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INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PROJETO DE MONOGRAFIA

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PROJETO DE MONOGRAFIA

Maria Carolina Rangel Cassella (2110649)

Trabalho da matéria IRI 1630 - Métodos e Técnicas


de Pesquisa em Relações Internacionais para
compor a nota de G1.

Rio de Janeiro

2023

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SUMÁRIO

Problema de Pesquisa……………………………………………………………. 4

Justificativa………………………………………………………………………. 6

Embasamento Teórico…………………………………………………………….8

Metodologia………………………………………………………………………14

Cronograma da Pesquisa…………………………………………………………19

Referências Bibliográficas………………………………………………………..20

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Problema de Pesquisa

A década de 1960 foi marcada por profundas transformações sociais e pela


politização de diversos debates, entre eles, o debate acerca do Meio Ambiente. Novos
paradigmas foram traçados de modo a alertar e conscientizar a sociedade sobre a
esgotabilidade dos recursos naturais, assim como sobre os efeitos da ação humana e do
sistema capitalista para com a natureza. A sociedade civil e os movimentos organizados
pressionaram internamente seus governos por medidas ambientalistas e ecológicas, que não
comprometesse a qualidade de vida das futuras gerações. Essas políticas ambientais, no
entanto, se restringiam ao ambiente doméstico, com decisões tomadas unilateralmente ou - no
máximo - bilateralmente.
Seria somente na década de 1970, mais especificamente no ano de 1972, que
seriam realizados os primeiros passos para a construção de uma agenda ambiental global. Em
pleno cenário de Guerra Fria, 113 países se reuniram na Conferência de Estocolmo para
discutir questões ambientais e seus impactos políticos, sociais e econômicos para as nações
do globo. Mesmo que os debates ainda fossem muito pautados na lógica do desenvolvimento
econômico e no quanto um país poderia “crescer” e se industrializar, a Conferência de
Estocolmo representa um primeiro passo para a consolidação da agenda ambiental pautada no
multilateralismo1. Em conjunto, países passaram a elaborar alternativas de cooperação neste
campo para as próximas décadas, buscando equilibrar seus interesses e, ao mesmo tempo,
consolidar uma posição de prestígio no cenário internacional.
Sob essa ótica, um grupo de países se apresentava de maneira mais engajada em
termos financeiros, na adoção e na promoção de políticas ambientais: Noruega, Suécia e
Dinamarca. Nesta época, a Suécia recebeu em sua capital a primeira Conferência Ambiental
do mundo, Noruega e Dinamarca criavam seus respectivos Ministérios do Meio Ambiente, o
relatório “Our Common Future” - que lançou o debate acerca do “desenvolvimento
sustentável” - foi coordenado pela Primeira-Ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland
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O sentido de multilateralismo adotado neste trabalho é o de John Ruggie em “Multilateralism: the anatomy of
an institution”. O multilateralismo então, vai além da coordenação de políticas nacionais em um grupo de três ou
mais Estados, de modo que o paradigma multilateral deva ser analisado não apenas em uma dimensão
quantitativa, mas também qualitativa. Nesse sentido, o multilateralismo é uma forma institucional que coordena
as relações com base em princípios “generalizados” de conduta, os quais carregam uma lógica de
indivisibilidade entre os membros da coletividade em relação à gama de comportamentos (RUGGIE, 1992, p.
571). O problema ambiental pode ser caracterizado como indivisível, já que é tratado como um “todo” e exige
uma certa conduta de comportamento pelas partes para a sua solução.

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(INGEBRITSEN, 2002, p. 14). Paralelamente, no cenário interno, enquanto se
industrializavam, os governos já aplicavam políticas de uso da terra que reduziram os efeitos
da industrialização para as suas sociedades, espalhando uma espécie de “consciência verde” e
preocupações ambientais na população. Todas essas medidas teriam sido adotadas pelos
Estados escandinavos intervencionistas, em conjunto com um modelo de bem-estar social
considerado bem-sucedido.
Desse modo, é comum que esses países se apresentem como empreendedores da
norma de desenvolvimento sustentável e, consequentemente, como institucionalistas
ecológicos - em suma, isto é, como introdutores da ecologia em mecanismos políticos
domésticos e globais de tomada de decisão (INGEBRITSEN, 2012). Eles acreditam terem
criado as bases e terem exercido um papel de liderança essencial para a organização de um
regime global ambiental que está em voga até os dias atuais e, portanto, exerceriam certa
dominação diante dos compromissos e regras que devem ser adotados. Desse modo, a
Escandinávia, especialmente, Noruega, Suécia e Dinamarca, se consideram em uma posição
supostamente hegemônica2 e superior no que tange ao exercício de políticas ambientais
globais.
A maneira como esses países se apresentam está extremamente presente em seus
discursos e ações políticas ambientais do século XXI, sendo um aspecto constitutivo de suas
próprias identidades. Como as identidades são formadas intersubjetivamente nos processos
sociais de interação, esses estados colocam esforços em suas ações na busca por
reconhecimento e status, uma vez que esse papel só pode ser identificado se seguirem a
estrutura social e as regras apropriadas de comportamento desta agenda (MURRAY, 2019, p.
42). Esse reconhecimento constitui a identidade e, se bem-sucedido, dá ao Estado uma
posição de status, que lhe confere autoridade na relação com outros (MURRAY, 2019, p. 45).
Consequentemente, Noruega, Suécia e Dinamarca, distantes das possibilidades de serem
consideradas hegemônicas nos termos realistas clássicos - como poder militar, econômico e
populacional no sistema internacional - buscam construir uma reputação mundial de parceiros
de negociação fiáveis e eficazes, cultivadas em suas relações diplomáticas (INGEBRITSEN,
2012). Reputação essa, que é transferida, sobretudo, na política climática, enxergando uma

