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DAS INVASÕES BÁRBARAS AOS EXÉRCITOS CAROLÍNGIOS

HISTÓRIA MILITAR MEDIEVAL


© José Varandas
OS BÁRBAROS CHEGAM À EUROPA
INVASÕES “MAIS VIOLENTAS”
BÁRBAROS (compostos por várias tribos e de muitas proveniências)

povos bárbaros

das florestas e pântanos das estepes dos desertos


O ARMAMENTO DOS BÁRBAROS
• Os equipamentos Francos, Burgúndios, Alamanos, Saxões e Longobardos eram bastante parecidos. Dispunham de armas
de ferro e muitas das suas espadas eram minuciosamente decoradas com motivos semelhantes: aves de rapina ou
animais serpentiformes que se pareciam devorar entre si.
• A sua longa e cortante espada era a arma mais valiosa, que só os chefes usavam, transmitindo-se de geração em geração
e ocupando um papel proeminente nas lendas. A cota de malha, de preço elevado, também era muito estimada.
• As armas características dos longobardos eram a espada de folha larga e as lanças fortes. Outra arma muito popular entre
os bárbaros era o sax, antecedente do sabre, curto, largo, ligeiramente curvo e de um só gume. Os Francos usavam um
machado de arremesso, curto e ligeiro.
• Os povos nórdicos também usavam lanças de quase três metros e meio, e os escudos dos chefes eram profusamente
decorados. Os capacetes possuíam bandas de metal, alguns com gorjal e correias, outros com viseira e adornados com
cabeças de animais.
• Essas armas metálicas não estavam ao alcance dos homens da tribo, apenas protegidos por capacetes de couro e escudos
redondos de madeira ou de vime forrados de pele, e armados com uma lança ou moca. Embora a maioria dos povos
migratórios preferisse combater a cavalo, lutavam a pé como hordas indisciplinadas e mal armadas, e entre os Francos só
a guarda do rei era montada.
GUERREIROS BÁRBAROS

• Geralmente os soldados de infantaria bárbaros não usavam armadura, nem peitilho, nem capacete. Os
nobres dispunham de uma espécie de elmo, e alguns guerreiros possuíam uma cota de malha, fruto de
despojos. O escudo costumava ser de madeira ligeira ou de vime, com uma peça de ferro central que
servia para bater.
• No fabrico de armas estavam muito atrasados em relação aos Romanos, mas equipavam-se despojando
os mortos e os prisioneiros, ou recebendo armas romanas pela sua condição de federados.
• Por outro lado, a cavalaria dos Romanos e dos Hunos dispunha de arqueiros montados sendo
devastadora. Ao invés, os Germanos não utilizavam arcos a cavalo, o que os deixava em grande
inferioridade táctica.
• A infantaria dos Godos e dos Vândalos estava armada com arcos, e os Francos dispunham de uma
infantaria pesada munida de algumas peças defensivas e armadas com espadas e machados de cabeça
dupla.
ROMANOS (infantaria do final do Império, século V – claras influências bárbaras)
GERMANOS (período inicial)

1 - Cavaleiro cujo armamento se limitava a


uma frâmea (lança ligeira), duas azagaias e
uma faca de bronze.

2 – Guerreiro jovem que combate


praticamente nú e que apenas está armado
com duas azagaias e um escudo oval.

3 – Guerreiro que dispõe de um escudo como


protecção e está armado com uma longa
espada, ambos de origem celta.
GERMANOS

• Os Germanos dedicavam-se à agricultura e à criação de


gado. O clã era a sua unidade política económica e
militar; enquanto o RING ou assembleia de guerreiros
constituía o centro da vida social e decidia as questões
da paz e da guerra. Os homens vinculavam-se a um • Os povos Godos eram originários das
nobre, constituíam a sua guarda e acompanhavam-no
em combate. A fidelidade pessoal estava muito margens do Mar Báltico.
desenvolvida, e o juramento mantinha-se até à morte.
• Nas suas migrações para sul, dividiram-se
• Eram sobretudo soldados de infantaria, e parece que a em dois grupos principais: os Visigodos e
sua táctica foi um dispositivo triangular, o KEIL ou
cunha, em que cada família combatia num grupo os Ostrogodos.
compacto.

• As suas armas eram a maça de madeira, o machado, o


arco, a funda, a lança e o escudo de vime ou de
madeira.
GUERREIROS GODOS (o período da expansão)

Chefe godo

infante
OSTROGODOS

CHEFE OSTROGODO

• Os chefes ostrogodos de meados do século IV


lutavam a cavalo, protegendo-se com um
capacete e ocasionalmente com uma
armadura de aros metálicos. Porém, os seus
homens faziam-no a pé e sem qualquer
protecção.

