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Redes de Fluidos

Folhas de Teóricas de Apoio à Cadeira


Ano lectivo de 2006/2007

Departamento de Engenharia Mecânica

Área Científica de Termodinâmica Aplicada

Realizadas pelo Docente da Cadeira:


Miguel Cavique

Outubro de 2007
Versão 1.1.
Redes de Fluidos 2006/07
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1. Introdução

Da experiência colhida nos últimos anos, pretende-se que estas folhas possam contribuir
para a melhoria do conhecimento dos alunos na disciplina de Redes de Fluidos. Esta
disciplina, com 7 ECTS, deverá dar aos alunos as bases que lhes permitam definir
sistemas mais elaborados.
Os alunos deverão considerar uma carga de trabalho externa às aulas de 110h, das quais
90h no período lectivo.
No final, os alunos deverão dominar os conhecimentos básicos de Redes de Fluidos,
saber aplicá-los aos casos de redes prediais e urbanas de gás e de água sabendo
inscrevê-las e dimensioná-las, conhecer os equipamentos básicos destas redes e analisar
redes em anel. Saberão ainda dimensionar redes elementares de água e de ar em
instalações de ar condicionado. Deverão demonstrar a capacidade de aplicar os
conhecimentos obtidos a redes com outros fluidos.
As matérias leccionadas deverão ser encaradas como aplicações dos conhecimentos de
base, não devendo ser confundido com manuais de projecto de redes gás, água ou de ar
condicionado.
Posteriormente e na vida activa deverão os alunos conhecer em pormenor os códigos de
boa prática, o tipo de aplicação determinado por cada distribuidora de gás ou de água,
ou conhecer as técnicas de aplicação a cada indústria.
Estas folhas pretendem ser um resumo da matéria e como tal um bom auxiliar. São
indicadas as principais demonstrações, mesmo que em alguns casos se faça uso de
comparação com outros métodos, os dados mais importantes para o dimensionamento
de redes e propostas de exercícios, de trabalhos e de reflexões sobre o tema. Como
primeira versão melhorada das folhas anteriores, será concerteza alvo de melhorias. Os
alunos devem encará-las como uma manual de aplicação geral não dispensando a
consulta de outros referidos na bibliografia.

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2. Perdas de carga
2.1. Equação de Bernoulli

Bernoulli demonstrou que num escoamento de um qualquer líquido entre dois pontos
(“1”-montante e “2”-jusante) o líquido cede energia para vencer as resistências que se
oferecem ao seu escoamento. A equação da energia pode ser expressa por:
 ρV   ρV 
2 2

∆P =  1 + p1 + ρgh1  −  2 + p 2 + ρgh 2  (2.1)


 2   2 
onde:
- h1 e h2 são as cotas
- p1 e p2, as pressões estáticas
- V1 e V2, são as velocidades
respectivamente nos pontos 1 e 2 definidos anteriormente.
Em qualquer projecto de uma rede é necessário calcular a energia que o líquido irá
despender para poder escoar na tubagem, isto é a perda de carga na tubagem.

2.2. Fórmula de Darcy

A perda de carga, ou de energia, resulta do atrito interno do líquido devido à sua


viscosidade e da resistência oferecida pelas paredes em virtude da sua rugosidade.
Darcy propôs a expressão geral da perda de carga:
L V2
∆P = f .ρ. . (2.2)
D 2
VHQGR 3DSHUGDGHFDUJD, que varia directamente com o comprimento L da tubagem,
com a energia cinética do escoamento e com o factor de atrito f e inversamente com o
diâmetro D da secção do escoamento. Esta expressão pode ser obtida por análise
dimensional.
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Exercício 2.1. – Analise dimensionalmente a expressão (2.2).


A perda de carga P é muitas vezes expressa em (m.c.a.).
Altere (2.2) de modo que a perda de pressão seja obtida em
metros de coluna do líquido considerado.
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Nas expressões que se seguem D será considerado o diâmetro de uma conduta circular.
Em casos de condutas com outras formas poder-se-á utilizar em sua substituição o
diâmetro hidráulico Dh dado pela relação de 4 vezes a secção da conduta sobre o
perímetro molhado. Para uma conduta circular Dh=D, como se verifica pela expressão
πD 2
4.
4.A 4 = D . Numa conduta de secção rectangular de dimensões a e b, o
Dh = =
P π.D
2(a.b)
diâmetro hidráulico será D h = .
(a + b )
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Exercício 2.2. – Para uma conduta de ar condicionado de


secção rectangular considere b a dimensão vertical
supostamente fixa e a a dimensão horizontal com possibilidade
de variar. Prove que por maior que seja a, o Dh é dependente
de b não podendo ser superior a 2b.
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Rescrevendo a eq. 2.2 função do caudal Q, para uma conduta circular:


f Q2
∆P = 8. .ρ.L. (2.3)
π2 D5
Ou para um fluido e admitindo f aproximadamente constante:
Q2
∆P = K.L. (2.3. a)
D5
Em regime turbulento, o factor de atrito f depende, da rugosidade relativa das paredes
GDWXEDJHP 'VHQGR ε a rugosidade absoluta das paredes Re o número de Reynolds
V.D
dado por Re = (2.4)
ν
onde é a viscosidade cinemática do fluido1. A viscosidade cinemática é função da
viscosidade dinâmica VHJXQGR  
A viscosidade dos fluidos varia com a temperatura. Para o ar e gás natural inserem-se na
tabela seguinte os valores da viscosidade dinâmica em centi Poise:

Viscosity Calculator:
1 http://www.lmnoeng.com/Flow/GasViscosity.htm

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Viscosidade Temperatura [ºC]


[cPoise = 10-3 Pa.s]
0ºC 15ºC 25ºC
Ar 0.0174 0.0181 0.0186
Fluido Gás Natural sg(0.5) 0.0121 0.0125 0.0129
Gás Natural sg(0.75) 0.0106 0.0112 0.0113

Tabela 2.1 – Viscosidade dinâmica de gases em centi poise

O Poise é a unidade de viscosidade dinâmica do sistema CGS, devendo o seu nome a


Poiseuille, médico francês do século XIX, que estudou a circulação sanguínea e
escreveu "Le mouvement des liquides dans les tubes de petits diamètres", publicada em
1844. Esta unidade é ainda usada em diversas indústrias, sendo a conversão de 1 centi
Poise = 10-3 Pa.s. A viscosidade em gases é fundamentalmente dependente da
temperatura, variando positivamente com o aumento de temperatura. A correcção da
viscosidade para pressões de 35 bar geralmente inferior a 10% do seu valor.

Para a água e muitos outros líquidos, a viscosidade diminui com a temperatura. A tabela
seguinte exprime essa relação em centi Stokes, unidade igual a 10-6 m2/s.

Temperatura [ºC] 0 15 20 25 45 60 80
-6 2
Viscosidade [cStokes= 10 m /s] 1,79 1,14 1,01 0,90 0,61 0,49 0,37
Tabela 2.2 – Viscosidade cinemática da água

O factor de atrito f pode depende do tipo de escoamento, e como tal de Re, e da


UXJRVLGDGH UHODWLYD ' 2 FRQKHFLGR GLDJUDPD GH 0RRG\ SHUPLWH HVWDEHOHFHU HVVD
relação. Dado que depende de números adimensionais permite a obtenção do factor de
atrito para qualquer fluido.

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Figura 2.1 – Diagrama de Moody

Este diagrama pode ser expresso por diversas equações de aproximação. Sitam-se a de
Colebrook necessitando de resolução iterativa, dado que f aparece em ambos os lados da
equação:
1  2ε 18.7 
= 1,74 − 2 log10  +  (2.5)
f  D Re f 

Ou em alternativa pode ser utilizada a expressão de Hunter-Rouse:


1 D
= 2 log10   + 1,14 (2.6)
f ε 

Numa outra expressão explicitada em ordem a f:


0,25
f= 2
(2.7)
  ε 
  5,74 
log10  D + 0,9 
  3,7 Re 
 
  
Ou a expressão de Churcill (1977):

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1
 8 12 1  12

f = 8  +  (2.8)
 Re  (A + B)1,5 
16
  
   16
 1   37530 
A = 2,457 ln  e B= 
 0 , 9
 Re 
   7  + 0,27 ε  
 Re 
    D  

Os valores da rugosidade variam com o material e estado de uso, conforme tabela


seguinte:
Rugosidade Absoluta >—P@
Cobre ou plástico 1,5 a 15
Aço polido 45
Aço Galvanizado com costura 150 a 200
Aço Galvanizado sem costura 60 a 150
Ferro Fundido 260
Fero Fundido revestido com cimento 50 a 150
Tabela 2.3 – Rugosidade absoluta de materiais empregues em tubos

2.3. Expressões de correlação

Para uma determinada indústria é usual a utilização de uma determinada gama de


diâmetros de tubagens para determinados caudais, pelo que para esses tipos de
escoamentos é possível expressar o factor de atrito função exclusivamente de Re.

f=f(Re)=a.Reb (2.9)

sendo b próximo de –0,2 para a maioria dos fluidos, a eq.1.3 pode ser expressa na
forma:
Qn
∆P = K.L. , (2.10)
Dm
sendo n próximo de 1,8 e m próximo de 4,8.

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Exercício 2.3. – Considere os tubos de plástico de diâmetros


nominais entre 22mm e os 90mm com velocidades de
escoamento de 1m/s. Utilizando o diagrama de Moody ou uma
das expressões apresentadas obtenha f(Re). Seguidamente
determine uma equação de perda de carga da forma
apresentada em (1.7). {Sugestão: para determinar as constantes
a e b de (1.7), aplique uma recta de regressão de mínimos
quadrados ao logaritmo da expressão, ou seja
ln(f)=ln(a)+b.ln(Re) }.
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É comum estabelecer perdas de pressão por unidade de comprimento de tubagem, pelo


que a expressão (2.10) surge diversaVYH]HVQDIRUPDM 3/

Fórmulas diversas têm sido propostas nesta base, nomeadamente as de Fair-Hassio, para
tubos de ferro galvanizado até 4” :

j[m.c.a. m ] = 0,002021
[
Q1,88 m 3 s ] (2.11)
D 4,88 [m ]

Ou a Flamant para tubos lisos:

1
4b  v 7 [m s] 4
j[m.c.a. m] =   ,que para tubos usados toma a seguinte forma
D[m] D[m ] 

j[m.c.a. m] = 0,0014
[
Q1, 75 m 3 s ] (2.12)
D 4, 75 [m]

Sendo b=0,00023 para tubos usados e b=0,00018 para tubos novos.


