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Revisão da Literatura

Reabsorção Radicular e Tratamento


Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas
Radicular Resorption and Orthodontic Treatment: Myths and
Scientific Evidences
Marcus Vinicius Neiva Nunes do Rego*
Guilherme Thiesen**
Ernani Menezes Marchioro***
Teimo Bandeira Berthold****

Rego MVN do, Thiesen G, Marchioro EM, Berthold TB. Reabsorção radicular e tratamento ortodôntico: mitos e evidências científicas. J Bras
Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):292-309.

As reabsorções radiculares constituem uma das principais iatrogenias decorrentes da movimentação


dentária induzida ortodonticamente. Apesar de apresentarem magnitude variável e serem, na maioria
dos casos, imprevisíveis, a redução do comprimento radicular normalmente não chega a comprometer
a função e a longevidade dos elementos dentários envolvidos. No entanto, quando diante de
reabsorções moderadas a extremas, tem-se adotado condutas baseadas nos fatores de risco e na
magnitude das reabsorções. Muitas vezes, tem-se de simplificar os objetivos ou até mesmo acelerar
a finalização do tratamento, no intuito de minimizar este irreversível custo biológico. Desta maneira,
para que se possa identificar os pacientes de risco e tentar reduzir a magnitude das cicatrizes deixadas
pela mecanoterapia ortodõntica, é necessário o conhecimento das variáveis mecânicas e biológicas
individuais dentro de uma perspectiva baseada em evidências científicas.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentação dentária; Reabsorção da raiz; Ortodontia.

INTRODUÇÃO
A compreensão da movimentação dentária tratamento ortodôntico depende do perfeito entendi-
induzida ortodonticamente requer conhecimentos mento da biologia do periodonto de sustentação. O
relativos à biologia celular, inflamação, micro- dente move-se através do osso levando toda a estru-
circulação, biopatologia óssea e dentária, além tura de suporte, como se a cavidade onde este se
do conhecimento de variáveis mecânicas como insere migrasse. Desse modo, uma vez que a respos-
magnitude, duração, direção e intensidade das ta óssea é mediada pelo ligamento periodontal, o
forças aplicadas. A condição de saúde do indiví- movimento dentário é, antes de tudo, um fenômeno
duo, na qual se insere uma série de eventos bioló- ligado ao mesmo (Proffit, Fields, 2000).
gicos, também constitui um dos fatores deter- Existem leis gerais que podem ser aplicadas
minantes do sucesso da movimentação dentária. a todos os tipos de movimento dentário. O osso
Conceitualmente, a Ortodontia caracteriza-se alveolar é reabsorvido, a raiz comprime o liga-
por movimentar o dente dentro do tecido ósseo. Para mento periodontal durante certo intervalo de tem-
promover essa movimentação, utiliza-se uma força po (lado de pressão) e deposita-se novo osso, quan-
que impele o dente e o seu periodonto na direção da to existem forças que o tracionam (lado de ten-
oclusão normal. Assim, o movimento do dente in- são) (Reitan, 1957; Reitan, 1964).
clui, também, as estruturas periodontais e o êxito do Nosso conhecimento acerca dos efeitos da

*Mestrando em Ortodontia e Ortopedia Facial - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS; Av.
Lindolfo Monteiro, 1030 - CEP 64049-440, Teresina, PI; e-mail: mvnn@ig.com.br
**Mestrando em Ortodontia e Ortopedia Facial - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS
***Mestre em Ortodontia - Faculdade de Odontologia da UFRJ; Doutor em Ortodontia e Ortopedia Facial - UNESP-
Araraquara; Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia e Ortopedia Facial - PUC-RS
****Mestre em Ortodontia e Ortopedia Facial - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS;
Doutorando em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial - PUCRS; Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia e
Ortopedia Facial - PUC-RS

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carga ortodôntica sobre o ligamento periodontal tem radicular apical foi publicado por Ketcham (1927), no
se baseado, em grande parte, em observações empíricas qual ficou estabelecido, por meio de uma avaliação
e no tratamento clínico por tentativa e erro. A compre- radiográfica de uma série de casos, que a reabsorção
ensão deste tópico, sem dúvida, tem melhorado em radicular é uma verdadeira cicatriz da mecanoterapia
decorrência dos novos avanços na biologia celular e, ortodôntica diante das diferenças entre a morfologia
conseqüentemente, as informações obtidas deverão in- radicular antes e depois do tratamento. A partir de en-
fluenciar o tratamento clínico. tão, a ciência nos brindou com um número crescente
Porém, apesarda ampla evolução do conhecimen- de pesquisas histológicas e clínicas sobre reabsorção
to técnico e da biologia celular, existem ainda muitos radicular e tratamento ortodôntico.
aspectos controvertidos e desconhecidos quanto aos fe- O conhecimento das variáveis mecânicas e bio-
nômenos envolvidos na movimentação dentária. Diante lógicas envolvidas na movimentação ortodôntica per-
de um incompleto entendimento dos mecanismos bioló- mite um melhor entendimento das reações tissulares
gicos relacionados à movimentação dentária induzida, resultantes da compressão do ligamento periodontal e
alguns questionamentos ainda permanecem pertinentes: auxilia na redução de danos irreversíveis às estruturas
1. Qual seria a força ideal quanto à intensidade dentárias e ao periodonto de proteção e sustentação.
a ser apl icada? Portanto, a reabsorção radicular apical pode ser o re-
2. Qual o destino das áreas hialinas e/ou desor- sultado de uma combinação desfavorável de uma sé-
ganizadas quando uma força intensa é aplicada? rie de fatores, em que a identificação dos pacientes de
3. Quando e como ocorre o reparo das superfícies risco assume grande importância.
radiculares acometidas pela reabsorção inflamatória?
4. Qual o limite de uma força para se constituir
REVISÃO DE LITERATURA
em estímulo para a movimentação dentária e remode-
lação óssea e não em uma agressão, representada pela Custo biológico da mecanoterapia
reabsorção óssea desordenada e reabsorção dentária As forças ortodônticas aplicadas ao dente transfor-
indesejada? mam-se em estressebiológico no ligamento periodontal,
A reabsorção radicular representa um custo bio- agindo igual e simultaneamente sobre o osso alveolar e
lógico freqüente da movimentação dentária induzida, sobre o cemento. Se essestecidos, osso e cemento, apre-
apresentando magnitude variável e imprevisível (Kurol sentassem comportamento biológico similar, ambos de-
et a/., 1996; Owman-MolI et al,1996; Taithogchai et veriam ser igualmente reabsorvidos durante a movimen-
al, 1996). Na maioria dos casos, a reabsorção conse- tação dentária (Brezniak, Wasserstein, 2002a; Capelozza
qüente à movimentação ortodôntica é mínima e sem Filho, Silva Filho, 1998). Visto que o cemento é mais
significado clínico, atingindo valores médios de 0,5 a resistente à reabsorção, as forças ortodônticas normal-
3mm de encurtamento radicular (Brezniak, Wasserstein, mente induzem remodelação óssea, com conseqüente
1993a; Brezniak, Wasserstein, 1993b). Essasreabsorções movimentação dentária e reabsorção radicular insigni-
acometem a maioria (90,5%) dos dentes permanentes ficante do ponto de vista clínico. Esteé o princípio fun-
tratados ortodonticamente, principalmente os incisivos, damental da Ortodontia.
sendo sempre reparadas com cemento celular (Harris, A alta resistência à reabsorção das superfícies
2000; Henry, Weinmann, 1951). Podem ser classifica- radiculares tem sido relacionada à camada de pré-
das como patológicas, externas e inflamatórias e são cemento e cementoblastos que recobrem toda a ex-
irreversíveis quando atingem a dentina. tensão do cemento (Beck, Harris, 1994; Budvik, Rygh,
A ocorrência de reabsorção radicular severa 1994; Emslie, 1978; Roberts, 2000). Os cementoblastos,
(>3mm) tem sido relatada com uma freqüência de 10 ao contrário dos osteoblastos, não possuem receptores
a 20% (Levander et al, 1994). Conseqüentemente, um para mediadores sistêmicos, como prostraglandinas,
pleno controle dos riscos envolvidos deve constituir re- leucotrienos, interleucinas I, II e VI, IGF e fator de
quisito indispensável para todos os pacientes submeti- crescimento tumoral (TNF), que são acumulados nas
dos ao tratamento ortodôntico. A reabsorção radicular áreas de compressão do ligamento periodontal contra
extrema (>1/3 do comprimento radicular original) é O osso alveolar. Além disso, os cementoblastos não têm
muito rara e algumas modificações na mecanoterapia receptores para os hormônios que aceleram ou diminu-
seriam necessárias para impedir o agravamento dessa em o processo contínuo da remodelação óssea, como
complicação. Na grande maioria dos casos, a perda o paratormônio e a calcitonina, respectivamente. Pode-
radicular resultante do tratamento ortodôntico não di- se dizer, portanto, que os cementoblastos são "surdos"
minui a longevidade ou a capacidade funcional dos para os mediadores da reabsorção óssea, atuando como
dentes envolvidos (Brezniak, Wasserstein, 1993a; /guardiões da integridade da raiz// (Consolara, 2002).
Brezniak, Wasserstein, 1993b; Vlaskalic et al, 1998). Apesar da existência de uma barreira biológica
O primeiro estudo a verificar a relação existente protetora, a reabsorção de cemento e dentina também
entre o tratamento ortodôntico e a remodelação pode ocorrer. A reabsorção radicular tem sido associa-

