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REVISTA DE EDUCAÇÃO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR


REFLEXÕES SOBRE A “COLA”

Denise Filomena Bagne Marquesin – Faculdade Anhanguera de Jundiaí


Cláudio Roberto Benevides – Faculdade Anhanguera de Jundiaí

RESUMO: Este artigo tem como propósito despertar reflexões sobre o que leva o PALAVRAS-CHAVE:
aluno do ensino superior utilizar meios ilícitos freqüentemente nas avaliações. avaliação, aprendizagem, ação
profissional.
Cientes da complexidade desta temática, as discussões apresentadas pautaram-se na
interrogação: O que leva os alunos do ensino superior a usar cola nas provas, sabendo
que a “cola” mascara a sua capacidade e produzindo um mau profissional para exercer KEYWORDS:
sua atividade? Inicialmente são apresentadas considerações sobre a legislação vigente assessment, learning, professional
acrescidos de conceitos e concepção sobre de avaliação (professor). Autores como Freire action.
(1987); Milanesi (1990), Morin (2003) , Souza (2005) e Almeida (2006) sustentaram as
discussões sobre o descontentamento observável tanto dos professores quanto dos
alunos sobre estes procedimentos existentes. Considera-se, portanto, a necessidade de
investimentos na ação profissional que possibilitem ao aluno aprender a aprender, já
que a cola engana uma avaliação enganosa, já que, o aluno finge que aprendeu e o
professor finge que ensinou.

ABSTRACT: This article aims to awaken thoughts about what leads students in higher
education often use illicit means in the ratings. Realizing the complexity of this issue,
the discussions presented based on the question: What leads students in higher
education to use glue on the evidence, knowing that the “glue” to mask their capacity
and producing a poor to carry on their activity? Initially presents considerations on
the current law plus about design concepts and evaluation (teacher). Authors such
as Freire (1987); Milanesi (1990), Morin (2003), Souza (2005) and Almeida (2006) held
discussions on the discontent of the teachers observed as much as the students on these
existing procedures. It is considered therefore the need to invest in professional action
to facilitate students’ learning to learn, since the glue mistaken assessment misleading,
since the student and the teacher learned that pretends pretends he taught

Artigo Original
Recebido em: 19/10/2009
Avaliado em: 19/01/2010
Publicado em: 30/05/2014

Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.

Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com

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Avaliação da aprendizagem no ensino superior: reflexões sobre a “cola”

1. BREVE INTRODUÇÃO
Duras verdades:
os alunos na educação infantil enxergam a cola;
os alunos no ensino fundamental exercitam a cola;
os alunos do ensino médio se habituam a colar e,
os alunos na educação superior aperfeiçoam a cola.
Autor desconhecido

A questão abordada neste artigo é muito complexa para educadores em geral que
lutam há anos e apresentam alternativas para combater as fraudes, também denominadas
cola.
Há consciência por parte de todos os envolvidos pela questão que, sem dúvidas, este
assunto é ingrato. Existe também a crítica, que precisamos estar atentos e abertos para
discussão, profissionais moralistas consideram esta atitude dizendo com as famosas frases:
quem não usa cola não sai da escola, ou ainda, quem nunca colou na vida?
A grande questão levantada e que fará parte das nossas discussões: O que leva os alunos
do ensino superior a usar cola nas provas, sabendo que a “cola” mascara a sua capacidade e
produzindo um mau profissional para exercer sua atividade?
O ambiente institucional das universidades pelas suas estratégias de avaliação
colaborou para admissão de tais posturas?
A cultura de ‘ir bem à prova’ é a verdadeira importância para fazer o curso?
Para discutir francamente tais indagações e, sem a intenção de tratar como tabu a cola,
não escondendo motivos sérios que levaram-na para dentro das faculdades arriscamos a
conjecturar algumas causas e consequências do uso da cola no ensino superior.