São ainda conhecidas as expressões para tubagem de cobre com água fria:

j[m.c.a. m] = 0,00086
[
Q1, 75 m 3 s ] (2.13)
D 4, 75 [m]

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Ou para tubagem de cobre com água quente:

j[m.c.a. m ] = 0,0007
[
Q1, 75 m 3 s ] (2.14)
D 4,75 [m ]

2.4. Importância relativa dos parâmetros na perda de carga.

A expressão (2.3.a) mostra a importância relativa do diâmetro face às restantes variáveis


da equação. A perda de carga, numa conduta circular, varia linearmente com o
comprimento, quadraticamente com o caudal e com o quíntuplo do diâmetro.
Os eventuais erros na escolha ou utilização de tubos, influenciam o diâmetro interior,
tendo pois um impacto determinante na determinação da perda de carga.
O efeito relativo na pressão por variação de um qualquer dos parâmetros pode ser obtido
diferenciando a expressão (2.3.a). Obtém-se então:

∂∆P ∂∆P ∂∆P Qn Q n −1 Qn


d∆P = + + = K m dL + nKL m dQ − mKL m +1 dD
∂L ∂Q ∂D D D D

RX GLYLGLQGR SRU 3 REWém-se as variações relativas da pressão com o comprimento,
caudal e diâmetro:
d∆P dL dQ dD
= +n −m (2.15)
∆P L Q D

Da expressão anterior assinala-se que a variação em 10% no diâmetro causa uma


variação de cerca de 50% na perda de carga. É pois muito importante conhecer qual o
material e a norma seguida para os tubos empregues numa rede, dado que as variações
para o mesmo diâmetro nominal podem ser superiores a 10%.

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Exercício 2.3 – Determine a expressão do erro relativo de
cálculo da pressão por utilização incorrecta do diâmetro
exterior de uma tubagem de polietileno sdr 11, conforme tabela
2.4.
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Designação IP Designação métrica


Aço Galv. Aço sem Cobre PE Tubo Spiro
DIN2444 costura NP-1638 ISO 4427 Taabela
Série média NP EN 1028-I Sdr11 parcial
DN D ext e D ext e D ext e D ext e D int Tol
(pol) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
10.2 1.8 6 0.8 20 3 80 +0.5
¼” 13.5 2.35 13.5 2.3 8 0.8 32 3 100 +0.5
3/8” 17.2 2.35 17.2 2.3 10 0.8 40 3,7 125 +0.5
½” 21.3 2.65 21.3 2.9 12 0.8 63 5,8 140 +0.6
¾” 26.9 2.65 26.9 2.9 15 1.0 90 8,2 150 +0.6
1” 33.7 3.25 33.7 3.6 18 1.0 110 10,0 160 +0.6
1” ¼ 42.4 3.25 42.4 3.6 22 1.0 125 11,4 180 +0.7
1” ½ 48.3 3.25 48.3 4.0 28 1.2 160 14,6 200 +0.7
2” 60.3 3.65 60.3 4.0 35 1.5 200 18,2 224 +0.8
2” ½ 76.1 3.65 76.1 5.0 42 1.5 250 +0.8
3” 88.9 4.05 88.9 5.6 54 2.0 280 +0.9
4” 114.3 1.05 114.3 6.3 300 +0.9
5” 139.7 4.85 315 +0.9
Tabela 2.4 – Dimensões de Tubos

Na tabela anterior D ext designa o diâmetro exterior, D int o diâmetro interior e e a


espessura da parede da tubagem.
Nas séries métricas o diâmetro é normalmente definido pelo exterior, de modo que
diversos acessórios sejam compatíveis entre diversos materiais e normas. Nas séries em
polegadas o diâmetro nominal não corresponde quer ao exterior, quer ao interior, sendo
normalmente ligeiramente superior ao diâmetro interior.

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Na tubagem em plástico é comum definir o sdr (standard diameter ratio) dado como a
relação entre o diâmetro e a espessura. Assim para o PE 110 – sdr 11 a espessura é de
110/11= 10mm e o diâmetro interior dado por 110-2x10=90mm.
Nas tubagens de aço é comum referir as tubagens função do seu “ Schedule” Sch,
definida como uma relação entre a pressão suportada e a tensão admissível do material.
O Sch=1000xP[psig]/S[psi], sendo comum utilizar o Sch 40 para tubagens com fluidos a
temperatura próxima da ambiente.

2.5. Perda de carga em regime compressível

A introdução de redes de gás natural veio tornar especialmente importante a análise de


redes de fluidos compressíveis. Por facilidade de trabalho os caudais de gás numa rede
são normalmente referidos às condições normais (0) de pressão e temperatura. Para as
pressões de trabalho até 25 bar e à temperatura ambiente o gás natural pode ser
considerado como gás perfeito. Aplicando a equação de estado dos gases perfeitos
pode-se alterar a expressão de perda de carga contemplando o caudal às condições
normais em vez de considerar o caudal que realmente passa na tubagem. Considere-se
pois a expressão (2.3) nas condições de escoamento e introduza-se a equação dos gases
perfeitos:
ρ 0 P0 T
= (2.16)
ρ P T0
A expressão referida pode ser escrita na forma:
dP 8ρ Q 2
=− 2f 5 (2.17)
dL π D

E dado que o caudal mássico na conduta é igual ao dos locais de consumo 4 0Q0 ,
PXOWLSOLFDQGRHGLYLGLQGRSRU :
dP 8 1 ρ2Q 2
= − 2 ⋅ f ⋅ ⋅ 0 5 0 ou introduzindo 2.16,
dL π ρ D

dP 8ρ Q 2 TP
= − 20 ⋅ f ⋅ 05 ⋅ 0
dL π D T0 P
Considerando o escoamento isotérmico a expressão anterior pode ser reescrita como:

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dP 8ρ Q2 P
= − 20 ⋅ f ⋅ 05 ⋅ 0
dL π D P

8ρ 0 P0 Q 02
P.dP = − ⋅ f ⋅ dL (2.18)
π2 D5
Integrando entre A e B e utilizando a densidade relativa ao ar (specific gravity, s)
obtém-se:
16 ⋅ ρ ar Q 02
PA2 − PB2 = − ⋅ s ⋅ P0 ⋅ f ⋅ ⋅L (2.19)
π2 D5

A muito conhecida expressão de Renouard para média pressão, considera uma relação
do factor de atrito com Re da forma f=f(Re-0.18), transformando 2.19. na expressão:

[ ]
PA2 − PB2 bar 2 = 43,9 ⋅ s ⋅ L[m ]⋅
[ ]
Q10,82 m 3 h
(2.20)
D 4,82 [mm]

De notar nesta expressão, face à demonstração, que P é pressão absoluta. Á diferença


PA2-PB2 é chamada diferença quadrática de pressão representada por 3(2), onde o (2)
pretende indicar que é uma diferença de quadrados e não o quadrado de uma diferença.
Conhecida a pressão relativa em A pA e a pressão atmosférica po (1,01325 bar),
facilmente se obtém a pressão relativa em B como:

pB= ( (pA+po)2- 3(2))1/2-po (2.21)


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Exercício 2.4. – Determine a perda de pressão 3 3A-PB=


pA-pB numa rede de gás natural com uma tubagem de 1000m
e um caudal de 150 m3/h, quando a pressão de entrada for de
110 mbar, 1,5 bar, 4 bar ou 7 bar (valores típicos para a
pressão nominal de redes de gás em média pressão). Comente
as conclusões.
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Nas redes de gás em baixa pressão a pressão é de cerca de 20 mbar, valor utilizado nos
gasodomésticos mais comuns. A obtenção de uma expressão para a perda de carga pode

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ser obtida linearizando a expressão (2.20). Se P for a pressão em qualquer ponto e PA a
pressão no nó de injecção, a função P2 pode ser linearizada por desenvolvimento em
série de Taylor P2=PA2- (P-PA) (2.PA 2X 3(2)= PA2-P2=2.PA(P-PA), pelo que se sendo
S S-pA=P-PA,

S 3(2)/(2.PA), obtendo-se de (2.20) a expressão com a diferença de pressões em


mbar:

∆p[mbar] = 21950 ⋅ s ⋅
[ ]
Q10,82 m 3 h
(2.22)
D 4,82 [mm]

Renouard propôs uma expressão ligeiramente diferente dada por:

[
Q10,82 m 3 h
∆p[mbar] = 23200 ⋅ s ⋅ 4,82
] (2.23)
D [mm]

As expressões descritas muito embora sejam válidas em sentido estrito para as


aplicações que foram deduzidas, podem no entanto sem erro significativos serem
utilizadas em outras aplicações. A fórmula de Renouard para média pressão é aplicada
em redes de diversos gases combustíveis a pressões entre os 100 mbar e os 25 bar e
pode ser utilizada em redes de ar comprimido. A fórmula de baixa pressão pode ser
utilizada em redes de distribuição de ar.

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Exercício 2.5. – Resolva o exercício 2.4. em baixa pressão (20


mbar) utilizando as expressões (2.20) e (2.23).
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Exercício 2.6. - Uma tubagem de ar de aço, com rugosidade de


0,01 mm, deverá transportar 10.000m3/h, com uma perda de
pressão de 1 Pa/m, a uma temperatura média de 300ºK. Nessas
condições a massa específica do ar é de 1,1774 kg/m3 e a
viscosidade cinemática de 15,69x10-6 m2/s. Determine:
a) O diâmetro, com recurso à formula de Renouard para o ar.
b) Para o diâmetro da alínea a) e utilizando o diagrama de
Moody determine o valor exacto da perda de carga.
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2.6. Variação da pressão relativa com a altura

A pressão absoluta P na base de uma coluna de líquido é obtida da altura h dessa coluna
e da pressão atmosférica P0, como sendo:

P= P0 JK (2.24)

Em algumas instalações, nomeadamente de ventilação ou de distribuição de gás,


interessa que a uma determinada cota o fluido tenha uma pressão relativa determinada.
Por exemplo, a distribuição de gás natural necessita que se garanta uma pressão relativa
de 20 mbar nos aparelhos, de modo a garantir as condições de queima. Dado que a
pressão atmosférica varia igualmente com a altura a pressão relativa será obtida da
diferença entre as pressões da coluna de ar atmosférica e a coluna de fluido. Seja P0 a
pressão atmosférica na base das colunas de ar e de fluido e pg(0) a pressão relativa na
base da coluna do fluido g. A pressão absoluta a uma altura h de ambas as colunas será:

Pa(h)= P0- a .g.h, para o ar e Pg(h)=P0+pg(0) - g .g.h para o fluido g.