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da à lesão ou destruição parcial da camada de revesti- Histologicamente, existem três níveis de


mento de pré-cemento (Brezniak, Wasserstein, 1993a; reabsorção radicular inflamatória descritos de acordo
Brezniak, Wasserstein, 1993b; Tronstad, 1988). Com a com a severidade do processo: 1. Reabsorção somen-
lesão dessa camada de revestimento por um agente te da camada externa de cemento que, posteriormen-
físico local, os c1astos obtêm acesso aos tecidos te, é totalmente reparada; 2. Reabsorção dentinária
mineralizados do dente e iniciam o processo de com reparo (cemento e camada externa da dentina
reabsorção, atuando em conjunto com os macrófagos são reabsorvidos); 3. Reabsorção completa dos teci-
por meio da formação de uma unidade osteorremo- dos componentes do ápice radicular, com encurtamen-
deladora, ou BMU, gerenciada pelos osteoblastos, que to radicular evidente (Brezniak, Wasserstein, 2002a).
possuem receptores para os mediadores da reabsorção. Levander, Malmgren (1988) avaliaram radio-
As pesquisas em humanos e animais demons- graficamente os índices de reabsorção radicular du-
tram que a hialinização periodontal, com a forma- rante o tratamento ortodôntico e estabeleceram uma
ção de uma zona degenerada e acelular (zona de classificação que envolve quatro níveis de reabsorr:ão
necrose estéri I) resu Itante da compressão do Iigamen- 1. Reabsorção mínima (contorno apical irregular); 2.
to periodontal e de seus componentes, com conse- Reabsorção moderada (:S;2mm);3. Reabsorção severa
qüente redução do suporte nutricional, precede o (>2mm<1/3 da raiz); 4. Reabsorção extrema (>1/3 da
processo de reabsorção radicular durante o tratamen- raiz) (Figura 1). Diante de cada nível de reabsorção
to ortodôntico (Kvan, 1972; Reitan, 1957; Reitan, encontrado, os autores procuraram estabelecer uma con-
1964). Esta reabsorção estaria ligada à extensão e duta clínica individual, visando a minimizar o custo
tempo de presença da área de hialinização (Rygh, biológico da mecanoterapia.
1977). Segundo Rygh (1977), três estágios são des- Para que se possa entender o custo biológico va-
critos nessas áreas de hialinização: degeneração, eli- riável da mecanoterapia ortodôntica, é importante que
minação dos tecidos destruídos e reparação. A fase se avaliem criteriosamente as características individu-
de eliminação dos tecidos destruídos tem relação ais inerentes a cada paciente previamente ao trata-
direta com o processo de reabsorção radicu lar mento, bem como as variáveis mecânicas relaciona-
(Brudvik, Rygh, 1995). das ao tratamento a ser instituído.

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FIGURA IA: Classificação dos níveis de reabsorção radicular durante o tratamento ortodôntico, sugerida por Levander, Malmgrem
(1988). 1- Reabsorção mínima (contorno apical irregular); 2- Reabsorção moderada (~2mm).

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FIGURA lB: Classificação dos níveis de reabsorção radicular durante o tratamento ortodôntico, sugerida por Levander, Malmgre
1988). 3- Reabsorção severa (>2mm<1/3 da raiz); 4- Reabsorção extrema (>1/3 da raiz).

v ARfÁ VEIS MECÂN ICAS


Magn itude da força
Schwarz (1932) definiu a força ótima como sen- Sims, 1982; Reitan, 1957; Reitan, 1964; Rudolph, 1940;
do aquela capaz de movimentar o dente com reduzi- Rygh, 1977; Steinvik, Mjor, 1970). O ciclo da movi-
do custo biológico, sem dano às estruturas de suporte, mentação dentária decorrente da aplicação de forças
com boa velocidade média e sem sintomatologia do- pesadas está representado no Gráfico 2.
lorosa. Segundo o referido autor, essa força deveria Estudos histológicos evidenciaram que a distri-
ser menor ou igual à pressão capilar sangüínea (20 a buição de lacunas de reabsorção está diretamente re-
26g/crn2). A aplicação de forças leves promoveria uma lacionada com a quantidade de força na superfície
movimentação dentária com custo biológico reduzi- radicular, e a velocidade de desenvolvimento dessas
do/ através da formação de pequenas áreas de lacunas é mais rápida com o aumento das forças apli-
hialinização, reabsorção óssea frontal ou direta e au- cadas/ embora essa relação não seja diretamente pro-
sência de cementoclasia (Harry, Sims, 1982; Reitan, porcional (Harry, Sims, 1982). Após a aplicação da for-
1957; Reitan, 1964; Rudolph, 1940; Rygh, 1977; ça/ pode-se levar de 10 a 35 dias para o aparecimento
Steinvik, Mjor, 1970). O ciclo da movimentação de lacunas de reabsorção (Kurol et al., 1996; Reitan,
dentária decorrente da aplicação de forças leves está 1957; Reitan, 1964; Rygh, 1977; Stenvik, Mjor, 1970).
representado no Gráfico 1. O reparo dessas lacunas de reabsorção apresenta vari-
A aplicação de forças pesadas resultaria em uma ações individuais e inicia-se duas semanas após a re-
movimentação dentária com maior custo biológico, atra- moção da força, com deposição de cemento acelular
vés da formação de áreas de hialinização extensas, seguida de cemento celular (Owman-MolI, Kurol, 1995;
reabsorção óssea indireta (a distância) ou solapante, pre- Owman-MolI, Kurol, 1998).
sença de cementoclasia, retardo no início do movimen- As evidências, em vários trabalhos (Bishara et
to dentário e possibilidade de danos irreversíveis às es- a/., 1999; Choy et a/., 2000; Owman-Moll et a/.,
truturas dentárias e periodonto de sustentação (Harry, 1995; Owman-Moll et a/., 1996; Rygh, 1977;

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Sameshima, Sinclair, 2001 a), revelam que o mais sofre influência do tipo de movimento dentário a ser
importante não é a magnitude absoluta de força apli- realizado, da morfologia da crista óssea alveolar e
cada, mas, sim, a distribuição dessa força ao longo da morfologia da raiz, sendo a maior concentração
da raiz dentária e da estrutura óssea vizinha. A dis- de força observada nos movimentos de intrusão e de
tribuição de força por área do ligamento periodontal inclinação descontrolada.

