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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS - CETEC

CET014 – HIDRÁULICA APLICADA

APOSTILA 08:

CONDUTOS FORÇADOS – DIMENSIONAMENTO


- FÓRMULA UNIVERSAL

José Alberto Sampaio Santos


Março 2010
______________________________Condutos Forçados – Fórmula Universal____________________________

CONDUTOS FORÇADOS - DIMENSIONAMENTO:

Hidraulicamente, o cálculo das canalizações forçadas consiste em determinar as variáveis


Q=vazão, D=diâmetro, V=velocidade e J=perda de carga unitária ou hf=perda de carga
contínua. Para este cálculo utilizam-se duas fórmulas:

a) Equação da continuidade:

 .D 2
Q= .V
4
b) Equação da resistência ou da perda de carga:

Qm
J= K.
D 2.m  n

Desta maneira, duas das variáveis citadas são dadas ou arbitradas, para que sejam determinadas
as outras duas, através das duas equações apresentadas, podendo assim surgir seis tipos de
problemas hidráulicos:
TIPO DADOS INCÓGNITAS
I D,J Q,V
II D,Q J, V
III D,V J,Q
IV Q,V D,J
V Q,J D,V
VI V,J D,Q

Nos problemas I, II, III E IV, o diâmetro D é dado de forma direta ou indireta e, por isto, a
solução é obtida facilmente, principalmente através da utilização de tabelas. No problema V,
ligado aos sistemas de abastecimento de água e aos projetos de irrigação, a perda de carga é um
dado topográfico para o primeiro e pré-estabelecida para o segundo, enquanto a vazão é obtida
em função da população, do seu crescimento, do consumo “per capta” ou das necessidades de
projeto, para o primeiro, e da evapotranspiração da cultura, da área irrigada e da eficiência do
sistema de irrigação adotado, para o segundo. Com a fórmula adequada a cada caso, determina-
se o diâmetro D e a velocidade V. O problema VI deverá ser resolvido por tentativa, da seguinte
maneira: arbitrando o diâmetro D, compatível com a velocidade recomendada, calcula-se a
vazão Q. Com esse valor de Q e com o diâmetro D, através da fórmula escolhida, calcula-se a
perda de carga J. E, se houver coincidência de valor com a perda de carga J dada, o problema
estará resolvido. De uma maneira geral, não há coincidência na primeira tentativa, mas, a
resposta obtida orienta a escolha do novo diâmetro para uma nova tentativa. O processo
continua até que a perda de carga J calculada se ajuste a que foi fornecida no problema.

-FÓRMULAS UTILIZADAS NO DIMENSIONAMENTO DE CONDUTOS


FORÇADOS:

Nos condutos hidráulicos em funcionamento torna-se fácil medir o valor das perdas de carga
(hf), utilizando a expressão do Teorema de Bernoulli. Por outro lado, o projetista de hidráulica
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tem necessidade de conhecimento dessas perdas bem antes da instalação dos condutos, para que
os mesmos sejam seguros, duráveis e econômicos. O elevado número de fórmulas disponíveis
apresenta-se como um sério problema para o projetista, que deve ser bastante criterioso na
escolha da fórmula mais adequada, baseado nas condições de contorno utilizadas na sua
obtenção experimental.

1)FÓRMULA UNIVERSAL OU DE DARCY-WEISBACH (FDW):

É uma fórmula que apresenta fundamento teórico rígido, tendo sido deduzida através da
aplicação da análise dimensional, o qual permite estabelecer a relação entre as diferentes
grandezas que afetam a perda de carga.
Para um conduto circular, a FDW tem o seguinte formato:

L V2 1 V2
hf = f. . ou J = f. . hf e J =f(V)
D 2.g D 2g
ou

8. f .L.Q 2 8. f .Q ²
hf = ou J = hf e J = f(Q)
 2 .D 5 .g  2 .D 5 .g

Onde:
hf = Perda de carga contínua, em m.c.a.
J = Perda de carga unitária, em m/m.
L = Comprimento da tubulação, em m.
D = Diâmetro interno do tubo, em m.
V = Velocidade média de escoamento, em m/s
Q = Vazão ou descarga, em m³/s.
g = Aceleração da gravidade (constante = 9,81m/s²
f = Fator ou coeficiente de atrito da FDW, obtido com base na análise dimensional, utilizando o
nº de Reynolds (Re) e a rugosidade relativa (e/D).