A pressão relativa do gás será então dada por: pg(h)= Pg(h)-Pa(h)=pg   a- g).gh.
Assim sendo, se o gás for menos denso que o ar a pressão relativa aumenta com a altura
h, dizendo-se que existem ganhos de pressão relativa Sg. Dado que a densidade do ar é
de cerca de 1,2 kg/m3, a expressão pode tomar a forma em Pa:

pg = ( a- g)gh = 1,2 g.h(s-1) (2.25)


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Exercício 2.7. – a) Determine a altura manométrica, a vencer


por uma bomba, para elevar a 10m uma coluna de água situada
na atmosfera terrestre.
b) Determine a altura manométrica, a vencer por um
ventilador, para elevar a 10m uma coluna de ar situada na
atmosfera terrestre. Explique as eventuais diferenças de
concepção encontradas.
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2.7. Perdas de carga em linha e singulares

Além da perda de carga ocorrida ao longo da tubagem, as peças especiais, válvulas,


conexões, etc. originam perdas de pressão denominadas de locais, localizadas ou
acidentais.
As perdas de carga localizadas podem ser determinadas pelo método do comprimento
equivalente ou pela perda de energia.
Nesta, as perdas localizadas são calculadas usando um coeficiente K, na expressão:
V2
J=K (2.26)
2g
Em válvulas e nomeadamente em válvulas de controlo é comum a utilização de um
coeficiente de fluxo Kv usado em:

∆P[bar ]
[ ]
Q m3 / h = K v
[
ρ kg / m 3 ] (2.27)

O método dos comprimentos equivalentes baseia-se em corresponder à perda de carga


de cada peça especial ou ligação a que produziria um certo comprimento de tubagem
com o mesmo diâmetro. Para o efeito são usadas tabelas conforme as indicadas em
anexo.
Por vezes é utilizado um comprimento equivalente que engloba as perdas em linha e
singulares. Nas redes de gás é comum considerar-se as perdas singulares como 20% das
perdas em linha; nas redes prediais de água usa-se muitas vezes 30%. Estes critérios
estimativos não deverão ser usados nos casos em que existam diversos equipamentos,
como é o caso de redes de água de centrais de ar condicionado. Nestes casos, a soma
das perdas de carga singulares é mais importante que as perdas em linha, por vezes
sendo diversas vezes superior.
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Exercício 2.8- Um anel primário de um chiller de 160 kW, que


trabalha com água a 7ºC à entrada e 11ºC à saída, tem uma
topologia conforme indicada na figura. A rede tem 15 metros
em tubo de aço de 3’, contando ainda com os seguintes
acessórios: 4 juntas de dilatação; 2 válvulas de macho esférico;

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1 válvula de globo; 1 filtro, de 2’1/2, com característica em
anexo; ligações de entrada e de saída do depósito.
Nas condições nominais a perda de pressão no evaporador é de
43 kPa. Utilizando a expressão de perda de carga (2.11),
obtenha a perda de carga na rede primária, com base no caudal
nominal de água que deverá passar no evaporador.

Depósito

Circuito
Hidráulico

_________________________________________________

Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 2:

Miguel Cavique Pag. 16 - 59


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3. Caudais

As redes de fluidos deverão ser dimensionadas para os caudais instantâneos,


eventualmente afectados de coeficientes de simultaneidade. Indicam-se na tabela 3.1. os
caudais instantâneos de alguns aparelhos sanitários:

Aparelho Sanitário Caudal instantâneo [l/s]


Lavatório 0,10
Retrete com depósito 0,10
Retrete com fluxómetro 1,50
Banheira 0,35
Duche 0,10 – 0,20
Lavatório de cozinha 0,20
Urinol com descarga 0,05
Tabela 3.1. Consumos instantâneos em aparelhos sanitários

Os caudais instantâneos para as redes de gás são normalmente obtidos da potência


calorífica útil necessária. As potências caloríficas superiores e inferiores, a densidade e
a pressão típica de queima são dadas na tabela seguinte:

Gás PCS [MJ/m3] PCI [MJ/m3] s P [mbar]


Cidade (54% H2) 17,6 15,7 0,6 8
Natural 42,0 37,9 0,65 20
Ar Propanado 56,6 52,1 1,31 20
Propano 102,1 93,5 1,56 37
Tabela 3.2. Características de gases combustíveis

As potências típicas dos gasodomésticos podem ser referidas a valores nominais


normalmente associados à potência do caudal de consumo referida ao PCS do gás, ou à
potência útil transferida para a utilização do gasodoméstico. Neste caso deve-se
considera os rendimentos de queima e de transferência de calor HRPodo de exaustão

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dos produtos de combustão. Será usado o PCI, caso haja condensação do vapor no
permutador do gasodoméstico, caso contrário o PCS. O cálculo do caudal função da
potência útil pode ser obtido de:

P[kW ].3600
[
Q m3 / h =] PCI[MJ / m 3 ].1000.η
(3.1)

As potências nominais típicas de diversos aparelhos são apresentados no seguinte


quadro:
Aparelho Potência Nom.
[kW]
Fogão com forno 9
Fogão industrial 30 a 60
Forno independente 6
Grelhador 16
Fritadeira 27
Esquentador 11 l/m 23
Esquentador 14 l/m 28
Termoacumulador 8
Tabela 3.3. Potências nominais de aparelhos a gás

A determinação do caudal mássico de água m numa rede de ar condicionado pode ser


obtido da potência Pt dos aparelhos que a rede serve de acordo com:
Pt[kW]=m[kg/s].c[kJ/kg..@ 7>ºC], sendo c o calor específico da água,
aproximadamente 4,18 kJ/kgK. A diferença de temperatura é referida à diferença entre a
entrada e saída da bateria que serve. A potência total Pt removida por uma caudal de ar
tem uma componente sensível e uma componente latente, pelo que se utilizará a
expressão: Pt[kW]=m[kg/s]. K>N-NJ@

É comum considerar que nem todos os aparelhos presentes numa instalação estão em
funcionamento simultâneo. A relação entre o caudal máximo probabilístico num troço e
o caudal máximo absoluto de abastecimento de todos os aparelhos a jusante, designa-se

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por coeficiente de simultaneidade Cs. O Cs é sempre inferior a 1, sendo comum por
razões de segurança utilizar valores sempre superiores a 0,20.
Note-se que muito embora a equação da continuidade seja válida em cada instante de
funcionamento da rede, não aparece explicitamente nos caudais simultâneos nos troços.
A determinação da simultaneidade dos caudais exige que o projectista conheça a
utilização da rede. Por exemplo para uma rede de águas de um balneário de um clube
desportivo ou em uma cozinha industrial de fabrico de pão, deverá ser usado um valor
de simultaneidade de 1, enquanto que para o abastecimento a um prédio os valores
relativos ao ramal são próximos de 0,20.

Em outras situações utilizam-se expressões de correlação função do número de


aparelhos. É o caso do abastecimento de gás a diversos fogos. Admitindo que cada fogo
tem um fogão e um esquentador é comum determinar o caudal Q no troço que abastece
N fogos a jusante como sendo:

Q[m3/h]=(5+(3.N)0,736).a , com a=0,47 para o GN e a=0,35 para o Propano (3.2.)

Uma expressão mais geral era utilizada nas redes de gás de cidade, função da potência
dos aparelhos. Era usual usar-se como unidades a termia (1 termia=1000 kcal), ou a
kcal/min (1 kcal/h= 1,16 kW). A expressão seguinte foi adaptada dessas unidades.

Q[m3/h]=(5+(n1+n2+0,5.n3+1,5.n4+2.n5)0,736+0,267x10-3.Pt).a (3.3.)

, sendo n1 o número de fogões, n2 o de aparelhos de aquecimento de água até 9 kW, n3 o


de máquinas de lavar aquecidas a gás, n4 o de esquentadores até 14 kW, n5 o de
esquentadores entre 22 e 27 kW e Pt a potência em kW dos equipamentos de
aquecimento ambiente.
_________________________________________________

Exercício 3.1- Obtenha o caudal de simultaneidade de


abastecimento de gás propano a um edifício de habitação com
8 fogos, admitindo que em cada existe um fogão, um
esquentador e uma caldeira de 30 kW de aquecimento.
_________________________________________________

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O problema da determinação do caudal de simultaneidade pode ser resolvido pela


determinação do caudal máximo provável, admitindo que cada aparelho tem uma
distribuição de consumo segundo uma distribuição normal, com média  H GHVYLR
padrão  2 FDXGDO Páximo provável será obtido da soma das diversas distribuições
normais Ni i i), tendo uma distribuição N( i
2 1/2
i ) ). Se os n aparelhos tiverem a
mesma distribuição N(   D H[SUHVVão anterior simplifica-se obtendo-se como soma
uma distribuição N(n.  ¥Q 
6HMD RTXDQWLOSDUDRTXDOVH pretende calcular o caudal simultâneo Q dos n aparelhos
indicados. Este será dado por:

4 Q   ¥Q (3.4.)

Dado que o caudal máximo Qmax, para o mesmo quantil, será n.(   RFRHILFLHQWHGH
simultaneidade Cs será dado por:

Q n.µ + λσ. n
Cs = = (3.5.)
Q max n.µ + λσ.n

Em muitas situações as médias horárias de consumo são pequenas, pelo que

GHVSUH]DQGR IDFHD  Cs =
Q 1
= . Dado que é comum admitir a simultaneidade
Q max n
de 2 aparelhos como 1, a expressão usada é:
Q 1
Cs = = (3.6.)
Q max n −1

Esta expressão é usada para a determinação de coeficientes de simultaneidade de redes


prediais, considerando-se um valor mínimo de 0,20. Nestas redes os aparelhos são
geralmente diferentes conforme indicado na tabela 3.1. Nestas situações é comum
considerar nm o número de aparelhos de maior consumo (aparelhos de consumo superior
Q 1
à média): Cs m = = .
Q max n m −1

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Exercício 3.2- Determine o caudal de simultaneidade de


abastecimento de água a uma moradia com 3 casas de banho
com lavatório, bidé, banheira e sanita, e com cozinha equipada
com lava loiça, máquinas de lavar roupa e loiça e esquentador
de 20 l/m.
_________________________________________________

O caudal a considerar em cada troço poderá considerar o caudal dos aparelhos de maior
consumo a jusante Csm. Qm, ou, de forma mais conservadora, admitir os caudais de
todos os aparelhos Csm. Qi.

Da expressão 3.5 se  RFRHILFLHQWHGHVLPXOWDQHLGDGHWHQGHUá para 1.

