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1.

A Sociedade da Informação

Nos últimos cem anos, a humanidade tem observado uma verdadeira revolução
em seu desenvolvimento e nas condições do homem viver em sociedade. O advento de
novas tecnologias de informação e comunicação trouxeram à sociedade inúmeras
mudanças no estilo de vida e interação com o meio em que vive. Diante destas
mudanças, este aparato tecnológico propiciou o surgimento de ferramentas que
permitiram além da interação social, a transmissão, o armazenamento e o
processamento de dados, em alta velocidade e com grande precisão.
LUCENA (2019, p.29), ao abordar o tema, afirma:

Na contemporaneidade, o aprimoramento tecnológico permite que as


informações sejam divulgadas e difundidas simultaneamente ao seu
acontecimento, por todo o mundo. Essa é a chamada sociedade da
informação, na qual dados são facilmente obtidos e armazenados, sem
fronteiras físicas ou temporais.

Similarmente, BRANDÃO (2018), abordando a obra “La Era de la Informacion”


de Manuel Castells Oliván, atesta que:

Em suma, Castells define a sociedade da informação como um período


histórico caracterizado por uma revolução tecnológica, movida pelas
tecnologias digitais de informação e de comunicação. O seu funcionamento
advém de uma estrutura social em rede, que envolve todos os âmbitos da
atividade humana, numa interdependência multidimensional, que depende
dos valores e dos interesses subjacentes em cada país e organização.

Essa evolução tecnológica, que se presencia na atualidade, é considerada o que


alguns autores chamam de Quarta Revolução Industrial, ou simplesmente “Revolução
4.0”. SILVA [et. al.] (2021), assim explana:

A Revolução 4.0 acontece e evolui de modo exponencial — não fica presa de


modo linear na produção em série, mas tem característica marcante com a
velocidade. Em relação a tecnologias, com mudanças de paradigmas em
várias áreas e de forma setorial, a Revolução 4.0 provoca uma grande
amplitude (ampliada transformação em vários setores industriais) e
profundidade (incorporações de novas pesquisas tecnológicas na produção
industrial, que aumentam seu ritmo de modo grandioso). Acontece com a
fusão de várias áreas, envolvendo computação quântica, energias renováveis,
nanotecnologia e inteligência artificial, o que proporciona interações
tecnológicas fomentadas na disseminação de inovações possíveis. Em relação
ao impacto sistêmico, a Revolução 4.0 provoca transformação de sistemas
inteiros, que envolvem empresas, indústrias, a sociedade e vários países. É
perceptível a modificação das sociedades, nos seus comportamentos e
relações sociais, inclusive no que tange a resolução de conflitos e
normatizações da vida social.
A sociedade da informação, diante do alcance deste aparato tecnológico,
emprega-os no dia-a-dia, incorporando-os em suas rotinas e em sua cultura,
principalmente no que se refere à interação no mundo virtual. Diante desta nova
realidade, emerge um novo fenômeno que chamamos de Cibercultura. A Cibercultura é,
pois, a incorporação das novas tecnologias, aos costumes e a vida cotidiana do homem,
em um ambiente predominantemente virtual conhecido como Ciberespaço, onde através
da interconexão mundial de computadores, o homem interage digital e virtualmente,
participando e alimentando de informações esse universo infinito. (LEVI, 1999).
No entanto, em que pese às vantagens dessa interação virtual, ante a precária ou
inexistente regulamentação deste universo digital, verifica-se uma excessiva exposição
das pessoas que, em troca das benesses que o ciberespaço lhes proporciona de forma
“gratuita”, inconsciente e de forma tácita, permitem que as grandes empresas de
tecnologia se apropriem de suas experiências humana, através da obtenção de
informações e de elementos inerentes ao seu comportamento e sua personalidade, que
processam e mercantilizam estes dados, tornando as pessoas dependentes daquelas
empresas que, com estes dados, planejam e operacionalizam suas atividades e políticas
de forma a “automatizar” e “manipular” o comportamento humano, eliminando a
autonomia e a livre escolha das pessoas. Neste sentido, Koerner (2020), ao abordar a
tese sustentada por Shoshana Zuboff, sobre o Capitalismo e a Vigilância Digital na
sociedade democrática, assevera que:

Ela traz a história da economia da informação e sua mutação em capitalismo


de vigilância, apresenta e faz um balanço das tecnologias existentes, da
legislação e suas falhas, das ações e omissões dos governantes, e ainda
apresenta os planos dos dirigentes das principais empresas de tecnologia para
reorganizar a sociedade.

