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LITERATURA – EXERCÍCIOS DE REVISÃO PARA A PROVA ABERTA

ETAPA SÉRIE TURMA ENSINO PROFESSORA


1ª 2ª Médio Rafaela Marra

DATA
Estudante: ____________________________________________________Nº______ ______ /______ /2024

Questão 01. (CBM/2023 – RMM)

Texto I

Teresa

A primeira vez que vi Teresa


Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo


Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Companhia José Aguilar Editora: Rio de Janeiro, 1974.

Texto II

Passei ontem a noite junto dela.


Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós — e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...

Tanto amor, tanto fogo se revela


Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

Como era doce aquele seio arfando!


Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!
[...]

AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas. São Paulo: Saraiva, 1957.

RELACIONE os textos I e II, de Manuel Bandeira e Álvares de Azevedo, respectivamente, no que diz
respeito à representação da figura feminina.

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Questão 02. (PUCRJ/2023 – adaptada)

Texto I
Fragmento de O Guarani

O sol vinha nascendo.


O seu primeiro raio espreguiçava-se ainda pelo céu anilado, e ia beijar as brancas nuvenzinhas
que corriam ao seu encontro.
Apenas a luz branda e suave da manhã esclarecia a terra e surpreendia as sombras indolentes
que dormiam sob as copas das árvores.
Era a hora em que o cacto, a flor da noite, fechava o seu cálice cheio das gotas de orvalho com
que destila o seu perfume, temendo que o sol crestasse a alvura diáfana de suas pétalas.
Cecília com a sua graça de menina travessa corria sobre a relva ainda úmida colhendo uma
gracíola azul que se embalançava sobre a haste, ou um malvaísco que abria os lindos botões escarlates.
Tudo para ela tinha um encanto inexprimível; as lágrimas da noite que tremiam como brilhantes
das folhas das palmeiras; a borboleta que ainda com as asas entorpecidas esperava o calor do sol para
reanimar-se; a viuvinha que escondida na ramagem avisava o companheiro que o dia vinha raiando: tudo
lhe fazia soltar um grito de surpresa e de prazer.
Enquanto a menina brincava assim pela várzea, Peri, que a seguia de longe, parou de repente
tomado por uma ideia que lhe fez correr pelo corpo um calafrio; lembrava-se do tigre.
De um pulo sumiu-se numa grande moita de arvoredo que se elevava a alguns passos; ouviu-se
um rugido abafado, um grande farfalhar de folhas que se espedaçavam, e o índio apareceu.
Cecília tinha-se voltado um pouco trêmula:
- Que é isto, Peri?
- Nada, senhora.
- É assim que prometeste estar quieto?
- Ceci não há de se zangar mais.
- Que queres tu dizer?
- Peri sabe! Respondeu o índio sorrindo.
Na véspera tinha provocado uma luta espantosa para domar e vencer um animal feroz, e deitá-lo
submisso e inofensivo aos pés da moça, julgando que isso lhe causava um prazer.
Agora estremecendo com o susto que sua senhora podia sofrer, destruíra em um instante essa
ação de heroísmo, sem proferir uma palavra que a revelasse. Bastava que ele soubesse o que tinha feito,
e o que todos deviam ignorar; bastava que sua alma sentisse o orgulho da nobre dedicação que se
expandia no sorriso de seus lábios.

ALENCAR, José de. Literatura comentada. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

Texto II

Um índio

Um índio descerá
De uma estrela colorida brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul na América num claro instante

2
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá

Impávido que nem Muhammad Ali


Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Ghandi
Virá

Um índio preservado em pleno corpo físico


Em todo sólido todo gás e todo líquido
Em átomos palavras cor em gesto em
cheiro em sombra em luz em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto sim resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá fará não sei dizer assim de um modo explícito

[...]

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos


Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio.

UM ÍNDIO. Compositor e intérprete: Caetano Veloso. In: BICHO. São Paulo: Polygram-Philips, 1989.1CD, faixa 5 (2:55).

A) A partir da leitura do texto I, DETERMINE o estilo de época a que ele pertence e INDIQUE duas
características, uma de natureza temática e outra de natureza formal, que comprovem sua vinculação a
esse movimento literário.

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B) A partir de uma leitura comparativa entre a prosa de José de Alencar (Texto I) e o poema de Caetano
Veloso (Texto II), DISCUTA, com suas próprias palavras, a visão que cada texto apresenta do indígena e
dos povos originários.

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Questão 03. (CBM/2023 – RMM)

Um dia, ao pino do Sol, Iracema repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a


sombra da (1)oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam
flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o (2)aljôfar d’água ainda a (3)roreja, como à doce (4)mangaba que corou
em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do (5)gará as flechas de seu arco e
concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa (6)ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da
árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras, remexe o uru(7) de palha matizada, onde traz a
selvagem seus perfumes, os alvos fios do (8)crautá, as agulhas da (9)juçara com que tece a renda e as
tintas de que matiza o algodão.
1
oiticica: árvore frondosa.
2
aljôfar: pérola; por extensão: gota.
3
rorejar: banhar.
4
mangaba: fruto da mangabeira.
5
gará: ave de cor vermelha.
6
ará: periquito.
7
uru: pequeno cesto.
8
crautá: bromélia.
9
juçara: palmeira de grandes espinhos.

ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Penguin Companhia das Letras, 2016.

COMENTE a relação do ser humano com a natureza presente no fragmento da obra Iracema, de José de
Alencar.

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Questão 04. (CBM/2023 – RMM)

Minha mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque Santiago,
contava trinta e um anos de idade, e podia voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em

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que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou
alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices. […]
Ora, pois, naquele ano da graça de 1857, D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava
quarenta e dous anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder os saldos da
juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la da ação do tempo. Vivia metida em um eterno
vestido escuro, sem adornos, com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um
camafeu. [...]

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 27 maio 2019.

COMENTE a representação da mulher no excerto do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

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Questão 05. (CBM/2024 – RMM)

Há dias, pegando numa folha da manhã, li uma lista de candidaturas para deputados por Minas,
com seus comentos(1) e prognósticos(2). Chego a um dos distritos, não me lembra qual, nem o nome da
pessoa, e que hei de ler? Que o candidato era apresentado pelos três partidos, liberal, conservador e
republicano. [...].
Upa! que caso único. Todos os partidos armados uns contra os outros no resto do Império,
naquele ponto uniam-se e depositavam sobre a cabeça de um homem os seus princípios.

(1) comentos: comentários, apontamentos.


(2) prognósticos: previsões.

ASSIS, Machado de. Bons dias. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

COMENTE a visão crítica presente no excerto da crônica de Machado de Assis a respeito da vida política
brasileira da segunda metade do século XIX.

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Questão 06. (FUVEST/2020)

Texto 1

Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o
mais simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das suas
hortas recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém
compraria; as suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso;
vendia-os todos e contentava-se com os restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição,
era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a moeda. E seu tipo
baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda,
da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para
todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele
não podia apoderar-se logo com as unhas.

Aluísio Azevedo, O Cortiço.

Texto 2

Rubião é sócio do marido de Sofia, em uma casa de importação, à Rua da Alfândega, sob a firma
Palha & Cia. Era o negócio que este ia propor-lhe, naquela noite, em que achou o Dr. Camacho na casa
de Botafogo. Apesar de fácil, Rubião recuou algum tempo. Pediam-lhe uns bons pares de contos de réis,
não entendia de comércio, não lhe tinha inclinação. Demais, os gastos particulares eram já grandes; o
capital precisava do regime do bom juro e alguma poupança, a ver se recobrava as cores e as carnes
primitivas. O regime que lhe indicavam não era claro; Rubião não podia compreender os algarismos do
Palha, cálculos de lucros, tabelas de preço, direitos da alfândega, nada; mas, a linguagem falada supria a
escrita. Palha dizia coisas extraordinárias, aconselhava o amigo que aproveitasse a ocasião para pôr o
dinheiro a caminho, multiplicá-lo.

Machado de Assis, Quincas Borba.

Como o contraste entre os trechos “já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um
desespero de acumular” e “não entendia de comércio, não lhe tinha inclinação”, respectivamente sobre as
personagens João Romão e Rubião, reflete distintas linhas estéticas na prosa brasileira do fim do século
XIX?

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Questão 07. (FUVEST/2019 – adaptada)

Os trechos seguintes foram extraídos do texto “Casas de cômodos”, que consiste em um apanhado de
impressões recolhidas pelo escritor Aluísio Azevedo. Leia-os para responder às questões.

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I. Há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem sem base pecuniária fazer pecúlio e
até enriquecer, um tipo digno de estudo – é o “dono de casa de cômodos”; mais curioso e mais
completo no gênero que o “dono de casa de jogo”, pois este ao menos representa o capital da sua
banca, suscetível de ir à glória, ao passo que o outro nenhum capital representa, nem arrisca, ficando,
além de tudo, isento da pecha de mal procedido.
Quase sempre forasteiro, exercia dantes um ofício na pátria que deixou para vir tentar fortuna no Brasil;
mas, percebendo que aqui a especulação velhaca produz muito mais do que o trabalho honesto, tratou
logo de esconder as ferramentas do ofício e de fariscar os meios de, sem nada fazer, fazer dinheiro.

II. (...) há sempre uma quitandeira de quem o dono da casa de cômodos, começando por merecer a
simpatia, acaba por conquistar a confiança e o amor. Juntam-se e, quando ela dá por si, está
cozinhando e lavando para todos os hóspedes do eleito do seu coração, sem outros vencimentos além
das carícias, que lhe dá o amado sócio.
Assim chega a empresa ao seu completo desenvolvimento, e o dono da casa de pensão começa a
ganhar em grosso, acumulando forte, sem trabalhar nunca, nem empregar capital próprio, até que um
dia, farto de aturar o Brasil, passa com luvas o estabelecimento e retira-se para a pátria, deixando,
naturalmente também com luvas, a preciosa quitandeira ao seu substituto.

Aluísio Azevedo, Casas de cômodos.

IDENTIFIQUE o recurso da estética naturalista que surge já no início das notas, feitas em razão do
cotidiano nacional da época, e JUSTIFIQUE sua resposta.

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Gabarito:

1.Os poemas de Manuel Bandeira e Álvares de Azevedo têm em comum o fato de tematizarem um encontro
amoroso, com um par feminino. No entanto, enquanto a mulher é descrita de maneira pouco lisonjeira nos versos de
Bandeira (“ A primeira vez que vi Teresa/ Achei que ela tinha pernas estúpidas/ Achei também que a cara parecia
uma perna), ela é idealizada na abordagem do romântico Álvares de Azevedo, sendo caracterizada como “virgem
bela” e portadora de uma “alma de donzela”. Desse modo, percebe-se um contraste na maneira como a figura
feminina é representada nos textos I e II.

2. A) A obra “O guarani”, de José de Alencar, está inserida na primeira fase do Romantismo brasileiro, conhecida
como indianista. Quanto à temática, o autor enfatiza as belezas naturais do Brasil, descrevendo os nativos indígenas
como se fossem os antigos cavaleiros medievais trovadorescos da Europa. Possuidor de uma força descomunal que
permitia domar um tigre ou matar uma onça, Peri arrisca a própria vida para salvar Cecília, associada por ele à
imagem de Nossa Senhora. No aspecto formal, o Romantismo faz amplo uso de metáforas, hipérboles e antíteses,
contribuindo para narrativas idealizadas e com forte carga emotiva.

B) Enquanto José de Alencar apresenta o indígena como um ser idealizado, valente guerreiro e herói da pátria
brasileira, partindo da ideia de que se trata de um ser primitivo que se civiliza em contato com os colonizadores,
Caetano Veloso apresenta-o como sobrevivente de um genocídio praticado até hoje. Vítima da ganância e crueldade
com que foi tratado, o indígena de Caetano, é, como sempre foi, conhecedor da necessidade da íntima relação
homem e natureza, que, se não for reconhecida e preservada, irá ocasionar o fim da nossa própria espécie. Virá,
então, em um futuro próximo, revelar o que já é óbvio na atualidade.

3. No fragmento apresentado de “Iracema”, há uma relação pacífica e harmônica entre o ser humano e a natureza.
A personagem Iracema mostra-se perfeitamente confortável no “claro da floresta” onde repousa e é banhada pela
sombra fresca de uma árvore frondosa. O trecho revela ainda a convivência amigável da indígena com os animais
que a cercam: “A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela”.

4. O trecho apresentado de “Dom Casmurro” descreve D. Maria da Glória Fernandes Santiago, a mãe do narrador,
como “uma boa criatura”. Tal qualificativo parece atrelado a algumas de suas atitudes, mencionadas na sequência:
após a morte do marido, decidiu passar o restante da vida perto do local em que ele havia sido sepultado, e, mesmo
bonita e moça, mantinha-se fiel ao falecido, “metida em um eterno vestido escuro, sem adornos, com um xale preto”.
Desse modo, a narrativa representa a mulher virtuosa enquanto aquela que se vincula a uma figura masculina e
preserva sua lealdade a ela.

5. O trecho da crônica de Machado de Assis aborda a ocorrência inusitada de um candidato a deputado por Minas
ser apresentado por três partidos ao mesmo tempo: o liberal, o conservador e o republicano. Utilizando-se de uma
linguagem irônica, o narrador comenta: “Upa! que caso único. Todos os partidos armados uns contra os outros no
resto do Império, naquele ponto uniam-se e depositavam sobre a cabeça de um homem os seus princípios”. Dada a
impossibilidade de convergência de princípios tão opostos, como os representados pelos três partidos, torna-se
evidente a crítica ao funcionamento da vida política brasileira, que não tem sua conduta pautada por orientação
ideológica, mas por interesses de outra natureza.

6. Aluísio Azevedo está vinculado ao movimento estético do Naturalismo que interpreta os contextos sociais e
reações dos personagens a partir de uma visão cientificista e determinista. A frase “já não era ambição, era uma
moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular” é ilustrativa dessa característica por associar o
comportamento de João Romão a uma patologia que, no afã de enriquecer e obter status social, comete sucessivos
atos imorais e antiéticos para consegui-lo. Machado de Assis adota procedimento distinto, através de recursos
típicos do Realismo psicológico. Seus personagens circulam no contexto social marcados pela contradição entre
aparência e essência, como Rubião que não entende nada de comércio, mas é sensível à vida fácil das elites e ao
discurso de oportunistas.

7. No início do texto, a expressão “um tipo digno de estudo“ estabelece intertextualidade com o Cientificismo,
concepção filosófica que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão da
realidade e do mundo. Ao analisar a sociedade da época, em que era comum o enriquecimento de indivíduos afetos
à malandragem, em contraste com a exploração e privação de condições dignas a que era sujeito o trabalhador
honesto, Aluísio Azevedo dá enfoque coletivo aos problemas sociais da pobreza, da exploração e da discriminação
racial, como descritas em “Casa de cômodos”.

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