Por vezes os consumos médios dos aparelhos não são desprezáveis, podendo admitir-se
que o consumo máximo do aparelho i ocorre para Qi i i. Sendo a distribuição
centrada pode admitir-VH i=QiH i=Qi/4. Ou seja a introdução de cada novo aparelho
contribui em média com um acréscimo de caudal de Qi/2. Esta conclusão pode
igualmente ser obtida se obtivermos de 3.4. a média dos consumos:

Q n.µ + λσ. n Q 1 Q
Q= = = (1 + )→
n n 2 2 n 2

O resultado desta expressão é usado para a determinação dos caudais de simultaneidade


num troço, que abastece aparelhos a gás de potências diversas. Se Q1 e Q2 forem os
caudais dos aparelhos de maior potência de um conjunto de n aparelhos servidos, o
caudal de simultaneidade será dado pela soma desses dois caudais e a semi-soma dos
restantes, conforme a expressão:
n
Q = Q1 + Q 2 + ∑ Q i / 2 (3.7.)
i =3

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Deste conjunto de abordagens dos caudais de simultaneidade há que reter que o
projectista deverá adaptar o método de cálculo à situação particular que se depara,
devendo usar sempre os modelos consagrados para cada aplicação.
_________________________________________________

Exercício 3.3- Uma rede de gás natural de um edifício fabril,


abastece 3 gasodomésticos a gás natural dispostos em altura
distanciados entre si de 10m. Os aparelhos têm uma potência
útil de respectivamente: 70kW para o situado na base, 120 kW
para o situado no piso acima e 200 kW para o do topo. Calcule
os caudais de simultaneidade e determine a variação de pressão
relativa com a altura.
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Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 3:

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4. Critérios de Dimensionamento
Após o cálculo dos caudais em cada troço, pode efectuar-se o dimensionamento do
diâmetro das tubagens muitas vezes confundido com o dimensionamento da rede. Da
expressão (2.10), conclui que para um fluido e um determinado comprimento de um
troço o diâmetro depende do caudal. A maioria dos métodos de dimensionamento
tentam obter uma função entre o caudal e o diâmetro, D=D(Q). Para a determinação
desta função é comum considerar um determinado parâmetro fixo, tais como:

- Velocidade constante.
- Perda de pressão constante.
- Perda de energia constante.
- Recuperação de pressão estática, ou ainda
- Critérios económicos.
Em qualquer dos métodos é comum verificar os valores de velocidade e de perda de
carga.

Velocidade constante

A velocidade é imposta, normalmente limitada pelo ruído que provoca. O diâmetro será
obtido de:
1/ 2
 4.Q 
D=  (4.1)
 π.V 

Em tubagens de água de circuitos de ar condicionado é comum a utilização de valores


máximos de 2 m/s. Alguns autores aconselham o dimensionamento a 500 Pa/m para
caudais até 25 l/s e para caudais superiores dimensionar para 2,4 m/s.
Para tubagens de ar os valores dependem do troço considerado, variando normalmente
entre 3m/s nos troços terminais a 7m/s nos principais, podendo ser utilizado para
orientação a seguinte tabela:

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V [m/s]
Conduta Conduta
Locais para instalações centralizadas
Principal secundária
Residenciais ou hotéis 3-5 1-3
Espaços públicos e de serviços 5-7 1-3
Espaços industriais ou grandes espaços 5-10 2-5
comerciais
Tabela 4.1. Velocidade do ar em condutas

Nas redes prediais é comum que a velocidade da água seja inferior a 1m/s, embora em
algumas instalações se possa manter por valores superiores dentro da mesma ordem de
grandeza.
Em redes de gás a velocidade real do escoamento depende da pressão de
funcionamento. Para uma pressão média absoluta Pm e um caudal às condições
nominais Q, a velocidade é dada por:

Q[m 3 / h ]
V[m / s] = 354. (4.2)
D 2 [mm].Pm[bar ]

A velocidade não deverá ser superior a 15 m/s na coluna montante e a 10 m/s nas redes
interiores.
Este critério é utilizado no dimensionamento de condutas em instalações com
constrangimentos acústicos, ou como forma de pré dimensionamento de redes.
Geralmente é utilizado como critério de verificação após a aplicação de outros métodos,
nomeadamente o de perda de pressão constante por unidade de comprimento.
_________________________________________________

Exercício 4.1- Determine a altura de uma conduta rectangular


de insuflação, de uma unidade de tratamento de ar (UTA) de
35.000 m3/h de uma grande instalação comercial, sabendo-se
que a sua largura não poderá exceder 1,5 m.
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Perda de Pressão

O critério de perda de pressão linear constante “ j” é o critério mais comum de


dimensionamento. Diríamos mesmo que é o critério de dimensionamento por excelência
sendo usado na maioria das instalações. Como regra geral este método utiliza 10 a 30%
da pressão disponível, distribuindo a sua perda uniformemente pelo comprimento da
rede. Da expressão 2.10 o diâmetro de cálculo pode ser obtido como:

k.Q n 1 / m
D=( ) (4.3.)
j
É comum e fortemente aconselhável, que a escolha dos diâmetros para a rede se faça
dos diâmetros comerciais, cujos diâmetros interiores sejam superiores aos calculados.
Algum sobredimensionamento da rede geralmente não acarreta sobrecustos de monta na
instalação, mas o reverso pode inviabilizar o seu funcionamento.

Em tubagens de água refrigerada de redes de climatização a perda de carga pode variar


entre 100 Pa/m a 1000 Pa/m. É comum utilizar valores próximos de 200Pa/m para a
maioria das redes e 500Pa/m para pequenos troços de interligação de aparelhos. Em
condutas de ar condicionado os valores variam entre 0,5 e 3 Pa/m, sendo comum a
utilização de 1 Pa/m.
Nas redes de águas prediais a perda de pressão disponível depende da zona urbana
considerada, face à variação orográfica da pressão. A pressão na rede pr varia
geralmente entre os 2 bar e um máximo de 6 bar; a pressão mínima nos aparelhos pa é
normalmente de 3 a 5 m.c.a. Para uma comprimento equivalente Leq da linha de
corrente mais desfavorável, onde se considera o comprimento da linha e o comprimento
equivalente relativo às perdas singulares, e uma cota a vencer h, a perda linear j será
dada por:

pr − h − pa
j= (4.4.)
Leq

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Nas redes de gás a perda de pressão disponível é definida pelas concessionárias,
dependendo se a rede é interior ou coluna montante e se a pressão é média ou baixa. A
título indicativo poder-se-ão utilizar os seguintes valores:

Topologia Rede Pressão SU


relativa disponível
[mbar] [mbar]
Coluna em BP Interior 20 0,5
Coluna 20 1,0
Coluna em MP Interior 20 1,5
Coluna 100-110 10-30
Tabela 4.2. Perda de pressão disponível em redes de gás.

A perda de pressão para a determinar a perda de carga linear deverá considerar a perda
de pressão disponível na rede SUHRVJDQKRVGHSUHVVão relativa conforme expressão
(2.25  SK 'DGR TXH R FRPSULPHQWR HTXLYDOHQWH é muitas vezes considerado 20%
superior ao comprimento da tubagem, j pode ser obtido de:

∆pr + ∆ph
j= (4.5.)
1,2.L

Caso se utilizem outros critérios é conveniente que se verifique se a perda de pressão na


rede está dentro de valores admissíveis. De igual modo é conveniente a verificação da
velocidade nos troços. Os critérios de velocidade e de perda de carga podem igualmente
servir como critérios de dimensionamento do primeiro troço, com o qual se iniciam
outros métodos como os que se descrevem de seguida.
_________________________________________________

Exercício 4.2- Resolva o exercício 3.1 admitindo uma perda de


carga máxima de 1 mbar. Considere a variação de pressão
relativa com a altura e determine os diâmetros comerciais a
instalar. Com base nas escolhas efectuadas, determine as
pressões previsíveis à entrada dos aparelhos, considerando uma
pressão de entrada de 37 mbar.
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Perda de Energia

Este critério pretende que a dissipação de energia seja proporcional ao comprimento da


tubagem. Como a perda de energia por unidade de comprimento e de tempo, depende da
perda de carga e do caudal, pode ser expressa por:

>:P@ 4>P3/s].j[Pa/m] (4.6)

Este critério pode ser utilizado no dimensionamento directo de redes malhadas, podendo
ser utilizado para redes urbanas de gás ou de água. Ao contrário do critério de perda de
carga constante é possível criar uma rede malhada ajustando o caudal de modo que a
dissipação de energia seja constante e que a lei das malhas seja válida. No critério de
perda de pressão constante, já que a perda de carga total depende do comprimento da
tubagem, não é possível garantir que um dimensionamento origine a mesma perda de
carga por dois caminhos entre dois pontos.
A aplicação do método inicia-se com a definição da perda de pressão e caudal de um
troço inicial ou tipo, com a consequente definição de &RQKHFLGR DFDGDFDXGDOé
definida uma perda de carga j e consequentemente um diâmetro. Já que a FRQVWDQWH
quanto maior for o caudal menor será j, este método garante menores perdas de pressão
nos troços principais onde o caudal é maior, criando uma estrutura de rede compatível
como a possibilidade de expansão.
_________________________________________________

Exercício 4.3- Com base no exercício 4.2. determine os


diâmetros da rede utilizando o método de perda de energia
constante. Considere a perda de pressão do primeiro troço para
efeitos de determinação do valor de Com base nas escolhas
efectuadas, determine as pressões previsíveis à entrada dos
aparelhos, considerando uma pressão de entrada de 37 mbar.
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Recuperação de Pressão Estática

Este critério é usado quase em exclusivo para sistemas de ventilação. Considere-se a


rede aerólica de insuflação da figura 4.1. com difusores de ar iguais para o ambiente nos
pontos B e C. O fluxo de ar para o ambiente em B ou em C, depende da diferença de
pressões entre qualquer destes pontos e o ambiente exterior à conduta. Caso a pressão
em B seja igual à pressão em C o caudal de insuflação será igual. Esta situação evita a
necessidade de calibrar os difusores para o caudal de insuflação, necessitando-se tão
somente de acertar o caudal de ar no início do troço.
No entanto há uma perda de pressão entre os pontos B e C. Dado que a diferença de
pressão, que faz mover o ar de B ou de C para o exterior, é a diferença de pressões
estáticas entre o escoamento e o ambiente; já que a energia potencial de pressão é dada
pela soma da pressão estática pe e pressão dinâmica pd= 92/2, é em muitos casos
possível manter a pressão estática reduzindo apenas a pressão dinâmica do escoamento.

A B C

Figura 4.1. Esquema de uma rede.

Aplicando a equação de Bernoulli entre B e C, admitindo cotas iguais e garantindo-se


 ρVB2   ρVC2 

pressões estáticas iguais, obtém-se 
2  = ∆p +  2  , ou explicitando Vc:

   

2∆p
VC = VB2 − (4.7)
ρ
Este método implica normalmente a utilização de velocidade do primeiro troço
ligeiramente maior, dado que a perda de pressão é compensada com a variação de
pressão dinâmica. As velocidades nos troços terminais são geralmente muito baixas. O
método inicia-se pela imposição de uma velocidade no primeiro troço, determinando-se
DSHUGDGHFDUJD SHFDOFXODQGR-se de seguida a velocidade usando (4.7.) O diâmetro
deste segundo troço é calculado usando (4.1.), seguindo-se novamente a perda de carga
desse novo troço.