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O termo hegemônico se refere à definição de hegemonia de Nicholas Onuf, em “Constructivism: a user’s
manual”, em que a hegemonia é tratada como um ato de fala que constrói a realidade social, destacando que
esses atos possuem uma dimensão normativa e que geram dominação dentro de instituições (ONUF, 2015). Esse
processo será explicado de maneira minuciosa posteriormente na seção de Embasamento Teórico.

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possibilidade de grande influência e dominação em princípios. Não por acaso, nos últimos
anos, esses países têm empreendido grandes investimentos em aspectos ambientais, seja em
organizações internacionais e pesquisas em desenvolvimento, seja em iniciativas específicas
nacionais de países “em desenvolvimento”/ “subdesenvolvidos” para reforçarem seus
próprios discursos e os padrões de comportamento e compromissos que devem ser adotados
nesta área temática.
Logo, considerando que, quantitativamente, Noruega, Suécia e Dinamarca
operam acima da média de contribuição de outros países com questões ambientais, é possível
questionar as verdadeiras motivações para tais ações e discursos, que vão além de um
altruísmo para lidar com as crises ambientais do século XXI. Por fim, considerando a
intensificação do debate ambiental e as modificações dessas políticas a partir de 2010, esta
pesquisa busca responder a seguinte pergunta: Como a dinâmica geopolítica de busca por
status influencia na apresentação de um institucionalismo ecológico e no exercício de
políticas de assistência ambiental da Noruega, da Suécia e da Dinamarca?

Justificativa

De modo geral, a relevância deste trabalho vai de encontro com a intensificação e


a urgência do debate ambiental no século XXI, sobretudo a partir da década de 2010. A partir
desse período, o número de mecanismos que foram criados e seus respectivos planos de
implementação aumentaram expressivamente. Tal fator pode ser lido como a necessidade
imediata de reverter o atual cenário de mudanças climáticas, o qual vem ocasionando um
número considerável de catástrofes e, consequentemente, acarretando em questões de ordem
humanitária, social, econômica e de infra-estrutura. Desse modo, a importância dessa
pesquisa é convergente com o destaque que a agenda ambiental vem ganhando na tentativa de
evitar o “ponto de não retorno” e um momento em que o bem-estar e a vida humana torna-se
ameaçado.
Dito isso, em primeiro lugar, é importante observar quais são os países mais
atuantes e quais tipos de políticas públicas globais estão sendo difundidas por eles para
controlar os desafios que se impõe no atual cenário. Noruega, Suécia e Dinamarca - ao se
apresentarem como “institucionalistas ecológicos” - atraem certa atenção para as suas ações
nesta agenda. Assim, essa pesquisa visa monitorar a agência desses atores, observando se

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seus discursos e suas maiores tendências de engajamento com políticas externas multilaterais
de meio ambiente apresentam padrões de coerência e/ou contradição. Dessa maneira, analisar
as ações de posições de relevância dentro de uma área temática - neste caso, a ambiental -
pode informar como a policy implementada por esses países foi interpretada e reproduzida
por outros atores relevantes, além de julgar o impacto na condução desses desafios para as
nações com posições menos privilegiadas e, portanto, mais suscetíveis aos desastres
ambientais.
Uma forma de observar tais fatos é o desempenho ambiental da Noruega, da
Suécia e da Dinamarca por meio do “Environmental Performance Index” 3, um relatório que
mostra que esses países ocuparam, nos últimos anos, as primeiras posições em níveis de
performance em sustentabilidade, se destacando para além do continente europeu. Além
disso, pode-se observar iniciativas brasileiras como o Fundo Amazônia, em que a Noruega é o
seu maior doador - representando uma quantia de aproximadamente de 3 bilhões de reais.
Paralelamente, no ano de 2023, a Dinamarca anunciou uma doação de 110 milhões de reais
também para o financiamento de projetos e iniciativas de redução do desmatamento e
promoção do desenvolvimento sustentável no âmbito do Fundo, valor que representa mais do
que as contribuições da terceira maior doadora: a Petrobras. A Suécia, por sua vez, apesar de
não ser uma doadora oficial do fundo, se posiciona em relação a essas temáticas. No ano de
2019, o país abriu uma investigação acerca do seu investimento de seus fundos de pensão
públicos no Brasil por causa dos incêndios na Amazônia para observar se esses fundos
atendem aos princípios de sustentabilidade necessários para operarem na região.
Por fim, este trabalho mostra-se relevante ao contribuir para os estudos sobre
status dentro da temática ambiental, junção essa pouco explorada no campo das relações
internacionais. Nesse viés, deve ser considerado que Noruega, Suécia e Dinamarca,
historicamente, ocupam uma posição de prestígio ambiental sob seus próprios olhares,
mesmo modificando algumas de suas políticas ao longo dos anos. Considerando as mudanças
geopolíticas e, por conseguinte, a dificuldade cada vez maior de se chegar a consensos quanto
às medidas que devem ser adotadas para “salvar o planeta”, é possível se questionar se os

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O “Environmental Performance Index” é um índice indica quais países estão lidando melhor com os desafios
ambientais que todas as nações enfrentam, indo além de pontuações quantitativas e aprofundando-se nos dados
para analisar o desempenho por categoria de problema, objetivo de política, grupo de países e valores para
formuladores de políticas. A visão promovida por esse relatório, lançado anualmente, traz uma perspectiva
comparativa que pode auxiliar a compreender os determinantes do progresso ambiental e a refinar as escolhas
políticas para esta área temática.