2. ÁREA DE CONFLITO: A COLA E O DESCRÉDITO DAS AVALIAÇÕES


Dentro dos padrões vigentes, a cola é um desonesto recurso instrumento utilizado na escola.
Confiante de que a cola perverte essa avaliação suprindo o aluno por fontes. A cola é uma
daquelas práticas amplamente disseminada, mas cuja importância é esquecida e não é
levada em conta. A cola é um subterfúgio para os alunos competirem com a alta cobrança de
ter boas notas: cultura educacional que podemos com tranqüilidade afirmar que é mundial.
Percebemos que a cola engana uma avaliação enganosa: O aluno finge que aprendeu
e o professor pensa que ensinou. Empiricamente concebemos que ‘um sistema de avaliação
baseado meramente em nota estimula a cola durante as provas’ e desta afirmação nos
permitimos tirar duas conclusões: ou o aluo pensa que o importante é passar e não aprender
que nos remete ao pressuposto de ‘ir bem na prova’ tem grande importância para o curso
e para o certificado que ele receberá; ou o professor concebe a prova como instrumento de
mediada de aprendizagem dos alunos e confia que somente assim poderá ter ferramentas

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para lançar as notas.


Outro aspecto instigador remete-se ao juízo de valor sobre os méritos de tirar boas
notas pelos alunos, já que muitos serão unicamente avaliados pela nota e pelos resultados
registrados no certificado de conclusão, mas retornamos ao questionamento inicial: se a
nota da prova reproduz o que o aluno havia registrado na cola qual a diferença de não optar
prova com a rigidez que foi proposta. Teríamos um aluno mais satisfeito e um professor que
não sofria as conseqüências de ser enganado pelo resultado das aprendizagens alcançadas.
Não bastasse, muitas vezes a seleção natural no dia da prova pautada, existe também rigor
das aulas e dos conteúdos diante da incompreensão diante deslizes no momento de resolver
as questões na aula e no dia da então prova somente pelo enunciado o aluno já desiste e/ou
busca o recurso da cola. Associado a este aspecto temos os professores também são rigorosos
com seu trabalho que lutam por ensinar todos os conteúdos previstos e exigirem na prova
os exercícios mais complicados, pois estão preocupados com afirmação que tiveram e com
a que estão oferecendo e lembrando de que quando eram alunos tinham que decora tudo e
agora tudo ficou mais fácil com as ferramentas tecnológicas e, se não bastasse a cada turma
que se forma as aprendizagens alcançadas são menores e a cada turma que entra no ensino
superior a exigência diminui. De forma bem simplista podemos deixar uma sugestão para
este professor: toda prova compõe de um numero atividades de três níveis equilibrados
de exigências: as questões que o professor tem certeza que todos os alunos tem facilidade
de resolver (é o mínimo a ser exigido do futuro profissional), as questões que precisam de
um grau de compreensão razoável dos conteúdos e que o professor prevê que pelo menos
70% da classe consegue resolver e, as questões com maior grau de complexidade e que o
professor prevê que 30% tem condições de resolver1 .
O professor XXXX – Vicente- defende a mudanças nas formas de avaliação para
evitar a cola: “para o estudante, anota é como um atestado e como uma avaliação,
demonstra que a capacidade do aluno pode ter uma cais de medo ou constrangimento,
muitas vezes colam a fim de mostrar a superioridade aos outros e provar a si próprio
e aos que com ele convivem a sua competência.

Porém, devemos ter em mente que grande parte da responsabilidade dos atuais
problemas no curso do ensino superior vem de quem ter o poder decidir sobre eles, o que
com certeza não fica a cargo somente dos alunos. Logo, teoricamente percebemos que é fácil
falar sobre esta questão, mas, somos conscientes das ideologias sustentam as práticas de
avaliação permeadas pelas políticas educacionais.

1 Esta estratégia de preparação das avaliações vem encontro dos pressupostos pedagógicos da .Metodologia do Ensino do
Exercito que estabelece ao professor a proposta: se mais de 50% dos alunos não atingirem a nota mínima o erro de percurso é do
trabalho pedagógico executado, assim como, se mais de 80% dos alunos alcançarem mídia superior a 9,0. O trabalho de sala de aula
deve atingir todos os alunos de forma a propor situações que a maioria dos alunos tenham se apropriados e saibam resolver os
conflitos que delas surgirem.

