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SAULO JOSÉ ANCIUT PIRES

AUTOCULTIVO: DESONERAÇÃO DO ESTADO E ACESSO AO TRATAMENTO


MEDICINAL COM CANNABIS SATIVA

CURITIBA
2021
SAULO JOSÉ ANCIUT PIRES

AUTOCULTIVO: DESONERAÇÃO DO ESTADO E ACESSO AO TRATAMENTO MEDICINAL COM


CANNABIS SATIVA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


APRESENTADO AO CURSO DE DIREITO DAS
FACULDADES OPET COMO REQUISITO PARCIAL
PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
BACHARELADO EM DIREITO.

Orientador: Prof. Dr. Júlio Cezar Bittencourt Silva

CURITIBA
2021
SAULO JOSÉ ANCIUT PIRES

AUTOCULTIVO: DESONERAÇÃO DO ESTADO E ACESSO AO TRATAMENTO MEDICINAL COM


CANNABIS SATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Direito do Centro Universitário UniOpet, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Orientador: Prof. Dr. Júlio Cezar Bittencourt Silva

Prof. Membro da Banca

______________________________
Prof. Membro da Banca

Curitiba, 23 de junho de 2021.


Dedico este trabalho a mim e aos demais
estudantes e pesquisadores, almejando que
possam aprofundar-se ainda mais acerca do
tema, e auxiliando a vida de inúmeros
pacientes.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe a senhora Rosa Anciut Pires e meu pai o senhor José
Anciut Pires, por terem dedicado a vida a me criar e auxiliar meus estudos, mesmo
nos momentos mais difíceis de minha vida, onde não desistiram de mim. A cada
passo dado, a cada conquista minha, tenham me incentivado a me esforçar ainda
mais, e nisso eu espelho minha perseverança que neles encontrei.

Às minhas irmãs Silvia, Simone e Aline, demais amigos que de alguma forma
deram-me força e coragem para abordar um tema polêmico como a Cannabis
Sativa. Espero que a pesquisa traga mudanças no pensamento de nossa sociedade,
que atualmente ainda a nega na ciência.

Agradeço a Anaceli Lachman da Cruz, que me acolheu em sua casa para que
eu pudesse ter um lugar mais tranquilo e silencioso para me aprofundar nas leituras
e na confecção deste trabalho, além de cozinhar muito bem, me deu energia para
sobressair os aprofundamentos necessários sobre a cannabis medicinal, o que me
felicita.

E por fim, não menos importante, agradeço meu orientador Prof. Dr. Júlio
Cezar Bittencourt Silva por referenciar o direito administrativo como precursor de
uma regulamentação acerca do tema proposto ut supra, e confiar em mim a
pesquisa e execução deste Trabalho de Conclusão do Curso de Direito.
“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes.
Os criadores de caso. Os pinos redondos nos
buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de
forma diferente. Eles não curtem regras. E não
respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar
deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa
que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles
mudam as coisas. Empurram a raça humana para a
frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós
os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o
bastante para acreditar que podem mudar o mundo,
são as que o mudam”.

Jack Kerouac
RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo abordar a regulamentação do autocultivo da


Cannabis sativa como meio medicinal, desonerando o Estado de custear
medicamentos importados, ampliando assim, o acesso para pacientes e associações,
aspecto esse, fundamental para uma democratização do Direito a Saúde e à Vida.
Partindo do surgimento das agências reguladoras, e a forma que se dá a
regulamentação do uso da maconha no Brasil nos dias atuais.

Este trabalho tem como base, referenciados artigos científicos, jornais e palestras,
localizados via internet, também através do canal de mídia YouTube. Fontes
relacionadas à Cannabis sativa, seus usos e efeitos, pretendendo levar a discussão
quanto ao autocultivo medicinal e recreativo. Tendo como resultados promissores
trazer luz ao tópico relacionado à regulamentação e o uso dos potenciais terapêuticos
da maconha.

Palavras-chaves: Cannabis Sativa; Regulamentação; ANVISA; PL 399/15;


Autocultivo.
ABSTRACT

The aim of this work is to discuss the regulation of the self-cultivation of Cannabis
Sativa, freeing the State from the costs of importing medicine, as well as expand its
access to patients and organizations, crucial to the democratization of the Right to
Health and Life. From the rise of regulatory agencies and how the regulation of
marijuana in Brazil happens nowadays. Thus, this research was conducted in the light
of scientific articles, media, internet and speeches related to Cannabis Sativa available
on YouTube, as well as its uses and effects. The present research intends to lead to
a discussion about medicinal and recreational self-cultivation, having as promising
results bringing light to the topic concerning the regulation and potential therapeutic
use of marijuana.

Keywords: Cannabis Sativa; Regulation; ANVISA; PL 399/15; Self-cultivation.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ABRACE - Associação Brasileira Apoio Cannabis Esperança

APEPI - Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal

CB1 – Receptor endocanabinóide 1

CB2 – Receptor endocanabinóide 2

CBD – Canabidiol

CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

CFM – Conselho Federal de Medicina

CS – Cannabis Sativa

D9-THC - delta-9-tetrahidrocanabinol

HC – Habeas Corpus

LAFEPE - Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco

THC - Tetraidrocanabinol

PND – Plano Nacional de Desestatização

PUBMED – Livraria nacional de Medicina

SEC/SCE – Sistema Endocabinóide / Canabinóide Endógeno

SNC – Sistema Nervoso Central

SUS – Sistema Único de Saúde

VS - Vigilância Sanitária

2AG – 2-aranoquidonoil glicerol


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
1 - FUNÇÃO REGULATÓRIA DO ESTADO ..........................................................3
1.1. ORIGEM E CONCEITUAÇÃO ..........................................................................3
1.2. REGULAÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL E ADMINISTRATIVA ...........................5
1.3. AGÊNCIAS REGULADORAS ...........................................................................7
2 – MACONHA, CANABINÓIDES, SISTEMA CANABINÓIDE E ANVISA ............11
2.1. ORIGEM DA MACONHA E SEUS USOS TERAPÊUTICOS ...........................11
2.2. CANABINÓIDES E RECEPTORES CANABINÓIDES .....................................18
2.3. ATUAL REGULAMENTAÇÃO DA ANVISA ......................................................25
3 – O AUTOCULTIVO, JUDICIALIZAÇÃO E A PL 399/2015 ................................28
3.1. AUTOCULTIVO, REDUÇÃO DE CUSTOS E ACESSO DOS PACIENTES …28
3.2. JUDICIALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO .....................................................32
3.3. PROJETO LEI Nº 399/2015 ..............................................................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................41
REFERÊNCIAS .......................................................................................................45
1

INTRODUÇÃO

O autocultivo da Cannabis Sativa é um tabu em nossa sociedade, possuindo


um olhar de marginalização de quem faz o uso dessa planta, boicotando assim o
acesso a Cannabis Medicinal, a discussão sobre o tema, e culminando na enxurrada
de Habeas Corpus impetrados por pacientes para conseguir salvo-conduto, para que
possa produzir seu próprio remédio através da maconha plantada em seu próprio
quintal, ou por via de associações já autorizadas para o cultivo.

O presente trabalho versará a respeito do autocultivo de Cannabis sativa,


regulação, o acesso a Cannabis Medicinal, relato de pacientes, cultivadores e novos
parâmetros do crescente mercado internacional da Cannabis sativa, novas
perspectivas de regulamentação no Brasil com a votação da proposta de Lei
399/2015, juntamente com indício de fomento sobre o tema na Assembleia Legislativa
do Paraná através do Projeto Lei 962/2019, e as atuais discussões sobre seu uso e
relação dos pacientes em como obter seus derivados.

Este estudo teve por função a análise bibliográfica encontrada em trabalhos


científicos nos portais Scielo e PUBMED. Ademais, utilizados artigos publicados em
língua estrangeira (espanhol), dado ao fato que as discussões em alguns países
latino-americanos estão adiantadas acerca do tema, sites de notícias, veículos
comunicadores, palestras, documentários exibidos pela plataforma Youtube.

O apanhado de informações possui o objetivo de aclarar as discussões sobre


a Cannabis sativa e seu uso medicinal, e o barateamento de custos através do
autocultivo, atendendo a população hipossuficiente, além de dar uma melhor
regulamentação para cultivo, beneficiamento e fomento na economia do país, além
de trazer luzes aos tempos de negação científica. Quais novas perspectivas são
esperadas no Brasil e a progressão sobre a Cannabis Medicinal abrirá caminho para
uma regulação sobre autocultivo, também sobre o uso adulto responsável.

O capítulo um, aborda a função regulatória do Estado, fala-se sobre sua origem
e conceituação. Inclui como centro o Estado, que delimita o meio social, administrativo
2

e econômico através das suas agências reguladoras. A criação das agências


reguladoras e seu breve histórico no mundo, posterior, as agências reguladoras no
Brasil, e, por fim, a criação da ANVISA.

Num segundo capítulo, discute-se a origem da maconha e seus efeitos


terapêuticos utilizados por milhares de anos por nossos ancestrais, sendo ela
cultivada e selecionada. Com vasta descrição sobre seus usos e benefícios.
Explicando-se o que são os canabinóides que se encontram na planta e o sistema
endocanabinóide. Qual é a regulamentação e o parecer e pensamento atual da
ANVISA.

No terceiro capítulo, marca o retrato do autocultivo e a preferência sobre o óleo


artesanal, seu baixo custo, e de fácil acesso. A utilização de outros meios de obtenção
do óleo ou a importação de medicamentos, através da judicialização e impetração de
Habeas Corpus. Ademais, sobre o recém aprovado na comissão da câmara o PL
399/2015, e recém-criado na CCJ da Assembleia Legislativa do Paraná o PL
962/2019.

De maneira sucinta, nas considerações finais, trata-se a respeito dos


resultados desse trabalho no âmbito do direito e que possa vir a contribuir para o meio
científico-acadêmico e social. Contudo, me coloco na posição de sugerir novos
trabalhos futuros relacionados ao tema.
3

1 – FUNÇÃO REGULATÓRIA DO ESTADO

1.1. ORIGEM E CONCEITUAÇÃO

O Direito Constitucional e a noção de Constituição consolidaram-se com o


advento das revoluções burguesas do século XVIII. Até a Independência Norte
Americana e a Revolução Francesa inexistia a própria noção de Direito Público e dos
princípios dele decorrentes. O que se verificava eram abusos por parte do Império
Britânico e do Ancien Regime (MOREIRA e CAGGIANO, 2013).
Dado ao meio das ideias iluministas, com a grande influência da compreensão
de que o homem rege suas próprias leis. Assim, visou a instituir o Estado, a
organização política, os limites de poder e assegurando os direitos universais
(MOREIRA e CAGGIANO 2013).
A noção de serviço público nasceu na França, com Hauriou, em 1921. Em uma
concepção bastante incipiente, Hauriou definia serviço público como “serviço técnico
prestado ao público de maneira regular e contínua para satisfazer a ordem pública por
meio de uma organização pública” (SALOMÃO FILHO, 2008, p. 23-24).
Portanto, o direito administrativo brasileiro influenciado por tais pensamentos
revolucionários oitocentistas, seguindo o influxo do direito administrativo francês
atrelado a um conjunto de condições burocráticas criadas pelo Poder Legislativo. Este
conjunto de modelo de estado social, ao qual tinha uma forte intervenção estatal
executiva direta nas atividades econômicas. (MOREIRA, 2017, p. 3).
Esse modelo de Estado liberal, apoiado no jusnaturalismo, cede lugar a uma
busca pelo bem-estar social, mediante a uma sociedade que seja sensível a mediar
conflitos, não apenas às letras frias da lei, mas aos princípios. (GUERRA, 2017, p. 8).
Esta nomenclatura de “Estado regulador” é uma maneira imprópria, “visto que
no Brasil algumas das maiores empresas dos mais importantes setores da economia
são públicas” (MOREIRA e CAGGIANO, 2013).
“Como no sistema de telecomunicações, petróleo, saneamento básico, saúde,
transporte e os demais serviços públicos” (SOUTO, 2008, p. 2).
Portanto, pode-se notar que a sociedade atual necessita de uma ampliação,
não como a rigidez do século XIX e da primeira metade do século XX. Pois, atualmente
4

o mundo teve grandes transformações com o fenômeno da globalização, forçando a


sociedade a repensar sobre como dá-se seu regimento e suas instituições (GUERRA,
2017, p.3).
Segundo Marcos Juruena Villela SOUTO, enfatiza a globalização:

A globalização forçou com que a sociedade repensasse a função, a estrutura


e o custo dos Estados, especialmente à luz dos princípios da subsidiariedade
e da eficiência. [...] essa transição balança alicerces de há muito solidificados
no Direito Administrativo e que, por isso, precisam ser revistos para
acompanhar a evolução dos fatos nos planos econômico e social,
proporcionando um necessário e seguro travejamento jurídico para as novas
relações que se produzem no campo em expansão do público não estatal.
[...] A globalização da economia tem ampliado as fronteiras comerciais entre
os países gerando blocos econômicos e acordos internacionais que colocam
a Administração Pública, direta e indireta, cada vez mais em contato com
outros países, organismos internacionais — especialmente os de fomento —
e cidadãos que adquirem liberdade de circulação e de ofício, com igualdade
de tratamento, forçando, com isso, o aparecimento de novo aspecto no
estudo do Direito Administrativo (apud GUERRA, 2017, p. 3-4).

