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CURITIBA
2021
SAULO JOSÉ ANCIUT PIRES
CURITIBA
2021
SAULO JOSÉ ANCIUT PIRES
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Direito do Centro Universitário UniOpet, pela Banca Examinadora formada pelos professores:
______________________________
Prof. Membro da Banca
Agradeço a minha mãe a senhora Rosa Anciut Pires e meu pai o senhor José
Anciut Pires, por terem dedicado a vida a me criar e auxiliar meus estudos, mesmo
nos momentos mais difíceis de minha vida, onde não desistiram de mim. A cada
passo dado, a cada conquista minha, tenham me incentivado a me esforçar ainda
mais, e nisso eu espelho minha perseverança que neles encontrei.
Às minhas irmãs Silvia, Simone e Aline, demais amigos que de alguma forma
deram-me força e coragem para abordar um tema polêmico como a Cannabis
Sativa. Espero que a pesquisa traga mudanças no pensamento de nossa sociedade,
que atualmente ainda a nega na ciência.
Agradeço a Anaceli Lachman da Cruz, que me acolheu em sua casa para que
eu pudesse ter um lugar mais tranquilo e silencioso para me aprofundar nas leituras
e na confecção deste trabalho, além de cozinhar muito bem, me deu energia para
sobressair os aprofundamentos necessários sobre a cannabis medicinal, o que me
felicita.
E por fim, não menos importante, agradeço meu orientador Prof. Dr. Júlio
Cezar Bittencourt Silva por referenciar o direito administrativo como precursor de
uma regulamentação acerca do tema proposto ut supra, e confiar em mim a
pesquisa e execução deste Trabalho de Conclusão do Curso de Direito.
“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes.
Os criadores de caso. Os pinos redondos nos
buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de
forma diferente. Eles não curtem regras. E não
respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar
deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa
que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles
mudam as coisas. Empurram a raça humana para a
frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós
os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o
bastante para acreditar que podem mudar o mundo,
são as que o mudam”.
Jack Kerouac
RESUMO
Este trabalho tem como base, referenciados artigos científicos, jornais e palestras,
localizados via internet, também através do canal de mídia YouTube. Fontes
relacionadas à Cannabis sativa, seus usos e efeitos, pretendendo levar a discussão
quanto ao autocultivo medicinal e recreativo. Tendo como resultados promissores
trazer luz ao tópico relacionado à regulamentação e o uso dos potenciais terapêuticos
da maconha.
The aim of this work is to discuss the regulation of the self-cultivation of Cannabis
Sativa, freeing the State from the costs of importing medicine, as well as expand its
access to patients and organizations, crucial to the democratization of the Right to
Health and Life. From the rise of regulatory agencies and how the regulation of
marijuana in Brazil happens nowadays. Thus, this research was conducted in the light
of scientific articles, media, internet and speeches related to Cannabis Sativa available
on YouTube, as well as its uses and effects. The present research intends to lead to
a discussion about medicinal and recreational self-cultivation, having as promising
results bringing light to the topic concerning the regulation and potential therapeutic
use of marijuana.
CBD – Canabidiol
CS – Cannabis Sativa
D9-THC - delta-9-tetrahidrocanabinol
HC – Habeas Corpus
THC - Tetraidrocanabinol
VS - Vigilância Sanitária
INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
1 - FUNÇÃO REGULATÓRIA DO ESTADO ..........................................................3
1.1. ORIGEM E CONCEITUAÇÃO ..........................................................................3
1.2. REGULAÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL E ADMINISTRATIVA ...........................5
1.3. AGÊNCIAS REGULADORAS ...........................................................................7
2 – MACONHA, CANABINÓIDES, SISTEMA CANABINÓIDE E ANVISA ............11
2.1. ORIGEM DA MACONHA E SEUS USOS TERAPÊUTICOS ...........................11
2.2. CANABINÓIDES E RECEPTORES CANABINÓIDES .....................................18
2.3. ATUAL REGULAMENTAÇÃO DA ANVISA ......................................................25
3 – O AUTOCULTIVO, JUDICIALIZAÇÃO E A PL 399/2015 ................................28
3.1. AUTOCULTIVO, REDUÇÃO DE CUSTOS E ACESSO DOS PACIENTES …28
3.2. JUDICIALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO .....................................................32
3.3. PROJETO LEI Nº 399/2015 ..............................................................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................41
REFERÊNCIAS .......................................................................................................45
1
INTRODUÇÃO
O capítulo um, aborda a função regulatória do Estado, fala-se sobre sua origem
e conceituação. Inclui como centro o Estado, que delimita o meio social, administrativo
2
para a iniciativa privada para desempenhar o papel central deste exercício e das mais
variadas atividades (MOREIRA e CAGGIANO, 2013).