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3. A IDEOLOGIA DA “COLA”
Conversando com um aluno do último ano de engenharia sobre o uso da “cola” obtivemos
a seguinte resposta:
Se estiverem preocupados com a ação do aluno colar é preciso considerar que o
ambiente da prova é artificial; primeiramente não existe mais trabalho individual,
solitário. O empreendedorismo está vigente e toda profissão tem equipe
multifuncionais para desenvolver trabalhos. Sendo assim, quando me vejo no meu
espaço de trabalho onde irei atuar penso que terei uma equipe para compartilhar
as minha dúvidas e, também caso seja necessário, uma literatura a disposição. O
que será exigido do meu lado profissional é minha competência para desfrutar
destes recursos associada a minha capacidade de análise, certo. Não serão exigidos:
memorização de respostas e/ou formas e ou traçados/desenhos. Enquanto que não
prova será cobrado do aluno, por no mínimo duas horas, que registre (memória em
jogo) respostas complexas e específicas de matérias e exercícios extensos oferecidos
nas aulas. Neste momento, o aluno tem que ficar incomunicável sentado numa
carteira sob a vigilância de alguém pronto para suspeitar de seus movimentos. Tudo
é angustiante, no momento da prova, e mais, até colar é conflitante. Por isso, algo
tem que mudar. Não sei a resposta para isto, mas...

O desafio é grande. Como percebemos no depoimento do aluno, o desafio instaura um


duelo entre os estudantes e o professor. A pergunta mais comum para o professor próximo
aos dias de prova é: o que vai cair na prova?
A natureza da profissão do professor, por sua vez, é a apresentar o conteúdo da melhor
maneira didática possível para que todos os alunos se apropriem/aprendam, ou pelo menos
se aproximem das aprendizagens pretendidas, e preocupado em garantir a verificação desta
aprendizagem lhe é proposto que faça a verificação. Muitos são os recursos que ele pode
utilizar, mas nem sempre pode dispor de propor uma avaliação individual.
Outro aspecto referentes a ideologia da cola refere-se à frustração sobre o potencial
de aprendizagem provocados por não conseguir resolver o atividade da provas. Diante
desta preocupação o aluno cria sua tática para cola na hora da prova. Muitas vezes, não
nem a pretensão de colar, mas preocupado com o esquecimento e/ou nervosismo no
momento da prova. Para este caso e, também mediante o depoimento do aluno quando
fala do isolamento, percebe-se que existe ainda, no dia da prova a tradição “jesuítica” de
ensino (salvo as exceções) pois o professor ainda se considera o “ultimo dos guardiões do
saber incompreendido” já que, muitas vezes, mesmo diante de um questionamento e/ou
solicitação de uma sugestão/dica pelo aluno ele responde: hoje eu esqueci tudo!
Sabemos que a discussão é ampla e para concorrer cm a questão das posturas dos
educadores existem os planos de ensino, as propostas didático-pedagógicas abertas a
questionamentos, mas dependemos de uma formalização maior que caber as diretrizes
educacionais nacionais. É emergente que esta realidade seja revista e que consigamos
encontrar algumas redes de reflexões poderão contribuir.

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4. COMO ACABAR COM A COLA NO ENSINO SUPERIOR


É urgente a necessidade de novas propostas e posturas nos ambientes de aprendizagens.
A nota existe como referencia de verificação de estudos. A nota verifica e não avalia.
A verificação é processo de aprendizagem e, portanto, não deve ser confundida com
o julgamento do ensino. Já dizia Florestan Fernandes (1975): Ninguém aprende para ser
avaliado. Nós aprendemos para termos novas atitudes e valores no palco da vida. Seguindo
este raciocínio Paulo Freire (1987) anuncia: “a avaliação é meio e nunca fim do processo de
ensino. Nunca se deve se comprometer em ajuizar, mas reconhecer, no processo de ensino a
aprendizagem e a formação de atitudes e valores” (p. 46).
A educação em valores é uma realidade legislatória. A atual LDB 9394/96 ao se referir,
no artigo 24, V, à verificação do rendimento escolar, determina aos docentes observar os
critérios de avaliação continua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período letivo.
A nota, quando adotada como meio escolar, deveria ser resultado de processo de
aprendizagem, em que, a partir do contrato dialógico ( em pedagogia chamamos de contrato
didático) resultante de convivência didático-pedagógica entre professor e aluno, define a
avaliação como meio de registro submetidos aos objetivos de formação profissional e de
cidadão, levando em consideração o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem e a
aquisição de conhecimentos e habilidades.
Segundo Milanese (2003, p.18):
A nota, meio escolar, é um julgamento de aproveitamento de estudos, expresso
em números; contudo, uma nota dez, por exemplo, não é garantia de excelente
aprendizagem e de uma qualidade virtuosa. A virtude, um dos fins da educação
em valores é constituída a partir dos procedimentos adquiridos pelos estudos
e sentimentos de dever e de devir nada tem a ver com notas que representam o
rendimento escolar