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discursos reproduzidos e as práticas adotadas trazem permissões vantajosas e se, de fato, a
qualidade das iniciativas empreendidas corresponde ao escopo quantitativo financeiro
destinado à elas. Portanto, partindo do princípio de que essas ações envolvem uma busca por
status e reconhecimento, uma das questões passíveis de análise é a possibilidade dessa
posição de autoridade ser mantida e reafirmada por outros países e órgãos multilaterais a
longo prazo no sistema internacional.

Embasamento Teórico

É importante destacar que as vertentes teóricas que serão utilizadas neste


trabalho, em sua maioria, não se limitam a um olhar ou um simples plano de fundo para a
pesquisa, mas são - em si mesmas - uma demonstração interpretativa das causas de
apresentação dos países escandinavos como “institucionalistas ecológicos”. Nesse viés, o
foco aqui utilizado envolve três questões principais que circulam na relação entre identidade,
instituições (normas) e status.
Primeiramente, para compreender o embasamento teórico que será utilizado na
presente pesquisa, é preciso esclarecer o que, de fato, significa o institucionalismo ecológico.
Como citado anteriormente - de maneira breve -, isto é um novo conceito na implementação
de políticas domésticas e internacionais que dizem respeito à inclusão da ecologia no
processo de tomada de decisão (INGEBRITSEN, 2012, p. 89). Ele conecta a política com a
natureza e coloca a ecologia como elemento central para os interesses e para a identidade dos
atores da região da Escandinávia - especialmente Noruega, Suécia e Dinamarca. Desse modo,
esses países se consideram líderes de uma adaptação institucional e normativa climática na
comunidade global, como operadores do “greening of the capitalism” e promotores de uma
governança ecológica e sustentável por meio de suas políticas externas e do estabelecimento
de agendas (INGEBRITSEN, 2012). Seria possível dizer, portanto, que esses países buscam
exercer uma influência no aparato institucional ambiental vigente, exercendo uma espécie de
poder “hegemônico” relacionado aos seus parâmetros ecológicos.
No entanto, é importante frisar o que significa o termo “hegemonia”, no caso
estudado. Diferentemente das noções tradicionais atribuídas pela Teoria Realista de Waltz ou
até mesmo pelos Teorias da Estabilidade Hegemônica, as noções de “hegemonia” neste
trabalho não estão relacionadas a um poder militar, econômico e populacional

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consideravelmente superior em comparação com as demais potências do sistema
internacional (unipolaridade). A ideia defendida também não está atrelada na crença da
necessidade de existência de um ator no sistema internacional que tenha capacidades e,
consequentemente, a responsabilidade de garantir a estabilidade do sistema, arcando com os
cursos de sua manutenção, que seria proporcionada a todas as nações do sistema
internacional.
De modo distinto, o presente trabalho traz a noção de “hegemonia” como uma
forma de dominação, em uma vertente construtivista apresentada por Nicholas Onuf,
abordando um mundo em que a linguagem exerce um papel importante para a formação dessa
realidade social. Nesse sentido, é importante compreender o que são regras, na concepção do
autor mencionado. Segundo Onuf, regras são padrões de comportamento estabelecidos, uma
série de delimitações e modelos de instruções que os atores do sistema internacional devem
seguir, dentro de um ambiente de interação. Em geral, essas regras ditam quem são os atores
que têm participação mais ativamente na sociedade e também quem são os atores que
possuem maior legitimidade em determinadas situações (ONUF, 2015, p. 61). Sob essa ótica,
os atores que formulam essas regras têm a capacidade de criar regimes e instituições,
assegurando sua posição privilegiada por meio deles, ao invés de governar diretamente
(ONUF, 1989, p. 220). Dentro desse aparato institucional criado, os demais atores do sistema
se constituem por meio de práticas e se conduzem racionalmente, ou seja, podem decidir
seguir as regras instituídas ou quebrá-las (ONUF, 2015).
No entanto, quebrar as regras pode trazer graves consequências, uma vez que
onde há regras (e instituições), existe uma relação assimétrica em que determinados agentes
(em geral, “rulers”), usam dessas regras e dos regimes para exercer controle e obter vantagens
diante de outros agentes (ONUF, 2015, p. 63), de modo implícito. Esse controle é exercido
conscientemente e por meio de atos de fala, de modo que é possível inferir que, para Onuf,
são os atos de fala que constituem a dominação, que pode se dar por meio da hegemonia, da
hierarquia e da heteronomia. Diante disso, é possível estabelecer a existência de três tipos de
atos de fala: os assertivos, os diretivos e os comissivos/compromissais (ONUF, 2015, p. 66).
Todos esses têm em comum a sua dimensão normativa, em que buscam instruir, dirigir e
comprometer os agentes (ONUF, 2015, p. 68). Especificamente, esses modos de discurso
também possuem suas diferenças, em termos de função.