Pois bem, deve o Estado conter os excessos dos agentes que detêm poder
econômico. Sendo necessária que estas mudanças e adaptações captem as
mudanças econômicas e sociais, e utilizando o contexto da realidade para ser o
instrumento para a efetividade de permissão, através da supremacia do interesse
público (GUERRA et al., 2017, p. 21).
Por isso, “a regulação normativa deve ser praticada por meio de uma
interpretação voltada para frente, orientada à ponderação de interesses, custos, ônus
e benefícios da ação regulatória” (GUERRA, apud GUERRA, 2017, p. 116).
1
Cannabis sativa L. es una planta anual que pertenece a la familia Cannabaceae, fue clasificada
botánicamente por primera vez en 1753 por Carl Linnaeus. Posteriormente, en 1785, Jean Baptiste
Lamarck descubre otra especie a la cual denomina C. indica.
12
Esta planta originária da Ásia, ao qual seu uso para a produção de vários
produtos têxteis data de 4000 a.C., enquanto seu registro na medicina tradicional data
de 2700 a.C. e desde a antiguidade já se conhecia popularmente seus usos
popularmente2 (ANGELEZ LOPEZ et al., 2014).
Orienta ROBINSON:
2
C. sativa es originaria de Asia2,3 y su uso para producir fibras y confeccionar diversos productos
textiles, data del 4000 a.C., mientras que su registro de uso en la medicina tradicional data de 2700
a.C. De acuerdo al conocimiento popular, se le han atribuido propiedades analgésicas, relajantes
musculares, antidepresivas, hipnóticas, inmunosupresoras, antiinflamatorias, ansiolíticas,
broncodilatadoras, entre otras.
13
naturais que podem aliviar dores. Na obra, a planta é atribuída à melhora de dores
articulares e inflamações. Do século I até o século XVIII, o livro se tornou referência
no tema (GROSSO et al., 2020).
“A folha de maconha por muito tempo foi insumo das dinâmicas sociais e
econômicas na Europa, desde a época paleolítica – em tal período, ainda
popularmente chamada de cânhamo, – sendo ela considerada um dos principais
produtos agrícolas daquela região” (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020 p. 66).
A maconha no Brasil tem relação direta com sua descoberta, dado que a
maconha é uma planta exótica, sendo trazida para cá através dos escravos negros,
foi assim que possui a denominação fumo-de-Angola. Seu uso foi disseminado
rapidamente entre os negros e índios que passaram a cultivar (CARLINI, 2006).
"A planta teria sido introduzida em nosso país, a partir de 1549, pelos negros
escravos, como alude Pedro Corrêa, e as sementes de cânhamo eram trazidas em
bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas" (ROSADO, apud CARLINI,
2006).
CRIPPA et al.,
A planta Cannabis sativa vem sendo usada para fins medicinais há milhares
de anos, por diferentes povos e em diversas culturas, embora hoje se
conheçam também seus efeitos adversos. Há indicações do uso da planta na
China antes da Era Cristã para tratamento de inúmeras condições médicas
como constipação intestinal, dores, malária, expectoração, epilepsia,
tuberculose, entre outras (2010, p. 56).
Tanto que se pode aproveitar quase toda a planta, pois proporciona fibras
têxteis, combustível, alimento, e como fonte de medicamentos. A planta passou da
coleta ao cultivo, e se discute se este foi o primeiro exemplo de domesticação 3
(ANGELEZ LOPEZ et al., 2014).
3
La planta pasó de ser recolectada a ser cultivada e incluso se discute si fue el primer ejemplo de
domesticación.