Diante disso, foi posterior a década de 1990 que a temática do “direito


regulatório” ficou mais evidente, pode-se constatar que, a partir de então, a regulação
econômica passou a assumir função antes estrutural do circunstancial (MOREIRA,
2013, p. 89).

A Constituição de 1988 constitui o ponto de partida para se compreender as


mudanças observadas na forma de participação do Estado na economia nos últimos
anos (GUERRA, 2017, p. 12).

Pode-se retirar do verbo “regular”, o substantivo “regulação”, assim tem por


denotação de instaurar normas, regras, disciplina, estabelecer parâmetros, condutas
ou situações. No aspecto econômico, é um conjunto de ações e parâmetros que visam
estabelecer a conduta econômica através de ações jurídicas (MOREIRA, 2013, p. 91-
92).

Sobre o assunto elucida MARQUES NETO:

A função estatal de agente regulador da atividade econômica constasse já do


texto original da Constituição de 1988 (artigo 174, caput), a atividade
regulatória estatal em face da economia ainda suscita, em parte da doutrina
de direito econômico e de direito administrativo, alguma comiseração, quase
um preconceito intelectual. A três razões pode ser atribuído este fato. De um
lado, tem-se a circunstância histórica da emergência e fortalecimento do
5

papel regulatório estatal coincidir com os processos de redução da


intervenção estatal direta na economia, favorecendo a confusão entre
privatização e regulação, como se àquela correspondesse, sempre, um
processo de desregulação. De outro lado, este preconceito se nutre com o
fato de que a intervenção regulatória (em contraponto com a intervenção
estatal direta) corresponde muito à experiência americana, distante, pois,
tanto do direito europeu continental quanto do modelo de intervenção
econômica nos quais nos inspiramos. Há, por fim, a perplexidade diante das
profundas mudanças estruturais, axiológicas e conceituais propiciadas pela
emergência do Estado predominantemente regulador (2011, p. 73).

Para tal, ao transferir algumas atividades de utilidade pública à execução por


particulares, o Estado não deixou de possuir influência sobre a atividade econômica,
mesmo com o processo de desestatização, mas sua tradicional participação direta foi
substituída por uma intervenção na indução, e na direção (GUERRA, 2017, p. 15).

Essas transformações sucederam a ênfase à função reguladora, portanto o


Estado brasileiro passa a influenciar indiretamente na ordem econômica. Em um
modelo em que a política é fixada pelo Congresso Nacional, por meio de lei. Dado a
desestatização, essas parcelas de prestação de serviços foram passadas para a
partição privada, mas havendo uma separação das tarefas de regulação das de
exploração (PEREIRA MESQUITA, 2005, p. 23).

Com o diagnóstico acima não é surpreendente que, em 1988, o Constituinte


brasileiro e, posteriormente, o Poder Constituinte Derivado (por emendas
constitucionais) tenham pretendido inaugurar uma nova forma de participação estatal
na vida econômica (GUERRA, 2017, p. 17).

1.2 REGULAÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL E ADMINISTRATIVA

O objeto denominado “Direito da regulação” é entendido como ações estatais


dirigidas a influenciar a economia nacional, e fato recente no Brasil (MOREIRA, 2013,
p. 88).

Iniciando com o processo de desestatização, foi um marco ao qual o Estado


deixou de atuar de forma direta como prestador de serviço econômicos, passando
6

para a iniciativa privada para desempenhar o papel central deste exercício e das mais
variadas atividades (MOREIRA e CAGGIANO, 2013).

A desestatização ocorrida no país contou com a execução de várias


modalidades, sendo a alienação de participação societária, a abertura de capital, a
cessão de bens seja em comodato, alienação, concessão, permissão ou autorização
de serviços públicos (GUERRA et al., 2017, p. 19).

E esses comandos normativos ou emissão de atos, envolve a função


regulamentar, a função fiscalizadora, o poder de polícia, questões envolvidas como:
adjudicatórias, de conciliação, de subsídio e na adoção de medidas pelo poder central.
(PEREIRA MESQUITA, 2005, p. 25).

GUERRA et al., observa que, “a regulação estatal da atividade econômica,


longe de diminuir a importância da participação do Estado na economia, apenas lhe
confere uma nova dimensão. O Estado deixa de ter uma função eminentemente
empresarial, para passar a atuar principalmente de forma indireta, como ente
fomentador, regulador, mediador, fiscalizador e planejador da vida econômica” (2017,
p. 20).

Sendo a ponte entre o sistema jurídico/político e os sistemas econômico e


social, sem descurar dos interesses difusos, gerais ou titularizados por
hipossuficientes (MARQUES NETO, 2011, p. 74).

Neste caso, as medidas legislativas, administrativas e convencionais dos quais


controla e determina de maneira restritiva à liberdade privada, das quais também
determina, controla, influencia os agentes econômicos, devendo não ser lesados os
interesses sociais já definidos na Constituição Federal de 1988, e destes salientam as
orientações que sejam socialmente desejáveis. (ARAGÃO, apud GUERRA, 2017, p.
21).

Todos os atos de regulação possuem reflexos na economia, mas alguns atos


de regulação produzem reflexos no sistema econômico e outros produzem efeitos
diretamente no meio social (POLTRONIERI, 2006, p. 150).

Diante deste fato, “a escolha regulatória descentralizada tem mais condições


de enfrentar os desafios da reflexividade da vida social, que consiste no fato de que
7

as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação


renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim seu caráter” (GUERRA,
2017, p. 21).

Cabe, portanto, à norma reguladora, traduzir os princípios constitucionais e


legais que compõem a base da moldura regulatória, implementando de forma eficiente
e atendendo às solicitações da sociedade (SOUTO, 2008, p. 4).

“Na moderna regulação, à noção de mediação de interesses, no qual o Estado


exerce sua autoridade não de forma impositiva, mas arbitrando interesses e tutelando
hipossuficiências'' (MARQUES NETO, apud PEREIRA MESQUITA, 2005, p. 25).

Pois bem, deve o Estado conter os excessos dos agentes que detêm poder
econômico. Sendo necessária que estas mudanças e adaptações captem as
mudanças econômicas e sociais, e utilizando o contexto da realidade para ser o
instrumento para a efetividade de permissão, através da supremacia do interesse
público (GUERRA et al., 2017, p. 21).

Dessa visão, busca-se compreender que a atuação estatal reguladora deve


estar consignada com a contextualização do momento atual. O equilíbrio entre os
interesses no sistema regulado, em prol do interesse público contextualizado pela
sociedade e consignado nas leis, depende do equilíbrio entre os interesses privados
e os objetivos de interesse público (PEREIRA MESQUITA, 2005, p. 27).

Devendo combinar a garantia de condições de exploração de certas atividades


econômicas, mas que tenham a implementação de políticas públicas, perseguindo
assim o equilíbrio sistêmico com a promoção das políticas públicas (MARQUES
NETO, 2011, p. 82).

1.3. AGÊNCIAS REGULADORAS

As agências reguladoras têm sua origem histórica nos Estados Unidos, em


1887, com o início do período intervencionista do Estado (intervenção por meio da
regulação), após o liberalismo, para enfrentar os monopólios e a concorrência desleal
8

então ferozmente conduzidas pelas ferrovias americanas (PEREIRA MESQUITA,


2005, p. 27-28).

A criação das independent regulatory agencies (agências regulatórias


independentes) acompanha a evolução do Estado na atividade econômica, à medida
em que sua participação foi se reduzindo (KARAM, 2008, p. 24).

“As "autoridades independentes" francesas surgiram sem vinculação precisa e


exata com o modelo norte-americano” (JUSTEN FILHO, 2011, p. 233).

As agências reguladoras norte-americanas começaram a surgir em meados de


1930, juntamente com o plano de intervenção econômica do governo Roosevelt, o
chamado New Deal, após a grande depressão econômica (KARAM, 2008, p.25).

Como leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro, "trata-se do fenômeno chamado


de “agencificação”, pela criação de entidades com maior ou menor grau de
independência, sob forte inspiração do direito norte-americano” (apud MOREIRA;
CAGGIANO, 2013).

A independência das agencies (agências) fundamenta-se na neutralidade da


Administração, assim salva guardam valores como a livre concorrência, os direitos ao
consumidor. Ao meio-ambiente, à livre concorrência, sem que haja ditames político-
partidários (KARAM, 2008, p. 26).

Entretanto, as agências reguladoras brasileiras possuem menos


independência, autonomia e competências específicas, e em sua maioria por previsão
legal (MOREIRA e CAGGIANO, 2013).

Neste quesito, o Estado despe-se de um Estado provedor, criando as agências


reguladoras. Pois os planos de privatização precisavam de um equilíbrio. Ademais,
convivendo com as liberdades individuais e os fins sociais. Materializando a
racionalização da política de privatização e a garantias dos interesses coletivos que
tem competência de preservação pelo Estado (KARAM, 2008, p.57).

Portanto, a função reguladora do Estado está prevista no artigo 174 da


Constituição Federal, vejamos:
9

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o


Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado.

PEREIRA MESQUITA, propõe que a legislação conferiu formato de autarquias


especiais:

A legislação conferiu às agências reguladoras brasileiras o formato jurídico


de autarquias especiais, de forma a poderem ser classificadas entre os entes
da administração pública previstos na Constituição Federal e no Decreto-lei
no 200, de 1967. Por serem autarquias, devem ser criadas por lei, como
determina o art. 37, XIX, da Constituição. Em razão do princípio da simetria,
sua extinção também só pode se dar mediante lei específica e por motivos
de interesse público (2005, p. 29).

Esse regime especial significa que à entidade autárquica “são conferidos


privilégios específicos, visando aumentar sua autonomia comparativamente com as
autarquias comuns, sem infringir os preceitos constitucionais pertinentes a essas
entidades de personalidade pública” (MEIRELLES apud GUERRA, 2017, p. 107).

Além desse regime e poderes especiais, as autarquias são dotadas de


autonomia frente a administração centralizada, esses exercícios das funções
regulatória são dirigidas por membros de um colegiado, das quais são nomeadas por
prazo determinado, feitas as indicações pelo Presidente da República, após
aprovação do Senado Federal (ARAGÃO apud KARAM, 2008, p. 62-63).

Sobre a autonomia, podemos destacar a separação política e a economia, de


forma que a economia fique apenas com o Governo, isso dá uma garantia de
segurança e estabilidade, pois assim não depende do ciclo eleitoral, maneira que visa
manter a confiança dos agentes regulados sobre o ambiente regulatório. Outro fator
preponderante para acreditar na autonomia é o recrutamento de especialistas
profissionais, com neutralidade política. E ainda a separação do Estado-empresário
do Estado que regula, para o tratamento isonômico entre os operadores públicos e
privados. A garantia do autofinanciamento, assim potencializando sua autonomia
10

perante o Governo e os entes regulados (MOREIRA, apud GUERRA, 2017, p. 107-


108).

“O mandato dos seus dirigentes, para assegurar a almejada autonomia, é fixo,


normalmente de três ou quatro anos” (KARAM, 2008, p. 69).

“O Conselho Diretor é composto pelo Diretor-Presidente e demais Diretores,


com quorum deliberativo por maioria absoluta. As nomeações desses dirigentes são
feitas por mandatos por prazos certos e não coincidentes, havendo impossibilidade
de exoneração ad nutum” (GUERRA, 2017, p. 108).

“As agências são submetidas ao controle dos três Poderes da União,


Executivo, Legislativo e Judiciário, além do controle social exercido pela sociedade
por intermédio de organizações não governamentais de defesa do consumidor, e do
Ministério Público” (PEREIRA MESQUITA, 2005, p. 37).

É através das normas reguladoras que se permite que as entidades


descentralizadas possam dispor sobre as matérias que lhe competem para o equilíbrio
do sistema regulado, sendo este, diverso das leis editadas pelo Poder Legislativo, que
possuem um caráter genérico (GUERRA, 2017, p. 116).

Já as funções executivas, incluem a fiscalização e a sanção, pelas agências


reguladoras, no exercício do poder de polícia estatal (SOUTO apud GUERRA, 2017,
p. 120-121).

E, por meio dessas funções,” as agências reguladoras concedem, permitem e


autorizam serviços e uso de bens públicos, expedem licenças, autorizam reajuste e
revisão ordinária e extraordinária de tarifas de serviços públicos para manter o
equilíbrio econômico e financeiro das concessões” (GUERRA, 2017, p. 121).

