assunto. Bem... Pense sobre que falei do Enrico. — Ela sorriu, e eu
beijei sua mão.
Será que Enrico seria o meu anjo quando eu estivesse enfrentando todas as feras?
CAPÍTULO 11 – NOCAUTE

ENRICO

A cada dia que conhecia Marina, era mais um motivo para amá-la. Sempre que eu podia,
ficava com ela, mesmo que ela não gostasse disso no horário de trabalho, mas eu não me
importava.
Meu avô estava a quase dois meses nos Estados Unidos, administrando as ações da bolsa de
valores de perto. Com a crise que o país estava passando, ficou receoso que pudesse atingir os
demais, por isso optou em acompanhar tudo de perto.
Conversei com ele sobre meu namoro com Marina e como eu esperava, o senhor Arthur não
pareceu muito contente, já que para ele, a minha esposa perfeita seria Alexandra. O fato era que
não estava procurando perfeição, e minha Loba era tudo que eu precisava, e mesmo se meu avô
não apoiasse o meu relacionamento, eu continuaria firme e forte com Marina. Nada e nem ninguém
me faria separar dela.
— Essa sua cara de apaixonado merece um quadro. — Falou Júlio, enquanto levantávamos os
pesos.
Estávamos em sua academia e como Marina tirou a manhã de folga, decidi malhar.
— Por mim, pode fazer vários quadros.
— Você é um cara de sorte. Está com uma verdadeira deusa.
— Escolha melhor as palavras ao se referir a minha mulher. — Ele riu, me encarando com
divertimento.
— Nossa! Não seja tão possessivo.
— Impossível, está no meu sangue.
— Jurava que você se casaria com Alexandra. Pareciam muito felizes.
— Éramos até certo ponto. — Coloquei os pesos no chão, pegando a garrafa de água e
bebendo em seguida.
— Então o que deu errado?
— Eu não amava Alexandra. Seria horrível vivermos em um casamento sem amor, não adianta
só um gostar.
— E o velho Arthur, aceitou Marina? — Se meu avô sonhasse que Júlio o chamava de velho, era
capaz de puxar as orelhas dele.
— Infelizmente só conversarmos por telefone. Se meu avô não aceitar, não posso fazer nada,
mas isso não fará com que eu deixe de viver com Marina e muito menos de amá-la.

MARINA
Pedi para K12 assumir o posto de segurança particular do Enrico pela manhã. Eu tinha marcado
a consulta de rotina com o pediatra do Theo, e todos os exames mostravam a saúde de ferro que
meu filho tinha. Aproveitei que ainda estava cedo, e fomos ao shopping mais próximo.
Entramos na livraria e acabei comprando um livro, e Theo dois gibis para sua coleção. Fomos
para a casa da minha mãe, onde ajudei a dona Elisa a terminar de preparar o almoço, e
novamente ela me disse que queria conhecer meu namorado em um jantar formal. Confessou que
Albestini também estava querendo conhecê-lo, assim poderia confirmar com seu sexto sentido o
verdadeiro interesse do meu namorado.
Theo aceitou muito bem o fato de eu estar namorando, e cuidadoso como era, também estava
exigindo conhecer o homem que tinha meu coração em mãos. Era impressionante como Enrico me
fazia esquecer dos problemas. O jeito que me tratava... Era tão surreal, seus carinhos são
perfeitos.
Eu estava em um estágio de desejo totalmente... Lascivo. Nossas carícias estavam fortes, intensas,
extremamente quentes. Por pouco não fizemos sexo e a razão de não ter acontecido era a minha
insegurança. Ontem à noite, quando cheguei em casa, fiquei horas me encarando no espelho do
banheiro. Ver meu corpo nu era um grande problema. Não estava satisfeita, sentia que não era
bonita o suficiente.
— Está tudo bem, meu serzinho?
— Sim, mãe.
— Está mentindo! Pode ir desembuchando.
— A senhora acha que estou bem?
— Como assim?
— Meu corpo... Eu não sei, será que sou o suficiente para Enrico?
Minha mãe parou de cortar os tomates, me encarando como se não acreditasse nas palavras
que saíram da minha boca.
— Nem acredito no que estou ouvindo, minha filha. Você é linda! E não tenha dúvida que seu
namorado é um homem de muita sorte. — Ela enxugou as mãos no pano de prato e se aproximou
de mim. — Você sabe que isso está aqui? — Seu dedo indicador encostou na lateral de minha
testa.
— Talvez, eu... É tudo culpa daquela maldita! — Falei, cheia de raiva, lembrando das coisas
horríveis que Cassandra falava para mim sobre a minha aparência.
— Nunca irei me perdoar por ter sido tão fraca. — Eu a abracei com carinho.
— A culpa de ter sido maltratada não foi sua. — Murmurei, acariciando seu rosto, e limpando
suas lágrimas com o polegar.
A culpa era do Ricardo Medeiros. E todos eles pagariam.

ENRICO
Depois de almoçar com Júlio em um restaurante de comidas típicas, decidi que tiraria a tarde de
folga, então liguei avisando à minha secretária. Ela, por sua vez, avisou que eu tinha uma reunião
com o pessoal da publicidade e como não era nada urgente, pedi para marcar para próxima
semana.
Aproveitei o tempo para levar as duas ferinhas para passearem, assim Louise poderia terminar
seu serviço tranquilamente sem se estressar com eles. A vizinhança era calma, e eu adorava toda
essa paz.
Deixei meus cachorros no quintal, assim poderiam brincar à vontade. Entrei em meu quarto, indo
direto para o banheiro, e fiquei um bom tempo aproveitando a água que refrescava o meu corpo.
Ao sair do box, enrolei a tolha preta em volta de minha cintura, e peguei outra menor para tirar o
excesso de água do meu cabelo.
Parei no mesmo instante quando vi minha Loba olhando os porta-retratos com curiosidade. Que
Deus me ajude! Meus olhos a comiam todos os dias e essa calça jeans colava em suas curvas,
deixando mais evidente o quanto ela era linda.
— Pensei que só nos veríamos amanhã, amor. — Ela se virou, e seus olhos em primeiro instante
ficaram pregados em meu peitoral.
— Bom, eu... Decidi vir antes.
Era difícil controlar as reações do meu corpo com Marina, principalmente quando estávamos nos
beijando como dois desesperados, e com as carícias ficando cada vez mais safadas. O que estava
me afetando de corpo e alma.
Eu precisava dela em todos os sentidos.
— Que bom, assim podemos aproveitar minha tarde de folga. — Sorri, caminhando até ela.
— Acontece que eu não estou de folga, senhor Falcão. — Seus lábios brincaram em um sorriso.
— Eu digo quando está de folga. E nesse momento, a senhorita está de folga! — Eu a puxei de
encontro ao meu corpo.
— O que tem em mente? — Indagou, e finalmente senti segurança em suas palavras. Em outras
vezes, quando estávamos prestes a nos entregar de corpo, minha namorada inventava uma
desculpa. Agora eu não via nenhuma dúvida em seu rosto.
— Coisas bem safadas. — Ela riu e eu beijei seu nariz perfeito.
— Direto, como sempre.
— Tire a roupa, meu bem. — Seus olhos me olharam com espanto. — Dispa-se, quero ver a
perfeição que é, cada pedacinho seu será meu.
— Eu estou louca por você também, mas será que poderíamos fazer sexo... No escuro?
— Iremos fazer amor toda vez que tivermos vontade, seja dia ou noite. E agora, iremos
aproveitar a luz natural para nos amar.
— Eu me sentiria mais à vontade no escuro.
— Você se sentirá à vontade comigo. Apenas comigo. Agora tire sua roupa.
Eu me afastei um pouco, e tirei a toalha de meu corpo, fazendo com que ela suspirasse e me
encarasse cheia de desejo. Isso mesmo, minha Loba. Colei meu corpo ao seu, fazendo-a arfar ao
sentir minha ereção forte, dura, salivando por ela. Encostei meus lábios nos seus e segurei sua mão
direita, levando-a de encontro a minha exuberância e a fiz me acariciar por inteiro.
— Enrico, isso é....
— Isso tudo é seu, meu amor. Agora tire a roupa que irei mostrar que não tem por que se
envergonhar. — Eu também estava soltando gemidos, e mesmo não querendo, afastei sua mão do
meu membro.
Então me sentei na cama, prestes a assistir um grande espetáculo. As bochechas da Marina
estavam rubras, e seus olhos fixos em ponto. Estava evitando me olhar.
Deus, como essa mulher podia ter vergonha do seu próprio corpo?
Seios fartos, bicos redondinhos e duros, me chamando para tocá-los, curvas perfeitas de
encontro com seu quadril e bumbum avantajado. Pura mulher brasileira. Minha mulher. Seu cabelo
sedoso caia sobre seus ombros, cobrindo parcialmente seus seios, parecia uma verdadeira sereia.
Nunca vi tão bela quanto ela.
As lembranças dos nossos momentos quentes juntos, como o de minutos atrás destruíram minhas
dúvidas. Eu estava abismado por saber que essa mulher à minha frente não conseguia enxergar a
própria beleza. Era chocante.
Isso mudaria nesse momento.
Então eu me levantei, e assim que me aproximei, seus olhos me encararam pela primeira vez
desde que ficou nua. Segurei sua mão, fazendo-a me acompanhar até o outro lado do quarto,
onde tinha um enorme espelho do chão ao teto no meio da parede. Aproximei de frente para o
espelho e admirei meu diamante. Segurei seu cabelo, senti seu perfume e o coloquei de lado. Meu
peitoral colou em suas costas nuas, fazendo meus pelos se arrepiarem, então notei que os dela
também.
Eu gostei da tatuagem que minha Loba tinha abaixo do seio esquerdo. As letras eram bem
desenhadas e finas, e em contato com sua pele, ficou maravilhosa. A frase “O que não provoca
minha morte faz com que eu fique mais forte” conhecida e poderosa do filósofo Friedrich Nietzsche
fazia qualquer um tremer.
Minha mulher já sofreu e eu ainda precisava saber mais a respeito. Quando ela me contasse, eu
esperava que a pessoa que lhe casou mal estivesse do outro lado do mundo, já que não me
responsabilizaria pelos meus atos.
— O que você vê, meu amor? — Indaguei, encontrando seu olhar pelo reflexo do espelho,
enquanto meus lábios esquentavam seu ombro.
— Não faça isso... — Sua voz embargada me alertou.
— Fazer o quê? Mostrar o quanto é linda? Como não consegue enxergar isso? — Minha mão
direita se fechou em volta do seu seio, então ela inclinou sua cabeça para trás, gemente e me
marcando com suas unhas na lateral da minha coxa.
— Eu não....
— Olhe para a porra do espelho. — Exaltei, esfregando minha ereção em sua bunda, e
aumentei a carícia em seu seio.
Finalmente seus lindos olhos se estabilizaram em nossa imagem no objeto. Quando vi uma
lágrima descer pelo seu rosto, eu a abracei. Ela precisava se ver e se libertar de qualquer
lembrança que tivesse causado essa ideia absurda de que não era bonita.
— Eu te amo, Enrico. — Murmurou e sem poder me conter, segurei seu pescoço atacando sua
boca em um beijo selvagem, possessivo e repleto de felicidade por ouvir as sonhadas palavras
saírem da sua boquinha gostosa.
— Ah, cacete. — Lamúrias escapavam dos seus lábios, enquanto meu polegar brincava com seu
ponto sensível. Ela estava totalmente pronta para me receber.
Enquanto lhe proporcionava prazer em seu sexo, minha boca estava fissurada em sua nuca,
mordendo, beijando e lambendo, sentindo o gostinho da minha mulher. Meus dedos se melaram
totalmente com sua libertação, rosnei com puro desejo mordendo seu ombro, enquanto minha mão
esquerda segurava seu seio em uma tortura gostosa.
Virando-a de frente, agarrei seu cabelo da nuca, puxando-a para um beijo. Desci meus lábios
pelo seu rosto, pescoço e vale dos seus seios. Minha língua continuou umedecendo sua pele,
alcançando seu centro, até que encarei seu sexo como um animal, ansiando capturar sua presa.
Com ela ainda sensível pelo orgasmo, beijei por cima. Tempo não seria problema, depois iria
prová-la todinha.
— Sabe o quanto me deixou feliz em finalmente falar que me ama? — Perguntei, enquanto
cobria meu membro com a camisinha.
— Não, espero que me mostre.
Trilhei beijos e mordidas em suas pernas e coxas, revezando, então com as minhas mãos em seus
joelhos, eu a deixei aberta para mim. Sua expressão de surpresa era grande, e eu quase
gargalhei.
— Com todo prazer.
Ela parecia uma fera enjaulada quando meu sexo entrou fundo, no seu. Ela contorceu seu corpo,
me recebendo de início com dificuldade, tão apertada e gostosa. Levantei sua perna direita,
fazendo nossa fricção ficar mais intensa e a brisa que passava através da janela e cortinas, batia
em nosso corpo quente e possuído pelo prazer. Alguns fios de seu negro cabelo estavam colados
em seu pescoço e testa.
Minha para todo o sempre.
— Acabe comigo, minha Loba. — Murmurei, embriago por todo o prazer me queimando. — Oh,
porra!
Meus dentes beliscavam o bico de seus seios, nossos movimentos eram intensos, arrancando seus
suspiros e ar. Eu estava possuindo-a por inteiro, sem piedade, então tomei seus lábios e explorei
sua boca, sentindo o formigamento se aproximando, levei nossos movimentos ao último. Senti seus
tremores, e conseguimos alcançar juntos o prazeroso orgasmo.

***

— Parece bem cansada.


Eu estava sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama com ela de frente para mim.
O lençol de linho branco nos cobria da cintura para baixo, deixando muito à mostra. Marina
queria vestir uma camiseta minha, mas nada me faria entregar a peça de roupa a ela. Eu a queria
livre ao meu lado, esse era o nosso momento.
— Estou um pouquinho cansada. — Ela escondeu o sorriso, segurando o lábio inferior entre os
dentes.
Marina queria tomar um banho, mas eu precisava ter esse momento cheio de carinho com a
minha amada. Eu me levantei apenas para ir ao banheiro retirar o preservativo, e agora estava
aproveitando.
— Sou louco por sua tatuagem. — Declarei pela milésima vez, enquanto meu dedo trilhava a
frase.
Ela tinha falado que fez a tatuagem quando tinha vinte anos de idade. Perguntei várias vezes o
motivo, mas ela não me respondeu de maneira clara.
— Perdi as contas de quantas vezes você falou isso. — Sua voz tremeu quando abaixei a
cabeça para beijar sua marca.
— Quem a fez sofrer? Eu quero saber de tudo, não aceito menos que isso.
— É uma longa história, não quero estragar esse momento. — Beijou meu queixo.
— Fique ciente que moverei céu e terra para tirar essa dor que ainda vejo em seus olhos.
— Acredito em você. Só peço um pouco mais de paciência.
— Tudo bem, eu irei esperar.
— Ainda não acredito que estou com você. — Disse, sorrindo. Minhas mãos acariciam suas
coxas nuas.
— Conhece a história de Dante e Beatriz?
— Não inteiramente. Uma vez minha professora da faculdade comentou a respeito.
— Bom... Assim que Dante colocou os olhos sobre Beatriz Portinari apaixonou-se perdidamente.
Anos depois, quando a viu novamente, ela se tornou sua grande inspiração. Todas as suas obras
são dedicadas à Beatriz. Seu primeiro e eterno amor.
— Pelo que eu me lembre, eles não viveram esse grande amor.
— Só parecemos com eles no quesito amor à primeira vista. E estamos e continuaremos vivendo
esse grande amor.
— Você fala de amor tão facilmente.
— Falo facilmente a você, que é minha musa inspiradora.
— Você é um doce.
Eu a puxei para o meu colo, cercando seu corpo macio e com nosso cheiro em meus braços.
— Eu te amo muito, Marina. Mesmo me achando um doce. — Ela riu, enchendo meu rosto de
beijos.
— Eu também.
— Passe a noite comigo. Eu não aceito um não como resposta.
— Primeiro preciso avisar a minha mãe para não preocupá-la.
— Foi bom falar sobre minha sogra. Quando irei conhecer ela e seu padrasto?
— Em breve. Prometo.
— Assim espero. Acho que em duas semanas meu avô chegará de viagem, e logo poderão se
conhecer.
— Espero que ele goste de mim. Seria péssimo se o contrário acontecesse.
— A opinião e apoio do meu avô conta muito, entretanto sou um homem independente e
principalmente sei tomar minhas próprias decisões. Nada me fará mudar de ideia sobre nós dois.
Você é minha e eu sou todo seu.
— Eu sou sua, apenas sua.
CAPÍTULO 12 – ABALO

ENRICO

Já tinha escurecido, a luz da lua atravessava as cortinas juntamente com a brisa confortante.
Minha amada estava dormindo, e eu continuava admirando-a por inteira. O lençol de linho estava
envolvendo o seu corpo macio de maneira bagunçada, deixando suas pernas, e uma parte de seu
seio esquerdo à mostra. Uma visão digna de uma verdadeira obra de arte.
Nunca pensei que poderia amar tanto, até encontrá-la. Era lógico que eu deveria tê-la
assustado com meu jeito de ser direto, não apenas nas palavras, mas nas ações também. Confesso
que também sentia medo das minhas atitudes, nunca agi assim com outra mulher.
Mas não havia mais dúvidas que o amor era invasor e surpreendente. Quem diria que meu
destino seria traçado no momento que uma jovem esbarrou em mim na entrada do hotel, e que eu
cuidaria do seu cachorro até o momento que ele partiu. Tudo isso estava bombardeando minha
cabeça de formas diversas.
Marina e eu, era para acontecer, ou melhor, aconteceu. Saber que o destino e as forças divinas
nos uniram novamente depois de muitos anos era motivo de muita alegria. Eu era um homem
completamente apaixonado por essa bela morena de olhar triste. E queria deixá-la sempre
marcada como minha.
Era inevitável não pensar e deixar meu lado devasso se revelar quando eu estava com ela em
meus braços, mas mesmo longe, ela ocupava meus pensamentos. Marina não me enganava com seu
jeito forte, e ontem, quando a tive tão entregue, conhecendo seu corpo, suas armaduras caíram ao
chão. Eu tive minha menina entregue.
Antes de sair da cama, beijei sua bochecha e me permiti inalar o perfume fascinante do seu
cabelo longo e sedoso, e eu adorava o quão natural ele era. Segui em direção ao closet, e peguei
uma boxer preta e short, vestindo-os em seguida.
Ao pisar no último degrau, fui recebido pela energia dos bagunceiros, então me abaixei, dando
atenção a eles, antes que me fizessem cair, por estarem colidindo, o tempo todo nos meus pés.
Entrei na cozinha e encontrei Louise tirando do forno elétrico uma travessa retangular, e pelo cheiro
delicioso, eu não tinha dúvidas que o prato estava maravilhoso.
— Esse sorriso, não me engana. — Falou, colocando a travessa no balcão. Era lasanha.
— Qual homem não estaria feliz ao lado da mulher que ama. — Eu a abracei, rapidamente,
indo em direção à geladeira.
— Ainda tenho esperança de encontrar um homem como você. — Brincou, me fazendo sorrir.
— Sinto informar que sou único.
— Estou começando a acreditar nisso.
— Irei preparar tudo em uma bandeja para levar ao quarto.
— Pode deixa que eu faço. Apenas sente-se aí.
Enquanto Louise pegava todos os componentes para servir o almoço na bandeja, eu fiquei
observando-a.
— Parece que a senhora está mordendo a língua para falar alguma coisa. — Comentei,
notando sua expressão duvidosa.
— É que eu não quero me meter entre você e seu avô, Riquinho.
— Pois saiba que você tem todo o direito. Desde pequeno, convivi com sua presença e carinho.
— Como não me apaixonaria por um menino educado, cheio de energia, sorridente e carinhoso.
Apesar da tragédia, você nunca deixou isso atingir seu coração por completo.
Ao me lembrar da época que vivi com meu pai, um desconforto me atingiu. Nossa relação nunca
mais seria a mesma.
— Certo... Mas não desvie da minha pergunta.
— Seu avô ligou mais cedo, e perguntou sobre você. Falei que estava com a namorada no
quarto. Bom... Parece que o senhor Arthur não gostou de saber que você estava namorando sua
segurança particular.
Eu já sabia disso, entretanto não deixaria meu avô dominar minha relação com minha
namorada, apesar de amá-lo muito. Se aceitasse seria ótimo, se não, paciência.
— Não é segredo, Louise. — Ela meneou a cabeça, e percebi que tinha mais coisa a dizer. —
Meu avô falou mais alguma coisa?
Ela pegou duas taças, colocando ao lado de cada prato já servido, em seguida despejou suco
de laranja.
— Sim, falou.
— Então diga.
— Ele acha que Marina não é boa o suficiente para você. Um homem feito, dono de um império
tem um nome a zelar, e não poderia ter uma...
— Uma o quê? — Indaguei, levemente alterado.
— Uma qualquer para ser sua esposa e mãe de seus filhos.
Nunca fiquei tão puto da vida. Eram essas atitudes do vovô Arthur que me magoavam. Eu era
homem o suficiente para tomar minhas decisões, e Marina era minha. Ninguém poderia mudar isso.
— Não acredito que ele disse isso.
— Estou dizendo isso, pois sei o quanto está feliz ao lado dessa moça. Que na minha humilde
opinião é maravilhosa, apesar de não termos conversado muito, notei um pouco da sua
personalidade. Outro motivo de eu ter falado, é porque você precisa preparar sua namorada
para as possíveis desavenças com o senhor Arthur.
Soltei o ar, frustrado, pois Louise estava certa. Meu avô sempre falava o quanto me apoiaria
quando eu encontrasse a mulher certa, mas no fundo, tinha esperanças que eu reatasse com
Alexandra. As inúmeras conversas que tive a respeito disso com ele, não serviram para nada.
— Agradeço pela sinceridade, Louise. E você estar certíssima. Meu avô disse quando voltará?
— Sim, disse que provavelmente no dia dezessete.
— Perfeito. Quero que nesse dia prepare um jantar aqui em casa para três pessoas. Será um
jantar para apresentar o meu avô para a minha namorada.
— Tem certeza, Riquinho? Não acha melhor primeiro conversar pessoalmente com seu avô, e
depois....
— Não, será assim, as claras.
Peguei a bandeja, e beijei sua testa em agradecimento.
— Como quiser, menino.
Ao entrar no quarto, vi minha namorada saindo do banheiro usando uma camiseta minha. Ela
sorriu enquanto envolvia suas mãos em seu longo cabelo, fazendo um coque bagunçado. Seu ar
inocente a deixava muito sensual.
— Louise preparou lasanha. Tenho certeza que gostará.
— Não tenha dúvida.
Coloquei a bandeja no meio da cama e nos sentamos. Iniciamos a refeição em silêncio, apenas
trocando olhares cúmplices. Eu queria fazer muitas perguntas, mas não gostaria de ser tão invasivo,
porém não resisti.
— Finalmente entendi porque sempre fugia quando as coisas estavam esquentando. Ontem fui
obrigado a mostrar que não tem porque se envergonhar. Desde quando tem problema de
autoestima?
— Prefiro não falar sobre isso.
— Quero a resposta, Marina.
Bebeu um pouco do suco, deixando-o novamente no suporte.
— Acredito que desde meus oito anos de idade, não sei ao certo.
— Quem a fazia se sentir inferior? Ou sua baixa autoestima surgiu sem empurrão de ninguém?
— Muitas pessoas.
— Não é essa resposta. Seja direta.
— Prefiro não falar, é um problema meu.
— Não existe mais meu, agora somos nós. Pensei que tivesse deixado isso bem claro.
— As coisas não podem ser assim.
— Por que não?
— Suas palavras, ou melhor, você é intenso demais.
— Que bom que sabe disso, já que não estou para brincadeiras. Quero saber tudo sobre a
mulher que amo, para protegê-la, e me esforçar ao máximo para trazer felicidade a nossa vida.
Eu sou assim, esse é meu jeito de amar. Pode entender isso?
— Sim, mas...
— Quero nomes, Marina. Quem a feriu?
— Prometeu que esperaria que eu estivesse pronta para falar sobre essa parte da minha vida.
— Tem razão, é que meu sangue esquenta em saber que sofreu e nada foi feito.
— Deus do céu! Eu te amo.
Acabei sorrindo, pois suas palavras definitivamente era música para o meu ouvido. Peguei a
bandeja e a coloquei em uma mesa pequena, então voltei para a cama e a puxei para os meus
braços. Deitada entre minhas pernas, acariciei seu sedoso cabelo negro, com suas mãos agarradas
ao meu corpo.
— Eu também amo você, só Deus sabe o quanto. — Ela apoiou o queixo em meu peitoral me
estudando com os olhos emocionados. — Assim que meu avô chegar, teremos um jantar, então
poderão se conhecer.
E eu esperava que tudo desse certo nesse jantar.
— Pode ser sincero, Enrico.
— Eu sou sincero.
— Sei disso, mas seu corpo ficou um pouco tenso.
— Está certo. É que meu avô é muito exigente em tudo, e quando se trata de mim, tudo fica pior.
Ele sempre achou que minha ex-noiva seria a mulher ideal para mim, por isso será difícil o vovô
Arthur aceitar nosso namoro.
— E onde mora sua ex-noiva?
— Atualmente nos Estados Unidos. Ela cuida da empresa da família.
— Humm...
— Sabe que não tem porque se sentir insegura, pois meu amor é todo seu. — Ela levantou mais
seu corpo, e capturou meus lábios.
Serpenteei minha língua em sua boquinha, minha namorada me levava a insanidade com seus
beijos. Gemi quando chupou ousadamente minha língua, então retribuí seu gesto; minhas mãos
levantaram a sua camiseta, deixando sua bunda nua e a minha disposição. Apertei suas nádegas
cheias, durinhas, macias, e isso provocou lamúrias entre o beijo, mas não permiti que parássemos, e
mostrei novamente a minha menina como ela deveria ser amada.

MARINA
Passei todo o sábado ao lado de Enrico, foi um dia maravilhoso. Ele gostaria que eu tivesse
passado o final de semana todo, mas não podia deixar meu filho em segundo plano. Theo em
primeiro lugar, sempre.
Todos os dias meu namorado me cobrava de conhecer minha mãe e meu padrasto, e eu ainda
nem havia contado sobre o meu filho. Não era por vergonha, pois se tinha algo em minha vida que
nunca seria um arrependimento era o meu filho, que me salvou da escuridão, quando tudo que eu
carregava era raiva, e mais raiva.
Primeiro, queria ter certeza que Enrico seria minha salvação. A conversa que tive com a vó
Glória ainda rondava meus pensamentos, ela parecia tão convicta das suas palavras, que todas as
letras me tocaram profundamente. Ela tinha razão, Enrico salvaria meu filho e eu quando a guerra
de poder fosse anunciada.
Tentei encontrar um momento certo para conversar a respeito com meu namorado, porém sua
agenda profissional estava uma verdadeira correria. Depois do atentando corriqueiro na saída do
pub, não houve mais nenhum. O que era ótimo, mas mesmo assim continuamos com toda a equipe
atenta, e depois de muita conversa, tiramos alguns seguranças, deixando a quantidade necessária.
Enrico, como eu esperava ficou contente, pois assim se sentiria melhor.
Faltavam poucos dias para a chegada do senhor Arthur Falcão, e era notável o quanto eu
estava nervosa para esse jantar. Eu me sentiria quebrada se o senhor Arthur não me aceitasse, mas
em momento algum seria falsa, tentando ser o que eu não era. Lutei anos da minha vida tentando
manter minha essência, não seria agora que mudaria.
Saber que Enrico já foi noivo, era um pouco doloroso. Eu o amava e preservaria o nosso amor
até o limite, e bem que gostaria de falar com orgulho que ultrapassaria os limites por esse amor, no
entanto, não eu não poderia fazer isso quando ainda era assombrada pelo meu passado.
— O bolo ficou bom? — Indagou minha mãe ao entrar na cozinha.
Hoje, eu finalmente mataria a minha curiosidade e iria conhecer Enrico Danatello. Ontem, meu
padrasto nos comunicou todo alegre que seu filho finalmente havia aceitado o convite para o
jantar. Caíque e K12 seriam os seguranças particulares, então conversei com o meu namorado e
avisei que teria um compromisso familiar.
Estranhei um pouco a atitude de ele não ter questionado, pois toda vez que eu avisava que
tinha um compromisso desse tipo, ele ficava exigindo ser apresentado à minha família. Prometi que
de amanhã não passaria, então eu precisava contar sobre o meu filho ao Enrico, e marcaria o mais
breve possível um jantar aqui em casa.
Será que ele aceitaria o meu filho em sua vida?
— Filha, está tudo bem?
— Sim, mãe. Eu estava apenas pensando.
— O bolo parece maravilhoso, será que ficou no ponto?
— Seu bolo de cenoura sempre fica maravilhoso. Todos irão adorar.
— Certo, irei levar a calda de chocolate para a mesa, assim todos se servirão com a
quantidade que quiserem.
Enquanto minha mãe terminava de organizar a mesa, fiquei na cozinha arrumando o jantar nas
travessas e logo meu filho chegou para me ajudar.
— Esse vinho é perfeito. — Disse Albestini, entrando na cozinha. Tinha ido à adega escolher o
melhor vinho.
— Tenho certeza que sim. — Comentei, recebendo seu abraço paterno, algo que me faltou até
conhecê-lo.
— Muito obrigado por tudo, minha filhinha. — Beijei sua bochecha. Eu estava feliz por ele.
— Seu filho irá adorar o jantar.
— A mamãe tem razão, vovô. O senhor é o melhor de todos. Além disso, se por acaso ele não
gostar... Bom, eu tenho certeza que gostarei de tudo.
Albestini abraçou Theo, recebendo o mesmo carinho. Assim que minha mãe se aproximou, ele a
rodopiou, abraçando-a e beijando-a com tanto amor, que deixei algumas lágrimas fujonas
escaparem. Minha mãe encontrou o amor novamente, mas agora o homem a merecia.
Eles saíram levando as travessas com a refeição, e eu fiquei com o meu filho organizando um
pouco da bagunça. Estava rindo com as narrações engraçadas do Theo falando o quanto estava
sendo horrivelmente engraçado os ensaios da peça de teatro que ele só estava participando por
contar pontos na aula de artes.
A campainha soou pela casa e minha mãe gritou da sala de jantar para Theo atender a porta,
e ele foi correndo até a sala receber o esperado convidado.
— Filho, ajude sua avó a terminar de organizar a mesa. — Falei, ao entrar na sala.
Quando levantei meus olhos, me deparei com os olhos azuis questionadores e dominantes que eu
amava me fitando com uma enorme curiosidade. Seu olhar me percorria de cima a baixo.
Será que Enrico colocou todos os seguranças contra a parede para saber onde eu estava?
— O que está fazendo aqui? — Foram as únicas palavras que consegui liberar.
Enrico pregou os olhos em meu filho, que sorria para ele, cheio de curiosidade. Passei minhas
mãos no vestido, tentando conter o suor nervoso e gelado que começou a surgir.
— Esse é o filho do Albertini, mãe. — Theo murmurou o óbvio.
Oh, meu Deus! Então o meu namorado era filho do meu padrasto? Deveria ter outra explicação,
certo?
— Tem muito que explicar, Marina. Pelo visto, temos mais uma ligação. — Sibilou com raiva, mas
ele sabia se controlar muito bem.
A ficha que Lucas nos passou sobre Enrico Falcão não continha mais nenhum sobrenome, e muito
menos falava sobre os pais dele. Apenas do avô, e resumidamente. Tudo estava mais ligado à sua
rotina.
Minhas pernas pareciam molas, mas mesmo assim consegui manter meus passos firmes e caminhei
até eles.
— Theo, por favor, chame o seu avô.
— Claro, mãe.
Enrico acompanhou Theo com o olhar até meu filho sair da sala. De repente, fui surpreendida
por sua fúria quando suas mãos agarraram os meus braços com tanta força, que me segurei para
não gritar. Eu queria golpeá-lo por me segurar com violência, contudo preferi não cutucar mais a
fera.
— Você fodeu tudo, Marina.
CAPÍTULO 13 – VERDADES