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As regras na forma de atos de fala assertivos informam os agentes sobre o mundo
e informam as consequências de desconsiderar essas informações. Quando as informações
são muito gerais, elas se tornam princípios; quando declaradas em termos específicos, elas
têm caráter de instrução, orientando os atores para o que devem fazer e sua relação com o
mundo (ONUF, 2015, p. 67). Entre os exemplos de princípios de atos assertivos tem-se
“soberania”, termo utilizado por muitos países nas relações internacionais para justificar uma
série de seus atos e aproximá-los uns dos outros. Esse princípio representa uma regra
altamente formal e que constitui a sociedade dos Estados (ONUF, 2015, p. 69). Os atos de
fala assertivos produzem uma dominação hegemônica, isto é, uma promulgação e
manipulação de princípios e instruções por meio dos quais os atores monopolizam o
significado, o qual é passivamente absorvido pelos atores subordinados. Esse arranjo seria
estável porque os dominados não compreendem o seu papel, uma vez que o significado das
regras está monopolizado e imposto pelo ator hegemônico (ONUF, 1989, p. 210).
Quanto aos atos de fala diretivos, esses são reconhecíveis como imperativos,
sendo enfaticamente normativos, uma vez que não deixam dúvidas quanto ao que os agentes
devem fazer, fornecendo informações, principalmente, sobre as consequências de sua
inobservância. Essas informações ajudam os agentes racionais a fazerem escolhas, sobretudo
se devem ou não seguir as regras que lhes foram impostas (ONUF, 2015, p. 67). Os atos
diretivos estão relacionados à dominação por hierarquia, em que as regras estão diretamente
identificadas e organizadas como um tipo de burocracia (ONUF, 1989, p. 211)., como um
sistema jurídico e formal de normas internacionais.
Por fim, os atos de fala comissivos envolvem promessas que os os oradores fazem
e os ouvintes aceitam e, quando essas viram suficientemente generalizadas e normativas em
seus próprios termos, elas se tornam regras de compromisso (“commitment-rules”). Dessa
maneira, é mais provável que os atores reconheçam os seus efeitos, que exemplificam quais
são os direitos e os deveres de outros agentes (ONUF, 2015, p. 67 e 68). Esse tipo de ato de
fala está associado à uma dominação heterônoma, ou seja, a uma condição de não ter
autonomia, em uma situação real em que os indivíduos que relacionam os meios disponíveis a
determinados fins não têm consciência de sua própria realidade, que é ofuscada (ONUF,
1989, p. 213). Portanto, a heteronomia encobre a distância entre a suposta autonomia dos
atores e a subordinação que organiza o sistema, sendo um padrão de “descentralização da
regra” e que esconde assimetrias (ONUF, 1989, p. 208)

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Uma vez que essas regras são estabelecidas e, consequentemente, seguidas, os
atores formuladores - e que exercem dominação - possuem maiores facilidades no momento
de alcançarem os seus objetivos desejados (ONUF, 2015, p. 61). Isso acontece porque, ao
mesmo tempo em que eles formulam essas regras, essas regras os fazem quem são, trazendo
uma espécie de reconhecimento e fortalecendo suas próprias identidades. Ao reconhecerem
suas próprias identidades, é comum que exista um desejo em preservá-las: por meio de
práticas, discursos, materialidade e dentro do próprio ambiente de interação entre os países,
no qual falar é, sem dúvidas, a maneira mais importante de fazer o mundo ser o que ele é
(ONUF, 2015, p. 59).
É o caso de Noruega, Suécia e Dinamarca: três nações que proferem discursos em
que se reconhecem como fundadoras de uma agenda e de um regime ambiental e, portanto,
seriam os agentes mais ativos nessa agenda e também aqueles que possuem maior
legitimidade. Com altas contribuições financeiras voltadas para as causas ambientais em
comparação aos outros países, os escandinavos conseguiriam - indiretamente - guiar as ações
de outras nações no âmbito do meio ambiente, estabelecendo regras e criando uma relação de
assimetria em que os outros atores se submetem aos seus parâmetros institucionais.
Parâmetros esses de “institucionalismo ecológico”, que prezam pela ecologia como
centralidade do processo de tomada de decisões de política externa e também doméstica.
Desse modo, os países escandinavos - agrupados em um por práticas discursivas -
exercem dominação por meio de atos de fala, constituindo uma hegemonia em um processo
de “ruling” que fortalece suas identidades, sua posição no sistema internacional e também
fazem as demais unidades aceitarem suas ideias, princípios e suas crenças em prol de uma
governança. Dentro de uma dinâmica geopolítica, seus objetivos são facilitados por essa
governança que preserva sua identidade e os auxilia, sobretudo, na manutenção de um status
buscado no sistema internacional.
Dando prosseguimento, é preciso reforçar que, neste trabalho, a busca por status
não é apenas um aparato teórico utilizado como meio de interpretação de outras variáveis,
mas uma das razões identificadas pelas quais Noruega, Suécia e Dinamarca agem na
normatividade descrita anteriormente dentro de uma dinâmica geopolítica, sobretudo
ambiental. Nesse viés, o status pode ser observado como um dos objetivos geopolíticos desses
Estados, como uma maneira de se destacarem e serem reconhecidos no sistema internacional.
A concepção de status aqui utilizada é oriunda do trabalho “The struggle for recognition in