Que os alunos colam é verdade. Os professores não podem negar e simplesmente


fazer vistas grossas. Poderíamos, neste momento, discutir sobre as bem tramadas formas de
utilizar a “cola” desde as utilizando os recursos mais rudimentares até os mais sofisticados
no mundo eletrônico. No entanto, este não é o propósito do texto.
A façanha de eliminar a cola em sala de aula dá sentido à educação. Defendemos
pois que, enquanto educadores e professores, deveríamos ensinar o aluno a “aprender a
aprender”. Este deve ser o verbo a ser conjugado quando se quer obter bons resultados no
ensino. Mas, para que isso ocorra é também necessário adotar alguns métodos e hábitos que
sistematizem o estudo e que incentivem os alunos que os conteúdos são fundamentais e
imprescindíveis para seu desenvolvimento profissional.

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5. AVALIAÇÃO: CONCEITOS E PERSPECTIVAS


A avaliação de aprendizagem tem sido muito discutida nos diferentes âmbitos da educação.
O arcabouço teórico referente aos estudos é grande. Existem múltiplas visões sobre avaliação
que, de um modo geral, seu foco tem sido voltado para as implicações causadas no aluno.
O ato de avaliar é algo antigo na história, de antes de Cristo (2025 a.C), na China,
o imperador chinês Shun, examinava seus oficiais com a intenção de promovê-los ou
demiti-los da função. O termo avaliação de aprendizagem, segundo Souza (2005), surge
mais especificamente nos estados Unidos da America no século XIX, quando foi criado um
sistema de testagem por Horace Mann. Nesse momento houve a institucionalização da
prova escrita. Desta ação surgiram as discussões sobre as possibilidades de testar programas
educacionais. Desde então, avaliar tornou-se um termo empregado em diversos contextos
(escolares ou não) com diferentes juízos, objetos e significados.
Almeida (2006) observa que a avaliação está presente nas diversas áreas da atividade
humana e que, de uma ou de outra forma, todas as pessoas avaliam e são inevitavelmente
avaliadas: qualquer forma de avaliação pressupõe fundamentalmente um julgamento, com
base em uma concepção explicita ou implícita. Ao longo da história, mesmo sem ter a noção
exata do seja avaliar, o home utiliza a avaliação para alcançar resultados
Para o mesmo autor o, o homem ao avaliar emite juízos que depende de padrões
estabelecidos, que direcionam a avaliação como fios condutores. Defende que o homem
emite dois tipos de juízo: o de valor e da realidade, Com o juízo da realidade, por meio da
avaliação, o homem atribui significado à realidade, como ele a percebe. Já o juízo de valor,
possibilita ao home avaliar e emitir juízo sobre o significado daquilo que ele observa ou
vivencia.
No que se refere aos modelos de avaliação do rendimento acadêmico, Almeida (2006)
elege três modelos: a avaliação diagnóstica que assume o significado de situar o aluno no
processo de aprendizagem; a avaliação tradicional na qual a ênfase está na verificação,
apuração e interpretação dos dados e resultados alcançados; a avaliação prognóstica, cuja
função é avaliar e orientar o aluno nas escolhas e possíveis caminhos que decida seguir em
relação ao seu aprimoramento.
Estabelecendo um paralelo entre os autores citados, evidencia-se que a avaliação
tradicional direciona-se à emissão de valores e as avaliações diagnósticas e prognósticas
direcionam-se á emissão do juízo da realidade.
Todavia, independemente do modelo de avaliação adotado é importante que haja uma
redefinição deste instrumento objetivando que a avaliação seja um construto de verificação
da eficiência da aprendizagem.
A avaliação é, portanto, a leitura que o professor faz do conhecimento do aluno,
com bases na respostas das em uma prova, numa discussão em classe ou numa atividade
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experiencial e, sendo assim, o professor deve conhecer os motivos e objetivos da avaliação,