VANTAGENS E LIMITAÇÕES
a) É a fórmula de maior caráter científico, apresentando grande precisão de cálculo.
b) Aplica-se a qualquer regime de escoamento.
c) Pode ser aplicada a qualquer tipo de líquido.
d) Aplica-se a qualquer tipo de material.
e) A obtenção do fator de atrito “f”apresenta um grau de dificuldade maior do que os
coeficientes de atrito das demais fórmulas empíricas.

Na determinação de “f” devem ser consideradas duas situações distintas: se o regime é laminar
(Re ≤ 2.000) ou turbulento (Re ≥ 4.000). Em ambos os casos, porém, “f” pode ser obtido pelo
diagrama de Moody (DM) ou através do uso das fórmulas empíricas.

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A)OBTENÇÃO DE “f” PELO DIAGRAMA DE MOODY (DM):

O diagrama de Moody (DM), vide página 19, é um gráfico logarítmico em que “f” é dado em
função do nº de Reynolds (Re) e da rugosidade relativa do conduto (k/D).
Esse diagrama tem uso muito difundido entre os engenheiros hidráulicos e se presta à
determinação de “f” para os tubos comerciais, tanto no regime laminar, quanto no regime
turbulento, para qualquer tipo de material de tubo. Ademais, a sua utilização permite facilmente
se estabelecer a classificação do tubo quanto à rugosidade da parede interna.
O diagrama de Moody (DM) foi desenvolvido para facilitar a determinação de “f”, porém sua
precisão diminui muito na região do regime crítico e, o nível de precisão de “f” dependerá do
grau de precisão de sua medida no DM.

EXERCÍCIOS:

01) Por uma canalização nova de cimento-amianto (k = 0,025 mm) de 200 m de comprimento e
25 mm de Ø escoa 1 l/s de água a 20°C (ν = 1,01.10-6 m²/s). Determinar a perda de carga
contínua (hf) devida ao escoamento.

SOLUÇÃO:

Dados:
k = 0,025 mm
L = 200 m
*D = 25 mm = 0,025 m
*Q = 1 l/s = 0,001 m³/s
ν = 1,01.10-6 m²/s = 0,000 001 01 m²/s
hf = ?

Inicialmente, devemos analisar os dados fornecidos direta e indiretamente, de forma a


identificarmos pelo menos duas das variáveis hidráulicas (Q, V, D e hf ou J). De fato, no
presente problema, dispõe de duas dessas variáveis, marcadas com asterisco (*), caracterizando-
se como um problema hidraulicamente solucionado.

Cálculo da rugosidade relativa:


k 0,025mm
  0,001
D 25mm

Cálculo da velocidade:

4.Q 4.0,001
V= = = 2,037 m/s
 .D 2
 .0,025²

Cálculo do nº de Reynolds:

V .D 2,037.0,025
Re = = = 50.425 ≈ 5,04.104
 0,00000101

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Como Re = 50.425 > 4000, o fluxo é turbulento.

Determinação de “f” através do Diagrama de Moody (DM):

k
Para = 0,001 e Re ≈ 5,04.104, pelo DM se obtém:
D
f = 0,024

Cálculo da perda de carga contínua:

8. f .L.Q 2 8.0,024.200.0,001²
hf = = ≈ 40,61 m.c.a.
 2 .D 5 .g  2 .0,0255.9,81

02) Uma tubulação de ferro fundido ( k = 0,30 mm ) conduz água a 20°C a uma velocidade
média de 3 m/s. Se a tubulação tem 365 m de comprimento e 15 cm de diâmetro, encontrar a
perda de carga contínua.

SOLUÇÃO:

Dados:
k = 0,30 mm
TH2O = 20°C  ν = 0,00000101 m²/s
*V = 3 m/s
L = 365 m
*D = 15 cm = 150 mm = 0,15 m
hf = ?

Trata-se de um problema hidraulicamente solucionável, na medida em que conhecemos, pelo


menos, duas variáveis hidráulicas (V e D).