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Exercício 4.4- Considere a rede da figura 4.1 e admita que no


troço mais a montante passa um caudal de ar de 15.000 m3/h,
extraindo-se em B 5.000 m3/h e em C 2.000 m3/h. Para uma
velocidade inicial de 10 m/s determine o diâmetros dos troços
A-B, B-C e o posterior ao ponto C, utilizando o método de
recuperação de pressão estática.
_________________________________________________

Critério Económico

Em todos os critérios anteriores, existe subjacente a ideia da correcta escolha do


parâmetro de dimensionamento. Este parâmetro está normalmente associado a factores
de índole económica.
Para uma análise económica simples poderemos considerar na equação o investimento
inicial e o consumo de energia ao longo da vida do investimento. Se a perda de pressão
linear “ j” aumentar, o diâmetro da tubagem diminui e o consumo de energia aumenta.
Num investimento de muito curto prazo interessa escolher o menor diâmetro compatível
com o funcionamento da instalação, aumentando-se a potência da central de bombagem.
A central de bombagem pode ser ignorada na equação económica, já que o aumento dos
custos da central de bombagem devidos a aumentos de potência, são de algum modo
compensados com as reduções de diâmetro.

O custo da instalação da tubagem e acessórios tem no mercado, uma variação linear


com diâmetro D, pelo que o investimento inicial poderá ser expresso por:
I.inicial[ / m] = (C 0 + C t .D). O custo em energia utilizada depende da potência entregue
ao fOXLGRGRUHQGLPHQWRJOREDO GDFHQWUDOGHERPEDJHPGRFXVWRXQLWário da energia
utilizada Ce e do tempo de funcionamento. Dado que a potência entregue ao fluido é Q.j
o custo anual em energia será dado por:
 Q[m 3 / s]. j[Pa / m] 
CE[( / ano) / m] =  C e [ /(W.h)].t[h / ano] 
 η 
O tempo de vida de uma rede é de cerca de 30 anos, mas o tempo de investimento para
o qual se pretende rentabilizar o projecto é geralmente muito mais curto. Mesmo a
custos constantes, ou seja admitindo Ce invariável, não é indiferente pagar a energia do

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período de investimento no primeiro ano ou ao longo dos anos. Esta diferença pode ser
expressa por uma taxa de investimento i, que representa a valorização anual líquida que
o investidor dá ao seu dinheiro. Assim um pagamento C a realizar no primeiro ano
valerá C, mas no próximo ano terá um significado actual de C/(1+i), após dois anos
C/(1+i)2, após n-1 anos C/(1+i)n-1.
O custo actual será dado da soma de uma progressão geométrica de razão r=1/(1+i), ou
1 − r n −1
seja S = . É pois possível determinar a quantos anos A de esforço actual
1− r
representam n anos de pagamentos anuais. Este valor pode ser calculado para cada caso,
apresentando-se na tabela seguinte alguns casos de interesse:

n i 5% 8% 10%
5 4.5 4.3 4.2
10 8.1 7.2 6.8
15 10.9 9.2 8.4
20 13.1 10.6 9.4
Tabela 4.3. Anualização A de investimento a n anos, com taxa i de investimento

O investimento inicial na rede e o consumo de n anos anualizados em A anos pode


então ser expresso por:
 Q. j 
I = (C 0 + C t .D) +  C e .t.A  (4.8)
 η 
_________________________________________________

Exercício 4.5- Reescreva a equação 4.8 admitindo uma lei


exponencial para o investimento I.inicial[ / m] = C 0 .e a .D e
obtenha o valor de j económico adaptando os passos seguintes
a esta equação.
_________________________________________________

Introduzindo a relação entre diâmetro D e caudal Q, na forma:


1
 k.Q 2  5
D =   (4.9)
 j 

Miguel Cavique Pag. 30 - 59


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Obtêm-se:
  k.Q 2 
1
5   Q. j 
I =  C 0 + C t   +
  η C e .t.A  (4.10)
  j
    

Derivando I em ordem a ” j” e igualando a zero obtém-se o mínimo do investimento:


5
 1 C η  6 16 − 1 2
j =  . t .  .k .Q (4.11)
 5 C e t.A 
Esta expressão indica uma relação de j com Q-1/2, que expressa que a caudais menores a
perda de carga deverá ser superior que quadruplicando-se o caudal a perda de carga
deverá reduzir-se a metade. Mostra ainda uma quase linearidade com a relação Ct/Ce,
parâmetro razoavelmente constante ao longo do tempo.
_________________________________________________
Exercício 4.6- Determine os diâmetros por cada um dos
métodos enunciados de uma rede aerólica com três troços e
difusores de 500 m3/h no final de cada toco, utilizando os
seguintes parâmetros:
a) Velocidade constante de 4 m/s.
b) Perda de carga constante de 1 Pa/m.
c) Recuperação de pressão estática para uma velocidade inicial
de 5 m/s.
d) Critério de energia para uma perda de carga no primeiro
troço de 1 Pa/m.
e) Critério económico admitindo a energia eléctrica a 0,1
¼N:KRLQYHVWLPHnto na rede dado por C[¼P@ D[m]
efectuado a 5 anos com uma taxa de 8%.
_________________________________________________

Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 4:

Miguel Cavique Pag. 31 - 59


Versão 1.1 – Jan 2007
Redes de Fluidos 2006/07
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5. Bombas
O funcionamento das bombas baseia-se no aumento da energia cinética do escoamento
realizado no rotor e sua transformação em energia potencial de pressão na voluta. Para
um determinado rotor, este aumento de energia cinética depende do fluxo de caudal e da
sua velocidade de rotação. A velocidade de saída das pás do rotor é uma composição
das duas velocidades.

Fig. 5.1 Triângulo de velocidades

A direcção da velocidade à saída da pá deve ser acompanhada pela forma da voluta, que
aumentando progressivamente de área proporcionará a transformação de energia
cinética em energia de pressão. Na ausência de atritos e perdas o funcionamento da
máquina é dado por uma característica rectilínea. O aumento do caudal implica um
aumento de perdas por atrito aproximadamente proporcional a Q2. De forma análoga
respondem as perdas volumétricas causadas por diferentes pressões nos bordos das pás.
Quando por variação do caudal, os triângulos de velocidade se alteram, aumentam os
choques na entrada das pás e na voluta, causando perdas suplementares. A característica
resultante é dada pela composição de todas estas contribuições conforme figura
seguinte:

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Fig.5.2 Característica de bomba centrífuga

5.1. Característica de bomba e rede

A curva da bomba e a curva do sistema podem ser traçadas no mesmo gráfico. Na


intersecção das duas curvas encontra-se o ponto de operação do sistema. Tipicamente, a
curva real do sistema é ligeiramente diferente da curva desejada em projecto. Em
consequência, a bomba opera num outro ponto, preferencialmente com maior caudal,
que deverá ser ajustado por intervenção numa válvula de regulação de caudal. A perda
de carga do circuito pode ser estimada admitindo uma lei de potência S D4n.
_________________________________________________

Exercício 5.1- Uma rede tem um ponto de funcionamento


nominal de 20 m3/h vencendo uma perda de carga de 100 kPa.
Tendo sido utilizada a bomba tipo A, conforme figura anexa,
determine o ponto de funcionamento da rede admitindo uma lei
de perda de carga para tubos de aço galvanizado.

_________________________________________________

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5.2. Associação de bombas

Quando as bombas são associadas em paralelo, cada bomba opera à mesma pressão
contribuindo com uma parte do fluxo. Geralmente recomenda-se a utilização de bombas
de igual tamanho. Obtém-se a curva conjunta duplicando o fluxo para cada valor de
altura manométrica. O ponto de funcionamento do sistema depende da característica da
rede, pelo que o conjunto das duas bombas não irá fornecer o dobro do caudal de uma
só bomba.

Figura 5.3 Característica da associação de duas bombas iguais em paralelo

Deve ser também analisada a condição de funcionamento de cada bomba, dado que a
altura manométrica vencida por cada uma será maior. A utilização de duas bombas
diferentes associadas em paralelo requer um especial cuidado. Em algumas situações
uma das bombas poderá trabalhar sem capacidade de bombear, podendo originar
sobreaquecimentos indesejados.

Figura 5.4 Característica da associação de duas bombas diferentes em paralelo

Na situação de bombas em série, a característica conjunta é obtida da soma das alturas


manométricas para cada valor de caudal.

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Figura 5.5 Ponto de funcionamento de uma rede numa associação de duas bombas iguais em série

_________________________________________________

Exercício 5.2- Para a rede definida no exercício 5.1, determine


o ponto de funcionamento quando se instalam duas bombas
iguais do tipo A em série e em paralelo.
_________________________________________________

5.3. Leis de semelhança

As bombas e turbomáquinas podem ser descritas por leis de semelhança, que permitem
conhecido um ponto de funcionamento estimar o funcionamento da máquina em outras
condições. Pressupõem que a curva do sistema é conhecida e que a pressão varia como
o quadrado de fluxo. Podem ser expressas conforme tabela seguinte:

Variação na Variação no
velocidade de diâmetro do
rotação N rotor D
Caudal Q2/Q1=(N2/N1) Q2/Q1=(D2/D1)3
Pressão p2/p1=(N2/N1)2 p2/p1=(D2/D1)2
Potência Pt2/Pt1=(N2/N1)3 Pt2/Pt1=(D2/D1)5
Tabela 5.1. Leis de semelhança

As leis de semelhança também podem ser usadas para prever o ponto de melhor
eficiência quando se varia a velocidade da bomba. Esta situação tem especial aplicação
em sistemas com bombas de velocidade variável. É normal fazer variar a velocidade de

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rotação entre um limite mínimo de 30% e um máximo de 80%. O controlo de
velocidade de rotação deve ter em consideração a alteração da característica da bomba,
assim como a da instalação.

