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IMPACTO DA PRESENÇA DE REFUGIADOS NA SOCIEDADE DE MALTA

Artur Miguel Almeida Viana


Introdução às Metodologias de Investigação | Ciência Política e Relações Internacionais

Lisboa, 2022
Artur Miguel Almeida Viana
Nº de aluno: 22107647

IMPACTO DA PRESENÇA DE REFUGIADOS NA SOCIEDADE DE MALTA

Trabalho apresentado ao Professor Doutor Sérgio Vieira da Silva,


docente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia de Lisboa,
referente à disciplina de Introdução às Metodologias de Investigação.
“Se não dá trabalho, não é trabalho”

Professor Doutor Sérgio Vieira da Silva


INDÍCE

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………1

1. A diferença entre Refugiado e um Emigrante………………………………...3

2. Abordagem de Malta em relação às Organizações não Governamentais……..3

2.1. O Caso de Lifeline…………………………………………………...4

3. Principais atores para lidar com o problema em Malta……………………….5

4. O Impacto da Presença de Refugiados no Território…………………………..6

4.1 O Impacto Físico e Demográfico……………………………………6

4.2 O Impacto Social…………………………………………………….7

4.3 O Impacto Económico……………………………………………….8

CONCLUSÃO……………………………………………………………………10

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………… 11
INTRODUÇÃO

A questão inicial para a elaboração deste trabalho foi perceber e interpretar se


existe impacto dos refugiados que chegam pelo Mediterrâneo para com a sociedade de
Malta, desde o seu Estado até aos seus habitantes a partir de 2018 até à atualidade, bem
como analisar os fatos e as estatísticas.

Escolhi este tema uma vez que é um assunto sério que me preocupa e também
devia preocupar qualquer cidadão que faça parte deste projeto que é a União Europeia
e fazer entender que se estamos juntos para os pontos positivos também devemos estar
juntos para os pontos negativos de forma a resolver os problemas que este antigo
continente que é a Europa tem de enfrentar, de forma a sermos os mais justos, eficazes
e humanos na resolução de problemas e crises. Não é a evitar os problemas que os
vamos resolver, por isso achei relevante a escolha deste tema. O fenómeno da migração
irregular, envolvendo principalmente pessoas de Países do Norte de África como a
Líbia, tem aumentado consideravelmente ao passar de poucos anos, e Malta devido à
sua localização geográfica é dos Estados-Membro que sofre bastante com esta
realidade, esta problemática justifica o compromisso, apoio e assistência da União
Europeia.

Primeiro faz-se necessária a explicação do que difere um refugiado de um


emigrante, uma vez que apresentam diferenças cruciais entre si, sobretudo no que toca
ao contexto da partida do seu país de origem, contudo convém realçar que o termo
“migrante” costuma ser empregue vulgarmente para se referir a ambos os tipos, sem
que o locutor saiba, necessariamente, que há uma subdivisão.

Por isso, justifica-se, logo de início, demonstrar que existem diferenças entre
os dois.

Em seguida, no segundo capítulo, é introduzido no trabalho perceber a relação


do Estado de Malta para com as Organizações não Governamentais que tentam e outras
vezes conseguem salvar refugiados em alto mar de forma a compreender o esforço e a
pressão que isso provoca para com as autoridades responsáveis pela gestão dessa
problemática e as ações que foram tomadas pelo Estado de Malta para evitar
desembarcações nos portos malteses de forma a que seja também de tamanha

1
importância referir a forma como Itália abordou com essas organizações e o que isso
provocou para Malta.

Feito isso, procurou-se isolar o caso Lifeline e demonstrar os esforços


fornecidos pelas autoridades maltesas a começar uma investigação criminal ao capitão
Claus Peter Reisch e consequentemente pelos meios jurídicos a evitar que os navios
das ONGs como Seafuchs e Sea-Watch saíssem dos portos malteses de forma a
prevenir que resgatassem mais refugiados sem autorização das autoridades
responsáveis.

A importância desse segundo capítulo é fundamentada pela necessidade de


contrastar as visões do Estado de Malta e das ONGs pelo processo de acolhimento de
refugiados.