para que com o resultado do processo avaliativo, ele possa discutir com o aluno uma
alternativa para melhorar o seu desempenho (caso haja necessidade). Neste processo, o
aluno, como protagonista de sua aprendizagem, deve se considerar parte integrante de uma
estrutura social educacional que tem deveres a cumprir, aprendizagem á adquirir, que estão
intrinsecamente relacionadas ao seu rendimento acadêmico.
Contudo, observa-se que o significado do termo avaliar que persistem no âmbito
educacional está associado a palavras que têm sentidos sinônimos, tais como, provas, testes,
trabalhos, notas e resultados alcançados. Não bastasse, persiste a cultura de avalia os erros
que são interpretados como não saber e deficiência, e os acertos, que assumem o saber o
conhecimento e indicam boa aprendizagem.

6. UM POUCO DE HISTÓRIA
Desde a história antiga, encontra-se diversas formas de avaliação. Documentos e registros
comprovam que em algumas tribos primitivas, adolescentes eram submetidos a provas
relacionadas com seus usos e costumes e, somente depois de serem aprovados nessas provas
eram considerados adultos.
O inquérito oral tem sua origem em Atenas, e Sócrates foi um dos intelectuais que
submetia seus alunos a um exaustivo e preciso inquérito oral que ainda é utilizado,
atualmente. Vale ressaltar que a frase “Conhece te a ti mesmo” no qual Sócrates empenhou
toda a sua vida de sábio apontava, desde então, a auto-avaliação como um pressuposto
básico para o encontro com a verdade. Seu método pedagógico também chamado maiêutica
e evidenciava o processo da conceituação.
O método racional (tradicional) e o argumento de autoridade sempre prevaleceu nos
ambientes educacionais e evidenciava o valor intelectual ou moral daquele que a propõe ou
professa. Logo a figura do professor como autoridade nasceu na Historia Antiga, por isso a
opinião dos mestres ou autoridades no assunto era aceita passivamente e a ação de repetir
integralmente o que se ouvia ou lia, era a prova mais convincente do saber. Nesta época,
não havia a situação de cola pois a atenção e a memória, e os agrupamentos operatórios de
pensamento eram muito valorizados.
Na Idade Média uma nova configuração se manifesta, e segundo, Souza (2005) os
doutores medievais ao refletirem sobre o irracional, preparam os caminhos da razão e
abriram novas perspectivas para a avaliação. Neste contexto, Santo Tomás, com toda sua
sutileza e operação intelectual imprime uma orientação nova no pensamento cristão.
No renascimento, enquanto que, a corrente do humanismo cristão trazia valiosas
contribuições para a avaliação através de uma orientação psicológica , a corrente do
humanismo pagão exaltava a individualidade humana, considerada como um fim em
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si mesma; a super valorização do eu individual sem quaisquer vínculos com valores


transcendentais. Este humanismo viria mais tarde imprimir no pensamento moderno seu
caráter predominantemente naturalista.
Outro aspecto a destacar, que colaborou para a mudança na visão de avaliação foi a
invenção da imprensa a que mais contribuiu para o desenvolvimento de todas as formas
de atividade intelectual. Multiplicaram-se os livros. E se tornaram acessíveis a todos. Neste
momento histórico fundaram- se escolas e criaram- se bibliotecas. Era o incio da Idade
Moderna e alguns aspectos da pedagogia desta época nos possibilitam tirar algumas
inferências sobre a maneira como os educadores avaliavam o aproveitamento do aluno.
René Descartes na busca da verdade anuncia quatro regras:
1- nada se admiti como verdadeiro se não se conhece evidentemente como tal. É a
regra da evidencia.

2- dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas se puder e for
exigido para sua melhor resolução. É o princípio da análise.

3- levar os pensamentos em ordem começando pelos objetos mais simples e mais


fáceis de serem conhecido para subir, pouco a pouco, como por degraus, aos
conhecimentos, mais complexos. É a regra assíntese.