ENRICO

Minha agenda profissional estava cheia até o último e o pouco tempo livre que tive, aproveitava
para ficar com a minha namorada. O bom era que na maioria dos meus compromissos, ela me
acompanhava como minha segurança particular. Só o fato de estar em sua presença já me
motivava.
Eu estava no pé da Marina querendo que ela me levasse o quanto antes para conhecer sua
mãe e padrasto. Não conversamos muito a respeito, e eu coloquei na minha cabeça que não
poderia ficar exigindo muito dela, sendo que eu também mantinha uma parte do meu passado
escondido.
Ainda era difícil falar sobre a tragédia que marcou minha relação com meu pai, era um assunto
delicado que às vezes ainda me assombrava durante o sono. Quando eu estivesse preparado,
contaria tudo para a minha amada, que passaria a saber tudo que tinha direito.
Hoje Caíque e K12 estavam como meus seguranças particulares, e eu não gostava de ficar
cercado por um bando de brutamontes, porém não poderia vacilar com a minha segurança, já que
tentar uma vez, não impedia que algum louco fizesse isso novamente.
Minha namorada avisou que teria um compromisso familiar, e pela primeira vez, não questionei
nada, pois estava muito claro que eu ansiava o quanto antes fazer parte da família dela
oficialmente.
Ontem, depois de tantos anos, resolvi atender a ligação do meu pai. Sua voz anunciava o
quanto estava emocionado, e fiz de tudo para atingi-lo com minha indiferença, mas por fim acabei
aceitando jantar com ele e sua família.
— O que achou do novo aplicativo para celular? — Indagou Evandro, meu braço direito,
sempre pronto para me ajudar.
— Achei maravilhoso, fizemos um grande avanço e não tenho dúvidas que será um sucesso.
— Fiquei muito impressionado e orgulhoso por ter feito toda a supervisão de perto.
Evandro me tinha como um filho e eu era grato por todo o carinho, pois assim como o meu avô e
Louise, ele também fazia parte da minha família. Eu não podia esquecer que a minha namorada
também era parte dela, e faria de tudo para nos casarmos o quanto antes.
— Os deficientes visuais receberão esse aplicativo como uma melhoria no dia a dia. Além do
comando de voz, esse instrumento é inteligente e poderá dar as coordenadas ao vivo. Sou eu que
tenho orgulho de toda a equipe de criação e desenvolvimento.
— Sem dúvida será um grande avanço.
— Quando tivermos a reunião com os partidos políticos, escolherei a dedo quem levará nosso
apoio.
— Deixarei isso com nossos advogados, eles saberão ser discretos nas pesquisas.
— Também peça para analisarem cautelosamente os partidos internacionais.
— Pode deixar. O que acha de levar um vinho para o jantar na casa do seu pai?
Era notável o quanto ele estava feliz por eu ter aceitado o convite do meu pai. Assim como meu
avô ficou e lamentou não estar presente. Ainda bem que Marina tinha seu compromisso, pois antes
de apresentá-la ao meu pai, eu iria primeiro conversar a sós com o senhor Albestini Donatello.
— Pelo que conheço do senhor Albestini, deve ter um bom vinho para o jantar. Não levarei
nada.
— Tem certeza, Rico? Se quiser, posso encomendar flores ou chocolates.
— Parece nervoso por eu ir jantar com meu pai.
— O que eu mais desejo é sua felicidade, menino. Eu o vi crescer, e hoje tenho mais orgulho por
ter se tornado um homem íntegro.
— E eu agradecido por você fazer parte da minha vida.
Quando cheguei em casa fui recepcionado por Lobo e Tatá, ambos eufóricos e exigindo
atenção. O engraçado era que quando minha namorada estava aqui, eles nem ligavam para mim,
preferiam ficar rodeando-a, fazendo charme.
Louise, logo entrou a sala falando que eu precisava me arrumar para não chegar atrasado ao
jantar. Ela também ficou feliz com a minha tentativa de mudar minha relação com meu pai.
Depois de tomar um banho refrescante, coloquei uma calça jeans de lavagem clara e uma
camiseta verde-água. Antes de sair, pus a ração dos bagunceiros e troquei a água. Louise também
estava de saída, mas ouvi todas as suas recomendações de não deixar as lembranças ruins
tomarem conta de mim.
Maurilio dirigiu até o endereço que meu pai mandou por mensagem mais cedo, e eu fiquei
pensando na minha Loba e no quanto sentia saudade dela. Eu gostaria de estar com ela em meus
braços, onde conversaríamos, riríamos e trocaríamos amor com gestos e palavras. Esses eram os
nossos momentos
A casa do meu pai era muito linda, com o verdadeiro ar de lar, aconchego e paz. Os meus
seguranças particulares permaneceram do lado de fora, na entrada. Toquei a campainha um
pouco nervoso com o que me esperava lá dentro.
— Boa noite, eu sou Theo. Você é o filho do meu avô, não é? — Disse o garoto simpático. Seu
olhar era marcante e pela maneira de falar era muito esperto.
— Sim, me chamo Enrico.
— É eu sei. Entra.
Fiquei admirado com a decoração colorida, tudo muito organizado e cheiro de casa. Era algo
que eu tinha antes da minha mãe falecer, mas agora tudo estava perdido.
— Filho, ajude sua avó a terminar de organizar a mesa. — Reconheci a voz da minha
namorada.
O menino já estava no centro da sala e eu caminhei cauteloso, me aproximando dele. Meus
olhos se perderam em Marina, estava lindíssima usando um vestido de alças finas, tecido leve, com
estampas florais. Era uma vestimenta que nunca a vi usar antes.
Olhei para Theo, e um frio tomou conta do meu estômago. As peças se encaixaram
perfeitamente. Voltei a encarar minha namorada e seus olhos estavam nervosos, mesmo assim não
perdeu a postura, se manteve firme, tentando esconder o medo pelo o que estava acontecendo e
aconteceria.
— O que está fazendo aqui? — Indagou e eu permaneci estudando Theo.
Ele não se parecia em nada com ela, alguns traços eram notáveis. Isso me atingiu um pouco, pois
esse menino era fruto de uma relação que minha amada teve antes de mim. Minhas palavras
estavam presas.
— Esse é o filho do Albertini, mãe. — Tive uma súbita vontade de rir, pois Theo falou o natural.
Era um rapazinho muito inteligente.
— Tem muito que explicar, Marina. Pelo visto, temos mais uma ligação. — Finalmente encontrei o
que dizer. Eu estava muito, muito puto.
— Theo, por favor, chame o seu avô.
— Claro, mãe.
Esperei o rapazinho sair da sala, e finalmente voltei meu olhar para a minha namorada. De
repente, segurei em seus braços, com um pouco de força.
— Você fodeu tudo, Marina. — O timbre da minha voz saiu cauteloso e mostrava o quanto eu
estava com raiva.
— Enrico, por favor, me solte.
— Estou tão bravo, Marina. Como pode deixar de me falar que tem um filho?
Seus olhos continuavam me avaliando, e nesse momento, ela parecia uma menina frágil.
— Eu estava esperando o momento certo. Vamos conversar no escritório. Por favor?
Antes que eu pudesse responder, meu pai entrou acompanhado da sua esposa e o neto. Minhas
mãos já não apertavam mais os braços da Marina.
— Que bom vê-lo, seja bem-vindo, meu filho. — Ninguém notou o clima tenso.
Depois de tantos anos, finalmente me permiti abraçar meu velho pai. Ainda não conseguia ser
cem por cento receptivo ao seu carinho, tínhamos muito que lutar juntos.
— Obrigado, pai. — Murmurei, tentando controlar a emoção e raiva que estava correndo feroz
em meu sangue.
— Essa é minha adorável esposa Elisa. — Eu a abracei, recebendo uma energia boa, algo que
tinha com a minha mãe. Meus pelos se arrepiaram, foi inexplicável.
— Estou muito feliz em conhecê-lo, Enrico. — Falou Elisa, acariciando de leve minha bochecha.
Foi tão natural seu gesto, que eu pude sentir uma sensação de conforto.
— Esse é meu neto Theodoro.
— O prodígio da família. — Sibilou Theo, fazendo todos sorrirem. Ele era adorável.
Fiquei surpreso pelo seu abraço e minhas mãos acariciavam suas costas, então beijei sua
cabeça. Eu me sentia como se estivesse em casa depois de ter passado uma longa temporada
longe. Encarei Marina, que já fungava com as lágrimas, e eu queria puxá-la para um abraço, mas
antes de qualquer coisa, precisávamos conversar.
— Essa é minha filhinha do coração...
— Nos conhecemos muito bem pai. Somos namorados.
Todos nos olharam boquiabertos, muito surpresos e somente nesse momento notaram que a
minha namorada estava emocionada. Theo sorria, olhando de mim para a mãe.
— Meu Deus! Então você é o mesmo Enrico que...
— Exatamente. Descobrimos isso agora. Infelizmente, sua filha adiantou minha apresentação a
vocês, e bem... Eu não falei de você para ela, pai.
— Então é mais um motivo para se comemorar. Nossos tesouros pertencem um ao outro. —
Comentou meu pai, mostrando sua alegria. Elisa também sorria.
— O jantar está pronto. Nós estaremos esperando-os à mesa. — Avisou Elisa, saindo
acompanhada do meu pai e Theo, que antes de sair abraçou a mãe brevemente.
O silêncio era perturbador e eu esperava mais confiança da parte da minha amada, afinal, o
tempo todo demostrei o quanto estava sendo verdadeiro. Mas eu não seria tolo em não insistir
nisso.
— Fale, por que motivo escondeu Theo de mim?
Ela cruzou os braços sobre o peito, olhou para cima e voltou seu olhar para o meu. Apesar de
toda minha fúria querendo me quebrar, por Deus, ela estava tão linda, simples, perfeita. Seu
cabelo estava do jeito que eu gostava, solto, e só ficava assim quando ela estava em meus braços.
— Medo.
— Mereço mais que isso.
— Não queria colocar você na vida do meu filho sem ter certeza do que aconteceria entre nós
dois. A felicidade do Theo sempre estará acima da minha. Eu já sofri demais, sei o que é viver com
a rejeição, eu não suportaria que você saísse das nossas vidas e deixasse meu menino sofrendo.
— Você acha que eu rejeitaria Theo?
— Eu não sei....
— Nunca rejeitaria algo que veio de você, Marina. — As lágrimas voltaram a deslizar pelo seu
rosto, que ela prontamente as limpou com o dorso da mão. — Se eu amo você, seria fácil amar seu
filho também.
Me aproximei e toquei seu rosto, depois beijei sua testa demoradamente, e suas mãos
seguraram minha cintura com força, então pude sentir suas unhas afundando em minha pele.
— Eu não quero perder você, por favor, Enrico.
— Nunca me perdera. Por um lado, eu entendo sua atitude, no amor, os acertos e erros são
consequências dos nossos sentimentos. Estarei sempre ao lado de vocês, meu bem. — Acolhi seu
corpo em meus braços. — Quero saber de tudo.
— Contarei tudo o que quiser, prometo.

— Mas Theo, infelizmente, não poderá ter meu sobrenome, é um direito que não posso tirar do
pai dele. Mas você terá meu sobrenome o quanto antes, e darei todo meu amor e proteção para
ambos. Entendeu?
— Sim, eu aceito, preciso de você.
— Ainda estou com raiva, não se engane.
— O que pretende?
— Nada demais. Agora vamos jantar com a nossa família. — Suspirei, ainda assimilado que
meu pai era casado há muitos anos com sua mãe. — Depois do jantar iremos conversar com nossos
pais.
— Tudo bem, eles merecem uma explicação melhor.
O jantar estava maravilhoso, era uma comida caseira deliciosa. Tentei ao máximo tirar o clima
tenso que tinha com meu pai, mas era algo que não poderia mudar de repente.
— Deve ser legal trabalhar com tecnologia. — Comentou Theo.
A cada segundo, ele roubava mais espaço no meu coração. Ele falava muito bem e era muito
atento. Pouco tempo atrás eu comentei sobre o meu trabalho, pois a minha sogra, ou seria
madrasta?, me perguntou sobre a minha profissão, e os olhos do Theo brilhavam com cada palavra
que eu dizia.
— É sim, adoro poder desenvolver novos programas, seja para melhorar a vida ou apenas com
a finalidade de diversão. O que acha de passar um dia inteiro comigo, na empresa?
— Está falando sério mesmo? — Assenti, admirando sua alegria. — Eu poderia, mãe? Pense
com muito, muito carinho.
— Claro que pode. — Marina respondeu um pouco receosa, mas em momento algum pareceu
querer interferir na minha pequena relação com seu filho. O que era excelente, pois significava
que estava me dando espaço.
— Legal! Será um dia e tanto. — Falou Theo, nos contagiando com sua animação.
Ao término do jantar, fomos todos para a sala e aproveitamos a calmaria, que provavelmente
mudaria, quando eu fizesse meu anúncio. Marina pediu para Theo ficar na sala de jogos enquanto
os adultos conversavam e sem questionar a ordem da mãe, seguiu seu caminho.
— Realmente foi uma surpresa para todos. Acredito que faltou mais um pouco de comunicação
da minha parte com Marina, e vice-versa. É bom saber que temos o apoio de vocês.
— Vocês estando felizes, também ficaremos. — Falou Elisa.
— Vocês formam um belo casal, e notei a intensidade de ambos. Também estou muito contente,
espero que seu avô pense o mesmo.
— Meu avô sempre esteve ao meu lado, tenho certeza que também me apoiará agora.
As palavras soaram mais para atingir meu pai, e seus olhos ficaram tristes, então um
arrependimento me bateu, mas mesmo assim eu não retirei o que disse. Mesmo sabendo que vovô
Arthur não apoiaria o meu relacionamento com Marina, eu quis atingir o senhor Albestini.
— Agora Albestini também estará ao seu lado. — Alfinetou minha Loba.
Só essa mulher para me desarmar.
— Aproveitando a oportunidade... Marina e eu iremos nos casar no civil em trinta dias, por isso,
meu bem, organize todos seus documentos e leve amanhã para mim. Depois será o casamento no
religioso.
— A verdade é que precisamos conversar mais, Enrico.
— Não precisamos, não. Já havíamos falado a respeito antes e hoje surgiu a oportunidade.
— Nossa... tão rápido. — Murmurou Elisa, meu pai apenas ostentava um sorriso.
— O amor é assim mesmo, minha bela. — Falou meu pai para a esposa.
— Bom, mesmo assim ainda precisamos falar a respeito, Enrico.
Será que ela já não me deixou puto o suficiente hoje?
— O que a impede de se casar comigo?
CAPÍTULO 14 – DECISÕES

MARINA

Eu ainda estava chocada com o atrevimento do Enrico. Não poderia aceitar as decisões que ele
estava tomando sozinho, era evidente que adoraria me casar sabendo que ele sempre estaria ao
meu lado e do meu filho. Mas precisávamos conversar e eu não queria acordar um dia e ver em
seus olhos o arrependimento de ter jurado amor para mim até o fim diante de Deus e dos homens.
— Bom, fiquem à vontade. Albestini e eu estaremos na cozinha. — Disse minha mãe, notando o
clima tenso entre mim e meu namorado.
— Estaremos? — Indagou Albestini, que recebeu uma cotovelada não tão discreta da minha
mãe. — Ah, claro.
Quando eles saíram, me levantei e simplesmente comecei a andar no tapete de um lado para o
outro. Eu estava nervosa por ter que contar ao Enrico sobre meu passado.
— Estou esperando, Marina.
— Casamento é algo muito sério. Nos amamos, mesmo assim é muito cedo para esse passo,
entende?
— Sim, mas não tenho dúvida do que desejo.
— Sinto que pode ser um capricho seu. — Soprei as palavras, sendo devorada por seu olhar.
— Não quero passar os primeiros meses em um casamento perfeito, e depois tudo ter sido uma
grande ilusão. Acho que devíamos esperar.
Parei de andar quando ele se levantou e segurou nos meus braços.
— Estou ficando muito puto. Acha mesmo que sou o tipo de homem que brinca com os
sentimentos? Que envolveria uma criança no meio disso tudo?
— Não, é que...
— Caladinha, Marina. — Ele pausou, e eu não sabia o que mais fazia meu sangue ferver, se
era seu jeito mandão ou ter pensamentos duvidosos sobre ele. — A partir de hoje, Theo é nosso
filho, cuidarei do nosso rapazinho com tudo que foi me passado para me tornar o homem que sou
hoje. Quero casar com você para ficar claro que é minha mulher, não estou brincando de casinha.
Quero chegar em casa e ser recebido por você, nosso filho, e quem sabe até lá, aumentaremos a
família. Sabe o que família significa para mim?
— Sim. — Meneei a cabeça, estava tonta de emoção com sua declaração.
— Família para mim é uma benção. Tudo que é meu, já é seu e do nosso rapazinho.
— Desculpe-me por minhas palavras, mas é que você parece não existir.
— É claro que existo, Deus me fez para vocês.
— Você me deixa boba. — Ele beijou a ponta do meu nariz, e acabei sorrindo entre as
lágrimas.
— Tentar não te amar seria impossível. No instante que você esbarrou em mim há nove anos, foi
ali que me pertenceu.
— Minha avó tem razão, você é minha redenção.
— Sinto o mesmo referente a você, minha Loba. — Sussurrou.
— Preciso contar sobre o meu passado. Não posso deixar que você fique sem saber de mais
nada.
Enrico segurou minhas mãos, e voltamos a nos sentar no sofá. Ele parecia ansioso, esperando a
minha narração obscura. Era difícil pensar nos Medeiros e não sentir a raiva me transformando, e
eu estaria mentindo se cogitasse a ideia de algum dia perdoar Ricardo Medeiros. Esse pecado
poderia garantir minha estadia fora do céu, estaria trancada nos sentimentos dolorosos que me fez
passar, como consequência, trancada do lado de fora do paraíso. Porém eu não me importava.
Buscando forças, consegui narrar todo o meu passado ao homem que mudou minha vida e ele
ouviu tudo em silêncio, e seu apoio estava presente nos momentos em que falei das humilhações,
com o seu polegar acariciando o dorso de minha mão. Algumas lembranças eu preferi deixar
trancadas apenas para mim, era tanta vergonha que provavelmente não conseguiria olhar para
ele depois que contasse.
— Nunca passou pela minha cabeça que você fosse filha do Ricardo Medeiros. Minha empresa
já financiou as campanhas do partido dele. — Ele se levantou, e eu olhei para suas mãos que
estavam em punhos, demonstrando claramente a raiva que sentia.
— Jurei que nunca mais colocaria meus pés naquela maldita casa e durante todos esses anos,
eu anseio pelo momento que me vingarei de todos eles, mas o meu receio é o Theo.
— Estou com tanto ódio desses cretinos. Marcus Alvarez e Ricardo Medeiros não merecem nosso
rapazinho, muito menos você.
— Minha avó me alertou quanto ao fato de ficar escondendo o Theo. Eles nunca me
procuraram depois da noite em que saí como a louca da história. Por isso decidi continuar morando
no Rio, mesmo assim, temo que possam tomar meu filho.
— Nosso filho, Marina.
Deus do céu! Era tão bom ouvi-lo falar isso.
— Sim, nosso filho. — Ele sorriu e seus olhos suavizaram.
— Precisamos estar preparados, meu bem. Pelo que disse, será uma grande guerra de poder, e
no meio estará a felicidade do nosso rapazinho. — Suas mãos grandes seguraram meu rosto, me
fazendo o encarar. — É vingança que deseja?
Minha cabeça sempre trabalhava em como seria minha vingança. O amor que eu sentia pelo
meu filho era algo sem fronteiras, o mesmo por minha amada mãe. Meu padrasto trouxe o amor
de pai e filha que nunca conheci antes e isso tudo me fez amadurecer, crescer em personalidade e
caráter. E eu estava diante de um homem que veio com a missão de me proteger, amar, domar, e
que principalmente aceitava meu filho como seu. Talvez, se eu não me vingasse, seria a melhor das
vinganças.
— Eu não sei se ainda quero isso.
— Eu tomei suas dores, meu bem. Estaria mentindo se falasse que não surgiu essa vontade em
mim, mas a decisão é sua.
— Não posso permitir que o véu vermelho continue em frente aos meus olhos. Theo tem um
pouco deles, não posso mudar isso, mas preciso estar preparada para quando souberem da
existência do Theodoro Mendes.
— Eles provavelmente irão exigir que nosso rapazinho carregue o sobrenome deles. Mesmo
assim, isso não mudará nada. O sobrenome não faz o caráter, protegeremos nosso filho.
— Você tem certeza?
— Sobre o quê?
— Tem certeza que nos quer ao seu lado?
— Não sou eu que estou rejeitando o pedido de casamento.
— Estou falando sério, Enrico.
— Sim, meu amor, tenho certeza, assim como minha fé.
Seus lábios tomaram os meus com paixão, e sem poder me conter, apertei a lateral do seu corpo
com força, avidez, sentindo seus músculos firmes. Era incrível como me rendia facilmente aos braços
do meu amado, como o amor gritava dentro de mim. Estava sôfrega, querendo mais, e gemi ao
sentir sua mão direita apertando a lateral de minha coxa e subindo com cobiça para a minha
bunda. Queria implorar para não parar, porém estávamos na sala da casa de nossos pais.
— Já cansou, meu bem?
— Estamos na sala da casa de nossos pais, Enrico. — Ele me prendeu em seus braços, e olhou
descaradamente para os meus seios.
— Está linda nesse vestidinho. — Murmurou, cheio de desejo. Oh céus, eu também estava. Seu
polegar tocou no bico do meu seio enrijecido por cima do vestido, o qual não escondia o quanto eu
estava excitada. — Parece que precisa de atenção aqui. — Massageou apenas com o polegar, e
eu mordi os lábios quando beliscou com força, causando uma onda de prazer e dor.
Foi uma boa ideia não usar sutiã.
— Enrico, por favor, pare com isso. — Cochichei extasiada.
— Estou com vontade de mordê-los, meu bem.
Ah porra, assim ficava difícil me controlar.
— Pare!
— Está certo. — Selou nossos lábios rapidamente. — Em trinta dias iremos nos casar no civil,
depois no religioso. Não temos porque esperar, Marina. Queremos o mesmo, estou certo?
Totalmente, seu mandão.
— Sim, senhor Falcão.
— Não seja rebelde. — Ele sorriu, e apertou mais seus braços ao meu redor. — E amanhã
comece a arrumar suas coisas e do nosso rapazinho, pois nossa casa os aguarda.
Eu o amava e confiava em suas palavras, apesar de no fundo ainda existir uma insegurança. Eu
não podia deixar aqueles que me humilharam continuar agindo em minha vida, eu deixaria a
covardia de lado, e entraria com tudo no amor que eu tinha por Enrico Falcão.
— Tudo bem. — Segurei o sorriso ao ver seus olhos me fitarem com surpresa.
— Deveria ficar desconfiado?
— Não, Enrico. — Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço. — Tudo por nós.
Ele encostou sua testa na minha, e eu não tinha mais o que temer e sabendo que meu soldado
estaria lutando ao meu lado, me tornaria mais forte.

ENRICO
Foi doloroso saber tudo que a minha amada passou, tão nova. Infelizmente a perversidade
daqueles que deveriam protegê-la, foram descarregados nela. Um forte anseio de quebrar
Ricardo Medeiros e Marcus Alvarez estava pinicando minha mente. Eram verdadeiros monstros
ambiciosos.
Parecia que eu e minha noiva tínhamos mais em comum do que pensei. Nossos pais falharam
muito conosco, porém, o senhor Albestini não estava em seu estado normal quando aconteceu a
tragédia, e há anos tentava se aproximar de mim. Mas eu ainda guardava muita mágoa do meu
pai, talvez um dia eu conseguisse perdoá-lo.
Ricardo Medeiros estava sóbrio todas as vezes que viu sua filha sofrer, e isso era imperdoável.
Ouvir os relatos da Marina foi como sentir um corte profundo e percebi em seu olhar, que a
vingança era algo que ela não pretendia fazer, não mais, entretanto, eu não estava conseguindo
me controlar a respeito disso.
— Estou à disposição, Rico. — Disse Evandro ao entrar no meu escritório.
Marina, juntamente com nosso rapazinho e Louise, estavam terminando de decorar o quarto dele
e arrumar as roupas no closet. Eu estava ajudando-os, porém precisei mandar alguns contratos
para os meus advogados analisarem, e li novas propostas de parceria para empresa. Meia hora
atrás chamei meu braço direito, Evandro, para vir à minha casa.
— O partido METP já foi analisado?
— Sim, pelos dados e investigações, descobrimos irregularidades em pagamentos dos projetos,
e muitos ainda não receberam as verbas que foram prometidas. O partido do atual senador do
Rio está fora da nossa lista de doações.
— Pois então avise à nossa equipe que coloque.
— Rico, não patrocinamos corruptos.
— Sim, eu sei. Irei mudar esse partido com todo o poder que tenho em mãos.
— Quer dizer...
—Eu mandarei nesse partido nos bastidores. O senador Ricardo Medeiros e o deputado Marcus
Alvarez farão tudo o que eu decidir.
— Será que eles irão aceitar serem comandados assim? Preferem continuar desviando dinheiro.
— Tudo que descobrimos dos partidos, ou melhor, das pessoas que fazem o partido, deixamos
somente entre nós. Diferente de muitas empresas, nos preocupamos em estudar cada um antes de
patrocinar, mas dessa vez usarei isso contra eles. Junte todas as provas e traga para mim.
— Por que esse interesse todo, Rico?
— Sei que conto tudo a você, Evandro, porém o que precisa saber por enquanto é que esses
dois seres mexeram comigo ao magoar a minha mulher.
— Vingança, não é bom. Sempre volta, menino.
— Eu ensinarei o senador e o deputado a serem homens de verdade.
CAPÍTULO 15 – SOLDADO DE GUERRA

MARINA

Eu estava conseguindo conciliar bem o fato de ser mãe, dona de casa e segurança particular do
meu noivo. Enrico queria que eu deixasse de protegê-lo e que continuasse trabalhando na
Blindados apenas na administração, mas eu disse que continuaria com a minha missão, até termos
certeza que não tinha perigo por perto. O que eu duvidava que acabaria, sendo que sempre
chegava às nossas mãos algumas ameaças, e todas eram da concorrência.
Era em momentos como esses que eu pensava no quanto o ser humano poderia ser facilmente
corrompido. E sem querer, acabei pensando em Ricardo Medeiros e Marcus Alvarez, que com sua
politicagem, queriam mostrar ao mundo que eram exemplos. Eu ainda evitava assistir à televisão,
pois não queria ver o teatro descarado de ambos.
Theo se adaptou muito rápido em nosso novo lar, principalmente por ter dois companheiros
bagunceiros como o Lobo e Tatá. Louise adorava mimar meu filho, que a deixava encantada cada
vez mais. Os dias estavam sendo maravilhosos, onde eu via amor, admiração e carinho toda vez
que Enrico olhava para o nosso rapazinho. Isso era tudo que eu precisava para ser feliz, mesmo
sabendo que em breve esse mar calmo se abalaria com uma tempestade.
Ontem tomei minha decisão final enquanto conversava com a minha mãe, meu padrasto e meu
noivo. Eu contaria sobre a paternidade de Theo para os Medeiros e Alvarez, mas antes, Enrico
avisou que o correto seria que os advogados estivessem sabendo de tudo, e preparados, caso
Marcus tentasse entrar com o pedido de guarda.
Por amor ao meu filho, decidi abandonar a vingança, mas Enrico me surpreendeu ao relatar seu
plano. Ele entraria como financiador do partido METP, e acabaria com toda a corrupção que o
atual senador e deputado escondiam debaixo do tapete, e eles passariam a ser honesto e
acatando todas as ordens do meu noivo, caso contrário seriam expostos na mídia, e isso poderia
acabar rapidinho com o poder deles.
— Tem certeza que ficou bom, Louise? — Indaguei, assim que ela provou o molho branco que
fiz.
Hoje eu decidi que prepararia o jantar, já que o senhor Arthur Falcão viria para nos
conhecermos pessoalmente. Eu estava nervosa, ansiosa, pois a opinião dele era importante para
mim, principalmente para o meu noivo.
— Está maravilhoso, Mari. Tem mãos ótimas para cozinhar. — Ela disse, e continuou pegando as
louças que seriam usadas hoje.
— Espero que o senhor Arthur também goste.
— Pode ir parando, menina. — Ela me fitou com repreensão. — Não tem que agradar o senhor
Arthur, fique tranquila. Mantenha em sua cabeça que nada poderá afetar você e o Riquinho.
Louise tinha razão, mas era inevitável não pensar que esse jantar poderia terminar em um
verdadeiro caus.
— Tem toda razão. Pode preparar o arroz, e é melhor eu começar a me arrumar.
— Pode deixar que eu termino e organizo tudo.
Ao entrar na sala, vi os dois bagunceiros arrastando algumas almofadas pelo chão, então
chamei a atenção deles, que saíram correndo, fugindo da minha bronca. Quando comecei a subir
os degraus, parei ao ouvir a conversa e risada animada dos homens da minha vida.
— Você dois estão atrasados! — Alertei, cruzando os braços no peito.
Enrico levou nosso rapazinho para o treino de futebol, o qual eu perdi tentando preparar a
melhor refeição possível para o senhor Arthur.
— Sem estresse, meu bem. Ainda temos meia hora.
— O que está a preocupando, mãe? — Perguntou Theo, ao se aproximar.

