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ISSN: 2525-8761
Ivo Hartmann
Mestre em Biologia Celular
Instituição: Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Endereço: R. XV de Novembro, 1299, Centro, Curitiba - PR, CEP: 80060-000
E-mail: ivo.hartmann@ufpr.br
RESUMO
A erupção dos dentes é um evento biológico que envolve diversos estágios até resultar no
posicionamento do órgão na cavidade oral. Trata-se de um complexo processo que desde
a formação intraóssea até atingir o plano funcional, envolve mudanças teciduais e
anatômicas, ativação de vários genes e a liberação de fatores de crescimento e hormônios.
O folículo dental, um tecido conjuntivo frouxo adjacente ao dente em formação, é o mais
importante alvo de regulação no processo de erupção, pois a partir da liberação de seus
produtos e interação com outros, o processo de remodelação óssea na cripta, formação do
ligamento periodontal e crescimento radicular são iniciados. Historicamente, várias
teorias foram elaboradas com o propósito de responder à pergunta de como os dentes
erupcionam. Entre as principais teorias elaboradas, a do crescimento radicular, ligamento
periodontal e a modulação do osso da cripta através dos processos de reabsorção e
formação óssea são as mais embasadas para explicar o mecanismo. Essa revisão de
literatura retoma, à vista disso, os conceitos previamente propostos para cada uma dessas
teorias e busca relacionar com experimentos e pesquisas mais recentes nessa área. Além
disso, associado às teorias são citadas correlações clínicas, como deficiências ou más
formações, que reiteram a premissa da teoria para o mecanismo de erupção ou ainda se
contrapõe ao princípio do mecanismo.
ABSTRACT
Teeth eruption is a biological event that involves multiple stages until it can result in the
positioning of the organ in the oral cavity. It is a complex process that, from the
intraosseous constitution until functional plan, involves tissue and anatomic changes,
activation of various genes and liberation of growth factors and hormones. The dental
follicle, a connective loose tissue adjacent to the growing tooth, is the most important
target of regulation in the eruption process, for it’s by the liberation of its products and
interaction with others that the process of bone remodelling on the crypt, constitution of
the periodontal connection and radicular growth are initiated. Historically, numerous
theories have been formulated with the purpose of answering the question of how teeth
erupt. Amongst the most notorious theories, the ones discussing radicular growth,
periodontal connection and modeling of the bony crypt through processes of reabsorption
and bone development are the most fit to explain the mechanism. With that in mind, this
literature review shall rediscuss the previously mentioned concepts by verifying their
aplicability, comparing them with recent research and experiments of the field.
Furthermore, associated with the theories are clinical correlations, such as deficiencies or
poor formation, that reiterate the premise of the theory for the eruption mechanism or that
opposes with the principle of the mechanism.
Keywords: tooth eruption, tooth root, periodontal ligament, dental sac, bone remodeling,
RANK ligand.
1 INTRODUÇÃO
A erupção dental é o mecanismo em que o dente sai do espaço intraósseo e se
dirige para sua posição funcional na cavidade oral1,3,6,7. Cinco estágios compõem esse
processo, sendo eles a movimentação pré-eruptiva, erupção intraóssea, penetração na
mucosa, erupção pré-oclusal e pós oclusal1,3. Durante o desenvolvimento da coroa no
interior do osso alveolar, os movimentos giratórios feitos pelo órgão dental resultam em
sua acomodação na cripta óssea, os quais compõe a base da movimentação pré-eruptiva1.
A erupção intraóssea representa o início da erupção propriamente dita, e ocorre quando a
coroa já está formada e a raiz começa seu processo de formação. É na fase de erupção
intraóssea que o folículo dental inicia e regula a osteoclastogênese e osteogênese,
processos que levam a formação do trajeto eruptivo que será seguido pelo dente, por esse
motivo o folículo é o tecido com maior regulação molecular na erupção1,2,3,4,6. A partir do
ingresso do órgão dental na mucosa ocorre uma considerável aceleração do processo
eruptivo até que o dente alcance a posição oclusal funcional na cavidade oral. Durante a
fase de penetração em direção a cavidade oral, há formação do ligamento periodontal a
partir da diferenciação das células do folículo dental1,4. Em casos em que o dente que está
em processo eruptivo não possui um antagonista, há incidência de 82% de erupção
excessiva dos dentes, como demonstrado por Kiliaridis et al 20009. Um estudo
longitudinal de 12 anos realizado com mulheres na Suécia demonstrou que além da
tendência de supererupcionarem, esse fenômeno é mais comum em molares e
significativamente associado a perda do suporte ósseo do dente10. A erupção pós-oclusal,
por sua vez, é uma atividade contínua durante boa parte da vida do indivíduo, e se refere
2 METODOLOGIA
Essa revisão de literatura foi elabora a partir de buscas de artigos relacionados ao
tema nas bases de dados PubMed, Google Acadêmico, Biblioteca Virtual em Saúde e
LILACS. Para a busca, foi utilizado as seguintes palavras-chave: erupção dentária, raiz
dentária, ligamento periodontal, folículo dentário, remodelação óssea e ligante RANK
nas línguas portuguesa e inglesa. A inclusão dos artigos foi feita a partir da relevância
para explicar o assunto, pertinência do ensaio clínico para o tema e disponibilidade do
artigo em inglês ou português. A exclusão foi baseada na falta de relevância para a
explicar o tópico e indisponibilidade do artigo nos idiomas utilizados.