Cálculo da rugosidade relativa:


k 0,30mm
=  0,002
D 150mm

Cálculo do nº de Reynolds:
V .D 3.0,15
Re =  ≈ 445.545 ≈ 4,455.105 (Regime turbulento)
 0,00000101
Determinação de “f” através do Diagrama de Moody (DM):
k
Para = 0,002 e Re ≈ 4,455.105, pelo DM se obtém: f = 0,024
D

Cálculo da perda de carga contínua:

2
hf = f. L . V = 0,024.
365 3²
. = 26,79 m.c.a.
D 2.g 0,15 2.9,81
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03) Uma tubulação nova de ferro fundido (k = 0,25 mm) de 125 mm de Ø conduz água à
temperatura de 30°C (ν = 8,04.10-7 m²/s), com perda de carga unitária de 0,008 m/m. Calcular a
vazão da tubulação, em l/s.

SOLUÇÃO:

Dados:
k = 0,25 mm
*D = 125 mm = 0,125 m
TH2O = 30°C  ν = 8,04.10-7 m²/s = 0,000000804 m²/s
*J = 0,008 m/m
Q = (l/s) ?

Trata-se de um problema hidraulicamente solucionável, na medida em que conhecemos, pelo


menos, duas variáveis hidráulicas (D e J), além de ν e sendo desconhecidos Q, V e f. Para sua
solução, utiliza-se o método das tentativas, a partir de valores arbitrados para f.
Arbitrando-se um valor para f, a velocidade de escoamento (V) pode ser calculada a partir da
fórmula Universal, em função de J:

1 V2
J= f. .
D 2g

2.g.D.J
V=
f
1ª Tentativa:

2.9,81.0,125.0,008
f1 = 0,030  V=  0,809m / s
0,030

Cálculo da rugosidade relativa:


k 0,25mm
= = 0,002
D 125mm

Cálculo do nº de Reynolds:
V .D 0,809.0,125
Re =   125.777  1,26.10 5 (Regime turbulento)
 0,000000804

Determinação de “f” através do Diagrama de Moody (DM):


k
Para = 0,002 e Re ≈ 1,26.105, pelo DM se obtém: f = 0,0248
D

Se observa que o f arbitrado  f calculado (0,030 ≠ 0,0248), mostrando que o valor arbitrado
inicialmente para f não foi o correto.
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2ª Tentativa:

2.9,81.0,125.0,008
f = 0,0248  V=  0,89m / s
0,0248

Cálculo do nº de Reynolds:
V .D 0,89.0,125
Re =   138.371  1,38.10 5 (Regime turbulento)
 0,000000804

Determinação de “f” através do Diagrama de Moody (DM):


k
Para = 0,002 e Re ≈ 1,38.105, pelo DM se obtém: f = 0,0248
D

Na 2ª tentativa obteve-se o f assumido = f calculado (0,0248 = 0,0248), demonstrando que o


valor correto para f é 0,0248 e que a velocidade (V = 0,89 m/s) deverá ser adotada como
verdadeira.

Cálculo da vazão:
 .D 2  .0,125 2
Q= .V  .0,89  0,01092m³ / s  10,92l / s
4 4

04) Uma tubulação de ferro fundido asfaltado (k = 0,12 mm) de 100 m de comprimento
transporta 35 l/s de água a 20°C, com perda de carga contínua de 2,25 m.c.a. Calcular o
diâmetro do conduto, em mm, admitindo-se g = 10 m/s².

SOLUÇÃO:

Dados:
k = 0,12 mm
L = 100 m
*Q = 35 l/s = 0,035 m³/s
*hf = 2,25 m.c.a.
TH2O = 20°C  ν = 0,00000101 m²/s
D = (mm) ?

Trata-se de um problema hidraulicamente solucionável, na medida em que conhecemos, pelo


menos, duas variáveis hidráulicas (Q e hf), além de L, k e ν e sendo desconhecidos D, V e f.
Para sua solução, utiliza-se o método das tentativas, a partir de valores arbitrados para f, na
medida em que não se pode obter Re (que depende da variável D nas suas duas fórmulas) e k/D
(rugosidade relativa, que também depende da variável D, desconhecida). Assumindo-se um
valor inicial para f, que é determinado por processo iterativo e, também, pela determinação da
fórmula Universal ou fórmula de Darcy-Weisbach (FDW), em função da vazão. Assim:

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8. f .L.Q 2
hf =
 2 .D 5 .g

0, 2
 8. f .L.Q ² 
D=  2 
  .hf .g 

No caso, em particular, pode-se desmembrar a variável f, que chamaremos de f1 da equação


anterior, na medida em que se conhecem todas as demais variáveis da equação (L, Q e hf) e que
são constantes para o problema. Assim:

0, 2
 8.L.Q ² 
D1 =  2  . f10, 2
  .hf .g 

0, 2
 8.100.0,035² 
D1 =  2  . f10, 2
  .2, 25.10 

D1  0,338. f10, 2

1ª Tentativa:

f1 = 0,025  D1 = 0,338.0,0250,2  D1  0,1616 m  161,6 mm

Cálculo da rugosidade relativa:


k 0,12mm
  0,00074
D1 161,6mm

Cálculo do nº de Reynolds:
4.Q 4.0,035
Re1 =   273.033  2,73.10 5 (Regime turbulento)
 .D1 .  .0,1616.0,00000101

Determinação de “f2” através do Diagrama de Moody (DM):


k
Para  0,00074 e Re1  2,73.105, pelo DM se obtém: f2 = 0,019
D1

Como o f1 arbitrado ≠ f2 encontrado (0,025 ≠ 0,019), resulta que o f1 não é verdadeiro,


implicando, como conseqüência, que D1 também não é verdadeiro, na medida em que D1 foi
obtido a partir de f1.

2ª Tentativa:

f2 = 0,019  D2 = 0,338.0,0190,2  D2  0,153 m  153 mm


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Cálculo da rugosidade relativa:


k 0,12mm
  0,00078
D2 153mm

Cálculo do nº de Reynolds:
4.Q 4.0,035
Re2 =   288.380  2,88.10 5 (Regime turbulento)
 .D.  .0,153.0,00000101

Determinação de “f3” através do Diagrama de Moody (DM):


k
Para  0,00078 e Re2  2,88.105, pelo DM se obtém: f3  0,019
D2

Como o f2  f3 (0,019  0,019), resulta que o f2 é verdadeiro, implicando, como conseqüência,


que D2 também é verdadeiro, na medida em que D2 foi obtido a partir de f2.Assim:
D = 0,153 m = 153 mm
05) Calcular a perda de carga (em kgf/cm²) em uma tubulação de aço ( k = 0,15 mm) com 1.500
m de comprimento e 300 mm de Ø, que transporta 45 l/s de óleo combustível (ν = 1,2.10-4 m²/s),
com d = 0,85.

SOLUÇÃO:

Dados:
k = 0,15 mm
L = 1.500 m
*D = 300 mm = 0,30 m
*Q = 45 l/s = 0,045 m³/s
ν = 1,2.10-4 m²/s = 0,00012 m²/s
d = 0,85  γ = 850 kgf/m³
hf = ?

Trata-se de um problema hidraulicamente solucionável, na medida em que conhecemos, pelo


menos, duas variáveis hidráulicas D e Q, além de k, L e ν. Entretanto, trata-se de um líquido
muito viscoso, o que sugere uma tendência muito forte para o regime laminar. E, caso se
confirme, a rugosidade da parede não terá influencia sobre f e, portanto, sobre a perda de carga
(hf). Assim, a primeira providencia é se encontrar o Re:

4.Q 4.0,45
Re =   1.591,5 (Regime laminar)
 .D.  .0,30.0,00012

Logo, o coeficiente de atrito f pode ser obtido diretamente no DM, em função de Re:

f = 0,040

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8. f .L.Q 2
hf =
 2 .D 5 .g

8 x0,040 x1.500 x0,045²


hf =
 2 .0,30 5.9,81

hf = 4,13 m.c.o.
P = γ.h ou P = γ.hf  P = 850 x 4,13 = 3.510,5 kgf/m²  0,351 kgf/cm²

06) Por uma tubulação de PVC, funcionando como um Tubo Hidraulicamente Liso (THL), de
150 m de comprimento e 150 mm de Ø circulam 35 l/s de água a 20°C. Determinar a perda de
carga e a velocidade utilizando o DM, admitindo g = 10 m/s².

SOLUÇÃO:

Dados:
THL
L = 150 m
*D = 150 mm = 0,15 m
*Q = 35 l/s = 0,035 m³/s
TH2O = 20°C  ν = 0,00000101 m²/s
g = 10 m²/s
hf = ?