Ele estava com o uniforme do time todo sujo, e em seus ombros, continha vestígios de grama. Eu
o puxei para um abraço apertado, fazendo-o resmungar.
— Estou apenas ansiosa para conhecer o senhor Arthur.
— Ele vai adorar você, mãe. — Ele sorriu. — Principalmente se você tiver feito bolo de
chocolate, aquele que eu adoro...
— Muito esperto, rapazinho. — Falou Enrico, segurando um sorriso.
— Então estou tranquilíssima, pois fiz o bolo para a sobremesa.
— Problema resolvido, então! — Murmurou Theo, deixando claro suas intenções com o bolo de
chocolate.
— Agora, para o banho. — Subiu correndo a escada, eu até pensei em falar para não correr,
mas seria o mesmo que eu não tivesse dito nada.
Direcionei meu olhar para Enrico, que sorriu, balançando a cabeça. Ele sabia que eu estava
uma pilha com esse jantar.
— Vamos tomar um banho bem gostoso, assim você relaxa, meu amor. — Eu o abracei assim
que parou à minha frente.
— O que o seu avô falou quando soube do Theo?
— Eu já falei....
— Pode repetir.
— Meu avô disse que adoraria conhecer nosso rapazinho.
— Se ele não gostar de mim poderei viver com isso, mas com relação ao nosso filho...
— Ei, meu bem. — Segurou meu queixo. — A opinião do meu avô não será um obstáculo para
nós dois.
Isso já era o bastante.

ENRICO
Passei uma tarde incrível assistindo Theo em seu treino de futebol. A cada tentativa dele de
acertar um gol, me exaltava como seu fiel fã. Meu coração se encheu quando o treino chegou ao
fim, e ele correu para os meus braços.
Theo era o meu filho, ninguém mudaria isso.
Pedi para Evandro reunir os advogados da empresa, que eram os melhores tanto na área
administrativa como civil. Marquei uma reunião para próxima semana, pois queria estar com todas
as facas dispostas à mesa, antes que Ricardo e Marcus fizessem algo. Se eles ousassem causar mal
a minha mulher e nosso filho, eu atiraria a primeira faca na direção deles.
Eu poderia me vingar deles fácil, mas não permitiria que esse ato envenenasse a minha alma,
então eu daria uma enorme lição, fazendo com que eles agissem honestamente perante as minhas
ordens. Não poderiam correr para nenhum lado, eu os cercaria de qualquer jeito.
— Pronta? — Perguntei, abraçando-a por trás e permitindo que meu nariz viajasse na curva de
seu pescoço.
— Sinceramente... Não.
— Está sim, meu bem. É apenas um jantar com meu avô.
— Certo, sem neuras.
Quando entramos a sala, fiquei admirado com o sorriso do vovô Arthur. O responsável era
Theo, que pelo visto, já tinha ganhado o coração do velho. Eu pretendia cumprimentar meu avô,
mas parei no instante que vi Alexandra próxima à janela. Estava muito elegante usando um vestido
amarelo, sapatos de salto de grife, com seu cabelo loiro sem nenhum fio fora do lugar.
— Meu neto, que saudade. — Falou vovô Arthur, contudo meus olhos o fitavam com total
irritação por sua audácia.
— Que bom vê-lo, vovô. Essa é minha noiva Marina, e esse rapazinho é o Theo.
Notei que Marina ficou desconfortável, mesmo assim continuou com sua postura de mulher
decidida, mas meu avô a encarava com superioridade.
— É um prazer conhecê-lo, senhor. — Disse Marina, quebrando o silêncio.
Para piorar a situação, vovô Arthur ignorou a mão estendida da minha noiva, que recolheu seu
gesto sem graça. Os saltos da Alexandra ecoaram pelo piso, chamando atenção com sua
elegância, se aproximando do meu avô.
— Estou feliz em estar presente, Rico. — Murmurou Alexandra.
— Acabei convidando Alexandra para o jantar, espero que não seja um incomodo.
— Pois é sim, vovô.
— Enrico! — Ele me repreendeu.
— Eu o chamei para conhecer Marina, e o senhor convidou Alexandra de propósito. Mas fique
o senhor sabendo que o seu jogo da discórdia não funcionará. Peço por tudo que vivemos no
passado, Alexandra, que se retire da minha casa. E só volte quando for convidada por mim ou
pela minha noiva.
— Não é assim, Enrico. — Exclamou meu avô.
— É sim! O que pretendia?
— Tudo bem, sem discursões. — Sussurrou Marina, olhando para o nosso rapazinho que via a
cena, atento.
— Sem problemas, Rico. Pensei que poderia participar desse jantar. Até qualquer dia. Boa noite
a todos. — Sibilou Alexandra, que pegou sua bolsa do sofá, saindo logo em seguida.
Meu avô e eu ficamos nos encarando um bom tempo. Era normal discutirmos, mas hoje ele agiu
com falsidade, e isso me magoou.
— Espero que goste da sobremesa, vô Tutu, pois foi a minha mãe que fez o bolo.
Os três pares de olhos estavam em cima do rapazinho que ganhou meu coração, e pelo sorriso
se formando no rosto do meu velho avô, eu tinha certeza que já ganhou o coração dele também.
— Filho, não pode chamar o senhor Arthur assim, quer dizer... — Minha noiva se perdeu nas
palavras, deixando-as vagas.
— Pode sim, eu permiti. — Declarou meu avô, sorrindo para Theo. — Ele comentou que tem um
amigo na escola que também se chama Arthur, mas todos preferem chamá-lo pelo apelido.
— Tudo bem, então. — Murmurou Marina, ainda assimilando a mudança de humor do vovô
Arthur.
— Bom... Uma deliciosa refeição nos espera. — Falei, abraçando minha noiva que relaxou o
corpo.
— E sobremesa. — Alertou Theo, arrancando sorrisos.
MARINA
Hoje deixei K12 como segurança particular do Enrico, pois precisei ajudar Lucas em um pequeno
problema que ocorreu nos relatórios diários de um dos nossos clientes. Eu deveria estar apreciando
a bela sexta-feira, sendo que amanhã eu experimentaria algo inesquecível, que seria um momento
de muitos que eu passaria ao lado do Enrico. Meu noivo programou um passeio em família, estava
cheio de segredos, deixando nosso filho e eu muito curiosos.
Eu estava fitando meu reflexo no espelho por um bom tempo. O vestido longo de tecido
refinado se ajustava em cada centímetro do meu corpo, eu poderia até arriscar que o decote
profundo nas costas era muito chamativo, principalmente por ter uma grande pedra dourada que
se perdia nas laterais como tentáculos de polvo. A frente do vestido era comportada, e as mangas
longas um requinte a mais. Meu longo cabelo negro estava em um coque perfeito e maquiagem
discreta realçando meus olhos.
— Está muito linda, meu bem. — Encontrei o olhar devasso e carinhoso do Enrico no espelho.
Meus olhos caíram sobre o homem másculo que era em cada passo, palavra, olhar. Eu adorava
saber o quanto o agradava, isso me satisfazia em todos os sentidos.
— Você também, meu amor.
A sola do seu sapato italiano irritantemente brilhoso, fazia jus ao dono com passos poderosos.
Assim que se aproximou, beijou minha nuca e meus olhos se fecharam. Eu sempre reagiria assim ao
seu toque... Completamente rendida.
— Esse anel era da minha mãe e meu pai deu a ela quando ficaram noivos, está na família
Albestini há muitos anos. Ele me entregou a pouco, quando veio buscar nosso rapazinho. Eu mandei
desenhar um anel para você, mas quando ele me entregou esse... Bom, não tive dúvidas que é
perfeito.
Só agora percebi que segurava um lindo anel dourado, mas a pedra verde chamava a atenção
de longe. O objeto encaixou perfeitamente em meu dedo.
— É lindo.
— Sim, realmente é um anel muito lindo. Hoje, não se encontra mais dessa esmeralda, é muito
rara.
— Sério?
— Muito sério. — Trocamos sorrisos. — Bom, temos uma festa para ir.
Durante o caminho, tentava esquecer o que me esperaria nessa noite. Empresários, juntamente
com políticos e todos que tinham ligação com os partidos, estavam proporcionando essa festa para
poderem se aproximar, conversar e fechar mais acordos. Toda a mídia brasileira estaria presente,
e era um momento perfeito para demostrarem felicidade e fazerem suas campanhas. Mas o que
mais me preocupava era que o local da festa seria na mansão Medeiros.
Assim que Maurilio parou o carro em frente à mansão Medeiros, respirei fundo, e todas as fases
tristes, humilhantes, solitárias que passei dentro desse terreno, voltaram com tudo. Não avisei a vó
Glória que compareceria a essa festa, porém a comuniquei que em breve eu apresentaria Theo a
essa parte da família. Como esperava, ela apoiou a minha decisão, principalmente ao saber que
Enrico estaria pronto para a guerra.
E cá estava eu, pisando onde jurei que nunca mais voltaria. Alguns repórteres faziam perguntas
ao Enrico, que deixava claro que éramos noivos. Meu noivo, que raramente aparecia na mídia
para manter sua privacidade, decidiu se expor ao meu lado, declarando que estávamos juntos.
— Seja uma Loba, ou melhor, minha Loba. — Pediu, conhecendo melhor que ninguém meu lado
feroz para enfrentar todos lá dentro.
Eu atravessei as enormes portas do salão de festas da mansão, o mesmo que fiquei conhecida
como louca. Ainda era horrível saber que todas as palavras do Marcus foram sopros falsos,
mesquinhos e mentiras, e que ele jamais seria homem o suficiente para admitir que eu fui enganada
por ele, que foi egoísta o suficiente para pensar somente em seu bem-estar.
— Sem dúvida alguma, meu amor. — Senti sua mão grande se entrelaçar com a minha.
Paula e K12 estavam como seguranças particulares essa noite, e ficariam nos protegendo de
longe, de maneira discreta.
Assim que entramos no elegante salão, chamamos a atenção de várias pessoas, e o meu olhar
encontrou com o do Ricardo Medeiros. A taça que ele pretendia levar à boca, parou no ar, e ao
seu lado estavam minha irmã Cassindy e Marcus Alvarez.
E foi nesse momento que determinei que destruiria qualquer pessoa que tentasse machucar o
meu filho. O mar de ódio estava passando no olhar de todos eles, e tempos atrás eu me
esconderia, mas eu tirava forças de quem estava segurando a minha mão. Agora eu era um
soldado de guerra pronta para enfrentar o inferno.
Dessa vez eu estava no poder.
— Enrico, como é bom revê-lo. — Cumprimentou um homem de cabelo ruivo com uma linda
mulher sorrindo ao seu lado.
— Faz um tempo que não nos vemos.
— Pois é! Lembra-se da minha esposa, Augusta.
— Claro que sim. — Cumprimentou a mulher, e fiz o mesmo. — Essa é minha noiva Marina
Mendes.
— Fiquei sabendo do seu noivado, desejo muita felicidade ao casal.
Circulamos pelo salão e eu perdi as contas de quantas pessoas conheci hoje. Enrico em momento
algum me deixou de lado, sempre segurando minha mão ou minha cintura, e o momento que pensei
que nunca viveria, acabou acontecendo. Estávamos em frente ao senador e a megera da sua
esposa.
— Enrico Falcão, estou muito feliz em saber que financiará meu partido. Tivemos alguns
problemas com a crise, mas logo iremos nos reerguer.
— Não mais que eu. — Meu noivo não demostrou absolutamente nada, o que fez o sorriso
nervoso do Ricardo Medeiros sumir. — Essa é a minha noiva Marina Mendes.
— Noiva? — Questionou Cassandra, me consumindo com seu olhar venenoso.
— Sim, minha amada noiva.
— Estaremos esperando o convite ansiosos. — Sibilou, como se não acreditasse que o
casamento aconteceria.
— Pode ter certeza que não serão convidados. — Falou Enrico, por pouco Ricardo não cuspiu o
gole de vinho que tinha acabado de tomar. — Político corrupto e torturadora não estão em nossa
lista de convidados. Deixo claro que tornarei a vida de vocês uma merda, pior do que fizeram com
a Marina.
Cassandra e Ricardo pareciam não acreditar no que estavam ouvindo, e pela primeira vez
pude ver a expressão do senador cair. Era apenas o começo, e a festa estava apenas começando.
CAPÍTULO 16 – CARTAS NA MESA

MARCUS

Eu estava como um animal enjaulado pronto para atacar, mas tive que conter a fera que
habitava dentro de mim, não poderia dar vexame em uma festa cheia de patrocinadores. Todos
estavam tensos com a presença da Marina, a filha desconhecida do senador, aos olhos da
sociedade. Se o povo soubesse quem éramos por trás dos abraços, apertos de mãos e promessas
que fazíamos durante o período eleitoral, provavelmente estaríamos sendo queimados.
Eu conhecia muito bem o homem que trouxe Marina. Meu pai afirmou que das poucas propostas
para financiar o nosso partido que recebemos, a de Enrico Falcão foi a melhor, pois arcaria com
absolutamente tudo, o que agradou muito, pois sabíamos que nesse meio, por debaixo dos panos
ocorria um grande desvio de dinheiro. Caso não conseguíssemos nem um doador, nós desviaríamos
verbas do lanche escolar de alguma escola pública. Tudo para não ficarmos por baixo.
Era lógico que se Ricardo Medeiros caísse, todos à sua volta iriam ao chão, seria um efeito
dominó trágico. Eu precisava estar preparado para o pior, pois não confiava totalmente em minha
adorável família. Sabia que meu pai também estava se preparando, já que descobri que sua conta
bancária em um banco da Suíça estava engordando. Não duvidava que na primeira oportunidade,
ele me passaria para trás.
Eu estava me segurando para não ir até a Marina. Nunca a vi tão bela, elegante, desfilando
tão sorridente ao lado do Enrico Falcão, que momento algum a deixou de lado, e isso me
enfureceu, pois mostrava que ambos tinham uma relação sólida. Meus sonhos infelizmente ainda
não se tornariam realidade, mas eu almejava ter a minha moreninha em meus braços, de todas as
formas.
Poderia cometer uma loucura agora mesmo, porém não colocaria tudo a perder. Eu gostava do
poder que tinha e usaria isso para trazê-la de volta, de qualquer forma. Sem suportar mais vê-la
ao lado daquele imbecil, decidi me ausentar um pouco.
— Não deveria ter me deixado sozinha lá fora. — Reclamou a irritante da minha esposa.
Servi mais um pouco de uísque em meu copo. Precisava relaxar, então saí do ambiente onde
Marina estava desfilando, esfregando que superou as maldades que sofreu durante anos em sua
própria casa. Fui um cretino em fingir não saber de nada, mas o que eu poderia fazer na época?
Sempre estive nas mãos manipuladoras do meu pai. Essa era a minha doença.
— Preciso de sossego, Cassindy!
— Tudo isso porque a mosca morta da minha irmã está lá fora acompanhada com o doador do
partido?
— Estou surpreso com seu súbito interesse pela política. — Ironizei. — Pelo visto, todos já estão
comentando.
— Sim, meu maridinho. Espero que nem ouse se aproximar da bastarda. Juro que faço um
escândalo.
Antes que ela continuasse, larguei o copo de qualquer jeito na mesa de centro e puxei o seu
cabelo castanho com força, fazendo-a virar o corpo pela dor.
— Você não manda em mim! — Murmurei frio, com o rosto bem próximo ao seu. — Talvez ela
seja capaz de me dar o herdeiro que tanto precisamos, pois nem para isso você serve.
— Maldito! Vamos ter essa criança, mas essa pressão toda me deixa histérica.
— Seja mais criativa, Cassindy! Só aceitarei essa criança, caso chegue a tê-la, se for menino.
Sei que me esconde algo, continua se recusando ir ao médico.
— Está me machucando. — Eu a soltei rudemente.
Ela pegou a sua bolsa de mão, tirando de dentro um envelope com comprimidos. Percebi que
ela estava tomando calmantes há meses, geralmente antes de dormirmos, entretanto, agora ingeriu
cerca de dois durante o dia.
— Pare de tomar esses calmantes. Sua vida é cercada do bom e do melhor, não entendo por
que anda tão nervosa.
— Viver com nossa família é um estresse e tanto, não acha, querido? — Engoliu a pílula
secamente.

MARINA
A mão direita do Enrico estava na base de minhas costas, mostrando posse, proteção. Ricardo e
Cassandra ainda estavam mudos depois que meu noivo deixou claro as intenções dele agora que
tinha o partido em suas mãos.
Os olhares das pessoas estavam em mim, e diferente do passado que sofri a pior humilhação
da minha vida, agora me fitavam com admiração. Eu acreditava que ninguém sabia que eu era a
louca que a família Medeiros acolheu por caridade, e principalmente, a mulher que tentou destruir
o noivado do Marcus Alvarez e Cassindy Medeiros.
Como o mundo dava voltas, meu Deus.
Jurei que nunca mais voltaria para essa maldita mansão, mas cansei de ser boazinha. Agora,
todos que me fizeram sofrer, saberiam o preço da minha dor. Hoje eu era uma loba, e nem
precisaria do pedido do Enrico, pois eu sabia que nesse jogo precisava ser forte.
— Como meu noivo comentou, vocês não estão em nossa lista de convidados. — Sorri fria,
cautelosa. — Se seguirem as recomendações direito, tenho certeza que também não estarão na
lista dos mais procurados por corrupção, lavagem de dinheiro, entre outras coisas.
Apesar de tudo, eu lamentava por não ter respeito pelo meu pai. Como poderia respeitá-lo
sabendo que me renegou antes que eu nascesse, negou proteção, amor, carinho, e deixou que as
pessoas me maltratassem. Eu agradecia todos os dias por não me parecer com ele, e sentia muito
orgulho de ser a cópia fiel da minha mãe, e talvez fosse por isso que o Ricardo Medeiros me
odiava.
— Não fique se achando sua...
— Veja bem como fala com a minha noiva. Não me importaria em agir como um cavalo com a
senhora. — Sibilou Enrico sem perder a postura.
Como esse homem conseguia ser tão controlado?
— Precisamos conversar, senhor Falcão. — Pediu Ricardo, tentando parecer calmo diante da
situação.
— Sem dúvida temos muito o que conversar. Depois do jantar, adoraria me reunir com você e
Marcus Alvarez em um local apropriado.
— Podemos marcar para outro dia, assim todos os participantes do partido estarão presentes.
— Nesse momento, meu interesse é apenas com vocês dois, Senador. Avise ao senhor Alvarez.
Com licença.
Continuamos circulando pelo extenso salão de festas, e sinceramente, o que eu mais queria era
ir para casa, descansar.
— Marina! Minha nossa! Quanto tempo. — Virei, me deparando com Cássia.
Desde que fui embora da mansão, não mantivemos muito contato. Vó Glória sempre comentava
como ela estava e raramente conversávamos ao telefone. Cássia estava deslumbrante em um
vestido longo de alças finas na cor vinho.
— Como vai? — Eu me afastei do meu noivo para abraçá-la.
— Tolerando... Você sabe. — Deu de ombros. — É um prazer, sou irmã da Marina. — Estendeu
a mão para Enrico, que a cumprimentou sem demonstrar emoção alguma.

— Sou, Enrico Falcão, noivo da sua irmã. — Ela entreabriu a boca, me olhando com alegria.
— Acredite, estou muito feliz por vocês. Podemos marcar para conversarmos melhor qualquer
dia? Que tal almoçarmos nessa sexta-feira?
— Eu ligarei avisando, estou com muito trabalho.
Eu me lembrei que na sexta-feira teria um dia de treinamento puxado na Blindados e quando
chegasse em casa, a única coisa que conseguiria fazer era tomar banho e dormir de tão exausta
que estaria.
— Estarei esperando. Depois nos falamos.
Cássia estava diferente, parecia ter deixado de ser a menina assustada com medo de enfrentar
os pais. Eu odiava quando Cassandra a destratava, e muitas vezes descontava tudo em mim,
jogando seu pior.
— Pelo que me lembro, Cássia foi uma das poucas pessoas que não a humilhou. — Sussurrou,
pegando uma taça de água.
Enrico avisou que não tomaria nenhuma bebida alcoólica nessa festa, pois sóbrio poderia
cometer uma loucura, se as coisas ficassem feias, com álcool em suas veias poderia ser pior ainda.
— Sim, é verdade.
— Ela não me passou confiança. — Desviei meu olhar das pessoas que dançavam no centro,
direcionando para o meu noivo.
— Sério?
— Sim, meu bem. As pessoas podem ter lados que passam desconhecidos. Eu apenas senti que
Cássia não é confiável.
Permaneci calada, encerrando o assunto.
Fiquei aliviada ao ver minha avó sentada à mesa onde Enrico e eu ficaríamos. Eu tinha certeza
que a danada da vó Glória planejou isso. Eu a abracei com carinho, beijando sua bochecha e
testa enrugadas pela idade.
— Está belíssima, minha querida. — Beijou minha mão, deixando a marca de seu batom.
— A senhora também está lindíssima.
— As duas estão muito lindas. — Galanteou Enrico.
Como estávamos apenas nos três à mesa, conversei discretamente com a vó Glória a respeito
da lição que Enrico planejou, e que hoje ainda iríamos soltar mais uma bomba. Depois, decidimos
mudar de assunto e passamos a ouvir as histórias da minha avó, e Enrico sorria o tempo todo. Um
sorriso que pertencia a poucos, pois ele sempre estava com sua cara de mau, sério, concentrado.
Quase não toquei na comida, Enrico também não. Como poucas pessoas estavam dançando a
música calma, meu noivo me convidou para dançar, e mesmo sabendo que chamaríamos atenção,
não me importei. Com ele eu estava segura. Suas mãos grandes estavam devidamente postas na
base da minha coluna, então descansei minha cabeça na lateral de seu rosto, sentindo seu cheiro
gostoso.
— Estou aqui, meu bem. — Cochichou.
Enrico sabia que eu estava temendo pelo o que poderia acontecer. Minhas mãos estavam frias,
era uma das reações que eu tinha quando estava nervosa ou ansiosa.
— Eu sei, por isso não desisti.
— Jamais a deixaria desistir.
— Depois precisaremos conversar com o nosso rapazinho.
— Sim, faremos isso com tranquilidade. É bom que eles saibam que Theo é o meu filho, não de
sangue como gostaria que fosse, mas sendo seu, é meu também.

***

Eu estava apertando com tanta força a mão do Enrico, que nem sabia como ele não reclamou.
Assim que entramos no escritório, as três pessoas que mais me causaram mal, estavam sentadas no
refinado sofá verde-esmeralda. O olhar de cobiça do Marcus estava incomodando, mas mantive
minha máscara.
— É necessário a presença dela? — Questionou Ricardo, evitando me olhar.
— Claro que, sim. — Respondeu Enrico, se afastando um pouco de mim. — Espero que todos
ouçam com muita calma.
Encarei Cassandra, que estava com as pernas cruzadas tentando parecer tranquila. Conhecia
essa peste e sabia que debaixo de toda essa produção, só restava uma mulherzinha que adorava
dinheiro e maltratava quem tivesse menos, mas adorava posar de boa esposa, mãe e alma
caridosa.
— Estamos esperando. Percebemos que Marina achou um idiota pronto para bancá-la e
confesso que estou surpreso pela audácia dessa vingança. — Vociferou Marcus, engolindo o resto
da sua bebida.
— Por favor, Alvarez, não venha querer ser homem. Tenho certeza que está se cagando de
medo do que pode acontecer. Homem de verdade age e não fica só falando. Você não passa de
um tonto.
Marcus levantou-se com a intenção de agredir Enrico, que não se moveu, mas Ricardo o segurou,
fazendo-o se sentar novamente.
— Diga qual é o jogo? — Exigiu Ricardo.
— Hoje, não quero tratar sobre o partido. Isso faremos quando tivermos a reunião oficial.
Minha noiva, tem algo a dizer.
— Como sabem, Marcus e eu namoramos durante um tempo...
— Isso é mentira! Você sempre invejou Cassindy! — Esbravejou Cassandra.
— Cale-se, Cassandra, você sabe que é verdade. Descobri meses depois que eu estava
grávida. Meu filho se chama Theo e está com nove anos. — Enrico voltou a ficar ao meu lado.
Um silêncio pairou e pares de olhos chocados me encaravam.
— É um menino? — Indagou Marcus, afoito.
— Sim, é um menino forte, inteligente e saudável.
De repente, Marcus se levantou e Enrico não o deixou se aproximar de mim, empurrando-o com
força e fazendo-o quase cair no chão. As mãos dele estavam eufóricas em seu cabelo, e um sorriso
estampava seu rosto.
— Volta para mim, Marina! Podemos começar novamente... Eu nunca a esqueci. Meu casamento
é apenas uma fachada, aquela noite foi tudo uma armação.
ENRICO
Tentei controlar toda a raiva que estava sentindo, mas não consegui. Como esse covarde ousava
a falar que amava a minha mulher depois de tudo o que causou? Marcus Alvarez não valia nada.
Peguei no seu smoking com força, encarando-o e pensando mil maneiras de torturá-lo.
Entretanto, esse homem era o pai biológico do meu rapazinho, e eu jamais faria algo para magoar
Theo. Mesmo sabendo que Marcus não merecia ter um filho abençoado como ele.
— Nunca mais tenha essa audácia! Marina, é minha mulher! Nem pense em tentar exigir seus
direitos de pai, já estamos preparados. Mas tudo, absolutamente tudo relacionado ao Theo, será
esclarecido com os nossos advogados. E nem perca tempo tentando entrar com o pedido de
guarda, garanto que isso você não terá. — Eu o soltei e me aproximei da minha noiva.
— Como pôde esconder isso? — Perguntou Ricardo. Seu olhar de raiva agora dava lugar para
emoção.
— Eu apenas protegi o meu filho de vocês. Infelizmente poderão ter contato com ele, mas como
o meu noivo explicou, será da maneira que nós quisermos.
— Quando iremos conhecê-lo?
— Assim que seus advogados procurarem o direito de vocês, Ricardo. — Respondeu Marina,
fria, sem emoção alguma em sua voz ou expressão. Cassandra, assistia completamente chocada.
Naquele momento eu conclui que Ricardo reprimia qualquer sentimento que poderia ter pela
filha por ganância. Não quis assumi-la por medo de falarem mal da sua família, e eu tinha plena
certeza que o dinheiro e status social nos levava a outro patamar. Mas nem todos conseguiam
manter os pés no chão. Eu carregava um nome forte, uma herança absurda, mas sempre procurei
ser um homem de caráter, nunca passei por cima de ninguém para alcançar algo.
Então me lembrei de uma frase de um texto judaico. “A ganância insaciável é um dos tristes
fenômenos que apressam a autodestruição do homem.”
Ricardo Medeiros e Marcus Alvarez se autodestruiriam. Talvez Theo pudesse mudar os
pensamentos gananciosos do avô e pai , contudo, eu custava a acreditar que isso poderia
acontecer.

***

— Festa agitada essa, hein?


— Pois é! Obrigada por tudo, Enrico.
Quando saímos do escritório, liguei para Maurilio nos buscar, e agora estávamos a caminho de
casa.
— Tudo por nós.
— Nem me despedi da vó Glória.
— Ela entenderá. Nem sei como sua avó consegue viver naquela casa.
— Penso o mesmo.
— Amanhã teremos um passeio maravilhoso em família.
— Theo está muito curioso.
— Melhor dizendo, vocês estão muito curiosos. — Beijou meus lábios rapidamente.
— É verdade! — Sorri, beijando seu queixo. — Tenho certeza que será maravilhoso.
CAPÍTULO 17 – NOSSA PERSEVERANÇA