Diferentemente do legislador, que necessariamente não possui conhecimento


técnico, não possui proximidade dos fatos a editar a norma. Ademais, as normas do
mercado tendem a ser normas de caráter técnico, econômico e financeiro, dos quais
estes mudam constantemente (SOUTO apud GUERRA, 2017, p. 116-117).
11

Por isso, “a regulação normativa deve ser praticada por meio de uma
interpretação voltada para frente, orientada à ponderação de interesses, custos, ônus
e benefícios da ação regulatória” (GUERRA, apud GUERRA, 2017, p. 116).

Esse exercício e poder de controle é um poder-dever da Administração, e não


deve furtar-se, sob pena de responsabilização por omissão. E deve ser observado os
limites razoáveis deste exercício (DI PIETRO, apud GUERRA, 2017, p.121).

“Um importante instrumento de regulação executiva é a ‘interpretação


regulatória’, haja vista que nem sempre a generalidade da lei ou de norma se adapta
ao caso concreto. Desse modo, se impõe um juízo de equidade do agente regulador,
de modo a atender à finalidade da norma, ponderando custos e benefícios” (SOUTO,
apud GUERRA, 2017, p. 121).

2 – MACONHA, CANABINÓIDES, SISTEMA CANABINÓIDE E ANVISA

2.1. ORIGEM DA MACONHA E SEUS USOS TERAPÊUTICOS

A maconha tem como nome científico Cannabis sativa L. (Linnaeus), sendo


uma planta anual e pertencente à família Cannabaceae, sendo classificada
botanicamente em 1753 por Carl Linnaeus. Posteriormente no ano de 1785, o senhor
Jean Babtiste Lamarck descobre outra espécie a Cannabis. indica1 (ANGELEZ
LOPEZ et al., 2014).

Rowan ROBINSON, em seu livro “O Grande livro da Cannabis”, afirma:

O cânhamo provavelmente se desenvolveu na Ásia central, onde tornou a


primeira fibra vegetal a ser cultivada. [...] anteriormente os humanos haviam
domesticado vegetais (inclusive o cânhamo) para servir de alimento, mas o
cânhamo lhes ofereceu material prontamente aproveitável para os ofícios que
haviam começado a dominar. O povo dependia do cânhamo para toda a sua

1
Cannabis sativa L. es una planta anual que pertenece a la familia Cannabaceae, fue clasificada
botánicamente por primera vez en 1753 por Carl Linnaeus. Posteriormente, en 1785, Jean Baptiste
Lamarck descubre otra especie a la cual denomina C. indica.
12

roupa; somente os ricos se podiam dar o luxo da seda. O cânhamo e a amora


(o alimento do bicho-da-seda) eram culturas tão importantes e difundidas que
a expressão “terra da amora e do cânhamo” era sinônimo de China. (1999, p.
64).

Esta planta originária da Ásia, ao qual seu uso para a produção de vários
produtos têxteis data de 4000 a.C., enquanto seu registro na medicina tradicional data
de 2700 a.C. e desde a antiguidade já se conhecia popularmente seus usos
popularmente2 (ANGELEZ LOPEZ et al., 2014).

Pode-se atribuir aos chineses o primeiro relato sobre a Cannabis medicinal,


pois descreveram seus potenciais terapêuticos desta planta na primeira farmacopéia
conhecida, chamada de Pen-Ts’ao Ching, há mais de dois mil anos atrás. Os assírios
já consideravam a Cannabis como principal medicamento de sua farmacopéia a mais
de 3000 anos a chamavam de acordo com seu uso: qunnabu, quando a planta era
utilizada em rituais religiosos; azallu, um termo medicinal assim como hemp; gan-zi-
gun-nu, o qual significava "a droga que extrai a mente” (HONÓRIO et al., 2006).

Orienta ROBINSON:

Uma abundância de provas obtidas em sepulturas e outros sítios através de


toda a China demonstra o cultivo contínuo de cânhamo asiático através dos
tempos pré-históricos. [...] um sítio do neolítico tardio (c. 4000 a.C.) na
província de Zhejiang fornece indícios de vários artigos têxteis feitos de
cânhamo e de seda. Remanescentes de uma indústria de tecelagem de
cânhamo emergiram da escavação de um sítio da cultura Shang (1400-1100
a.C.) na aldeia de Taixi, província de Hebei, que revelou alguns fragmentos
de tecido de cânhamo queimado e um rolo de 13 peças de pano de cânhamo.
[...] os chineses podem ter sido os primeiros a usar a fibra do cânhamo, mas
foi na Índia que as qualidades mais elevadas da planta foram plenamente
apreciadas pela primeira vez (1999, p. 64; 66).

O livro "De Matéria Médica", escrito pelo médico Pedânio Dioscórides -


considerado o fundador da farmacologia, traz a Cannabis como uma das substâncias

2
C. sativa es originaria de Asia2,3 y su uso para producir fibras y confeccionar diversos productos
textiles, data del 4000 a.C., mientras que su registro de uso en la medicina tradicional data de 2700
a.C. De acuerdo al conocimiento popular, se le han atribuido propiedades analgésicas, relajantes
musculares, antidepresivas, hipnóticas, inmunosupresoras, antiinflamatorias, ansiolíticas,
broncodilatadoras, entre otras.
13

naturais que podem aliviar dores. Na obra, a planta é atribuída à melhora de dores
articulares e inflamações. Do século I até o século XVIII, o livro se tornou referência
no tema (GROSSO et al., 2020).

“A folha de maconha por muito tempo foi insumo das dinâmicas sociais e
econômicas na Europa, desde a época paleolítica – em tal período, ainda
popularmente chamada de cânhamo, – sendo ela considerada um dos principais
produtos agrícolas daquela região” (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020 p. 66).

Esse gênero da planta Cannabis é popularmente conhecida no Brasil como


maconha, e possui subespécies conhecidas como indica, ruderallis e sativa. Sendo
diferenciadas principalmente por suas funções, seu crescimento, princípios ativos e
características morfológicas. Em solo brasileiro há predominância da espécie
Cannabis sativa sativa, devido ao clima temperado e tropical (GURGEL et al., 2019,
p. 284).

A maconha no Brasil tem relação direta com sua descoberta, dado que a
maconha é uma planta exótica, sendo trazida para cá através dos escravos negros,
foi assim que possui a denominação fumo-de-Angola. Seu uso foi disseminado
rapidamente entre os negros e índios que passaram a cultivar (CARLINI, 2006).

Segundo documento oficial do governo brasileiro (Ministério das Relações


Exteriores, 1959):

"A planta teria sido introduzida em nosso país, a partir de 1549, pelos negros
escravos, como alude Pedro Corrêa, e as sementes de cânhamo eram trazidas em
bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas" (ROSADO, apud CARLINI,
2006).

Dentre todas as espécies de plantas domesticadas pelo ser humano, talvez


nenhuma tenha a versatilidade da Cannabis sativa (CS) (LESSA, CAVALCANTI e
FIGUEIREDO, 2017, p. 47).

“O uso como hipnótico e tranquilizante no tratamento de ansiedade, histeria e


compulsividade é reportado na Índia, antes de 1.000 a.C. No século XIX teve seu uso
terapêutico expandido na Europa Napoleônica” (GURGEL et al., 2019, p. 284).
14

Outros nomes atribuídos à Cannabis são marijuana, hashish, charas, bhang,


ganja e sinsemila. Hashish (haxixe) e charas são os nomes dados à resina seca
extraída das flores de plantas fêmeas. Os termos ganja e sinsemila são utilizados para
definir o material seco encontrado no topo das plantas fêmeas. Bhang e marijuana
são preparações de substâncias psicoativas extraídas do restante da planta. O termo
maconha é utilizado no Brasil para os preparados da Cannabis sativa. (HONÓRIO et
al., 2006).

A Cannabis se faz presente em toda história. Seja para efeitos religiosos,


mágicos, afrodisíacos ou até mesmo bélicos. Principalmente utilizado na medicina e
terapias orientais, como o Ayuverda, e o uso ritualístico-religioso nas matrizes
africanas e rastafáris. (AZEVEDO, 2020)

Prova de sua grande influência é que, os primeiros livros foram impressos em


papel de cânhamo, e telas de artistas são feitas das fibras, por isso a palavra canvas
é uma corruptela holandesa do latim ‘cannabis’ (BARROS; PERES, 2012, p. 6, apud
ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020, p. 66-67).

CRIPPA et al.,

A planta Cannabis sativa vem sendo usada para fins medicinais há milhares
de anos, por diferentes povos e em diversas culturas, embora hoje se
conheçam também seus efeitos adversos. Há indicações do uso da planta na
China antes da Era Cristã para tratamento de inúmeras condições médicas
como constipação intestinal, dores, malária, expectoração, epilepsia,
tuberculose, entre outras (2010, p. 56).

O uso medicinal da planta tem sido recomendado para diversas condições


clínicas há muitos séculos (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 47).

Tanto que se pode aproveitar quase toda a planta, pois proporciona fibras
têxteis, combustível, alimento, e como fonte de medicamentos. A planta passou da
coleta ao cultivo, e se discute se este foi o primeiro exemplo de domesticação 3
(ANGELEZ LOPEZ et al., 2014).

3
La planta pasó de ser recolectada a ser cultivada e incluso se discute si fue el primer ejemplo de
domesticación.
15

A pesquisadora GALZERANO et al., descreve que a Cannabis tem sido


reconhecida e utilizada desde a antiguidade como fonte de alimento, fibras, drogas e
medicina4 (2019, p. 290).

E que a espécie se aperfeiçoou graças aos chineses, pois sua exploração levou
a descobertas de plantas femininas e masculinas destas espécies 5 (ANGELEZ
LOPEZ et al., 2014).

TACORONTE et al., nos embasa sobre o uso desde a era cristã:

Al principio de la era cristiana, Plinio "el viejo', Dioscórides y Galeno


describieron las posibles aplicaciones médicas del cannabis como analgésico
y como antiinflamatorio, aunque se indicaba el efecto psicógeno que su uso
podía producir. Durante el siglo XIX, se difunden las aplicaciones médicas y
lúdicas del cannabis por Europa y Estados Unidos 6 (TACORONTE
MORALES et al., 2008).

O ciclo natural da planta começa na primavera com germinação das sementes.


Depois vem a etapa de crescimento vegetativo que se estende pelos meses de verão,
assim que as plantas começam a florescer se mantém durante dois a três meses, e
para a maioria das variedades, a colheita é feita no começo do outono 7 (ANGELEZ
LOPEZ et al., 2014).

“Posteriormente, já no início do século XX, extratos de Cannabis chegaram a


ser comercializados para tratamento de transtornos mentais, principalmente como
sedativos e hipnóticos (CRIPPA et al., 2010, p. 56).

4
Ha sido utilizada des dela Antigüedad como alimento, fuente de fibra, droga y medicina.
5
La especie se perfeccionó para su explotación gracias a su cultivo y los primeros botánicos chinos
describen la existencia de plantas femeninas y masculinas en esta especie.
6
No início da era cristã, Plínio "o velho", Dioscórides e Galeno descreveram as possíveis aplicações
médicas da cannabis como analgésico e anti-inflamatório, embora fosse indicado o efeito psicogênico
que seu uso poderia produzir. Durante o século XIX, as aplicações espalharam a cannabis medicinal e
recreativa na Europa e nos Estados Unidos
7
El ciclo natural de C. sativa comienza en la primavera con la germinación de las semillas. La etapa de
crecimiento vegetativo se lleva a cabo en mediados del verano, hasta que las plantas comienzan a
florecer. El desarrollo floral se mantiene durante dos o tres meses y, para la mayoría de las variedades,
la cosecha óptima se da a principios del otoño
16

Endossam Marcos Adriano LESSA; Ismar Lima CAVALCANTI e Nubia Verçosa


FIGUEIREDO que:

Popularmente conhecida no Brasil pelo seu nome africano, a maconha tem


feito parte da história por centenas de anos. Desde a Bíblia de Gutemberg e
o papel-moeda, até o texto original da Constituição norte americana, a fibra
derivada da Cannabis sativa foi amplamente utilizada na produção de papel.
Além de seu efeito psicoativo, a planta possui importância nutricional,
medicinal e industrial como alimento, fármaco, fibra, e óleo combustível, além
da utilização em cerimônias religiosas em diversas regiões do mundo (2017,
p. 47-48).

Adentrando às propriedades farmacológicas da planta e seu potencial uso


terapêutico, houve maior impulso desde o seu isolamento do princípio ativo, em 1964
o Δ9-tetra-hidrocanabinol (THC) (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p.
48).

“As estruturas químicas dos principais componentes da Cannabis foram


identificadas pelo grupo do professor Raphael Mechoulam, de Israel. O tetra-
hidrocanabinol recebeu maior atenção, por ser o componente ativo da planta”
(CRIPPA et al., 2010, p. 57).

Esse avanço propiciou a descoberta do sistema “canabinérgico” endógeno,


posteriormente denominado de Sistema Endocanabinóide (SEC) ou canabinóide
endógeno (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 48).