• Embora, de início, o exército ostrogodo fosse


constituído essencialmente por infantaria, a
sua deslocação para as estepes entre o Mar
Negro e o Cáspio, e o contacto com povos
nómadas das estepes leva-os a adoptar
tácticas baseadas na cavalaria.
VISIGODOS

• Os Visigodos mantiveram-se nas regiões da


Germânia (no Baixo Reno, actuais Holanda e norte
da Alemanha), continuando a ser,

predominantemente, tropas de infantaria.


VISIGODOS E SAXÕES (infantaria)

Protecção em pele de
carneiro, sem metal

Escudo visigodo
de forma característica

Os Saxões, originários das costas da actual Alemanha


(zona do Saxe), cedo se interessaram pela ocupação das
Ilhas Britânicas, juntamente com os Anglos, um povo
vizinho, e com os Jutos, da actual Dinamarca (antiga
Jutlândia).
SAXÕES (algum armamento)

scaramasax
ANGLO-SAXÕES (infantaria)
ESCANDINAVOS (infantaria)

• Muitos destes guerreiros de vários

pequenos grupos escandinavos

participaram também no assalto à

Britania.
LOMBARDOS (cavalaria)
ALANOS (cavalaria)
Os Alanos eram um povo de
origem iraniana, habitante
das estepes, e cujo exército
se baseava na força da
cavalaria.
FRANCOS (origens)

• Mapa que detalha a região de origem

dos Francos (cerca do ano de 260), o

reino de Clodoveu nos finais do século V

e a extensão territorial do reino franco

conseguida pelos filhos desse monarca.


FRANCOS (dinastia merovíngia)
soliferreum
francisca

A guerra era a verdadeira «instituição dos francos».


(L. Halphen)
FRANCOS (dinastia merovíngia)
• A cavalaria franca perdeu
importância ao
sedentarizar-se, ficando
reservada aos guerreiros
profissionais e aos nobres.

• O seu número era sempre


muito pequeno comparado
com o dos infantes que
constituíam o grosso do
exército e que procuravam
imitar a forma de
combater dos antigos
Romanos.
FRANCOS (disciplina / indisciplina)

• Apesar da vontade de
imitar a disciplina
romana e de a
manter em combate,
fora dele os
guerreiros francos
eram o oposto, e as
suas discussões,
desordens e motins
eram quase
incessantes.
Iluminura do século XIV representando Childerico I, rei dos Francos Sálios e pai de Clodoveu.
FRANCOS (cronologia)
FRANCOS

• O guerreiro franco devia acorrer à


mobilização com o seu próprio equipamento,
provisões e reservas, que seguiam as tropas
em intermináveis caravanas de carromatos.

• Em campanha a pilhagem era a forma


habitual de aprovisionamento, tanto em
territórios próprios como inimigos.

• Alguns reis como Childeberto, Dagoberto e


Thierry trataram de corrigir este costume e
estabeleceram alguns armazéns de víveres
para alimentar os soldados.
FRANCOS (a evolução militar)
• As tropas francas que venceram em Poitiers em meados do século VIII eram diferentes das que
tinham invadido a Gália uns trezentos anos antes. O número dos seus homens montados era
pequeno e as suas tácticas tinham-se alterado ao perceberem que o arrojo e o embate frontal
não constituíam o único recurso da cavalaria. Esta não desapareceu completamente mas
perdeu importância, pois o seu elevado custo só podia ser suportado pelos nobres, em cujo
símbolo se converteu à custa do poder dos reis.

• A infantaria dos primeiros tempos tinha sido uma turba que atacava atrás dos cavaleiros, sem
organização nem prestígio. O passar dos anos converteu-a na arma mais importante dos
Francos, sendo um corpo disciplinado, munido de grandes escudos e lanças e com capacidade
para atacar a infantaria e para resistir às cargas da cavalaria. Um texto árabe da época defini-a
como um muro imóvel e frio, impassível face às flechas e azagaias.