No terceiro capítulo de forma a perceber quem são as entidades responsáveis


na sociedade de Malta para lidar com esta problemática, vai-se identificar os principais
atores e as suas obrigações como o fornecimento de informação, aplicação da
legislação e programas ligados à saúde, bem-estar, educação, habitação para
compreender o esforço e o investimento que está a ser feito pelo Estado de Malta para
conter melhor e integrar estas pessoas na sua sociedade com fim de perceber o impacto
que isto cria para o Estado.

No último capítulo com base em relatos e dados, é exposto a fim de perceber


se os refugiados têm impacto ou não para com os cidadãos de Malta, analisando a
opinião pública, os limites físicos do território de Malta, a demografia, e uma vertente
económica mais focada no mercado de trabalho informal que este fenómeno provocou.

2
1. A diferença entre Refugiado e um Emigrante

As pessoas que não podem regressar ao seu país de origem devido a um medo
bem fundamentado de perseguição ou conflito, seja por questões de religião, etnia,
opinião política, entre outros são referidas como refugiados1.
Todas as pessoas que se deslocam entre países têm o direito ao pleno respeito
pelos seus direitos humanos. No entanto, os refugiados são protegidos pelo direito
internacional porque são impedidos de regressar a casa.
Os emigrantes são pessoas que estão a abandonar o seu país de origem e a
procurar residência noutro local, de modo geral para se reunirem com as suas famílias,
encontrar trabalho ou procurar educação. Ao contrário dos refugiados, os emigrantes
podem sempre regressar ao seu país de origem sempre que desejarem2.

2. Abordagem de Malta em relação às Organizações não Governamentais

Devido à proximidade de Malta à costa africana e à sua pequena dimensão, o


governo tem estado sempre preocupado com a migração. Determinado a manter uma
grande área de busca e salvamento que não tem forma de patrulhar diretamente, tem
tradicionalmente interpretado as suas obrigações de busca e salvamento marítimo de
forma restritiva para limitar a necessidade de prestar assistência e de oferecer
desembarque na ilha apenas para casos pelos quais se considera responsável3.
Malta tem desempenhado o seu papel nas operações navais da UE para ajudar
refugiados, desde que a ilha não seja afetada pelos desembarques.
A abordagem maltesa das operações de salvamento no mar das ONGs seguiu
em grande parte a mesma abordagem de Itália, Malta permitiu que as ONGs
utilizassem a ilha como base de operações, aceitassem evacuações médicas ocasionais,

1
United Nations High Commissioner for Refugees, What is a Refugee? (on line) . Dísponível na internet:
<https://www.unhcr.org/what-is-a-refugee.html> (consultado em 26-11-2021).
2
United Nations High Commissioner for Refugees, 'Refugees' and 'Migrants' - Frequently Asked Questions
(on line). Disponível na internet: <https://www.refworld.org/docid/56e81c0d4.html> (consultado em 28-
11-2021).
3
Amnesty International , Europe: Punishing compassion: Solidarity on trial in Fortress Europe (on line).
Disponível na internet: <https://www.amnesty.org/en/wp-
content/uploads/2021/05/EUR0118282020ENGLISH.pdf> (consultado em 30-11-2021).

3
e geralmente prestassem apoio dentro dos limites da sua interpretação restritiva da lei
do mar4.
Contudo, quando Itália na Operação Mare Nostrum começou a retirar-se das
atividades de busca e salvamento perto da costa da Líbia de forma a obstruir os esforços
das ONGs para continuar a salvar vidas no mar e depois disso ainda recusou o
desembarque das mesmas que fez com que a posição de Malta sobre esta temática
mudasse.
As autoridades recusaram-se repetidamente a desembarcar as ONGs na ilha e
tomaram medidas para dificultar as suas atividades e dissuadi-las de operar em Malta.
Malta tem realizado vários esforços para elaborar acordos de desembarque entre os
estados-membros da UE e concordou em desembarcar mais de 2.000 pessoas,
incluindo as salvas pelas ONGs, desde que as pessoas salvas em circunstâncias que
Malta não considerou ser legalmente responsável, fossem transferidas para outro lugar
na UE5.