5.4. NPSH

Durante muito tempo especulou-se da razão pela qual era impossível bombear água,
sugando a uma altura superior a 5 ou 6 metros. Este fenómeno deve-se à possibilidade
de vaporização da água quando se atinge uma pressão muito baixa, a temperatura
constante, tendo-se designado por cavitação. Para todo fluido no estado líquido pode ser
estabelecida a relação entre a pressão e a temperatura a que ocorre a vaporização. Por
exemplo, à pressão atmosférica a temperatura de vaporização da água é de cerca de
100°C, contudo a uma pressão menor a temperatura de vaporização reduz-se.
Deve ser dada uma especial atenção à pressão e à temperatura da água à entrada da
bomba, especialmente em situações de utilização com águas quentes. Se a pressão à
entrada da bomba for baixa e a temperatura elevada pode-se atingir as condições de
vaporização do líquido criando-se pequenas bolhas de vapor nas zonas de menor
pressão do rotor. O colapso destas bolhas por posterior aumento de pressão é ruidoso e
pode levar à destruir a bomba. A pressão absoluta requerida à entrada da bomba para
impedir a vaporização no interior da bomba, designa-se por NPSH requerida ou NPSHR.
Esta é uma característica da bomba dada pelo fabricante, variando com velocidade e
fluxo na bomba, normalmente para água a 15ºC.
A “ aspiração” do líquido nas bombas deve ocorrer a uma pressão absoluta superior.
Conhecida a pressão num determinado ponto do circuito ‘o’, situado a uma cota põe
hipótese inferior ‘z’ relativamente à entrada da bomba, a pressão total absoluta à entrada
da bomba ‘b’ pode ser expressa como:
ρ.(Vb2 − Vo2 )
Pb = P0 − ρgz − ∆Po − z − (5.1)
2
A pressão à entrada da bomba deverá ser superior à pressão de vaporização do fluido às
condições de temperatura Ps(T) de entrada na bomba, pelo que o NPSH disponível será:

NPSH d = Pb − Ps (T) (5.2)A


pressão de saturação do vapor de água pode ser obtido de tabelas de vapor. A pressão de

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saturação, para alguns valores típicos de temperatura de funcionamento de redes de
água, é dada na tabela seguinte:
T [ºC] P [kPa]
0 0.6108
10 1.227
20 2.337
30 4.241
40 7.375
50 12.335
60 19.920
70 31.160
80 47.360
Tabela 5.2. Tabela de pressões de saturação

Em alternativa poderão utilizar-se expressões de correlação, como o exemplo seguinte:

Ps(T)[Pa] =105.exp(14,2928-5291/T[K]) (5.3)

Uma bomba para operar sem os riscos de cavitação necessita que o líquido possua uma
energia residual mínima. Essa energia requerida pela bomba (NPSHR) ou simplesmente
o NPSH da bomba. A bomba deve ter o seu NPSH inferior ao NPSHD pela instalação,
para que opere em condições favoráveis de aspiração.
Caso não se disponha da curva de NPSH pode estimar-se o seu valor desde que se
estime o funcionamento num ponto. Thoma chegou à conclusão de que a relação entre o
NPSH da bomba e a altura manométrica é uma constante, a que chamou de “ número
adimensional de cavitação” , grandeza que ficou conhecida como “ factor de Thoma” :
NPSH
σ= (5.4)
H
_________________________________________________

Exercício 5.4- Para a bomba tipo A da figura referida no


exercício 5.1, obtenha o NPSH da bomba nas condições de
funcionamento desse exercício, sabendo-se que o NPSH é de
1,5m para 200kPa.
_________________________________________________

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Exercício 5.5- Um depósito de água quente de um sistema


colectivo de AQS é mantido a 60ºC e uma pressão interna de 4
bar relativos. Uma rede em tubo de cobre de 2’ transporta a
água quente até ao ponto A (atmosférico) situado 30m acima
do nível do depósito. (despreze a altura de água no depósito).

4 bar

30 m

60 ºC
20 m

Admitindo inexistência de atrito qual a velocidade e o caudal


em A.
Determine o caudal que realmente sai em A, considerando a
expressão para tubo de cobre com água quente, perdas
singulares de 30% das perdas em linha e uma pressão constante
no depósito.
Admitindo que se pretendia instalar uma bomba, cujo NPSH é
de cerca de 2 m.c.a., na prumada vertical de forma a aumentar
o caudal em A (admita um caudal próximo do calculado na
alínea anterior), determine qual a cota mais elevada compatível
com a inexistência de cavitação.
_________________________________________________
Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 5:

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6. Introdução às redes de água refrigerada

A maioria das redes em sistemas de climatização é fechada. Nestas redes é estabelecido


um ponto a uma determinada pressão, normalmente por utilização de um vaso de
expansão com gás, que estabelece a pressão do sistema. Num sistema aberto existem
pelo menos dois pontos com pressão definida. Por exemplo, numa torre de refrigeração
a tina da torre e a descarga estão à pressão atmosférica.
Um sistema de climatização, fechado pode ser esquematizado conforme na figura 6.1

Figura 6.1. Componentes de uma rede de climatização

Os componentes fundamentais deste sistema são os dispositivos de carga, a fonte de


aquecimento ou de arrefecimento, a bomba de circulação, o vaso de expansão e a rede
de distribuição. Começaremos por analisar de forma genérica as cargas, que determinam
os caudais de água no sistema.

6.1. Cargas
As cargas térmicas do edifício deverão ser removidas pelo sistema de climatização.
Estas cargas podem ser de aquecimento ou de arrefecimento, sensível ou latente. O
calor sensível transferido do ambiente para o permutador é função da área de permuta
A, da diferença de temperatura média logarítmica ∆Tml entre a água e o ambiente e do
coeficiente global de transferência de calor U:
PTS = AU∆Tml (6.1)

∆TM − ∆Tm
Com ∆Tml =
∆T
ln( M )
∆Tm
Caso haja desumidificação o calor removido pode ser obtido do caudal de ar e diferença
de entalpia. (ver psicrometria)

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A potência removida Pt é transferida para o fluido de transporte, com fluxo mássico m e
calor específico c, com uma diferença de temperatura ∆T:

Pt = m
 .c.∆T (6.2)

No caso de sistemas a água o calor específico médio é de 4,18 kJ/kg.K e a diferença


típica de temperatura da água entre a entrada e a saída do permutador de 5K. A
alteração da diferença de temperatura, altera directamente o caudal de água na bateria
Q, que varia sensivelmente de forma quadrática com a perda de carga correspondente:
2
∆P1  Q1 
=  (6.3)
∆P0  Q 0 

Com a variação da diferença de temperatura e correspondente variação do caudal a


potência das unidades varia, mas de forma não linear. O aumento de caudal acima das
condições nominais altera menos que proporcionalmente a potência da unidade. Um
exemplo é mostrado na figura 6.2.

Total Sensível
10

8
Potência [kW]

0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Caudal água [l/s]

Figura 6.2. Variação da Potência sensível e total com o caudal.

6.2.Temperaturas de projecto para água refrigerada


A temperatura máxima (aquecimento) e mínima (arrefecimento) da água devem ser
ditadas pelas necessidades térmicas do sistema e da análise económica das exigências
do sistema.
Nos sistemas correntes, a temperatura de arrefecimento típica é de cerca de 7ºC,
imposta pela necessidade de transferência de calor para o ciclo frigorífico a cerca de 2 a
4ºC e da possibilidade de desumidificação, com temperatura húmida de cerca de 13ºC,
para as aplicações correntes.

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Um valor elevado de ∆T determina um menor caudal e consequentemente menor
dimensão das tubagens, das bombas e do consumo de energia associado. Tem como
consequência o aumento da dimensão dos permutadores das unidades que removem as
cargas. O equilíbrio entre estes factores tem determinado a utilização de 7ºC à entrada
com 12ºC à saída das unidades.
Outros sistemas utilizam água glicolada quando se pretende trabalhar a baixas
temperaturas.
_________________________________________________

Exercício 6.1- Uma bateria de arrefecimento tem uma potência


de arrefecimento de 4 kW, para um regime de temperatura da
água de 7-12ºC a que corresponde uma perda de pressão de 15
kPa. Estime enunciando as hipóteses simplificativas qual a
perda de carga para um regime de temperatura da água de 7-
15ºC.
_________________________________________________

6.3. Controlo de caudal


Os sistemas de controlo de caudal têm por objectivo disponibilizar a potência necessária
na carga. A figura 6.2 espelha a variação da potência com o caudal verificando-se do
inconveniente de redução do caudal. Ao invés um ligeiro aumento de caudal não causa
grandes variações de potência. Um ligeiro sobredimensionamento da bomba e da rede
será sempre aconselhável.
A disponibilização do caudal necessário pode ser visto como a realização de duas
funções: entregar o caudal necessário à entrada da unidade e fazer variar o caudal de
acordo com as necessidades de carga do edifício. A primeira função depende do tipo de
circuito e das válvulas de equilíbrio de caudal.
Em pequenas instalações, normalmente de aquecimento, utiliza-se por vezes com um
único anel com as cargas em série, ou redes com válvulas desviadoras.
Em climatização são utilizados normalmente sistemas a dois tubos com retorno directo;
a dois tubos com retorno inverso; a quatro tubos. Os sistemas a três tubos existem como
curiosidade, sendo energeticamente ineficiente e com interconexão hidráulica entre as
duas redes.

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Redes a dois tubos com retorno directo

Num sistema a dois tubos a carga e as fontes funcionam exclusivamente só em


arrefecimento ou em aquecimento, pelo que todas as cargas devem necessitar ou de
arrefecimento ou de aquecimento. Ao projectar o sistema, o caudal e as exigências de
temperatura para refrigerar e aquecer devem ser calculados para a situação mais
desfavorável, normalmente a de arrefecimento. O processo de comutação, vulgo
“ change-over” deve ser projectado de forma que o evaporador do chiller não esteja
sujeito a variações bruscas de temperatura. A figura 6.3 representa um esquema
simplificado de uma rede a dois tubos.

Figura 6.3. Rede a dois tubos

Estas redes necessitam de formas de equilíbrio suplementares nomeadamente reduzindo


a perda de carga na tubagem de distribuição ou utilizando dispositivos modulantes de
caudal, nomeadamente válvulas de controlo.

Redes a dois tubos com retorno inverso

Num sistema de retorno inverso, o comprimento da tubagem de ida e de retorno nos


vários sub-circuitos é igual. Isto permite equilibrar os diversos caudais, requerendo um
balanceamento que depende somente das perdas de carga das unidades de carga. Este
tipo de rede implica um maior comprimento de tubagem e custo inicial da instalação,
mas geralmente uma menor perda de carga.

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Figura 6.4 Rede com retorno directo e inverso

Válvulas de equilíbrio de caudal

Um sistema hidráulico de distribuição diz-se em equilíbrio quando os caudais em todo o


sistema correspondem aos caudais nominais especificados no projecto, situação que
ocorre geralmente com todas as válvulas de regulação abertas.
Dado que não é possível garantir um correcto equilíbrio da instalação alterando somente
as secções da tubagem, e comum usarem-se válvulas equilibradoras de caudais.
As válvulas são geralmente referidas pelo valor kv, com a válvula totalmente aberta,
conforme indicado no capítulo 2.