Assim sendo, importante se faz ponderar os benefícios que a Ciberespaço


proporciona, diante desta política “predatória” das grandes empresas, na tentativa de
limitar as vontades humanas, através da manipulação de seu comportamento. Deste
modo, deve sempre prevalecer a vontade consciente das pessoas, sem ser contaminada
pela influência desenfreada do capitalismo digital.

No Brasil, o surgimento de políticas governamentais direcionados para a


sociedade da informação teve seu início no final da década de 1990, com o lançamento
do Programa Sociedade de Informação, instituído pelo Decreto Presidencial 3294 e que
compreendia uma série de regras que delinearam a implantação do programa (através do
chamado “Livro Verde”), além de linhas de ações do governo que permitiram ao país,
de forma planejada, utilizar-se dos recursos tecnológicos no meio governamental
buscando agilidade e “desburocratização”, bem como fomentando seu uso por toda
sociedade.

2. Contexto Histórico do Direito Digital

O Direito Digital, da mesma forma que a Sociedade Digital, é fruto da evolução


do conhecimento e da cultura humana. A origem do Direito ocorreu no momento em
que o homem, ao constituir a vida em sociedade, passou a abrir mão de parte de sua
liberdade, transferindo ao Estado o controle de aspectos fundamentais que regem sua
interação com seus semelhantes. Coube a partir de então, ao Estado estabelecer um
modelo de sociedade onde coabitam a liberdade do homem, os direitos a ela inerentes e
a organização do Estado, formando o que se chama Estado Democrático de Direito. A
este cabem tanto regular os conflitos de natureza individual, como restringir o poder de
seus governantes, estabelecendo quando necessárias, sanções para se contrapor à
transgressão de suas normas. Desta forma, o Direito e sociedade evoluíram, se
amoldando a realidade de cada momento da civilização.
O Direito Digital, uma das ramificações do Direito que se desenvolveu nas
últimas décadas, é uma nova seara jurídica, que visa estabelecer normas aplicáveis ao
ciberespaço, regulamentando as relações no mundo virtual, onde a legislação e a
doutrina jurídica tradicional foram insuficientes para regrar as inúmeras interações que
ocorrem no universo digital. Diante disto, percebe-se que o Direito Digital, por sua
complexa natureza, se comunica e se integra com todas as ramificações do direito.

Nesse sentido, TERRA (2018, p.11), assim refere:

Direito Digital ou Virtual é uma evolução de todos os ramos do Direito que


interagem com a sociedade digital ou com o meio ambiente digital. Ele
alberga os princípios e institutos do Direito existentes, bem como os inova
em suas diversas áreas de atuação, tais como no Direito Internacional, no
Direito da Propriedade Intelectual, no Direito Constitucional, nos Direitos
Humanos, na Bioética, nas pesquisas científicas e genéticas, no Direito Civil,
Penal, Administrativo, Tributário, Financeiro, Ambiental, Processual,
Previdenciário, Trabalhista, Eleitoral, no Direito Médico, entre outros.

No mesmo sentido, PINHEIRO (2021, p.49), analisando o Direito Digital, assim


considera:
Direito Digital consiste na evolução do próprio Direito, abrangendo todos os
princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até
hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o
pensamento jurídico, em todas as suas áreas (Direito Civil, Direito Autoral,
Direito Comercial, Direito Contratual, Direito Econômico, Direito
Financeiro, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Internacional etc.).
Quem não se lembra da resistência ao videocassete? Agora temos o Internet
Banking, DVD, MP3, HDTV — High Definition Television, TV Interativa,
TV Digital, Banda Larga, WAP, VoIP. O que todas essas siglas significam
para o mundo jurídico atual? Significa que são os novos profissionais do
Direito os responsáveis por garantir o direito à privacidade, à proteção do
direito autoral, do direito de imagem, da propriedade intelectual, dos
royalties, da segurança da informação, dos acordos e parcerias estratégicas,
dos processos contra hackers e muito mais. Para isso, o Direito Digital deve
ser entendido e estudado de modo a criar novos instrumentos capazes de
atender a esses anseios.