2.1. O Caso de Lifeline

As autoridades Maltesas no ano de 2018 no mês de junho foram confrontadas


com uma situação um tão pouco controversa com o navio de salvamento da ONG
alemã Mission Lifeline quando o navio permaneceu encalhado no mar durante cinco
dias sem nenhum país a fornecer autorização para atracar e consequentemente
desembarcar as 234 pessoas que tinha resgatado em águas internacionais, mais
especificamente dentro da zona de busca e salvamento da região da Líbia, o que
obrigou as autoridades Maltesas a começar uma investigação criminal sobre Claus
Peter Reisch, o capitão do Lifeline6.
A investigação criminal foi fundamentada pelo fato de Claus Peter Reisch não
ter entregado os migrantes à guarda costeira da Líbia quando solicitado e

4
Amnesty International, Between the Devil and the deep blue sea: Europe fails refugees and migrants in
the central Mediterranean (on line). Disponível na internet: <https://www.amnesty.org/en/wp-
content/uploads/2021/05/EUR3089062018ENGLISH.pdf> (consultado em 01-12-2021).
4
Joint Declaration Of Intent On A Controlled Emergency Procedure – Voluntary Commitments By Member
States For A Predictable Temporary Solidarity Mechanism (on line). Disponível na internet
<https://www.statewatch.org/media/documents/news/2019/sep/eu-temporary-voluntary-relocation-
mechanism-declaration.pdf> (consultado em 2-12-2021).
6
Times of Malta, Handing the migrants to the Libyans was not an option - Lifeline captain interviewed (on
line) Disponível na internet: <https://timesofmalta.com/articles/view/handing-the-migrants-to-the-libyans-
was-not-an-option-lifeline-captain.683812> (consultado em 2-12-2021).

4
consequentemente ter violado a lei internacional7. O capitão justificou a sua ação por
afirmar que a Líbia não pode ser considerada como um local seguro para estas pessoas.
Esta controvérsia obrigou à elaboração de um acordo entre vários governos
europeus para receber alguns dos refugiados resgatados e migrantes e desta forma fez
com que Malta concedesse autorização ao capitão para desembarcar estas pessoas.
Mais tarde, toda esta situação, fez com que as autoridades maltesas apresentassem
acusações criminosas contra o Claus Peter Reisch, acusando assim o mesmo de entrar
em águas maltesas com um navio que não tinha sido apropriadamente registado no seu
país de origem8.
No mesmo ano as autoridades maltesas iniciaram várias investigações para
certificar que entidades semelhantes à Lifeline, usando portos malteses e a operar nas
suas águas nacionais estariam a agir de acordo com as leis internacionais e nacionais,
como por exemplo no registo dos navios. A partir destas investigações, Malta
conseguiu prevenir com que os navios de ONGs como Seafuchs e Sea-Watch saíssem
dos portos malteses para resgatar mais pessoas.

3. Principais atores para lidar com o problema em Malta

As viagens que estes refugiados são forçados a atravessar antes de chegar à


Europa, apresentam diferentes tipos de risco e de perigo. O povo maltês gosta de ser
reconhecido pelo seu acolhimento, mas com a receção de novos migrantes, que dia
após dia aumentam em número e consequentemente alteram a demografia, nem a fama
de povo acolhedor os previne do medo do desconhecido. Em 2019, o número total de
refugiados que chegaram a Malta pelo Mediterrâneo foi de 3.406 e no ano 2020 o
número total foi de 2.2819.
Um dos principais atores e o mais relevante salientar para esta investigação é o
Estado Maltês e as diferentes agências e instituições governamentais que o constituem
e que estão envolvidas no apoio a refugiados. No que diz respeito temos o Office of the

7
Amnesty International, Europe: Punishing compassion: Solidarity on trial in Fortress Europe (on line).
Disponível na internet: <https://www.amnesty.org/en/wp-
content/uploads/2021/05/EUR0118282020ENGLISH.pdf > (consultado em 30-11-2021).
8
European Database of Asylum Law, Malta: Judgment in case against Captain of MV Lifeline (on line).
Disponível na internet: <https://www.asylumlawdatabase.eu/en/content/malta-judgment-case-against-
captain-mv-lifeline> (consultado em 28-11-2021).
9
United Nations High Commissioner for Refugees, Malta Sea Arrivals (on line). Disponível na internet:
<https://www.unhcr.org/mt/wp-content/uploads/sites/54/2021/01/Malta-Sea-Arrivals-and-Asylum-
Statistics_UNHCR_2020_27.01.2021_.pdf> (consultado em 12-12-2021).