Recentemente, o emprego terapêutico em pacientes com patologias crônicas


de difícil tratamento é objeto de estudos clínicos, usando frequentemente do
tratamento off label (além ou diferenciado das orientações da bula) e que contribuam
para melhorar os sintomas incapacitantes e o aumento da qualidade de vida destes
pacientes. E nos últimos tempos, se prevê novos estudos acerca da fisiologia do
sistema endocanabinóide. O que justificaria a potencial utilização terapêutica da
maconha como interessante recurso no âmbito da saúde8 (GALZERANO GUIDA et
al., 2019, p. 290).

8
Recientemente su empleo terapéutico en pacientes con patologías crónicas de difícil tratamiento es
objeto de estudios clínicos, además de usar-se frecuentemente off label en búsqueda de soluciones
17

Diversas evidências clínicas e experimentais vêm sugerindo a participação do


SEC na modulação da dor, abrindo espaço para o desenvolvimento farmacêutico
nessa área (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 48).

Neste mesmo caminho, TACORONTE MORALES et al.:

Actualmente se han generado valiosísimas fuentes de información que


correlacionan la especie botánica Cannabis sativa L y sus metabolitos
secundarios con la medicina (tratamiento terapéutico), farmacología
(modelos experimentales) y química sintética (diseño y generación de nuevas
estructuras y análogos bioisósteres), que avalan la significación del estudio
de esta planta, sus extractos, metabolitos, precursores y análogos naturales
y sintéticos como fuente de agentes terapéuticos9 (2008).

O uso da Cannabis é permitido em alguns estados americanos, alguns países


europeus, para aliviar sintomas relacionados ao câncer, AIDS, esclerose múltipla e
síndrome de Tourette (HONÓRIO et al., 2006).

“Na atualidade, vivenciamos um momento particular global de redescoberta das


propriedades terapêuticas da Cannabis, assim como o reconhecimento de alguns
países a respeito do direito à autonomia do uso medicinal e recreativo da planta”
(CASTRO, ESCOBAR e LIRA, 2020).

Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da Cannabis, ou do D9-THC


(seu principal componente psicoativo), como agente antiemético, mas, quando
comparada com outros agentes terapêuticos, a Cannabis tem um efeito menor do que
os fármacos já existentes (HONÓRIO et al., 2006).

terapéuticas que contribuyan a mejorar síntomas discapacitantes y la calidad de vida. En los últimos
tiempos se han efectuado y continúan desarrollándose estudios científicos acerca de la fisiología del
sistema endocannabinoide, lo que justificaría la potencial utilización terapêutica del cannabis como
interessante recurso em el ámbito de la salud.
9
Atualmente, fontes de informação muito valiosas foram geradas que correlacionam a espécie botânica
Cannabis sativa L e seus metabólitos secundários com medicamentos (tratamento terapêutico),
farmacologia (modelos experimentais) e química sintética (desenho e geração de novas estruturas e
análogos de bio ésteres), que apoiam a importância do estudo desta planta, seus extratos, metabólitos,
precursores e análogos naturais e sintéticos como fonte de agentes terapêuticos.
18

“El uso medicinal de cannabis es comprendido como aquella modalidad de


utilización de esta planta (o sus derivados) con el objetivo de aliviar síntomas, tratar
un estado o una condición médica”10 (ROJAS-JARA et al., 2019).

O interesse científico tem observado diferenças quanto ao uso e o impacto que


o uso da Cannabis medicinal teria para a saúde, o que tem provocado uma série de
processos políticos, legislativos e judiciais para fins médicos e terapêuticos11
(AGUILAR, GUTIÉRREZ, SÁNCHEZ & NOUGIER, 2018, apud ROJAS-JARA et al.,
2019).

O Brasil, por sua vez, experimenta uma variedade significativa de


reivindicações advindas especialmente de movimentos sociais, políticos e científicos
(CASTRO, ESCOBAR e LIRA, 2020).

2.2. CANABINÓIDES E RECEPTORES CANABINÓIDES

O termo ‘’canabinóides’’ foi atribuído ao grupo de compostos presentes na


Cannabis sativa, classificados como terpeno fenóis, não isolados de qualquer outra
espécie vegetal ou animal (HONÓRIO et al., 2006).

Na década de 70, muitos compostos canabinóides foram isolados e


sintetizados e as principais rotas de síntese e biossíntese foram elucidadas
(HONÓRIO et al., 2006).

Há registros que em 1988 foi identificado o primeiro receptor canabinóide,


sendo posteriormente chamado de receptor endocanabinóide (CB1). Cinco anos mais
tarde foi descoberto outro receptor, designado de receptor endocanabinóide 2 (CB2).
Estes receptores são encontrados em algumas partes do corpo sendo que o CB1
possui distribuição tecidual nos gânglios da base, cerebelo, hipocampo, córtex,

10
O uso medicinal de cannabis é entendido como a modalidade de uso desta planta (ou seus derivados)
com o objetivo de aliviar sintomas, tratar um estado ou condição médica.
11
El interés científico ha observado este fenómeno mostrando diferencias respecto a las implicancias,
aporte e impacto que el umc tendría para la salud, provocando una serie de procesos políticos,
legislativos y judiciales en diferentes lugares del mundo para analizar el valor real del uso de cannabis
para fines médicos y terapéuticos
19

medula espinhal e em nervos periféricos. Os receptores CB2, são encontrados nas


células do sistema imune (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017. p. 48).

“Devido ao grande interesse nos efeitos causados pelos compostos extraídos


da planta, vários estudos têm sido realizados com o objetivo de identificar possíveis
relações entre a estrutura química e a atividade biológica apresentada por estes
compostos” (HONÓRIO et al., 2006).

Dos quais se ligam no sistema nervoso central aos receptores canabinóides


(CB1 e CB2). Esta descoberta foi seguida do isolamento dos ligantes endógenos 2-
arachidonoylglycerol e anandamida (CRIPPA et al., 2010, p. 57).

A Cannabis sativa possui cerca de 400 compostos químicos, e 60 possuem


princípios ativos singulares, e dentro desta gama de componentes, dois são
sublinhados: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CDB). E os estudos com o
canabidiol tem se mostrado promissores, visto que não apresenta propriedades
alucinógenas, isto o difere do THC, que então configura o principal ativo psicoativo da
planta. (MONTEIRO, apud ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020, p. 74-75).

O canabidiol é um fitocanabinóide presente em grandes concentrações no


extrato da planta, parecendo agir como um modulador do sistema endocanabinóide
(SEC), atenuando os efeitos do THC sobre a memória, apetite e comportamento
(LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 49).

“Dessa forma, com o reconhecimento do Sistema Endocanabinóide (SEC)


podendo modular diversos processos fisiológicos e, possivelmente, patofisiológicos
nos transtornos psiquiátricos, há amplo interesse no uso dos canabinóides” (CRIPPA
et al., 2010, p. 57).

O que chama a atenção pois “o canabidiol parece ser eficaz no controle da dor
da endometriose, entre outras condições, particularmente naquelas que podem ser
consideradas como dor mediada pelo SEC” (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO,
2017, p. 49).

Devido a estas descobertas, fomentou-se um conjunto progressivo de trabalhos


científicos evidenciando que tais evidências podem ser utilizadas para tratamento de
20

doenças, especialmente o CBD (MATOS et al., 2017, apud GURGEL et al., 2019, p.
285).

Assegurando ainda que a alta atividade canabinóide já foi também


documentada em diversas áreas mediadoras da resposta dolorosa no trato
gastrintestinal (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 49).

LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, leciona sobre a divisão dos tipos de


canabinóides:

Os canabinóides são divididos em três tipos: os fitocanabinóides, os


canabinóides sintéticos e os canabinóides endógenos ou endocanabinóides,
que são substâncias químicas naturais, representadas principalmente pela
anandamida (N-araquidonoil etanolamina) e pelo 2-araquidonoil glicerol. A
anandamida e o 2-araquidonoil glicerol são compostos encontrados em
diversos animais, especialmente naqueles que hibernam, e estão
fisiologicamente relacionados a funções como «relaxar, comer, dormir,
esquecer e proteger” (2017, p. 48).

É nítido que, na relação conjunta dos sistemas canabinóides, seus receptores


estão conjuntamente interligados e com seu papel fundamental o THC, e o CBD, em
ligarem-se aos receptores CB1 e CB2. Pois a participação do sistema
endocanabinóide humano é responsável por modular múltiplos processos orgânicos
específicos12 (GALZERANO GUIDA et al., 2019, p. 290).

O nome anandamida deriva do termo sânscrito ananda que significa êxtase,


felicidade suprema, gozo ou bem-aventurança (LESSA, CAVALCANTI e
FIGUEIREDO, 2017, p. 48).

Sobre este assunto, de forma lúcida, HONÓRIO et al. declara que, o primeiro
canabinóide endógeno descoberto foi o araquidoniletanolamina, conhecido como
anandamida (2006).

E então prossegue, comparando o D9-THC, a anandamida, por apresentar


afinidade moderada pelo receptor CB1 e é rapidamente metabolizada pelas amidases
(HONÓRIO et al., 2006).

12
El sistema endocannabinoide humano, encargado de modular múltiples procesos orgánicos
específicos, posee ligandos endógenos y enzimas de producción propia.
21

Os receptores mais importantes são os receptores canabinóide tipo 1 (CB1) e


o receptor canabinóide tipo 2 (CB2), que podem se ligar a anandamida e 2-
araquidonilglicerol (2AG), bem como fitocanabinóides: delta-9-THC
(tetrahidrocanabinol) e canabidiol (CBD)13 (GALZERANO GUIDA et al., 2019, p. 290).

A maior parte dos endocanabinóides identificados até o momento é derivada


de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, especificamente, o ácido
araquidônico (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p. 48).

“É notável que o descobrimento foi publicado na revista Science, motivando


assim outras 4852 citações em artigos. Sendo posteriormente identificado o sistema
endocanabinóide em mamíferos, pássaros, anfíbios, peixes, etc. assim é muito
investigado de como age o sistema canabinóide e o modo que atuam, para fins
terapêuticos, dentre estes, o canabidiol”14 (DE VITO et al., 2017).

“Desde o início da década de 70 é descrito que outros canabinóides interferem


com os efeitos do delta-9-THC, particularmente o CBD, presente em grande
quantidade na Cannabis sativa e destituído de efeitos típicos da planta” (CRIPPA et
al., 2010).

Nota-se que o “SEC está ativo tanto no sistema nervoso central (SNC) quanto
no sistema nervoso periférico atuando na modulação espinhal, supraespinhal e
periférica da dor. As substâncias endocanabinóides são produzidas por demanda no
SNC, com o objetivo de reduzir a sensibilidade à dor. Diversos estudos já
documentaram a existência de alta atividade do SEC em centros chaves de integração
da dor” (LESSA, CAVALCANTI e FIGUEIREDO, 2017, p, 48-49).

A ação dos canabinóides é mediada através dos receptores CB1 presentes


principalmente no sistema nervoso central e os receptores CB2 estão no sistema

13
Los receptores más importantes son el receptor cannabinoide tipo1 (RCB1) y receptor cannabinoide
tipo 2 (RCB2), a los cuales pueden, unirse tanto ligandos endógenos: anandamida y el 2-
araquidonilglicerol (2AG), como también fitocannabinoides: delta-9-THC (tetrahidrocannabinol) y
cannabidiol (CBD).

14
Este notable descubrimiento fue publicado en la prestigiosa revista Science y motivó unas 4852 citas
en otros artículos científicos. El sistema endocannabinoide fue identificado en mamíferos, pájaros,
anfibios, peces, etc. y ha sido bien investigado; no obstante, el modo en que actúan los cannabinoides
con interés terapéutico, entre ellos el canabidiol.
22

gastrointestinal, sistema periférico, baço e nas células do sistema imune 15


(NOTEJANE et al., 2018).

Essas atuações em diversas funções fisiológicas como no controle de


movimento, na memória, aprendizagem e o crescimento cerebral, explica os efeitos
benéficos atribuídos ao tratamento com canabinóides para diversas patologias que
afetam o sistema nervoso central (SNC)16 (TACORONTES MORALES et al., 2008).

“Uma importante área de pesquisa é o estudo do efeito analgésico dos


compostos canabinóides. Alguns estudos laboratoriais relatam que alguns compostos
canabinóides possuem eficácia e potência similares à morfina, inclusive alguns com
potência 200 vezes maior que a morfina” (HONÓRIO et al., 2006).

Na atualidade, há estudos sobre a receptação da anandamida para o


tratamento da esclerose múltipla, doença de Huntington, glaucoma, Parkinson e
melhora nas disfunções cognitivas do Alzheimer17 (TACORONTE MORALES et al.,
2008)

A administração de canabinóides têm se mostrado efetiva nos tratamentos de


glaucoma, asma bronquial, alguns transtornos motores e diversas doenças
neurodegenerativas. Até mesmo é notável a sua ação de inibir o aumento de certos
tumores, além de auxiliar no aumento de apetite e na analgesia18 (TACORONTE
MORALES et al., 2008).