15
E que a espécie se aperfeiçoou graças aos chineses, pois sua exploração levou
a descobertas de plantas femininas e masculinas destas espécies 5 (ANGELEZ
LOPEZ et al., 2014).
4
Ha sido utilizada des dela Antigüedad como alimento, fuente de fibra, droga y medicina.
5
La especie se perfeccionó para su explotación gracias a su cultivo y los primeros botánicos chinos
describen la existencia de plantas femeninas y masculinas en esta especie.
6
No início da era cristã, Plínio "o velho", Dioscórides e Galeno descreveram as possíveis aplicações
médicas da cannabis como analgésico e anti-inflamatório, embora fosse indicado o efeito psicogênico
que seu uso poderia produzir. Durante o século XIX, as aplicações espalharam a cannabis medicinal e
recreativa na Europa e nos Estados Unidos
7
El ciclo natural de C. sativa comienza en la primavera con la germinación de las semillas. La etapa de
crecimiento vegetativo se lleva a cabo en mediados del verano, hasta que las plantas comienzan a
florecer. El desarrollo floral se mantiene durante dos o tres meses y, para la mayoría de las variedades,
la cosecha óptima se da a principios del otoño
16
8
Recientemente su empleo terapéutico en pacientes con patologías crónicas de difícil tratamiento es
objeto de estudios clínicos, además de usar-se frecuentemente off label en búsqueda de soluciones
17
terapéuticas que contribuyan a mejorar síntomas discapacitantes y la calidad de vida. En los últimos
tiempos se han efectuado y continúan desarrollándose estudios científicos acerca de la fisiología del
sistema endocannabinoide, lo que justificaría la potencial utilización terapêutica del cannabis como
interessante recurso em el ámbito de la salud.
9
Atualmente, fontes de informação muito valiosas foram geradas que correlacionam a espécie botânica
Cannabis sativa L e seus metabólitos secundários com medicamentos (tratamento terapêutico),
farmacologia (modelos experimentais) e química sintética (desenho e geração de novas estruturas e
análogos de bio ésteres), que apoiam a importância do estudo desta planta, seus extratos, metabólitos,
precursores e análogos naturais e sintéticos como fonte de agentes terapêuticos.
18
10
O uso medicinal de cannabis é entendido como a modalidade de uso desta planta (ou seus derivados)
com o objetivo de aliviar sintomas, tratar um estado ou condição médica.
11
El interés científico ha observado este fenómeno mostrando diferencias respecto a las implicancias,
aporte e impacto que el umc tendría para la salud, provocando una serie de procesos políticos,
legislativos y judiciales en diferentes lugares del mundo para analizar el valor real del uso de cannabis
para fines médicos y terapéuticos
19
O que chama a atenção pois “o canabidiol parece ser eficaz no controle da dor
da endometriose, entre outras condições, particularmente naquelas que podem ser
consideradas como dor mediada pelo SEC” (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO,
2017, p. 49).
doenças, especialmente o CBD (MATOS et al., 2017, apud GURGEL et al., 2019, p.
285).
Sobre este assunto, de forma lúcida, HONÓRIO et al. declara que, o primeiro
canabinóide endógeno descoberto foi o araquidoniletanolamina, conhecido como
anandamida (2006).
12
El sistema endocannabinoide humano, encargado de modular múltiples procesos orgánicos
específicos, posee ligandos endógenos y enzimas de producción propia.
21
Nota-se que o “SEC está ativo tanto no sistema nervoso central (SNC) quanto
no sistema nervoso periférico atuando na modulação espinhal, supraespinhal e
periférica da dor. As substâncias endocanabinóides são produzidas por demanda no
SNC, com o objetivo de reduzir a sensibilidade à dor. Diversos estudos já
documentaram a existência de alta atividade do SEC em centros chaves de integração
da dor” (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p, 48-49).
13
Los receptores más importantes son el receptor cannabinoide tipo1 (RCB1) y receptor cannabinoide
tipo 2 (RCB2), a los cuales pueden, unirse tanto ligandos endógenos: anandamida y el 2-
araquidonilglicerol (2AG), como también fitocannabinoides: delta-9-THC (tetrahidrocannabinol) y
cannabidiol (CBD).