Trata-se de um problema hidraulicamente solucionável, na medida em que se conhece pelo


menos duas das variáveis hidráulicas: D e Q. Entretanto, o DM mostra que a curva dos tubos
lisos independe da rugosidade relativa (k/D), dependendo unicamente de Re:

4.Q 4.0,035
Re =   294.148  2,94.10 5
 .D.  .0,15.0,00000101

Entrando no DM com Re = 2,94.105 e sabendo se tratar de THL, se obtém:

f = 0,014

8. f .L.Q 2
hf =
 2 .D 5 .g

8.0,014.150.0,035²
hf =
 2 .0,155.10

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hf  2,75 m.c.a.
Cálculo da velocidade:

4.Q 4.0,035
V=   1,98m / s
 .D²  .0,15²

B) OBTENÇÃO DE “f” PELO USO DE FÓRMULAS:

Com a popularização das máquinas científicas programáveis e dos microcomputadores, a


utilização de fórmulas tem assumido a preferência dos projetistas hidráulicos, vis a vis com o
DM, apesar de sua aparente complexidade. Da mesma forma que no DM, a fórmula a ser
utilizada no cálculo de “f” dependerá do regime de escoamento (laminar ou turbulento).

B.1) REGIME LAMINAR:

Nesse caso, “f” é independente da rugosidade relativa do conduto (k/D), sendo função
unicamente ou dependendo exclusivamente do nº de Reynolds (Re), podendo ser obtido pela
expressão:

64
f=
Re

que se aplica para valores de Re ≤ 2.000

No DM esta equação é representada por uma reta, denominada de reta de Poiseuille.

B.2) REGIME TURBULENTO:

Inicialmente há necessidade de classificar o tubo quanto à rugosidade da parede interna. Assim,


ter-se-á:

B.2.1) PARA TUBOS HIDRAULICAMENTE LISOS (THL):

Nestas condições de funcionamento o fator de atrito “f” dependerá exclusivamente do nº de


Reynolds (Re), independendo da rugosidade relativa (k/D).
As fórmulas mais utilizadas para determinação de “f” para tubos hidraulicamente lisos são as
seguintes:
Fórmula de Blasius:

0,3164
f=
Re 0, 25

Válida para 4.000 ≤ Re < 100.000

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Fórmula de Karman-Prandlt:

1
f=
2. logRe . f   0,8
2

Válida para Re ≥ 4.000 (Para todo o domínio do regime turbulento).

B.2.2) PARA TUBOS HIDRAULICAMENTE RUGOSOS (THR):

Para os THR, “f” é função da rugosidade relativa do tubo (k/D) e independe do nº de Reynolds (
Re). Para determinação de “f” nestas condições de funcionamento, utiliza-se a seguinte
fórmula:

Fórmula de Karman-Prandlt:

1
f= 2
  k 
1,14  2. log D 
  

Válida para o regime turbulento (Re ≥ 4.000).

B.2.3) PARA TUBOS DE PAREDE INTERMEDIÁRIA (TPI) OU FUNCIONANDO NA


ZONA DE TRANSIÇÃO:

Nestas condições de funcionamento o “f” dependerá tanto do nº de Reynolds (Re), quanto da


rugosidade relativa do tubo (k/D), aplicando-se a seguinte equação:

Fórmula de Colebrook-White:

1
f= 2
  k 2,51 
 2. log 0,27.  
  D Re . f 
 

Válido para o domínio do regime turbulento (Re ≥ 4.000).

Pode-se também utilizar a fórmula de Colebrook-White para determinar “f” em todo o


domínio dos escoamentos turbulentos, lisos e rugosos.
Observe que a equação de Colebrook-White tende para a equação dos THL quando o termo
0,27.k/D torna-se muito pequeno, devido a pequena rugosidade relativa desses tubos. Por outro
lado, aumentando-se o nº de Reynolds, isto é, diminuindo-se o termo 2,51/Re.√f, a fórmula de
Colebrook-White tende para a equação que é utilizada para determinar “f” para tubos
hidraulicamente rugosos.

