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UNIDADE CURRICULAR: Introdução às Ciências Sociais

CÓDIGO: 41036

DOCENTE: Sara Monteiro e Susana Vilas Boas

A preencher pelo estudante

NOME: Alberto Soares de Figueiredo Pereira

N.º DE ESTUDANTE: 2104309

CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais

DATA DE ENTREGA: 26-11-2022

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De acordo com o último relatório “Tendências Globais”, do ACNUR1, até
ao final do ano 2021 existiam em todo o mundo 89,3 milhões de
pessoas deslocadas devido a guerras, perseguições e abusos de
direitos humanos. Já este ano, com a invasão da Ucrânia pela Rússia,
iniciada em fevereiro, este número ultrapassa já os 100 milhões de
deslocados! Segundo o último relatório2 sobre a situação da Ucrânia, o
ACNUR contabiliza já 7,8 milhões de refugiados distribuídos por vários
países da Europa e cerca de 6,5 milhões de deslocadas internamente.

Estas deslocações forçadas apresentam um quadro desafiador para as


sociedades contemporâneas.

Os refugiados, todos eles, adultos e crianças, veem o seu processo de


socialização interrompido, pois a socialização é um processo vitalício.
Todos eles se veem afastados, das famílias, das suas raízes, das suas
redes de suporte e da sua cultura, e por vezes por tempos
intermináveis. Veja-se p. ex. o caso do Afeganistão, onde os sucessivos
conflitos duram há décadas.

De acordo com o mesmo relatório “Tendências Globais” do ACNUR,


41% dos deslocados são crianças (0 aos 17 anos), ou seja, por esta
altura serão mais de 40 milhões de crianças deslocadas!

Em termos sociais, são as crianças que enfrentam a situação de maior


vulnerabilidade, pois esta faixa etária é afetada numa fase muito
importante da sua vida, a socialização primária. A saída do seu país
representa a interrupção e/ou perda, de muitos vínculos com os seus
agentes de socialização, tais como, a família, os amigos, as suas
coletividades (escolas, clubes de desportivos, grupos religiosos e
outros), no fundo desvinculam-se das suas referências, da sua
identidade social.

1
Relatório “Tendências Globais 2021” - Alto Comissariado das Nações Unidas p/ Refugiados
2
Situação da Ucrânia - Flash Update #35 de 18 novembro 2022- ACNUR

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Estas deslocações também podem causar mudanças na sua identidade
individual, no seu papel social, pois há uma alteração no modo como
eles se veem a si próprios, como sujeitos (des)integrados, criando uma
instabilidade na ideia de si mesmos.

Ao chegarem a um novo país, vivenciam muitas dificuldades para se


inserirem num novo contexto social. As barreiras podem ser muitas,
começando pelas questões práticas, a inexistência de estruturas
adequadas para dar apoio logístico (transportes, materiais,
equipamentos didáticos, computadores, …), as barreiras linguísticas, a
falta das suas habituais redes de apoio, amigos e familiares, períodos
prolongados sem aulas, discriminação, alienação e também a própria
motivação. Muitos deslocados estão na esperança de regressar
rapidamente aos seus locais de origem e, como tal, a sua desmotivação
aliada às dificuldades, acaba por dificultar a integração / socialização
nos países de acolhimento.

O conflito que acontece atualmente na Ucrânia, exigiu e exige um


esfoço de vários países, incluindo Portugal, para acomodar e integrar
um grande número de pessoas que requerem refúgio.

A escola e as medidas referidas pelo Ministro da Educação são, sem


dúvida, elementos facilitadores da inclusão social. A escola é um
importante agente de socialização, e é-o ainda mais nestas situações
dos refugiados, pois afeta positivamente vários aspetos muito
importantes do processo de socialização. Primeiro a aprendizagem da
língua do país acolhedor, com todas as vantagens daí resultantes
(facilitadora da comunicação, da integração, etc.), e depois, e não
menos importante, o desenvolvimento competências emocionais,
através das artes e/ou do desporto, de forma a que criem novas
rotinas, novos laços, façam novos amigos e se sintam bem. No fundo,
que reconstruam o seu Processo de Socialização.

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A um nível mais global, temos também o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR), com várias iniciativas em vários
locais do globo, e que recentemente publicou um excelente de trabalho
em favor das crianças deslocadas, o relatório “Todos incluídos: a
campanha pela educação de refugiados“3, cujo principal objetivo é a
promoção do acesso a educação integral e de qualidade para todas as
crianças e jovens refugiados.

“O ACNUR incentiva a inclusão de pessoas refugiadas nos


sistemas nacionais de educação...” (ACNUR, 2022: p.18).

Este documento, para além de fazer o retrato da situação atual da


educação das crianças refugiadas, aponta alguns caminhos para que
se alcance o objetivo proposto.

Em Portugal, para além Alto Comissariado para as Migrações (ACM),


um Instituto Público na dependência direta da Presidência do Conselho
de Ministros, que tem por missão “colaborar na definição, execução e
avaliação das políticas públicas, em matéria de migrações…” (Decreto-
Lei n.º 31/2014), existem também várias ONG’s, que fazem um
trabalho meritório nesta área, como p. ex. o Conselho Português para
os Refugiados (CPR) que para além de todo o apoio que presta aos
refugiados, conta já com quatro espaços de acolhimento, sendo dois
deles dedicados às crianças (“Espaço Criança” e Casa de Acolhimento
para Crianças Refugiadas (CACR).

Apesar destes bons exemplos em prol das crianças refugiadas, há e


haverá sempre mais a fazer, como p. ex., a língua materna das
crianças, é uma questão que escapa muitas vezes às instituições dos
países acolhedores, pois não a valorizam suficientemente, fazendo com
que pareça algo menos importante. Ao fazer isso, está-se de certa
forma a negar a cultura e história dessas crianças.

3
UNHCR Education Report 2022 - All Inclusive The Campaign for Refugee Education

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BIBLIOGRAFIA

Costa, J. (Orador). (2022, 21 de setembro). Educação em Portugal lida com


experiências de trauma de ucranianos.
https://www.youtube.com/watch?v=yKpDM1Blbxs

Magano, O. (2014). Introdução às Ciências Sociais. Lisboa: Universidade


Aberta.

UNHCR, (2022). “Global Trends” Report Forced Displacement in 2021”


https://www.unhcr.org/62a9d1494/global-trends-report-2021

UNHCR, (2022) Ukraine situation: Flash Update #35


https://data.unhcr.org/en/documents/details/96923

UNHCR (2022), Education Report 2022 - All Inclusive The Campaign for
Refugee Education
https://www.unhcr.org/publications/education/631ef5a84/unhcr-education-
report-2022-inclusive-campaign-refugee-education.html)

Decreto-Lei n.º 31/2014, de 27 de fevereiro. Diário da República n.º


41/2014, Série I. Lisboa: Presidência do Conselho de Ministros

Direção Geral de Educação - Crianças e Jovens Refugiados – medidas


educativas https://www.dge.mec.pt/criancas-e-jovens-refugiados-medidas-
educativas

Portal do Conselho Português para os Refugiados (CPR) (https://cpr.pt)

Arnaud, S. (2022). “As crianças merecem um lugar seguro”. Como se faz a


integração de dois alunos ucranianos numa escola em Gaia.
JornalismoPortoNet (JPN). https://www.jpn.up.pt/2022/04/27/as-criancas-
merecem-um-lugar-seguro-como-se-faz-a-integracao-de-dois-alunos-
ucranianos-numa-escola-em-gaia/

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