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international relations”, de Michelle Murray, em que a autora estabelece uma relação direta
entre identidade e o reconhecimento, também sob uma lógica construtivista.
É importante observar que, de acordo com Murray, uma identidade é um “atributo
dos atores internacionais que gera disposições motivacionais e comportamentais” e, para os
Estados é formada a partir da complexa interação de fatores internos e externos (MURRAY,
2019, 40). Nesse viés, esses fatores mostram-se extremamente relevantes para o entendimento
da constituição identitária das nações do sistema internacional.
Quanto aos elementos internos da identidade dos Estados, o mais básico seria a
sua auto-compreensão, gerada por discursos internos e experiências históricas que
representam a concepção do próprio Estado sobre quem ou o que é. Neste caso, existiriam
“narrativas biográficas” que fornecem a base para a autoimagem do Estado, organizando suas
experiências passadas e ambições futuras em uma história coerente que se desenrola ao longo
do tempo (MURRAY, 2019, p. 41). Essa teoria pode ser aplicada ao estudo dos países
escandinavos - especialmente Noruega, Suécia e Dinamarca -, haja vista que utilizam-se de
fatos históricos da construção e da evolução da agenda ambiental mundial para constituírem
as suas próprias identidades, criando uma espécie de discurso escandinavo conjunto e que cria
um imaginário dos países em bloco. Experiências históricas como a Conferência de
Estocolmo de 1972 (primeira grande reunião sobre meio ambiente organizada pelas Nações
Unidas), o relatório “Our Common Future” (o primeiro a falar sobre o conceito de
desenvolvimento sustentável, formulado pela primeira-ministra norueguesa Gro Harlem
Brundtland) e o Acordo de Copenhague de 2009 (no qual países desenvolvidos assumiram o
compromisso de contribuir financeiramente para a mitigação e adaptação dos países mais
vulneráveis frente aos efeitos das mudanças climáticas) são sempre relembradas por esses,
colocando-os nos pilares da agenda climática mundial. Além disso, esses países são
conhecidos por suas cidades altamente sustentáveis, com diversos prêmios internacionais e
pelos seus sistemas de bem-estar social, que também envolvem uma relação positiva dos seus
cidadãos com a natureza. Todos esses aspectos, combinados, foram incorporados a um
discurso de formulado internamente e que gera associação desse grupo de países a uma
política - interna e externa - e um ambiente que preza pela sustentabilidade e pela
preservação do meio ambiente.
Entretanto, no campo da interação, as auto-compreensões são de extrema
importância para moldar as representações que um Estado faz quando interage com outros

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Estados, e para entender como essas representações os posicionam face a outros atores no
sistema (MURRAY, 2019, p. 41). Sob essa ótica, é importante relembrar que a formação da
identidade não é apenas um processo interno, mas que depende também de fatores externos.
Segundo Michelle Murray, as identidades dos Estados são formadas de maneira
intersubjetiva, ou seja, não podem ser formadas de maneira isolada, mas dependem do
reconhecimento de outros Estados (MURRAY, 2019, p. 30). Isso significa que esse processo
acontece em um ambiente de interação social, o que é inerentemente arriscado, haja vista que
não se pode ter certeza das concepções que os outros atores construíram uns dos outros. As
identidades são inerentemente sociais e, consequentemente, os Estados só podem estabelecer
as suas identidades identificando suas posições específicas dentro da estrutura social
(MURRAY, 2019, p. 42). Nesse sentido, cabe aos Estados manterem suas identidades
estáveis, o que é feito a partir da sustentação de suas autocompreensões na prática e que
requer também o reconhecimento dos demais atores (MURRAY, 2019).
Para Noruega, Suécia e Dinamarca, o discurso interno formulado com base nas
experiências históricas anteriores é exportado para a política externa para que possam exercer
uma governança normativa na área temática ambiental. Esse discurso, uma vez exportado,
sustenta as suas próprias auto-compreensões no cenário internacional, permitindo que normas
sejam seguidas e que eles se apresentem como líderes de um aparato institucional,
construindo relações assimétricas com os demais países. Dessa maneira, o reconhecimento - e
consequentemente o status - se tornam mais viáveis e, além de um objetivo futuro de longo
prazo, os ajudam a manter determinadas práticas na atualidade. Dito isso, quando a
autocompreensão de um Estado corresponde a uma posição existente na estrutura social e
reconhecida pela comunidade internacional, essa autocompreensão passa a constituir a
identidade do Estado (MURRAY, 2019, p. 44).
Seguindo essa linha de raciocínio, um ato de reconhecimento pode não só ser
construtivo da identidade do Estado, trazendo à existência algo que não existia antes, mas
também a produz ativamente para o Estado, de modo que as identidades não possam ser
consideradas fenômenos pré-políticos por si só, mas efeitos sedimentados da dinâmica de
reconhecimento oriunda da interação estatal (MURRAY, 2019, p. 45). Se o ato de
reconhecimento for bem sucedido, este confere ao Estado um status social, isto é, uma
identidade reconhecida positivamente e não apenas a aceitação de suas características ou
capacidades. O Estado pode produzir de acordo com o reconhecimento e o status que lhe foi