15
La acción de los cannabinoides es mediada a través de receptores CB1 presentes principalmente en
el sistema nervioso central y de receptores CB2 en tracto gastrointestinal, sistema nervioso periférico,
bazo y células del sistema inmune.
16
La participación de los endocanabinoides y análogos sintéticos en diversas funciones
fisiológicas,9 como antinocicepción, control de movimiento, memoria, aprendizaje y desarrollo cerebral,
explica algunos de los efectos beneficiosos atribuidos a los canabinoides en el tratamiento de diversas
enfermedades que afectan el sistema nervioso central (SNC).
17
En la actualidad es objeto de estudios la posibilidad de utilización de inhibidores del sistema de
recaptación de anandamida en el tratamiento de la esclerosis múltiple y el corea de Huntington; para
tratar el glaucoma; en pacientes con enfermedad de Parkinson y obtener una mejora de las
disfunciones cognitivas producidas por la enfermedad de Alzheimer
18
La administración de canabinoides ha demostrado efectividad terapéutica en el tratamiento de
glaucoma, asma bronquial, ciertos trastornos motores y diversas enfermedades neurodegenerativas.
Asimismo, es notable su capacidad para inhibir la emesis -asociada a terapias antitumorales y aumentar
el apetito, como agentes analgésicos y antinociceptivos e incluso su potencial utilidad para inhibir el
crecimiento neoplásico de ciertos tumores.
23

Alguns estudos científicos apontam o efeito Entourage, ou seja, duas moléculas


ou substâncias da mesma planta, ou de duas plantas, que potencializam o tratamento.
Para a Maconha seria o efeito Entourage a junção de THC, CBD, seus terpenos,
outros canabinóides que naturalmente encontram-se na planta. Este resultado mais
benéfico é encontrado na planta in natura, do que somente pelo uso das substâncias
isoladas (AZEVEDO, 2020).

“A base de dados da PUBMED (United States of National Library of Medicine


National Institutes of Health), identificou em torno de 500 artigos científicos que fazem
referência aos efeitos terapêuticos do canabidiol como: anticonvulsivante, Alzheimer,
esquizofrenia, doença de Parkinson, esclerose múltipla, transtorno do pânico, HIV,
câncer, glaucoma, asma, epilepsia” (BUCARESKY, 2014, apud JESUS et al., 2017,
p. 3-4, apud ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).

Ademais, “náuseas e vômitos severos da quimioterapia do câncer; dor e


espasmo de paraplegia e tetraplegia; dor crônica; HIV/AIDS; enxaqueca; doenças
reumáticas (osteoartrite e espondilite anquilosante); cólicas menstruais; síndrome pré-
menstrual; dores do parto; doença de Crohn; colite ulcerativa; dor do membro
fantasma; hiperêmese gravídica e depressão” (GRINSPOON, 2005, apud KIEPPER;
ESCHER, 2012, p. 2 apud ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).

Embora os derivados de Cannabis sejam escassos e com qualidade variável,


até mesmo duvidosa, em agosto de 2017 foram analisados 22 ensaios clínicos com o
total de 795 crianças, encontrando evidências de propriedades antieméticas, anti-
inflamatórias e antiepiléticas19 (NOTEJAME et al., 2018).

Em todos os casos é importante que os médicos descrevam os derivados


canábicos e acompanhem o seu uso, realizando consultas regulares, além disso,
informem a vigilância mediante registro. Assim como, relatem os benefícios

19
La más reciente revisión sistemática, publicada en agosto de 2017, analiza 22 ensayos clínicos que
en totalidad incluyen 795 niños. Solo cinco son ensayos clínicos controlados. La mayor evidencia es
para su uso como antiemético, analgésico y antiepiléptico.
24

encontrados e seus efeitos adversos, permitindo que haja um conhecimento maior


sobre o produto e sua segurança20 (NOTEJAME et al., 2018).

No Brasil, “a comercialização do CBD permanece proibida, mas, a partir de


2015, o uso compassivo e importação da substância foram autorizados pelo Conselho
Federal de Medicina (CFM) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
porém, a demanda por CBD continua sendo judicializada” (GURGEL et al., 2019).

“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, decidiu em janeiro de


2015 liberar o uso terapêutico do canabidiol no Brasil, que agora passa a ser um
medicamento controlado. A substância é extraída da Cannabis sativa, a planta da
maconha, mas não é psicoativa nem tóxica. O canabidiol pode ser um grande aliado
no tratamento da epilepsia e outras doenças neurológicas” (CANABIDIOL [Uso
terapêutico], 2015).

Muito se atribui a Cannabis sativa, em sua vasta utilização e acréscimo a


qualidade de vida dos pacientes, mas chama a atenção a pesquisa de GROSSO et
al.:

A liberação dos produtos à base de cannabis para fins medicinais no Brasil e


em outros países ocorre em momento de acentuação do conservadorismo no
País. Ainda assim, esse pode ser considerado o primeiro passo para a
ampliação dos usos da Cannabis. Precisamos de uma divulgação ampla de
que o CBD não é maconha e que o uso recreativo da maconha nada tem a
ver com o uso da Cannabis medicinal, que as pesquisas científicas estão
seriamente empenhadas em estabelecer a eficácia da substância em várias
patologias, incluindo-se tumores (2020).

Neste diapasão verifica-se a discrepância entre os anos iniciais de inserção da


planta da maconha em território brasileiro, para com os tempos atuais. A busca por
conscientização associada à luta de famílias e de ativistas que reconhecem desde
cedo a importância de se legalizar a maconha para fins medicinais provocou
mudanças, atribuindo sensibilização e ganhando cada vez mais o apoio da população
(JESUS et al., apud ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).

20
En todos los casos es importante que los médicos que prescriben derivados cannábicos, y los que
realizan el seguimiento se encuentren informados, y realicen una farmacovigilancia activa mediante el
registro responsable de los beneficios encontrados y los efectos adversos permitiendo conocer más el
perfil de seguridad de estos productos.
25

Contudo, algumas reivindicações sociais renderam, sendo materializadas em


associações como a Associação Brasileira de apoio a Cannabis Esperança
(ABRACE) e a Liga Canábica, situadas no estado da Paraíba, através de uma
conquista judicial na autorização para o cultivo e beneficiamento e produção do óleo,
sendo distribuídos gratuitamente a pacientes que sofrem de convulsões e outras
enfermidades (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).

E que, apesar dos comprovados benefícios do CBD à saúde, atualmente, o


debate em torno do uso medicinal deste fármaco continua bastante heterogêneo e
polêmico (SOUSA, 2013, apud GURGEL et al., 2019).
Porém, o uso da maconha foi um tema reaquecido com a pandemia COVID-
19, onde aumentou a busca pelo controle da ansiedade, pânico e depressão causados
pelo distanciamento e isolamento social. A planta foi aplicada em países onde seu uso
é permitido, servindo assim como suporte para a condução dos indivíduos a enfrentar
uma situação com grande potencial traumático. (AZEVEDO, 2020).
Porém, os cultivadores nacionais estão sujeitos à duras penas, em
contraponto que passa a fomentar cultivadores estrangeiros, e seu empresariado
internacional. É nítido que a indústria brasileira é proibida de plantar, sendo assim de
uma incoerência visível, da qual nós brasileiros estamos a perder (AZEVEDO, 2020).

2.3. ATUAL REGULAMENTAÇÃO DA ANVISA

No contexto atual, vivenciamos a influência dentre aos órgãos reguladores, em


principal a ANVISA, verifica-se a negação da ciência, as evidências e perspectivas de
entes reguladores de países vizinhos a seguir expostas.
“A expressão vigilância sanitária é própria do Brasil, mas ações de regulação e
vigilância sanitária são práticas universais” (SILVA et al., 2018).
Assim, a Vigilância Sanitária (VS) constitui um espaço institucional,
historicamente determinado e integra a Saúde Coletiva enquanto campo de
conhecimento e âmbito de práticas (SILVA et al., 2018).
Sendo que, “as políticas relacionadas à Inovação e Saúde no Brasil compõem
esta narrativa, que aborda inicialmente a emergência de novos conceitos e teorias no
26

âmbito das políticas de ciência, tecnologia e inovação no mundo” (VILLAS BÔAS,


2020).
A dinâmica do setor da saúde é a importância das universidades nas inovações
biomédicas; a especificidade da atenção à saúde; instituições e a regulação dando a
direção do desenvolvimento tecnológico, influenciando o desempenho econômico,
industrial e social do setor da saúde como um todo (VILLAS BÔAS, 2020).
Dentre a pressão social e o aval de parte da comunidade científica nesse
processo levaram à reclassificação do CBD pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA, 2015) (OLIVEIRA, VIEIRA E AKERTMAN, 2020).
Justamente visando assegurar aos enfermos o acesso ao tratamento de que
tanto necessitam, o Conselho Federal de Medicina (CFM), que autoriza o uso
compassivo do CBD no tratamento de epilepsias refratárias de crianças e
adolescentes (Brasil, 2014, apud GURGEL et al., 2019).
Ademais, foi em 2015 que o CDB foi retirado da lista de proscritos. E com isso
podendo ser viabilizado a importação de extratos produzidos por indústrias
farmacêuticas internacionais (SILVA et al., 2017, p. 27 apud ELIAS, OLIVEIRA e
BARBOSA, 2020).
Este grande marco histórico abriu portas para a discussão maior e aproximação
dos pacientes em conseguir o medicamento. A legalização da maconha para fins
medicinais também tem o apoio de muitos médicos brasileiros, dos quais “o médico
Elisaldo Carlini do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas -
CEBRID - que alega os benefícios da planta para cura de várias doenças e redução
dos efeitos causados pelo uso de medicamentos contra o câncer” (SILVA et al., 2017,
p. 27 apud ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).
O debate sobre a descriminalização da Cannabis ganhou impulso nos últimos
anos. O Uruguai, Canadá e vários estados dos EUA descriminalizaram e legalizaram
o uso, permitindo assim o consumo, a regulamentação e o controle do Estado. Em
diversos países a posse de pequenas quantidades de maconha foi autorizada.
(VILLAS BÔAS, 2020).
O CBD tem seu uso para tratamento de doenças permeado por um grande
embate administrativo-legal, fundamentado em discursos que, em sua maioria
possuem conotação moralista (OLIVEIRA, 2016 apud GURGEL et al., 2019).
27

Somente em 2016, a ANVISA autoriza a manipulação e prescrição de


medicamentos à base de Cannabis, tanto para produtos registrados pela Agência
como para os que forem importados em caráter de excepcionalidade (ELIAS,
OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).
Em 2017, por intermédio da RDC nº 156 (Brasil, 2017), a ANVISA incluiu a
Cannabis sativa na lista de plantas medicinais. “Apesar da regulamentação
administrativa, os indivíduos com indicação médica de uso do CBD, continuam tendo
que recorrer ao Poder Judiciário para obter o fármaco para tratamento das
enfermidades que os acometem, tendo em vista que o Estado permanece negando”
(MELO; SANTOS, 2016, apud GURGEL et al., 2019).
A RDC 327 é conhecida como lei da compaixão justamente por permitir a
importação de fármacos com maior teor de THC, acima dos 0,2%, com o objetivo de
auxiliar pacientes sem outras alternativas terapêuticas e em situações clínicas
irreversíveis ou terminais que necessitam de doses mais elevadas de THC, para que
este atue como uma espécie de morfina. (SUMMIT, 2020, apud AZEVEDO, 2020).
Embora a droga seja aprovada em 28 países, entre eles: Estados Unidos,
Canadá, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Suíça e Israel, onde é conhecido por Sativex
(ELIAS, 2020).
A Cannabis passa a integrar a Lista Completa das Denominações Comuns
Brasileiras (DCB) sob a configuração de planta medicinal, a ANVISA registrou o
primeiro medicamento à base de cannabis no Brasil, cujo nome comercial é Mevatyl.
(ELIAS et al., 2020).
Cada caixa do medicamento vem com 3 embalagens de 10ml (AZEVEDO,
2020).
No site da farmácia 4BIO, o preço do Mevatyl era R$ 3.415,51. Aplicados 23%
de desconto, o preço final é de R$2.644,90. (4BIO, 2021).
“Frisa-se que a medida tomada pela ANVISA não permite o uso medicinal da
planta, tem apenas o caráter para possíveis registros de medicamentos, todavia, não
se deixa de considerar um grande avanço para uma conjuntura anterior de
criminalização e preconceitos” (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).
EDQUÉN et al. (2020), relata sobre o impacto global da legalização do
autocultivo, feitas a partir da valentia do ex-presidente José Mujica, pioneiro em
28

abandonar os paradigmas conservadores, e alinhar-se ao direito da saúde, um


visionário da América do Sul21.
E prossegue, não há dúvidas de que o Uruguai se posiciona como um núcleo
fundamental da indústria Canábica no mundo. Já que o país possui uma regulação
nacional e integral, podendo manipular e produzir, desde o uso industrial, medicinal e
recreativo22 (SORIANO, 2019, apud EDQUÉN et al., 2020).