No entanto, em que pese essa interação com os demais ramos do Direito, o


Direito Digital pelas suas peculiaridades avança mais rápido que o regramento jurídico,
fazendo surgir lacunas na legislação, que não abrangem infinidades de comportamentos
e relações decorrentes da evolução tecnológica. Neste sentido, PINHEIRO (2021, p. 50)
assim afiança:

No Direito Digital prevalecem os princípios em relação às regras, pois o


ritmo de evolução tecnológica será sempre mais veloz que o da atividade
legislativa. Por isso, a disciplina jurídica tende à auto-regulamentação, pela
qual o conjunto de regras é criado pelos próprios participantes diretos do
assunto em questão com soluções práticas que atendem ao dinamismo que as
relações de Direito Digital exigem.
...
A velocidade das transformações é uma barreira à legislação sobre o assunto.
Por isso qualquer lei que venha a tratar dos novos institutos jurídicos deve ser
genérica o suficiente para sobreviver ao tempo e flexível para atender aos
diversos formatos que podem surgir de um único assunto. Essa problemática
legislativa, no entanto, não tem nada de novo para nós, uma vez que a
obsolescência das leis sempre foi um fator de discussão em nosso meio.

Em virtude do acima evidenciado e do insuficiente enfoque legislativo sobre o


tema, onde se verifica poucas abordagens legais, até que o ordenamento jurídico se
adeque a estas situações, com a criação de regras e regulamentos específicos, cabe ao
Poder Judiciário encontrar a solução para as demandas que vierem a surgir na seara do
Direito Digital.

Além do aspecto tempo, outro fator que impacta o Direito Digital, é a


Territorialidade. No mundo real, esta condição pode ser estabelecida com considerável
facilidade, pois se demarca a amplitude física da eficácia legal. Já no mundo virtual, o
parâmetro “território” dificilmente pode ser demarcado, tendo em vista que suas
peculiaridades extrapolam os limites físicos de abrangência da lei. Desta forma, o
Direito Digital tem uma estreita relação com o Direito Internacional, eis que somente
assim, tendo como base tratados e convenções internacionais sobre o tema, logra-se
existo em regulamentar as peculiaridades jurídicas da sociedade digital. Neste sentido,
TERRA [et. al.] (2021, p. 11) destaca:

Sim, a globalização das sociedades, o compartilhamento de tecnologias tanto


pelos países quanto pelas pessoas e empresas, a coleta e troca de informações
que ocorrem a todo instante, com efeitos em todos os cantos do planeta,
exigem também uma globalização do pensamento jurídico, para que seja
possível delimitar critérios mínimos a serem observados pelos diversos países
e pelas pessoas. Assim, cada vez mais estão a surgir Convenções e Tratados
Internacionais a respeito.

Assim sendo, considerando que esse meio ambiente virtual trata-se de um


“patrimônio” imaterial, onde as interações que ocorrem na esfera digital através de
softwares e hardwares interconectados geram efeitos e consequências nas relações entre
pessoas, empresas e até em governos, impactando diretamente no seu meio ambiente
físico, o Direito Digital procura estabelecer regras e parâmetros legais a fim de
regulamentar o meio ambiente virtual.

3. A proteção dos dados pessoais na legislação brasileira

Inicialmente cabe destacar que a preocupação mundial com a proteção de dados


pessoais remonta à promulgação das primeiras legislações específicas sobre o tema,
ainda na década de 1970. No entanto, foi somente a partir dos anos de 1990 que a
regulamentação da proteção de dados pessoais foi se delineando de forma mais
consistente, tendo em vista o desenvolvimento do modelo de negócios da economia
digital, diante do aumento do fluxo internacional de dados, especialmente aqueles
relacionados às pessoas e empresas.
No Brasil, até 1994 o uso da internet, considerando o seu alto custo, restringia-se
ao meio acadêmico, onde somente grandes instituições de ensino tinham condições de
desfrutá-la. No entanto, a partir de 1995 o então Ministério das Comunicações passa a
permitir o seu uso comercial, dando início, mesmo que de forma tênue, à popularização
da internet. A partir daí, o crescimento da internet passou a ocorrer de forma
exponencial, com o advento e popularização do acesso à rede mundial de computadores.
Por tratar-se de uma nova realidade, o desenvolvimento do mundo virtual passou
a ocorrer de forma desregrada, ante a pouca ou quase nenhuma regulamentação deste
novo mundo digital. Esta regulamentação restringia-se a algumas regras específicas para
o mundo virtual, oriundas de órgãos como o Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI.BR) e em sua maioria de caráter técnico, sendo necessário, com o passar do
tempo, a adaptação dos enunciados legais, para solucionar situações que passaram a
ocorrer no universo digital, e que tinham reflexo no mundo real. O surgimento de leis
específicas, direcionadas à realidade da internet, somente veio a ocorrer a partir da
década de 2010, como a Lei Carolina Dieckmann, o Marco Civil da Internet e a Lei
Geral de Proteção de Dados.
Diante da realidade trazida com essas inovações tecnológicas, não só dados
pessoais, mas a privacidade, como ocorreu no caso da atriz Carolina Dieckmann,
passaram despertar interesse alheio. Nesse sentido, FERREIRA [et. al.] (2022, p. 156)
menciona:

O avanço das tecnologias digitais tem trazido inúmeras transformações no


cenário da privacidade, inclusive em relação ao que deve ser considerado
como objeto de privacidade. Com a expansão das tecnologias de informação
e comunicação para novos espaços da sociabilidade humana, ganham
destaque alguns problemas, como a violação da privacidade de seus usuários
diante do acesso e coleta de dados pessoais por meio dos artefatos
tecnológicos.

Não obstante os dados pessoais terem caráter personalíssimo, não só no Brasil,


mas a nível mundial, a virtualização das informações por empresas e órgãos
governamentais, transformaram esses dados pessoais em um ativo na economia da
informação. Tais informações, quando tratadas dentro de técnicas e filtros específicos,
possibilitam às empresas direcionar seus planos de trabalho e políticas de mercado
direcionadas a nichos distintos, pois objetivam identificar o comportamento dos
usuários.
Corroborando com este entendimento BIONI (2020, p. 33), assim assenta:

Com a inteligência gerada pela ciência mercadológica, especialmente quanto


à segmentação dos bens de consumo (marketing) e a sua promoção
(publicidade), os dados pessoais dos cidadãos converteram-se em um fator
vital para a engrenagem da economia da informação. E, com a possibilidade
de organizar tais dados de maneira mais escalável (e.g., Big Data), criou-se
um (novo) mercado cuja base de sustentação é a sua extração e
comodificação. Há uma “economia de vigilância” que tende a posicionar o
cidadão como um mero expectador das suas informações.

Na sociedade da informação, as pessoas acabam expostas a diversos tipos de


aparatos tecnológicos que possibilitam este monitoramento social (como câmeras de
monitoramento, rastreamento pelo celular, etc.). No entanto, o excesso de exposição no
mundo virtual, faz com que as pessoas revelem não só sua privacidade, mas também
seus dados pessoais. A maioria das pessoas, conscientes ou não dos riscos e da
gravidade de suas ações, publicam suas vidas particulares nas redes sociais, permitindo
que milhares de outras pessoas acompanhem o seu dia-a-dia. Estes registros pessoais,
que ficam armazenados nos servidores de empresas, permitem a coleta, o tratamento e o
uso dos dados pessoais, possibilitando sua utilização para delinear estratégias
comerciais e publicitárias direcionadas para cada público. Além disso, pessoas mal
intencionadas (hackers), através de meios ilegais ou fraudulentos, acabam conseguindo
acessar dados e informações de caráter pessoal, utilizando-se de forma criminosa destas
informações, situações onde ocorrem crimes e delitos informáticos.
Em virtude do exposto, discorrer-se-á, na sequência, sobre os principais
regramentos legais que abordam a proteção dos dados pessoais.

3.1 Ponderações sobre o Artigo 5, inc. LXXIX da CF/88

Através da promulgação em 10 de fevereiro de 2022, da Emenda Constitucional


115 pelo Congresso Nacional, estabeleceu a Constituição Federal (BRASIL, 2022), em
seu artigo 5, inc. LXXIX, que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados
pessoais, inclusive nos meios digitais.

Na mesma esteira, o inciso X do Artigo 5º da Carta Constitucional (BRASIL,


2022) definiu a inviolabilidade da privacidade do homem:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação

De igual modo, a Emenda Constitucional 115 regulamentou a matéria no âmbito


constitucional, ao incluir o inciso XXVI no artigo 21 da Carta Magna (BRASIL, 2022):

Art. 21. Compete à União:



XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados pessoais,
nos termos da lei.