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atribuído e não ao contrário, como forma de estabelecer uma manutenção do senso contínuo
de si próprio ao longo do tempo e desenvolver relações entre meios e fins (MURRAY, 2019,
p. 39).
Desse modo, os países escandinavos operam em uma lógica que envolve
identidade, status, reconhecimento e um aparato normativo-institucional, que reúne suas
experiências passadas, com a imagem que desejam transmitir no presente, além de seus
objetivos futuros. Essa construção legitima suas práticas, mesmo que essas - em alguns casos
- não sejam coerentes com o próprio discurso que prezam. Portanto, esse trabalho pretende
analisar a construção discursiva de Noruega, Suécia e Dinamarca - como um conjunto de
países - no ambiente de interação internacional relacionado ao meio ambiente e observar os
propósitos de seus atos de fala, considerando que essa linguagem mobilizada está inserida
dentro da dinâmica geopolítica. Ademais, verificar a consistência dos discursos internos e
externos, assim como as práticas, também mostram-se como um objetivo da pesquisa, na
tentativa de demonstrar que atores - por mais que tenham uma identidade construída e
consolidada - não sempre “unos” ou coesos, existindo diferenças - principalmente internas -
entre os que os constituem. Para isso, serão analisadas declarações e iniciativas - materiais ou
simbólicas - desses três países, sob uma lógica interpretativa das teorias apresentadas acima
neste trabalho.

Metodologia

Considerando a pergunta de pesquisa, sua justificativa e - sobretudo - o


embasamento teórico apresentado anteriormente, cabe entendermos o objetivo geral deste
trabalho e como ele será desenvolvido, além das pretensões diante da escolha metodológica
que será abordada a seguir. O presente estudo busca entender como operam os países
escandinavos em suas práticas ambientais externas, os seus meios de exercício de dominação
dentro dessa área temática e o status advindo dos discursos e das ações. Desse modo, a
metodologia deste trabalho visa combinar, dentro de um marco temporal, as dinâmicas de
atos de fala e linguagem explicadas por Nicholas Onuf, em documentos conjuntos de
Noruega, Suécia e Dinamarca acerca de desafios ambientais e a relação entre as iniciativas
que foram tomadas por esses países no cenário internacional em temas como
desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, adaptação, mitigação e investimento.

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De início, é importante destacar que as ações e os discursos políticos de Estados
não são contínuos e estáveis ao longo do tempo, de modo que sofram alterações para se
adaptarem aos seus interesses e objetivos presentes e futuros. Dessa maneira, é de extrema
relevância que a pesquisa opte por um recorte temporal que seja factível e possível de
formular conclusões sobre os aspectos que tem como objetivo serem observados. Neste caso,
o marco temporal da pesquisa se dará a partir do ano de 2009 e se estende até o período atual,
apesar de algumas modificações no cenário internacional como a pandemia mundial de
covid-19 e conflitos inter-estatais que alteraram os rumos da política mundial por
determinado período tempo.
Tal período de tempo se justifica, primeiramente, pela intensificação do debate
climático, popularizado como uma urgência e difundido pelo crescimento dos fluxos
informativos às vésperas de 2010. A partir desse momento, muitos países passaram a se
destacar na implementação de práticas internas e externas relacionadas ao Meio Ambiente,
com o aumento dos fluxos financeiros destinados a esse escopo e também houve a
consolidação de alguns agentes como verdadeiramente ativos neste campo, sendo o caso dos
países escandinavos. Em 2009, a Conferência das Partes das Nações Unidas - órgão supremo
da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima - ocorreu em Copenhague, na Dinamarca.
Na ocasião, a COP contou com uma de suas maiores participações: cerca de 155 líderes
mundiais e mais de 40 mil pessoas. Negociações de espectro importante, como o Acordo de
Copenhague, levantaram compromissos aos países desenvolvidos de contribuírem
financeiramente para adaptação e mitigação em países mais vulneráveis, reconhecendo
também a importância de reduzir emissões provocadas pelo desmatamento e degradação de
florestas. Tais efeitos - e muitos outros - inauguraram uma visão de excepcionalismo dos
países escandinavos acerca de suas políticas ambientais no mundo contemporâneo.
Além disso, a partir de 2009, foram consolidadas importantes iniciativas globais
acerca do Meio Ambiente, entre elas, o Fundo Amazônia. Sua operação se iniciou em 2009
com a finalidade de captar e aplicar recursos não reembolsáveis em “ações de prevenção,
monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e uso sustentável
da Amazônia Legal” (BNDES, 2023). Neste sentido, o Fundo aceita doações de países
desenvolvidos e é monitorado nacionalmente pelo BNDES, apesar de ser uma iniciativa que
atrai atenção de diversos países pela importância da região amazônica para o funcionamento
dos sistemas climáticos e ambientais do mundo. Atualmente, após 15 anos de existência do