ENRICO

Furioso era um termo que senti ao ouvir todas as besteiras do Marcus Alvarez. Por mim, eu o
arrebentaria, mas Theo tomou conta da minha mente. Eu não queria que o meu rapazinho pensasse
que eu era um homem violento, que resolvia tudo atacando. Entretanto, algumas coisas eram
inevitáveis, como imaginar dar um soco no covarde do Alvarez.
Eu sabia defender meus interesses sem jogar sujo, minha perseverança era o meu forte, mas
confesso que me vingar daqueles abrutes que tanto feriram minha noiva era tentador. Mas eu era
fiel demais ao amor que sentia por ela e pelo nosso rapazinho, então, a solução era ensinar ao
senador e deputado a serem homens honestos. Eu seria a verdadeira pedra no sapato deles.
— Acho que eles querem dar um passeio, amor. — Comentou minha noiva assim que fomos
recebidos pelos bagunceiros afoitos.
— Será que eles se incomodariam de ir sozinhos? — Indaguei, torcendo para minha amada
aceitar. Eu estava louco para irmos nos perder debaixo dos lençóis.
— Nada disso, senhor Falcão. — Virou-se de frente e mordeu de leve meu queixo.
— Assim, não dá, meu bem. — A palma de minha mão descansou na pele nua das suas costas
expostas pelo enorme decote.
— Vai lá, meu amor. — Sussurrou, deixando beijos em meu rosto. — Estarei esperando por você
no banheiro.
— Levará dez minutos para esses bagunceiros fazerem tudo que precisam lá fora. Quando eu
entrar em nosso quarto, espero que esteja nua e deitada de bruços em nossa cama.
Comecei a acariciar sua bunda por cima do vestido, dopada pelo meu toque audacioso, mordeu
de leve minha orelha, o suficiente para minhas carícias se tornarem perversas. Eu a apertei com
força, fazendo-a arfar antes de tomar seus lábios em um beijo molhado, tão gostoso que poderia
permanecer assim.
— É melhor você ir logo. — Murmurou, próxima à minha boca.
— Fique do jeito que mandei, meu bem.
— Talvez... Só vai descobrir quando entrar em nosso quarto.
Saiu andando toda graciosa, subindo os degraus com elegância e meus olhos a seguiram,
hipnotizados. Ela era o meu amor, meu presente e futuro. Por isso, não me importava de enfrentar
quem fosse para nós manter seguros, felizes.
Minha mulher, nesse momento, deveria estar me esperando nua em nossa cama, mas aqui estava
eu, assistindo meus lobinhos fazerem suas merdas no jardim. Depois de longos minutos, voltamos
para dentro de casa e antes de subir para o quarto, me certifiquei que as feras tinham tudo que
precisavam em suas vasilhas.
À medida que avançava um degrau, eu abria um botão do meu traje. Ao entrar no quarto, me
senti um convencido por saber que minha loba acatou minha ordem. Ela adorava me provocar, mas
parecia que quando se tratava de fazermos amor, nos entregávamos sem luta. Isso era perfeito.
— Você é linda, meu amor. — Declarei, encarando seu corpo nu, exposto de bruços.
Eu fazia questão de sempre lembrá-la que era perfeita para mim, não queria que sua baixa
autoestima fosse uma luta diária, e acabei notando que ela progredia quanto a isso. Era óbvio que
muitas mulheres queriam se sentir bonitas, e faziam diversos tratamentos para resgatarem sua
autoconfiança, os defeitos nos faziam seres humanos. Porém, muitos enxergavam a beleza de modo
diferente e eu gostava da beleza natural, isso era excitante para mim. Infelizmente, muitos se
deixavam enganar por uma boa aparência, e acabavam se esquecendo que a beleza machucava.
— Não me torture, preciso de você, amor. — Sibilou, sem mexer um músculo.
Terminei de me despir, deixando a roupa em cima da poltrona. O quarto estava em uma
temperatura gostosa por conta do ar-condicionado, era uma típica noite quente na cidade
maravilhosa. Afastei os lençóis e os diversos travesseiros da cama, jogando-os ao chão.
Minha boca beijou seus calcanhares, mordisquei, chupei e lambi até chegar em sua nuca.
Esfreguei descaradamente meu membro duro, brilhoso pela excitação, em sua bunda gostosa. Ouvir
seus gemidos, era fascinante, eu adorava saber que eu a satisfazia. Fiquei de lado com a minha
perna direita sobre seu corpo e meus dentes marcaram com força seu ombro esquerdo, fazendo-a
lamuriar alto, agarrando o lençol que cobria o colchão.
— Tenho certeza que está prontinha. — Sussurrei no seu ouvido.
Desci o meu corpo e fiquei entre suas pernas de frente para sua beleza natural brasileira.
Marquei suas nádegas com meus dentes com tanta força, que suas pernas tremeram. Beijei por
cima de um lado, enquanto acariciava o outro em uma massagem calma. Viajei com meu nariz ali,
em seu sexo pulsante, implorando por mim.
— Oh, Enri...
Beijei seu ponto sensível, e a primeira vez que fiz isso, ela ficou envergonhada, mas logo avisei
que em nossa cama podíamos fazer o que quiséssemos, sem pudor algum. Então a ajudei a se
posicionar, ficando de quatro puxei seu cabelo com força, fazendo seu corpo se encostar
totalmente em mim.
— Faremos primeiro devagar, e depois do jeito que gostamos. — Cochichei.
Seu braço direito ergueu-se, fixando sua mão em minha nuca, e beijou-me muito lentamente, ela
sabia que eu ficava insano com esses beijos.
Minha mão se fechou em seu sexo excitado, fazendo-a gemer entre meus lábios. Entrei em seu
sexo com calma, e paramos de nos beijar, ficando somente nos encarando, seus olhos estavam
escuros, plenos, cheios de paixão. Beijei sua testa, desci meus lábios percorrendo seu pescoço que
estava vermelho pelas mordidas e chupões e aumentei as penetrações, fazendo nossos sexos se
chocarem de forma gostosa, intensa.
Os suspiros estavam dobrados, o suor descendo por nossos corpos, deveriam estar gelados, mas
nem o ar refrescante nos fazia diminuir o calor que sentíamos. Afastei a minha mão de seu sexo, e
com meu polegar continuei seguindo em frente, passando pelo vale dos seus seios, alcançando seus
lábios.
— Chupa, meu bem.
Assim que sua boquinha se fechou em volta de meu dedo, aumentei o nosso ritmo. Parecia que
meu corpo estava em erupção, seria mais um momento de entrega que ficaria gravado em minha
memória. Tudo o que eu fazia ao lado de minha amada, era tatuado de alguma forma em mim.
Tirei meu dedo de sua boca quando seu corpo tremeu, sentindo a sensação gostosa se
apoderando de seu ser. Sem poder me segurar por mais tempo, libertei meu ápice, com a sensação
de estar em mil pedaços.
Caímos sobre a cama satisfeitos, então a agarrei e a acolhi em meus braços. Ficamos curtindo o
momento agradável com seus dedos fazendo círculos em meu peitoral, tornando o clima
maravilhoso.
— Ah, Meu Deus! — Vociferou de repente, me fazendo abrir os olhos.
— Qual o problema, meu amor? — Indaguei, assim que ela se sentou na cama.
— Esquecemos a merda da camisinha. Esse é o problema! — Eu ri, por estar me encarando
como se tivesse acabado de me contar uma piada.
— Foi maravilhoso estarmos pele a pele.
Eu me levantei da cama e caminhei em direção ao banheiro, e tinha absoluta certeza que minha
noiva se calou por estar secando minha bunda, já que eu fazia o mesmo com ela. Era adorável.
Tudo bem que usar preservativo era importante, mas tanto eu como ela fizemos exames
recentemente. Além disso, minha amada confessou que havia parado de tomar o anticoncepcional
por estar fazendo mal a ela, então a médica receitou outro. Acreditava que devia estar tomando a
nova pílula, senão, era um motivo para se comemorar. Além do que, se fosse pai novamente seria
incrível. Apesar de ainda estar começando esse meu lado paterno com Theo, eu me considerava
seu pai, e percebi o mesmo afeto da parte do meu rapazinho.
— Como pode estar rindo, Enrico? — Ela entrou no banheiro, me estudando com certa
preocupação.
— Por que, não estaria? — Dei de ombros.
Liguei as torneiras da banheira e me sentei na larga borda, e seus olhos caíram sobre mim,
famintos. Meu olhar não estava diferente, conseguia enxergar sua beleza através do fino robe de
seda branco.
— Eu posso está grávida, Enrico! Ainda não comprei os novos anticoncepcionais, acabei
esquecendo.
— Parece que nosso rapazinho irá ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. — Falei jocoso, ela
finalmente me olhou e seus ombros relaxaram.
— Está falando sério? — Indagou, mordendo o canto do lábio superior.
— Claro que sim! Ser pai novamente seria o maior presente que eu poderia ganhar agora.
Eu a puxei para os meus braços, fazendo-a se sentar em meu colo. Eu tinha certeza que ela
pensou que minha reação seria de desagrado, mas nem louco eu agiria assim, principalmente por
saber que a mulher que eu amava poderia estar grávida.
— Desculpe-me, é que estamos indo muito rápido. — Segurou meu rosto entre suas mãos. Eu
poderia novamente discursar que não me importava, mas ela continuou. — Quer saber, não
importa! Eu te amo, muito. Isso é o bastante.
— Sim, nosso amor é o bastante.

MARINA
Fomos buscar Theo às dez da manhã, deveríamos ter saído mais cedo, porém Enrico mudou os
planos me agarrando enquanto tomávamos banho. A ideia de que eu possivelmente poderia ficar
grávida o deixou com um sorriso bobo.
Só notei que não usamos preservativo um pouco depois, quando estávamos aproveitando o
momento agradável. Confesso que de início minha reação foi de pura preocupação, em um mês
iríamos nos casar no civil, depois no religioso. Eu queria frear a intensidade desse homem, mas era
em vão, principalmente quando demostrava seu amor por mim e nosso rapazinho.
K12 e Afonso seriam os seguranças particulares escalados hoje, já que eu vinha me ausentando
das minhas funções com Enrico. Lucas vinha precisando da minha ajuda com as questões
burocráticas da Blindados, mas mesmo assim eu queria cumprir minha escala como segurança
particular do Enrico, então eu desempenharia essa função durante a semana e aos fins de semana
ficaria livre, como ele pediu. Assim, poderíamos passar um tempo em família, e quando houvesse
eventos e eu tivesse que estar ao lado do Enrico, outra pessoa cobriria o meu turno.
— Animados para nosso passeio? — Perguntou Enrico. Eu estava tentando encontrar uma música
legal em alguma estação de rádio.
Estávamos no seu carro, já que ele decidiu dirigir, mas com K12 e Afonso fazendo a escolta
atrás. Theo desde que nos viu, não demonstrava outra coisa a não ser alegria. E para completar,
Lobo e Tatá estavam fazendo companhia a ele no banco de trás.
— Imagino que seja um local onde esses lobinhos poderão estar. — Disse Theo, animado.
— Isso mesmo, rapazinho. Bom, na verdade, não é bem um passeio. Vamos passar a tarde no
Bosque da Barra. Louise preparou uma cesta enorme com muitas coisas gostosas.
— Sério, Rico? — Indagou, Theo. — Nunca fizemos piquenique.
— Hoje será o primeiro de muitos. — Piscou para mim, me fazendo sorrir.
Assim que chegamos à reserva ecológica, havia várias pessoas espalhadas pelo enorme
bosque. Era simplesmente maravilhoso estar longe de toda a barulheira da cidade. Eu já tinha
ouvido várias pessoas comentando sobre a beleza do parque que era formado pela vegetação
natural preservada da Barra da Tijuca.
Eu pretendia pedir a ajuda para o meu filho para tiramos a cesta e mais algumas coisas que
estavam no porta-malas, mas Theo saiu correndo com os bagunceiros.
— Como escondeu tudo isso?
Estou fitando a enorme cesta, uma caixa térmica de tamanho médio, uma toalha quadriculada
nas cores vermelho e verde, três almofadas e uma bola de futebol.
— Era surpresa. — Ele sorriu, pegando a caixa térmica. — Pedi para Louise preparar tudo e
hoje, antes de você sair do quarto, coloquei as coisas no porta-malas. E pronto.
Arrumei tudo enquanto meu noivo entrava na brincadeira com nosso filho e os bagunceiros. Era
adorável vê-los tão felizes, leves. Theo tirou a camiseta, pois estava suando muito de tanto correr
atrás da bola enquanto jogava com Enrico, e os lobinhos intrometidos tentavam interromper o jogo.
Era engraçado.
Estava levando a maçã suculenta para a boca, e parei totalmente quando meu noivo resolveu
chamar atenção tirando sua camiseta azul-clara. Ele veio correndo em minha direção, e fiquei
admirando seus músculos definidos, fortes, gritando masculinidade.
Ele ia me pagar por andar se exibindo!
— Pare de babar em mim, morena. — Falou ao se abaixar, jogando sua camisa e a do nosso
filho ao meu lado. Para completar, deu uma enorme mordida em minha maçã, antes de sair
correndo.
Nós nos deliciamos com o banquete que Louise preparou e resolvemos caminhar um pouco
próximo ao lago. A sensação de paz pairando era indescritível.
— Eles não param nem um segundo. — Falei, achando graça de Lobo e Tatá, que chamavam a
atenção do Theo para brincar.
— São altamente energéticos. — Ele me abraçou, beijando meus lábios sutilmente. — Está
gostando do nosso primeiro passeio em família?
— Muitíssimo. Da próxima vez, espero que nossos pais participem.
Nossos pais recusaram o convite, pois iriam para um rápido cruzeiro e amanhã à noite estariam
de volta. Esse cruzeiro só acontecia nos fins de semana e oferecia lazer e música regional.
— Com certeza.
— Você precisa se entender com o seu pai. Albestini é um bom homem, e você sabe disso.
— Eu sei, meu bem. Acontece que é difícil admirar meu pai, ter a mesma relação que tínhamos
antes que tudo acontecesse.
Enrico ainda não havia contado o que aconteceu para deixar a sua relação com Albestini tão
delicada, e eu estava respeitando o seu espaço.

MARCUS
Eu ainda não conseguia acreditar que Marina trouxe ao mundo o meu herdeiro há nove anos.
Depois que ela saiu do escritório, junto com o estúpido do Falcão, pude deixar a derrotada cair
sobre meus ombros. Cassandra ficou calada, e depois tudo foi arremessado contra a parede,
quando Ricardo perdeu o controle e jogou tudo que pôde.
Minhas mãos estavam coçando para ir atrás da minha mulher e do meu filho. Sempre soube que
ela deveria ocupar o título de minha esposa, não o de amante. Eu precisava sentir aquele corpo
maravilhoso junto ao meu, fui o primeiro a desfrutar de seu prazer. Ela era minha.
— Quem diria que a bastarda daria o que tanto ansiamos. — Disse meu pai, perdido em
pensamentos.
— Eu a terei ao meu lado. Esse casamento com Cassindy é um verdadeiro fracasso, e só me
casei por causa de vocês.
— Assuma a sua ganância, filho. — Ele riu. — Sabemos que você adora tudo isso. — Abriu os
braços, mostrando o luxo que nos cercava.
— Não importa! Marina voltará para mim, principalmente agora que sei da existência do meu
filho.
— Seu casamento com Cassindy continuará. Seria um escândalo a separação de vocês, e em
breve entraremos em período eleitoral, tudo depende da boa reputação.
Ainda não comentei ao meu adorável pai que estávamos nas mãos do Enrico Falcão, e deixaria
que ele descobrisse isso quanto tivesse a reunião do partido. A verdade era que o senhor
Guilherme ficou com raiva por saber que Marina estava noiva do nosso doador. O plano era
tentar convencê-los de que eu era uma boa pessoa, mas ficou nítido que seria inútil a minha
atuação.
— Precisamos do meu filho.
— Depois da eleição encontraremos um jeito de conseguir a guarda desse menino. Só assim
conseguiremos receber a herança que seu avô está mantendo.
Meu avô paterno resolveu adiantar a herança. Meu pai e eu recebemos uma porcentagem
vergonhosa, quase nada e isso nos deixou furiosos. Vô Edson, que era um grande fazendeiro,
praticamente dono da pequena cidade Esmeraldinha, localizada no interior de São Paulo, apenas
riu, afirmando que não passávamos de dois interesseiros e disse que só entregaria a outra parte
da herança quando eu tivesse um filho homem. Era uma exigência e não poderíamos fazer nada.
Ele resolveu fazer uma viagem de dois anos e antes gostaria de entregar aos herdeiros suas
partes. Meu tempo estava passando, e como uma luz, minha moreninha realizou meu sonho.
— Serei paciente até lá.
CAPÍTULO 18 – CALCANHAR DE AQUILES

MARINA

Resolvemos tomar café na cafeteria Donatello, vó Glória havia me ligado mais cedo, querendo
que tomássemos café da manhã juntos. Assim que chegamos ao estabelecimento, meu filho logo foi
cumprimentar os funcionários, todos eram encantados por ele.
— Bom dia, Osmar. — Cumprimentei, abraçando-o carinhosamente.
— Você sumiu esses tempos.
— É, eu estava muito ocupada com a mudança.
— Ainda não acredito que você se casará com meu primo egoísta.
Osmar não era próximo do Enrico, o que tinha dificultado a harmonia na família. Meu noivo por
sua vez, não gostava da minha amizade com o primo, alertando que Osmar sentia algo além da
amizade por mim, mas ignorei totalmente essa suspeita, pois sempre fomos amigos e não houve
nenhuma insinuação da que ultrapassasse a linha da amizade.
— Pelo visto, começou cedo, hoje. — Resmungou Enrico ao se aproximar. Osmar revirou os olhos,
fingindo não ver o primo.
— Tio Osmar, irei querer o de sempre, por favor. — Pediu Theo, surgindo de repente. Eu podia
apostar que ele já havia falado com todos os funcionários.
— Pode deixar!
Minha avó ainda não tinha chegado, e como estávamos com fome, resolvemos iniciar a primeira
refeição do dia. Theo tomou toda nossa atenção falando sobre o campeonato de futebol que teria
em duas semanas, e Enrico o olhava com admiração, empolgação, parecendo ter a mesma idade
que nosso filho.
Quando minha avó chegou, foi a vez de ela se derreter pelo bisneto. Eu ainda precisava me
preparar para contar tudo ao Theo, e só esperava que isso não atrapalhasse meu filho, afinal, ele
passou a vida toda convivendo apenas com uma parte da família. Enrico percebeu que eu queria
conversar em particular com a vó Glória, então falou que ele e Theo iriam para o escritório do
Albestini, no segundo andar, assim conheceria o lugar.
— Eles parecem bem apegados. — Ela tomou um pouco de seu café puro.
— Sim, parece que se conhecem a vida toda.
— Estou muita orgulhosa de você, minha querida. Seu pai está inconsolável, e ontem passou o
dia trancado no escritório.
— Não me importo com os sentimentos dele.
— Por favor, minha neta. Entenda que ele é seu pai, e talvez vocês possam conversar.
— Minha única conversa será referente ao meu filho. Se ele está pensando que irá conviver
com Theo diariamente, está enganado. Eu não o deixarei espalhar sua ganância.
— Eu acho que seu pai, pode mudar. — Suspirou derrotada. — Ele a ama, minha querida.
— Que tipo de amor é esse, vovó? — Indaguei, incrédula. — Em momento algum tive a
proteção de um pai, passei quase dezoito anos vivendo na sujeira, humilhação. Juro que no início
tentei entender, mas não tem nada que justifique o que sofri por parte do Ricardo.
Ela segurou minha mão com carinho, como sempre costumava fazer quando estávamos
conversando.
— Como se sentiria olhando para o reflexo do seu grande amor? — Lágrimas saltavam de seus
olhos. — Seu pai nunca esqueceu sua mãe. Ele a abandonou, rejeitou tudo que poderia colocar a
sua carreira política no chão. Tentei reverter na época, afirmando que o apoiaria, mas não me
ouviu. Preferiu continuar agindo friamente.
Fiquei boquiaberta com a revelação, mas tudo isso era culpa do Ricardo. Se tivesse sido menos
ganancioso, pretencioso, quem sabe as coisas poderiam ter sido diferentes, e isso também não era
motivo para ter me rejeitado. Poderia encontrar um pouco de redenção me acolhendo como um
verdadeiro pai faria com um filho, entretanto, o poder falou mais alto.
— Feliz, eu me sentiria feliz. Eu realmente fui apaixonada por Marcus, mesmo assim, nunca
passou pela minha cabeça rejeitar ou maltratar meu filho. Jamais!
— O que mais anseio é vê-los bem...
— Ricardo e eu nunca seremos pai e filha.
— Quando contará ao Theo?
— Em breve, preciso apenas me preparar. Além disso, estamos esperando uma posição do outro
lado.
— Seu pai exigirá que seu filho tenha o sobrenome Medeiros. Marcus também.
— É um direito deles... Infelizmente.
— Cassindy está arrasada com toda essa história. Eu já tinha percebido o quanto a pressão de
engravidar estava acabando com ela emocionalmente, mas agora parece que tudo é motivo para
ela atacar.
Por um momento, senti pena da Cassindy. Nunca nós demos bem, e mesmo ela sendo uma cobra,
era a irmã que eu fazia questão de manter distância, mas isso não me impedia de sentir dó.
— É um problema dela. Não me importo, vovó. — Menti, tentando parecer verdadeira. —
Talvez isso seja pouco por tudo que ela me fez passar.
Era só eu lembrar das maldades que Cassindy aprontava e colocava a culpa em mim, que toda
a pena que criei se evaporava.
— Aceito suas decisões e sentimentos.

ENRICO
No escritório do meu pai, encontrei algumas fotos minhas de infância. Sorri igual um bobo ao
ver fotos da minha noiva abraçada com ele junto com sua mãe. Eles eram uma família, e agora eu
fazia parte novamente, apesar de ainda não ter uma relação muito amigável com meu pai. Mas
agora existia o respeito, entretanto, a admiração se perdeu anos atrás.
— A senhorita Alexandra está esperando para falar com você, Rico. — Evandro disse ao
entrar no meu escritório.
Marina precisou ajudar Lucas novamente com assuntos burocráticos da Blindados. Depois do
almoço, teve que ir à empresa, deixando K12 como meu segurança particular, e eu não gostava de
ser acompanhado para cima e baixo com um brutamontes. Com minha mulher era diferente, pois eu
adorava passar o dia com ela me encarando, mas mesmo assim minhas investidas de namorar um
pouco eram impedidas na maioria das vezes por ela; o que me deixava mais louco.
— Diga para ela entrar. Para quando marcou a reunião com a equipe de criação?
— Nessa quinta-feira. Iremos testar o equipamento novamente, antes de anunciarmos o novo
aplicativo para as empresas interessadas.
— Perfeito, depois apresente a lista das empresas.
— Providenciarei isso, Rico.
Os saltos de encontro ao chão chamaram minha atenção. Levantei meu olhar, encarando
Alexandra. Sempre muito fina, exalando elegância.
— Espero não estar incomodando. — Alexandra sibilou, sentando-se na cadeira a minha frente.
— Sinceramente... Estou muito atarefado, mas acredito que seja importante para ter aparecido
aqui.
— Depois de ter me expulsado da sua residência, pensei que a empresa seria um lugar
perfeito para conversarmos.
— Sem alfinetadas. — Pedi, relaxando em minha cadeira. — Sua atitude de ir até minha casa,
sabendo que naquela noite seria a apresentação da minha noiva para meu avô, foi um joguinho
estúpido. Fiquei com raiva, e peço desculpas por ter sido rude, mas que fique claro que nunca
deixarei Marina de lado para me preocupar com suas ações.
— Quando seu avô me procurou para falar a respeito, quase não acreditei. Queria entender o
porquê desse noivado relâmpago. Namoramos durante anos, ficamos noivos durante anos. E agora
isso. — Apontou para o meu dedo que exibia uma aliança grossa de ouro, deixando claro meu
compromisso.
— Sempre fui sincero com você. Pensei que poderia seguir minha vida ao seu lado Alexandra,
mas me enganei. Seríamos infelizes e acabaríamos nos odiando.
— Procurei entendê-lo durante anos, para no final me abandonar.
— Terminamos nosso noivado numa boa. Somos adultos, independentes e desejo que seja muito
feliz, tenha certeza disso.
— Como pôde... Amá-la de uma hora para outra?
— Foi à primeira vista.
— Continua romântico, Rico. — Ela sorriu com certa tristeza.

MARINA
Foi complicado me manter inteira, forte, enquanto fitava os olhos do meu filho ao falar de uma
forma que ele pudesse entender por que mantive oculto uma parte da sua família. Em primeiro
momento, estava muito nervosa, minhas mãos suavam. Cada pausa, respirava fundo, pregando em
minha mente que tudo que estava narrando era o melhor a ser feito. Nada nessa vida se mantinha
em segredo, e comigo não seria diferente.
Enrico estava ao meu lado o tempo todo e isso foi essencial, pois era bom saber que eu não
estava mais sozinha para enfrentar meus problemas. Theo fez muitas perguntas, e momento algum
condenou as minhas atitudes.
Contei o essencial, as humilhações que passei continuariam escondidas dele, eu não que meu
filho reprovasse a outra parte da família por conta disso. Se por ventura isso viesse a acontecer,
que fosse por motivos diferentes, que fosse por algo causado a ele. Quando terminei de contar
tudo, chorei ao receber um abraço dele ao mesmo tempo em que sussurrava para mim que
entendia e estava tudo bem.
Theo parecia não existir, era uma verdadeira benção em minha vida. Um garoto de nove anos,
saudável, inteligente, que tinha o dom de encantar todos com sua simpatia e sorriso. Eu nunca
poderia odiar Marcus como sempre desejei, pois ele era o pai do meu filho. Ainda sentia a dor de
ter sofrido em suas mãos ao ser enganada de forma covarde, mas ainda assim ele continuaria
sendo o pai do meu filho, era impossível mudar isso.
— Está pronto, querido?
Enrico estacionou na entrada da mansão Medeiros, então tirei o cinto de segurança e me virei
de lado, com meu olhar extremamente observador em meu filho.
— Não é obrigado a nada, rapazinho. Quando quiser ir embora, basta falar. — Enrico
pronunciou, amável como sempre.
— Eu sei, mas estou curioso. — Deu de ombros e sorriu, apertando os lábios.
Fomos recebidos por vó Glória, que nos acolheu com seu sorriso. De mãos dadas com meu noivo,
entramos no escritório com Theo à nossa frente. As saudações foram curtas, apenas por educação.
Fiquei em pé próxima à janela com Enrico ao meu lado.
Era preocupante ver todas essas pessoas olhando para o meu filho. Eu estava tentando
identificar a ameaça da parte do Ricardo e Marcus, mas ambos encaravam Theo como uma joia. E
uma cena que nunca passou pela minha cabeça, acabou acontecendo.

O senador ficou de joelhos em frente ao neto, com seus ombros balançando pelo choro
sufocante que ele liberava. Permaneci fria, apenas apreciando meu noivo, que me mantinha em
seus braços de forma protetora, pronto para lutar a qualquer momento. Ricardo podia me odiar,
mas pelo que pude perceber, ele adorou o neto.
— V-Você é perfeito... Sempre quis um filho, e agora fui recompensado com um neto. — Suas
mãos estavam agarrando as do meu filho.
De repente, seu olhar caiu sobre mim. Eu estava emocionada, mas eu tinha aprendido a usar a
máscara da indiferença. Deus sabia que eu ainda era assombrada pelas injustiças e humilhações
que passei debaixo desse teto. Em nenhum momento, Ricardo me acolheu, muito menos tentou me
acalmar e proteger, por tudo isso, o senador não teria nada de mim. Nem mesmo o meu perdão.
Esse pecado eu fazia questão de carregar nas minhas costas.
— Nunca pensei que o senhor fosse meu avô. O senhor parecia ser mais alto pela televisão. —
Comentou Theo, nos fazendo sorrir.
— A televisão tem esses efeitos. — Disse o senador, ainda de joelhos. Seus olhos brilhavam
enquanto estudava o neto.
— Meu filho! — Marcus se aproximou, abraçando e beijando a testa do Theo.
— Agora irei ter dois pais. — Theo direcionou seu olhar do Marcus para Enrico, que não
segurou o sorriso. — Enrico também é meu pai.
— O certo seria apenas sua presença e do nosso filho, Marina.
— Por favor, Marcus. — Alertou Ricardo, se levantando.
— O certo é eu estar onde minha noiva estiver. E se tratando do nosso filho, pode ter certeza
que também estarei presente. — Falou Enrico, em um tom firme.
— Irei mostrar cada canto dessa casa. Ela é sua, Theo. Tudo isso é seu. — Sibilou Ricardo. Eu
até pensei em corrigi-lo, mas para evitar confusão na frente do Theo, preferi manter a boca
fechada.
Eu teria que aprender a lidar com Ricardo e Marcus em minha vida novamente.

RICARDO
Passar algumas horas com meu neto foi a melhor coisa que me aconteceu em anos. Quando ele
foi embora, sendo acompanhado pela minha filha e o noivo, senti uma punhalada em minhas costas.
Minhas malditas decisões sempre voltadas pelo poder.
Perdi meus três verdadeiros amores. Nunca consegui esquecer Elisa. Como um homem poderia
esquecer o seu grande amor? Eu ainda podia fechar os olhos e imaginar os momentos em que a
tive em meus braços, sempre tão delicada, pele macia, beijos doces, ardentes. Elisa me amava, e
acabei por esmagar esses sentimentos com os pés.
Eu a queria ao meu lado de forma errada, mas não tinha outra escolha, ela só poderia ser a
minha amante. A gravidez dela veio em uma hora complicada, o partido estava passando por
mudanças, qualquer deslize dos candidatos poderia ser fatal. Principalmente na época das
eleições.
Durante todos esses anos, me tornei um homem frio e rejeitando a Marina, foi uma forma de
descarregar isso. Era difícil olhar para ela e ver o reflexo da Elisa, isso estava me destruindo aos
poucos, então achei mais fácil não ver as humilhações que ela sofria.
Quando Marina foi embora, há nove anos, pensei que meus dias se tornariam melhores, mas só
pioraram, pois sentia falta da presença dela, apesar de estarmos pertos e ao mesmo tempo tão
longe.
Fui um verdadeiro covarde.
— Theo é um garoto encantador. Parece que se deram muito bem. — Comentou minha mãe ao
entrar no escritório.
Estávamos sozinhos na mansão. Cassandra resolveu ir com as nossas filhas para Búzios, segundo
ela, precisava se afastar um pouco. Meu casamento era um verdadeiro fracasso. Minhas filhas
Cassindy e Cássia nunca despertaram em mim o sentimento verdadeiro entre um pai e um filho. Se
tornaram mulheres fúteis, e a culpa era somente minha e da Cassandra.
— Ele é perfeito, mãe. — Sentei no sofá ao seu lado. — Sempre sonhei em ser pai de um
menino, e agora tenho um neto de ouro.
— Tudo poderia ser diferente se suas decisões tivessem sido tomadas de acordo com o
coração.
Cobri meu rosto com as mãos e comecei a chorar.
— Eu os amo, mamãe. Fui tão egoísta... Minha filha me odeia, perdi anos da vida do meu neto...
Sou infeliz, meu pai tinha toda razão.
— Nunca mais repita isso!
— Sou um fraco, nunca conseguiria nada honestamente. Meus métodos são hipócritas.
— Ainda pode mudar, meu filho.
— Nunca poderei recuperar o tempo perdido. Tratei a mulher que amo como um nada, tratei
minha filha com repulsa.
Minha mãe segurou meu ombro, e quando a encarei e a abracei, deixei todo o sentimento que
vivia em mim saírem com violência. Deitei a cabeça em seu colo e recebi o seu carinho, o qual me
privei durante muitos anos.
— Não permita que seu pai ainda tenha efeito em sua vida, meu filho.
Só de lembrar das barbaridades que meu pai causou em minha vida, eu ficava com nojo.
— Ele me estragou, mãe. Nada mais pode ser feito.
— Por favor, meu filho... Ainda pode se desculpar com Elisa, sua filha e se redimir com seu neto.
— É tarde demais.
Eu continuaria com o meu plano de preparar o meu neto para assumir meu lugar futuramente.
Esse momento de derrota nunca mais aconteceria.
CAPÍTULO 19 – CONFLITOS

MARINA

Essas três semanas que se passaram, trouxeram uma desconfiança que Enrico estava torcendo
para que fosse verdade. Decidida a tirar essa dúvida que me fez sonhar com o serzinho fruto do
amor que sentíamos, realizei o exame de sangue. Apesar da ansiedade, optamos que eu faria o
exame mais seguro, deixando a infinidade de testes de farmácia de fora. Queríamos ter cem por
cento de certeza.
Agora estávamos reunidos no quintal da casa dos nossos pais. Albestini se prontificou a fazer
um típico churrasco em família para comemorarmos a chegada de mais um integrante. Pensei que
Theo reagiria descontente com a notícia, afinal, deixaria de ser o caçula da família, mas isso não
queria dizer que não daríamos mais atenção a ele, o amor que sentíamos por ele seria passado de
forma plena para seu irmãozinho ou irmãzinha.
— Tem certeza que não quer comer mais nada, meu bem? — Perdi as contas de quantas vezes
meu noivo me fez essa pergunta.
Era engraçado assistir à empolgação do Enrico com a minha gravidez, ele sempre estava atento
a qualquer gesto meu. Se já estava assim nesses dois dias, ficou claro que os nove meses à frente
seriam longos.
— Sim, meu amor. — Seus lábios tocaram os meus rapidamente.
— Não deseja comer nada estranho, alguma coisa do tipo?
Meu coração sempre disparava com os gestos de carinho que esse homem demostrava a cada
instante do dia por mim e meu filho. Agora podia confessar que o sonho de formar uma família
tinha sido enterrado com todas as mágoas que Marcus me causou, pois qual mulher não adoraria
que o pai de seu bem mais precioso estivesse ao seu lado durante toda a gestação? Eu não tive
nada disso antes. Era doloroso ir à clínica para mais uma consulta e ver a maioria das mulheres
acompanhadas com seus parceiros. Eu agradecia muito aos céus por minha mãe e meu padrasto
terem sido minha fortaleza.
— Está muito cedo para ter desejos, Enrico. — Beijei o seu nariz, fazendo-o sorrir. — É bom
saber que você está preparado para atender meus caprichos.
— Pode apostar que sim. — Colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha,
sussurrando. — Principalmente os mais depravados. Espero que seu apetite triplique.
Se antes da gravidez meu desejo por esse homem era forte, imagine agora.
— É bom saber disso também.
Voltamos a conversar com nossos pais e o senhor Arthur, que também estava radiante com a
minha gravidez. O almoço ocorreu de forma maravilhosa com a enorme mesa feita de madeira
pesada esbanjando um banquete. Depois da refeição, ajudei minha mãe a retirar os pratos e
aproveitamos para colocar a conversa em dia.
— Parece meio aflita, filha.
Enxuguei o último talher, guardando-o em seguida na gaveta. Cruzei os braços, e fiquei
admirando meu filho conversando com os avôs e o pai.
— Amanhã ele passará o dia com Marcus. Isso me deixa...
— Insegura. — Completou e eu confirmei com a cabeça. — É normal se sentir assim, sabendo
quem realmente é Marcus. Mas ele é pai do seu filho, talvez possa se tornar um homem melhor.
— Eu duvido muito disso, mamãe.
Os advogados deixaram tudo muito claro para Marcus, eu não corria o risco de perder a
guarda do meu filho, mas infelizmente Marcus tinha os direitos como pai, e eu adiei isso como pude,
mas uma hora teria que acontecer. Eu podia até parecer egoísta, mas escondi a existência do Theo
com medo que Marcus ou Ricardo o tirassem de mim, assim como aconteceu comigo e minha mãe,
que aceitou as regras do senador para não me perder completamente.
— Confesso que se isso tivesse acontecido antes, estaria preocupada, pois meu maior pesadelo
seria Marcus fazer o que seu pai fez com nós duas no passado. — Suspirou, melancólica. — Não
tem o que temer, meu serzinho. Deus não colocou Enrico em seu caminho sem que tivesse algo
grandioso para acontecer com vocês dois.
Minha mãe tinha toda razão. Enrico parecia ter nascido com a missão de ser o meu salvador. Eu
nunca teria conseguido enfrentar todas essas pessoas sem que estivesse ao meu lado, mostrando
que não deixaria nada me atingir. Eu tentei evitá-lo no começo, pois sabia que seria difícil resistir
um homem tão... Terrivelmente perfeito. Ele ainda me assustava com toda a sua intensidade, mas
essa era a sua essência.
— Dividimos o mesmo pensamento.