Distância(mm)
Distância(mm)

0,5 0,5

0,4 0,4

0,3 0,3

Tempo em Tempo em
dias dias

- - --- -~- ~!Ç" ::~


Movimento "Lag Movimento Movimento "Lag Movimento
inicial Phase" dentário inicial Phase" dentário
progressivo progressivo

GRÁFICO 1: Ciclo da movimentação dentária induzida por forças G RÁFI CO 2: Ciclo da movimentação dentária induzida por forças
leves, proposto por Reitan (1957). pesadas, proposto por Reitan (1957).

Intervalo de aplicação da força


A reabsorção radicular não é tão força-sentitiva cemento secundário do tipo celular (Brudvik, Rygh, 1994;
quanto se pensava. É obvio que a magnitude da força Kurol, Owman-MolI, 1998).
guarda uma relação com a reabsorção radicular, como Toda vez que o Ortodontista menosprezar a res-
comentado anteriormente, mas não seria este o único posta metabólica individual, estará comprometendo a
fator. Tal conceito tem sido elaborado por trabalhos re- integridade da estrutura dentária durante a movimenta-
centescom humanos (Owman-Moll et a/., 1995; Owman- ção ortodôntica. Os controles ortodônticos para
MolI et a/., 1996), em que a magnitude da força aplicada reaplicação de força devem ser realizados, em média,
com aparelho ortodôntico fixo para vestibularização de a cada três semanas. Portanto, em uma situação de ris-
pré-molares superiores foi duplicada e quadruplicada sem co aumentado à reabsorção radicular, pode-se ampliar -,
que este aumento tenha se traduzido em quantidade si- o intervalo de aplicação das forças.
milar de reabsorção radicular. Estacerta interdependência
entre a magnitude da força e a extensão e severidade da Natureza da força
reabsorção radicular pode ser atribuída à individualidade Quanto à natureza, as forças podem ser classifi-
na resposta biológica. Na realidade, esta variação indivi- cadas em contínuas, intermitentes e interrompidas
dual não se aplica somente ao custo biológico do trata- (dissipantes). A força contínua seria expressa através de
mento ortodôntico (reabsorção radicular), mas também à uma carga de valor constante que agiria sobre o dente
velocidade da movimentação dentária, aspectos intima- ou grupo de dentes durante todo o tempo. Estudos re-
mente relacionados ao intervalo de aplicação da força. centes demonstraram que é muito difícil conseguir a
A força ortodôntica gera uma área de pressão no aplicação de forças verdadeiramente contínuas clinica-
ligamento periodontal, com formação de áreas de mente, visto que sempre há uma redução da magnitude
hialinização, que podem apresentar extensões variáveis da força inicial à medida que o dente se movimenta
(Kurol, Owman-MolI, 1998). A resposta metabólica (Kurol et aI., 1996; Owman-MolI et aI., 1995; Owman-
reabsorve o osso adjacente e alivia a pressãoo suficiente MolI et aI., 1996). A força intermitente poderia ser defi-
para devolver a largura e normalidade histológica do li- nida como uma força contínua, interrompida por perío-
gamento periodontal. A aplicação de uma nova força irá dos de repouso e que estaria associada constantemente
determinar a persistência ou aumento da área de aos aparelhos móveis e a alguns auxiliares ao tratamen-
hialinização. Com um aumento no intervalo de aplica- to com aparelhos fixos, como os elásticos intermaxilares
ção da força, haveria um tempo maior para se completar (Profitt, Fields, 2000). Essaforça geralmente promove
o ciclo metabólico de hialinização, eliminação dos teci- movimentos de vai- e-vem, sem um período ideal de
dos destruídos e reparação histológica das estruturas en- repouso para o ciclo metabólico da movimentação, o
volvidas. A reparação histológica inclui a importante re- que poderia implicar em reabsorções radiculares mais
composição das cavidades de reabsorção radicular com freqüentes (Capelozza Filho, Silva Filho, 1998).

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As forças dissipantes diminuem de magnitude du- significante a quantidade de reabsorção (Dougherthy,


rante a movimentação dentária, devido ao próprio movi- 1968), pode-se estabelecer, atualmente, uma correla-
mento do dente e à deformação do sistema mecânico. ção com a quantidade de movimento e não somente
Desta maneira, as alterações no ligamento periodontal com a duração do tratamento (Beck, Harris, 1994).
são observadas apenas no estágio inicial da mecânica,
VARIÁVEIS BIOLÓGICAS
visto que a força vai diminuindo de intensidade até atin-
gir uma magnitude inócua ao ligamento periodontal. Morfologia radicular
Nessemomento, o dente pára de se movimentar e o liga- As raízes podem ser classificadas quanto à forma
mento periodontal encontra tempo para reestruturar-see, geométrica em romboidal, triangular e retangular (Cho
assim, completar o ciclo metabólico da movimentação et aI., 1991). Levander, Malmgren (1988) descreveram
dentária. Do ponto de vista histológico, teoricamente, as formas atípicas de raiz que constituem fatores de ris-
essesistema de força seria o mais favorável, pois o perí- co à reabsorção durante o tratamento ortodôntico (Figu-
odo de repouso corresponde à fase de restabelecimento ra 2). Dentre os diferentes tipos morfológicos, as raízes
do ligamento periodontal, quando o mesmo se reorgani- triangulares, as raízes em forma de pipeta e as raízes
za para reativação da movimentação ortodôntica. Logo, tortuosas propiciam uma maior concentração da força
a mecânica ideal deve liberar força de magnitude suave por área do ligamento periodontal na região apical, pos-
e de natureza dissipante, com um intervalo de aplicação sibilitando que lesões na camada cementoblástica ocor-
de força suficiente para permitir a completude do proces- ram com maior freqüência e gravidade, o que implicará
so (Owman-Moll et aI., 1995). em uma redução do comprimento dentário (Figura 3)
Owman-Moll et aI. (1995) realizaram um estudo (Beck, Harris, 1994; Capelozza Filho, Silva Filho, 1998;
histológico em pré-molares de 16 pacientes com o ob- Consolaro, 2002; Kjaer, 1995; Mirabella, Artun, 1995 A;
jetivo de avaliar o efeito das forças contínuas e das Sameshima, Sinclair, 2001 a; Sameshima, Sinclair,
forças interrompidas, de igual magnitude, na quanti- 2001 b). Na raiz retangular, a força dissipa-se melhor na
dade do movimento ortodôntico e reabsorção radicular. estrutura dentária, no ligamento periodontal e na estru-
O movimento horizontal com a força contínua foi mais tura óssea vizinha, acarretando menor chance de
efetivo do que com a força interrompida, após sete reabsorção radicular (Beck, Harris, 1994; Consolaro,
semanas. No entanto, os cortes histológicos não evi- 2002; Mirabella, Artun, 1995a).
denciaram diferenças na quantidade ou severidade da A fragilidade da estrutura apical e a sua forma
reabsorção radicu lar entre as duas forças. Os autores mais afilada determinam reabsorções maiores, impli-
verificaram, ainda, uma variação individual na mag- cando em redução do comprimento dentário. Dessa
nitude da movimentação e na quantidade e severida- maneira, ápices em forma de pipeta e raízes com
de de reabsorção radicular nos dois sistemas de forças. dilaceração são mais suscetíveis à reabsorção durante
a mecanoterapia ortodôntica. Daí a importância do exa-
Tempo de tratamento me radiográfico periapical inicial, no intuito de identi-
Parece não haver evidência científica da hipóte- ficar a morfologia radicular individual inerente ao pa-
se de que o tempo de tratamento, por si só, teria uma ciente, e assim estabelecer o grau de risco à reabsorção
correlação positiva com a reabsorção radicular (Beck, durante o tratamento (Harris, 2000). A presença de
Harris, 1994; Brezniak, Wasserstein, 2002a; Lee et a/., reabsorções radiculares prévias ao tratamento pode in-
1999; Mirabella, Artun, 1995a; Mirabella, Artun, 1995b). dicar um aumento da suscetibilidade à reabsorção de
Embora o tempo de tratamento tenha sido utilizado, moderada a severa durante a mecanoterapia (Levander,
durante muito tempo, para predizer de forma Malmgren, 1988; Linge, Linge, 1991).