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1.1. DEDUÇÃO DE ALGUMAS FÓRMULAS UTILIZADAS NO DIMENSIONAMENTO


DE CONDUTOS FORÇADOS

1.1.1) PARA O REGIME TURBULENTO:

1.1.1.1) FÓRMULA DE BLASIUS COMBINADA COM A FÓRMULA UNIVERSAL


PARA THL COM Re < 100.000:

Em algumas situações práticas de dimensionamento de condutos forçados é muito


comum o uso de tubos de PVC ou de polietileno para transportar água à temperatura ambiente (
ν = 0,000 001 01m²/s ) com baixas vazões e velocidades, resultando em um baixo Reynolds
(pouco turbulento) e em uma maior espessura do filme laminar ou camada limite. Como
corolário, ter-se-ão tubos hidraulicamente lisos (THL), com número de Reynolds menor do que
100.000. Estas condições de funcionamento asseguram a aplicação da fórmula Universal ou de
Darcy-Weisbach, combinada com a fórmula de Blasius. Assim:

-Fórmula Universal ou de Darcy-Weisbach:

8. f .L.Q 2
hf = (01)
 2 .D 5 .g

8 Q2
hf = . f . .L (02)
 2 .g D 5

Admitindo-se g = 9,81m/s², teremos:

Q2
hf = 0,082626857. f . .L (03)
D5

Pela fórmula de Blasius, obtemos o “f”, através da expressão:

0,3164
f= (04)
Re 0, 25

O Re em função da vazão, é dada pela expressão:

4.Q
 .D
Re = (05)
Assim:

0, 25
 4.Q  4 0, 25.Q 0, 25 4 0, 25 Q 0, 25 Q 0, 25
Re 0,25
=    .  33,5. (06)
  .D.   0, 25 .D 0, 25 . 0, 25  0, 25 . 0, 25 D 0, 25 D 0, 25

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Substituindo a equação anterior (06) na equação 04, teremos:

0,3164 D 0, 25
f=  0,009444776. 0, 25 (07)
Q 0, 25 Q
33,5. 0, 25
D

Substituindo a equação 07 na equação 03, teremos:

D 0, 25 Q 2
hf = 0,082626857.(0,009444776. ) . 5 .L (08)
Q 0, 25 D

Desenvolvendo a equação 08, teremos:

Q1,75
hf = 0,00078048. .L (09)
D 4, 75

-Formula de Blasius (Para THL e 4.000 ≤ Re < 100.000):

1.1.1.2) FÓRMULA DE COLEBROOK-WHITE, EM FUNÇÃO DO DIÂMETRO (D) E DA


PERDA DE CARGA UNITÁRIA (J):

NOTA: Observe que às vezes fica difícil para o projetista saber antecipadamente a
classificação da parede do tubo e, assim, definir qual das fórmulas disponíveis
utilizar. E, como a fórmula de Colebrook-White se aplica a todo o domínio do
regime turbulento para tubos lisos, rugosos e de parede intermediária, conforme
vimos no Capítulo anterior; sugere-se o seu uso em qualquer situação para o
regime turbulento, em substituição às demais fórmulas, conforme orientação da
ABNT.
Pela fórmula Universal pode se obter a perda de carga unitária (J), em função da velocidade (V),
através da expressão:

1 V2
J = f. .
D 2.g

Desta expressão, tem-se que a velocidade (V), é:

2.g.D.J
V² =
f

2.g.D.J
V=
f

Assim, pode-se, pela expressão acima, obter:


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V. f = 2.g.D.J

O Nº de Reynolds, em função da velocidade (V), é dado pela expressão:

V .D
Re =

Desta expressão, tem-se que:

Re .
V=
D

Substituindo esta expressão em substituição à variável velocidade (V), no termo V. f , da equação


anterior, teremos:
Re .
. f = 2.g.D.J
D

Desenvolvendo a equação, teremos:

D. 2.g.D.J
Re. f =

2.g.D 2 .D.J
Re. f =

2.g.D ³.J
Re. f =
v

A equação de Colebroock-White para o cálculo de “f”, é:

1
f= 2
  k 2,51 
 2. log 0,27.  
 
  D Re . f 

Substituindo a expressão anterior na equação utilizada para o cálculo de “f”, teremos:

_________________________________________________________________________________________ 14
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1
f = 2
  
  
 2. log . 0,27. k  2,51 
  

D 2.g.D 3 .J 
  
   

Desenvolvendo a expressão acima, teremos:

1
f= 2
   
 2. log . 0,27.  2,51. 
k
  D 2.g.D 3 .J 
  

Fórmula de Colebrook-White para tubos de qualquer natureza de parede, em função do


diâmetro (D) e da perda de carga unitária (J), é obtida pela expressão:

1
f = 2
(10)
  2,51. 
 2. log . 0,27.  
k
  D 2.g.D 3 .J 
  

1.1.2. PARA O REGIME LAMINAR:

1.1.2.1) DEDUÇÃO DA FÓRMULA UNIVERSAL OU DE DARCY-WEISBACH, EM


FUNÇÃO DA VELOCIDADE (V):