MARCUS
Fiquei com muito ódio quando vi Marina ao lado do Enrico, rodeado por advogados. Falcão foi
esperto, isso eu não podia negar. Estavam preparados, caso eu tentasse usar a guarda do meu
filho para chegar onde queria. Marina era a minha linha de chegada. Pelo menos agora eu tinha
o prazer de ver meu herdeiro com sobrenomes poderosos.
O advogado do meu pai estava tentando conseguir a herança que meu velho avô destinou ao
meu filho, e só restava esperar que o vô Edson liberasse, o que eu duvidava muito.
Eu estava bebendo meu scott puro há horas, enquanto permitia que meus olhos admirassem
Marina na capa da revista que eu tinha recortado. Estava parecendo um louco, talvez ficasse, caso
ela não voltasse para mim. Aquele infeliz não economizou no sorriso posando ao lado da minha
mulher.
“O empresário Enrico Falcão apresenta para a sociedade sua noiva Marina Mendes”.
Li amargamente em pensamentos. Ela estava linda naquela noite, exuberante... Natural. Minhas
atitudes no passado foram indecorosas, entretanto, meu desejo era vencer, me tornar um homem
importante. Eu a desejava ao meu lado, e as promessas falsas do meu pai que um dia eu poderia
tê-la como minha esposa, foram jogadas no ventilador.
Tomei a última golada, deixando o líquido queimar minha garganta. Hoje aproveitei o dia com
meu filho, levando-o para passear no parque e almoçamos no seu restaurante preferido. Doeu
saber que não tínhamos tantas coisas em comum na personalidade e manias, mas fisicamente
éramos parecidos.
— Não acredito que você fez isso! — Exclamei, encarando a foto da minha mulher, a única que
sempre ocuparia o meu coração.
Quando Theo contou sobre a gravidez da sua mãe, senti meu sangue parar, fiquei estático.
Estava com um plano em mente, onde ela e meu filho seriam os únicos a participarem. Eu faria uma
loucura, porém estaríamos longe para qualquer intervenção. Agora eu teria que ser paciente.
Theo ficaria comigo todos os domingos e quando eu tivesse compromisso referente às
campanhas eleitorais, ele iria comigo. Os assessores estavam cuidando de toda a merda que foi
jogada, e seriam espertos o suficiente para tornar a filha bastarda do senador, e o grande
herdeiro, em uma verdadeira mina de ouro.
— E como foi sua semana? — Indaguei ao meu filho, enquanto fazíamos a nossa refeição.
Cassindy se recusou a conhecê-lo, e todo o tempo que ele passava comigo, ela se afastava.
Sinceramente, eu achava ótimo, a melhor coisa que a louca da minha esposa poderia fazer era se
manter longe do Theo.
— Tive uma prova de matemática surpresa, mas consegui tirar uma boa nota. Fui para os
treinos de futebol e na sexta-feira passei a tarde com o vô Albestini, na cafeteria, o ajudando.
— E como está sua mãe?
— Bem, e comprando muitas coisas para o meu irmão ou irmã. — Falou sorridente.
Eu não facilitaria as coisas para o Falcão.
— Sabe, meu filho, estou preocupado com relação à chegada desse bebê.
Ele tomou um pouco de seu suco, me fitando com atenção.
— Como assim?
— Tenho medo que sua mãe o deixe de lado, pois agora construiu uma família com Enrico.
— O senhor acha isso mesmo?
— Filho, eu me preocupo muito com você. Sempre sonhei que um dia... Eu, você e sua mãe
pudéssemos ser uma verdadeira família. Nunca pensou nisso?
— Sim, mas minha mãe é feliz com o meu outro pai. Ele é bom.
— Não seja bobo, meu filho. É claro que ele faz tudo isso para conquistar você. Agora com
esse bebê a caminho, as coisas irão mudar.
— Minha mãe conversou comigo, e disse que nada iria mudar. — Deu de ombros, meio
cabisbaixo. — Ela e Enrico, prometeram.
— Acho que o melhor seria você mudar suas atitudes.
— Mudar?
— Claro! Mostre ao Enrico que não perderá seu lugar, ou prefere ver sua mãe dando atenção
apenas para ele e o bebê.
— Não gostaria que isso acontecesse.
— Pois então, meu filho... Siga meus conselhos.

CASSINDY
Era doloroso ver o sorriso que surgia nos lábios do meu marido quando falava sobre o seu
filho. O grande herdeiro dos Medeiros e Alvarez. Machucava ainda mais quando jogava na minha
cara que eu não servia nem para engravidar.
Fui ao médico sem ninguém saber, realizei todos os exames, e quando o doutor começou a falar
as causas que me levaram aos abortos espontâneos, meu mundo caiu. A coisa mais bonita que tinha
era a capacidade da mulher em gerar vidas. Eu desejava tanto isso.
De tudo que o doutor explicou, a única coisa que guardei foram os aspectos psicológicos. Passei
minha vida toda sendo moldada para ser uma mulher de classe, bons modos e principalmente,
manter a boa aparência.
Talvez o fato de não conseguir levar a gestação adiante, fosse um fardo que eu merecia por
ter sido uma megera com Marina. A inveja me cegou, e saber que ela gerou o herdeiro tão
aguardado, estava acabando com o meu emocional. Eu me recusava a ver meu enteado, que por
ironia do destino, era o meu sobrinho, então acabei buscando tranquilidade em meus calmantes,
pelo menos assim, eu conseguia dormir.
MARINA
Enrico tinha me acompanhado em todas as compras que eu estava fazendo para o nosso bebê.
Passaram-se dois meses, e a minha barriga estava ganhando um formato que eu conhecia muito
bem. A verdade era que sentia falta de ter o barrigão e a típica mania de ficar acariciando e
conversando com o bebê.
Como eu esperava, meu noivo exigiu que deixasse de ser segurança pessoal para não
comprometer a minha saúde e a do nosso bebê. Eu ficaria ajudando Lucas na parte administrativa
da Blindados, deixando Ruan assumir minha equipe, por enquanto.
— Amanhã, não poderei ir ao seu treino de futebol. Infelizmente, não consegui marcar a
consulta para outro dia.
— Prometeu que iria, mãe.
— Isso, não vai mais acontecer, rapazinho...
— Não estou falando com você! — Ralhou Theo.
— Pensei que sua rebeldia tivesse acabado depois que conversarmos, Theodoro. Qual é o
problema? Por que ultimamente tem agido assim?
Theo levantou-se da cadeira, saindo da sala de jantar. Eu o segui e quando chegamos na sala,
falei:
— Pare agora, Theodoro! — Ele se virou e finalmente encontrei seus olhos brilhando, parecia
magoado.
A mudança do meu filho tinha me tirado a concentração. Nunca foi de agir assim, sempre tratou
todos com muita simpatia, educação. Sua amizade com Enrico mudou totalmente. Antes gostava que
Enrico fosse aos seus treinos de futebol, as aulas de piano, e que o buscasse na escola, agora
evitava o contato. Eu estava chocada com a maneira rebelde com que Theo estava agindo.
— Por que respondeu daquela maneira?
— Você vai me abandonar! Vai me deixar de lado para ficar com esse bebê... E o Enrico! —
Exclamou entristecido, deixando as lágrimas saltarem.
Fiquei sem reação com suas palavras, e quando vi que ele estava subindo os degraus às
pressas quis segui-lo para esclarecer que nunca o deixaria de lado, jamais.
— Deixa que eu vou conversar com ele. — Enrico me abraçou, beijando o topo de minha
cabeça.
— Quando conversamos com ele, parecia que tinha aceitado tudo. É normal Theo sentir ciúmes,
passou nove anos sendo o centro das atenções.
— Fique tranquila, meu bem. Não tem nada que uma boa conversa não resolva.
E como se uma lâmpada tivesse sido acessa em meu cérebro, murmurei:
— Marcus está jogando com o nosso filho.
— Filho da puta! Eu cheguei a pensar que ele faria algo do tipo, mas agora tudo se confirmou.
— Estou com vontade de esganar aquele fingindo. Ele está brincando com o psicológico de uma
criança de nove anos.
— Terei o prazer de queimar o Alvarez, foi ele quem quis brincar com fogo. Eu resolvo isso!

ENRICO
Bati à porta do quarto do meu filho algumas vezes, mas como não tive nenhuma resposta, tomei
a iniciativa e entrei. Ele estava sentando em sua cama, olhando a vista pela enorme janela. Eu
parei na sua frente e me abaixei.
— Sabe, rapazinho, tenho muito orgulho de ser seu pai e nunca passou pela minha cabeça
deixá-lo de lado.
Finalmente, seus olhos que estavam um pouco avermelhados pelo choro, se encontraram com os
meus.
— Desculpa, eu fiquei com medo de vocês me abandonarem. — Ele se jogou em meus braços,
então me levantei e o coloquei em meu colo, acariciando seu cabelo enquanto ele chorava
baixinho.
— Essas ideias absurdas não têm fundamento, Theo. Nunca permita que alguém plante essas
dúvidas em sua cabeça.
— Eu quero ir com vocês na consulta. — Ele sorriu de leve, esfregando o olho direito.
— Será uma tarde bem especial. Sabe qual é a sua missão, rapazinho?
— Cuidar da minha mãe e do bebê.
— Exatamente, filho. Se um dia eu faltar, você assumirá o lugar de cuidar da nossa família.
Agora vamos descer, sua mãe já deve ter acabado com toda a sobremesa. — Ele riu.
A sentença do Marcus só tinha aumentado.
CAPÍTULO 20 – VITÓRIA

MARINA

Um peso saiu das minhas costas quando vi que Enrico e Theo tinham se entendido. Assim que os
pés do meu menino tocaram o último degrau, ele correu para me abraçar, e sem conseguir conter
as lágrimas, deixei que saíssem. Senti que meu filho, o autêntico, amoroso, tinha voltado.
— Preciso que seja honesto comigo, meu filho. — Falei e me sentei ao seu lado na cama.
Depois que terminarmos a sobremesa, fomos assistir à televisão e quando deu dez horas da
noite, pedi para Theo se aprontar para dormir, pois amanhã acordaria cedo para mais um dia.
— A senhora sabe que sempre falo a verdade.
— Claro que sei, filho. É uma qualidade sua que admiro muito. — Ele sorriu. — Seu pai Marcus
disse algo que o fez ter aquelas ideias absurdas?
— Bom, ele comentou que estava preocupado, pois tinha medo que... A senhora me deixasse de
lado.
Mais uma prova que Marcus Alvarez não havia mudado em nada. Se ele realmente me amasse,
o que eu duvidava muito, faria de tudo para ser um homem melhor pelo filho. Eu não passava de
uma obsessão, e tinha medo que isso pudesse afetar Theo ainda mais.
— Escute com muita atenção, Theo. — Segurei suas mãos afetuosamente. — Não permita que
seu pai Marcus brinque com a sua cabeça. Conversarei com ele sobre essa atitude, mas antes de
qualquer coisa, eu e seu pai Enrico estamos aqui. — Ele balançou a cabeça positivamente.

***

Eu estava perdendo a paciência com o meu noivo. O motivo era que ele praticamente exigiu
que nos casássemos antes do nascimento da nossa filha. Eu estava com quatro meses de gestação,
e os desejos por frutas fora de época estavam surgindo. Para evitar chateações desnecessárias,
decidimos casar no civil e após a cerimônia, fomos ao restaurante que minha mãe tinha reservado
para realizarmos o almoço comemorativo.
Enrico fez questão que toda a imprensa brasileira soubesse que eu era oficialmente sua esposa.
Mesmo atendendo a quase todos os pedidos do meu marido, não demorou muito para exigir que
fizéssemos a cerimônia no religioso, mas essa ele não ganhou. Afirmei que só nós casaríamos no
religioso quando nossa filha estivesse com pelo menos dois anos de idade, pois eu queria que ela e
nosso filho entrassem comigo na igreja. No início, ele ficou emburrado, mas logo mudou de ideia,
aprovando meu sonho.
— Esse vestidinho está uma graça. — Disse Jordana.
Estava tão ocupada com a chegada do Enrico em minha vida, que acabei me afastando um
pouco da minha única amiga, tirando minha mãe. Jordana era uma pessoa que eu também podia
bater um papo legal, mas confiar de olhos fechados, somente a minha amada mãe. Nosso
companheirismo era um verdadeiro alicerce.
— Daqui a pouco, nem terá mais espaço para guardar as roupas.
Quando não era eu que comprava roupas para a minha filha, a minha família fazia isso,
aumentando cada vez mais o número de peças. Eu achava o máximo todo esse mimo com a minha
filha, e agora Theo vinha se mostrando um protetor e tanto. Minha parte preferida do dia era
estar deitada no sofá assistindo algum seriado, enquanto meu filho estava deitado entre as minhas
pernas, e suas mãos acariciando suavemente a minha barriga. Geralmente eu acabava dormindo.
— E como está o primeiro mês de casada?
— Normal. — Dei de ombros, sorrindo. — Como já morávamos juntos, não mudou muita coisa.
Eu estava adorando cuidar da casa, do meu filho e marido. Antes pensava que ser dona de
casa estaria fora de cogitação. Claro, na época minha sede de vencer e me vingar corria em
minhas veias, não que eu tenha esquecido tudo isso, mas agora eu estava permitindo que a
felicidade fizesse parte da minha vida.
Sempre conversava com o meu marido a respeito disso, e ele estava esperando as reuniões
eleitorais começarem para dar uma lição no senador e deputado. O que tinha me desgastado era
a invasão da imprensa, pois agora sabiam que eu era a filha bastarda do Ricardo Medeiros, e a
mãe do filho do Marcus Alvarez. Evandro, o braço direito do meu marido, estava cuidando de todo
esse assédio, então pedi que tomasse todo o cuidado, porque Theo ainda era uma criança e a
última coisa que ele precisava era se sentir “preso” nesse mundo.

ENRICO
Assim que cheguei à sede do partido METP, fui bem recebido e conheci o prédio por inteiro.
Aparentemente era organizado, bastava saber quem estava empurrando a sujeira para debaixo
do tapete. Eu já conhecia dois que estavam no topo da lista.
Ao entrar na sala de reunião, todos os participantes do partido estavam presentes, inclusive as
ovelhas negras, que estavam com o olhar sério, certamente preocupados com o poder que eu tinha
neste mundo da política. Eles deveriam ser os primeiros a lutar para melhorar o país, mas a
ganância era como uma última gota d´água.
Tivemos algumas pequenas reuniões anteriormente, mas nenhuma discutimos sobre como seriam
as campanhas, apenas socializamos, conhecendo melhor o terreno. Era óbvio que eu estava sendo
paparicado aos quatro ventos, pois era o único a fazer uma doação ao partido. Por conta das
pilantragens, aos pontos do partido caíram muito. E se nenhum candidato do partido vencesse, o
declínio seria certo.
— Boa tarde, senhores. — Cumprimentei ostentando um sorriso. — É bom começarmos com os
projetos o quanto antes. E aproveitar que membros do partido estão em seus postos para concluir
tudo que foi prometido ao povo.
Conversas aleatórias começaram e eu fiquei sem paciência. Muitos falavam que não daria
tempo, faltavam verbas, empresas de construção, funcionários. Era honroso saber que um país tão
rico, que cobrava tantos impostos, ainda podia ser vergonhoso no quesito compromisso.
— Começamos a participar de alguns eventos da população. É importante nossa presença. —
Disse o Senador. — Seria ótimo que todos começassem a comparecer com a família, isso fortalece
muito a imagem.
Eu sabia muito bem onde o Senador queria chegar. Esse covarde teve a coragem de me ligar
comunicando que adoraria que o neto o acompanhasse nesses eventos políticos. Eu não podia
negar que notei e acreditava no amor que Ricardo sentia pelo neto e vice-versa. O sentimento era
verdadeiro, mas estragado pelo fato do Ricardo Medeiros continuar agindo como se fosse o dono
do mundo. Ele afirmou que almejava que Theo seguisse a linhagem política da família Medeiros,
mas a minha esposa temia que o nosso filho entrasse nesse meio e se deixasse levar. Eu acreditava
e confiava que o nosso rapazinho tinha um caráter que dificilmente seria corrompido.
Marcus também disse que adoraria que Theo o acompanhasse, logicamente interferi juntamente
com a minha esposa. Alegamos que nosso filho precisava estar concentrado em sua infância e eu
tinha certeza que se Marina pudesse, nunca deixaria nosso menino entrar na política. Isso só
aconteceria se Deus interferisse, pois não sabíamos do dia de amanhã.
Ao término da reunião, impus minhas ideias e percebi alguns olhares descontentes. Sem me
importar, tomei voz afirmando que continuaria patrocinando o partido de acordo com as minhas
exigências, depois pedi para o senador e deputado continuarem na sala de reunião.
— Pois bem, espero que cumpram o que mandei.
— Não pense que está com essa bola toda...
— Quando eu estiver falando, fique calado, Deputado. — Vociferei, tentando manter a razão.
— Você passará a semana indo às escolas da periferia. Exijo que faça anotações das
necessidades de todas as redes, quero vê-lo interagir com as crianças. Uma pessoa da minha
confiança estará o acompanhando, e juro que senão cumprir... Entrego sua cabeça.
— Sabia que não era esse santo todo. — Debochou Marcus.
— Cada um utiliza as armas que tem.
— Quando se está no poder, tudo que mais deseja dentro de si é ter mais, e mais. — Encarei o
Senador.
— Reforço mais uma vez que meu filho não será usado por vocês como uma ferramenta. —
Afirmei, travando meu maxilar.
Raiva era o que sentia por esses dois seres terem ferido minha mulher.
— Meu filho! — Alarmou Marcus. — Theo é meu filho, meu e da Marina.
— Engano seu, Deputado. — Levantei da cadeira, fechando o botão do meu terno. — Theo é
meu filho. Não me importo se meu sangue não corre nas veias dele. O importante é que acordo
todos os dias querendo ser um homem melhor para ele se espelhar, admirar. E não tem preço ver o
sorriso daquela criança que você usou covardemente tentando colocá-lo contra mim e a mãe. Tenho
certeza que se recorda da conversa que tivemos há dois meses. Poderia parar de ser um fantoche
corrupto nas mãos do seu pai e tentar se tornar uma pessoa melhor para o bem do seu filho, e o
seu. O aviso serve para você também, Senador.

MARINA
Passei o dia arrumando o quarto da minha bebê. Eu adorava cuidar de todas os detalhes.
Enrico montou os móveis, fez questão de cumprir essa tarefa, recusando ajuda profissional. Achei
engraçado, às vezes ele se irritava, mas no final os objetos incrivelmente brancos ficaram
excelentes.
Theo foi ao cinema com os avós, minha mãe e meu padrasto sempre gostavam de fazer
passeios com o neto. Louise deixou o jantar pronto, porém eu estava com uma vontade de comer
um enorme e suculento hambúrguer. Como um bom marido e pai atencioso que era, Enrico, antes de
vir para a casa, passou em uma lanchonete e comprou nosso jantar.
— Parece delicioso. — Ele tirou os hambúrgueres da embalagem, e os colocou no prato, assim
poderíamos comer mais à vontade.
Ainda usando sua roupa social, que o deixava sensual, continuou arrumando o nosso jantar. Esse
homem de terno elevava o meu desejo, e só eu sabia como era difícil passar o dia ao lado dele.
Sempre mostrando liderança, concentração.
Por incrível que pudesse parecer, meu apetite por comida acabou sendo substituído por apetite
sexual, que aumentou mais ainda, quando me lembrei que semana passada meu marido mostrou
seu lado puramente sensual ao dançar para mim. E que dança. Tivemos uma noite quente, muito
quente. Estamos sozinhos e, a cada mordida que dou na maçã, meu desejo aumenta.
— Por que está me comendo com os olhos, meu bem? — Indagou, jocoso.
— Quero que dance pra mim! — Ele arqueou a sobrancelha, segurando o sorriso e disse:
— Contemple o show.
Deixei a minha maçã de lado para acompanhar seus dedos desabotoarem os botões de sua
blusa social, que ao tirar, deixou sobre a cadeira. Ele se aproximou do balcão para ligar o som
portátil, eu adorava cozinhar ouvindo música, e logo o ambiente foi preenchido pela Slow Motion,
de Trey Songs.
Enrico sabia como me deixar louca. Seus músculos se mexiam com leveza, seus olhos sempre
presos em mim, então se virou de costas e a cada movimento, eu queria unicamente passar a minha
língua em todo o seu corpo, e dar uma mordida naquela bunda. Em seguida ficou de frente, se
encaixando entre as minhas pernas, graças ao banco, eu estava em uma altura perfeita.
Continuava se mexendo, enquanto seus lábios passavam por cima dos meus. Pegou minha mão
direita, fazendo-a escorrer em seu peitoral até chegar ao cinto. Com as mãos trêmulas, consegui
retirar o cinto e quando eu queria encontrar seu pau duro nada discreto dentro da calça, ele
afastou a minha mão, eu queria protestar, mas ele começou a roçar a sua ereção no meio de
minhas pernas, me fazendo arfar. Suas mãos grandes levantaram o tecido de meu vestidinho típico
de verão, dando total liberdade e somente com a calcinha, eu senti todo o formigamento da
paixão se intensificar com o desejo absurdo que tinha pelo meu marido.
Sua língua percorreu meus lábios entreabertos, e eu fiz o mesmo com ele, enquanto suas mãos
trabalhavam nas laterais de minha calcinha puxando o fino tecido, ergui um pouco meu bumbum
para o tecido escorregar. Ainda em sua dança, abriu o botão da sua calça, descendo junto com a
cueca, o que me fez morder meus lábios ao admirar sua masculinidade grande com a ponta
brilhando de excitação. Ele se posicionou, abrindo meu sexo de maneira deliciosas, e nossos
gemidos acabaram se misturando, e agarrando o meu corpo, ele fez meus seios se chocarem com o
seu peitoral.
— Força, amor... Eu quero bem gostoso. — Ronronei.
Ele segurou a lateral de minha coxa direita, e eu a enrosquei em seu quadril. O prazer era
inexplicável, e estava me torturando com seus movimentos calculistas. Apertou minha coxa com
força, me fazendo arquear as costas, chocando seu sexo no meu. Segurei em sua bunda, cravando
minhas unhas, e arrancando gemidos roucos. Adorava ouvir seus gemidos.
— Vem amor. — Enrosquei minhas pernas em sua cintura, não conseguia manter meu corpo mais
perto do dele, minha barriga não colaborava. Sem sair do banco, senti seu membro todinho. —
Calma, amor, não quero machucar vocês. — Mordeu o bico de meu seio.
Fechei os olhos, sentindo toda a sensação prazerosa me deixando mole. Sem me dar chance de
recuperar, assaltou minha boca em um beijo sôfrego, abafando o meu gemido quando alcançou o
orgasmo. Minutos depois ainda estávamos nus e trocando beijos úmidos. Não tinha coisa melhor que
ver a adoração no olhar da pessoa que amávamos.

ENRICO
Esqueci um pouco da lição que estava dando em primeira mão no Senador e Deputado, para
me dedicar à minha família. Acompanhei toda a gestação da minha esposa de perto e quando
completou seis meses, passei a trabalhar em casa, assim poderia cuidar dela melhor.
Meu avô, assim como eu, não tirava o sorriso bobo do rosto. Afirmou que pretendia participar
de tudo que envolvesse a bisneta, e agora ele tratava a minha esposa com respeito, e mesmo que
ainda não tivesse assumido, era notável a admiração que ele sentia por ela. Minha esposa disse
que um dia poderiam conversar, e quem sabe pudessem ser amigos, mas o problema era que o vô
Arthur tinha um orgulho da peste.
— Nossa filha é tão linda, meu bem. — Vitória estava aconchegada em meus braços, vestindo o
conjuntinho que ganhou da minha sogra.
O nascimento aconteceu sem complicações. Foi maravilhoso ouvir o choro escandaloso da minha
menina. O parto ocorreu de forma normal, da maneira que minha esposa queria e parecia que
tinha sido ontem que segurei Vitória pela primeira vez. Ela estava com dois meses de vida, esses
foram os melhores meses.
— Daqui a pouco acordará a vizinhança toda querendo mamar. — Minha esposa sorriu. — Até
nisso ela parece com você, já não bastava ter puxado seus traços. — Resmungou, me fazendo rir.
— Nossa filha parece com você também, amor.
Realmente, nossa menina tinha os meus traços, mas seu cabelo era loiro-dourado, assim como o
da minha mãe. Theo apelidou a irmã de dengo e segundo meu filho, a irmã era muito fofa. E como
não seria com essas bochechas rosadas, mãos e pés gordinhos. Meu instinto de proteção aumentou
de forma grandiosa, e eu fazia qualquer coisa para manter minha família feliz, segura. Isto não
tinha preço.
CAPÍTULO 21 – O VERDADEIRO HERÓI

ENRICO

Eu estava muito atarefado com os lançamentos dos aplicativos que ajudaria os deficientes
visuais. Empresas nacionais e internacionais estavam apostando nesse projeto que já havia sido
concluído, agora passaria por uma turnê em alguns países para apresentar a nova ferramenta.
A equipe da criação e diretores queriam que eu fosse, mas eu só participaria da divulgação se
minha esposa e filhos estivessem comigo. Por mais que desejasse, minha princesa estava muito
novinha para fazer viagens, além disso, seria cansativo.
— Boa tarde, Rico. — Evandro se aproximou e me entregou alguns documentos que eu havia
pedido. — Todas as provas que o Senador e Deputado têm contas no exterior.
Olhei cautelosamente e fiquei abismado com a fortuna que roubaram do próprio país. Esse
dinheiro era para ter sido investido em reforma de quinze escolas públicas e material escolar.
— Dois pilantras! — Resmunguei, deixando os documentos de lado.
Eu tinha a impressão de que quanto mais eu vasculhava, mais encontrava provas que Ricardo e
Marcus passaram todos esses anos no meio da corrupção, e em vez de estarem contribuindo para
melhoria do Brasil, estavam piorando a situação.
— O que pretende com isso?
— Seria muito fácil jogar tudo isso para a Justiça, e no final, os dois saírem ilesos.
— Sinceramente, não duvido que isso aconteça.
— Entre em contato com Ricardo e Marcus avisando que teremos uma reunião amanhã.
— Rico, sabe que tenho você como um filho, mas por favor, pense bem antes de tomar qualquer
decisão. Confio plenamente em você, mas não sabemos até onde eles são capazes de ir.
Evandro tinha absoluta razão. Eu era esperto, e sempre mantinha todos os meus sentidos atentos.
Hoje Marcus e Ricardo, faziam tudo que eu mandava, e eu estava acabando com as regalias
políticas, o que os deixou com ainda mais raiva de mim. O que estavam passando ainda era pouco,
se comparado com as humilhações que fizeram minha esposa sofrer.
— Eu estou apenas... Ensinando para esses dois a serem pessoas de verdade.
Quando cheguei em casa, fui recebido pelos os dois bagunceiros que pulavam em mim sem
parar, foi necessário fazer carinho em ambos para se acalmarem. Lobo e Tatá se tornaram
grandes parceiros para Theo, e agora para Vitória, que sempre os encarava com muita
curiosidade.
Encontrei minha filha engatinhando no extenso tapete da sala de estar. Nunca poderia imaginar
que seria mais feliz do que era quando tinha somente Marina e Theo em minha vida.
— O que a senhorita está aprontando? — Perguntei, sendo contagiado pelo seu sorriso
banguela.
Com seus seis meses de idade, Vitória se mostrava muito esperta, vivia querendo ficar no chão
para engatinhar, mexer nos objetos. Marina se adiantava, tirando do seu alcance os objetos
pequenos ou qualquer outro que pudesse machucar nossa princesa.
Larguei meu paletó no braço do sofá, pegando minha filha no colo. Eu adorava sentir seu cheiro
de bebê e suas mãos inquietas passeando pelo meu rosto. Tirei minha barba, justamente para não
pinicar sua pele macia e sensível.
— Pai, que bom que chegou! — Falou meu filho, me abraçando. Vitória logo se animou,
querendo ir para os braços do irmão.
— Estava morrendo de saudade de vocês, rapazinho. — Beijei seu cabelo.
— Pois é.... Esses dias tem chegado sempre tarde.
Eu realmente estava chegando tarde. Com o lançamento do aplicativo no mercado, precisei me
desdobrar para dar conta de todas as políticas de venda.
— Sei que fiquei ausente, mas não esqueci do seu grande campeonato de futebol. Estarei lá,
filho! — Ele sorriu, satisfeito.
— É bom mesmo. Além do senhor e da mamãe, meus avos também irão.
Infelizmente minha relação com o meu pai continuava a mesma. Tentei me aproximar, mas era
difícil, eu ainda sentia uma enorme decepção com o senhor Albestini Donatello. Algumas coisas, por
mais que a gente tentasse, não conseguíamos esquecer.

MARINA
Toda vez que eu saia de casa, parecia que a qualquer momento, voltaria correndo. Eu me
recordava que sentia o mesmo quando Theo era pequeno, a verdade era que ainda sentia isso. O
que me acalmava, era que o meu menino estava cada dia mais forte, inteligente e independente.
Theo foi meu verdadeiro anjo, pois quando descobri que estava grávida, soube que aquele
momento seria um marco na minha vida. Sem ele eu não teria tido garra para me tornar quem eu
era hoje.
— Está de folga hoje? — Sorri igual uma boba, sentindo o corpo másculo do meu marido
colado ao meu.
— Hoje não tem treinamento. Preferi ficar em casa.
— Adoraria ficar com vocês. — Beijei seus lábios que estavam em linha reta, então acabou
sorrindo. — Prometo que recompensarei todos esses dias que estive ausente.
Envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, sem me importar de amassar seu terno impecável
e mordi seu queixo, sentindo falta da sua barba rala. Brinquei com seus lábios, puxando-os de leve
entre meus dentes, suas mãos grandes apalparam minha bunda por cima do short jeans com força,
arrancando um gemido baixinho.
— Espero ser muito bem recompensada. — Ele riu gostoso.
— Quando eu a pegar, você não vai aguentar.
Meu corpo todo estava em ânsia, querendo me entregar ao prazer feito com muito amor.