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 CRESCIMENTO RADICULAR
A partir da formação da bainha radicular de Hertwig e dos epitélios interno e
externo da alça cervical, tem-se início a formação da porção radicular dos dentes2. A
formação radicular, no entanto, coincide com o início da erupção, essa sobreposição de
eventos foi responsável pela formulação da teoria de que a o crescimento da raiz é
responsável pela erupção. Entretanto, essa teoria foi descartada por diversos estudos que
mostram que dentes sem raiz irrompem na cavidade oral da mesma forma que aqueles
que possuem a raiz15. Em estudo a nível molecular, Kim et al 2011, 2013
experimentalmente confirmou que a molécula Wnt/ß-catenina desempenha função
importante para a interação entre epitélio e tecido mesenquimal durante a
morfodiferenciação do dente, assim como é uma molécula essencial para a diferenciação
dos odontoblastos na porção radicular. A estabilização dessa molécula realizada nos
tecidos dentais de roedores em um estudo in vivo resultou na indução à diferenciação
precoce dos odontoblastos e cementoblastos a partir das células dos tecidos adjacentes ao
órgão dental, o resultado disso é uma prematura e excessiva secreção de dentina, que se
torna hipomineraizada, e cemento na porção radicular. Por outro lado, a inibição da ß-
catenina desencadeia uma falha na formação da raiz16,17. A formação da porção coronária
do dente e a erupção ocorreram normalmente, o que confirma a possibilidade da erupção
sem formação da raiz e elimina a possibilidade de a raiz ser a promotora da força eruptiva.
Pacientes que apresentam Displasia Dentinária do Tipo 1 (MIM 125400), uma rara
doença de caráter autossômico recessivo que pode ser resultado de mutações em pelo
menos 3 diferentes genes descritos até então na literatura: SMOC2, VPS4B, SSUH2,
causa defeitos na formação da dentina radicular tanto em dentição decídua quanto
permanente. As manifestações clínicas da Displasia Dentinária do Tipo 1 (DD-1) incluem
mobilidade dentária, exfoliação prematura, raízes cônicas ou ausentes, margens incisais
opacas e também atraso para a erupção dos dentes18. Uma subclassificação baseada em
achados radiográficos foi proposta por O Carroll et al 1991 e foi classificado as DD-1 em
grupos de a até d. Na DD-1a os pacientes foram diagnosticados com obliteração completa
da cavidade pulpar e das raízes com áreas radiolúcidas na porção periapical 19,20. No tipo
1b, as raízes apresentam um crescimento de poucos milímetros e a evidência radiográfica
é um resquício de polpa na forma de uma meia lua horizontal e novamente áreas
radiolúcidas periapicais19,20. DD-1c é denotado a presenta da meia lua na vertical com um
pequeno crescimento da raiz19,20. A DD-1d possui uma visível cavidade pulpar, raiz em
tamanho normal e presença de cálculos pulpares no terço cervical do canal radicular19,20.
Embora pacientes portadores dessa doença genética apresentem raízes ausentes ou ainda
muito pequenas, eles são normais em morfologia e cor na sua porção coronal e aparecem
na cavidade oral através do processo de erupção dental, embora possa ser denotado um
atraso no último19.
que causa sua perda de função. Essa alteração genética se apresenta clinicamente com
alterações, sobretudo, na formação e morfologia dental, falha na esfoliação de dentes
decíduos, presença de dentes supranumerários e atraso na erupção dos dentes23. O gene
RUNX2 está relacionado com o desenvolvimento dos tecidos duros do dente, sendo
expresso em todos os estágios de desenvolvimento dental. Esse gene é responsável pela
expressão de outras moléculas que tem como uma de suas funções promover a
remodelação óssea do tecido ósseo alveolar adjacente assim como reabsorção da raiz do
dente decíduo24,25. As células do folículo dental e as do ligamento periodontal são capazes
de secretar os transcritos do gene RUNX2, sendo assim complicações no ligamento
periodontal podem levar a um atraso na erupção dos dentes. Sun et al 2016 confirmou
essa influência das células do folículo e ligamento periodontal por meio de um estudo de
cultivo celular dessas células. Nesse estudo, as mutações presentes no gene RUNX2
reduziram a proliferação dessas células assim como reduziram a capacidade de
osteoclastogênese e osteogênese delas resultando em um atraso na erupção dos dentes 24.
4 CONCLUSÃO
O mecanismo que resulta na erupção dos dentes até seu plano funcional na
cavidade oral é complexo e ainda não totalmente conhecido. Uma série de teorias já foram
propostas com a premissa de elucidar esse fenômeno que envolve praticamente todos os
tecidos adjacentes ao órgão dental em formação. A partir da regulação do folículo dental
pelos fatores de crescimento, células tronco, hormônios e outras moléculas expressas, o
crescimento radicular, estabelecimento do ligamento periodontal e os processos de
osteogênese e osteoclastogênese são aptos a acontecerem. Pacientes com Displasia
Dentinária do tipo 1 e o fato de que o ligamento periodontal é estabelecido somente em
fases mais avançadas da erupção como a supra-óssea ou pré-oclusal são argumentos que
contrapõem às teorias do crescimento radicular e do ligamento periodontal,
respectivamente. No entanto, no caso de inibição das vias regulatórias da osteogênese e
da osteoclastogênese, como distúrbios na via RANKL/RANK/OPG e Runx2, a erupção
tem um atraso muito mais severo ou o dente tem a possibilidade de não erupcionar.
A partir do conhecimento dos possíveis mecanismos de erupção dental, é possível
compreender como um distúrbio na erupção possui manifestações na cavidade oral, como
fazer seu diagnóstico e como montar um plano de tratamento para esses indivíduos. Além
disso, o entendimento do mecanismo de erupção tende a ser de importância para áreas da
odontologia como a ortodontia. Assim sendo, é de suma importância que sejam realizados
mais estudos que objetivam aperfeiçoar o mecanismo por trás da erupção.
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