5
Refugee Commissioner (REFCOM) que é um departamento do Ministry of Home
Affairs, que é responsável por fornecer informações sobre procedimentos a respeito do
asilo e consequentemente dados estatísticos10.
É importante salientar também Agency for the Welfare of the Asylum Seekers
(AWAS) que se responsabiliza pela aplicação da legislação e das políticas nacionais
sobre o bem-estar dos refugiados, desta forma, é responsável pela gestão de instalações
de acolhimento e pelo fornecimento de informação sobre programas na área da
habitação, emprego, educação, saúde e bem-estar11.

4. O Impacto da Presença de Refugiados no Território


4.1 O Impacto Físico e Demográfico

A ilha de Malta é caracterizada pelo seu território de 316 quilómetros


quadrados, é um dos Estados mais pequenos da União Europeia12. É o país do Ocidente
que tem recebido mais refugiados em relação à sua população, principalmente vindos
da Líbia13.
O forte de Santo Elmo, uma das inúmeras fortificações que rodeiam a
cidade de La Valetta, une no final da semana dezenas de famílias maltesas numa
reunião com vista para o Mediterrâneo, o mesmo local, neste caso, o mar onde milhares
de pessoas provenientes do norte de África tentam uma perigosa travessia para a
Europa. Uma parte é bem-sucedida o que provoca queixas por parte dos malteses visto
que os que chegam a Malta são demasiados para um espaço tão reduzido14. Os malteses
também referem a falta de solidariedade por parte dos outros países europeus que não
vivem todos os dias aquela realidade. A indignação é bem notável entre os cidadãos de
Malta, como por exemplo com o relato de Rita Grech, uma cidadã de Malta que diz

10
Migrants Refugees, Country Profiles – Malta (on line). Disponível na internet: <https://migrants-
refugees.va/country-profile/malta/> (consultado em 14-12-2021).
11
Agency for the Welfare of Asylum Seekers, Mission and Function (on line). Disponível na internet:
<https://homeaffairs.gov.mt/en/MHAS-Departments/awas/Pages/Mission-and-Function.aspx>
(consultado em 15-12-2021).
12
Briguglio, L. & Busuttil. Salvino, Malta. (on line). Disponível na internet:
<https://www.britannica.com/place/Malta> (consultado em 17-12-2021).
13
Christophersen, Eirik, These 10 countries receive the most refugees (on line). Dísponivel na internet:
<https://www.nrc.no/perspectives/2020/the-10-countries-that-receive-the-most-refugees/> (consultado em
17-12-2021).
14
Rio, Raquel, Malta: A ilha dividida entre o dever de auxílio e os limites físicos (on line). Disponível na
internet: <https://www.dn.pt/mundo/reportagem-malta-e-ilha-dividida-entre-o-dever-de-auxilio-e-os-
limites-fisicos-9683312.html> (consultado em 19-12-2021).

6
que “Não temos mais espaço, qualquer dia quase temos mais refugiados do que
malteses. Todos têm de acolher alguns, mas os outros países não querem"15. O cidadão
Gervais Cishahayo também refere que “A geografia não pode justificar a
responsabilidade. O fardo deve ser distribuído”16.
Joe Zammit cidadão maltês também acrescenta “gritam e fazem barulho à
noite, criam problemas sobretudo no centro, as pessoas tem medo de sair”17.