ENRICO
E cá estava eu, perdendo mais tempo com o Senador e Deputado. Quando comecei a falar
sobre as provas que tinha em mãos, por pouco, os dois pares de olhos não saíram para fora.
Pensavam que o que eu queria fosse somente esse contato novo com a comunidade, ledo engano.
Estipulei um prazo para resgatarem o dinheiro e começarem as obras nas quinze escolas públicas.
Logicamente odiaram, afinal, eu estava desfazendo o pé de meia deles.
— Não seja burro, Falcão. Se nos derrubar, o partido todo perde. E seu investimento também.
Eu não estava nem um pouco preocupado com a quantia de dinheiro que coloquei nesse
partido. Em primeiro momento, pensei em vingança, assim como minha esposa. Mas sabíamos que
isto não nos levaria a nada. Estava torcendo para que esses dois homens mudassem por amor ao
Theo, já que afirmam amá-lo, e eu comecei a acreditar no sentimento do Ricardo, mas do Marcus
não.
— O dinheiro que coloquei aqui, não me fará falta. Não precisa se preocupar, Senador. —
Sorri, sarcástico. — Agora para vocês, tenho certeza que sim. Fiquei sabendo que os investimentos
dos Medeiros e Alvarez estão em declínio.
— Não pense que ficará por cima! — Disparou Marcus. — A cidade anda muito perigosa,
cuide-se Falcão.
As ameaças do Deputado se tornaram rotina. Eu não temia por mim, estava sempre
acompanhado por um segurança particular, e meus familiares também, mesmo que fosse a
contragosto. Marina cogitou em ser novamente minha segurança particular, mas neguei no mesmo
instante. Eu preferia vê-la cuidando do serviço interno da Blindados, do que em campo.
— Minha vontade, desde que o vi, é bater em você. Disparar minha indignação por ter feito
mal a minha mulher, a sua covardia é triste, Marcus. Só não sujei minhas mãos com você, pois é
insignificante, e não tem nada melhor do que vê-lo tropeçando em seu próprio fracasso. Esse será
o seu fim, Deputado. Dei a você a oportunidade de mudar unicamente por causa do meu filho,
entretanto, não aproveitou a oportunidade.
— Seu sonho é ver meu fracasso, não é?
— Vamos, K12. — Eu o ignorei, saindo da sala.

MARINA
Estávamos na arquibancada, assistindo e torcendo animadamente para o time do Theo. Ele era
o capitão do time, assim como também era líder de outros grupos de atividades extracurriculares
que participava. Deus sabe que gostaria que meu menino ficasse longe da política, mas essa
decisão não estava em minhas mãos.
— Não sei como conseguiu acalmá-la tão rápido. — Admirei Vitória aconchegada nos braços
do seu avô Arthur.
Enrico estava sentado na primeira fileira muito próximo ao banco do time, todos os pais
gostavam de se sentarem ali, pois ficavam gritando e aconselhando os filhos a fazerem jogadas.
Na outra ponta, estava Marcus ao lado de três seguranças disfarçados, assim pelo menos não
chamava a atenção. Eu sentia seu olhar sobre mim várias vezes, mas em nenhum momento eu
retribui.
— Tenho jeito com crianças.
Seu Arthur e eu estávamos trabalhando para nos tornarmos amigos, pelo bem das pessoas que
mais amávamos. Era obvio que ele preferia que seu único neto estivesse casado com uma mulher
de classe, e que não tivesse uma bagagem.
— Senhor Arthur, obrigada por estar tentando.
Não era necessário detalhes, ele sabia que eu me referia ao nosso relacionamento.
— Acho que devo muito pedidos de desculpas. — Acariciou a bochecha da Vitória, que dormia,
mesmo com todo o barulho da torcida. — Meu orgulho e impulso natural, sempre falaram alto em
relação ao Enrico.
— Entendo perfeitamente. Não quero que mantenha ideias erradas sobre mim, e também não
irei tentar agradá-lo. Só posso afirmar que amo Enrico com todo o meu coração.
Ele sorriu, encarando o neto de longe, depois mirou em Theo, e fez questão de afirmar que o
considerava como bisneto. Por fim, fitou a netinha em seus braços com tanto carinho, que fiquei
emocionada.
— Você é verdadeira, menina. — Pegou a minha mão, apertando-a ternamente. — Quem sou
eu para impedir que você e meu neto fiquem juntos. Obra de Deus a gente não desfaz.
Sorrimos em cumplicidade e naquele momento eu soube que o senhor Arthur percebeu que meu
amor por Enrico era puro, sem segundas intenções.

MARCUS
A presença do meu filho em minha vida me trouxe conforto. Eu estava na beira do precipício,
sabendo que a mulher que eu amava gerou filho de outro. Meu plano de provocar intriga entre o
casal falhou, mas eu não iria desistir. Agora que Marina não estava mais carregando aquela
criança, eu poderia dar continuidade ao meu plano.
Eu estava orgulhoso vendo meu filho jogando futebol, sempre imaginei esta cena. Alternava em
assisti-lo e admirar a minha mulher de longe. Como sentia falta dela, passei todos esses anos na
cama de outra pensando nela.
Foi como se uma faca tivesse cortado profundamente minha pele. Me senti assim, quando Theo
correu para os braços do Falcão depois que marcou o gol da vitória do seu time. Ele deveria ter
corrido para os meus braços. Doeu ainda mais quando ouvi meu filho chamar o Falcão de pai.
Desde que descobri sobre o meu filho fico esperando que ele me chame assim.
Theo estava eufórico, comemorando a vitória nos braços do homem que me tirou tudo. Depois
de longos minutos, que pareciam ter durado horas, meu filho percebeu minha presença e se dirigiu
a mim, com o olhar atento do Falcão e seus seguranças particulares.
— Parabéns, campeão! Você é o melhor! — Trocamos um abraço apertado.
— Que bom que está aqui, Marcus. — Fechei os olhos, sentindo a derrota.
Respirei fundo e contei até dez mentalmente, abri os olhos e falei:
— Pode me chamar de pai, Theo. Eu sou seu verdadeiro pai!
— Eu sei disso, mas preciso de tempo. — Deu de ombros, sorrindo fraco.
— Desculpa, não queria ser rude com você, meu filho.
As coisas mudariam e eu poderia ter tudo aquilo que me foi tirado.
CAPÍTULO 22 – ESCOLHAS CERTAS E ERRADAS

MARINA

Eu estava novamente quebrando meu juramento. Eu tinha desistido da minha vingança. Depois
de todos esses anos, percebi que todo o mal que eu gostaria de causar para as pessoas que me
humilharam sem piedade, poderia voltar para mim. Além disso, seria injusto e negligente de minha
parte deixar todo esse ressentimento atingir meu filho.
Faltavam poucos meses para as eleições e meu marido afirmou que estava dando uma lição no
Senador e Deputado, porém, nós sabíamos que de nada adiantou. Infelizmente precisaríamos
comparecer ao último evento que estaria reunindo todos os candidatos e assessores do partido.
— Fique calma, meu amor. Prometo que depois do discurso, iremos embora. — Murmurou, meu
marido.
Hoje eu acordei ansiosa, sentindo um friozinho no estômago, era um pressentimento de que algo
ruim aconteceria e acabaria com toda a alegria que eu estava vivendo ao lado da minha família.
— Está tão na cara assim? — Enruguei o nariz, insatisfeita.
— Com certeza! — Ele selou nossos lábios castamente. — Acredite, eu não gosto dessas festas
de pré-eleições e de nenhuma outra ligada a política. Se entrei nisso, foi por sua causa e do nosso
rapazinho.
Eu sentia os olhos do Marcus em mim. Ele poderia ao menos tentar disfarçar, mas continuava o
mesmo. Mesmo Ricardo Medeiros sendo o dono da residência, eu não dirigia a palavra a ele, me
recusava a fazer isso. Ele até poderia ser um bom avô para o meu filho, mas nunca seria um bom
pai para mim. Talvez em outra vida.
Enrico ficou conversando com os principais coordenadores de pesquisa do partido e eu
aproveitei para ficar um pouco com a vó Glória. Minha querida avó estava muito contente por
Theo ter sido reconhecido por todos.
— E como está a minha bisnetinha?
— Danada. — Sorrimos e tomei um gole do vinho que o garçom acabou de servir. — Como
percebeu, Vitória é muito paparicada por todos.
— E quem resiste àquela carinha de anjo. Adoraria passar do dia com vocês amanhã, se não
tiverem nenhum compromisso, claro.
— Será um prazer recebê-la novamente em minha casa, vovó. A senhora é muito bem-vinda.
— Sabe o que me deixaria mais feliz?
— Vovó...
Ela repousou sua mão em cima da minha.
— Queria tanto que as coisas no passado tivessem sido diferentes. Seu pai agiu como seu avô o
criou para ser. Um homem ganancioso, egoísta e louco pelo poder da política. Errei, pois fui fraca,
deveria ter impedido, mas não tinha forças. Fui uma verdadeira submissa.
— Ricardo é assim por natureza, a culpa não foi sua, vovó.
— Errei como mãe, minha querida. Deveria ter afasto Ricardo do pai, mas aquele homem nos
causava medo até o último fio de cabelo.
— Nada justifica, vovó. Ricardo poderia ter se tornado um homem de caráter. Eu sofri anos
nessa mansão, sendo humilhada de modo monstruoso, mesmo assim não me tornei uma pessoa com
má índole.
Minha voz soou alterada, era impossível manter o controle ao me lembrar o que passei debaixo
deste teto. Vó Glória tinha todo direito de defender o filho, sendo ou não a pior pessoa do mundo.
E nada mudava o fato do Ricardo ser o filho dela. Existia um sentimento forte nas mães, que as
deixavam sempre dispostas a lutar por suas crias.
Peguei a mão da minha querida vó, aplicando um beijo delicado, proferi:
— Desculpe-me pelo o tom que falei. — Ela sorriu de lado. — Eu nunca vou perdoá-lo, não
consigo!
— Está tudo bem, minha neta.

MARCUS
Não aguentava mais ouvir meu pai reclamando. Era de se esperar, pois nossas regalias foram
tiradas. Uma das contas que eu mantinha no exterior foi descoberta pelo Falcão e eu precisei
retirar toda a quantia e investir nos projetos.
Meus dias estavam cansativos, eu não aguentava mais viver assim. Queria Marina e nosso filho
ao meu lado. Eu tinha tudo planejado e precisaria da ajuda da Cássia, afinal, de alguma forma
usaria a paixão que ela sentia por mim a meu favor.
— Eu estava com saudade, Marcus. — Falou, enquanto distribuía beijos pelo meu rosto.
Estávamos no corredor dos empregados, e não tinha ninguém aqui, todos estavam ocupados e
distraídos com a festa, então aproveitei o momento para encontrar Cássia. Nosso caso era antigo,
ela sempre gostou de mim e aceitou os meus termos para continuarmos amantes.
Cássia era uma mulher bonita, mas não chegava aos pés da Marina, aliás, nenhuma mulher se
comparava a beleza da Marina. Pensei em romper nosso caso, mas ela sempre foi muito insistente
e hoje vi proveito nisso tudo.
— Você entendeu o plano, Cássia? — Eu a afastei, segurando em seus ombros.
— Sim, mas não entendo por que quer se encontrar com a Marina. Pretende voltar para ela, é
isso?
— Você sabe que depois da eleição pedirei o divórcio da Cassindy. Quando a poeira abaixar,
iremos nos casar. — Murmurei, acariciando seu rosto. — Mas eu preciso desse favor, quero ter uma
conversa definitiva com Marina.
— E por que não conversa com ela agora?
— Preciso de privacidade. O marido dela acabará se intrometendo e pensando coisas erradas.
Ela suspirou, suavizando sua feição.
— Está certo! Ligarei para Marina pedindo para me encontrar no aeroporto, pois antes de eu
pegar o voo, gostaria de me despedir.
— Perfeito, perfeito! Eu avisarei quando será esse dia.
— Promete que iremos nos casar e formar uma família. Eu posso dar o herdeiro que sempre
quis, Marcus.
— Eu juro.
Após murmurar minha promessa falsa. Eu a puxei para os meus braços e a beijei com violência,
arrancando gemidos dos seus lábios. Paramos o beijo, e nos afastamos rapidamente quando
ouvimos algo colidir com o piso.
— Vovó! — Disparou Cássia, surpresa e pálida.
Nunca deveríamos ter sido pegos.
— Dona Glória, podemos explicar.
Peguei sua bengala do chão, estendendo em sua direção.
— Eu estou velha, mas não sou burra! — Rudemente, ela pegou a bengala de minha mão. —
Amanhã mesmo irei contar que vocês são amantes para toda a família. Não esperava isso de você,
Cássia.
— A gente se ama, vovó. Depois da eleição ele pedirá o divórcio.
Dona Glória mantinha o olhar frio em minha direção.
— Não seja estúpida! — Alterou a voz. — Esse infeliz fez a mesma promessa para a sua irmã
Marina! Depois de tudo que viu, não acredito que possa acreditar nas palavras desse mentiroso.
— Não é bem assim, vovó.
— Chega, Cássia! Amanhã veremos essa prova de amor que ele diz sentir por você. Ainda tem
tempo de acordar desse seu estado quimérico.

CÁSSIA
Desde a minha adolescência que eu era apaixonado por Marcus. Tentei evitar que esse
sentimento crescesse, mas ficou mais forte, e para a minha felicidade, ele percebeu meus
sentimentos e logo nos tornamos amantes.
Não quis esse título, queria ser sua esposa diante de todos. Adoraria acordar todos os dias
para cuidar dele e dos nossos futuros filhos. Eu queria um final feliz, assim como os protagonistas
dos inúmeros romances que eu lia.
Marcus errou muito se casando com a minha irmã Cassindy, e tudo por uma aliança política,
afinal, nada como duas famílias de renome se unirem. Ele confessou que o caso que teve com a
minha irmã Marina foi passageiro, um momento de fraqueza, e eu perdoei em nome do nosso amor.
— Eu consigo. — Murmurei, enquanto alisava a arma calibre 22. Marcus me entregou a arma
para que eu tomasse uma decisão final. Eu não deixaria mais ninguém atrapalhar meus planos. —
Preciso fazer isso.
Saí de casa cedo, avisando que passaria o dia com uma amiga. Encontrei com Marcus no
apartamento onde costumávamos ficar, e como um ultimato, entregou a arma dizendo que a
escolha estava em minhas mãos.
Aluguei um carro popular e esperei a minha avó sair da mansão. Como de costume, ela nunca
saia com muitos seguranças, apenas com o motorista que trabalhava há anos para a nossa família.
Ela sempre deixou claro que quando fosse passear, iria como uma pessoa normal e não cercada
de homens de terno.
Agora o curso de tiro que fiz há dois anos por estar entediada, serviria para algo que nunca
passou pela minha cabeça. O veículo parou em frente a uma confeitaria localizada em um bairro
simples da cidade carioca, então coloquei a máscara e saí do carro. Poucas pessoas circulavam
por ali, e quando o motorista abriu a porta do carro, a minha avó saiu. Caminhei na direção deles,
disparando tiros certeiros em seu peito. Pietro tentou voltar com ela para dentro do carro, mas não
deu tempo.
Entrei no carro e dirigi com as mãos suadas e trêmulas. Abandonei o carro em uma rua
qualquer, joguei a bolsa com arma, capuz e máscara dentro de uma lixeira pública e fui andando
até a delegacia mais próxima, e ao chegar, fiz um boletim de ocorrência afirmando que meu carro
foi roubado. Ao sair, liguei para a locadora, simulando todo o plano certeiro.
Por estar trajando roupas simples e sozinha, ninguém reconheceu a filha mais nova do Senador
do Estado Rio de Janeiro. Todas as vezes que apareci em público estava impecável, do jeito que
minha mãe moldou Cassindy e eu.
Cheguei à casa de uma amiga com um sorriso falso, nervoso. Marcela estranhou minha
vestimenta, mas não perguntou nada, e assim que entrei no banheiro, desabei. Mesmo sabendo que
acabei de cometer um crime, sabendo o quanto foi perigoso, o quanto fui traiçoeira com sangue do
meu sangue, não tive outra opção. Eu me apaixonei e agi.
CAPÍTULO 23 – A QUEDA DO IMPÉRIO

MARINA

Quando assisti ao noticiário, e vi que estavam falando sobre o assassinato de vó Glória, fiquei
em choque. Eu estava preparando o almoço, junto com meu marido, enquanto nossos pais estavam
na sala brincando com as crianças.
A rosa vermelha que estava em minhas mãos era a mais bonita que tinha no jardim da minha
casa. Estamos ouvindo as palavras do padre, que a pedido do Ricardo Medeiros, veio declarar
palavras que de alguma forma confortasse os nossos corações. Meu filho preferiu não vir, então
ficou em casa com os avós.
Cada palavra do padre que chegava ao meu ouvido, batia diretamente no meu coração e nas
memórias que eu tinha com a minha adorável avó, afinal de contas, foi meu bálsamo durante os
dezoitos anos que vivi debaixo daquele teto podre.
Pelo canto do olho, encontrei a figura assolada do Senador. Ao seu lado estavam a sua esposa
e minhas meias-irmãs. Tinham tantas pessoas, que não parei para falar com nenhuma, apenas falei
e abracei Pietro, o motorista que trabalhava há muitos anos para os Medeiros.
Ele estava inconsolável e explicou que a minha avó tinha pedido para irem em uma confeitaria
onde ela sempre costumava comprar torta de maçã e depois iriam para a minha casa. Quando
desceram do carro, um criminoso que usava uma máscara preta sobre o rosto se aproximou, então
o golpe falta ocorreu quando disparou de maneira certeira na vó Glória. Pietro afirmou que
tentaram voltar, mas era tarde demais. Em sua declaração, o que mais chamava a atenção, era
que em momento algum ele foi alvo dos tiros. Todos os disparos foram exclusivamente para a
minha avó.
Meu marido disse que o crime estava sendo investigado, e que o caso repercutiu o Brasil afora,
os noticiários não falavam de outra coisa. Do lado de fora do cemitério tinham muitos jornalistas, e
tivemos que passar por todos eles, sem falarmos nada. Era um momento de perda que precisava
ser respeitado. Mas infelizmente, esse era o trabalho deles.
— Calma, meu bem. — Murmurou meu marido, me acolhendo em seus braços fortes. — Pense
sempre que ela está em um enorme jardim, sentada em um banco lendo um livro. Imagine que ao
redor tem várias flores, um vento fresco. Um verdadeiro paraíso da paz.
Chorei mais silenciosamente, em seus braços.
— Ela vivia falando que adoraria que eu perdoasse Ricardo. — Cochichei. — Eu não consigo,
Enrico. Deus sabe que não consigo.
Ele me abraçou mais forte, beijando o topo de minha cabeça.
— Sua avó a conhecia, e melhor do que ninguém, compreendia seus motivos. Ela te amava, meu
bem.
Começaram a deixar as flores em cima do caixão, e naquele momento, meu coração tremeu. Era
uma sensação horrível de perda, saudade. No instante que me aproximei do caixão, Ricardo fez o
mesmo, e como eu, em suas mãos tinha uma rosa vermelha. Deixamos ao mesmo tempo a rosa em
cima do caixão, e ficamos um tempo nos encarando, pensei em falar “sinto muito”. Mas nada saiu.

ENRICO
O tão esperado dia das eleições havia chegado, e todos os candidatos estavam em seus postos,
esperando o resultado final. Ricardo Medeiros estava dois pontos na frente de Luiz Teixeira, e
Marcus Alvarez estava quatro pontos atrás de Gregório Silva.
Marina estava ao meu lado e sua feição séria transmitia determinação. A verdadeira Loba que
eu conhecia. Antes de dar início ao segundo tempo das votações, eu subiria ao palco para fazer o
meu discurso, e como um grande doador e com o renome que eu tinha, todos os assessores
achavam que seria uma ótima jogada que eu expressasse o quanto o partido METP era honesto e
como era acessível para o povo. Que era uma grande mentira.
Hoje eu daria a última lição ao Senador e Deputado, revelando a todos o quanto eram
corruptos. As provas estavam nas mãos de Evandro, que entregaria tudo para as autoridades
quando eu terminasse o meu discurso.
— Tem certeza disso, amor? — Indagou minha esposa, encarando os dois homens que a
machucaram tanto no passado ao lado do restante da família.
— Por vocês eu faço tudo. — Ela sorriu, apertando a minha mão.
— Eu sei que faz. Temos muita sorte em tê-lo em nossas vidas.
— Eu que tenho de ter você e nossos filhos.
Subi ao palco e logo a multidão de pessoas que se dividia entre os candidatos, silenciou, atenta
ao início do meu discurso.
— É um prazer ter a oportunidade de falar sobre o partido no qual fiz uma grande doação e
que acreditei que poderia ser a melhor opção. — Encarei a minha esposa, que sorriu. Havia
chegado o momento do grande escândalo político que arruinaria o senhor Medeiros e Alvarez. —
Antes de fazer uma doação para um partido, sempre averiguo a integridade dele para com o
povo, pois somos nós, através do voto, que temos voz em decidir e colocar no poder aquele que
nos representará e fará a melhor escolha para o país. Geralmente, eu não gosto de aparecer
quando faço uma grande doação, mas dessa vez tomei uma atitude diferente. Participei de muitas
reuniões, e é com grande pesar que afirmo que o partido METP, que esteve durante tantos anos
nos representando, é um corrupto da pior espécie.
O povo fez exclamações indignadas e começou o murmurinho. Do outro lado, eu vi a fúria nos
olhos do Ricardo e Marcus, assim como também dos outros integrantes do partido. Eu estava
vibrando por dentro, sabia que nenhum deles ousaria subir no palco, eram manipuladores que só
viviam de aparências. Eu já não me importava com nada disso, enfrentaria qualquer coisa para
deixar claro, que desta vez, Marina tinha quem lutar por ela.
— Vocês acham justo pagarmos tantos impostos, e no final, esses senhores desviarem o dinheiro
que deveria ser utilizado para a melhoria de vida. Quantas escolas precisam de reforma, projetos
educacionais que realmente tragam valores éticos e incentivem? A rede pública de hospitais
necessita de equipamentos e mais profissionais, e onde está o que foi prometido? Enquanto todos
suamos dia a dia no trabalho, a conta deles engorda. O senador Ricardo Medeiros e o deputado
Marcus Alvarez, estão sendo desmascarados e as provas serão entregues às autoridades. E agora
façam valer a pena, exigiam os direitos. Deixo agora a palavra com Senador, tenho certeza que
ele tem uma explicação.
Proferi meu sarcasmo, esperando que Ricardo ou Marcus fossem fazer algo. Esperei um tempo e
o povo começou a vaiar e gritar querendo que ambos saíssem. Esse dia estava marcado, pois foi o
declínio do império dos pilantras.

***
— Eles tiveram uma lição e tanto. — Disse a minha esposa.
Estávamos a caminho de casa e meu celular não parava de tocar, e eu podia apostar que eram
os membros do partido. Quase que não conseguimos sair do local, pois além de alguns integrantes
arrogantes reclamando de minha conduta, também tinha a chuva da imprensa.
— Agora acabou, meu bem. Eles tiveram o que mereciam. Nada fica impune nessa vida.

MARINA
Passamos o restante do dia na presença dos nossos filhos. Não ligamos a televisão, e nem
procuramos notícias do escândalo na internet. Evandro ligou apenas para avisar que estava
cuidando da imprensa e ignorando os integrantes do partido.
— Theo dormiu mesmo.
Aproveitamos o fim da tarde na piscina, depois fiz um jantar rápido e gostoso, e a pouco
estávamos jogando tabuleiro. Theo acabou dormindo, e eu pensando que Vitória seria a primeira a
se entregar ao sono, ela estava se divertindo ao atrapalhar o jogo.
— Parece que nossa princesinha tem mais energia que o irmão. — Enchi o pescoço cheirosinho
da minha filha de beijos.
Falta apenas um mês para Vitória completar um ano. Nesses meses, ela aprontou de tudo um
pouco, e claro, tirou muitas gargalhadas da família. Era o verdadeiro dengo de todos. Aprendeu a
andar aos dez meses, Enrico faltou sair pela vizinhança gritando a novidade. Ele tinha acabado de
chegar em casa, e Vitória estava em pé apoiando as mãozinhas no corrimão da escada, e quando
ele a chamou, eu tinha acabado de entrar na sala; ela simplesmente começou a dar os primeiros
passos desengonçados.
— Nem acredito que Vitória já tem toda essa independência. Daqui a pouco, vai querer sair
sem nós dois.
— Não seja exagerado, homem! Ela tem quase um aninho, aceite que é melhor.
— Quero que ela seja um bebê para sempre.
— Impossível, meu amor.
— Pelo menos nossa filha ainda pode ser freira.
Rolei os olhos, segurando o riso. Só fiquei imaginando quando Vitória estivesse na adolescência.

ENRICO
Para acabarmos com toda aquela tensão, resolvi programar um jantar romântico com a minha
esposa, então fiz reservas em um restaurante na Barra da Tijuca. Estávamos precisando de um
momento a sós. Meu pai e madrasta ficaram cuidando das crianças na casa deles. Eu tinha
combinado que Louise ficaria de babá, mas meu pai avisou que adoraria cuidar dos netos,
enquanto eu e Marina estivéssemos fora.
— Tente relaxar, meu bem. Pouco tempo atrás você parecia contente, agora está distante.
Ela suspirou, e sorriu fracamente.
— Não consigo me conformar, Enrico. Minha avó, não merecia tamanha crueldade.
Os noticiários sempre abordavam o caso de dona Glória Medeiros. Confesso que também tinha
curiosidade e sede de ver quem causou este ato, atrás das grades. Evandro disse que a polícia
pegou todas as filmagens de câmeras que tinham em alguns estabelecimentos para análise. Até o
momento, nada foi descoberto.
— Sei que está sofrendo com a perda, mas tente relaxar um pouco sua mente. — Entrelacei
nossos dedos, acariciando a lateral da sua mão com o polegar.

MARINA
Soltei um grito forte, cheio de revolta, quando soube que o criminoso que tirou a vida da minha
avó, era sangue do nosso sangue. Enrico precisou me segurar para que eu não batesse em Cássia,
que estava chorando, implorando perdão. A sorte era que os policiais a arrastaram para longe.
Enrico havia me ligado avisando que tinham prendido o homicida. Só entendi o motivo do meu
marido ter ocultado quem era a tal pessoa, quando cheguei à delegacia. Eu me recusava a
acreditar que o sangue dos Medeiros corria em minhas veias.
Eu queria fugir de tudo isso, correr para um lugar seguro juntamente com a minha família. Como
iria explicar ao meu filho, o caos que estava acontecendo neste lado da sua família? Doentio,
deveria ser o sobrenome da Cássia.
— Tem certeza que quer falar com ela? — Indagou meu marido, que me entregou um copo d
´água.
— Sim, eu preciso.
— Ricardo ainda não apareceu, sinceramente, acho que ninguém daquela família tem coragem
de aparecer por aqui.
Desde o escândalo no resultado das eleições, Ricardo e toda sua corja sumiram do mapa.
Apareceram em público apenas quando foram prestar contas com a justiça, mas como
esperávamos, não foram detidos. O partido se desfez em questão de dias, e finalmente o reino
deles foi derrubado.
— Eu penso da mesma forma.
Encarar Cássia, sentindo ódio e controlando minhas ações para não fazer besteira, estava
sendo difícil. Pensei que ela era a exceção daquela corja, mas agora eu tinha certeza que vó
Glória era a única alma boa.
Cássia sempre foi na dela e aceitava que sua mãe a ensinasse a ser a mulher perfeita. Ela
odiava quando Cassandra a humilhava por não ser boa o suficiente, e perdi as contas de quantas
vezes eu a defendi da sua mãe, mesmo sabendo que eu sofreria o castigo, como aconteceu uma
vez anos atrás.
Não aguentava ver Cássia, chorar. Suas lágrimas caíam com tanta angústia.
— Calma, Cássia, podemos dar um jeito.
O estado do vestido chique estava terrível, mesmo assim preferi manter as esperanças. Sem querer,
ela acabou derrubando o copo de suco de uva que estava tomando.
— Minha mãe, vai me matar! Você a conhece, sabe o quanto ela é regrada e perfeccionista.
Quando pretendia falar mais alguma coisa, minha madrasta entrou no quarto, e seus olhos fitaram
o vestido lilás com fúria. Ela agarrou os braços da Cássia com força, a balançando.
— Não acredito que estragou seu vestido, Cássia! Como fez essa estupidez?
Era triste viver na mesma casa que essa mulher. Todo o mal que ela me causava era acobertado,
apenas vó Glória tentava abrir os olhos de Ricardo, mas as tentativas eram em vão.
— E-Eu...
Cassandra apertou o maxilar da minha irmã com brutalidade, fiquei chocada, principalmente
quando vi que Cássia estava urinando de medo. Eu não suportava isso!
— Fui eu! — Disparei, sabendo que sofreria com os atos maldosos da Cassandra. Mas não me
importava, eu preferia que eu gritasse e chorasse de dor do que Cássia.
Quem diria que a pessoa que tanto protegi das garras da própria mãe, se transformaria em um
monstro.
— Quero que a culpa a perturbe todos os dias. — Declarei, limpando rapidamente as lágrimas
que caiam.
— Eu... Eu...
— Qual foi o motivo, Cássia? Vó Glória sempre foi um anjo em nossas vidas.
— Eu agi porque achei que ela atrapalharia meus planos.
— Que planos?
— Ela descobriu meu caso com o Marcus na noite da festa do partido. Não podia deixar que
ela contasse, iria atrapalhar nossos planos.
Nojo, eu estava sentindo nojo.
— Ele pediu para você matar a nossa avó? Foi o Marcus que mandou? — Exaltei.
— Não! Não! Eu quis fazer aquilo. — Afirmou, entre o choro e soluços.
O maldito brincou comigo e minhas irmãs debaixo do nosso nariz. Sedutoramente, conseguiu nos
fazer cair aos seus pés como apaixonadas tolas, acreditando em suas promessas, a minha sorte
era que acordei. Infelizmente, Cássia ficou doente com esse amor falso e Cassindy estava se
acabando nesse amor ganancioso.
— Não seja mais burra. Fale a verdade.
Sem ter mais força emocional para continuar lá dentro, saí, encostando minhas costas à parede.
Eu sabia que os oficiais estavam ouvindo nossa conversa, mesmo assim era necessário que Cássia
abrisse a boca e falasse em alto e bom som que Marcus Alvarez a induziu.
CAPÍTULO 24 – TRÊS METROS ACIMA CÉU

MARINA

Eu estava ali no tapete, nua e com os olhos vendados, esperando o próximo passo do meu
marido. Meu corpo estava desconcertado com a onda de sensações avassaladoras. Assim que
entrei no escritório de Enrico, pensando que iriamos conversar, pois ele havia falado que precisava
de mim urgentemente, fui atacada com a sua boca gananciosa.
— Apenas sinta, meu bem. — Murmurou, alisando meu cabelo.
Seus dedos faziam trilha em meu corpo febril. Toda vez que Enrico me tocava, eu me
transformava. Eu adorava seu jeito carinhoso, delicado, safado. Uma mistura um tanto perigosa, o
tornando um maestro na arte do prazer.
— Você é louco! — Segurei o riso e gemido, quando mordeu de leve o bico de meu seio.
— Não acho loucura desmarcar meus compromissos e ligar para a minha esposa, pois estava
louco para fazer amor.
— Tire a gravata de meus olhos, amor.
— Não mesmo! Quero tê-la assim!
Parou com as carícias e logo eu estava arfando, aguardando sua nova ação. Gemidos baixos
saíram dos meus lábios quando senti sua respiração em meu íntimo. Ele levantou a minha perna
direita, descansando-a em seu ombro. Meu sexo latejava, quente, implorando atenção. Não
demorou muito, e minhas mãos agarraram seu cabelo curto, tentando de alguma forma amparar a
voracidade que dominava o meu corpo.
Vendada, pude deixar meus sentidos mais amplificados, estendidos. Ele abafou os meus gemidos
tomando minha boca em um beijo lento, carinhoso. Estava tão mole, que nem tirei minha perna do
seu ombro, então ele fez isso por mim.
— Você está sendo um... Um cretino, Enrico! — Xinguei, ficando zangada com sua provocação.
Durante alguns agoniantes minutos, Enrico esfregava descaradamente seu membro duro por
cima de meu íntimo. Ele adorava me provocar.
— Il mio amore silenzioso. — Cochichou ao pé do meu ouvido.
Eu ri entre as lamúrias. Era um cínico, mesmo.
— Nem adianta falar esse seu italiano de quinta.
Ele gargalhou com o rosto escondido na curva do meu pescoço.
— Mais é muito atrevida mesmo. — Tirou a gravata dos meus olhos, jogando ao lado. — É de
quinta, mas sei que você gosta, mio amore.
Envolvi as pernas em volta do seu quadril, puxando-o para mim e fazendo nossos sexos se
chocarem, arrancando gemidos roucos dos seus lábios macios e vermelhos de tanto nos beijarmos.
Era gostoso, perfeito. Enrico deixava meu corpo vivo, irreprimível. Não só meu corpo, mas como
também meu coração e estado de espírito.