3 – O AUTOCULTIVO, JUDICIALIZAÇÃO E A PL 399/2015

3.1. AUTOCULTIVO, REDUÇÃO DE CUSTOS E ACESSO DOS


PACIENTES

Na definição pelo dicionário virtual de língua portuguesa Infopédia, autocultivo


é: o “cultivo de uma determinada espécie vegetal feito para consumo próprio (PORTO
EDITORA. 2021).
O autocultivo é algo clandestino devido à falta de regulamentação, pois
algumas plantações de maconha para uso medicinal ou recreativo, e que em grande
parte dá-se de maneira clandestina por ser considerada droga, e isto é devido à falta
de regulamentação por parte de alguns países23 (LÉON, apud EDQUÉN et al., 2020).
O Dr. Drauzio VARELLA em seu episódio 5 (cinco) da série para o Youtube,
‘’DRAUZIO DICHAVA” vai ao encontro de um cultivador, discutindo a forma ilegal a
qual muitos usuários e pacientes, a fim de obter um produto de melhor qualidade e

21
El impacto mundial que ha generado Uruguay al legalizar el autocultivo de cannabis ha puesto en la
mirada de los países europeos por dicha actividad, el país oriental de la mano de su presidente, en ese
entonces el señor José Mujica tuvo la valentía de romper ese paradigma y reguló todas las actividades
como la siembra, producción, comercialización, etc. y se convirtió en un gigante a nivel mundial, sin
duda que es un ejemplo a seguir y que debemos seguir sus acciones que ha venido haciendo
relacionada a la actividad del cannabis, este país es el pionero en América Latina en dejar atrás ese
paradigma conservador que le hacía tanto daño a un sector de su población de manera tal que el
Derecho a la salud no se estaba ejerciéndose de manera eficiente
22
Sin duda que Uruguay se posiciona, así como un núcleo fundamental de la industria cannábica del
mundo. El país tiene una regulación nacional e integral que cubre todas las dimensiones posibles para
manipulación y producción, desde el uso industrial al recreativo, medicinal, industrialización de plantas.
23
Nos referimos a las plantaciones o sembríos de marihuana para uso medicinal o recreativo, es quizás
una de las practicas más comunes en gran parte del mundo que se realiza de manera clandestina por
ser considerada una droga y esto debido a la falta de regulación por parte de algunos estados
29

que atendam a demanda individual passam a recorrer, mas ainda em nosso país ser
um cultivador é ilegal (2019).
“O particular ativismo das mães diante da ANVISA, a demanda por autocultivo,
a pressão política sofrida pela agência, e o status de proibição do canabidiol são
elementos que dialogam com controvérsias anteriores: como as regulamentações que
levaram à proibição de substâncias psicoativas no início do século XX” (OLIVEIRA,
2017, p. 195).
A produção artesanal é vista de forma marginalizada, dado a desinformação e
conservadorismo, que bloqueiam a discussão acerca do tema. Não propiciam um
melhor ajuste entre pacientes, sociedade, ciência e direito sobretudo à vida.
Assim, nas palavras de BOSI et al., devem atentar o ente regulador:

O direito à vida, assim como à dignidade da pessoa humana são princípios


presentes em nossa carta magna, e neste viés coloca-se que a
regulamentação para uso medicinal da cannabis é uma questão urgente e
necessária para se dar um passo para a reformulação de nossas políticas
voltadas às drogas, assim como garantir a saúde em seu gozo pleno a
pacientes acometidos de enfermidades. Neste limiar, reavaliando o teor e
necessidade de tais normas, da forma que estão dispostas, estaremos
retornando ao tempo para repensar, representar e ressignificar “com imagens
e ideias de hoje, as experiências do passado” (1994, p. 55, apud ELIAS,
2020).

O direito à saúde é um direito fundamental protegido na maioria dos dispositivos


jurídicos a nível global, que na realidade é equivalente ao direito à vida 24 (RUBIO,
2017, p. 58, apud EDQUÉN et al., 2020).
“A possibilidade de plantar o próprio medicamento não pode ser negada ao
paciente, se esta é uma alternativa que ele mesmo, no uso da autonomia da sua
vontade, seu livre-arbítrio, apto a se autodeterminar da maneira que melhor lhe
convém, acreditar ser esse o caminho para o seu tratamento” (AZEVEDO, 2020).
“O contato com o autocultivo e a possibilidade de experimentar outro tipo de
óleo que não o importado fez com que muitas famílias passassem a questionar a ideia
de que só o CBD industrializado, ‘isolado’, poderia ter efeito benéfico” (OLIVEIRA,
2020).

24
la salud es un Derecho elemental que tienen todas las personas porque es, en realidad, equivalente
al propio Derecho a la vida.
30

Importante que, os usuários e pacientes tenham preferência na escolha de um


fármaco, ou na produção artesanal de óleo, este último, possa ser autorizado a
pequenos cultivadores, tal qual o pensamento do mercado regulatório uruguaio,
centrada no Estado, onde há permissão para o cultivo individual e coletivo. (VARELLA,
2019).
In casu, a maioria dos “cannabicultores”, “a tecnologia utilizada para cultivo e
extração do óleo era adequada para produção em pequena escala, com requisitos
modestos de investimento de capital – ao contrário do que tende a ocorrer na
produção industrial (OLIVEIRA, 2020).
Em “a fumaça do bom direito”, nota-se que o cultivo caseiro é responsável pelos
cruzamentos de variedades, ranqueando novas cepas, conhecimento de seus efeitos,
através das mãos de seus cultivadores (growers), que permitiram sofisticar e
potencializar as suas plantas, que hoje estão disponíveis para o alívio de inúmeros
pacientes (FIGUEIREDO; POLICARPO; VERÍSSIMO, 2017).
Durante muito tempo, “a fonte de informação de pacientes que realmente
precisavam de óleo de Cannabis e precisavam descobrir como plantar Cannabis para
desenvolver o próprio medicamento, foram os populares ‘maconheiros’”.
(MEDICINAL, 2020).
Importante salientar que, em muitos os casos, medicamentos opióides, álcool
e tabaco, mesmo prejudiciais, estão em situação legal, suscitando o debate entre o
que consideramos realmente droga, ou se o dano à saúde é um critério para a
legalização da Cannabis medicinal e recreativo (AZEVEDO, 2020).
O neurocientista brasileiro Prof. Dr. Sidarta Ribeiro chama atenção sobre os
benefícios da Cannabis sativa, e sua regulamentação tanto para uso medicinal como
para uso recreativo (RIBEIRO, 2014).
Ao caso, que o autocultivo, é uma forma ao qual possibilita ao paciente que
cultive sua própria medicação, escolha por qual via será a administração
medicamentosa (vaporizar, oral, sublingual, nasal ou tópico) (APEPI, 2021).
Tomadas as devidas orientações médicas, não necessita utilizar-se do
mercado ilegal para adquirir maconha ou derivados de que se vendam livremente,
pois podem pôr em perigo à vida e a saúde, além da liberdade individual de quem
consome (EDQUÉN et al., 2020).
31

No ativismo e na defesa da prática do autocultivo de Cannabis, é notável a


participação ativa de mulheres; por outro lado, os atores mais centrais dessa defesa
pertenciam a uma classe média urbana branca (OLIVEIRA, 2016).
Entretanto, as vítimas majoritárias da guerra às drogas são a população negra
e periférica (OLIVEIRA, 2020).
É pertinente observar neste trabalho sobre a qualidade dos produtos oferecidos
pelo mercado, dado aos depoimentos coletados por Monique Batista de Oliveira
(2020),

“Era injusto. Esses pais estavam comprando suco de brócolis a preço de


ouro. Pensamos: vamos selecionar aí umas plantas, pegar uma aí rica em
CBD, todo mundo já tem experiência em cultivo...” (José Martins) [...] “São
pessoas estudadas, que têm muito fundamento, inclusive jurídico. Mas eles
fazem na clandestinidade porque sabem que o entendimento atual é de que
a atividade deles pode ser considerada como tráfico” (Fernando Silva).

O advogado Dr. Emílio Figueiredo conclui,

“Ninguém quer ficar importando, se sujeitando, e ninguém quer depender do


Estado para o remédio. Todo mundo que já compreendeu que a Cannabis
medicinal pode ser em feita em casa, no quintal de casa, eles querem a
autorização para fazer o remédio dos seus filhos ou deles próprios”
(OLIVEIRA, 2020).

Aclarando o pensamento supra, Luces y sombras: pinceladas sobre la ley de


cannabis medicinal, fala que "la participación e incorporación voluntaria de los
pacientes y de sus familiares, quienes podrán aportar su experiencia, conocimiento
empírico, vivencias y métodos utilizados para su autocuidado”25 (DE JANON
QUEVEDO, 2017).
“Através de la práctica del autocultivo, las personas pueden obtener extractos
ricos en cannabinoides encontrando el tratamiento que mejor se adapta y se ajusta a
sus necesidades de bienestar real”26 (BERGUA et al., 2020).
O autocultivo é o meio de baratear, ampliar o acesso dos pacientes, juntamente
com a desoneração do ente público. Abrindo a possibilidade de pessoas de renda

25
A participação e incorporação voluntária do paciente e de seus familiares, que poderão contribuir
com sua experiência, conhecimento empírico, vivências e métodos utilizados para o seu autocuidado.
26
Através da prática do autocultivo, as pessoas podem obter extratos ricos em canabinóides,
encontrando o tratamento que melhor se adapta e se ajusta às suas reais necessidades de bem-estar.
32

média produzirem o óleo medicinal. O custo estaria em adquirir o frasco para alocar,
o custo de envio para os estados brasileiros e a conta de luz. (OLIVEIRA, 2020).
Busca-se desconstruir e combater as nuances pejorativas e marginalizados
atribuídos a legalização da maconha para fins recreativos, medicinais e industriais,,
ao qual, alguns grupos se mobilizam e buscam por meio de Projetos Lei, avançar ao
posto de sua legalidade, dado ao fato que a regulação consegue-se combater ou
reduzir problema sociais, violência pelo narcotráfico, o comercio ilegal de substâncias
adulteradas, os gastos do governo para sanar esses problemas sociais gerados,
inclusive o fomento de pesquisa. (ELIAS, OLIVEIRA e BARBOSA, 2020).
Assinala que “la línea de preservar los beneficios económicos, los costes del
tratamiento son muy elevados y la accesibilidad al cannabis es muy baja”27 (BERGUA
et al., 2020).
Contudo, medidas regulatórias mais abrangentes são requeridas,
considerando a cadeia de desenvolvimento tecnológico e produção, a partir do cultivo
da planta, assim como o necessário reconhecimento dos medicamentos, contendo os
canabinóides como estratégicos, pelo Sistema Único de Saúde (VILLAS BÔAS,
2020).
“Un marco regulatorio seguro, médica y jurídicamente, y respaldado por una
producción legislativa completa, dónde quienes quisiesen disponer de esos productos
para comenzar un tratamiento médico con cannabinoides, pudieran hacerlo con todas
las garantias28 (BERGUA et al., 2020).
E justamente pelas dificuldades que os enfermos passam para conseguir o
tratamento com o canabidiol no âmbito administrativo, que há uma grande provocação
do judiciário, devido a ineficiência das políticas públicas, devendo o judiciário
salvaguardar a sua tutela (TABORDA, 2010, apud GURGEL et al., 2019).

3.2. JUDICIALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO

27
A linha de preservação dos benefícios econômicos, os custos do tratamento são muito altos e o
acesso à cannabis é muito baixa.
28
Um quadro regulamentar seguro, do ponto de vista médico e jurídico, e amparado por uma produção
legislativa completa, onde quem gostaria de ter estes produtos para iniciar um tratamento médico com
canabinóides, o poderia fazer com todas as garantias.
33

No Brasil, a discussão sobre o acesso a fito medicamentos contendo


canabinóides têm sido pautada tanto no campo do Direito, revelando sua inscrição
tanto no processo de judicialização da medicina, quanto no campo da Regulação”
(VILLAS BÔAS, 2020).
“Esses usuários, que já conheciam a planta e suas propriedades,
compartilharam o que sabiam e ajudaram pacientes desamparados pelo Estado, que
repreendia e repreende quem usa Cannabis, independente do motivo”. (Atual governo
não acredita serem confiáveis estudos científicos internacionais e opinião de líderes
de outras nações para validar o uso de Cannabis medicinal) (BRASIL, 2020).
Se alguém não consegue ter acesso a esse benefício, o indivíduo vai atrás de
maneiras de conseguir. Vai criar o benefício, vai modificar o que é medicamento ou
reinventá-lo (OLIVEIRA, 2016).
“A atuação do Poder Judiciário é de grande relevância e secundária, pois
ocorre posteriormente às ações do Poder Executivo, no sentido de corrigir a omissão
deste na consecução do direito à saúde dos cidadãos” (GURGEL et al., 2019).
Em 2017, A ABRACE, associação de João Pessoa, foi a primeira associação
a receber uma decisão judicial favorável para fins de cultivo coletivo e fornecimento
de óleo para seus associados (ABRACE, 2021).
Em julho de 2020, juntou-se a ela a APEPI, do Rio de Janeiro, a qual também
recebeu autorização para “plantar cannabis, realizar pesquisas e fornecer
medicamentos para os pacientes associados”. (FIGUEIREDO, 2019; MACHADO
2020 apud AZEVEDO, 2020).
Comenta OLIVEIRA (2017),

No ativismo do canabidiol, essa cisão de representatividade é registrada no


momento posterior à reclassificação do composto, quando grupos passam a
defender o autocultivo e outros permanecem atrelados às demandas pela
importação. Um lado pleiteia o autocultivo como forma de resolver questões
com o custo do composto; e outro inicia ações judiciais no Sistema Único de
Saúde para quem não tinha condições de comprá-lo.