14
Este notable descubrimiento fue publicado en la prestigiosa revista Science y motivó unas 4852 citas
en otros artículos científicos. El sistema endocannabinoide fue identificado en mamíferos, pájaros,
anfibios, peces, etc. y ha sido bien investigado; no obstante, el modo en que actúan los cannabinoides
con interés terapéutico, entre ellos el canabidiol.
22
15
La acción de los cannabinoides es mediada a través de receptores CB1 presentes principalmente en
el sistema nervioso central y de receptores CB2 en tracto gastrointestinal, sistema nervioso periférico,
bazo y células del sistema inmune.
16
La participación de los endocanabinoides y análogos sintéticos en diversas funciones
fisiológicas,9 como antinocicepción, control de movimiento, memoria, aprendizaje y desarrollo cerebral,
explica algunos de los efectos beneficiosos atribuidos a los canabinoides en el tratamiento de diversas
enfermedades que afectan el sistema nervioso central (SNC).
17
En la actualidad es objeto de estudios la posibilidad de utilización de inhibidores del sistema de
recaptación de anandamida en el tratamiento de la esclerosis múltiple y el corea de Huntington; para
tratar el glaucoma; en pacientes con enfermedad de Parkinson y obtener una mejora de las
disfunciones cognitivas producidas por la enfermedad de Alzheimer
18
La administración de canabinoides ha demostrado efectividad terapéutica en el tratamiento de
glaucoma, asma bronquial, ciertos trastornos motores y diversas enfermedades neurodegenerativas.
Asimismo, es notable su capacidad para inhibir la emesis -asociada a terapias antitumorales y aumentar
el apetito, como agentes analgésicos y antinociceptivos e incluso su potencial utilidad para inhibir el
crecimiento neoplásico de ciertos tumores.
23
19
La más reciente revisión sistemática, publicada en agosto de 2017, analiza 22 ensayos clínicos que
en totalidad incluyen 795 niños. Solo cinco son ensayos clínicos controlados. La mayor evidencia es
para su uso como antiemético, analgésico y antiepiléptico.
24
20
En todos los casos es importante que los médicos que prescriben derivados cannábicos, y los que
realizan el seguimiento se encuentren informados, y realicen una farmacovigilancia activa mediante el
registro responsable de los beneficios encontrados y los efectos adversos permitiendo conocer más el
perfil de seguridad de estos productos.
25
21
El impacto mundial que ha generado Uruguay al legalizar el autocultivo de cannabis ha puesto en la
mirada de los países europeos por dicha actividad, el país oriental de la mano de su presidente, en ese
entonces el señor José Mujica tuvo la valentía de romper ese paradigma y reguló todas las actividades
como la siembra, producción, comercialización, etc. y se convirtió en un gigante a nivel mundial, sin
duda que es un ejemplo a seguir y que debemos seguir sus acciones que ha venido haciendo
relacionada a la actividad del cannabis, este país es el pionero en América Latina en dejar atrás ese
paradigma conservador que le hacía tanto daño a un sector de su población de manera tal que el
Derecho a la salud no se estaba ejerciéndose de manera eficiente
22
Sin duda que Uruguay se posiciona, así como un núcleo fundamental de la industria cannábica del
mundo. El país tiene una regulación nacional e integral que cubre todas las dimensiones posibles para
manipulación y producción, desde el uso industrial al recreativo, medicinal, industrialización de plantas.
23
Nos referimos a las plantaciones o sembríos de marihuana para uso medicinal o recreativo, es quizás
una de las practicas más comunes en gran parte del mundo que se realiza de manera clandestina por
ser considerada una droga y esto debido a la falta de regulación por parte de algunos estados
29
que atendam a demanda individual passam a recorrer, mas ainda em nosso país ser
um cultivador é ilegal (2019).
“O particular ativismo das mães diante da ANVISA, a demanda por autocultivo,
a pressão política sofrida pela agência, e o status de proibição do canabidiol são
elementos que dialogam com controvérsias anteriores: como as regulamentações que
levaram à proibição de substâncias psicoativas no início do século XX” (OLIVEIRA,
2017, p. 195).