Válvulas de equilíbrio estático

Uma característica inerente às válvulas de equilíbrio estático é que o coeficiente kv


pode ser alterado manualmente para um determinado valor. Este coeficiente pode ser
obtido dos gráficos de calibração das válvulas para cada posição do manípulo.
A válvula é munida de dois terminais de teste aos quais pode ser ligado um manómetro
diferencial para leitura indirecta do caudal. A figura 6.5. representa uma unidade deste
tipo:

Figura 6.5. Válvula de equilíbrio estático

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A válvula pode ser pré-regulada com base na distribuição de caudais e pressões de
projecto. Estas válvulas impõem geralmente uma perda de pressão adicional de 5 a 10
kPa.

Válvulas de equilíbrio dinâmico

A válvula de equilíbrio dinâmico permite o ajuste constante do caudal.


O valor do kv da válvula compensa automaticamente qualquer variação da pressão
diferencial, pelo que o caudal nunca excede o valor pré-ajustado. Estas válvulas podem
se limitadoras de caudal ou reguladoras de caudal.
As primeiras funcionam por equilíbrio entre a força de uma mola e a força provocada
pela pressão diferencial entre os lados de uma barreira com orifício, conforme figura 6.6

Figura 6.6 Válvula limitadora de caudal

As válvulas de regulação funcionam por equilíbrio entre a força de uma mola e a


pressão exercida por pilotagem, conforme esquema seguinte.

Figura 6.7 Válvula reguladora de caudal

A válvula é pré-regulada para o caudal nominal, função da escolha da mola e seu ajuste
prévio, não sendo necessário recorrer a medições ou ajustes posteriores.
As válvulas de equilíbrio são utilizadas junto das não necessitando de equilíbrio nos
circuitos de distribuição nem no circuito principal. As válvulas respondem a qualquer
variação de cargas do sistema ou devido a ampliações, mantendo o caudal nas unidades.

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Estas válvulas conduzem geralmente a perdas de pressão da ordem dos 30 kPa. Em
resultado consegue-se um melhor ajuste dos caudais com precisão de cerca de 5%,
sendo necessário um maior consumo de energia. As perdas de pressão comparadas são
expressas na figura 6.8:

Figura 6.8 Perda de pressão e caudal em válvulas de regulação.


_________________________________________________

Exercício 6.2- Responda Verdadeiro ou Falso


As válvulas de equilíbrio estático têm perdas de pressão
geralmente inferiores às de equilíbrio dinâmico.
Uma única válvula de equilíbrio estática garante o equilíbrio do
caudal de água numa UTA, com válvula termostática on/off de
três vias.
A perda de pressão na válvula termostática deve equivaler à
perda de pressão na bateria.
As válvulas de duas vias com change-over devem ter o bolbo
do termostáto de inversão próximo da bateria.
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Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 6:

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7. REDES COM CICLOS.

As redes de distribuição e as redes em climatização sofrem geralmente variações de


caudais nos diversos troços quando existe alguma alteração na rede. A determinação dos
caudais e pressões nos diversos nós face a uma determinada rede é o problema principal
da análise de redes. Em climatização é necessário ter consciência da interdependência
entre os diversos parâmetros da rede, pretendendo-se contrariar essa tendência natural
de forma a conseguir um funcionamento conforme o projectado.
Designa-se por rede de recobrimento mínima ou antena a rede constituída pelo número
mínimo de troços que garantem o abastecimento de todos os nós. Uma rede pode ser
vista como um conjunto de troços pode ser dividida na rede de recobrimento mínima T
e no seu complementar T . A este novo conjunto, desnecessário ao abastecimento pela
rede mínima, mas muito importante em termos de garantia de abastecimento designa-se
por conjunto de cordas, que criam as malhas.
Numa rede em antena verifica-se que a cada nó acrescentado à rede corresponde um
novo troço para o abastecer, obtendo-se a relação:

t= n-1 (7.1)

Numa rede malhada, ou com cordas, a criação de uma corda implica a criação de uma
malha, não necessitando novos nós para o efeito:

t= n-1+m (7.2)

7.1. Leis dos nós e das malhas

A solução de uma rede passa pela resolução conjunta das equações de Kirchoff, também
designadas por lei dos nós e das malhas. A lei dos nós estabelece a continuidade em
cada nó e lei das malhas o campo potencial de pressões. As expressões usadas são
análogas às conhecidas dos alunos para o estudo de circuitos eléctricos. Existe no
entanto uma diferença substancial entre as duas formulações já que as diferenças de
potencial de pressão dependem de uma potência próxima de dois do caudal, enquanto

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que a diferença de potencial de um circuito eléctrico depende directamente da
intensidade de corrente. As expressões para as redes eléctricas podem ser definidas na
forma ΣI in = ΣI out e ΣV = 0 , sendo I a corrente e V a diferença de potencial. Nas redes
de fluidos estas expressões tomam a forma:

ΣQ in = ΣQ out (7.3)

Σ∆P = 0 (7.4)

Analise-se a rede eléctrica conforme a figura 7.1, admitindo que existe uma diferença de
potencial V e uma corrente I=I1+I2 e pretendendo-se obter uma resistência R
equivalente às duas resistências em paralelo:

R1

R2

Figura 7.1 Rede com um Circuito

As equações de Kirchoff serão:


R 1 .I1 − R 2 .I 2 = 0
 , sendo I1=I-I2 e substituindo na equação superior explicitada em
I 1 + I 2 = I
R 1 .I
ordem a I2, obtém-se: I 2 = ,
R1 + R 2

R 2 .R 1
e sendo V = R.I = R 2 I 2 = .I ,
R1 + R 2
pelo que comparando os dois lados da igualdade obtém-se a conhecida expressão das
R 2 .R 1
redes eléctricas: R = .
R1 + R 2
Numa rede de fluidos, a resistência ao transporte pode ser obtida da expressão (2.10)
K.L i
como: R i = , pelo que as equações de Kirchoff podem ser escritas como:
D im

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R 1 .Q n 1 − R 2 .Q n 2 = 0
 (7.5)
Q1 + Q 2 = Q

Sendo Q1=Q-Q2 e substituindo na equação superior, explicitando em ordem a Q2,


obtém-se:
R 2 .Q n
∆P = R.Q n = R 2 Q n 2 = , ou seja a resistência equivalente será:
R 2 1/ n n
(1 + ( ) )
R1

R2
R= (7.6)
R
(1 + ( 2 )1 / n ) n
R1
Expressão igual à dos circuitos eléctricos para n=1.
_________________________________________________

Exercício 7.1- Considere o sistema de controlo de caudal


numa bateria de arrefecimento de uma UTA, com uma válvula
de três vias modulante, como um sistema de resistências
hidráulicas em paralelo. Admita que a perda de carga entre a
entrada e a saída do sistema é constante e de 3 m.c.a., que o
caudal nominal da bateria é de 5 l/s e que a característica da
válvula é linear. Escreva as equações que definem o caudal na
bateria função da posição de abertura da válvula e da perda de
carga no circuito da válvula.
_________________________________________________

7.2. Definição da rede e matriz de incidência

A definição topológica da rede pode ser feita através de matrizes que relacionem os
elementos da rede. Tem especial interesse a matriz de incidência malha troço (matriz
B), que permite obter as relações entre as malhas e os troços respectivos.
Considere-se a rede constante na figura seguinte, onde se representam 5 troços
interligados, que a partir de um nó de injecção abastecem 3 nós de consumo, formando
2 malhas:

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4 5

3
1
2

Figura 7.2 Exemplo de Rede Malhada

A matriz B, conforme fig.7.1 tem valores nulos se uma malha não percorre um troço,
positivos se a malha percorre o troço no sentido definido para esse troço e negativo se
percorre no sentido contrário.
Troço
1 2 3 4 7
1 +1 -1 0 +1 0
Malha
2 0 +1 -1 0 -1
Tabela 7.1 – Matriz de incidência B para o exemplo da figura 7.2.

O produto BxBT define a relação entre as duas malhas, sendo negativo se o sentido de
circulação entre as malhas for oposto.

Para o exemplo da figura 7.1 as equações (7.3) e (7.4) tomam a forma:


Q1 − Q 4 = C1

Q 2 + Q 4 + Q 5 = C 2 (7.7)
Q − Q = C
 3 5 3

e
∆P1 − ∆P2 + ∆P4 = 0
 (7.8)
∆P2 − ∆P3 − ∆P5 = 0
Cujo conjunto constitui o sistema de 5 equações não lineares a resolver.

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7.3. Resolução de sistemas de equações não lineares

Nesta secção será dado um conjunto de conceitos básico de obtenção da solução de uma
equação não linear, por método numérico, sendo depois generalizada para a resolução
de um sistema de equações.
Seja f(x) uma função com primeira derivada numa determinada região, e conheça-se
dessa função uma estimativa x0 do zero da função, conforme figura 7.3. Uma melhor
estimativa da raiz pode ser obtida fazendo passar uma recta tangente ao ponto (x0, f(x0))
e intersectando-a nas abcissas.

f(x)

x1 x0
x

Figura 7.3 Zero de uma função f(x)

Este método pode ser expresso matematicamente na forma:

f (x 0 )
x1 = x 0 − (7.9)
f ’( x 0 )

,designado por método de Newton para resolução de uma equação não linear. Desde que
x0 seja escolhido com razoável perícia x1 estará mais próximo da raiz, sendo o método
de novo aplicado as vezes que se julguem necessárias até atingir a precisão desejada.
Esta precisão depende directamente do módulo da função, |f(x)|, e indirectamente de |x1-
x0|.

Se a função a resolver for um sistema de equações f ( x ) = 0 , sendo f e x vectores, a


expressão (7.9) pode ser generalizada para:

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x 1 = x 0 − J −1 ( x 0 ).f ( x 0 ) (7.10)
Onde J representa o Jacobiano de f. Para um sistema de 2 equações, f1 e f2, a duas
incógnitas, x1 e x2, o Jacobiano toma a forma:
 ∂f1 ∂f1 
 ∂x ∂x 2 
J= 
1
(7.11)
 ∂f 2 ∂f 2 

 ∂x 1 ∂x 2 

Ou na forma mais comum de resolução de sistema de equações lineares:

J ( x 0 ).∆ x = −f ( x 0 ) (7.12)

Conhecida uma solução aproximada a equação (7.12) permite obter a variação ∆ x que
irá, em princípio, permitir uma solução mais aproximada. O método termina quando a
norma da função f e da variação ∆x forem pequenas. Podem ser assim resolvidas

conjuntamente as equações (7.7) e (7.8).