O aumento de Habeas Corpus preventivos impetrados na Justiça para o plantio


de Cannabis em casa para tratamento (fim medicinal) cresce exponencialmente. Até
setembro de 2020, acredita-se que mais de 130 habeas corpus foram concedidos para
cultivo em casa (FIGUEIREDO, 2020, apud AZEVEDO, 2020).
34

O Judiciário rendeu respostas positivas aos demandantes, dado que todos os


pedidos de tutela antecipada foram concedidos, tendo sido determinada a
disponibilização do CBD aos enfermos (GURGEL et al., 2019).
E prossegue, “constatou que todos os juízes fundamentam suas deliberações
no Direito Fundamental à Saúde, sem adentrar nos pormenores dos critérios
elencados pela Anvisa” (GURGEL et al., 2019).
Uma das recentes decisões judiciais permitindo o cultivo da planta Cannabis
para fins de tratamento, ocorreu em outubro de 2020, no qual um juiz de Joinville
autorizou paciente a plantar maconha e extrair óleo para tratamento (AZEVEDO,
2020).
A impetração de Habeas Corpus para paciente acometido de fibromialgia
colaborando ao apresentar o decisum do douto magistrado

Ante o exposto defiro a liminar pleiteada, e, assim, concedo ao paciente o


salvo-conduto para que as autoridades coatoras e seus subordinados,
abstenham-se de adotar qualquer medida que possa cercear sua liberdade
de locomoção, seja por ocasião do porte, transporte e/ou plantio, cultivo e
extração do óleo artesanal, flores e sementes de Cannabis Sativa, suficientes
para o cultivo de 16 plantas, quantidade esta suficiente para produção do
extrato/óleo, destinado ao uso exclusivamente medicinal e terapêutico do
paciente (AZEVEDO, 2020).

Todavia, é possível considerar que judicialização não é a melhor alternativa


para as falhas de gestão do Poder Público perante os indivíduos, pois os enfermos
que necessitam da maconha já possuem situação clínica debilitada, não podendo
aguardar o desfecho de um complexo processo judicial (GURGEL et al., 2019).
Para BERGUA et al. (2020),

Garantizar la accesibilidad a los programas de salud pública con cannabis


medicinal, pasa por integrar en la regulación el autocultivo individual o
colectivo para consumo personal, como una herramienta que ofrezca todas
las garantías a los pacientes para que dispongan del cannabis que necesitan
para satisfacer su tratamiento terapéutico, sin incurrir con ello en ningún tipo
de delito, ni haciéndoles ser objeto de la criminalización y la estigmatización
social que supone acudir a los circuitos ilícitos. Así, tener en cuenta los
derechos fundamentales de los usuarios, implica necesariamente integrar los
mecanismos suficientes como para que el acceso al cannabis medicinal esté
garantizado, independientemente de las condiciones y capacidades
socioeconómicas de quienes buscan acceder al tratamiento 29.

29
Garantir a acessibilidade aos programas de saúde pública com cannabis medicinal, envolve o
autocultivo individual ou coletiva para consumo pessoal regulamentado, como uma ferramenta que
35

Os Habeas Corpus para a concessão de salvo conduto a pacientes para


cultivar cannabis já passam de trezentas as proferidas no Brasil. E isso se deve ao
fato de que há omissão inconstitucional dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário (MARONNA, 2021).
Diversas associações espalhadas pelo Brasil já ingressaram com ações para
receber o salvo-conduto para plantar e fornecer medicamentos aos pacientes
solicitantes. Enquanto não recebem a resposta do poder judiciário, continuam suas
atividades que impactam positivamente de centenas a milhares de pacientes no
tratamento das mais diversas patologias (AZEVEDO, 2020).
O relator Gilmar Mendes, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso, cerca de um
quarto da Corte, “declararam inconstitucional a incriminação da posse de Cannabis
para uso pessoal e seu cultivo para produção de pequena quantidade para uso
pessoal, incluindo a hipótese de finalidade terapêutica” (MARONNA, 2021).
Em 2020, a APEPI chegou a receber uma liminar (proferida pelo juiz que
analisa o caso), permitindo seu funcionamento, mas foi revogada meses depois, após
questionamentos da Anvisa (THEDIM, 2021).

O que já ocorreu com a ABRACE, no qual o desembargador Cid Marconi no


TRF da 5ª Região concedeu suspensão que impedia o funcionamento da associação.
Recuou após visitar as instalações e entender melhor sobre como ocorre o cultivo da
maconha e o beneficiamento para o uso medicinal (CONJUR, 2021).

“A 8ª câmara Criminal do TJ/MG autorizou um pai a plantar cannabis para


tratamento médico de filho que sofre de epilepsia e autismo. O colegiado considerou
que sem o plantio, o tratamento de saúde do paciente, que já fez uso de diversos
medicamentos convencionais sem sucesso, seria inviabilizado” (MIGALHAS, 2021).

Advogados passaram a levar o conhecimento de farmacêuticos e


neurocientistas para o processo judicial na disputa do uso da maconha como

oferece todas as garantias aos pacientes para que tenham a cannabis de que precisam para satisfazer
o seu tratamento terapêutico, sem incorrer em qualquer tipo de crime, nem sujeitando à criminalização
e estigma social de ingressar em circuitos ilícitos. Assim, a consideração dos direitos fundamentais dos
usuários implica necessariamente de mecanismos suficientes para que o acesso à cannabis medicinal
seja garantido, independentemente das condições socioeconômicas e das capacidades de quem busca
ter acesso ao tratamento.
36

ferramenta terapêutica. “Embora haja um discurso falacioso, juízes não tiveram como
negar o direito ao uso medicinal e começamos a fissurar a proibição a partir de uma
advocacia baseada em evidências científicas. Magistrados acolheram isso como
argumento de autoridade científica” (PODER360, 2021).

“O juiz de Direito Antônio José Pêcego, da 3ª vara Criminal de Uberlândia/MG,


autorizou um casal a cultivar cannabis sativa de forma artesanal para fins medicinais
para o tratamento de filho com paralisia cerebral e síndrome de West. De acordo com
os laudos médicos, a criança sofre de convulsões, que ao passar a fazer uso de
medicação à base da erva, apresentou melhoras” (MIGALHAS, 2021).

A aprovação do PL (projeto de lei) 399/2015 pela comissão especial que o


analisava na Câmara dos Deputados não se trata da proposta “ideal”, mas ainda
assim representa um avanço possível no momento (PODER360, 2021).

No dia 18 de junho de 2021, em sessão virtual, o STF decidiu de forma unânime


manter a sentença do Tribunal de Justiça Paulista, que o Estado Brasileiro é obrigado
a fornecer medicamentos que tenham importação autorizada pela ANVISA, ou sem
registro. Destacou a tese do ministro Alexandre de Moraes, sobre a proteção da
criança e do adolescente como um dos valores fundamentais, no qual cabe ao Estado
assegurar o direito à vida e à saúde (CANNABIS&SAÚDE, 2021).

A especialista em Direito à Saúde e fundadora da Câmara de Mediação e


Arbitragem da Cannabis, a advogada Ana Izabel de Holanda. “O judiciário deve ser
provocado, mas as chances de êxito, aumentaram significavamente para que os SUS
cubra a Cannabis medicinal utilizando apenas a autorização excepcional de
importação. Nas solicitações médicas, já tem que ressaltar isso, da impossibilidade
de substituição de medicamento” (CANNABIS&SAÚDE, 2021).

Para o STF, o estado fornecerá desde que comprovada a incapacidade


econômica do paciente, a imprescindibilidade clínica do tratamento, e a
impossibilidade de substituição por outro similar constante das listas oficiais de
dispensação de medicamentos e os protocolos de intervenção terapêutica do SUS
(CANNABIS&SAÚDE, 2021).
37

3.3. PROJETO LEI Nº 399/2015

O projeto de Lei 399 de 23 de fevereiro de 2015 de autoria do então deputado,


o Sr. Fábio Mitidieri do PSD/SE altera o art. 2º da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de
2006, para viabilizar a comercialização de medicamentos que contenham extratos,
substratos ou partes da planta Cannabis sativa em sua formulação (BRASIL, 2021).
Cujo o objetivo central do presente projeto é permitir que a sociedade brasileira
possa ser beneficiada, quando essencial e necessário ao tratamento de determinadas
patologias, com o uso de apresentações farmacêuticas que tenham na sua fórmula a
Cannabis sativa, ou partes dela, ou ainda de canabinóides dela derivados. Em outras
palavras, o projeto busca viabilizar o uso lícito dos medicamentos que tenham como
princípio ativo substâncias oriundas da maconha (BRASIL 2021).
O PL 399/2015 é o único a não abordar a possibilidade de autocultivo (tanto
recreativo quanto medicinal) e, igualmente, é o único a abordar diretamente o Sistema
Único de Saúde (SUS). “O fato de ter sido incluída no Sistema Único de Saúde (SUS)
e estar disponível pelo SUS “deselitizaria e desdolarizaria” o tratamento dos pacientes
que necessitam da Cannabis medicinal, além de eliminar a necessidade e os custos
de ações judiciais para acionar o poder público (judicialização) para obtenção de um
fármaco” (AZEVEDO, 2020).
Argumenta ainda Azevedo,

Ao excluir pessoas físicas, ignora a possibilidade do próprio paciente cultivar


o seu medicamento, se emancipando e se empoderando frente a indústria
farmacêutica ao elaborar o próprio medicamento (dadas as orientações
necessárias para plantio, conservação e extração do óleo de Cannabis pelas
Associações e outros pacientes plantadores assegurando a qualidade do
óleo extraído), e, igualmente, se empoderando frente a própria patologia, ao
tornar-se sujeito ativo no próprio tratamento e não somente vítima da
patologia que o acomete (2020).

Neste caso, um marco histórico se faz presente neste mês de junho, pois a
comissão especial da Câmara dos Deputados que analisou o Projeto de Lei 399/15
aprovou parecer favorável à legalização do cultivo no Brasil, exclusivamente para fins
medicinais, veterinários, científicos e industriais, da Cannabis sativa, planta também
usada para produzir a maconha. (BRASIL, 2021).
38

Na comissão especial, o texto-base recebeu nesta manhã 17 votos favoráveis


e 17 contrários. O desempate em favor da aprovação coube ao relator, conforme
determina o Regimento Interno da Câmara (BRASIL, 2021).

O obscurantismo por pouco não negou a milhares de pessoas o tratamento


digno. Além disso, a ala que prega a desinformação, o preconceito, e a discriminação
não se deu por vencida e tenta levar o projeto a plenário. Ademais, nem a legislação
nacional é observada, pois o plantio da cannabis para fins medicinais e científicos
desde 2006, pela chamada Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), aprovada no governo
Lula (PEDROSA, 2021).

O substitutivo aprovado legaliza o cultivo da Cannabis, mas impõe restrições.


“O plantio poderá ser feito apenas por pessoas jurídicas (empresas, associações de
pacientes ou organizações não governamentais) ”. Sem previsão para o cultivo
individual, ou seja, seguirão proibidos cigarros, chás e outros itens derivados da planta
(MIGALHAS, 2021).

Segundo Luciano Ducci, o foco é a aplicação medicinal da Cannabis, presente


hoje em 50 países. “Nunca foi premissa discutir a legalização da maconha para uso
adulto ou individual”, disse, lembrando que, criada em 2019, a comissão especial fez
12 audiências públicas, além de recolher informações no Brasil e no exterior (BRASIL,
2021).

A matéria tramita em caráter terminativo e poderia ser enviada diretamente ao


Senado. Entretanto, parlamentares desfavoráveis garantem que entrarão com recurso
para que o PL seja levado ao plenário da Câmara. (SECHAT).

Ainda pela proposta, o cultivo de plantas de Cannabis medicinal deverá ser


feito exclusivamente em casa de vegetação. Ou seja, é uma estrutura montada para
cobrir e abrigar artificialmente plantas. É feita com materiais transparentes, para
permitir a entrada da luz solar e tem como objetivo, proteger as mudas contra os
agentes meteorológicos. (GLOBO).
Entretanto, nem tudo são flores nas terras tupiniquins e os tempos sombrios
que avassalam nossa democracia, assim como os planos terríveis, nefastos e
ideológicos da ala governista. Na opinião do deputado federal Osmar Terra (MDB/RS),
39

de que o relatório está sendo votado às `'escondidas", e que para ele é uma maneira
de legalizar o plantio e a comercialização de maconha no Brasil (UNIAD, 2021).
Para o deputado federal Diego Garcia (PHS/PR), o relatório da PL 399/15
deveria ser “enterrado”, in verbis:

O que está em jogo agora não é mais o interesse da família, mas da indústria
que quer faturar e ganhar muito no território nacional e daqueles que querem
liberar as drogas no nosso país a todo custo. Tanto que quando disse que
alguns partidos queriam a liberação das drogas, ninguém teve condições de
me contradizer, o que demonstra claramente o interesse de muitos
parlamentares que estão votando aqui. Nós não vamos liberar a maconha no
Brasil e vamos continuar trabalhando para derrubar o relatório do deputado
Luciano Ducci. (UNIAD, 2021).

Os obscurantistas governistas como o Dr. Quirino Cordeiro Júnior, que é


Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, atrelado ao Ministério da
Cidadania, afirma que há articulações para barrar a liberação da Cannabis em solo
nacional, destaca-se sua fala, in verbis:

“Esse texto atual tem o objetivo claro de permitir o plantio em larga escala da
maconha e a fabricação de derivados da maconha para fins industriais,
cosméticos e inclusive para fins alimentícios. É um grande absurdo o que
está acontecendo aqui! Por isso, nós estamos articulando para que esse
famigerado projeto não siga adiante na Câmara dos Deputados” (UNIAD,
2021).

E complementa seu pensamento:

“Nós não podemos cair no canto da sereia de projetos como esse, que se
apresenta como algo que vai ajudar as pessoas a ter acesso a medicação,
quando basicamente o que faz é buscar legalizar a maconha no Brasil. Esse
projeto, se for aprovado, cria o Marco Regulatório da Maconha no Brasil, ou
seja, é tudo fachada essa questão de liberar remédio. É apenas uma brecha
que aqueles que defendem a legalização das drogas tem usado para colocar
goela abaixo da sociedade brasileira essa situação e nós somos
absolutamente contra e seguiremos lutando até o final para que isso não siga
adiante” (UNIAD, 2021).

Ademais, o comentário do Presidente da República, para seus apoiadores na


saída do Palácio do Alvorada, que exprime o pior, o negacionismo com fantasia, in
verbis: “Se chegar para mim, eu veto. Engraçado que a maconha pode e a cloroquina
40

não pode. A esquerda sempre pega uma oportunidade para querer liberar as drogas”
(UNIAD, 2021).
Opostamente, o neurocirurgião funcional e diretor médico do Centro de
Excelência Canabinóide (CEC), Dr. Pedro Antônio Pierro Neto, afirma que a cannabis
não é um novo tratamento para a dor, e sim um dos mais antigos, mas que é novo
para a área médica. Dos quais, nos últimos anos a ciência se aprofundou, possuindo
assim ensaios clínicos envolvendo placebos, randomizados e duplo-cego, condições
estas fundamentais para uma boa evidência científica. E, que em 2020 é estimado em
torno de 3 mil publicações científicas foram publicadas sobre o referido tema
(FORATO, 2021).
O presidente do Conselho Nacional de Medicina (CFM), o Dr. Mauro Ribeiro,
em entrevista que era para falar sobre a covid-19 relacionou a cannabis, ao dizer que
a ciência muda, admitindo que foi contra o uso para o fitofármaco e suas propriedades
medicinais. Ao caso que, nesses últimos tempos tem se mostrado a favor, como
relatado na entrevista, além do reconhecimento de suas propriedades medicinais.
(CAVALCANTE, 2021).
Felizmente, contra esses tempos medievais que passamos, a maioria da
população não coaduna com tal negacionismo, tanto que, a pesquisa divulgada pela
revista Exame e Instituto Ideia reforça que 78% dos brasileiros são favoráveis ao uso
medicinal e que usariam caso fosse indicado pelo médico (PEDROSO, 2021).
Outro fator importante, é a discussão iniciada na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, de autoria do deputado
Goura (PDT), a PL 962/2019, que determina o acesso de medicamentos e produtos,
industrializados ou artesanais, assegurado por meio de associações autorizadas para
a produção, distribuição, importação e comercialização a base de CBD e THC. A
matéria teve parecer favorável do relator, deputado Paulo Litro (PSBD), e recebeu
pedido de vistas coletivo, devendo retornar as pautas das sessões (ALONSO, 2021).
41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em mais de 50 países ao redor do mundo possui alguma regulação, ou


regulamentação, para o uso terapêutico, medicinal e recreativo (adulto), essa
realidade de que a Cannabis é uma alternativa comprovadamente segura, devido aos
estudos científico expostos, histórico de uso milenar da planta, a descoberta
de canabinóides e do sistema endocanabinóide, relatos de pacientes, ativismo judicial
por pacientes e associações, e as vias regulatórias que tramitam pelo congresso
nacional, e a recém criada 962/2019 que tramita na CCJ da Assembleia Legislativa
do Paraná.
Como objetivo de estudo desta pesquisa, é apresentar que o autocultivo é uma
forma segura e econômica, podendo ser utilizada como obtenção
de fitocanabinóides na melhora no estado clínico de pacientes. Abrindo portas para a
regulamentação para uso pessoal, terapêutico, industrial e científico, desonerando o
Estado de importar apenas medicamentos com princípios isolados. Contrapondo o
ativismo particular das mães de pacientes, associações diante da ANVISA, que
procuram justamente por autocultivo, para que não seja vista de forma marginalizada,
dada a desinformação, conservadorismo e negação da ciência e suas evidências.
Porém, mesmo que fosse uma linha de raciocínio simples, a burocracia atrelada
a demonização da Cannabis sativa, os factóides criados de que a erva seria perigosa,
criam barreiras para que pacientes e associações possam ter acesso à insumos,
importação de sementes, o preconceito social, e até mesmo em abordagens policiais,
sem que haja ao paciente a escolha de plantar seu próprio medicamento, lhe sendo
então negada a autonomia de sua necessidade, vontade ou livre-arbítrio.
Importante salientar, as grandes diferenças sobre os produtos oferecidos pelas
indústrias farmacêuticas, os quais contém substâncias isoladas, como
o Canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC), diferente na planta in natura que
se dá o efeito Entourage (é um termo usado para descrever a complexa interação
entre todos os compostos químicos diferentes – ou a comitiva [em francês, entourage]
– da planta de Cannabis), isso inclui todos os 113 canabinóides, centenas de
diferentes terpenos, ligninas, flavonóides, polifenóis e muitos outros traços químicos
encontrados na planta de Cannabis.
42

Alguns pesquisadores como o neurocientista Sidarta Ribeiro, endossam o


assunto sobre o autocultivo, a possibilidade de o indivíduo escolher sua medicação e
até a via da administração medicamentosa (vaporizar, oral, sublingual, nasal ou
tópico), e que deveria ser regulamentada tanta para o uso medicinal como o uso adulto
(recreativo), criando um novo mercado, criando impostos, e tendo controlo sobre os
produtos comercializados, além de fomentar a indústria do cânhamo.
Dada a regulamentação, pode-se aferir a qualidade dos produtos oferecidos no
mercado, um maior controle do Estado sobre essa regulamentação e sua
desoneração do Ente Público.
O meio mais utilizado para que pacientes tenham acesso ao tratamento e
possam autocultivar ou receber medicamentos por mão do Estado, dá-se pela via
Judicial, com a impetração de Habeas Corpus individuais ou coletivos. In casu, a
ABRACE em 2017, foi a primeira associação a receber uma decisão judicial favorável
para fins de cultivo coletivo e fornecimento de óleo para seus associados. Uma
primeira vitória em termos de avanço na área, que posteriormente possibilitou para
que a APEPI, do Rio de Janeiro, em julho de 2020 recebesse a autorização para
plantar Cannabis, realizar pesquisas e fornecer medicamentos para pacientes
associados.
Houve um grande aumento de Habeas Corpus preventivos impetrados na
Justiça para fins de plantio de Cannabis em casa para fins medicinais. Constatando
que os juízes têm decidido, embasando suas deliberações no Direito Fundamental à
Saúde. Assim como em recente decisão do Juiz Décio Menna Barreto de Araújo Filho,
em Joinville/SC, que estabeleceu em sua sentença o salvo-conduto à paciente para
que pudesse plantar a quantidade de 16 pés da planta, suficientes para que possa
extrair o óleo, mas que seja destinada exclusivamente para uso medicinal do
paciente.
E que em avanço no pensamento do STF, cerca de um quarto da corte
declarou inconstitucional a incriminação da posse de Cannabis para uso pessoal e
seu cultivo para a produção de pequena quantidade para uso pessoal ou terapêutico.
Ademais, em novíssima decisão unânime do STF, junho de 2021, destaca-se a tese
de Alexandre de Moraes de que para a proteção da criança e do adolescente cabe ao
43

Estado assegurar à vida e à saúde, ou seja, disponibilizar caso necessário


medicamentos fitocanábicos.
Outro avanço foi a proposta do Projeto Lei 399 de setembro de 2015, de autoria
do deputado Sr. Fábio Mitidieri do PSD/SE, cujo objetivo é que a sociedade brasileira
seja beneficiada, buscando viabilizar o uso lícito de medicamentos à base de
Cannabis Sativa. O texto foi aprovado através do desempate do relator Luciano
Ducci.
Embora ainda a ala obscurantista do governo Bolsonaro haja em prol do
negacionismo como os relatos de Osmar Terra (MDB/RS), o deputado Diego Garcia
(PHS/PR) que afirma que a PL deveria ser “enterrada”, juntamente com o secretário
de Cuidados e Prevenção às Drogas o Dr. Quirino Cordeiro Júnior, que reafirma ser
um pretexto para a liberação das drogas. Além disso, os comentários do então
Presidente da República, de que vetará o projeto caso passe pelo Congresso
Nacional.
Opostamente, outros tantos países estão indo na direção da liberação e
regulamentação do uso da Cannabis Sativa, sendo um novo remédio, o remédio do
século, como comenta o neurocientista Sidarta Ribeiro. Assim como reafirma o
neurocirurgião funcional, o Dr. Pedro Antônio Pierro Neto, que nos últimos anos a
ciência se aprofundou, que dado a pesquisas randomizadas, com placebos e duplo-
cedo, atestam ótimas evidências científicas sobre a maconha no ano de 2020 é
estimado em mais de 3 mil publicações sobre maconha.
Outra curiosidade é que mesmo em tempos sombrios na ciência brasileira, o
presidente do Conselho Federal de medicina (CFM) afirma que a mudou de ideia
sobre o uso do fitofármaco e suas propriedades, de que nos últimos tempos além de
reconhecer suas propriedades medicinais, diz estar a favor.
Em entrevista à revista Exame e o Instituto Idea, reforça o argumento, pois
78% dos entrevistados brasileiros são favoráveis ao uso medicinal, e que usariam
se fosse indicado por seu médico.
Ademais, esses movimentos fomentaram a discussão a ser iniciada na
Assembleia Legislativa do Paraná, através da autoria do deputado GOURA (PDT), a
PL 962/2019 que determina acesso a medicamentos e produtos, sejam eles
industrializados ou artesanais, dos quais sejam assegurados por meios de
44

associações regulamentadas e autorizadas para a produção, distribuição, importação


e comercialização a base de THC e CBD.
É salutar que a sociedade esteja a par das decisões regulatórias, disposta a
questionar o governo que atualmente inviabiliza a sua regulamentação. Como já
apresentado em diversas pesquisas, é nítida a opinião pública dos brasileiros ao
desejar o acesso à Cannabis medicinal e industrial.
Numa perspectiva de projeção, a regulamentação para o uso responsável, uso
adulto/recreativo poderá vir a ocorrer, com a difusão de conhecimento, reconfigurando
o paciente/usuário do status da marginalização, segregação, a forma pejorativa como
são chamados “maconheiros”. Passando a atuar no fomento de empregos, pequenas
associações, contribuirão para a criação de um mercado nacional regulamentado e
as devidas taxação de impostos sobre essa nova porta que se abre diante de uma
nova perspectiva de mercado, inclusive na recuperação econômica após a grave
pandemia de COVID-19 que afeta o Brasil e o mundo.
Por fim, que esse trabalho possa impulsionar outros acadêmicos,
pesquisadores, pacientes e a sociedade, para manter viva a discussão sobre o tema,
fomentando principalmente sua desmistificação, através da educação e informação
de qualidade.
45

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