11

Raiz tortuosa
FIGURA 2: Formas atípicas de raiz que constituem/atores de risco à reabsorção; segundo Levander, Malmgrem (1988). A" Raiz curta,'
111.=Rai,ZlOIllLQSa.

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Raiz em ferma de pipeta


FIGURA 2: F armas atípicas de raiz que constituem fatorfls de risco à reabsorção, segundo Levander, Malmgrem P,988). C - Rai
baulada; D - Raiz em forma de pipeta.

11.r'"

FIGURA 3: Exemplos de moifol@gias radiculares que constituem fatores predisponentes à reabsorção: A- Raiz com ápice emfol'ma d
pipeta; B- Raiz com ápice tortuoso; C- Raiz com ápice triangular.

Morfologia da crista óssea alveolar


Um aspecto local extremamente importante para te, diminuindo a chance de lesar os tecidos
o entendimento das respostas biológicas individuais periodontais e, especialmente, a camada cemento-
frente às cargas ortodônticas é a morfologia da crista blástica. Na movimentação de dentes com cristas
óssea alveolar, que, geralmente, pode ser triangular, ósseas retangulares, a dissipação de forças será me-
retangular ou rombóide (Consolaro, 2002) (Figura 4). nor, pois a deflexão óssea apresenta-se diminuída. As
Nas cristas ósseas alveolares triangulares, a deflexão cristas ósseas alveolares rombóides dissipam estas
óssea é maior e a força dissipa-se mais uniformemen- forças de forma intermediária (Furquim, 2002).

FI{;URA 4: M'oifologia da crista


Óssea alveolar. retangular (A) e
triangular (B).

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Rizogênese incompleta As forças suscitadas durante a movimentação de


Parece haver um consenso na literatura de que o dentes com rizogênese incompleta, dificilmente promo-
custo biológico da movimentação ortodôntica em dentes verão colabamento de vasos e isquemia na área. A papila
com rizogênese incompleta é menor quando comparado dentária e os tecidos vizinhos são moles e ocupam uma
aosdentescom rizogênesecompleta (Hendrix et ai., 1994; grande área, não sendo comprimidos contra o osso apical
Mavragani et ai., 2002; Rudolph, 1940; Stenvik, Mjor, localizado a distância, secomparado com o ossoalveolar
1970). A reabsorção óssea,no periodonto lateral e apical, no ligamento periodontal completamente formado. Não
durante o movimento dentário, induzido por aparelhos ocorrerá necrose e áreas hialinas na região apical, mui-
ortodônticos, depende da pressãoexercida sobre os vasos to menos morte dos cementoblastos recém-estabeleci-
sangüíneos, com diminuição do seu calibre e redução do dos. Da mesma forma, essasforças não promoverão com-
fluxo sangüíneo, promovendo assim uma isquemia loca- pressão e deformação do citoesqueleto significantes a
lizada. Estaisquemia pode propiciar o aparecimento de ponto de gerar estresse celular e níveis elevados de
áreas de necrose e zonas hialinas com morte local dos mediadores locais da reabsorção (Consolaro et ai., 2001;
cementoblastos, aspectos envolvidos no início das Consolaro, 2002). Portanto, tais fundamentos biológicos
reabsorçõesdentárias. Observa-se também uma compres- indicam que os dentes com rizogênese incompleta apre-
são celular e deformação do citoesqueleto, gerando sentam um menor risco à reabsorção dentária frente à
estressecelular e a conseqüente liberação de mediado- movimentação ortodôntica do que os dentes com
res da osteoclasia (Consolaro et ai., 2001), rizogênese completa (Figura 5).

11

FIGURA 5: Denté 33 com rizogênese


incompleta (A) submetido ao tratamento
ortodôntico com custo biológico reduzido ao
final do tratamento (B).

Traumatismo dentário
Os dentes traumatizados apresentam uma predis- reabsorção radicular, aos dentes que não sofreram trau-
posição especial para a reabsorção radicular espontâ- mas (Figura 6).
nea, ou seja, sem o tratamento ortodôntico. Esta pre- O aspecto biológico que justifica a maior pre-
disposição à reabsorção radicular guarda relação dire- disposição à reabsorção radicular dos dentes
ta com a gravidade do traumatismo do periodonto traumatizados consiste na possibilidade de lesão na
(Brezniak, Wasserstein, 1993a; Brezniak, Wasserstein, camada cementoblástica que reveste e protege a raiz.
1993b; Malmgren et ai., 1982). Parte dos cementoblastos pode, no reparo periodontal,
Estudos comparativos, entre dentes traumatizados ser substituída focalmente por osteoblastos vizinhos,
e não traumatizados, demonstraram que os primeiros pois o osso alveolar encontra-se a 250 micrômetros
são mais suscetíveis à reabsorção radicular durante a da superfície dentária. Os osteoblastos na superfície
movimentação dentária (Brezniak, Wasserstein, 1993a; radicular cumprem perfeitamente as funções de
Linge, Linge, 1983; Mattison et ai., 1994; Mirabella, cementoblastos, mas continuam tendo receptores de
Artun, 1995a; Taithongchai et ai., 1996). Segundo superfície frente aos mediadores locais da reabsorção.
Malmgren et ai. (1982), os traumatismos dentários pro- Esses osteoblastos ficam na superfície dentária por
vocam danos ao ligamento periodontal e ao cemento, tempo ainda não determinado. Quando ocorre a mo-
aumentando o risco de reabsorção radicular. No entan- vimentação dentária induzida, os mediadores acumu-
to, dentes com traumatismos leves ou moderados e com lados no ligamento periodontal podem ativar imedia-
ligamento periodontal intacto, após um período de cinco tamente estas células osteoblásticas, com a função
a seis meses, podem ser movimentados ortodontica- de gerenciar as unidades celulares que promovem a
mente com um prognóstico comparável, em relação à reabsorção óssea; nesse caso, gerenciarão imediata-

J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309 299


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodõntico: Mitos e Evidências Científicas

mente a reabsorção radicular associada à movimen- reabsorção, não se contra-indica a movimentação


tação ortodôntica (Consolara, 2002). Apesar de os den- dentária desses dentes, desde que a mesma tenha um
tes traumatizados apresentarem um maior risco de planejamento e controle especial (Figura 6).

FIGURA 6: Paciente camfratura mandibular e traumatisma nas incisivas inferiares. A e B- Radiagrafias panarâmica e periapicalJ
realizadas previamente ao. tratamento. artadôntico, evidenciando. a redução. da fratura e a calacaçãa de fixação. interna rígida. C e D-
IRadiagrafias panarâmica e periapical após um ano. da início. da tratamento. artadôruica e após 2 anas da traumatisma das incisivas,
'demanstranda um-quadra de reabsarçãa maderada; E e F- Radiagrafias panarâmica e periapical após três anas da início. da tratamento.
ortadôntica, em que se abserva um quadra de reabsorçãa moderada.

300 J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

Tratamento endodôntico turas periodontais adjacentes, esta não depende da vi-


É consenso geral a ocorrência de remodelação talidade pulpar.
apical dos dentes vitais com ápices fechados em de- A literatura tem confirmado a resistência dos den-
corrência do tratamento endodôntico. O que acontece tes tratados endodonticamente à reabsorção radicular,
com os dentes tratados endodonticamente durante o visto que a freqüência e a severidade de reabsorção
tratamento ortodôntico? Sabe-se,em primeiro lugar, que radicular apical em dentes tratados endodonticamente
um tratamento endodôntico não contra-indica um tra- são semelhantes (Mattison et aI., 1994) ou até meno-
tamento ortodôntico (Mattison, et aI., 1994). A reação res (Mirabella, Artun, 1995a; Mirabella, Artun, 1995b;
dos dentes tratados endodonticamente, submetidos à Remington et aI., 1989; Spurrier et aI., 1990) que nos
mecânica ortodôntica, é igual a dos dentes com vitali- dentes com vitalidade pulpar. Essa maior resistência
dade (Mattison et aI., 1994; Mirabella, Artun, 1995a; seria oriunda do aumento da dureza e densidade
Spurrier et aI., 1990) (Figura 7). Visto que toda movi- dentinária, promovida pela diminuição da hidratação
mentação ortodôntica se deve às mudanças nas estru- da dentina radicular (Mattison et aI., 1994).

FIGURA 7: Acompanhamento radiográfico semestral dos


elementos dentários 13 e 14, tratados endodonticamente, e dos
dentes contralaterais 23 e 24. Observa-se que o custo biológico da
movimentação ortodôntica foi semelhante nos dentes submetidos
e nos não submetidos ao tratamento endodôntico (A e B- Inicial
após a instalação do aparelho; C e D- Após seis meses do início
do tratamento; E e F- Após um ano do início do tratamento) .

Endocrinopatias
Durante décadas, asendocrinopatias e outras situa- fície nos cementoblastos para os mediadores do turnover
ções sistêmicas foram referidas como causas de altera- ósseo dificulta qualquer raciocínio que atribui às
ções no trabeculado ósseo, na velocidade do movimento reabsorções dentárias uma origem sistêmica, como as
ortodôntico e nas reabsorções radiculares (Consolaro, endocri nopatias.
2002). O estudo da biologia da movimentação dentária Francischone (2002) analisou criteriosamente os
nos indica que as células que colonizam a superfície dentes e maxilares de 81 pacientes endocrinopatas, in-
dentária radicular; os cementoblastos, não provêem re- cluindo pacientes com hiper e hipoparatireoidismo, hipo
ceptores numericamente suficientes para os mediadores e hipertireoidismo, diabetes 1 e 2, síndrome dos ovários
do turnoverósseo (Cho et aI., 1991; Lindskog et aI., 1987). policísticos, mulheres na fase do c1imatério e também
Os cementoblastos são células "surdas" para as mensa- mulheres ingerindo contraceptivos por longos períodos.
gens ditadas pelos mediadores da remodelação óssea, Em nenhum desses pacientes observou-se reabsorções
mesmo quando esses mediadores estão em altos níveis dentárias generalizadasou significantes.Os pacientescom
periodontais,como ocorre no hiperparatireoidismo, no qual hiperparatireoidismo apresentavam alterações severasno
se tem altos níveis de paratormônio (Francischone et aI., trabeculado ósseo, inclusive com perda completa da lâ-
2002). A constatação da ausência de receptores de super- mina dura, mas os dentes estavam íntegros.

J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309 301


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

A possível relação entre reabsorção radicular e segundo grupo, predominaram as raízes rombóides e re-
endocrinopatias também foi estudadapor Furquim (2002). tangulares e as cristas ósseastriangulares.
O referido autor avaliou 210 pacientes, sendo 70 sem Diante das evidências científicas, pode-se admi-
tratamento ortodôntico, 70 com tratamento ortodôntico e tir que as endocrinopatias não provocam reabsorçães
sem reabsorção dentária e 70 com tratamento ortodôntico dentárias. Assim, a maior ou menor freqüência de
e com reabsorção dentária. Foram realizados todos os reabsorção dentária em Ortodontia estaria associada
exames endocrinológicos e sistêmicos necessários, ana- principalmente a fatores locais, particularmente, a for-
lisando-se todos os dentes e maxilares. Os três grupos ma da raiz e da crista óssea alveolar, e não a fatores
apresentaram o mesmo perfil endocrinológico e, surpre- sistêmicos. Quando não for possível determinar a causa
endentemente, as únicas variáveis significantes foram a local da reabsorção dentária, uma vez esgotados todos
morfologia radicular e a morfologia da crista óssea os recursos de diagnóstico, pode-se adjetivar a sua
alveolar. No terceiro grupo, predominaram as raízes tri- etiopatogenia como idiopática (Figura 8) e não sistêmica
angulares e as cristas ósseas retangulares, enquanto no (Francischone et aI., 2002).

FIGURA 8: A- Radiografia panorâmica que


evidencia a presença de reabsorção radicular
idiopática prévia ao tratamento ortodôntico-
cirúrgico, caracterizada por um encurtamento
radicular generalizado, com contorno pouco
definido dos ápices radiculares. B- Radiografia
panorâmica após um ano do início do preparo
ortodôntico para cirurgia ortognática, na qual
se observa um aumento no grau de reabsorção
inicial. C- Radiografia panorâmica após dois
anos do início do tratamento ortodôntico e após
um ano da cirurgia ortognática, em que se
observa um grau de reabsorção extrema nos
incisivos superiores e inferiores e reabsorção de
moderada a severa nos demais dentes.

302 J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309

J
Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

Hereditariedade ção de força por áreado ligamento periodontal (Baumrind


Alguns estudos sugerem uma participação mais et aI., 1996; Brezniak, Wasserstein, 1993a; Proffit, Fields,
efetiva do componente genético no encurtamento 2000). No entanto, nenhuma má-oclusão é imune à
radicular. Apesar de nenhuma conclusão definitiva ter reabsorção dentária induzida pela movimentação
sido encontrada, os seguintes mecanismos de heredi- ortodôntica, independentemente da técnica aplicada
tariedade são possíveis: modo autossômico dominan- (Baumrind et aI., 1996; Beck, Harris, 1994; Harris, Butler,
te, modo autossômico recessivo e modo poligênico 1992; Harris et aI., 1997; Horiuchi et aI., 1998; Kaley,
(Newman, 1975). Phillips, 1991; Mirabella, Artun, 1995a; Mirabella, Artun,
No entanto, todos os trabalhos que procuraram 1995b; Sameshima, Sinclair, 2001 a).
estabelecer a suscetibilidade ou predisposição genéti-
ca e hereditária à reabsorção radicular ou não conse- Hábitos bucais
guiram obter essa correlação (Harris et aI., 1997) ou Hábitos como a onicofagia (Odenrick, Brattstrom,
apresentam falhas metodológicas que comprometem 1983) e a pressão atípica da língua (Harris, Butler, 1992;
os seus resultados (Consolaro, 2002). Destarte, a maior Newman, 1983) associada à mordida aberta, foram re-
ou menor suscetibilidade ou predisposição relaciona- latados como fatores agravantes da quantidade de
se a fatores locais individuais, como a forma da raiz e reabsorção radicular. Newman (1983) sugeriu que a mor-
da crista óssea alveolar, e não existe evidência de que dida aberta constitui um fator associado ao encurtamento
algum fator genético possa diretamente favorecer a ins- radicular dos dentes anteriores, devido à função anor-
talação de reabsorção em alguns pacientes. mal da língua, que imprime uma força crônica, intermi-
tente e incontrolável. Segundo Odenrick, Brattstrom
Gênero (1983), a verificação da presença do hábito de onicofagia
A maioria dos estudos existentes na literatura não durante a anamnese torna recomendável um controle
estabelece associação consistente entre o gênero e a pre- radiográfico dos dentes anteriores durante o tratamento
sença de reabsorções dentárias induzidas pelo tratamen- ortodôntico. Entretanto, Linge, Linge (1983) verificaram
to ortodôntico (Beck, Harris, 1994; Bishara et aI., 1999; que hábitos como a sucção digital e onicofagia não apre-
Harris et aI., 1997; Hendrix et aI., 1994; Sameshima, sentaram relação direta com a reabsorção radicular, o
Sinclair, 2001 a), embora Baumrind et aI. (1996) e Kjaer que nos leva a concluir que uma relação causa-efeito
(1995) tenham encontrado maior prevalência de direta entre os hábitos bucais e o aumento no risco de
reabsorção nos gêneros masculino e feminino, respecti- reabsorção radicular não se encontra totalmente
vamente. A disparidade dos resultados parece estar rela- estabelecida na literatura.
cionada a aspectos metodológicos distintos aplicados aos
diversos estudos existentes sobre reabsorção radicular. Idade do paciente
Nenhum dos trabalhos recentes (Baumrind et aI.,
Tipo de má-oclusão 1996; Brezniak, Wasserstein, 1993a; Harris et aI., 1997;
Não existe correlação entre as más-oclusões e a Hendrix et aI., 1994; Owman-Moll, Kurol, 1995;
reabsorção radicular decorrente da correção ortodôntica Owman-Moll, Kurol, 1998), com a exceção de dois
(Brezniak, Wasserstein,2002b). Dessemodo, não há uma estudos (Mirabella, Artun, 1995a; Sameshima, Sinclair,
previsão do prognóstico de reabsorção radicular baseado 2001 a), encontrou correlação entre reabsorção radicular
no tipo de má-oclusão. É mais lógico acreditar na corre- e idade cronológica. Diante desses achados, a idade
lação entre o binômio gravidade da má-oclusão e cronológica parece não ser um fator significante na
reabsorção radicular, em conseqüência dos recursos me- ocorrência de reabsorções radiculares.
cânicos exigidos e da amplitude e tipo de movimento a
ser realizado. Tratamentos que envolvam uma grande
DISCUSSÃO
amplitude de movimentos dentários no intuito de camu-
flar discrepâncias esqueléticas acentuadas e com objeti- Na população ocidental, 7 a 10% das pessoassem
vos quase heróicos, são mais predispostos à reabsorção qualquer tipo de tratamento ortodôntico tem reabsorção
radicular devido aos limites biológicos impostos pela má- radicular (Brezniak, Wasserstein, 2002b). Se estas
oclusão (Brezniak, Wasserstein, 2002a; Capelozza Filho, reabsorções não forem diagnosticadas em radiografias
Silva Filho, 1998). Dentre os tipos de movimento mais periapicais antes do início do tratamento ortodôntico,
associados à reabsorção radicular, estão os movimentos durante a movimentação, elasserãoexacerbadase a culpa
de retração do segmento anterior, devido à extensão do recai sobre a Ortodontia, pela falta de diagnóstico pré-
deslocamento apical dos incisivos contra a cortical óssea vio. Vale lembrar que a radiografia para prognosticar
(Beck, Harris, 1994; Goldin, 1989; Kaley, Phillips, 1991; reabsorções dentárias deve ser sempre tomada com pelí-
Linge, Linge, 1991; Mirabella, Artun, 1995a; Sameshima, culas periapicais e não panorâmicas. Coincidentemente,
Sinclair, 2001 a; Sameshima, Sinclair, 2001 b) e o movi- apenas 10% das reabsorçõesdentárias em Ortodontia são
mento de intrusão que implica em uma maior concentra- severas (Consolaro, 2002). Sendo assim, indica-se roti-

J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309 303


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

neiramente que sejam realizadas radiografias periapicais ao tipo e tempo de ocorrência do trauma devem ser
dos incisivos superiores e inferiores em pacientes adoles- elaborados (Capelozza Filho, Silva Filho, 1998). Se um
centes e uma série radiográfica periapical completa em dente traumatizado estiver, após um período de cinco a
pacientes adultos como conduta preventiva habitual, pre- seis meses, sem resposta radicular negativa (presença
viamente ao início do tratamento. Uma vez que esse de reabsorção) e com periodonto saudável, provavel-
tenha sido iniciado, recomenda-se que sejam feitas radi- mente tem-se um dente sem predisposição à reabsorção
ografias periapicais dos incisivos superiores e inferiores a radicular severa (Malmgren et ai., 1982).
cada seis meses, para controle do custo biológico da O principal fator na previsibilidade de reabsorções
mecanoterapia (Brezniak, Wasserstein, 1993b; Brezniak, radiculares decorrentes da mecânica ortodôntica é a
Wasserstein, 2002a; Capelozza Filho, Silva Filho, 1998; forma da raiz e da crista óssea alveolar, mensuráveis,
Levander et ai., 1994). apenas, em radiografias periapicais. Raízes triangula-
Uma anamnese minuciosa dos pacientes antes do res e ou com ápices afilados em forma de pipeta ou
início do tratamento contribui para a obtenção de infor- com dilaceração tendem a apresentar reabsorções
mações valiosas, que podem auxiliar na identificação maiores e mais precoces, bem como dentes com raízes
dos pacientes de risco. No primeiro contato com o paci- curtas (Figura 9). Quando as cristas ósseassão retangu-
ente, é necessário obter informações da saúde geral do lares, também aumenta a possibilidade de reabsorções
indivíduo, história dentária anterior, os vícios, os aci- radiculares, pois ocorre uma menor deflexão óssea
dentes, os tratamentos anteriores, patologias associadas durante a aplicação de forças, e essas se concentram
e muitos outros dados relevantes na etiopatogenia. Quan- em maior intensidade no ligamento periodontal
do não for possível determinar as causas locais da (Consolaro, 2002; Francischone, 2002; Furquim, 2002;
reabsorção dentária, pode-se adjetivar sua etiopatogenia Levander, Malmgren, 1988).
de idiopática e não sistêmica. O termo idiopática re- Quanto aos dentes com rizogênese incompleta,
presenta uma impossibilidade de determinação da cau- parece consenso na literatura que os mesmos apresen-
sa e não uma conotação de origem sistêmica e nem tam um menor custo biológico do que os dentes com
mesmo iatrogênica. rizogênese completa (Hendrix et ai., 1994; Mavragani
Du rante mu ito tempo, atri bu iu-se aos fatores et ai., 2002; Rosenberg, 1972; Steinvik, Mjor, 1970).
sistêmicos o papel de agente etiológico das reabsorções Porém, quando forças forem aplicadas sobre dentes com
dentárias de origem desconhecida, na tentativa de jus- rizogênese incompleta em estágios precoces de for-
tificar as variações individuais no custo biológico da mação radicular, pode ocorrer um encurtamento do que
mecanoterapia. Diante das evidências científicas atu- seria o comprimento original do dente, pois a redução
ais, não há causas sistêmicas ou medicamentosas para do suprimento sangüíneo levaria a uma maturação pre-
as reabsorções dentárias durante o tratamento coce da papila em polpa e do folículo apical em liga-
ortodôntico, como, por exemplo, citava-se antigamen- mento periodontal, contribuindo para uma formação
te os contraceptivos (Brezniak, Wasserstein, 2002a; Pe- mais precoce do término apical (Consolaro et ai., 2001).
reira, 1995). No entanto, muitos casos de reabsorções O tratamento endodôntico parece não interferir no
dentárias aparentemente idiopáticas, bem como casos grau de reabsorção radicular durante o tratamento
de reabsorções ósseas maxilares extensas ou mudan- ortodôntico (Mattison et ai., 1994; Mirabella, Artun,
ças no trabeculado são, infelizmente, atribuídos a uma 1995a; Remington et ai., 1989; Spurrier et ai., 1990). Os
origem sistêmica, especialmente fazendo-se relação estudos que levantaram a hipótese dos dentes tratados
com distúrbios hormonais. Boa parte desses pacientes endodonticamente serem mais suscetíveis à reabsorção
aceita passivamente o fato e não procura diagnosticar (Wickwire et ai., 1974) apresentam metodologia
precisamente a existência de uma alteração sistêmica questionável, ao incluírem dentes com traumatismo pré-
associada (Francischone, 2002; Francischone et ai., vio no grupo experimental, visto que o trauma dental
2002; Furquim, 2002). O envolvimento das estruturas aumenta o risco de encurtamento radicular, como co-
dentárias nas endocrinopatias está mais para mito do mentado anteriormente. Além disso, uma reabsorção
que para realidade, pois não se fundamenta na radicular excessiva ocorrida durante a movimentação
fisiopatologia dos tecidos envolvidos (Cho et ai., 1991; ortodôntica de dentes tratados endodonticamente podé
Lindskog et ai., 1987). estar mais associada ao insucessoda terapia endodôntica
Dentre os fatores de risco à reabsorção dentária, do que o tratamento ortodôntico em si.
os dentes traumatizados devem ser considerados mais Parece razoável aceitar que toda mecânica, por
predispostos a apresentarem reabsorções radiculares menores que sejam as forças aplicadas (Owman-MolI
durante o tratamento ortodôntico. Estedado indica que et ai., 1995; Owman-Moll, Kurol, 1995; Owman-MolI
se deve valorizar muito a anamnese criteriosa para re- et ai., 1996; Owman-Moll, Kurol, 1998), não estará
cuperar-se o máximo de informações sobre os tecidos livre de desencadear reabsorção. Uma mecânica con-
dentários. Muitos pacientes não lembram de relatar os sistente vai provocar reabsorção discreta e pouco
traumatismos dentários, e questionamentos pertinentes significante «0,9mm) na maioria dos pacientes, mas

304 J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

será agressiva (>3mm) em 10% deles (Linge, Linge, Segundo Sharpe et ai. (1987), existe alguma relação
1991). Dessa maneira, qual conduta clínica deve-se entre a recidiva ortodôntica e certos parâmetros
tomar quando nos colocamos diante de níveis de periodontais, como a reabsorção radicular e a redu-
reabsorção radicular distintos evidenciados nas radio- ção da crista óssea alveolar. Tal relação poderia ser
grafias de controle periódico durante o tratamento (prin- explicada pelo fato de que os dentes que experimen-
cipalmente nos primeiros seis meses)? taram uma redução de sua estrutura de suporte, atra-
Quando, ao exame radiográfico, evidencia-se vés da diminuição do comprimento radicular e/ou da
uma reabsorção mínima ou ausência de reabsorção, crista óssea alveolar durante o tratamento ortodôntico,
pode-se afirmar que o paciente apresenta risco pe- podem apresentar uma maior predisposição à recidi-
queno de reabsorção severa ao final do tratamento va em decorrência da redução da resistência contra
e, então, mantém-se o mesmo regime de tratamen- as forças que reconduzem os elementos dentários às
to. Ao d.etectar-se uma reabsorção moderada (:::::2mm), suas posições originais.
tem-se um risco regular de reabsorção severa e risco A força de opção em Ortodontia continua sendo
pequeno de reabsorção extrema ao final do trata- a força leve e de natureza contínua ou a força
mento. Nesses casos, recomenda-se um período de dissipante (interrompida). Ambas parecem ter efeito
repouso (fio passivo, mecânica estabilizada) de 60 a similar sobre as raízes (Owman-MolI et ai., 1995),
90 dias, e deve-se comunicar a suscetibilidade ao embora do ponto de vista histológico e da completude
paciente (Levander et ai., 1994). Diante de do reparo das áreas de hialinização, a força dissipante
reabsorções severas (>2mm<1/3 de raiz), existe um pareça ser um pouco mais segura (Brezniak,
alto risco de reabsorções extremas no fi nal do trata- Wasserstein, 1993; Brezniak, Wasserstein, 2002;
mento. Por isso, recomenda-se um descanso obriga- Doughtery, 1968; Reitan, 1957; Reitan, 1964; Rygh,
tório de 90 dias (fio passivo, mecânica estabiliza- 1977). O certo é que, após a remoção da carga
da), real ização de série radiográfica periapical com- ortodôntica, há uma parada no processo de reabsorção
pleta para avaliação dos outros dentes, além dos in- radicular ativa, o que permite concluir que, após a
cisivos, reavaliação da anamnese e dos fatores de remoção do aparelho ortodôntico, não existe a pro-
risco existentes no início do tratamento, interrupção gressão do nível de reabsorção, a menos que perma-
do tratamento ou discussão e alteração dos objeti- neçam interferênci as ocl usais grossei ras (Brezn iak,
vos iniciais, simplificando-os e reduzindo, conseqüen- Wasserstein, 1993b; 2002b; Capelozza Filho, Silva Fi-
temente, o tempo e a quantidade de mecânica, além lho, 1998; Harris, 2000; Kurol et ai., 1996; Kjaer, 1995;
de manter controle radiográfico a cada 90 dias Vlaskalic et ai., 1998). Portanto, de um modo geral, a
(Capelozza Filho, Silva Filho, 1998; Levander et ai., perda radicular resultante do tratamento ortodôntico
1994). Nos casos de reabsorções extremas (>1/3 da não diminui a longevidade ou a capacidade funcio-
raiz), recomenda-se um descanso obrigatório de 90 nal dos dentes envolvidos.
dias (fio passivo, mecânica estabilizada) e adota- Do mesmo modo, Kaley, Phillips (1991) relata-
se, obrigatoriamente, a interrupção ou simplificação ram que, em termos de suporte dentário, 3mm de
do tratamento (Capelozza Filho, Silva Filho, 1998; perda de estrutura radicular apical são equivalentes
Levander et ai., 1994). a 1mm de perda da crista óssea alveolar, o que sig-
No que se refere à magnitude da reabsorção, nifica que a porção apical da raiz apresenta uma
os dentes mais vulneráveis por ordem decrescente participação importante, porém de menor relevân-
de prevalência são os incisivos laterais superiores, cia, no suporte periodontal dentário. Apesar disso, o
seguidos pelos incisivos centrais superiores, incisi- profissional deve sempre apresentar um conhecimen-
vos inferiores, raiz distal dos primeiros molares infe- to pleno da biologia da movimentação dentária
riores, segundos pré-molares inferiores, segundos pré- induzida, objetivando minimizar os custos biológi-
molares superiores, molares superiores e inferiores cos da mecanoterapia.
(Kennedy et ai., 1983; Philips, 1955; Sharpe et ai., Vale ressaltar, ainda, a importância do pleno co-
1987; Silva Filho et ai., 1993). A maior predisposi- nhecimento do desenvolvimento da oclusão na redução
ção à reabsorção dos incisivos superiores está rela- do custo biológico do tratamento ortodôntico, principal-
cionada à extensão de movimentação desses den- mente quando da realização de mecânicas de
tes, a qual é freqüentemente maior que a dos outros nivelamento 4 X 2, para correção de pequenas irregulari-
dentes, em decorrência da correção da má-oclusão, dades nos incisivos superiores, durante período
função e estética (Sharpe et ai., 1987; Silva Filho et intertransitório da dentadura mista. Nesseperíodo, obser-
ai., 1993). va-se uma alteração importante na região anterior superi-
Esta reabsorção radicular, além de promover um or, identificada pela mudança na posição dos incisivos
encurtamento do tamanho total do elemento dentário, laterais, cuja magnitude e direção dependem da trajetó-
pode estar relacionada a outros aspectos também im- ria de irrupção intra-ósseados caninos permanentes. Nos
portantes, como a estabilidade futura do tratamento. seus movimentos eruptivos intra-ósseosem direção à ca-