A perda de carga, em função da V, é:

L V2
hf = f. .
D 2. g

O “f” no regime laminar é obtido através da fórmula:

64
f=
Re

Entretanto, o N° de Reynolds, em função da velocidade (V), é obtido pela expressão:

V .D
Re =

Substituindo a expressão acima na fórmula anterior, teremos:

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64
f=
V .D

64.
f=
V .D

Substituindo a expressão acima na fórmula Universal , teremos:

64. L V 2
hf = . .
V .D D 2 g

32. .L.V
hf = (11)
D 2 .g

32. .V
J= (12)
D 2 .g

Das expressões (03) e (04), tem-se que:

32. .L.V
D= (13)
hf .g

32. .V
D= (14)
J .g

hf .D 2 .g
V= (15)
32. .L

J .D 2 .g
V= (16)
32.

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1.1.2.2) DEDUÇÃO DA FÓRMULA UNIVERSAL OU DE DARCY-WEISBACH, EM


FUNÇÃO DA VAZÃO (Q):

A perda de carga, em função da vazão Q, é:

hf = __8.f.L.Q²_
π².g.D5

O “f” no regime laminar é obtido através da fórmula:

f = _64_
Re

Entretanto, o N° de Reynolds, em função da vazão (Q), é obtido pela expressão:

Re = __4.Q__
π.D.ν

Substituindo a expressão acima na fórmula anterior a esta, teremos:

f = __64___
_4.Q__
π.D.ν

f = _64. π.D.ν
4.Q

f =._16. π.D.ν_
Q

Substituindo a expressão acima na fórmula Universal, teremos:

hf = __8.[( ._16. π.D.ν)/Q].L.Q²


π².g.D5

128.π.D.ν.L.Q²
hf = ______Q_______
π².g.D5

hf = _128.π.D.ν.L.Q
π².g.D5

Assim, a fórmula Universal para o regime laminar, em função da vazão (Q), será:

hf = _128.ν.L.Q_ (17)
π.g.D4

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J = _128.ν.Q_ (18)
π.g.D4

Das expressões (08) e (09), tem-se que:

0 , 25
 128. .L.Q 
D =   (19)
  .g.hf 

0 , 25
 128. .Q 
D =   (20)
  .g .J 

Q = _hf.π.g.D4 (21)
128.ν.L

Q = _J.π.g.D4_ (22)
128.ν

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO EM SALA DE AULA:

01)Calcular a perda de carga de uma tubulação de 200 mm de diâmetro com 100 m de


comprimento, rugosidade absoluta de 0,1 mm, viscosidade cinemática da água à temperatura de
20°C de 1,01 x 10-6 m²/s, conduzindo uma vazão de 68,2 l/s.

02)Calcular a velocidade da água e a vazão conduzida em uma tubulação de 100 mm de


diâmetro, com 300 m de comprimento, perda de carga contínua de 3,45 m.c.a., rugosidade
absoluta de 0,025 mm e viscosidade cinemática da água a 37ºC igual a 7 x 10-7 m²/s.

03)Uma tubulação nova de ferro fundido (e = 0,25 mm) de 125 mm de diâmetro, conduz água à
temperatura de 30°C (ν = 8,04 x 10-7 m²/s), com uma perda de carga unitária de 0,008 m/m.
Calcular a vazão da tubulação, em l/s.

04)Uma tubulação de ferro fundido asfaltado ( e = 0,12 mm) de 100 m de comprimento,


transporta 35 l/s de água a 20°C ( ν = 1,01 x 10-6 m²/s) com uma perda de carga total de 2,25
m.c.a. Calcular o diâmetro do conduto, em mm, admitindo g = 10 m/s².

EXERCÍCIOS PARA CASA:

Resolver os exercícios de 01 a 06, utilizando exclusivamente as fórmulas, contidos na Apostila


08 (Resolvidos pelo Diagrama de Moody – DM).