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Fundo, este foi foco de diversos debates que incluem os países escandinavos, sobretudo,
Noruega (responsável por mais de 90% do financiamento do Fundo) e Dinamarca, que
anunciou em 2023 uma doação de mais de 100 milhões de reais. Com as polêmicas acerca da
exploração de petróleo e desmatamento na Amazônia, a Suécia ameaçou retirar investimentos
de fundo de pensão do Brasil, uma vez que estes não estariam atendendo aos critérios de
sustentabilidade exigidos pela legislação nacional sueca.
Fica evidente, portanto, que o período apresentado é extremamente relevante para
o ponto de vista da discussão de status, participação institucional e a dominação que os países
escandinavos exercem nas iniciativas ambientais do século XXI, podendo analisar se o
“Institucionalismo Ecológico” mobilizado em seus documentos têm caráter normativo e se
eles ajudam na conquista de seus objetivos, haja vista que são incorporados na própria
identidade de Noruega, Suécia e Dinamarca.
Diante disso, a opção desta pesquisa foi de analisar os documentos do Nordic
Council (Conselho Nórdico), um dos principais aparatos institucionais com foco na
cooperação e na integração dessa região. Tal escolha se justificar pelo fato do Conselho
representar uma visão conjunta - nórdica, escandinava - desses países acerca de como deve
ser tratada a agenda ambiental no século XXI, sendo este um local em que países como
Noruega, Suécia e Dinamarca representam um certo protagonismo e que há uma deliberação
acerca do institucionalismo ecológico. Documentos de instituições internacionais como a
OCDE, ou até mesmo a União Europeia não trazem ao trabalho o teor interpretativo que essa
região tem em particular, mas sim uma visão mais genérica do cenário mundial ou europeu,
os quais não são o foco da pesquisa. Além disso, é possível observar a disponibilidade dos
documentos presentes para uma análise no período proposto por este trabalho, de modo que
estes auxiliem no entendimento de metas e objetivos dos países escandinavos com base em
suas próprias interpretações de sua história e também como pretendem manejar esta agenda
de Meio Ambiente nas próximas décadas, que serão cruciais para as mudanças climáticas.
Dentro da estrutura do Nordic Council, há um Conselho Ministerial Nórdico do
Meio Ambiente e do Clima, que envolve os ministros de todos os países da região nórdica,
formulando documentos e aprovando iniciativas em comum. Entre os seus mais relevantes,
destaca-se a “The Oslo Declaration on Nordic Climate Leadershsip”, formulada em 2017.
Este documento reafirma o excepcionalismo na formulação de suas políticas, reconhece a
experiência histórica e positiva desses países em relação aos desafios climáticos e na inovação

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e reafirma os seus compromissos no financiamento de iniciativas em países subdesenvolvidos.
Ademais, o Plano de Ação 2021-2024 visa tornar a região nórdica a mais sustentável do
mundo, considerando os seus anos de experiência e a tradição em termos de cooperação entre
os países escandinavos. No entanto, as linguagens utilizadas nestas declarações apresentam
suas particularidades: verbos, adjetivos, termos repetitivos, que são passíveis de análise. Essa
análise não se dará apenas por meios quantitativos, observando quantas vezes cada termo
aparece e buscando determinada relevância e justificativa para tal, mas será feita de modo
minucioso, observando nuances como tempos verbais, modos verbais, se os adjetivos
referem-se à ações passadas, futuras ou presentes e se os termos estão relacionados a esses
verbos. Desse modo, será possível observar - por meio da linguagem - a dimensão normativa
que carrega a fala, assim como o que ela revela em termos de ação, o que possibilitará
entender qual tipo de dominação está sendo exercido por Noruega, Suécia e Dinamarca, seja
por práticas discursivas, seja pelas iniciativas anteriormente mencionadas.
Dando prosseguimento, cabe ressaltar que a dinâmica construtivista linguística de
Onuf mostra-se pertinente e compatível para as análises dos documentos mencionados, visto
que, ao observar ações, os verbos, os adjetivos e os termos mencionados anteriormente, assim
como suas variações, podem mostrar o caráter normativo e as possíveis ações desses países,
considerando um sistema em que “falar é fazer”. Dessa forma, será possível ver que tipo de
ato de fala é dominante nos discursos dos países escandinavos: assertivos, diretivos ou
compromissais (ONUF, 2015). Consequentemente, o tipo de relação assimétrica -
heterônoma, hegemônica ou hierárquica - que Noruega, Suécia e Dinamarca possuem com os
demais países do sistema internacional também poderá ser observado, já que, com a dinâmica
linguística mobilizada, os passos feitos no passado e no presente pelos escandinavos poderão
ser, pelo menos, entendidos, senão justificados.
Nesse sentido, a estratégica metodológica que se mostra pertinente e será
utilizada é a Análise de Conteúdo, apresentando caminhos relevantes para o prosseguimento
deste trabalho. Sob essa ótica, a Análise de Conteúdo é uma técnica que envolve um conjunto
de procedimentos para fazer inferências a partir do texto, sendo capaz de lançar luz sobre as
formas como os estados manipulam símbolos e investem na comunicação como significado
(HERMANN-, 2008, p. 151). A análise de conteúdo envolve procedimentos especializados,
sendo uma técnica de investigação, que fornece novos insights e aumenta a compreensão do
investigador sobre fenômenos específicos ou informa ações práticas (KRIPPENDORFF,