• Os reis francos viram na infantaria um corpo militar mais fácil de controlar e mais adequado
para contrabalançar o poder que a nobreza exercia sobre a cavalaria, cujo armamento
compreendia uma lança de dois a três metros de comprimento, uma espada, cota de malha,
esporas, elmo e escudo. Por outro lado, a infantaria costumava usar lança, elmo, escudo e um
machado chamado francisca, que podia ser usado no corpo a corpo ou como arma de
arremesso, em cujo manejo os Francos eram mestres.
MEROVÍNGIOS (infantaria)
OS GUERREIROS PROFISSIONAIS
• O único contingente permanente do estado
merovíngio era o truste ou scare, pequena
guarda pessoal do rei formada por guerreiros
seleccionados e bem armados, chamados
inicialmente antrustiones e mais tarde leudes.
• Os grandes senhores também dispunham de
um grupo de guerreiros que se podiam
chamar satellites, sicarii, pueri, viri, fortes,
amici ou lictores.
• Em geral os guerreiros permanentes
constituíam a scare ou scariti, muito
diferente do exercitus formado pelos
soldados, que os condes convocavam por
mandato do rei.
ARMAMENTO
• O spangenhelm é um
capacete com origem
nos povos das estepes,
mas rapidamente
adoptado, a partir do
século II, por muitos
povos “bárbaros”.
ALAMANOS (infantaria)

• Os Alamanos surgem muitas

vezes associados aos Francos.

• No século III participaram,

juntamente com os Francos,

em raides na Gália romana.


OS EXÉRCITOS CAROLÍNGIOS
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO

• Mapa que assinala a


extensão do Império
Carolíngio sob Carlos
Magno, assim como a dos
três reinos surgidos com a
divisão territorial
realizada posteriormente:
Francia occidentalis (sob
Carlos, o Calvo), Lotaringia
(sob Lotário) e Francia

orientalis (sob Luís, o


Germânico).
CAROLÍNGIOS (750-850)

• Todos os homens livres tinham

obrigações militares e, quando

eram chamados às fileiras

deviam apresentar-se com

provisões para três meses e

com roupa, armas e apetrechos

para seis.
CAROLÍNGIOS (750-850)

• Como Carlos Magno costumava organizar uma

campanha por ano, a obrigação de acorrer às

armas ficava muito cara para os pequenos

proprietários, uma vez que os campos ficavam

por cuidar.

• Em consequência, teve de se suavizar o

serviço militar e reduzir progressivamente a

obrigação para com o exército daqueles que

tinham menos recursos.


CAROLÍNGIOS (lutar e manter-se)
• O exército carolíngio atingia, como máximo, de 6 000 a 10 000 combatentes, metade CRONOLOGIA
montados, e todos eles divididos em corpos recrutados na mesma região ou condado. O 758 - Carlos Magno sobe ao trono

rei dispunha da sua própria TRUSTE ou SCARE, formada por umas centenas de soldados, 722-804 - Campanhas para subjugar os
saxões
armados à sua própria custa, que constituíam a guarda pessoal e o núcleo do exército.
773 - Conquista do reino lombardo
778 - Derrota de Roncesvales
• Nas regiões do império, Carlos Magno suprimiu o direito merovíngio do FODRUM, ou
789-812 - Campanhas vitoriosas contra
requisição gratuita em terras do reino, e proibiu a pilhagem ao ponto de só se poder os eslavos
exigir dos habitantes dormida, lume e água. A intendência deslocava-se em basternas, 795 - Criação da Marca Hispânica
enormes carromatos cobertos de peles que os tornavam estanques para atravessar os 796 - Leão III coroa Carlos Magno,
rios. O seu grande peso e o seu número convertiam-nos numa enorme e pesada coluna. imperador do Ocidente
814 - Morte de Carlos Magno
814-840 - Luís, o piedoso sobe ao trono
• Pelo contrário, em território inimigo, os guerreiros podiam roubar livremente toda a
843 - Tratado de Verdun: o império é
espécie de animais, joias, armas e roupas. Não recebiam nenhum soldo e tinham de se
repartido entre os filhos
manter à custa da população.
CAROLÍNGIOS (recrutamento)
• O rei apelava às armas através do ban ou bannum, obrigatório para todos os súbditos,
inclusivamente os recém-conquistados. O recrutamento geral ou lantweri era exigido em
caso de invasão inimiga, apenas na região ameaçada, e o seu incumprimento levava à
pena de morte.

• A partir de 806, o recrutamento foi mais preciso, distinguindo entre homens livres, cujas
obrigações eram limitadas, e nobres laicos ou religiosos, assim como vassalos mantidos
pelo rei, todos com contribuições estritas. Nas zonas fronteiriças, exigiam-se corveias ou
trabalhos gratuitos destinados a manter e a construir as fortificações.

• Por vezes, a defesa era confiada à população local, wacta ou warda, e noutros casos a
guerreiros profissionais, que constituíam verdadeiras «colónias» militares ou scarae.

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