4- Fazer em todas a parte enumerações tão completas e inspeções tão gerais que
esteja certo de nada omitir. É a regra da verificação.” (SILVA , 2005 p.34)

Não há como negar que essas regras, ainda hoje, são de uso constante na prática da
avaliação.
Rementendo-se a Idade Contemporânea compreendida entre o fim do século XVII,
XIX e XX, verifica-se que o sistema educativo tradicional sofre influências do iluminismo
associados à algumas correntes pedagógicas: o individualismo, o socialismo, o nacionalismo
e pragmatismo. Existia, contudo, um movimento em prol da reabilitação dos valores
espirituais acentua, alem da necessidade de formação intelectual e cientifica, a formação
ético-religiosa.
No processo histórico da avaliação nacional brasileira predominou desde o inicio
da colonização as provas orais e os exames, herança esta trazida pelos jesuítas. Mais,
recentemente, com de acordo com Lei de Diretrizes e Bases que foi projetada, em 1988, a o
processo avaliativo é contemplado no Art. 24 inciso V, que diz a verificação do rendimento
escolar observará os seguintes critérios:
a)Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevaleça dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais:

b)Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c)Possibilidade de avanços nos cursos e nas séries mediante verificação do


aprendizado;

d)Aproveitamento de estudos concluídos com êxito;

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e)Obrigatoriedade de estudo de recuperação, de preferência paralelos ao período


letivo, para os casos de baixo rendimento escolar a serem disciplinados pelas
instituições de ensino em seu regimento.

Neste contexto, como já foi enfatizado na lei usa a expressão “verificação do rendimento
escolar’ tendo como intenção de comprovar esse êxito, pois o que se busca não é avaliar
um objeto concreto observável e sim um processo humano contínuo. Entretanto, há de
se considerar que houve avanço no contexto de avaliar mas os professores e os alunos
precisam ampliar suas concepções no sentido de evitar posturas precipitadas e inadequadas
compreendendo que o processo de avaliação precisa ser contínuo para que sejam analisados
o desenvolvimento e as aprendizagens dos educandos em todos os seus aspectos.

7. ARRISCANDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES


Mediante os propósitos deste artigo e mediante a indignação dos seus autores no que
diz respeito aos fatores que levam o aluno a usar meios ilícitos durante as avaliações no
ensino superior consideramos que há um descontentamento observável e por que não uma
desaprovação tanto pelos alunos, como pelos professores e instituições de ensino sobre o
uso da ‘cola”.
Com o intuito de suscitar reflexões trouxemos reflexões sobre os comportamentos dos
alunos, as possibilidades dos professores e as concepções sobre o uso da avaliação como
verificação das aprendizagens. Neste contexto, foi possível compreender que a avaliação
deve ser entendida como recurso que requer referência e um padrão explicito realizado pela
comunicação entre o aluno. O aluno precisa ter consciência de que sua formação depende
de um conhecimento teórico e técnico e de uma visão crítica da realidade que atuará. O
professor, no seu exercício para controlar a eficiência do dos conteúdos e técnicas que se
propõe ensinar, precisa encontrar alternativas para coletar de evidências sobre o nível de
aprendizagem dos alunos.
Logo, mudanças são necessárias e emergentes. Por um lado, a compreensão e ao
comportamento dos alunos em relação a disponibilização da cola como recurso para ‘tirar
nota” . Por outro, em relação a concepção sobre o que é avaliar na educação superior
configurada, normalmente, como uma relação de controle das aprendizagens.
Finalmente, é preciso esclarecer que de forma alguma, a intenção deste texto, foi
tendenciosa em inferir no que concerne ao papel do ensino superior na avaliação dos alunos,
insistimos pelo contrário, que a avaliação merece destaque, visto tratar-se de uma prática
indispensável, especialmente, no nível da graduação e/ou pós-graduação, no que se espera
do domínio do conteúdo e de práticas profissionais necessárias a quem pretende ingressar
no mercado de trabalho.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
MILANESI, L. A. Ordenar para desordenar. São Paulo: Brasiliense, 1990.
MORIN, E. Os sete saberes necessários da educação do futuro. São Paulo: Cortez; UNESCO, 2003.
SOUZA, C.P. Avaliação do rendimento escolar: sedimentação de significados. In: Souza,. C. P.
Avaliação do rendimento escolar. 6ª Ed. 2005, p 143-1451. Campinas: Papirus.
ALMEIDA A. M. F. P. M. Avaliação e seus desdobramentos Revista de Educação PUC- Campinas
(2006) nº 19, p. 52-61

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