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2019, p. 24). Os seus resultados devem ser replicáveis, isto é, o pesquisador deve ter os
mesmos resultados quando aplicam a mesma técnica aos fenômenos, mesmo em
circunstâncias e momentos diferentes (KRIPPENDORFF, 2019, p. 24). Para isso, oito passos
devem ser utilizados ao fazer uma análise de conteúdo: considerar a pergunta de pesquisa,
determinar a unidade de análise e codificá-la, contextualizar a informação, determinar a
confiabilidade dos resultados e verificar a validade do que foi analisado (HERMANN, 2008,
p. 151). Desse modo, essa análise pode ser tratada tanto em termos quantitativos, quanto em
termos qualitativos. Em relação ao que é quantitativo, a frequência em que determinadas
características aparecem no conteúdo do texto, indicando o compromisso que aquela palavra
específica pode gerar em todo movimento. Em termos qualitativos, pode-se observar o
significado de algum termo para além do texto, observando a implicação dele na sociedade
internacional: ele gera algum tipo de dominação? ele reforça a posição de determinados
Estados?, são perguntas que podem ser feitas ao longo da análise.
Ainda, é válido observar o papel da semântica para o desenvolvimento do
método, uma vez que ele envolve duas fronteiras: a linguística tradicional e a hermenêutica,
que se refere ao sentido das palavras (CAMPOS, 2004, p. 612). O da linguística tradicional
diz respeito ao que a palavra significa em diferentes línguas, de modo que o significado da
palavra deve ser preservado ao realizar uma tradução documental, por exemplo. Quanto à
hermenêutica, a mesma palavra pode ter significados diferentes dependendo do contexto
cultural e histórico que está sendo analisado. Neste sentido, o marco temporal mostra-se
aplicável para entender aspectos dessa realidade.
Por fim, é importante justificar os motivos pelos quais a Análise de Conteúdo,
como método e ferramenta científica, é relevante para o problema de pesquisa apresentado.
Mesmo que ao longo de todo o trabalho, a palavra “discurso” tenha aparecido diversas vezes,
é importante ressaltar que, neste caso, não está sendo abordado o sentido pós-estruturalista da
palavra, mas o seu terreno linguístico, em que a linguagem não é um mero meio de
comunicação isento, mas formadora de realidade sociais e materiais, em que “falar é fazer”
(ONUF, 2015). Desse modo, a Análise de Discurso não se mostra como um método que
cobre todas as necessidades de análise para responder à pergunta: “Como a dinâmica
geopolítica de busca por status influencia na apresentação de um institucionalismo ecológico
e no exercício de políticas de assistência ambiental da Noruega, da Suécia e da Dinamarca?”.
A análise de discurso traria apenas um panorama, muito específico, do que está sendo tratado

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naquele documento, ignorando toda uma dinâmica de ações normativas, de compromissos e
dominação, trazendo um recorte apenas do momento. O que o discurso mostra, não
necessariamente, revela uma rede complexa de status e dominação. De tal modo,
considerando que não há hierarquia ou sobreposição entre os dois métodos, a Análise de
Conteúdo mostra-se mais relevante para este trabalho, por entender o que os discursos
empregam simbolicamente em termos normativos e como o status é construído dentro de uma
agenda internacional de Meio Ambiente, gerando relações assimétricas de poder entre os
atores e dominação. É possível observar - por meio dos tempos verbais, por exemplo - quais
compromissos estão sendo estabelecidos com aquele ato de fala de atores relevantes e,
consequentemente, como a simbologia da linguagem é geradora de mecanismos de status.
Além disso, analisar o conteúdo é uma forma de se inserir mais facilmente nas iniciativas,
haja vista que é um método não precisa ser aplicável exclusivamente à textos, mas também
elementos visuais que podem ajudar a entender a dominação e os compromissos
estabelecidos pelos países escandinavos - assumindo-os como líderes - em seus feitos e suas
ações de política externa ambiental.

Cronograma de Pesquisa

Mês/ J F M A M J J A S O N D
Atividade A E A B A U U G E U O E
N V R R I N L O T T V Z

Lev. Biblio
X X

Fichamen
to X X

Redação
X X X X X X X

Revisão
X X

19
Entrega
X

Referências Bibliográficas

INGEBRITSEN, Christine. Ecological Institutionalism: Scandinavia and the Greening of


Global Capitalism. Scandinavian Studies. Vol. 84. 2012 University of Illinois Press.

INGEBRITSEN, Christine. Norm Entrepreneurs: Scandinavia’s role in World Politics.


Cooperation and Conflict: Journal of the Nordic International Studies Association. Vol. 37
(1), 2002.

KUBÁLKOVÁ, Vendulka; ONUF, Nicholas; et al. International Relations in a Constructed


World. Routledge: Taylor & Francis Group. London and New York. 2015. Páginas 59-74.

KRIPPENDORF, Klaus. Content Analysis: an introduction to its methodology. Fourth


Edition. SAGE Publications. Los Angeles, 2018.

HERMANN, Margaret. Content Analysis. In: KLOTZ, Audie; PRAKASH, Deepa.


Qualitative Methods in International Relations: A Pluralist Guide. Palgrave MacMillan. New
York, 2008. Páginas 151-168.

MURRAY, Michelle. The Struggle for Recognition in International Relations: status,


revisionism, and Rising Powers. Oxford University Press. New York. 2019. Capítulo 3.

ONUF, Nicholas Greenwood. World of Our Making: Rules and rule in Social Theory and
International Relations. University of South Carolina Press. South Carolina, 1989.

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