ENRICO
Depois de passarmos quase toda a manhã enfurnados no meu escritório, finalmente conseguimos
sair. Como já havia desmarcado meus compromissos, decidi passar o restante do dia em casa com
a minha família. Vitória estava aos cuidados de Louise, e pouco tempo atrás, Marina ligou para
saber como ela estava e avisou que iríamos buscar Theo na escola, antes de ir para casa.
— Vou lá buscar, Theo. — Saiu do carro em direção à escola.
Estranhei ao notar que nosso filho não estava esperando no pátio que é cercado pela grade do
colégio, como de costume. K12 estava no carro atrás, atento a tudo. Eu estava verificando os
minutos pela quinta vez e nada da Marina e Theo. Decidido, segui em direção à entrada da
escola.
— Ele levou Theo! — Bradou Marina, fazendo meu corpo gelar.
— Como assim levou o nosso filho? Fala, Marina! — Segurei seu rosto, chamando atenção de
pais e crianças, ali perto.
— Senhor Falcão, apareceu o pai biológico do Theodoro, Marcus Alvarez com documento de
autorização, então...
— Que caralho de escola é essa? Deixamos claro, desde a matrícula, que nosso filho só sairia
comigo ou minha esposa. — A diretora abaixou a cabeça, ouvindo meu ataque.
Chamei K12, pedindo suporte para procurarmos meu filho. Aquele infeliz chegou longe demais.
Liguei para os nossos pais avisando o ocorrido e já passava das três horas da tarde quando
recebi a ligação de Ricardo, avisando que estava com Theo no aeroporto. Ele tinha evitado que
Marcus fugisse com o meu filho. Relatei a minha esposa a curta conversa que tive com Ricardo,
deixando-a calma e surpresa, afinal, aquele que tanto a machucou realizou um ato honroso.
O carro mal estacionou e minha esposa saiu correndo. Eu, juntamente com K12 e os outros
seguranças particulares que estavam nos ajudando nas buscas, estávamos logo atrás dela. Como
de costume, o aeroporto internacional Tom Jobim estava lotado. Correndo entre as pessoas,
paramos na sala de embarque particular. O desgraçado pretendia levar o próprio filho para
punir Marina por sua derrota. Os policiais que estavam cercando o local quase seguraram minha
esposa, porém intervi, nos identificando.
— Theo! — Desesperada, minha esposa chamou pelo nosso filho, que estava segurando a mão
do avô, que conversava com um oficial.
Eu a alcancei e vi nosso filho correr para os seus braços. Eu os abracei, e finalmente meu
coração se acalmou. Não muito distante, estava Marcus, algemado com dois policiais ao seu lado.
— Pelo amor de Deus, Theo! — Agachada, minha esposa passava as mãos freneticamente em
nosso filho, certificando se ele realmente estava bem.
— Mãe, eu não sabia que Marcus queria me levar para longe. Eu juro. — Soluçou, nos
encarando como se tivesse culpa. — Pai, desculpa. — Abaixei, puxando-o para meus braços.
— Ei, rapazinho. Não estamos zangados, ficamos com medo. Infelizmente seu pai Marcus não é
uma pessoa confiável.
Como diria ao Theo que seu pai era um canalha? Não conseguiria dizer isto.

MARINA
Eu me afastei de Enrico e nosso filho, correndo em direção ao nojento do Marcus. Sem me
preocupar com os oficiais, cuspi na cara do Marcus Alvarez, e vi o cuspi que declarava o quanto
eu o abominava, descer pelo seu rosto.
— Eu...
Com punhos fechados, fiz o que a muito tempo queria. Dei um soco na lateral direita de seu
rosto, fazendo-o balançar. Cristo! Esse homem me fez cair de amores, e como uma tola
apaixonada, acreditei em cada palavra, e no fim das contas, saí como a louca obsessiva da
história. Era surreal saber que ele era o pai do Theo. Meu Theo. Ignorei a terrível dor em minha
mão, desejando que o soco tivesse doido mais nele.
Eu estava cansada de enfrentar todas as pessoas que me machucaram tanto. Queria fugir para
uma casinha no meio do nada com meu marido e filhos. Queria esquecer o quanto sofri,
principalmente nas mãos de quem deveria ter me protegido.
— Marina, filha... — Esquivei do toque de Ricardo.
— Não toca em mim. — Sussurrei, encarando seus olhos azuis profundos, tristes.
A família Medeiros estava derrotada na política e afundando nos negócios empresariais. A
imprensa não falava de outra coisa, principalmente nos tabloides. Agora só faltava pagarem na
justiça as pilantragens que fizeram durante o tempo que estiveram no poder.
Desviei meu olhar do seu, quando Marcus começou a gritar mentiras. Os oficiais estavam
arrastando-o para irem à delegacia. Seria ótimo se Cássia resolvesse abrir a boca, falando que
Marcus era seu cúmplice no assassinato da vó Glória. Eu não queria que meu filho tivesse
presenciado nada disso, então Enrico o pegou no colo.
— Cassindy me ligou contando que ouviu o plano do Marcus. Ele pretendia fugir com Theo, e
depois armaria uma emboscada para você. — Explicou Ricardo.
Fechei os olhos, respirando fundo e deixando as lágrimas caírem.
— Obrigada.
Voltei para onde estava meu filho e marido. Eu queria ter abraçado Ricardo, ter agradecido
afetuosamente, mas não consegui.
“O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro
deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor.”
Em pensamentos, repeti a frase que há alguns anos minha mãe soprou para mim. Esta frase de
Oscar Wilde, refletia porque eu ainda não conseguia encontrar a porta do perdão. Ricardo
sempre se mostrava frio, sem vida, quando se tratava de mim. Talvez eu não encontrasse a minha
redenção por guardar essa mágoa do Ricardo Medeiros, pois o rejeitava como pai.
— Você machucou a mão com aquele... — Enrico ponderou, pois nosso filho estava em seu colo
com o rosto escondido na curva de seu pescoço. Apesar de tudo, Marcos tinha uma ligação com
Theo. Ninguém poderia mudar isto. — Liguei para Evandro e pedi para cuidar de tudo. Vamos
para casa!
No caminho, Theo acabou dormindo. Seu rosto estava corado e um pouquinho abatido. Como
não estaria? Era apenas um menino de dez anos que se deparou com um lado obscuro da família
que eu tanto queria esquecer.
Assim que chegamos em nossa casa, fomos recebidos por nossos pais e o senhor Arthur. Deixei
Enrico contando tudo a eles, enquanto fui cuidar de meu menino. Vitória bem que tentou ficar com o
irmão, mas minha mãe a distraiu. Eu e Theo precisávamos de um momento a sós.
— Eu deveria não gostar mais do Marcus, mãe?
Após o banho, liguei o ar-condicionado, nos deixando em uma bolha aconchegante, e
esquecendo a elevada temperatura de nossa cidade. Deitamos em sua cama, e ficamos
aproveitando nosso momento.
— Você o ama como pai?
Eu temia essa resposta. Durante esse ano que passou, Theo ainda não se referia a Marcus como
pai, diferente do que fazia com Enrico. Pensei que sua cabeça se confundiria, mas meu menino era
muito inteligente e soube separar muito bem a situação em sua cabeça.
— Ele errou como pai e homem, mas seus sentimentos vêm em primeiro lugar, Theo. Se quiser, ou
melhor, quando se sentir pronto, pode visitá-lo. Eu nunca vou interferir na relação de vocês, não
mais.
Eu faria qualquer sacrifício por Theo. Se ele decidisse manter relação com Marcus, por mais
estreita que fosse, eu o levaria ao presídio para visitar o pai biológico, pois esta seria a nova casa
do Marcus Alvarez.
— Quando meus colegas perguntam sobre o meu pai, eu sempre penso no Enrico. Desde que
ele entrou em nossas vidas tudo melhorou. Eu amo Enrico como meu pai, mesmo sabendo que é meu
pai de coração. Sinto por Marcus um carinho, mas depois que ele fez hoje eu senti.... — Fugou e
beijei sua cabeça. — Medo, ele estava diferente hoje. Não quero mais vê-lo!
— Calminha, meu filho. — Ele se aconchegou mais ao meu corpo e o abracei mais forte. —
Respeitaremos sua decisão.

ELISA
Precisava por um ponto final no meu passado com Ricardo. Já havia passado uma semana
desde o trágico plano do Marcus, que graças a Deus, falhou. Minha família estava reunida na casa
de minha filha, e avisei apenas ao Albestini onde iria. Ele, como um bom marido e meu melhor
amigo, respeitou minha decisão e confiava em mim. Por isso eu o amava cada vez mais, e se não
fosse Albestini, eu estaria arruinada.
E cá estou eu, pisando na casa onde sofri e infelizmente onde também fizeram minha filha
sofrer. Quem atendeu foi Estefan, assessor de Ricardo. Tive uma vida bem difícil, fiquei órfã cedo,
e aprendi a me virar para sobreviver. Pretendia estudar ansiando mudar de vida com meu próprio
esforço, mas todos os meus sonhos foram afundados por minha culpa, deixei o amor falar mais alto,
ficando surda para a razão. A única coisa boa de todo o meu sofrimento foi meu serzinho. Marina
sempre seria o meu ponto forte e fraco.
— Sente-se, irei avisar que está aqui. — Disse Estefan, antes de sair da sala.
A mansão não era a mesma. Tudo parecia frio demais, tinham muitas caixas espalhadas pelo o
chão, eu achava que ela já deveria ter um novo dono, pois a placa de vende-se estava caída na
entrada.
— Elisa! — Disparou Ricardo ao entrar na sala.
Ele continuava um homem muito bonito. Seu porte alto, definido e olhar penetrante sempre me
fizeram derreter em seus braços. Eu não sentia mais as famosas borboletas no estômago, o amor
que tinha por ele acabou, encontrei um novo e sincero em Albestini.
— Agradeço o que fez ao Theo.
— Eu amo o nosso neto, faria qualquer coisa por ele.
— As coisas poderiam ter sido diferentes. Me diz o que adiantou seu egoísmo e sede por
dinheiro? Me diz se adiantou renegar sua própria filha diante de todos? Fale, Ricardo! — Soprei
as perguntas, nervosa. Estava tudo entalado na garganta.
— Vivo no inferno, Elisa. — Aproximou-se com os olhos marejados. — Nada adiantou, eu estou
pagando o preço hoje. Me perdoa, Elisa?
Estava sendo difícil olhar o homem que tanto amei no passado, ajoelhado diante de mim,
pedindo perdão. Eu só queria que ele tivesse me amado, fui ingênua em acreditar que um dia
estaria usando uma aliança de compromisso. Ricardo foi o primeiro homem da minha vida e desejei
que tivesse sido o último.
— Posso perdoá-lo pelo que fez a mim, Ricardo. Mas não consigo perdoar o que causou para
a nossa filha.
Ele escondeu o rosto entre as mãos e gritou entre o choro. Nunca pensei que o veria tão
derrotado.
— Eu amo nossa filha, Elisa! Amo tanto vocês duas, e sou um fodido. Meu pai conseguiu me
derrotar, mesmo morto. — Seus ombros balançam com o choro. — Doía olhar seu reflexo durante
dezoito anos... Era doloroso enxergar o reflexo do meu grande amor na nossa filha. Eu amo a
Marina, tenho orgulho da mulher que se tornou, ela é mais forte do que eu, mesmo assim, na
época...
— Você a machucou Ricardo! — Exaltei nervosa, me afastando dele.
— Eu queria ter tomado as decisões certas, mas ele ficava me perturbando toda maldita hora.
— Ele quem?
— Meu pai, o desgraçado.
Na época em que comecei a trabalhar aqui, falar do pai do Ricardo era proibido. Todos os
empregados, os mais antigos, sabiam da difícil infância, adolescência e vida adulta que Ricardo
teve sobre os comandos de Juliano Medeiros.
— Você precisa se tratar, Ricardo. Deveria ter feito isso a muito tempo.
— Preciso de vocês.
— Poderá ter seu neto ao seu lado, Ricardo. O ame e proteja como não fez com Marina. Talvez
este seja o caminho do perdão que deve seguir.
Tudo poderia ter sido diferente, mas o Ricardo fez degraus cheios de erros que estavam acima
do céu. Mesmo com sua derrota, olhando todo o seu poder cair, eu não me sentia feliz, afinal de
contas, ele era o pai da minha amada filha.
Saí da mansão Medeiros mais leve, virei a última página que tanto me prendia. Cheguei na casa
da minha filha segurando a emoção. Então a abracei e beijei o rosto do meu serzinho muitas vezes.
Ela estranhou minha súbita emoção, mas desviei o assunto.
— Sente-se melhor, mia bella? — Meu marido me abraçou por trás. Estávamos na varanda
sentindo a brisa fresca.
— Sim, amor.
— Fico contente por isso.
Eu me virei de frente, enlaçando seu pescoço.
— Deveria conversar com Enrico, ainda há tempo para recuperarem o que foi perdido.
Ontem à noite, depois de fazermos amor, falamos sobre o nosso passado, coisas que ainda
estavam entreabertas. Quase não acreditei quando meu marido relatou o motivo de o filho tê-lo
ignorado. Foi grave o erro de Albestini, porém era nítido que poderia ser resgatado o
companheirismo de pai e filho.
— Sinceramente, tenho medo.
— Você é um homem forte de alma, meu amor. Enrico merece saber sua versão da história,
saber dos seus sentimentos na época que quase aconteceu a tragédia.
Ele respirou fundo, me puxando para seus braços em um abraço afetuoso. Albestini me trouxe a
salvação juntamente com um novo amor, e nunca me julgou por minhas atitudes no passado.
CAPÍTULO 25 – CIDADE DOS ANJOS CAÍDOS

RICARDO

Perdi absolutamente tudo. O império que sempre almejei e aumentei de forma corrupta,
desabou diante dos meus olhos. Preferi cobrir meus olhos com um véu preto, impedindo de
enxergar os erros. O pouco dinheiro que me restou foi o suficiente para comprar uma casinha
simples em Petrópolis, que era afastada, me deixando isolado. Eu preferia assim. Minhas roupas
simples e barba faziam qualquer um acreditar que eu era um humilde trabalhador. O que
agradecia, pois era bem provável que se me reconhecessem, seria linchado.
Cassandra estava desolada com a queda do poder podre que tanto ela se gabava. O divórcio
saiu semana passada, e quando a louca falou de Marina, me acusou de coisas absurdas. Não me
contive, segurei seu pescoço com força, deixando-a sem ar, e quando a soltei, disparei um tapa.
Um tapa que jamais diminuiria a minha covardia por tê-la deixado maltratar minha filha embaixo
do meu nariz. Fiquei contente por Cassandra também ter caído, merecíamos isso. A família dela
dependia de mim, pois eu havia encaixado todos em cargo comissionado e com a minha saída,
perderam o emprego. A família da Cassandra faliu nos negócios empresariais, e para não ficarem
na rua, cedi com má vontade esses cargos.
Minha neta completou um ano de idade, infelizmente não participei da sua festa. Theo ligou me
convidando, mas a vergonha era tanta que recusei o convite alegando estar cansado. Eu me sentia
em paz quando meu neto, meu sonhado neto, passava o final de semana comigo. Marina não foi
contra isso, segundo seu marido Enrico, que mantinha contato comigo por causa do Theo.
É triste saber que Cássia se uniu ao nojento do Marcus para tirar a vida da minha mãe. As
últimas notícias que tive, foi que ela havia confessado que Marcus era seu cúmplice, e agora os
dois estavam nas mãos da justiça. Ele poderia até ter escapado de ser preso por roubar o próprio
país, assim como eu, mas não escapou dessa ação delituosa. Eu tinha certeza que Falcão faria de
tudo para mantê-lo em condenação.
— Comprei o jantar. — Avisou Cassindy ao entrar na cozinha.
Ela deixou tudo para trás, e chorou em meus braços dizendo que mudaria, que aquela não era
ela e sim uma personagem criada por Cassandra. Eu estava orgulhoso da sua decisão e pela
primeira vez sentia que era pai. Apoiei a sua decisão de começar a faculdade de pedagogia a
distância. Agora, Cassindy era professora primária de uma escola pública, a qual deveria ter
recebido reforma e merenda regularmente e por minha ganância, estava passando necessidades.
A diretora a contratou, pois professores estavam em falta. Vivemos com seu salário e o pouco que
eu ganhava fazendo bicos pela cidade.

Muitos anos atrás...

Não aguentava mais ficar com a corrente em volta do meu tornozelo. Meu pé estava inchado,
minha garganta seca, meu estômago roncando de fome. Eu queria fugir daqui. Odiava o meu pai.
— Espero que aprenda de uma vez que você não deve brincar, muito menos com os filhos dos
empregados. Estude para um dia ser um homem de verdade.
Minhas pernas, braços, costas estavam ardendo. Minha mãe tentou impedir que meu pai me
arrastasse e batesse em mim, mas acabou sendo agredida. Eu era um covarde, precisava mostrar a
esse homem que eu tinha capacidade para qualquer coisa.
— Eu aprendi.
Encarei a feição do homem que passava uma imagem de ser digno, respeitoso. Se soubessem que
ele era o diabo. Estou há dezessete anos vivendo com humilhações, constrangimento, tortura física, mas
o pior era quando ele mexia com a minha cabeça.
— Nunca se esqueça que é um Medeiros. Temos uma reputação a zelar. Espero que não seja um
molenga, e prove do que é capaz. Não importa quem esteja no seu caminho. O importante é vencer
no final. Tudo tem um preço, Ricardo.

Minha terapia era o meu neto. Infelizmente ainda tinha pesadelos com o monstro Juliano
Medeiros. Um pai de família violento, podre.

ENRICO
A festa de aniversário da Vitória foi uma graça. Fizemos a festinha em nossa casa, e
convidamos os amigos mais próximos. Já que a minha princesinha era pequena, não aproveitaria
uma festança com direito a brinquedos e tudo mais. Quando ela estivesse com cinco anos, faríamos
a festa dos seus sonhos. Como esperávamos, no final do parabéns ela mergulhou sua mãozinha
danada no bolo, mas comemos assim mesmo.
Com tudo o que aconteceu com a família Medeiros, se é que eu poderia defini-los assim, me fez
pensar em todos esses anos que ignorei meu pai. Não dei uma trégua, estava ferido demais. Mas o
destino trabalhou bem quando o colocou como marido de minha sogra, o homem admirado por
dona Elisa, minha esposa, meus filhos. Por que eu não conseguia perdoar meu pai? Eu achava que
já tinha chegado o momento de seguirmos em frente, sem nos machucarmos.
— Está um belo dia. — Comentou meu pai.
Estávamos sentados em um banco, admirando a beleza do Jardim Botânico. Decidimos vir
andando, afinal, minha residência ficava perto daqui.
— É sempre bonito o final de tarde.
Eu não poderia mais continuar guardando mágoa do meu pai, mesmo sabendo que por pouco
não perdi a vida por sua causa, mais alguns segundos e teria sido fatal. Eu o perdoarei pelos meus
filhos, e principalmente para que eu encontrasse essa libertação.
— Eu tinha apenas sete anos.
Não consegui encarar seus olhos.
— Mio figlio....
— Apenas escute, pai. — Pausei, tentando manter a emoção controlada. — Eu sei o quanto a
morte da minha mãe nos afetou. Imagine como me senti, fiquei perdido, mesmo assim não deixei o
luto tomar conta de mim, porque eu ainda tinha você, pai. Na minha mente, o senhor ficaria comigo
e juntos continuaríamos vivendo, mas o senhor se fechou, começou a beber, esquecia de tudo. Até o
dia que sem querer escorreguei e caí dentro da piscina. Gritava o seu nome com tanta força.... A
sorte é que meu avô chegou na hora e fui salvo a tempo. Eu não queria mais ver o senhor, fiquei
magoado, decepcionado.
— Vivo com a culpa. Quando seu avô o levou para morar com ele, eu acordei. Perdi sua
infância, adolescência e início da fase adulta.
Olhei para a fisionomia triste de meu pai, vendo suas lágrimas seguirem caminho por seu rosto.
Eu também tive culpa, afastei todas as tentativas dele de nos aproximarmos, tentar esquecer
aquele dia. Eu adiei esse momento por orgulho, pensando ser o senhor da razão.
Quem era eu para julgar meu pai? Ninguém. Quando falhamos, Deus continuava lutando por
seus filhos em silêncio. Errei como filho, deixei a mágoa poluir minha cabeça.
Eu me aproximei mais do meu pai, abraçando-o. Apertei meus olhos, deixando todo o choro que
há anos guardei, sair. Suas mãos afagavam minhas costas, nosso choro era silencioso e eu sentia
que era um recomeço. Eu tinha certeza que irámos recuperar o tempo perdido.
— Perdão, perdão, pai.
Ele segurou o meu rosto e sorrimos entre as lágrimas, depois beijou a minha testa, e ali selamos
uma nova história.
— Eu que peço perdão, figlio. Desculpe-me pela ausência... Por tudo que negligenciei. Eu te
amo!
— Eu também.

MARINA
Foi doloroso ouvir todo o relato da Cássia. A sentença foi cheia de emoções, as quais tinha
vontade de descontar em Cássia e Marcus. Ela confessou que eram amantes e como o plano surgiu.
Nem tinha por onde correr, as provas apontavam para ela, e seu depoimento e afirmação perante
o juiz, facilitou a derrota do Marcus Alvarez.
Cássia foi condenada a vinte anos, sem direito a nada, e Marcus quinze anos, juntamente com a
pena pela corrupção que cometeu durante todo seu cargo político. Guilherme, pai do Marcus,
estava sendo procurado pela polícia depois que os oficiais encontraram provas do envolvimento
dele com lavagem de dinheiro.
— Está melhor, meu amor? — Indagou baixinho, acariciando os meus braços.
Estávamos na banheira fazia mais de uma hora. Depois de um dia tenso assistindo a audiência,
cada um seguiu para o seu trabalho. Enrico pediu para que eu ficasse em casa descansando, mas
eu preferi ir para a Blindados ocupar a mente.
— Sim, mas ainda estou com aquela sensação estranha.
Fazia três dias que eu sonhava que estava segurando uma rosa vermelha manchada de
sangue. E acabei me afligindo, pois parecia tudo tão bem… Não podia nem imaginar algo ruim
acontecendo conosco.
— Pode ter sido o stress desses últimos dias. O que acha de planejarmos uma viagem. Apenas
nós dois.
Eu pretendia responder, mas um gemido me escapou quando começou a apertar meus seios e
ao mesmo tempo cravei minha unha em sua coxa. Com a onda de prazer, fiquei inebriada quando
puxou o bico dos meus mamilos, dando um leve beliscão.
— Assim... Assim eu não consigo, por favor...
Virei meu rosto de lado, alcançando sua boca. Brinquei com seus lábios, raspando meus dentes e
umedecendo-os com a minha língua, arrancando sons roucos. Ele continuou com a carícia em meu
seio esquerdo, enquanto sua mão direita escorregava lentamente pela minha barriga, e fechou-se
em meu sexo.
— Minha. — Murmurou, soltando meus lábios, e os deixando cair em meu pescoço.
Adorava a maneira que nos entregarmos de corpo, pois tem amor envolvido.

Ricardo
O final de semana chegou e Ricardo não podia conter o sorriso no rosto, tudo porque passaria
esse tempinho com seu neto. Como de costume, pegou o ônibus na rodoviária de Petrópolis para ir
buscar Theo.
Mesmo sem condições e por ainda manter um pouco de orgulho, fez o acordo de buscar e
deixar Theo na rodoviária. Ele passava a semana inteira trabalhando em pequenos bicos e
juntando a quantia necessária para ajudar nos custos da casa e comprar as passagens de ônibus.
Quando chegou em Petrópolis, sabia que poderia ter um emprego com carteira assinada, afinal,
era um homem culto. Estudou nas melhores escolas e cursou o ensino superior na melhor faculdade
particular do Rio de Janeiro. Mesmo assim, preferiu viver de bicos, pois a última coisa que queria
era chamar a atenção. Sua imagem fora derrubada, nada mais poderia ser feito. E ele aceitou
esse fardo, colocou em sua cabeça que tudo que estava passando era pouco pela maldade e
desrespeito que tinha feito com as três mulheres que mais amou em sua vida: sua mãe, filha e Elisa.
— Nossa vovô, o senhor é péssimo. — Diz Theo ao avô por novamente ter perdido a bola de
futebol com uma jogada.
Ricardo sorriu, e cansado acenou para o neto, chamando-o para se sentarem em um dos bancos
vagos do Parque Natural Municipal da cidade.
— Não tenho mais idade para isso. — Avisou Ricardo, tomando um longo gole de água da
garrafa que trouxe de casa.
Theo riu, se sentando ao lado do avô.
— Eu posso ajudá-lo a se tornar profissional.
Admiração e orgulho eram as palavras que surgiam na mente do Ricardo toda vez que olhava
o neto, e pensava no quanto ele seria um homem honesto e que poderia trazer uma nova chance
aos futuros Medeiros. Ele acreditava que Theodoro Mendes Medeiros Alvarez varreria toda a
sujeira que seu pai e ele deixaram na política.
— Sei que pode. Quero pedir algo muito importante para você.
Theo encarou o avô, curioso, como qualquer criança de dez anos de idade.
— O quê?
— Quando tiver idade suficiente, entrará para a política e limpará toda a bagunça que eu fiz,
manchando o nome da nossa família. Promete, Theo? — Segurou as mãos do neto.
O menino sabia que seu pai biológico foi um corrupto, assim como seu avô Ricardo, que neste
momento pediu algo que nunca passou por sua cabeça. Theo ainda estava na fase de mudar de
ideia sobre a futura profissão todos os dias, mas naquele momento, vendo seu avô Ricardo pedir
para que ele recuperasse a imagem da família Medeiros, parecia ser o certo a fazer.
— Eu prometo, vovô Ricardo. Quero ser o herói da nossa nação.
Ricardo sabia que a promessa de infância do neto seria cumprida.
Dentro do ônibus indo para o Rio, Ricardo ouvia com atenção as artes danadas que sua neta
Vitória aprontava. Theo também comentava os acontecimentos do dia a dia, deixando-o feliz por
ter essa participação na vida de seu amado neto. Por menor que fosse.
Um motorista perdeu a consciência enquanto dirigia o caminhão, fazendo-o se chocar com o
ônibus de viagem. Ricardo sentiu os sons da freada brusca, os pneus se arrastando no asfalto, os
gritos dos passageiros, choro de crianças, o medo nos olhos do seu neto, e a única coisa que
conseguiu fazer foi cobrir Theo com seu corpo, transformando-se em um escudo humano, então
disse as últimas palavras ao neto:
— Eu protejo você, meu neto.
O impacto dos dois transportes foi uma verdadeira cena de filme. Meia hora depois, sirenes de
ambulância e corpo de bombeiros preenchiam o local. A equipe de resgate fazia o melhor possível
para atender algumas pessoas que ficaram presas nas ferragens. Entre elas, Ricardo estava com
as pernas presas entre os ferros, e sua coluna tinha sofrido um trauma muito grande. O bombeiro
se emocionou com a forma que o senhor havia protegido o garoto com seu próprio corpo. O
menino tinha apenas um corte acima da sobrancelha direita e estava inconsciente.