_________________________________________________

Exercício 7.2- Estime uma aproximação da solução do seguinte


sistema de equações, utilizando o método de Newton com duas
iterações a partir de uma aproximação inicial (1,1).
x 1 − x 2 = 0
 2
x 1 + x 2 = 1
2

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7.4. Método de Hardy Cross e de Newton Raphson

As equações (7.4) ou (7.8) podem ainda ser escritas como:


B ∆P = 0 (7.12)
Para ponto de partida da resolução das equações não lineares, pode escolher-se um
vector de caudais Q que satisfaça as equação (7.7), tal como no exercício 7.2. Neste
caso e com base no exemplo da figura 7.1, se se aumentar em q1 o caudal ao longo do
circuito 1, a equação (7.7) não se altera. O mesmo e passa no circuito 2 em qualquer
iteração. Dado que em qualquer iteração a equação (7.7) é satisfeita, basta que se
explicite (7.8) com respeito aos caudais de acerto q1 e q2 e se resolva um sistema de
duas equações a duas incógnitas, conforme a equação:

 (Q1 + q 1 )n (Q 2 − q 1 + q 2 )n (Q 4 + q 1 )n
k.L1 . − k.L 2 . + k .L 4 . =0
 D1m D m2 D m4
 (7.13)
k.L . (Q 2 − q 1 + q 2 ) − k.L . (Q 3 − q 2 ) − k.L . (Q 5 − q 2 ) = 0
n n n

 2 D m2
3
D 3m
5
D 5m

Onde os caudais Qi são valores determinados dados pela aproximação que satisfaz (7.7).
A resolução numérica do sistema de duas equações não lineares para os caudais Qi
determinados numa iteração anterior, pode ser obtida pelo processo iterativo com base
na equação (7.12). Sendo q o caudal de acerto e Qi a solução inicial essa equação é

equivalente a J (Q).q = −f (Q) , ou mais precisamente dado que f é só função de q:

J (0).q = −f (0) (7.14)

Sendo J o Jacobiano definido como em (7.11):


 ∂f 1 ∂f 1 
 ∂q ∂q 2 
J= 
1
(7.15)
 ∂f 2 ∂f 2 

 ∂q 1 ∂q 2 

Obtenha-se por exemplo a primeira linha do Jacobiano com base em (7.13):

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∂f 1 (Q + q )
= k.L1 .n. 1 m1
n −1

+ k.L 2 .n.
(Q 2 − q 1 + q 2 )n −1 + k.L (Q 4 − q 1 )n −1
4 .n.
∂q 1 D1 D m2 D m4
(7.16)
∂f 1 (Q − q 1 + q 2 )
= −k.L 2 .n. 2
n −1

∂q 2 D m2

Que calculadas para (q1,q2)=(0,0) apresentam a forma de

∂f 1 (Q )
= k.L1 .n. 1 m
n −1

+ k.L 2 .n.
(Q2 )
n −1

+ k.L .n.
(Q4 )
n −1

4
∂q 1 D1 D m2 D m4
∂f 1 (Q )
= −k.L 2 .n. 2 m
n −1

∂q 2 D2

Ou seja:
∂f 1 ∆P ∆P ∆P
= n. 1 + n. 2 + n. 4
∂q 1 Q1 Q2 Q4
(7.17)
∂f 1 ∆P
= − n. 2
∂q 2 Q2

Reescrevendo para toda a matriz Jacobiano:

 ∆P1 ∆P2 ∆P4 ∆P2 


 + + − 
 Q1 Q2 Q4 Q2 (7.18)
J = n. 
 ∆ P ∆P2 ∆P3 ∆P5 
− 2 + +
 Q2 Q2 Q3 Q 5 

Sendo J a relação entre as variações das equações de perda de carga ao longo de cada
malha com todas as malhas, J pode ser expressa como:
J = B.D.B T (7.19)
∆Pi
sendo D a matriz diagonal com elementos D ii = . (7.20)
Qi
O método de Hardy Cross difere do de Newton Raphson por suprimir os elementos do
Jacobiano externos à diagonal principal, tomando o Jacobiano a forma:

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 ∆P1 ∆P2 ∆P4 
 + + 0 
 Q1 Q2 Q4 (7.21)
J = n. 
 ∆P2 ∆P3 ∆P5 
0 + +
 Q2 Q3 Q 5 

Conhecidos os caudais de acerto q os novos caudais nos diversos troços Qn, podem ser
obtidos dos anteriores Q0 pela expressão seguinte, conforme facilmente se verifica:

Qn=Q0+BT.q (7.22)

O processo de cálculo termina quando a norma dos caudais de acerto q e a norma da

função f forem considerados pequenos. Poderá ser utilizada uma qualquer norma,

nomeadamente a quadrática, dado que se pretende apenas um valor de referência. A


norma infinito é normalmente usada dado permitir controlar o método com base no
maior valor de q ou de f.
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Exercício 7.3- Uma rede de água, abastece três pontos de


consumo em baixa pressão, podendo ser topologicamente
definida conforme a figura 7.2. Todos os troços têm diâmetro
de 100mm, sendo os troços maiores de 150 m e os menores de
100m. O consumo é de 130 m3/h em cada um dos nós de
consumo. Pretendendo-se obter as condições de equilíbrio da
rede, sendo o nó 1 o de injecção, obtenha:

a) Uma aproximação dos caudais na rede de forma a obedecer


à equação da continuidade.
b) Utilizando a fórmula aproximativa para tubos de aço,
obtenha a perda de carga nos troços. ( 3>PFD @ 
L[m] Q[m3/s]1,88 /D[m]4,88)
c) Identifique a matriz de incidência malha-troço.
d) Aplicando uma vez o método de Hardy-Cross das malhas,
obtenha uma aproximação dos caudais de equilíbrio na rede.
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7.3 Algoritmo de cálculo

O algoritmo de cálculo pode ser sumariado em conformidade com as equações descrita:


1. Determinar um conjunto de caudais Q0 que satisfaçam as equações dos nós (7.7).
2. 2EWHUSHUGDGHFDUJD 3GHDFRUGRFRPRFDSítulo 2.
3. Determinar a Matriz diagonal D. Eq.(7.20)
4. Obter o erro de fecho f (Q) e a sua norma.
5. Calcula o Jacobiano de acordo com (7.18) para o método de Newton-Raphson, ou
com (7.21) para o método de Hardy Cross.
6. Resolver o sistema de equações lineares (7.14)
7. Calcular uma nova aproximação do caudal nos troços Qn (7.22)
8. Avaliar condições de paragem, com base na norma de q e de f(q), ou retornar ao
cálculo da perda de carga.

Estes passos podem ser facilmente implementados num programa. Uma implementação
despretensiosa em Matlab é descrita no exercício 7.4. Descrevem-se de seguida a
relação dos principais tópicos descritos e o programa do exercício:

Tópico Linha de Programa


8 while and(or((normaq > (qmin),(normaf>fmin)), (iter<itermax))
2 DP=43.9*0.6*L.*sign(Q).*abs(Q).^n./D.^m;
DPQ(isinf(DPQ))=0;
3 M=diag(DPQ);
4 F=B*(DP)' ; normaf=norm(F)
5 J=n*B*M*B' ;
5 JH=diag(diag(J));
6 DQ=-JH\F; normaq=norm(DQ)
7 Q=(Q.' +B'*DQ)'
Tabela 7.2 – Algoritmo e tópicos do programa

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Exercício 7.4- Descreva o programa em MatLab anexo e altere-


-o para a análise de redes do exemplo 7.1.

% Calculo de redes em malha dados os troços, com os


respectivos
% comprimentos e diametros e caudais iniciais. ( L D Q )
% A matriz de incidencia malha troço é a matriz B
clear all
echo off
format short
%
L=[1000 300 1500];
D=[100 100 100];
Q=[64.8 0 86.7];
B=[+1 -1 -1];
s=size(L);nt=s(2);
%
%parametros de paragem
dqmin=10; fmin=10; itermax=10;n=1.82; m=4.82
%parametros de inicializaçao
normaq=100; normaf=100; iter=0;
%
% inicio do programa
while and(or((normaq > dqmin),(normaf>fmin)),
(iter<itermax))
%
iter=iter+1
DP=43.9*0.6*L.*sign(Q).*abs(Q).^n./D.^m;
DPQ(isinf(DPQ))=0;
% inclui circuitos com DPC diferentes de zero
F=B*(DP)' ;
M=diag(DPQ);
J=n*B*M*B' ;
JH=diag(diag(J));
DQ=-JH\F;
%
normaf=norm(F)
normaq=norm(DQ)
Q=(Q.' +B' *DQ)'
end
% fim do programa
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Exercício 7.5- Uma rede de abastecimento de água toda de


diâmetro interno de 300 mm, abastece duas urbanizações A e B
a partir dos nós de injecção I1 e I2, respectivamente mantidos a
200 kPa e a 250 kPa. O caudal necessário à urbanização A é de
100 l/s e o necessário à B de 150l/s.

A
1.000 m
I1

300 m
1.500 m
I2
B
Utilizando a expressão de perda de carga, 3>PFD@ 
L[m] Q[m3/s]1,88 /D[m]4,88, determine os caudais nos três
troços utilizando o método de cálculo de Hardy-Cross com
duas iterações.
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Exercício 7.6- Duas urbanizações, uma de 10.000 clientes e


outra de 5.000 clientes (admita que cada cliente tem 1 fogão e
1 esquentador), são abastecidas por duas tubagens
independentes de gás em média pressão, tendo a primeira
5000m e a segunda 7000m. A emissão em qualquer das redes é
efectuada a 4 bar, estimando-se uma pressão mínima de 2,5 bar
nos pontos de menor pressão, nas condições nominais.

a) Qual o diâmetro das tubagens de cada uma das redes,


utilizando a expressão de perda de carga quadrática
3  >EDU@ V/>P@4>PK@'>PP@ 
b) Admitindo que as redes eram interligadas, qual o caudal que
passaria em cada troço. ( Faça duas iterações do método de
Hardy-Cross)
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Notas do aluno sobre a matéria do capítulo 6:

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Bibliografia Principal:

PEDROSO, Vitor M. R. «Regras de dimensionamento dos sistemas prediais de


distribuição de água e de drenagens de águas residuais domésticas e pluviais» Lisboa,
Publicação LNEC, 1991.

ALEGRE, Helena «Modelação de redes de distribuição de água de abastecimento. Guia


de utilização», Publicação LNEC, Lisboa, 1990.

Manual de Instalações Industriais Hidráulicas e Prediais, MacinTyre, Archibald

Manuel Pour le Transport et la Distribution du Gaz, Vol. X, "Conception et


Construction des Réseaux de Distribuition", 1ª Ed., Paris, Association Technique de
l'
Industrie du Gaz en France (1985)

Manual Técnico de Instalações de Gás – GDP, Gás de Portugal.

OSIADACZ, A. J. (1987) - Simulation and Analysis of Gas Networks, 1ª Ed., Londres,


Gulf Publishing Company.
Cours de Climatisation : Bases de calcul des Instalations de Climatisation - G. Porcher-
Editions Parisiennes Chaud-froid-plomberrie.

Air Conditioning Applications and Design - W. P. Jones – Edward Arnold Publications

2005 ASHRAE Handbook, Fundamentals

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