Ao discorrer sobre o tema, PINTO (2022) analisa que a elevação do direito a


proteção de dados, ao patamar constitucional, positivou o entendimento jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, afirmando que:

Pode-se afirmar, portanto, que a emenda constitucional em comento apenas


sacramentou o status constitucional inerente à proteção de dados. Apesar de
não inovar normativamente, a positivação deste direito na Constituição torna
ainda mais explícita a sua relevância e sua crescente presença nas relações
sociais. Naturalmente, o conceito de dado pessoal não se resume aos dados
que se encontram no ambiente virtual. Contudo, diante da aceleração do
desenvolvimento tecnológico e a sua crescente presença na vida pessoal,
institucional e econômica, a regulamentação e a defesa de prerrogativas
constitucionais no tratamento de dados pessoais se tornam um dos grandes
imperativos e desafios contemporâneos à comunidade jurídica. Como foi
reconhecido pelo STF, a proteção de dados já não pode ser compreendida
como um simples exercício negativo do Estado em relação aos indivíduos,
mas como um direito/dever dos agentes sociais públicos e privados agora
sacramentado na Constituição, e que vem reclamando esforços de diversos
setores, em especial dos operadores do Direito, para permear as relações
jurídicas e alcançar, na prática, o status concedido agora pela Lei Maior.

Em face do acima exposto, ao alçar à proteção de dados pessoais à esfera


constitucional, o legislador veio suprir essa lacuna legislativa, dando-lhe status de
direito fundamental garantido pela lei maior do país.

3.1. Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet (MCI), como é chamado a Lei 12.965/2014, possui


trinta e dois artigos, divididos em cinco capítulos: Disposições preliminares; Dos
direitos e garantias dos usuários; Da provisão de conexão e aplicações da Internet; Da
atuação do poder público; e Disposições Finais. Objetiva regulamentar o uso da internet
no Brasil, instituindo princípios, garantias, direitos e deveres que devem ser observados
por provedores de internet, bem como por todos os usuários da internet no país.
CARVALHO (2017), analisando o tema salienta:

Vê-se que a Lei n. 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da internet,


surgiu com o objetivo de regulamentar o uso da internet no Brasil, fazendo
com que, a partir de sua vigência, os aplicadores do direito e principalmente
os julgadores possam utilizá-la como norte nas decisões que envolvam a rede
mundial de computadores e seus usuários. Trata-se de grande avanço na
legislação brasileira que abre espaço para discussões sobre temas
contemporâneos normatizando o “mundo virtual”, que faz parte da realidade
da maioria dos cidadãos e através do qual são tecidas relações humanas de
todas as espécies.
Os princípios que norteiam o MCI são a garantia da liberdade de expressão, a
proteção da privacidade e dos dados pessoais, a neutralidade da rede, e a liberdade dos
modelos de negócios. Com relação aos direitos a serem considerados, o MCI estabelece
o controle sobre os dados pessoais, a inviolabilidade e sigilo das comunicações, a
manutenção da qualidade contratada da conexão, a exclusão definitiva de dados
pessoais após término de contratos, bem como determina o uso de informações claras e
completas nos contratos. Já as obrigações elencadas no MCI determinam que aos
provedores de conexão a guarda, sob sigilo, dos dados de conexão dos usuários
(endereço de IP, data e hora do início e término da conexão) pelo prazo de um ano, e
aos provedores de aplicativos a guardar, sob sigilo, os dados de navegação dos usuários
pelo prazo de seis meses, além de determinar a retirada, quando a pedido das vítimas, de
imagens e vídeos contendo cenas de nudez ou sexo que não têm a autorização dos
envolvidos. Institui ainda, que aqueles provedores sediados fora do país, devem
respeitar a legislação brasileira, garantindo os direitos à privacidade e ao sigilo dos
dados.
Por se tratar essencialmente de uma lei principiológica, o MCI não abordou em
detalhes como ocorreria sua implementação. Istou coube ao Decreto nº 8.771, de 11 de
maio de 2016 que regulamentou a lei para tratar das hipóteses admitidas de
discriminação de pacotes de dados na internet e de degradação de tráfego, indicar
procedimentos para guarda e proteção de dados por provedores de conexão e de
aplicações, apontar medidas de transparência na requisição de dados cadastrais pela
administração pública e estabelecer parâmetros para fiscalização e apuração de
infrações (BRASIL 2022).

3.1 Lei Geral de Proteção de Dados


Podendo ser considerada como um desdobramento do Marco Civil da Internet, a
Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018, comumente chamada Lei Geral de Proteção de
Dados objetivou a proteção dos direitos fundamentais da liberdade e privacidade com
relação a dados e seu uso, estabelecendo regras que abarcam temas como
consentimento, responsabilidade, fiscalização e transparência, entre outros.
3.1. Lei Geral de Proteção de Dados
4. Crimes Cibernéticos
4.1. Penas aplicáveis aos Crimes Cibernéticos
5. Proteção contra Crimes Cibernéticos
6. O Direito Penal Informático nos Crimes Cibernéticos
7. O Direito ao Esquecimento no mundo virtual

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