***
ENRICO
Estávamos esperando Theo na rodoviária, pois Ricardo fazia questão de buscá-lo e deixá-lo ali.
Eu acreditava no amor que Ricardo sentia pelo neto, seu olhar brilhava e o sorriso crescia. Sem
dúvida, Theo fazia bem a ele. Apesar de estar falido e publicamente humilhado, agora seguia sua
vida de maneira decente.
Marina estava inquieta, e seu pressentimento e nervosismo com o atraso do ônibus de Petrópolis
se confirmou quando o representante do transporte rodoviário deu a notícia de que o ônibus que
saiu de Petrópolis com destino a rodoviária se envolveu em um acidente grave. Mesmo informando
que o corpo de bombeiros e paramédicos já estavam no local, nós não conseguimos nos
tranquilizar.
Desnorteado e temendo que algo grave tivesse acontecido ao nosso filho, eu pedi para o
Maurilio dirigir o mais rápido possível. Um mar de pessoas estava lá, algumas chorando a plenos
pulmões, paramédicos carregando feridos, bombeiros tentando acalmar e resgatar as vítimas.
Andando entre as pessoas, desesperados, encontramos uma maca no chão onde um paramédico
aplicava algo em nosso rapazinho. Minha esposa se aproximou entre lágrimas com as mãos
trêmulas e suando frio.
— Meu Deus. Theo.
— Uma nova ambulância está chegando, senhora. O menino teve muita sorte, muita mesmo.
Aparentemente ele parece perfeito, apenas um corte acima da sobrancelha. Assim que ele chegar
ao hospital será realizado exames completos, pois pode ter sofrido alguma fratura interna.
— Vou com ele na ambulância. — Avisou minha esposa, segurando a mão do nosso filho,
ajoelhada no asfalto.
— O senhor que estava com ele não teve muita sorte, temos quase certeza que ficará com
sequelas graves. Ele já foi encaminhado para o hospital pelo estado crítico em que se encontra.
Vi muita tristeza nos olhos da minha esposa. Ela ainda não havia perdoado o pai, era um
assunto que a machucava, mas eu sabia que Marina conseguiria perdoá-lo, mesmo que não tivesse
uma relação de pai e filha.
Estamos no hospital faziam três horas, onde nosso filho tinha realizado todos os exames, e
felizmente estava bem, mas continuava dormindo devido aos medicamentos aplicados. Nesse meio
tempo, acabei ligando para os nossos pais, avisando sobre o trágico acidente.
— Infelizmente, não tenho notícias boas do paciente Ricardo Medeiros.
O hospital estava uma loucura por conta do acidente, mas a equipe sabia trabalhar bem,
guiando todas as vítimas de acordo com o grau de necessidade, tornando o trabalho mais eficaz.
— Fale de uma vez, doutor. — Pedi, ao ver a sua feição tensa.
— Ele ficou tetraplégico. Seu corpo sofreu lesão na medula espinhal. — Segurei com cuidado o
corpo da minha esposa, que ficou mole com a notícia. — O paciente viverá totalmente dependente,
infelizmente, não há muito o que fazer.
— Não! Não! Não! — Berrou Marina, chorando. — Ele não pode viver assim! Ricardo é meu
pai, doutor, eu… Por favor, faça alguma coisa, por favor... Juro que nunca desejei isso a ele. Por
favor! — Suplicou, segurando o jaleco do médico, que tentava controlar a emoção.
— Não posso fazer nada. Se preferirem, podemos estudar uma forma mais viável para ele
viver da melhor forma possível, assim o paciente morreria de maneira mais confortável, quando
chegar a hora. Saberemos por completo o quadro clínico do Ricardo amanhã.
O médico se retirou enquanto eu tentava assimilar tudo aquilo. Agarrei Marina em um abraço
forte, tentando de alguma forma confortá-la. Seu corpo sacudia e tremia de um jeito que nunca vi
antes.
— Ele não pode viver assim e nem morrer assim. — Falou com a voz embargada.
Eu seria capaz de guardar todas as maldades que Ricardo fez contra a minha esposa no
passado para ser lembrado de forma heroica. Se estivéssemos em um julgamento, eu o absolveria
de tudo. Por que eu faria isso? Ele foi o anjo do meu filho. Isso bastava.
CAPÍTULO 26 – ATÉ O ÚLTIMO SUSPIRO

MARINA

Fiquei o tempo todo ao lado de Ricardo. Era horrível vê-lo naquele estado, e seria mais difícil
ainda quando acordasse e soubesse que ficou tetraplégico. Deus do céu, como eu contaria isso?
Infelizmente ou felizmente, não precisei falar nada.
Quando fechava os olhos, ainda conseguia ouvir o som dos aparelhos que estavam ligados ao
seu corpo. Anunciando que ali seria o fim. Gritei, chamando enfermeiros, médicos qualquer pessoa
que passava pelo corredor. Segurei sua mão pálida, beijei e pedi perdão. De alguma forma, me
sentia culpada, pois eu deveria ter ido atrás dele, afinal de contas, éramos pai e filha, mas o meu
orgulho foi mais forte.
Ele se foi. Meu pai, Ricardo, se foi. O médico que estava cuidando dele disse que ele deveria
acordar no dia seguinte, mas então veio a bomba quando explicou que Ricardo estava em coma, e
que tudo agora era uma questão de tempo. Seu estado clínico apontava o quanto estava fraco.
Uma semana foi o tempo que pude ficar ao lado do meu pai. Enrico entendeu minha vontade,
então assumiu toda a responsabilidade de casa. Theo visitou o avô todos os dias, e sempre trazia
seu caderno. O caderno que escreveu vários discursos para quando fosse eleito Presidente do
Brasil.
Eu não questionei nada, poderia ser uma coisa de criança, mas ele também sabia da linhagem
política de seu avô, e constatou que isso o ajudaria, o deixaria feliz. Eu gostava de acreditar que
Ricardo ouvia tudo que eu falava para ele. Ali, entenderia todas as minhas mágoas e poderia me
conhecer melhor.
Eu queria ver aqueles olhos azuis tão profundos abertos e poder dizer que gostaria de um novo
recomeço entre nós. Era óbvio que nunca poderíamos voltar atrás e consertar os erros, mas
poderíamos tentar resgatar algo. Incrível, parecia que tinha que acontecer uma tragédia para
enxergarmos o que insistíamos em não ver.
Eu não poderia viver prisioneira do passado, e seria assim que eu viveria se nunca perdoasse
Ricardo. E finalmente consegui sentir uma leveza, um ar puro, um sentimento bom.
— Eu perdoo você.
Deixei uma rosa branca em cima da sua lápide. Parecia que tinha sido ontem a semana que
passei ao lado dele no hospital, mas já havia passado um mês. Do outro lado, se encontravam os
outros membros da família Medeiros já falecidos. Antes, eu vinha visitar a lápide da vó Glória, mas
agora viria pelo meu pai também.
O homem que causou tanta dor no meu passado e da minha mãe, nos poupou de sentir uma dor
maior se Theo tivesse sido atingido naquele trágico acidente. Ricardo cobriu o neto como um
verdadeiro escudo. Ele salvou Theo.

ENRICO
Era adorável ver meus filhos brincando, livres pelo vasto quintal. Vitória era a menininha mais
doce do mundo. Ela era única. Agora só queria saber de andar para cima e para baixo, mexendo
nas coisas, para a perturbação da minha esposa que temia que nossa filha acabasse se
machucando.
Theo estava melhor, sua feição de rapazinho alegre estava voltando a fazer parte do seu rosto
novamente. A perda de seu avô o deixou em um luto intenso, ficamos receosos que ele entrasse em
depressão.
Felizmente ele melhorou aos poucos, retornando para as suas atividades. Sempre muito centrado
nos estudos, habilidoso nos esportes que praticava, principalmente no futebol. Comentei com Marina
a respeito de nosso rapazinho ser tão determinado e saber liderar, ter o controle. Se era assim
com apenas dez anos de idade, imagine quando ficasse mais velho.
— Trouxe um pouco para você. — Disse a minha esposa, me entregando uma taça de creme de
maracujá.
— Humm, parece delicioso. — Levei um pouco do doce à boca, saboreando.
Ela se sentou ao meu lado, no degrau. Como cheguei cedo do trabalho, aproveitei para brincar
com meus filhos, porém cansei e decidi ficar somente observando, nessa tarde fresca.
— Eles estão crescendo. — Encostou a cabeça no meu ombro.
— Então vamos logo começar a fazer novos filhos.
Ela riu, beliscando de leve o meu braço.
— Nem comece, Enrico!
Enruguei o nariz em desgosto. Eu queria pelo menos uns cinco filhos, e minha esposa deseja o
mesmo, eu sabia disso. Entretanto, preferia esperar mais.
— Não me faça arrastá-la pelo cabelo até o nosso quarto. — Murmurei, recebendo uma
mordida no ombro. — Ok, faremos do seu jeito, mulher teimosa.
— Assim é bem melhor. — Cochichou entre meus lábios. — Eu te amo, Enrico. Sem você, tudo
era vazio. Você foi um dos melhores presentes que eu poderia receber nesta vida.
Coloquei a taça no chão, me virando para ela.
— Quero saber agora quem são os outros. — Falei, humorado.
— Nossos filhos, seu convencido. — Eu a abracei, inalando o cheiro bom do seu cabelo sedoso.
— Bom, no meu caso tem outra mulher que me deixa louco. — Ela me encarou, tentando achar
algum vestígio de brincadeira, porém eu estava sério.
Eu amava as duas mulheres que viviam dentro da Marina. As duas me fascinavam de forma
absurda. A primeira era o seu lado loba, pronta para lutar, defender e enfrentar os obstáculos; a
segunda era o seu jeito menina, mãe, dócil, companheira, sensual.
— Sabe que eu sou ciumenta.
— Se encostar um dedo nela, eu juro que vou deixar sua bunda gostosa toda marcada. —
Pousei minha mão em sua nuca, segurando-a entre os cabelos com força. Ela estava excitada, e eu
também. — Adoro a loba que vive em você, Marina. Minha Loba.
Passei meus lábios por cima do seus, antes de tomar sua boca em um beijo carinhoso. Queria
poder ir além, mas nossas crianças estavam a poucos metros de distância.

MARINA
Há três dias Guilherme, que até então estava foragido da polícia, foi preso no aeroporto de
Porto Alegre. E ontem, Edson Alvarez, avô do Marcus, apareceu em minha casa querendo conhecer
o bisneto.
Seu Edson afirmou que seu filho e neto esconderam tudo dele. Com o escândalo político
envolvendo sua família e agora com Marcus e Guilherme presos, ele retornou da sua viagem e
trouxe uma cópia do seu testamento onde deixava toda a herança para Theo, agora que sabia da
sua existência.
Enrico leu o documento com cuidado, afinal, não conhecíamos o senhor Edson. Tentei convencê-lo
a não deixar nada para o Theo, já que o meu filho não precisava de nada disso, mas o senhor
Alvarez fazia questão disso, já que sua riqueza veio de muito trabalho e esforço. Por fim, assinei a
cláusula sendo a administradora da fortuna do meu filho até que Theo alcançasse a maioridade.
— Marina, a senhorita Cassindy acabou de chegar. — Avisou Louise, entrando no quarto da
Vitória.
— Você poderia, por favor, olhar Vitória, enquanto eu estiver conversando com ela?
— Claro.
Desde o falecimento do nosso pai, eu e Cassindy voltamos a ter contato. Nunca pensei que ela
se tornaria uma mulher simples, trabalhando e estudando, construindo sua vida da maneira que
desejava, sem a pressão da megera da sua mãe. Que pelo visto, sumiu do mundo.
— Sua casa é linda. Parece com você.
— A verdade é que mudei pouca coisa, o resto é obra do meu marido. Quer comer ou beber
algo?
— Não, eu estou bem. Estou curiosa para saber o que tanto quer falar comigo.
— Quero sua felicidade, Cassindy. — Eu sorri, admirando a nova mulher que ela se tornou. —
Eu soube que ganha pouco na escola onde você leciona, e o dinheiro é bem apertado, pois
também arca com o custo da sua faculdade. Adoraria que aceitasse que eu pagasse todo o custo
da sua faculdade e comprasse uma casa melhor, mais segura.
Ela sorria e chorava. Me sentei ao seu lado, abraçando-a com carinho. Esquecendo as dores
que me causou no passado em nome de um novo recomeço.
Conversei com meu marido e ele assinou embaixo da minha decisão em ajudar Cassindy. Theo
me contou que o avô ajudava nas despesas da casa com pequenos bicos, poderia ser pouco,
contudo faria falta, e eu queria ver a minha irmã feliz.
— Eu não mereço nada disso. Será que já esqueceu o que fiz a você?
— Não esqueci! Confesso que guardava muita mágoa, e mesmo sem perceber, sabia que aquilo
me fazia mal. Vamos começar devagar. Ainda é recente a perda de nosso pai, mesmo que seja
triste, o falecimento dele nos aproximou. Abriu meus olhos.
— Nem sei como lhe agradecer.
— Continue sendo verdadeira. Termine sua faculdade, aceite minha ajuda e principalmente,
encontre um amor.
Eu a abracei novamente, sentindo algo que nunca tivemos antes. Carinho.
CAPÍTULO 27 – PARA SEMPRE

MARINA

Felicidade era uma palavra que não poderia descrever o que eu estava sentindo. Planejei cada
detalhe do nosso casamento. As flores, convites, arranjos, absolutamente tudo foi escolhido a dedo
por mim e meu adorável marido mandão.
Como disse nosso filho “estávamos um grude só”. Era incrível quando encontrávamos a pessoa
certa. Tudo se encaixava perfeitamente, e mesmo existindo problemas, sabíamos que no final
estaríamos juntos. Eu pensei que fosse a mulher errada para Enrico, mas ele sempre foi o homem
certo para mim, o tempo todo.
Meu vestido de noiva estilo sereia abraçava todas as curvas do meu corpo, e eu nunca me senti
tão linda. Eu continuo lidando com a minha baixa autoestima, mas com o com apoio do meu marido,
nunca mais tive uma crise. E como teria? Enrico abriu meus olhos que antes estavam tampados com
um véu negro. Meu cabelo estava espetacular com uma trança embutida, feita pelo profissional
que veio até a minha casa.
— Oh, meu serzinho. — Exclamou minha mãe, entrando no meu quarto. — Enrico ficará chocado
de tão linda que está.
Passos apressados tomaram conta do ambiente, logo me emocionei ao ver minha filha
parecendo uma verdadeira princesinha com o cabelo louro e olhos azuis cintilantes. A cópia do pai.
Logo meu filho entrou, rolando os olhos, então eu poderia apostar que ela aprontou algo.
— Madre... — Abraçou minhas pernas.
Vitória estava misturando o português, italiano e enrolando tudo junto, pois ainda estava
aprendendo a falar. Ela escutava o avô Albestini pronunciando algumas palavras em italiano, e
uma vez ou outra, Enrico também falava. Difícil era quando ela ficava zangada e ninguém
entendia o que pronunciava, nossas barrigas doíam de tanto que gargalhávamos. Ela era um doce,
contudo tinha um gênio feroz.
— Mãe, ela ficou com birra só porque pedi para ela esperar enquanto falava com a filha do
vizinho.
Como um verdadeiro Falcão, minha filha era ciumenta ao extremo.
— Theo, você sabe o quanto essa princesa é sensível. — Pisquei para o meu filho, sabendo que
o único jeito de desfazer o bico da irmã era agradando.
Meu menino estava crescendo. Continuava esperto, dedicado e carinhoso. Entretanto, eu sabia
que Theo ainda tinha um olhar meio melancólico. Pensei em levá-lo ao psicólogo, mas Enrico disse
que deveríamos dar tempo ao tempo. Nem o melhor profissional do mundo seria capaz de dissipar
a dor da perda. Então eu preferia esperar, mas sempre mantinha meus sentidos atentos em relação
ao meu filho.
Ele suspirou, segurando um riso, depois agachou-se atrás da irmã, tocando seu bracinho
gordinho e murmurou:
— Não fique brava com seu maninho, dengo meu.
Vitória, que até então mantinha o rosto grudado em minhas pernas, virou de relance, encarando
o irmão como se fosse sua coisa favorita no mundo. Eu não duvidava disso.
— Esses dois são um dengo só. — Cochichou minha mãe, assim que Vitória se agarrou ao irmão.
Admirei o lindo vestidinho feito sob medida, especialmente para hoje. O traje ficaria melhor
caso ela tivesse concordado em colocar os sapatinhos, mas minha filha argumentou que ficaria mais
bonita ainda usando as botas de caubói. Ela estava na fase onde descobria os seus gostos. Nós
dávamos liberdade para isso, mas achei que deveria intervir pelo menos hoje.
— Essas botas estão uma graça. — Falou Louise, assim que se aproximou com meu buquê de
rosas azuis. — Maurilio já está no carro esperando por vocês.
Quando o carro estacionou em frente à Igreja São Francisco de Paula, localizada no centro da
cidade maravilhosa, por um momento pensei que tínhamos exagerado. Estava parecendo
casamento da realeza. Maurilio abriu a porta do carro, logo meus filhos saíram, depois minha mãe
e com sua ajuda, saí sem fazer estrago algum no meu vestido.
— Pronta, filha?
Enlacei meu braço no seu, respirando fundo, e respondi:
— Sim.
A macha nupcial começou a tocar, e assim fomos caminhando em direção ao altar, onde o
homem que mudou minha vida estava me esperando com um sorriso caloroso, apaixonado e com os
olhos marejados.
Pedi para a minha mãe para entrar comigo na igreja. Ela chorou entre sorrisos, nesse dia.
Albestini e seu Arthur se colocaram à disposição, mas explique que dona Elisa, minha mãe guerreira
seria a melhor pessoa para fazer esse caminho da felicidade abençoado por Deus.

ENRICO
Nada mais mudaria. Agora seria para sempre. Marina estava gravada em mim de tantas
formas, que nenhum obstáculo derrubaria nosso amor. Quanto mais tempo passava ao seu lado,
mas eu queria, e parecia que o sentimento ia além desta vida.
Fizemos nossos votos, e não consegui esconder a emoção e o sorriso vitorioso e apaixonado do
meu rosto. Assim que coloquei a aliança no dedo da minha esposa, chamei meus filhos Theo e
Vitória, então me agachei na frente deles e meu avô se aproximou, me entregando uma caixa de
veludo branca. Coloquei no pulso de ambos uma linda pulseira de ouro que tinha o pequeno
símbolo do infinito. Minutos atrás tinha feito uma promessa de amor eterno para a minha esposa, e
agora fiz o mesmo com os meus filhos.
— Eu prometo que sempre estarei com vocês e para vocês. Oro agradecendo a Deus por tê-los
colocado em minha vida, e peço que ele ilumine e abençoe suas vidas. Amo tanto vocês, que
acredito que essa vida é curta demais para que eu consiga demonstrar isso e o meu objetivo diário
é fazer da mãe de vocês, a mulher mais feliz desse mundo. Eu sempre irei respeitá-la, amá-la com
todo meu coração. Eu vivo por vocês.
Vitória ficou com os lábios trêmulos, ela era muito bebê para entender por completo a
intensidade das minhas palavras, mas ela sentia. Theo me abraçou, assim como a irmã. Beijei a
cabeça de ambos e me levantei com minha filha nos braços e segurando a mão do meu filho.
Finalmente o padre disse pode beijar a noiva, então selei meus lábios com os da minha esposa em
um beijo demorado e cheio de carinho.

MARINA
A festa estava animada. Dancei com meu marido, o senhor Arthur, meu filho e meu pai do
coração, Albestini. Contratamos uma equipe de fotógrafos, e além deles havia um batalhão lá fora,
afinal, Enrico era um homem influente e eu fiquei conhecida como a filha rejeitada do ex-senador
Ricardo Medeiros. Não me importava com as especulações, o importante era que eu sabia a
verdade.
O partido político do Ricardo simplesmente se desfez. Perdeu credibilidade e sinceramente, era
um assunto que não me interessava. Uma vez ao mês eu visitava a lápide da família Medeiros, já
que a minha vózinha e meu pai estavam lá.
— Gostaria de dançar comigo? — Perguntou Osmar.
Ele e Enrico estavam se dando bem, eu havia compreendido que a rixa que os primos tinham
era puro ciúme de Albestini, pois quando meu marido foi morar com o avô, seu primo se tornou
como um filho para Albestini, depois que ele se recuperou da perda da falecida esposa.
— Ela vai dançar com o marido dela! — Enrico falou, e eu bufei, fazendo Osmar rir.
— Acontece, marido, que eu quero dançar com o meu amigo.
Ele se aproximou, sussurrando:
— Então vai esposa! Hoje à noite eu te pego.
E se afastou, indo em direção ao avô.
Dancei duas músicas com Osmar, que estava radiante por namorar Beatriz, uma moça que
conheceu na cafeteria. Sentindo a garganta seca, bebi um copo de água quase que em um gole
só.
— Enrico, comentou que você não bebeu vinho. — Disse Lucas. Fiz uma careta, querendo me
chutar por não ter guardado segredo.
Fazia três semanas que eu tinha descoberto que estava grávida. Pela terceira vez. Eu havia
decidido fazer primeiro o teste de farmácia, e acabei fazendo dois, no escritório da Blindados, e
Jordana estava comigo. Logo em seguida, Lucas, que agora era namorado dela, pediu para usar
o meu banheiro, uma vez que o dele estava em manutenção, e saindo apressada do banheiro,
acabei esquecendo os testes em cima da pia. Lucas acabou vendo-os e ficou mais branco que
papel, já imaginando que os testes seriam de Jordana, então tive que contar toda a verdade para
ele.
— Nem venha com gracinhas! Ele só saberá mais tarde, e vai ficar puto porque não foi a
primeira pessoa a saber.
Eu bem que adoraria beber vinho, mas eu zelava ao máximo a saúde desse serzinho crescendo
no meu ventre.
— Ok, sócia. — Ele sorriu. — Tenho certeza que a Blindados crescerá muito mais com nós dois
comandando tudo.
— Pode ter certeza, Lucas.
Acabei aceitando ser sócia de Lucas, mesmo sabendo que eu gostava de trabalhar na área
externa, ele planejou tudo isso. No começou eu estava relutante, mas pensei melhor, pois meu
marido e filhos precisavam que eu estivesse inteira, disposta. Eu não queria negligenciar a minha
família.
Avistei minha irmã e pedi licença para Lucas. Fiz questão que ela participasse dos preparativos
do meu casamento. Assim que me aproximei, acariciei seu barrigão de seis meses. Cassindy havia
me confessado a vontade enorme de ser mãe e sem pensar duas vezes, eu a incentivei a procurar
um especialista, juntamente com o seu noivo Rogério, e cobri todas as despesas. Rogério me parecia
um homem muito trabalhador, proprietário de uma pequena empresa de alimentos em Petrópolis. O
olhar dos dois demonstrava o quanto se amavam. No começo, ele quis recusar minha ajuda
financeira, mas afirmei que esse seria o meu presente de casamento adiantado.
— E como está esse menino? — Passei a palma da mão com carinho em sua barriga coberta
pelo vestido longo de cor bege.
— Crescendo muito. — Disse Rogério, beijando o rosto da minha irmã.
— Eu chorei tanto na igreja, que precisei refazer a maquiagem. — Murmurou Cassindy,
sorridente.
Em uma das nossas conversas, ela disse que gostaria que sua mãe tivesse mudado. Eu preferi
não dizer nada a respeito, apenas queria que Cassandra tivesse o que merecia.

ENRICO
Pele bronzeada naturalmente, cabelo longo e escuro espalhado cobrindo parcialmente seus
mamilos, curvas perigosas. Uma verdadeira mulher brasileira. Salto alto e uma minúscula calcinha
de renda branca eram as únicas coisas que ela vestia. Indecente, pura e linda.
Ela fechou os olhos assim que meus lábios encostaram nos seus, dando uma leve mordida, eu a
fiz gemer. Ela abriu a boca e eu a beijei sofregamente, agarrando seu bumbum redondinho.
Minhas mãos subiram e logo se fecharam em seus peitos durinhos. Deixei sua boca para marcar
seu pescoço com chupadas seguidas de beijos.
Eu me sentei na beirada da cama e a puxei para mim. Fiquei de frente, encarando seu corpo
em pé e beijei seu ventre, onde estava nosso bebê. Quando ela me presenteou com uma roupinha
minúscula, eu a peguei em meus braços de forma carinhosa, apenas beijos e abraços. E agora
estávamos em nossa lua de mel, na nossa casa de praia que comprei aqui em Búzios.
Segurei as laterais de sua calcinha e a puxei, escorregando por suas coxas e pernas. Ela tirou o
salto com seu olhar escuro cheio de desejo, parecendo que a qualquer momento seus joelhos iam
ceder. Beijei seu sexo, e penetrei minha língua em seu recanto úmido, brilhando pela excitação. Seus
gemidos eram altos, suas mãos agarraram meus ombros para se manter em pé. A cada chupada
forte, seu corpo estremecia mais. Sensações me golpearam quando minha mulher alcançou seu
prazer.
Então me levantei, pegando-a em meus braços e a deitando na cama. Fiquei entre suas pernas,
de joelhos, admirando sua beleza. As maçãs de seu rosto estavam ruborizadas, e eu sorri, vendo
as nuances que deixei em sua pele macia e cheirosa. Brinquei com o bico de seus seios, beliscando-
os de leve, fazendo-a falar coisas desconexas, logo em seguida suguei forte seus mamilos. Marina
rapidamente abraçou a minha cintura com suas pernas, me impulsionando a ir mais e mais. Ela
colocou sua mão entre nossos sexos, que se esfregavam e começou a acariciar a cabeça de meu
membro. Eu rosnei alto.
— Abra mais as pernas, minha morena gostosa. — Mandei, e ela parou de estimular meu sexo
duro que se erguia para a minha barriga.
Entrei em seu íntimo, soltando vários palavrões de tão gostoso que estava ao ficarmos
encaixados. Movi meu quadril de encontro ao seu de forma intensa, lasciva, erótica. Aguentei ao
máximo para alcançarmos o orgasmo juntos. Então eu a virei de bruços, e com sua bunda
empinada para mim, eu a penetrei atrás. Ela colou suas costas em meu peito, então passei meu
braço esquerdo em sua cintura. Encaixei meu dedo em seu íntimo, arrancando mais gemidos.
Algumas lágrimas escorriam por seu rosto, eu cheguei a ranger os dentes. Ah, porra estava uma
delícia. Fomos a loucura e atingimos o orgasmo violento juntos.
E a noite estava apenas começando.
Passamos uma semana sozinhos em nossa casa de praia. No domingo à tarde, nossos pais e
filhos chegaram, a segunda semana passaríamos com eles. Até nossos cachorros, Lobo e Tatá,
estavam incluídos nessa semana de lua de mel.
— Quem diria que mais um integrante da família estava a caminho. — Disse meu, contente.
Estávamos aproveitando o dia ensolarado na varanda, onde minha sogra e esposa
preparavam uma refeição de lamber os beiços. Era ótimo termos essa área de lazer completa com
churrasqueira e fogão a lenha.
— Estou sentindo tanta felicidade, que não consigo parar de sorrir.
— Imagino, filho.
Meu avô só chegaria no dia seguinte, pois precisou resolver algo relacionado à empresa. Eu
pensei em ir, mas ele me proibiu de sair daqui. O velho Falcão ficou estonteante com a notícia que
teria mais um bisneto.
Eu sorri, vendo Theo correr atrás da irmã e os nossos cachorros entrando na brincadeira. Vitória
estava uma gracinha usando um maiô vermelho de bolinhas branca. Após o almoço, ficamos
descansando um pouco nas espreguiçadeiras estofadas. Minha esposa e filha acabaram
cochilando. Beijei o rosto das duas, antes de me afastar. Meu pai e dona Elisa estavam caminhando
de mãos dadas pela praia, e meu filho estava dentro do mar.
Entrei no mar cristalino, e sorri para o meu rapazinho. Eu e minha esposa sabíamos que ele
ainda sentia falta de Ricardo. O acidente foi muito feio, quando vi as fotos do ônibus, só consegui
pensar que Theo sobreviveu, pois Deus transformou Ricardo Medeiros em anjo caído naquele
instante.
— Pensando em quê, rapazinho?
O mar estava calmo, o sol já estava se pondo, dando uma vista espetacular.
— No quanto estamos felizes. — Sorriu, dando de ombros.
— Então pode pensar à vontade.
Ele riu, encarando a paisagem.
— Obrigado, pai. — Theo se virou de frente. — Você trouxe tudo o que eu e minha mãe
precisávamos. Não me importo de não carregar seu sangue e sobrenome, eu apenas o amo como
meu pai e quero ser como você.
Com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, abracei meu rapazinho. Olhei para o horizonte, e
fechei os olhos, agradecendo por ter essa família.
EPÍLOGO

A família Falcão estava reunida em um típico almoço de domingo. A sensação de paz sempre os
rodeava e os tornava mais forte física e espiritualmente. Era assim que se sentiam quando estavam
reunidos.
Enrico admirava a esposa, que com o passar dos anos continuava linda, e ele tivera a certeza
que sua intuição e amor por Marina sempre foram certeiros.
A enorme mesa de madeira que tinha um banquete feito por sua esposa, filha, sogra com sua
pequena ajuda cortando alguns legumes, era apreciado por todos os presentes. Ele conhecia seus
filhos tão bem, cada gesto que eles faziam, Enrico já identificava se algo acontecia.
Sua filha Vitória tinha hoje vinte e sete anos, sempre seria a princesinha e dengo da família. Ela
era escritora de romances, se graduou em Letras e construiu sua escada do sucesso sozinha. Ele
sabia que sua menina estava sendo muito bem protegida e amada nos braços do marido Daniel.
Ao lado da irmã estava Arthur Neto, que recebeu o nome do seu bisavô. Enrico sabia o quanto
o filho era bom com tecnologia, apesar de nunca ter sido esforçado nos estudos, por Neto, sempre
preferiria estar na frente do computador. Enrico e Marina entenderam que o filho precisava
concluir os estudos e depois o deixaria “voar”, fazendo suas próprias escolhas, afinal, criaram os
filhos para o mundo. Neto assumiu a empresa Version8, a elevando cada vez mais ao mercado
com suas próprias ideias.
Ao lado do seu avô estava o caçula Rafael. Enrico se recorda que desde pequeno o menino
adorava aviões. Hoje era um piloto comercial admirável, o rapaz sempre foi decido, e assim que
concluiu o ensino médio, se matriculou para começar o treinamento de piloto profissional.
E o rapazinho que ganhou seu coração estava sentado ao seu lado direito, hoje era um homem
feito de trinta e cinco anos. Theo estava com sua carreira política feita, e esperavam apenas o
resultado da eleição para Presidente. O rapaz fugiu da correria de Brasília e pegou o jatinho
para voltar à cidade maravilhosa e ter um dia inteiro ao lado das pessoas que amava.
— Sinto falta daquela correria toda dentro de casa. — Murmurou Marina, dengosa, no colo do
marido.
Eles estavam apreciando a noite estrelada, mesmo com arranha-céus ainda era possível admirar
a noite bonita do Rio de Janeiro.
— Eu também. Nossos filhos cresceram e agora andam com os próprios pés. E sabe de uma
coisa, meu amor?
— Diga.
— Fizemos um excelente trabalho com Theo, Vitória, Neto e Rafael. São pessoas de caráter.
— Construímos uma família linda.
— Isso é a pura verdade.
Selou os lábios da esposa em um beijo carinhoso. A paixão e olhar de desejo sempre estiveram
vivos em ambos. O amor real era assim... Sempre continuaria mesmo que se passasse um milhão de
anos.
O casal sabia que os filhos sempre iriam voltar, pois ali era o lar deles. E como pais orgulhosos
e apaixonados que eram, sempre estariam de braços abertos para recebê-los.
SÉRIE OS FALCÃO

LIVRO 1 – O PREÇO DO PODER


LIVRO 2 – MINHA PARA PROTEGER
LIVRO 3 – PARA AMAR E PROTEGER
LIVRO 4 – MEU PARA AMAR

SOBRE A AUTORA

Uma Rondoniense de 19 anos, solteira. Sempre adorou colecionar livros de diversos gêneros, e
desde seus 13 anos encontrou na literatura o seu “mundo”. Há quatro anos mantinha um blog onde
escrevia fanfics, e aos poucos foi chamando atenção de leitores. Em 2014 publicou seu primeiro
romance na plataforma Wattpad.

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