A produção artesanal é vista de forma marginalizada, dado a desinformação e
conservadorismo, que bloqueiam a discussão acerca do tema. Não propiciam um
melhor ajuste entre pacientes, sociedade, ciência e direito sobretudo à vida.
Assim, nas palavras de BOSI et al., devem atentar o ente regulador:
24
la salud es un Derecho elemental que tienen todas las personas porque es, en realidad, equivalente
al propio Derecho a la vida.
30
25
A participação e incorporação voluntária do paciente e de seus familiares, que poderão contribuir
com sua experiência, conhecimento empírico, vivências e métodos utilizados para o seu autocuidado.
26
Através da prática do autocultivo, as pessoas podem obter extratos ricos em canabinóides,
encontrando o tratamento que melhor se adapta e se ajusta às suas reais necessidades de bem-estar.
32
média produzirem o óleo medicinal. O custo estaria em adquirir o frasco para alocar,
o custo de envio para os estados brasileiros e a conta de luz. (OLIVEIRA, 2020).
Busca-se desconstruir e combater as nuances pejorativas e marginalizados
atribuídos a legalização da maconha para fins recreativos, medicinais e industriais,,
ao qual, alguns grupos se mobilizam e buscam por meio de Projetos Lei, avançar ao
posto de sua legalidade, dado ao fato que a regulação consegue-se combater ou
reduzir problema sociais, violência pelo narcotráfico, o comercio ilegal de substâncias
adulteradas, os gastos do governo para sanar esses problemas sociais gerados,
inclusive o fomento de pesquisa. (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).
Assinala que “la línea de preservar los beneficios económicos, los costes del
tratamiento son muy elevados y la accesibilidad al cannabis es muy baja”27 (BERGUA
et al., 2020).
Contudo, medidas regulatórias mais abrangentes são requeridas,
considerando a cadeia de desenvolvimento tecnológico e produção, a partir do cultivo
da planta, assim como o necessário reconhecimento dos medicamentos, contendo os
canabinóides como estratégicos, pelo Sistema Único de Saúde (VILLAS BÔAS,
2020).
“Un marco regulatorio seguro, médica y jurídicamente, y respaldado por una
producción legislativa completa, dónde quienes quisiesen disponer de esos productos
para comenzar un tratamiento médico con cannabinoides, pudieran hacerlo con todas
las garantias28 (BERGUA et al., 2020).
E justamente pelas dificuldades que os enfermos passam para conseguir o
tratamento com o canabidiol no âmbito administrativo, que há uma grande provocação
do judiciário, devido a ineficiência das políticas públicas, devendo o judiciário
salvaguardar a sua tutela (TABORDA, 2010, apud GURGEL et al., 2019).
27
A linha de preservação dos benefícios econômicos, os custos do tratamento são muito altos e o
acesso à cannabis é muito baixa.
28
Um quadro regulamentar seguro, do ponto de vista médico e jurídico, e amparado por uma produção
legislativa completa, onde quem gostaria de ter estes produtos para iniciar um tratamento médico com
canabinóides, o poderia fazer com todas as garantias.
33
29
Garantir a acessibilidade aos programas de saúde pública com cannabis medicinal, envolve o
autocultivo individual ou coletiva para consumo pessoal regulamentado, como uma ferramenta que
35
oferece todas as garantias aos pacientes para que tenham a cannabis de que precisam para satisfazer
o seu tratamento terapêutico, sem incorrer em qualquer tipo de crime, nem sujeitando à criminalização
e estigma social de ingressar em circuitos ilícitos. Assim, a consideração dos direitos fundamentais dos
usuários implica necessariamente de mecanismos suficientes para que o acesso à cannabis medicinal
seja garantido, independentemente das condições socioeconômicas e das capacidades de quem busca
ter acesso ao tratamento.
36
ferramenta terapêutica. “Embora haja um discurso falacioso, juízes não tiveram como
negar o direito ao uso medicinal e começamos a fissurar a proibição a partir de uma
advocacia baseada em evidências científicas. Magistrados acolheram isso como
argumento de autoridade científica” (PODER360, 2021).