4.2 O Impacto Social

Em Malta, os refugiados geralmente chegam sem documentação após uma


travessia arriscada no Mediterrâneo, tendo como destino inicial Itália, já que na
perspetiva internacional este era amplamente entendido como o começo para entrar na
Europa.
Encontrando-se desta forma inesperadamente em Malta centenas de pessoas
que não tiveram a sorte do plano correr como era esperado.
Isto tudo juntamente com pessoas provenientes de diferentes países, culturas e
grupos familiares diferentes o que torna a experiência traumatizante, resultando desta
forma em pressão adicional nas autoridades locais que são responsáveis pela gestão
apropriada e humanitária de toda esta gente18.
A chegada destas pessoas não passa despercebida aos olhos dos habitantes de
Malta que faz com que a opinião pública sobre esta temática seja polémica de forma
em que num inquérito recente a cidadãos malteses:
• 63% identificaram a migração como um problema;
• Menos do que um terço dos inquiridos considera a migração destes
refugiados culturalmente enriquecedora;
• 79% dos inquiridos acreditam que os refugiados agravam o problema da
criminalidade19.

15
Rio, Raquel, op. cit.
16
Rio, Raquel, op. cit.
17
Rio, Raquel, op. cit.
18 Ministry for Justice and Home Affairs e Ministry for the Family and Social Solidarity, Irregular

Immigrants, Refugees and Integration Policy Document (on line). Disponível na internet:
<https://www.refworld.org/pdfid/51b197484.pdf> (consultado em 26-12-2021).
19
McAdam, M. & Otto, L. Interests Under Construction: Views on Migration from the European Union’s
Southern External Border (on line). Disponível na internet:
<https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/0032321720966464> (consultado em 30-12-2021).

7
Este fenómeno também tem contribuindo com perturbações para os habitantes
de Malta, no seguinte relato, habitantes da localidade de Marsa, que vivem perto de
um centro aberto intitulado de Marsa Open Centre, demonstram-se insatisfeitos com
as implicações com uma das maiores comunidades de refugiados. Os habitantes
referem discussões, alcoolismo, lutas com facas20.
Um estudo realizado pelo Political Studies Association revelou que para os
locais os refugiados não eram só vistos como ameaça para a cultura e identidade
maltesa, mas também como aproveitadores do sistema de segurança social.
No estudo referido acima temos também os relatos de Eva Magri, uma antiga
gerente de um centro de acolhimento de jovens refugiados que reportou que “Tudo o
que eles querem fazer é dormir muito. Eles não têm interesse na educação, ou no
trabalho”21.
Por outro lado, a opinião pública melhora quando refugiados são vistos a
realizar rubbish jobs, que consiste em trabalhos neste caso que a maioria da população
não quer executar como por exemplo condutores de autocarro, recolha de lixo,
construção civil, entre outros22.

4.3 O Impacto Económico

A chegada de refugiados de certa forma disponibilizou trabalhadores


qualificados que ajudam com o desenvolvimento de novas indústrias, que de outra
forma seriam incapacitadas pela escassez de competências. Com o surgimento de
novos setores surge também uma economia mais diversificada23.
O boom económico e a escassez de mão de obra em conjunto com a
determinação de Malta em não receber nenhum dos milhares de refugiados africanos
que atravessam o Mediterrâneo, com os políticos de Malta a insistirem que não há lugar
para a chegada de mais embarcações, fez com que muitos que Malta recusou fossem

20
Rio, Raquel, op. cit.
21
McAdam, M. & Otto, L. op. cit, p. 9.
22
McAdam, M. & Otto, L. op. cit.
23
Grech, A.G. Understanding the Macroeconomic Impact of Migration in Malta (on line). Disponível na
internet: <https://www.centralbankmalta.org/file.aspx?f=11222> (consultado em 1-1-2022).

8
parar ao sul de Itália onde um número crescente destes requerentes de asilo, estão a
conseguir arranjar maneira de caminhar para a economia informal de Malta24.
O processo para chegar a Malta é constituído por:
• Obter uma autorização temporária para permanecerem em Itália, que faz com que
tenham os mesmos direitos e benefícios que os cidadãos nacionais, como por
exemplo acesso à educação, assistência médica e social, pelo menos enquanto a
autorização for válida, e também permite viajar para vários países europeus sem
restrições, tal e qual como os cidadãos europeus25.
• Teoricamente com essa autorização apenas podem trabalhar em Itália, mas os
mesmos estão a ser atraídos por empregos em Malta sem contratos legais.
Um dos vereditos é de Souleymane, um operário da construção civil que veio
do Togo, um país da África Ocidental situada no Golfo da Guiné que chegou a Itália a
bordo de um dos navios de salvamento que Malta recusou desembarcar.
Após obter uma autorização de permanência de dois anos em Itália, o mesmo
veio para Malta a partir de um ferry em Itália e veio na procura de um trabalho na
economia informal de Malta.
Visto que não existe um controle de fronteiras oficial entre Itália e Malta, não
há números exatos sobre quantos refugiados africanos chegaram a Malta através desta
forma, mas os locais concordam que os números estão a aumentar. Os trabalhadores
sem documentos neste caso encontram-se com poucos ou nenhuns direitos quando as
coisas correm mal e até mesmo explorados26.

24
Murphy, L.T. Migrants Malta Does Not Want Are Powering Its Economy (on line). Disponível na
internet: <https://deeply.thenewhumanitarian.org/refugees/articles/2018/08/06/migrants-malta-does-not-
want-are-powering-its-economy> (consultado em 1-1-2022).
25
United Nations High Commissioner for Refugees, Italy: Italian residence permits, including the carta di
soggiorno (permanent residence card); rights and obligations of holders; whether the holders have access
to Italian citizenship (on line). Disponível na internet: <https://www.refworld.org/docid/50b611d92.html>
(consultado em 3-1-2022).
26
Murphy, L.T. op. cit.

9
CONCLUSÃO

Terminado assim este trabalho, é possível então responder à questão de partida


inicialmente colocada. Desta forma, é possível identificar qual o impacto da presença
dos refugiados para a sociedade de Malta e consequentemente o que provocam de
acordo com o âmbito deste estudo.
O significante medo pelo desconhecido, leva com que a sociedade de Malta
tome as medidas necessárias para proteger o seu território.
A sociedade de Malta entendeu que era um problema a gerir e reforçou na
segurança das suas fronteiras marítimas, mais especificamente no mar do Mediterrâneo
e na sua abordagem para com as Organizações não Governamentais que
sucessivamente com navios efetuavam o salvamento destes refugiados em alto mar e
desembarcavam em território nacional sem prévia autorização, nem logística por parte
das autoridades responsáveis, o que obrigou à elaboração e gestão de regulamentos e
políticas e consequentemente colaboração com outros países do sul da Europa,
especialmente a Itália. Após pesquisas realizadas e inquéritos, socialmente consegue-
se perceber que, os refugiados estavam a ser vistos pela opinião pública como ameaça
à cultura e identidade maltesa e também como aproveitadores do sistema de segurança
social. Por outro lado, a partir do momento que os refugiados começaram a executar
trabalhos e profissões que a maioria dos habitantes nacionais não queria, como por
exemplo condutores de autocarro, recolha de lixo, construção civil, percebe-se que
começaram a ser vistos pela população maltesa com muito menos suspeita.
Além disso, é fato que os refugiados que tanto Malta recusou, encontram
maneira para se infiltrarem na economia informal do país, são como não existissem,
trabalham sem contratos legais, nem direitos, nem proteção, mas são essenciais para o
desenvolvimento económico do país derivado da escassez da mão de obra.
Desta forma conclui-se, após as pesquisas realizadas que é do interesse de
Malta conseguir gerir esta crise visto que os fluxos migratórios deste género
comprometem a estabilidade nacional e colocam desafios ao mercado de trabalho, mas
também perceber que existem impactos positivos e negativos e que a falta de aceitação
parte pelo desconhecimento da situação, motivo e condições pelo qual este grupo de
pessoas, os refugiados são desafiados diariamente e no âmbito da manutenção da União
Europeia, parcerias com países terceiros surgem como uma componente fundamental
na estratégia para lidar com este fluxo, tendo em vigor acordos eficazes.

10
BIBLIOGRAFIA

Amnesty International, Between the Devil and the deep blue sea: Europe fails
refugees and migrants in the central Mediterranean (on line). Disponível na
internet: <https://www.amnesty.org/en/wp-
content/uploads/2021/05/EUR3089062018ENGLISH.pdf> (consultado em 01-
12-2021).

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ilha-dividida-entre-o-dever-de-auxilio-e-os-limites-fisicos-9683312.html>
(consultado em 19-12-2021).

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