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Tabela 01. Operação seqüencial para resolução de problemas com a Equação Universal utilizando o Diagrama de Moody
Tipo Dados Incógnitas 1º Passo 2º Passo 3º Passo 4º Passo 5º Passo
k
hf .D.2.g D Obter f do diagrama e  .D ²
I D, hf Q, V Estimar f V  repetir os passos, até que Q .V
f .L 4
(tentativa) V .D f(n+1) ≈ fn
Re 

4.Q V .D k Determinar f pelo diagrama L V²
V Re  hf  f . .
II D, Q V, hf  .D ²  D D 2.g
 .D ²
III D, V Q, hf Q .V Com Q conhecido passa a ser problema tipo II
4

IV Q, V D, hf Q Com Q conhecido passa a ser problema tipo II


D  2.
 .V

Estimar f 0, 2 4.Q k Obter f do diagrama e


 8.L.Q ² 
V Q, hf D, V (tentativa) D1    . f10, 2 Re1   .D . D1
comparar com o valor
  ².g.hf  1 inicial f1; se
necessário, repetir os
passos de 1 a 5.
Estimar f L.V ² V .D1 k 4.Q
V, hf D, Q (tentativa) D1  . f1 Re1  V
VI hf .2.g  D1  .D ²

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Tabela 02. Operação seqüencial para resolução de problemas com a Equação Universal utilizando as fórmulas para obter-se “f”
Tipo Dados Incógnitas 1º Passo 2º Passo 3º Passo 4º Passo 5º Passo
1 J . .g.D 4
f= 2.g.D.J Re  V .D Laminar ou Crítico
Q 
128.
2
    V Re < 4.000
I D, J Q, V
 k
 2. log 0,27. 
2 ,51.   

f  .D²
  D 2.g.D ³.J  Turbulento Q .V
Re ≥ 4.000 4
Laminar ou
128. .Q
Crítico J XXXXXX
Re < 4.000  .g.D 4
4.Q V .D
II D, Q V, J V Re  1
 .D ²  f  8. f .Q ²
Turbulento
 2,51 
2
J
Re ≥ 4.000 k
 2. log( 0,27.  )  ².D 5 .g
 D Re . f 

Laminar ou
32. .V
Crítico J XXXXXX
Re < 4.000 D ².g
 .D ² V .D
III D, V Q, J Q .V Re  f 
1
4  2
Turbulento
 2,51  1 V²
Re ≥ 4.000 k
 2. log( 0,27.  ) J  f. .
D 2.g
 D Re . f 

Laminar ou
128. .Q 32. .V
Crítico J ou J XXXXXX
Re < 4.000  .g.D 4 D ².g
1 V²
V .D 1 J  f. .
IV Q, V D, J D  2.
Q Re  f  D 2.g

2
 .V Turbulento  k 2,51  ou
Re ≥ 4.000  2. log( 0,27.  )
8. f .Q ²
 D Re . f  J=
 ².D 5 .g

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Recalcular o diâmetro D c/o uso da fórmula p/o Com o valor de D obtido,


Laminar ou regime laminar: recalcula-se Re:
Crítico 0 , 25
 128. .Q  4.Q
Re < 4.000
D    Re 
 .D.
  .g .J 
Arbitra-se um valor inicial para f = f1. Calcula-se então D1: f2=
Q, J D, V 4.Q
V 0, 2 Re1  1
 8.Q ²   .D1 .
D1    . f10, 2   
2
V
4.Q
   k 2,51.
 2. log 0,27. 
².g . J  .D ²
Turbulento 
Re ≥ 4.000
  D1 2.g.D1 ³.J 
 
Se f2 ≠ f1, será necessário repetir os passos de 1 a 4,
até que f(n+1) ≈ fn. Neste caso, o diâmetro Dn
utilizado no último cálculo será o diâmetro que se
procura.
Recalcular o diâmetro D c/o uso da fórmula p/o Com o valor de D obtido,
regime laminar: recalcula-se Re:
Laminar ou 0 , 25
 128. .Q  4.Q
Crítico
D    Re 
Re < 4.000  .D.
  .g .J 
Arbitra-se um valor inicial para f = f1. Calcula-se então D1: f2=
VI V, J D, Q V .D1
V² Re1  1
D1  . f1  2
J .2.g   k 2,51.   .D ²
Turbulento  2. log 0,27.   Q .V
Re ≥ 4.000
  D1 2.g.D1 ³.J  4
 
Se f2 ≠ f1, será necessário repetir os passos de 1 a 4,
até que f(n+1) ≈ fn. Neste caso, o diâmetro Dn
utilizado no último cálculo será o diâmetro que se
procura.

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