J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309 305


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

vidade bucal, a coroa do canino permanente superior nivelamento dos incisivos. Caso as raízes dos incisivos
tangencia a raiz do incisivo lateral, provocando a con- laterais sejam movimentadas contra a coroa dos caninos
vergência apical dos incisivos laterais, com conseqüente permanentes, haverá reabsorção radicular dos incisivos
abertura de diastema entre o incisivo lateral e canino, laterais, que, se não detectadas, poderão acarretar até
denominada "fase do patinho feio". Em função dessapro- mesmo perda do elemento dentário, como demonstrado
ximidade, o exame radiográfico torna-se extremamente na Figura 10. Portanto, uma abordagem cautelosa deve
importante para avaliação da relação espacial entre o ser elaborada e instituída pelo Ortodontista, visto que a
canino permanente e a raiz do incisivo lateral e defini- tentativa de se evitar reabsorçãesradiculares severasdeve
ção da possibilidade de realização da mecânica de ser uma das principais metas do tratamento ortodôntico.

FIGURA 9: Exame radiográfico periapical completo (A -L) evidenciando


dentes com raízes curtas e com contorno apical bem definido, previamente
ao tratamento ortodôntico.

306 J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

FIGURA 10: A - Relaçã() de proximidade entre a coroa dos caninos permanentes superiores e as raízes dos incisivos laterçlÍs durante 'j
seu trajeto eruptivo. B·.Nivelamento e alinhamento dos incisivos sl{periores durante operíodo intertrànsit6r:io da dentadurainista C''ias/A
'dopatinho feio"} Ç-Reab~orção extrema das raf'l,esdo 12 e 22 em decorrênçia da movímentaf;ão das raízes dos incisivos laterais contrd
a: coroa do13 e 23 em erUpção. D- Visão aproximada da reabsorção extrema e iatrogênica das raízes dos dentes 12 e 22, comperd.
adicular total dO,22.

CONCLUSÕES
Diante do estudo das variáveis mecânicas e bi- 6. Fatores como idade do paciente, gênero, here-
ológicas relacionadas ao processo de reabsorção ditariedade/ tempo de tratamento e tipo de má-oclusão
radicular conseqüente ao tratamento ortodôntico, ba- parecem não apresentar relação direta com a
seado em evidências científicas, podemos concluir reabsorção radicular;
que: 7. Há uma correlação positiva no binômio gravi-
1. A anamnese inicial do paciente por meio da dade da má-oclusão e reabsorção radicular, em conse-
utilização de radiografias periapicais é importante na qüência dos recursos mecânicos exigidos e da ampli-
identificação de reabsorções prévias ao tratamento e tude e tipo de movimento a ser realizado;
na determinação da morfologia radicular e da crista 8. Não existe uma relação causa-efeito totalmente
óssea alveolar; definida entre a presença de hábitos bucais deletérios,
2. O principal fator na previsibilidade das como a interposição lingual e a onicofagia, e o au-
reabsorções dentárias é a morfologia da raiz e da crista mento no risco de reabsorção radicular;
óssea alveolar. Raízes triangulares com ápices 9. O conhecimento de variáveis mecânicas como
afilados, em forma de pipeta ou com dilaceração, ten- tipo, natureza, magnitude e intervalo de aplicação de
dem a apresentar reabsorções maiores e mais preco- força contribui para a otimização do tratamento e re-
ces/ bem como dentes com raízes curtas. As cristas dução dos custos biológicos;
ósseas retangulares aumentam a possibilidade de 10. Os dentes mais vulneráveis à reabsorção por
reabsorções radiculares, pois apresentam menor ordem decrescente são incisivos laterais superiores,
deflexão óssea e concentram maior força no ligamento incisivos centrais superiores, incisivos inferiores, raiz
periodontal; distal dos primeiros molares inferiores, segundos pré-
3. Dentes com rizogênese incompleta apresen- molares inferiores, segundos pré-molares superiores,
tam menor suscetibi Iidade à reabsorção do que os den- molares superiores e inferiores;
tes com rizogênese completa; 11. Existe a necessidade da elaboração de um
4. O traumatismo dentário é um fator de risco protocolo clínico individual de acordo com os fatores
para a reabsorção radicular. Dentes traumatizados de risco e os níveis de reabsorção encontrados nos pri-
devem ser monitorados por um período de aproxima- meiros seis meses da mecanoterapia;
damente seis meses, para serem incluídos na 12. Embora presente em todos os tratamentos
mecanoterapia; ortodônticos, a magnitude da reabsorção radicular
5. Não existe evidência cientifíca da relação não é totalmente previsível e apresenta variações
entre reabsorção e endocrinopatias. Portanto, as individuais. No entanto, o processo de reabsorção
reabsorções de etiopatogenia não identificada devem radicular cessa após o término da mecanoterapia,
ser classificadas de idiopáticas e não de origem não comprometendo a capacidade funcional dos
sistêmica; dentes envolvidos.

Rego MVN do, Thiesen G, Marchioro EM, Berthold TB. Radicular resorption and orthodontic treatment: myths and scientific evidences. J Bras Ortodon
Ortop Facial 2004; 9(51 ):292-309.

Root resorptions constitute one ofthe main iatrogenic consequences resulting from orthodontic tooth movement.
In spite of showing a variable magnitude and being, mostly, unpredictable, the reduction of root length does not
compromise function ar the longevity of dental elements involved. On the other hand, when faced with moderate
and extreme resorptions, the procedures based on risk factors and on the magnitude of resorption have been

J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):292-309 307


Reabsorção Radicular e Tratamento Ortodôntico: Mitos e Evidências Científicas

adopted. Frequently it is necessary to simplify the objectives or even antecipate the end of treatment, with the
rationale of minimizing this irreversible biological due. In this manner, for it to be possible to identify patients at
risk and try to reduce the magnitude of the scars left by orthodontic mecanotherapy, it is imperative the knowlege
of the mechanical and biological variables into a perspective based on scientific evidence.

KEYWORDS: Tooth movement; Root resorption; Orthodontics.

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Recebido para publicação em: 09/04/03


Enviado para análise em: 19/05/03
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