Neste caso, um marco histórico se faz presente neste mês de junho, pois a
comissão especial da Câmara dos Deputados que analisou o Projeto de Lei 399/15
aprovou parecer favorável à legalização do cultivo no Brasil, exclusivamente para fins
medicinais, veterinários, científicos e industriais, da Cannabis sativa, planta também
usada para produzir a maconha. (BRASIL, 2021).
38
de que o relatório está sendo votado às `'escondidas", e que para ele é uma maneira
de legalizar o plantio e a comercialização de maconha no Brasil (UNIAD, 2021).
Para o deputado federal Diego Garcia (PHS/PR), o relatório da PL 399/15
deveria ser “enterrado”, in verbis:
O que está em jogo agora não é mais o interesse da família, mas da indústria
que quer faturar e ganhar muito no território nacional e daqueles que querem
liberar as drogas no nosso país a todo custo. Tanto que quando disse que
alguns partidos queriam a liberação das drogas, ninguém teve condições de
me contradizer, o que demonstra claramente o interesse de muitos
parlamentares que estão votando aqui. Nós não vamos liberar a maconha no
Brasil e vamos continuar trabalhando para derrubar o relatório do deputado
Luciano Ducci. (UNIAD, 2021).
“Esse texto atual tem o objetivo claro de permitir o plantio em larga escala da
maconha e a fabricação de derivados da maconha para fins industriais,
cosméticos e inclusive para fins alimentícios. É um grande absurdo o que
está acontecendo aqui! Por isso, nós estamos articulando para que esse
famigerado projeto não siga adiante na Câmara dos Deputados” (UNIAD,
2021).
“Nós não podemos cair no canto da sereia de projetos como esse, que se
apresenta como algo que vai ajudar as pessoas a ter acesso a medicação,
quando basicamente o que faz é buscar legalizar a maconha no Brasil. Esse
projeto, se for aprovado, cria o Marco Regulatório da Maconha no Brasil, ou
seja, é tudo fachada essa questão de liberar remédio. É apenas uma brecha
que aqueles que defendem a legalização das drogas tem usado para colocar
goela abaixo da sociedade brasileira essa situação e nós somos
absolutamente contra e seguiremos lutando até o final para que isso não siga
adiante” (UNIAD, 2021).
não pode. A esquerda sempre pega uma oportunidade para querer liberar as drogas”
(UNIAD, 2021).
Opostamente, o neurocirurgião funcional e diretor médico do Centro de
Excelência Canabinóide (CEC), Dr. Pedro Antônio Pierro Neto, afirma que a cannabis
não é um novo tratamento para a dor, e sim um dos mais antigos, mas que é novo
para a área médica. Dos quais, nos últimos anos a ciência se aprofundou, possuindo
assim ensaios clínicos envolvendo placebos, randomizados e duplo-cego, condições
estas fundamentais para uma boa evidência científica. E, que em 2020 é estimado em
torno de 3 mil publicações científicas foram publicadas sobre o referido tema
(FORATO, 2021).
O presidente do Conselho Nacional de Medicina (CFM), o Dr. Mauro Ribeiro,
em entrevista que era para falar sobre a covid-19 relacionou a cannabis, ao dizer que
a ciência muda, admitindo que foi contra o uso para o fitofármaco e suas propriedades
medicinais. Ao caso que, nesses últimos tempos tem se mostrado a favor, como
relatado na entrevista, além do reconhecimento de suas propriedades medicinais.
(CAVALCANTE, 2021).
Felizmente, contra esses tempos medievais que passamos, a maioria da
população não coaduna com tal negacionismo, tanto que, a pesquisa divulgada pela
revista Exame e Instituto Ideia reforça que 78% dos brasileiros são favoráveis ao uso
medicinal e que usariam caso fosse indicado pelo médico (PEDROSO, 2021).
Outro fator importante, é a discussão iniciada na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, de autoria do deputado
Goura (PDT), a PL 962/2019, que determina o acesso de medicamentos e produtos,
industrializados ou artesanais, assegurado por meio de associações autorizadas para
a produção, distribuição, importação e comercialização a base de CBD e THC. A
matéria teve parecer favorável do relator, deputado Paulo Litro (PSBD), e recebeu
pedido de vistas coletivo, devendo retornar as pautas das sessões (ALONSO, 2021).
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS