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REVISTA
projetos como o da REVISTA segundo artigo, assinado pelo
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO professor Eros Roberto Grau,
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. aborda a Música e o Direito,
Outro projeto que acabamos fazendo um paralelo entre os
de inaugurar é a Biblioteca dois temas.
Sergio Cavalieri Filho, situada Em seguida, o procurador
no andar térreo da nova sede Gustavo Binenbojm discorre
do TCE-RJ. Projetada para ser sobre as parcerias público-
um espaço contemporâneo privadas e a vinculação
de convivência, pesquisa e de receitas dos fundos de
informação, a biblioteca ‒ participação como garantia
aberta ao público ‒ ocupa área das obrigações do poder
de 700 metros quadrados no público. Ele registra que o
andar térreo do Edifício Rui êxito destas parcerias está
Barbosa. atrelado à capacidade do poder
Oferece salas de reunião para concedente em torná-las uma
estudos em grupo, internet alternativa rentável, vantajosa
com sistema wi-fi, notebooks, e, principalmente, segura de
terminal de autoatendimento investimento para os particulares.
‒ inclusive para deficientes Fechando a nossa doutrina,
‒, mesas de estudo, armários o professor Toshio Mukai
para guarda de objetos dos destaca que associações
usuários e salão multiuso com ou sociedades sem fins
sofás e instalações para serviço lucrativos, partícipes de
de cafeteria. convênios com órgãos ou
Esses e outros projetos entidades públicas e estatais,
que ainda virão têm como não podem estar sujeitas à
objetivo primordial dar mais Lei 8.666/93 e aos princípios
funcionalidade e eficácia ao da Administração Pública.
TCE-RJ, de forma impessoal, Os votos prolatados pelos
7
padronizada e sem ostentação. conselheiros deste Tribunal
TRIBUNAL DE CONTAS DO
7 ESTADO DO RIO DE JANEIRO
1º SEMESTRE ¦ 2014
REVISTA
7 TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
1º SEMESTRE | 2014
Conselho Deliberativo
Presidente
EXPEDIENTE Jonas Lopes de Carvalho Junior
Coordenadora-Geral de Comunicação Social,
Imprensa e Editoração Vice-Presidente
Fernanda Pedrosa
Aluisio Gama de Souza
Coordenação Editorial
Des. Sergio Cavalieri Filho
Procurador-Geral do TCE-RJ
Conselheiros
José Gomes Graciosa
Jornalista responsável: Fernanda Pedrosa (Mtb
13.511) / Editor executivo: Fernando de Lima / Revisão:
Marco Antonio Barbosa de Alencar
Márcia Aguiar / Projeto gráfico e arte: Inês Blanchart / José Maurício de Lima Nolasco
Diagramação: Margareth Peçanha e Daniel Tiriba /
Fotografia: Arquivo TCE-RJ / Pesquisa de glossário:
Julio Lambertson Rabello
Luiz Henrique Almeida Pereira Aloysio Neves Guedes
Impressão
Gráfica Rio DG
Tiragem: 500 exemplares
Distribuição gratuita
Ficha catalográfica
Semestral
ISSN: 0103-5517
SUMÁRIO
Editorial
Jonas Lopes de Carvalho Junior 4
Doutrina
Controle de políticas públicas 8
Dalmo de Abreu Dallari
A música e o direito 16
Eros Roberto Grau
Votos
Tomada de contas especial 60
Aluisio Gama de Souza
Contrato 112
Marco Antonio Barbosa de Alencar
Contrato 120
José Maurício de Lima Nolasco
Consulta 136
Julio Lambertson Rabello
4
EDITORIAL
como o exemplar da Lei Orçamentária do Estado da
Guanabara de 1965, há centenas de títulos de Direito,
Administração, Contabilidade e Economia, teses de
mestrado e doutorado, estudos sobre as contas públicas
do estado, CDs e DVDs com gravações de palestras e
seminários.
5
DOUTRINA
8
Controle de
políticas públicas
Dalmo de Abreu Dallari
9
I. Políticas públicas:
inovação no direito brasileiro
O tema das políticas públicas é uma das mais importantes inovações
do direito contemporâneo, implicando reflexões e criações teóricas ao
lado de transformações da mais alta relevância na organização e no
funcionamento dos poderes públicos, com reflexos muito positivos na
definição e prática dos direitos sociais. Por sua grande importância para
a construção de uma sociedade democrática e justa, a noção de políticas
públicas já suscitou importante contribuição teórica e exige a atenção de
todos os que, atuando no aparato jurídico do Estado ou com influência
na formação das mentalidades jurídicas e na prática dos direitos, buscam
a efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana.
10
II. Conceito de políticas públicas
Na linha das ponderações de Fábio Comparato expostas, Maria Paula
Dallari Bucci, eminente Professora Livre-Docente da Faculdade de Direito
Universidade de São Paulo e com valiosa experiência na Administração Pública
federal, desenvolveu amplos e minuciosos estudos sobre as políticas públicas,
tendo já publicado vários trabalhos relevantes sobre o tema, entre eles um
livro intitulado Direito Administrativo e Políticas Públicas (Ed. Saraiva, 2002) e,
mais recentemente, outra obra substanciosa com o título Fundamentos para
uma Teoria Jurídica das Políticas Públicas (Ed. Saraiva, 2013). Tomando por
base os precedentes teóricos e sua experiência nas práticas governamentais,
fixou ela um conceito, claro e preciso, de políticas públicas. Para chegar à
conceituação assinala a ilustre jurista que “as políticas são instrumentos de
ação dos governos — o government by policies, que desenvolve e aprimora
o government by law. A função de governar — o uso do poder coativo do
Estado a serviço da coesão social — é o núcleo da idéia de política pública,
redirecionando o eixo de organização do governo da lei para as políticas”.
11
políticas públicas. Com efeito, elas implicam a definição de objetivos
relacionados com direitos fundamentais, havendo importância óbvia na
realização de um controle jurídico relativamente à definição das políticas e
sua implementação pela Administração Pública, estando sempre presente
o pressuposto de que as políticas públicas são de relevante interesse
público e social.
12
Retomando os ensinamentos de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, cabe
observar que, indo além do que já foi anteriormente exposto e fazendo
ponderações que interessam diretamente à questão do controle das
políticas públicas, acrescenta a eminente mestra: “Embora o controle seja
atribuição estatal, o administrado participa dele na medida em que pode e
deve provocar o procedimento de controle, não apenas na defesa de seus
interesses individuais, mas também na proteção do interesse coletivo. A
Constituição outorga aos particulares determinados instrumentos de ação
a serem utilizados com essa finalidade. É esse, provavelmente, o mais eficaz
meio de controle da Administração Pública: o controle popular.” (ob. cit., p.
575). Na realidade, sendo todo o povo, ou uma parte dele, o destinatário da
política pública, o controle pelo povo é o meio mais eficaz para avaliação
da efetividade da política pública consubstanciada num programa de ação
governamental.
13
Tratando diretamente desse ponto, o problema do controle das políticas
públicas pelo Judiciário, Maria Paula Dallari Bucci faz considerações
muito precisas, fundadas na realidade atual, sobre importantes inovações
acolhidas pelo direito de modo geral e com forte repercussão no
direito positivo brasileiro, dando especial ênfase à inovação que se tem
denominado “judicialização da política” ou “politização do Judiciário”.
Diz ela que o simples reconhecimento da ocorrência desse fenômeno já
demonstra a processualidade das políticas públicas, na medida em que
maior número de conflitos sociais passa a ser submetido à lógica processual,
submetido ao Poder Judiciário. E, como bem observa, “são exemplos
disso os processos coletivos, a abertura ao tratamento dos interesses
difusos e coletivos”. E acrescenta que a grande inovação que
[...] a decisão as políticas públicas trazem é imputar consequências, dentro
de determinados parâmetros, “para a inércia ou incúria dos
judicial há de governos em implementar as políticas públicas ou medidas
necessárias para a efetivação dos direitos” (Fundamentos para
ser baseada na uma Teoria Jurídica das Políticas públicas, p. 192).
com a real pública e o que pode ou deve fazer o Poder Judiciário. Observa,
então, que cumpre ao autor da ação, quando invoca a inércia do
competência poder Público, ou a execução imparcial ou incompleta da política
ou, ainda, a ausência da destinação de recursos, demonstrar
do agente que a expectativa é legítima, no quadro de funcionamento dos
Poderes da República.
público para a
No tocante ao papel do juiz, observa que a decisão judicial há
implementação de ser baseada na confrontação do dever existente com a real
competência do agente público para a implementação da política.
da política. E depois de ponderar que esse é o sentido político-institucional
do controle judicial de políticas num cenário democrático, alerta
para a necessidade de equilíbrio e razoabilidade na invocação da
interferência do Judiciário. Observa, então, que “não se trata de conceber
o Poder Judiciário como mera arena de conflitos, mas respeitar que a
exigência judicial de direitos seja uma alternativa possível. Diante dela,
cabe à autoridade prestar contas, informar como está sendo planejado o
enfrentamento da questão, quais os meios imediatamente disponíveis,
quais os resultados a serem obtidos ao longo do tempo. Só desse modo se
terá o verdadeiro escrutínio da conduta do Poder Público, sem parti pris,
seja de um lado seja de outro” (ob. cit., p. 197).
14
V. Conclusão
O acolhimento da noção de políticas públicas é uma inovação
extremamente importante do sistema jurídico brasileiro. Essa inovação está
inserida na linha de ampliação das garantias constitucionais dos direitos,
que é um dos traços fundamentais da Constituição brasileira de 1988. Na
realidade, dando acolhida e garantia aos direitos humanos civis e políticos
e aos direitos econômicos, sociais e culturais, a Constituição
consagrou novos meios de proteção e reivindicação desses
direitos, ampliando, por exemplo, as possibilidades de acesso da
E o controle
cidadania ao Poder Judiciário. E para tanto foram criados novos
judicial das
instrumentos jurídicos que podem ser acionados para o acesso ao
Judiciário, com a ampliação das possibilidades de recurso a uma políticas públicas é
instância judiciária e o estímulo à criação de novos instrumentos,
como a Defensoria Pública, e de novas ações judiciais à disposição um complemento
dos cidadãos e dos grupos sociais. Disso resultou, entre outras
inovações de grande alcance, a Lei da Ação Civil Pública, Lei necessário para
nº 7347, de 1985, que, como bem observa Maria Paula Dallari
Bucci, inaugurou no Brasil o paradigma das ações coletivas. E,
que se busque
como bem observa a mesma autora em sua obra Fundamentos e obtenha a
para uma Teoria Jurídica das Políticas Públicas, anteriormente
referida, com essas inovações “o universo dos bens tutelados pela efetividade dos
lei – originalmente meio ambiente, consumidor, bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico – direitos individuais
ampliou-se com a edição do Código de Defesa do Consumidor,
Lei nº 8078, de 1990, que estende as hipóteses de cabimento da
e sociais
Ação Civil Pública aos casos de infração da ordem econômica e
consagrados na
da economia popular, além da tutela da ordem urbanística ou
qualquer outro interesse difuso ou coletivo” (p.193). Constituição.
Em conclusão, a figura jurídica das políticas públicas foi uma das
mais importantes inovações do sistema jurídico brasileiro dos últimos
tempos, contribuindo para a correção, por meios jurídicos, pacíficos
portanto, das injustiças sociais e da marginalização de segmentos da
cidadania. E o controle judicial das políticas públicas é um complemento
necessário para que se busque e obtenha a efetividade dos direitos
individuais e sociais consagrados na Constituição.
15
A música e
o direito
Eros Roberto Grau
Eros Roberto Grau
Professor Titular A música é arte; o direito,
aposentado da USP
Membro da Academia uma prudência
Paulista de Letras
da lei, de outro. peça teatral. A fruição estética que a obra enseja é alcançada
mediante a compreensão/reprodução do intérprete.
18
do texto. É a norma que resulta da interpretação. O intérprete "produz a
norma" a ser aplicada a certos fatos sem exceder o texto. A interpretação
do direito é mediação entre o caráter geral do texto normativo e sua
aplicação particular, em cada caso.
Para os juízes não há – não deveria haver – plateia alguma. Ainda que,
em determinados tribunais, certos juízes se excedam em figuras literárias,
demoradamente, ao votar. Dirigindo-se à plateia, em êxtase de si mesmos...
Não estou a dizer que todos os juízes afastam-se da prudência para a qual
foram talhados. Aqui e ali, no entanto, é uma prudência alvoroçada que
exercem, fazendo bonito para a plateia. Isso não dará certo, mesmo porque
a plateia está farta de espetáculos de qualidade bem ruim, legislativos e
executivos. Por conta disso, aliás, vem a minha memória um poema de
Álvaro de Campos a propósito de o dia estar dando em chuvoso.
19
As parcerias
público-privadas e a
vinculação de receitas dos
fundos de participação
como garantia das
obrigações do poder público
Gustavo Binenbojm
Gustavo Binenbojm1
Procurador do Estado e Resumo
Advogado
A Lei das PPPs estabeleceu uma nova racionalidade econômica para os
contratos administrativos, baseada na ideia de cooperação do Estado com
os particulares na consecução de projetos públicos de vulto. A concessão
de garantias sólidas por parte do poder concedente mostra-se essencial
para atrair investimentos privados e possibilitar o sucesso da parceria. Neste
contexto, a vinculação de receitas públicas, notadamente aquelas oriundas
dos fundos de participação, parece ser um eficiente instrumento de garantia,
desde que superadas as objeções quanto à sua juridicidade. Este artigo
pretende refutar tais questionamentos, demonstrando que a vinculação de
receitas públicas não viola o regime de precatórios (art. 100 da Constituição),
e que a afetação de receitas do FPE e do FPM para a satisfação das obrigações
pecuniárias contraídas pelo poder concedente em contratos de PPP não
afronta ao princípio da não-vinculação (art. 167, IV, da Constituição).
Introdução
Por meio da Lei nº 11.079/2004, o legislador regulou as parcerias público-
privadas (PPP), trazendo uma nova lógica econômica às contratações
públicas2, mais pragmática e realista, centrada em resultados práticos
e na busca da redução dos riscos privados. Com o advento do referido
diploma legal, o Estado novamente reconheceu a existência de limitações
financeiras que o impedem de realizar projetos de grande porte. Para
contornar esse problema, o legislador permitiu que o Poder Público se
associasse aos particulares para realizar os investimentos necessários
para a concretização de empreendimentos de grande magnitude, que
os entes públicos não teriam condições de realizar sozinhos, sob pena de
aumentarem ainda mais seus já elevados graus de endividamento.3
22
efetivamente, sair do papel, sem que o Poder Público comprometa suas
finanças para isso. Assim, pode-se afirmar, com toda a tranquilidade, que o
sucesso do modelo de parcerias público-privadas passa necessariamente
pela identificação dos contratos de PPP como uma opção de negócios
segura e, portanto, lucrativa para os particulares.
23
verdade, ela busca assegurar ao particular que o contrato de PPP será
observado tal como pactuado, sem os ônus que decorrem da necessidade
de execução de prestações diversas, o que, sem dúvidas, melhor se
harmoniza com o espírito da Lei nº 11.079/2004.
24
devidos pela Fazenda Pública, em virtude de sentença judicial transitada em
julgado, far-se-ão na ordem cronológica de apresentação de precatórios. Esse
sistema atende ao princípio da isonomia e dá a nota de impenhorabilidade dos
bens públicos. As dívidas judiciais do Poder Público possuem regime próprio, o
qual afasta a possibilidade de penhora e institui como regra geral o sistema de
precatórios.
O art. 100 da Constituição, portanto, não pode ser lido de forma absoluta,
como se toda e qualquer afetação de recursos fosse ilegítima, ou como se
todo e qualquer pagamento realizado pelo Poder Público representasse,
a priori, violação à ordem cronológica dos precatórios14. O regime de
precatórios somente se aplica ao pagamento de condenações referentes a
exercícios pretéritos15. Por exemplo: em ação na qual um servidor pleiteie
o pagamento de certa gratificação desde data retroativa, as diferenças
pretéritas apuradas em liquidação deverão ser pagas por intermédio de
precatório (ou de RPV)16. Apesar disso, o ente público também estará
25
obrigado a cumprir uma obrigação de fazer, consistente na implantação, pro
futuro, do benefício em prol do servidor. Tal obrigação, por óbvio, não será
satisfeita por precatório17. Está-se diante, assim, de obrigações vincendas,
motivo pelo qual não se cogita de vulneração ao art. 100 da Constituição.
26
Nada obstante isso, o fato é que os recursos do FPE e do FPM, embora
originados da espécie tributária em questão, têm a sua natureza modificada
quando destinados aos repasses para os estados e para os municípios. Para
chegar-se a essa conclusão é preciso, em primeiro lugar, compreender o
escopo e o alcance do princípio da não vinculação.
27
O primeiro aspecto a se destacar do dispositivo é o seu sentido lexical,
o qual aponta para uma interpretação estrita. Como tem entendido
o Supremo Tribunal Federal, o constituinte valeu-se de um conceito
técnico-jurídico de imposto. Com efeito, no que concerne às espécies
tributárias (i.e. impostos, taxas e contribuições), consolidou-se no STF o
entendimento de que o constituinte foi tecnicamente preciso quando
sobre elas dispôs21.
28
III.2 - Os recursos dos fundos de participação não têm
natureza de receita de impostos para fins de incidência do
art. 167, IV, CRFB
Sabe-se que o FPE e o FPM, de fato, são nutridos por receitas de impostos
federais (Imposto de Renda - IR e Imposto sobre Produtos Industrializados
- IPI), nos termos do disposto no art. 159 da Constituição. Diante disso,
questiona-se se os recursos repassados pela União, no bojo do FPE e do
FPM, seriam impostos, sujeitos ao princípio da não vinculação. A resposta
é negativa.
29
primeiro questionamento do Consulente, no sentido de que nada impede
que o município vincule percentual do FPM para custear despesa com
contribuição devida a Associação de Municípios.” (grifou-se). 27
de cada ente de 06/01/32, não se aplicam aos débitos de FGTS. 2. Revela-se abusiva
a decisão judicial que, sob o fundamento de ser quinquenal o prazo
federativo, e sua prescricional desse Fundo, determina a suspensão do pagamento de
parcelamento ajustado entre a CEF e Município devedor. 3. Não é
livre utilização ilegal a inserção, em parcelamento do FGTS, de cláusula que com
autorização legislativa, estipule, a título de garantia do ajustado,
representa a vinculação de cotas do Fundo de Participação dos Municípios. 4.
Mandado de segurança concedido.” (grifou-se)29.
parcela
AÇÃO RESCISÓRIA. TRIBUTÁRIO. FGTS. TERMO DE CONFISSÃO DE
significativa DÍVIDA E PARCELAMENTO DE MUNICÍPIO. GARANTIA. COTAS DO
30
A ideia subjacente a tais decisões é a de preservação do equilíbrio federativo
(arts. 1º e 18 da CRFB). Com efeito, os recursos dos fundos de participação
são de titularidade de cada ente federativo, e sua livre utilização representa
parcela significativa da autonomia constitucional que lhes foi conferida.
Logo, não seria admissível que, por força de sua origem em impostos
federais, tal circunstância pudesse manietar a autonomia administrativa e
financeira dessas unidades da federação.
31
receita do IR e do IPI (impostos federais) deve ser repassada aos Estados
e aos Municípios, em razão do que determina o art. 159, I, “a” e “b”, da
CRFB. E essa receita, quando recebida pelos entes locais, assim como no
caso do Município de Dourados - MS, tem sua natureza jurídica modificada,
tornando-se passível de vinculação para pagamento de débitos, sem que
se agrida o art. 167, IV, da Constituição34.
O Estado da Bahia, aliás, adota tal modelo desde 2009, apresentando resultados
bastante satisfatórios e interessantes. Naquele estado, há legislação específica
disciplinando a matéria: a Lei Estadual nº 11.477/2009. Referido diploma
autoriza, em seu art. 1º 35, a transferência de 18% (dezoito por cento) dos recursos
oriundos do FPE para fins de adimplemento das obrigações contraídas pelo
ente federativo em questão, bem como por entidades da sua administração
indireta, em contratos de parceria público-privada.
IV - Conclusão
O êxito das parcerias público-privados, previstas na Lei nº 11.079/2004,
está atrelado, inegavelmente, à capacidade do poder concedente em
torná-las uma alternativa rentável, vantajosa e, principalmente, segura de
32
investimento para os particulares. Em razão disso, o regime de garantias é
parte essencial da modelagem dos contratos de PPP: é por meio dele que o
parceiro privado identificará se há um real compromisso da Administração
Pública em cumprir suas prestações nos exatos termos acordados.
33
Ressalte-se, ademais, que a finalidade constitucional dos fundos de
participação se traduz na preservação do equilíbrio federativo. É o que
depreende do art. 160 da Constituição, que impede “qualquer restrição à
entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção”, nos quais se
incluem aqueles do referido fundo constitucional, previstos no art. 159 da
Constituição. Vale dizer: na Federação, em harmonia com o disposto no
art. 18, a origem federal dos valores do FPE e do FPM não pode cercear
a liberdade de definição dos Estados quanto a seus gastos, inclusive se
decidirem por afetar estes recursos a um determinado fim.
34
V - Bibliografia
BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças. 17ª ed. rev. e
atualizada por Hugo de Brito Machado Segundo. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 25ª ed.
rev., ampl. e atual. até a Lei nº 12.587/12. São Paulo: Atlas, 2012.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19ª Ed. São
Paulo: Malheiros, 2005.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: vol. IV. 19ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005.
SUNDFELD, Carlos Ari. “Guia jurídico das parcerias público-privadas”. In: Parcerias
Público-Privadas. Carlos Ari Sundfeld (org.), São Paulo: Malheiros, 1ª Ed., 2ª tir.,
2007.
35
OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 3ª edição. Ed.
Revista dos Tribunais: São Paulo, 2010.
Notas
1 - Professor Adjunto de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ, Professor da Pós-Graduação da Fundação Getúlio Vargas – FGV, Professor Emérito da Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. Doutor e Mestre em Direito Público pela UERJ e Master of
Laws (LL.M.) pela Yale Law School (EUA).
3 - Como se sabe, a Lei das PPP veda, em seu art. 2o, § 4º, a celebração de contratos de parceria público-
privada para empreendimentos “I – cujo valor do contrato seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões
de reais); II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou III – que tenha como
objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução
de obra pública.” A ideia é a de que as PPPs sejam usadas para empreendimentos de vulto, que demandam
investimentos cujo retorno não pode ser apurado em curto prazo.
4 - PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: vol. IV. 19ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 322.
5 - “No sentido estritamente técnico-jurídico, a garantia é um contrato ou obrigação acessória, de maneira que,
caso seja inadimplida a obrigação principal, a garantia será exercida como forma de obter o crédito devido.
O mesmo não se passa com a garantia orçamentária da vinculação de receita. Neste caso, o inadimplemento
se dá pela própria receita vinculada arrecadada. Se não houver esse pagamento, não há uma garantia – no
sentido civilista – a ser acionada. Não terá o credor qualquer bem disponível para penhora, e tampouco
poderá iniciar qualquer procedimento de execução. Deverá, antes, buscar uma sentença judicial ou laudo
arbitral que poderá ser executado.”. RIBEIRO, Maurício Portugal; PRADO, Lucas Navarro. Comentários à Lei de
PPP – Parceria Público-Privada: fundamentos econômico-jurídicos. 1ª ed. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros,
2010, p. 220.
6 - Celso Antonio Bandeira de Mello posiciona-se em sentido contrário a toda e qualquer vinculação de
receitas. Cf. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19ª Ed. São Paulo: Malheiros,
2005, p. 730.
7 - As receitas oriundas do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e do Fundo de
Participações dos Municípios (FPM) são espécies do gênero “Fundos de Participação”, que, nas palavras do
professor Ricardo Lobo Torres, “constituem forma refinada e produtiva de redistribuição de receita”. (TORRES,
Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, vol. 1 – Constituição financeira, sistema
tributário e estado fiscal. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 507).
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos
industrializados quarenta e oito por cento na seguinte forma:
a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal;
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios;
c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os
planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos
destinados à Região, na forma que a lei estabelecer;
d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês
de dezembro de cada ano;
(…)”. (grifou-se).
9 - O art. 167, IV, da Carta Maior veda “a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a
destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do
ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos
36
arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita,
previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo”.
10 - “Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais,
em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim”.
11 - Neste sentido é o parecer exarado pelo professor Kiyoshi Harada, à época da promulgação da Lei nº
11.079/2004, a pedido da OAB/Seccional de São Paulo. Disponível em: http://www.haradaadvogados.com.br/
publicacoes/Pareceres/330.pdf, acesso em 28/04/14.
13 - Como já tive oportunidade de sustentar: “[o] óbice de natureza constitucional que tem sido oposto ao
mecanismo do fundo garantidor tem por fundamento o art. 100 da Constituição, que institui o sistema de
precatórios judiciais como forma de execução das dívidas do Poder Público e impõe a sua liquidação na ordem
cronológica da sua apresentação. A execução direta de bens e direitos do fundo garantidor – alega-se – estaria
fraudando o regime constitucional dos precatórios. Aqui não se vislumbra qualquer vício. Uma, porque seria
legítimo ao Poder Público desafetar determinado bem imóvel de seu patrimônio e dá-lo em garantia de um
contrato. A desafetação do bem importa a possibilidade de disposição do bem, o que se pode fazer mediante
as formas contratuais admitidas pelo direito. A constituição de uma hipoteca, por exemplo, seria uma forma
válida de garantir um contrato de que o Poder Público fosse parte”. (BINENBOJM, Gustavo. As Parcerias
Público-Privadas (PPPs) e a Constituição. In: Temas de direito administrativo e constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008, p. 136).
14 - Do contrário, todas as despesas com base contratual realizadas pelo Poder Público seriam inconstitucionais,
por inobservância da ordem cronológica aplicável aos precatórios.
15 - Como explica Ricardo Lobo Torres: “(…) o regime de precatório só se aplica às condenações referentes
aos exercícios pretéritos. As obrigações vincendas, a contar da sentença, podem e devem ser pagas
imediatamente, o que acontece sobretudo em matéria de pessoal” (TORRES, Ricardo Lobo. “O princípio
constitucional orçamentário da não-afetação”. In RDE, ano 2, nº 06, abr/jun 2007, p. 239).
16 - A Requisição de Pequeno Valor (RPV) consiste em meio de pagamento que se aplica apenas às obrigações
de pequeno valor que os entes federativos devem honrar por conta de sentença judicial transitada em julgado,
conforme prescreve o art. 100, § 3º, CRFB/88. A diferença entre ela e o regime dos precatórios, portanto, está
no valor da condenação: se de maior impacto, fica o pagamento sujeito ao trâmite ordinário dos precatórios.
Se de pequena monta, aplica-se o regime da RPV, cujo procedimento é bem mais simples. A definição do que
seria “obrigação de pequeno valor” depende de edição de lei pelo próprio ente e, na falta dela, incidem os
limites estipulados pelo art. 87, I e II, ADCT: quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do
Distrito Federal, e trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.
18 - “Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos,
nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos
relativos a impostos”.
19 - “O fato de nos encontrarmos em uma federação significa que existem diversidades regionais. Há regiões
de maior potencial de riqueza, outras com vocação turística, de preservação ambiental etc. Para sobrevivência
do Estado Federal, devem ser absorvidas tais tipicidades e providenciadas a distribuição adequada de
recursos, para que exista harmonia e cada qual siga sua tendência natural ou opcional de crescimento. Os
Fundos são, neste sentido, forte instrumento de política financeira, e destinam-se a remanejar recursos de
regiões mais fortes para as mais fracas, propiciando desenvolvimento sustentado ou buscar recursos para
financiamento de empresas que possam estabelecer-se em zonas de fraca procura. Com tais providências,
há racional distribuição de riquezas, para manutenção do crescimento uniforme do País, atendidas as
peculiaridades regionais.” (OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 3ª edição. Ed. Revista
dos Tribunais: São Paulo, 2010, pp. 316-317).
20 - COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário: Constituição e Código Tributário Nacional. 3ª ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 127.
37
21 - É o que se passa, por exemplo, com as imunidades constantes do art. 150, IV da Constituição. Tal dispositivo
veda a instituição de impostos e não de outros tributos. Assim, e.g., a imunidade de templos religiosos não
impede que sejam cobradas taxas ou mesmo contribuições. Nesse sentido, v.: STF, AI 458.856-AgR, Rel. Min.
Eros Grau, j. 05.10.2004, Primeira Turma, DJ de 20.04.2007; e STF, RE no 211.388-ED, Rel. Min. Maurício Corrêa, j.
10.02.1998, Segunda Turma, DJ de 08.05.1998).
22 - O art. 62 da Constituição de 1969 estendia a vedação a qualquer tributo, e não apenas aos impostos.
Confira-se: “Art. 62. O orçamento anual compreenderá obrigatoriamente as despesas e receitas relativas a
todos os Poderes, órgãos e fundos, tanto da administração direta quanto da indireta, excluídas apenas as
entidades que não recebam subvenções ou transferências à conta do orçamento. § 1º A inclusão, no
orçamento anual, da despesa e da receita dos órgãos da administração indireta será feita em dotações
globais e não lhes prejudicará a autonomia na gestão legal dos seus recursos. § 2º Ressalvados os impostos
mencionados nos itens VIII e IX do artigo 21 e as disposições desta Constituição e de leis complementares, é
vedada a vinculação do produto da arrecadação de qualquer tributo a determinado órgão, fundo ou despesa.
A lei poderá, todavia, estabelecer que a arrecadação parcial ou total de certos tributos constitua receita do
orçamento de capital, proibida sua aplicação no custeio de despesas correntes.” (grifou-se).
23 - Ricardo Lobo Torres, a propósito, destaca que “o princípio da não-afetação se restringe aos impostos, ao
contrário do que ocorria no regime de 1967/69, quando abrangia todos os tributos; está permitida, portanto,
a vinculação de receita de taxas a órgãos e fundos, com o que se volta a antigas práticas financeiras, que
tanto mal fizeram à administração pública.” TORRES, Ricardo Lobo. “O princípio constitucional orçamentário
da não-afetação” in Revista de Direito do Estado (RDE) – ano 2 – nº 6 abr/jun 2007, Rio de Janeiro: Renovar,
2006, p. 230.
24 - STF. ADI 3643, Rel.: Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, j. 08/11/2006, DJ 16/02/2007.
25 - O FPE e o FPM têm sido compreendidos como espécie de fundo meramente contábil. Em artigo
disponibilizado no sítio do Ministério da Fazenda, Leonardo da Silva Guimarães Martins da Costa, membro do
Conselho Diretor do Fundo PIS-PASEP, afirma que “os chamados fundos ‘meramente contábeis’ [são] aqueles
que simplesmente transferem recursos, sem nenhuma espécie de gestão sobre a despesa. É o caso do Fundo
de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios (FPM), FUNDEB e o Fundo Partidário,
todos previstos na Constituição”. <http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/textos_discussao/downloads/td7.
pdf>. Acesso em 07.08.2013.
26 - Nas palavras de Aliomar Baleeiro: “receita pública é a entrada que, integrando-se ao patrimônio público
sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer vulto, como elemento novo
e positivo”. BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças. 17ª ed. rev. e atualizada por Hugo de
Brito Machado Segundo. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 148).
27 - TCE/MG, Processo nº 809502, Consulta. Conselheiro Relator: Antônio Carlos Andrada. Pág. 4. Grifou-se.
Disponível em: http://www.antoniocarlosandrada.com.br/ files/julgados/050520101643597995.pdf. Acesso
em 02.08.2013.
28 - Há, em sentido contrário, arestos isolados, como o proferido pelo TJ-RS no julgamento da ADI no
70027889294-RS, Rel. José Aquino Flores de Camargo, j. 17.08.2009, Tribunal Pleno, DJ 09.09.2009. V., ainda, do
TJ-SE: Apelação Cível 0861/2001, 1ª Câmara Cível, Rel. Des. Roberto Eugenio da Fonseca Porto, j. 15.04.2002,
DJ 15.04.2002.
29 - TRF-1ª Região. AC no 0017847-26.1995.4.01.0000 / GO, Rel. Juiz Olindo Menezes, Segunda Turma, DJ
p.13576 de 11.03.1996.
30 - TRF-4ª Região. AR no 2004.04.01.006541-0, Primeira Seção, Relator Otávio Roberto Pamplona, D.E.
23.05.2008.
31 - Segundo acórdão do TRF-3ª Região: “O art. 160 da Constituição Federal veda a retenção ou a restrição à
entrega e ao emprego das cotas do Fundo de Participação dos Municípios, mas não veda a que este onere o
crédito que lhe pertence, considerando-se tal ato como inerente ao seu direito de delas dispor, livremente.”
(TRF 3ª Região, Quinta Turma, AI no 0015708-66.2003.4.03.0000, Rel. Des. Federal Ramza Tartuce, j. 27.05.2003,
DJU 30.09.2003).
32 - Anote-se que, recentemente, o BNDES passou a adotar programas de financiamento cujo desenho
incorpora um modelo de vinculação de receitas do FPE e do FPM. Tal é o caso do Programa BNDES de Arenas
para a Copa do Mundo de 2014 (“ProCopa Arenas”). O referido programa teve por objetivo apoiar projetos de
construção de arenas que receberão os jogos da Copa do Mundo de 2014 e de urbanização do seu entorno.
Segundo especificado pelo BNDES, foram admitidas como garantias ao financiamento “cotas-parte do
Fundo de Participação (dos Municípios ou dos Estados – FPM ou PFE)”. Tais informações estão disponíveis
no sítio eletrônico do Banco (<http://www.bndes.gov.br>; acesso em 16 ago. 2013). Saliente-se, ainda, que
foi exatamente nesse sentido o contrato celebrado entre o BNDES e o Estado de Pernambuco no âmbito do
38
ProCopa Arenas (Contrato de Financiamento mediante abertura de crédito nº 11.2.0048.1). De acordo com a
cláusula sexta do referido instrumento, “o BENEFICIÁRIO, devidamente autorizado pela Lei Estadual nº 14.045,
de 30/04/2010, vincula em garantia, em favor do BNDES, em caráter irrevogável e irretratável, (…) parcelas ou
quotas-parte do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE, destinados ao BENEFICIÁRIO”.
34 - O § 4º do art. 167 da Constituição, introduzido pela Emenda Constitucional nº 3/1993, não interfere
com a conclusão defendida neste estudo, quanto à possibilidade de se vincular receitas do FPE e do FPM
para o pagamento de obrigações contratuais. De acordo com o referido dispositivo: “É permitida a vinculação
de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que
tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para
pagamento de débitos para com esta”. Realmente, a parte final do dispositivo, que abrange os recursos dos
fundos de participação estaduais e municipais, deve ser lida em combinação com o art. 160 da CRFB (o qual
veda qualquer restrição à entrega e ao emprego desses recursos), bem como com o telos constitucional que
justifica tais transferências, consistente na redução das desigualdades regionais. Assim, deve-se entender que
a parte final do § 4º do art. 167 da CRFB presta-se a estabelecer duas hipóteses em que a vinculação de
recursos do FPE será possível (prestação de garantia à União e pagamento de débitos para com esta); mas não
veda a vinculação das receitas em outros casos.
35 - “Art. 1º Para fins de adimplemento das obrigações contraídas pelo Estado da Bahia e por entidades da sua
Administração Indireta em contratos de parceria público-privada, nos termos da Lei Estadual nº 9.290, de 27 de
dezembro de 2004, fica o agente financeiro responsável pelo repasse dos recursos do Fundo de Participação
dos Estados e do Distrito Federal - FPE autorizado a efetuar a transferência do valor correspondente a 18%
(dezoito por cento) dos recursos financeiros oriundos desse Fundo, destinados ao Estado da Bahia, à Agência
de Fomento do Estado da Bahia S.A. - DESENBAHIA, pessoa jurídica de direito privado, constituída como
sociedade anônima de capital fechado, conforme autorização da Lei Estadual nº 2.321, de 11 de abril de 1966.”.
39
40
Associações ou sociedades
sem fins lucrativos partícipes
de convênios com órgãos ou
entidades públicas e estatais
não podem estar sujeitas à
Lei n.º 8.666/93 e aos
princípios da
Administração Pública
Toshio Mukai
TOSHIO MUKAI O Decreto nº 5.504/2005, de acordo com o artigo 1º e, em especial, o art. 5º,
dispõe que as organizações sociais que receberem repasse de recursos públicos
Mestre e doutor em
direito (USP) da União deverão conter cláusula que determine que as obras, compras, serviços
e alienações a serem realizados por esses entes sejam contratados mediante
processo de licitação pública. Estabelece o §1º do art. 1º desse decreto que
para a aquisição de bens e serviços comuns será obrigatório o emprego da
modalidade pregão, preferencialmente na forma eletrônica, devendo ser
justificado pelo dirigente ou autoridade competente, caso seja inviável a
utilização de tal forma de pregão (§2º do art. 1º do Decreto nº 5.504/2005).
2 - O decreto
A figura do decreto na doutrina é tratada sob diversos títulos: regulamento,
em especial, decreto autônomo, decreto individual, decreto independente.
42
alienígena ou pretendendo irrogar-lhe potencialidades normativas que
lhe são conferidas em sistema alheios, como se houvesse uma ação
universalmente válida e precisa para os atos destarte denominados;
43
O regulamento deve ater-se aos limites impostos pela lei no que diz respeito
ao estabelecimento de direitos e deveres. Não lhe cabe alargar estes limites
e criar, por exemplo, deveres não contemplados pelo legislador.
I. [...];
[...] o decreto II. [...];
III. [...];
regulamentar IV. Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução.
só pode ser V. [...];
constitu- VI. [...].”
44
“A esta espécie de regulamento aplica-se integralmente o princípio da sua
subordinação à lei. Qualquer de suas disposições que contrarie dispositivos
de lei a que o mesmo se refere, ou de qualquer outra lei, não pode ter
aplicação.” (p. 80/81)
“O seu dever” (do executivo) é cumprir, e não fazer a lei. Daí se deduzem,
quanto ao poder regulamentar, várias restrições:
a) Não cria direitos nem obrigações não estabelecidas implícita ou explícita
em lei;
b) Não amplia, restringe ou modifica direito, nem obrigações. Apenas desenvolve
e completa em particularidades as regras estabelecidas pelo Congresso;
c) Fica inteiramente subordinada à lei. Não faculta, ordena ou proíbe senão
o que ela, em termos amplos, facultou, ordenou ou proibiu;
d) Não extingue direitos nem anula obrigações dos cidadãos em geral;
e) Limita-se a desenvolver os princípios e a completar a sua dedução, a fim
de facilitar o cumprimento das leis; não deve estabelecer princípios novos;
f) Não cria empregos, nem fixa, eleva ou diminui vencimentos, institui penas,
emolumentos ou taxas, senão quando expressamente autorizado pelo Congresso;
g) Não revoga, nem contraria a letra nem o espírito da lei;
45
h) Quando determina a forma que deve revestir um ato, o regulamento
apenas indica a maneira de cumprir aquelas formalidades, não institui
nova;
i) Suspende ou adia a execução da lei somente quando esta o autoriza
explicitamente.
E mais à frente, após se referir ao art. 84, inciso IV, que estatui competir
privativamente ao Presidente da República “sancionar, promulgar e fazer
publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução”, diz que “o dispositivo consagra o regulamento chamado pela
doutrina de executivo, concebido em caráter acessório à lei”. É digno de
destaque, inicialmente, que anula como característica principal do regulamento
sua subordinação à lei. Dessa característica de subordinação do regulamento à
lei, pode-se dessumir que, em nosso ordenamento, os regulamentos executivos
se prestam a expedir instruções complementares para cumprimento da lei. Falta
ao regulamento, é forçoso reconhecer, uma das principais características da lei:
o poder de inovar o ordenamento jurídico.
46
Sua finalidade, como visto, é clara: dispor sobre a maneira como os agentes
públicos subordinados irão cumprir a lei, assegurando-lhe eficácia. Sendo
a lei o instrumento hábil para adentrar a esfera de direitos individuais
do cidadão, a mais importante limitação formal à função regulamentar
encontra-se na sua sujeição à lei, produto formal do Poder Legislativo,
constitucionalmente legitimado para tanto.” (p. 157)
“Em suma: é livre de qualquer dúvida ou entre dúvida que, entre nós, por
força dos arts. 5º, II, §4º, VI e 37 da Constituição, só após lei se regula
liberdade e propriedade; só por lei se impõem obrigações de fazer de não
fazer. Vale dizer: restrição alguma à liberdade ou à propriedade pode ser
imposta se não estiver previamente delineada, configurada e estabelecida
em alguma lei, e só para cumprir dispositivos legais é que o Executivo
pode expedir decretos e regulamentos.” (Curso cit. p. 349, grifos nossos)
19. É esta segunda conclusão que abre espaço para uma terceira, a saber:
o regulamento executivo, único existente no sistema brasileiro, é um meio
de disciplinar a discrição administrativa, vale dizer, de regular liberdade
relativa que viceje no interior das balizas legais, quando a Administração
esteja pronta na contingência de executar lei que demande ulteriores
precisões.” (ob. cit, p. 352)
47
Mais à frente, o grande administrativista transcreve trechos de fala do sempre
lembrado Pontes de Miranda sobre o regulamento (Comentários à Constituição
de 1967 c/a Emenda nº 1 de 1969, 2ª edição, t. III, Ed. RT, 1970, p. 316/317):
estabelece a ou isenções. Vale dentro da lei; fora da lei a que se reporta, ou das
outras leis, não vale. Em se tratando de regras jurídicas de direito
utilização do pregão, formal, o regulamento não pode ir além da edição das regras que
indiquem a maneira de ser observada a regra jurídica.”
preferencialmente
“Sempre que no regulamento se insere o que se afasta, para mais
na forma eletrônica, ou para menos, da lei, é nulo, por ser contrária à lei a regra jurídica
que se tentou embutir no sistema jurídico.”
para entes públicos
“Se regulamentando a lei “a” o regulamento fere a Constituição ou
ou privados, na outra lei, é contrário à Constituição ou à lei, e – em consequência
– nulo o que editou”.
contratação de
“A pretexto de regulamentar a lei “a”, não pode o regulamento,
bens e serviços. sequer, ofender o que, a propósito de lei “b” outro regulamento
estabelecerá”.
Diz então Celso Antônio: “26. Esta longa – mas oportuna – citação, calha à
fiveleta para indicar, que ao regulamento desassiste incluir no sistema positivo
qualquer regra geradora de direito ou obrigação novos”. (p. 355 – grifamos).
48
bens e serviços, realizada em decorrência de transferências voluntárias de
recursos públicos da União, decorrentes de convênios ou instrumentos
congêneres ou consórcios públicos.
O preâmbulo do decreto dispõe que ele tem fundamento no art. 84, VI,
alínea “a” e art. 37 inc. XXI da Constituição, no art. 116 da Lei nº 8.666/93 e
nas Leis nº 11.107/2005 e 10.520, de julho de 2002.
49
Portanto, já se vê que o Decreto nº 5.504/2005 cria obrigação não
autorizada, nem pela Constituição e nem pelas leis indicadas.
50
serviços com recursos da União transferidos a entidades privadas sem fins
lucrativos, deverão observar os princípios da impessoalidade, moralidade
e economicidade, sendo necessária, no mínimo, a realização de “cotação-
prévia de preços no mercado” antes da celebração do contrato”.
I – concorrência;
II – tomada de preços;
III – convite;
IV – concurso;
V – leilão.
51
Quanto à necessidade de as sociedades sem fins lucrativos terem
que observar os princípios da moralidade, da impessoalidade e da
economicidade, o decreto é inconstitucional, eis que está impondo que
entidades privadas observem princípios de direito público, ofendendo o
princípio maior de livre iniciativa (vide art. 37, caput, da Constituição).
E isto não poderia ser objeto desse decreto, eis que, como visto, a Lei nº
8.666/1993, segundo o seu art. 1º, parágrafo único, dispõe que “subordinam-
se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos
especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as
sociedades de economia mista e demais entidades controladas
direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e
[...] a Lei nº Municípios.”
sociedades ou fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5º, II). E a Lei
nº 8.666/1993, no seu art. 116, quando trata dos convênios, não
associações dispõe sobre tal obrigatoriedade.
52
Ora, as associações ou sociedades civis sem fins lucrativos, conforme o Decreto
nº 6.170/2007, não estão sujeitas às licitações previstas na Lei nº 8.666/1993,
e, portanto, não estando sob controle direto ou indireto da União, não
estão, os seus dirigentes ou empregados, sujeitos às normas gerais da Lei nº
8.666/1993, em especial, às suas sanções penais. Assim, também é inaplicável,
no caso, o art. 69 do Código Penal, que dispõe sobre o concurso material. Se
não é possível, juridicamente, a condenação com fulcro no art. 90 da Lei nº
8.666/1993, não há que falar em dois ou mais crimes. Se não existe o primeiro,
não pode existir nem o segundo, o terceiro, e assim por diante.
Observação crítica
Os acórdãos do TCU são ilegais, contra legem, principalmente, contrariando
o que dispõe, como vimos, o art. 85 da própria Lei nº 8.666/1993, no
53
sentido de que as normas penais da lei mencionada não se aplicam
às entidades que não estejam sob controle direto ou indireto do
Poder Público, como é o caso do Decreto nº 5.504/2005, que manda
aplicar a Lei 8.666/1993 às entidades privadas, inovando no mundo
jurídico.
54
Constituição Federal, e por violar a Lei nº 8.666/1993, no seu art. 1º,
parágrafo único, quando dispõe, no seu art. 27: “O conveniente, ainda que
entidade privada, sem fins lucrativos, sujeita-se, quando da execução de
despesas com recursos transferidos, às disposições da Lei nº 8.666, de
21 de junho de 1993, especialmente em relação à licitação e contrato,
admitida a modalidade de licitação prevista na Lei nº 10.520, de 17 de
julho de 2003, nos casos em que especifica.”
Porém, observe-se que essa disposição, que não mais impõe, nesses casos,
que as entidades privadas sem fins lucrativos, em suas contratações com
recursos que lhe foram repassados, façam licitações com observância da
Lei nº 8.666/1993.
Contudo, devemos observar ainda que, no caso, o artigo 11 não era auto-
aplicável, pois uma regulamentação era necessária para detalhar a forma e
o modo de realização dessas cotações prévias.
55
no Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007, que dispõe sobre as normas
relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e
contratos congêneres.
Essa portaria veio repetir o art. 11 do decreto referido no seu art. 45 (Seção
I) e, através do parágrafo único e dos arts. 46 a 48, detalha a realização das
referidas cotações de preços.
I - aos convênios:
(...).”
56
legislação sobre licitações públicas (Lei nº 8.666/1993), tanto em face
dos decretos ora impugnados, como em razão da própria lei que, no
seu art. 1º, parágrafo único, circunscreve somente os órgãos e entidades
governamentais à sua observância, como em razão de violação da
Constituição Federal, se se quiser entender serem aplicáveis as normas de
Lei nº 8.666/1993 às entidades inteiramente privadas.
Não seria possível a aplicação das normas penais da Lei nº 8.666/1993 àquelas
entidades privadas, pois se concluímos ser inteiramente inaplicável a Lei nº
8.666/1993 à sociedade sem fins lucrativos, por ser ela uma entidade inteiramente
privada e não estando sob controle direto ou indireto do Poder Público, enquanto
a parte penal referida faz parte integrante da mencionada lei, é óbvio que também
essa parte é inaplicável àquelas entidades, seus dirigentes e empregados.
57
58
VOTOS 59
Aluisio Gama de Souza
60
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL* Mesmo que haja
fortes indícios de
ilegalidade do
Trata o presente processo de Tomada de Contas Especial instaurada pela
certame público,
Auditoria Geral do Estado (AGE), em atendimento à determinação deste Tribunal não há inutilidade
exarada nos autos do proc. TCE/RJ nº 114.784-1/2005, visando a apuração dos na prévia oitiva das
fatos, a identificação dos responsáveis e a quantificação dos possíveis danos, em partes interessadas,
virtude das irregularidades decorrentes da execução do pacto celebrado entre o pois não se pode
Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro - Detran-RJ e a Empresa afastar a hipótese,
Brasília Empresa de Serviços Técnicos Ltda. - BEST. ainda que remota,
de surgirem novos
esclarecimentos
O referido processo versa sobre termo aditivo nº181/2005 ao contrato
que afetem o
nº122/2004 celebrado entre o Detran e a BEST. O contrato teve por objeto juízo decisório.
a prestação de serviços de remoção de veículos apreendidos em operação
realizada pelo Estado do Rio de Janeiro, na região do Grande Rio, através de
auto socorro e guarda dos veículos, com implantação e operacionalização
de área para depósito a ser disponibilizado, bem como a realização de
leilão de veículos nos casos do art. 328 do Código de Trânsito Brasileiro.
(continua)
61
(continuação)
62
lavratura do auto de infração, da expedição da Notificação da Autuação e
da Penalidade de multa e de advertência por infrações de responsabilidade
do proprietário e do condutor do veículo e da identificação do condutor
infrator.
“VOTO:
63
processo nº 112.645-7/06 – em apenso – ambos ao Contrato nº 122/2004
celebrados entre o DETRAN e a Empresa Brasília Empresa de Serviços
Técnicos Ltda., com fulcro no caput do artigo 48 da Lei Complementar
nº 63/90 por conter novas cláusulas contratuais e prorrogações de prazo
manifestamente desfavoráveis e onerosos ao Detran, que não estavam
originalmente pactuados nem Contrato nem no instrumento convocatório,
em desacordo com o que dispõem o art. 41 e § 1º do art. 54 ambos da Lei
Federal nº 8.666/93;
“VOTO:
64
da Auditoria Geral do Estado – AGE, para que, através de seus agentes
competentes, proceda ao exame da documentação disponibilizada pelo
Detran-RJ, teça juízo de valor acerca da regularidade dos pagamentos
efetuados pelo Detran-RJ à Contratada e, eventualmente, apure a
ocorrência de dano ao erário, procedendo à emissão de um novo parecer,
se necessário for.
Data
Período Fls. Nota Fiscal Valor (R$)
Pagamento
Set/2005 230/231 15136 08/05/2006 130.192,00
Out/2005 232/233 15137 08/05/2006 121.924,00
Nov/2005 234/235 15138 08/05/2006 135.648,00
Dez/2005 236/237 15172 11/05/2006 160.652,00
TOTAL 548.416,00
65
O valor pago integralmente no ano de 2006 corresponde a 322.749,5292
UFIR-RJ, considerando a UFIR-RJ de 2006 a R$ 1,6992.
4 – MANIFESTAÇÃO DA CONTRATADA
Informa que entre agosto de 2004 e julho de 2005, foi remunerado pelo leilão
negativo de 1.393 veículos, a um custo médio de R$ 1.322,72 para a Autarquia.
66
Contratada seria remunerada, conforme tabela prevista na cláusula décima
(fls. 79), da seguinte forma:
67
Parágrafo 3º - O DETRAN pagará as despesas abaixo relacionadas, ou
complementará o valor devido à Contratada, à conta de seu orçamento
oportunamente especificado .
I – As despesas mencionadas no caput deste parágrafo são as seguintes:
a) Indenizações de reparos feitos em veículos leiloados e posteriormente
recomprados;
b) 5% (cinco por cento) de comissão, caso o valor líquido apurado em favor
do usuário não comporte;
c) Despesas de rebocada e 1/3 das diárias dos veículos impedidos de
leilão após 90 (noventa) dias de sua apreensão. (grifos nossos)
(...)
68
2. COMUNICAÇÃO, nos termos do art. 6º, 1º da Deliberação TCE-RJ n.º
204/96, a ser efetivada na forma do art. 26 e incisos da Lei Complementar
n°63/90, mediante ciência pessoal, em ordem seqüencial, à BEST – Brasília
Empresa de Serviços Técnicos Ltda., (...);
“É O RELATÓRIO.
“(...)
– Apresente documentação e informação quanto à forma em que os
valores devidos à empresa Brasília Empresa de Serviços Técnicos (Contrato
nº 122/04), no montante de R$ 5.509.741,30, foram apurados, com a
discriminação dos serviços que foram prestados pela empresa contratada
69
(indenizações de reparos feitos em veículos leiloados e posteriormente
recomprados; 5% (cinco por cento) de comissão, caso o valor líquido
apurado em favor do usuário não comporte, despesas de rebocada e 1/3
das diárias dos veículos impedidos de leilão após 90 (noventa) dias de sua
apreensão, entre outros), além do período correspondente a cada parcela,
devendo ser acompanhada da documentação comprobatória que serviu
de base para apuração dos valores devidos, além dos relatórios gerenciais
previstos no Parágrafo 1º, da Cláusula Segunda, do Contrato nº 122/04
(Tópico VII.1, deste Relatório);
“(...)
III – Pela NOTIFICAÇÃO ao Sr. Fernando Avelino Boeschentein Vieira,
Presidente do Detran-RJ, com base no § 2º, do art. 6º, da Deliberação TCE-
RJ 204/96, para que apresente as razões de defesa pelo não cumprimento
integral de decisão proferida em 17/02/09, sem prejuízo do efetivo
atendimento do requerido, conforme transcrição a seguir, além de cumprir
a determinação discriminada na sequência:
70
– Envie cópia do Relatório da Comissão de Sindicância instaurada, conforme
determinação do Decreto nº 41.065, de 11/12/2007, acompanhada de
todos os elementos que o compõem (Tópico VII.1, deste Relatório).
III.2) Determinação:
71
ao repasse de valores devido pela empresa Brasília Empresa de Serviços
Técnicos Ltda ao Detran-RJ, referente a 20% (vinte por cento) dos valores
arrecadados com a taxa de rebocada e diárias de depósito, apurados no
período de agosto de 2007 a abril de 2008. (...)”
72
III – Pela COMUNICAÇÃO, com fulcro na Lei Complementar nº 63/90, ao Sr.
Gustavo Carvalho dos Santos, para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente
razões de justificativas quanto aos pagamentos realizados à BEST, no valor
de R$ 548.416,00, referentes ao Termo Aditivo nº 181/05, em decorrência
das novas cláusulas contratuais manifestamente desfavoráveis e onerosas
ao Detran-RJ, que não estavam originalmente pactuadas nem no Contrato
nº 122/04 nem no instrumento convocatório, em desacordo com o que
dispõem o art. 41 e § 1º do art. 54 ambos da Lei Federal nº 8.666/93;
–Se não foi cumprido o termo de adesão firmado pela BEST, informe
quais as razões para não ter ocorrido, uma vez que a empresa chegou
a desistir da demanda judicial na qual reclamava do DETRAN o
pagamento de valores devidos pelos serviços prestados através do
Contrato nº 122/04.”
“(...)
73
RESPOSTA (FLS. 934/936):
3. que tal dívida não foi reconhecida, à época própria, devido a apuração
levada a cabo pela AGE, que apontou dano ao erário referente ao contrato
nº 122/04, de sorte que não seria legítimo pagar à empresa outros valores,
antes do ressarcimento do referido dano;
5. que, mesmo assim, o pagamento não pode ser efetuado, tendo em vista
a impossibilidade de reconhecimento da dívida, por força do disposto no
Decreto nº 41.880/09;
ANÁLISE:
74
Entendemos não ser necessária a elaboração de instrumento específico
para formalizar a operação, tendo em vista que os créditos retidos estão
prescritos e, portanto, fora de alcance por parte da contratada.
75
Pugna, também, pelo chamamento ao processo do gestor do contrato,
Sr. Carlos Jorge Ferreira Fogaça, reconhecido como tal por esta Corte de
Contas no processo TCE/RJ n°107.865-6/08, que, segundo o defendente,
seria o responsável que deveria responder ao Tribunal, o qual poderia
dispor de informações relevantes para afastar o entendimento firmado nos
presentes autos.
ANÁLISE:
CONCLUSÃO: atendimento
76
BEST não ter sido chamada aos autos como interessada, uma vez que a
declaração de ilegalidade atingiu contrato em vigor, envolvendo prestação
de serviços ao Estado de natureza complexa, com altos custos envolvidos e
que não poderiam sofrer solução de continuidade;
77
considerando apenas os valores da efetiva prestação dos serviços ao
proprietário do veículo, isto é, deveriam ser individualizadas, não havendo
hipótese legal que permitisse o rateio de despesas por eventuais não
recolhimento das “taxas” devidas, como, por exemplo, quando os veículos
eram liberados aos seus proprietários por decisão judicial, ou quando
permanecessem indefinidamente nos pátios de estocagem por serem
impedidos pela justiça de ir a leilão;
11. O referido termo aditivo, é totalmente ilegal, pois retroagia seus efeitos
ao primeiro dia de janeiro de 2007, em total desrespeito ao disposto no
artigo 46 da Lei Orgânica do TCE/RJ n°63/90;
78
16. Nesse novo modelo o Detran-RJ manteve a previsão de reajuste anual,
modificando apenas o índice de correção, que passou a ser o IGPM-FGV;
17. No edital vencido pela BEST não havia a previsão expressa de quem
seria o responsável pela remoção dos veículos até o pátio da nova empresa
contratada, o que foi corrigido tanto no novo Pregão Eletrônico n°18/2012
quanto no edital de pregão eletrônico n°009/08, que estabeleceram que a
despesa correria à conta da vencedora da licitação;
18. Os dois primeiros termos aditivos que esta Corte considerou ilegais,
apenas tornaram mais claras cláusulas estabelecidas no projeto básico e no
contrato n°122/04 original, sendo todas as despesas legítimas e geradas
pelo desempenho operacional dos serviços contratados, cabendo à BEST o
devido pagamento pelo reboque dos veículos e pela sua gestão nos pátios
de estocagem, independente do momento de sua retirada;
Por fim, às fls. 1024/1025, é solicitado que esta Corte “Conheça e arquive
os termos aditivos nos 181/05 e 153/06 por serem perfeitamente legais e
legítimos, devendo a BEST receber integralmente o valor de R$ 548.416,00,
referente às quatro notas fiscais questionadas nesta tomada de contas, além
de todos os demais créditos retidos ilegalmente pelo Estado, devidamente
corrigidos, nos termos da cláusula décima, parágrafo 6°
, do contrato n°122/04”.
ANÁLISE:
79
apenas ressalva nas presentes contas, entendemos que restou prejudicada
a análise dos argumentos ora apresentados. No tocante ao pleito de
recebimento dos créditos retidos, vale ressaltar que os mesmos já estão
prescritos, nada mais restando a receber.
CONCLUSÃO: atendimento
4 – DA PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
RESSALVA:
80
deste Tribunal, referente a novas cláusulas contratuais e prorrogações de
prazo manifestamente desfavoráveis e onerosos ao DETRAN-RJ, que não
estavam originalmente pactuados, nem no Contrato, nem no instrumento
convocatório, em desacordo com o que dispõem o art. 41 e § 1º do art. 54
ambos da Lei Federal nº 8.666/93;
DETERMINAÇÃO 1:
Para que em casos futuros e análogos observe, com maior rigor, o disposto
no art. 41 e § 1º do art. 54, ambos da Lei Federal nº 8.666/93.
DETERMINAÇÃO 2:
Para que, por meio de seus agentes competentes, providencie, em seus
registros contábeis, a baixa da responsabilidade relativa às apurações
levadas a efeito no presente processo, em atendimento ao Plano de Contas
do SIAFEM/RJ (conta “Diversos Responsáveis”).
É o relatório.
81
existente no Superior Tribunal de Justiça da aplicabilidade do art. 1º do
Decreto Lei n.º 20.910/32, o qual dispõe que “as dívidas passivas da União,
dos Estados e dos Municípios, bem assim como todo e qualquer direito
ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a
natureza prescrevem em cinco anos, contados da data do ato ou fato do
qual se originarem.
(...)
Desta forma, não tendo o credor dado entrada em ação de cobrança dos
créditos devidos pela Administração, não há que se falar em locupletamento
ou enriquecimento sem causa do Poder Público, mas aplicar-se o princípio
da prescrição, uma vez que aplicável o brocado o direito não socorre aos
que dormem (dormientibus non sucurrit jus).
(...)”
E certamente, com base no histórico dos fatos constante nos autos, não
houve o “cochilo” por parte da empresa detentora de créditos com o
Detran-RJ referentes ao exercício de 2006. A BEST ingressou com uma
ação judicial em 2008 contra a autarquia para o recebimento dos valores
pendentes. Posteriormente, em 2009, a referida ação foi extinta por força
de transação entre a empresa e o Detran-RJ, que cobrou tal medida para
que a BEST pudesse aderir ao programa de recebimento de restos a pagar
anteriores ao exercício de 2007 (Decreto nº 41.819/2009).
82
material – in casu , verificar a conformidade do pacto contratual
realizado entre o Poder Público e a BEST com o ordenamento jurídico
–, por meio de um procedimento que garanta a ampla defesa e o
contraditório. Nesse sentido, lembra Marçal Justen Filho, em sua
obra, Curso de Direito Administrativo, 9ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p.1.349:
83
eletrônico nº 018/12, que alterou a modelagem para a prestação de
serviços de reboque e gestão do pátio de estocagem;
84
Ocorre que, logo no início da execução contratual, verificou-se a existência
de veículos rebocados pela BEST, mantidos em seus pátios, e que eram
impedidos de ir a leilão ou de serem liberados aos seus proprietários por
força de decisões judiciais ou mesmo pela autoridade policial.
85
Primeiramente, é fundamental destacar o que consistia a “colocação e
guarda do veículo em um pátio”. Conforme consta no projeto básico,
que será apresentado mais a frente, cabia à empresa contratada manter
o veículo em área confinada, nas mesmas condições encontradas por
ocasião do reboque, protegido quanto a furto, roubo ou incêndio, sendo
gerenciado por sistema informatizado, que permitisse com a máxima
brevidade a sua devolução ao proprietário, após cessadas as razões que
levaram a sua apreensão.
86
recolhimentos das “taxas” devidas, como, por exemplo, quando os veículos
eram liberados aos seus proprietários por decisão judicial. Ou quando
permaneciam indefinidamente nos pátios de estocagem por serem
impedidos pela justiça de ir a leilão.
87
através do Edital de Pregão nº 016/2004. Pela tabela abaixo podemos notar
que houve a redução de quase 40% na rebocada de motos e nas diárias
para motos e ônibus e caminhões:
- Pelo leilão dos veículos e após terem sido quitados os débitos relativos a
tributos e multas, e as dívidas com rebocada e diárias, a Contratada receberia
5% (cinco por cento) do valor total apurado nos leilões, descontados do
repasse a ser feito aos proprietários;
88
Por isso, ao longo do primeiro ano de contrato ocorreram várias dúvidas
na lógica operacional e também na determinação dos valores a serem
restituídos pelo Detran-RJ e até pelo proprietário, quando por ocasião da
prestação de contas do leilão.
Por sua vez, o Detran-RJ sinalizava para a preocupação com o aumento dos
repasses que fazia à BEST ou que teria que fazer, face ao resultado negativo
dos leilões, à liberação judicial sem ônus para o proprietário e ao crescente
número de veículos impedidos de ir à hasta pública se acumulando nos
pátios, o que aumentava diariamente a dívida com a empresa.
(...)
89
a) Indenizações de reparos feitos em veículos leiloados e posteriormente
recomprados;
b) 5% (cinco por cento) de comissão, caso o valor líquido apurado em favor
do usuário não comporte;
c) Despesas de rebocada e 1/3 das diárias dos veículos impedidos de
leilão após 90 (noventa) dias de sua apreensão. (grifos nossos)
90
previa o pagamento de R$ 239.500,00 por mês se não fosse realizada
nenhuma operação de reboque, reconhecendo o elevado custo para a
manutenção da estrutura montada;
(...)
91
na alteração do parágrafo 3º da cláusula décima terceira à medida que a
BEST estava impedida de promover leilões por razões alheias a sua vontade,
chegando a ter mais de 6.000 veículos sob a sua guarda, nestas condições,
conforme apontado em inspeção realizada pelo próprio TCE/RJ.
(...)
“Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as
devidas justificativas, nos seguintes casos:
92
serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de verificação
técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição
de circunstâncias supervenientes, mantido o valor inicial atualizado, vedada
a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro
fixado, sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens
ou execução de obra ou serviço;
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre
os encargos do contratado e a retribuição da administração para a justa
remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção
do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de
sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de conseqüências
incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado,
ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe,
configurando álea econômica extraordinária e extracontratual.
(...)”
93
e 153/06 (processo nº 112.645-7/06), julgados ilegais por esta Corte em
sessão de 19/08/2008, devem ser agora conhecidos.
94
A incidência imediata das garantias constitucionais referidas dispensariam
previsão legal expressa de audiência dos interessados; de qualquer
modo, nada exclui os procedimentos do Tribunal de Contas da aplicação
subsidiária da lei geral de processo administrativo federal (L. 9.784/99),
que assegura aos administrados, entre outros, o direito a “ter ciência da
tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos (art. 3°
, II), formular alegações e apresentar
documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo
órgão competente.
95
Processo: RMS 27440 / AL
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2008/0162592-2
Relator(a): Ministro CASTRO MEIRA (1125)
Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento: 08/09/2009
Data da Publicação/Fonte: DJe 22/09/2009
Ementa
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LEILÃO
DE DIREITOS CREDITÓRIOS E ATIVOS IMOBILIÁRIOS. ATO DE ANULAÇÃO
DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. SÚMULAS 346 E 473/STF. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.
NÃO OBSERVÂNCIA. PAGAMENTO JÁ EFETUADO PELO PARTICULAR.
ILEGALIDADE DO ATO IMPUGNADO.
96
o contraditório reclamado é condição necessária para um juízo seguro
quanto à correção do ato ou contrato, ou se o considera como procedimento
eventualmente inócuo (ou, no máximo, meramente acessório), o que
afastaria sua obrigatoriedade. E esta última solução afrontaria a Lei Maior,
em seu art. 5º, inciso LV. Note-se: a fixação do momento da oitiva – se
antes ou depois da decisão desta Corte de Contas -, não é uma questão
meramente operacional, mas, sob o aspecto jurídico, uma condição sine
qua non à formulação de um juízo legítimo sobre a regularidade do ato em
exame” (Acórdão nº 1.531/2003, Plenário do TCU, DOU 23.10.2003).
Assim sendo, como a BEST nunca foi chamada para se manifestar quanto
às irregularidades apontadas nos termos aditivos nºs 181/05 (processo TCE
nº 114.784-1/2005) e 153/06 (processo TCE nº 112.645-7/2006), senão no
presente processo, é preciso anular a decisão aprovada em voto proferido
em 19/08/2008, tão somente na parte que julgou ilegal os referidos pactos.
98
ação tem como pressupostos (i) a existência de decisão de mérito com
trânsito em julgado; (ii) enquadramento nas hipóteses taxativamente
previstas; e (iii) o exercício antes do decurso do prazo decadencial de dois
anos (CPC, art. 495).
4. No caso específico dos autos, em que a ação tramitou sem que houvesse
citação válida do litisconsórcio passivo necessário, não se formou a relação
processual em ângulo. Há, assim, vício que atinge a eficácia do processo em
relação ao réu e a validade dos atos processuais subsequentes, por afrontar
o princípio do contraditório. Em virtude disto, aquela decisão que transitou
em julgado não atinge aquele réu que não integrou o polo passivo da
ação. Por tal razão, a nulidade por falta de citação poderá ser suscitada por
meio de ação declaratória de inexistência por falta de citação, denominada
querela nullitatis, ou, ainda, por simples petição nos autos, como no caso
dos autos.
99
5. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 1105944/SC, 2008/0259892-7, Relator Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 08/02/2011)
Por último, deve ser dada ciência desta decisão à Auditoria Geral do Estado
- AGE e ao Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro - Detran-
RJ para as providências devidas, quanto ao cancelamento de inscrições na
conta “Diversos Responsáveis”.
VOTO:
100
5/06, 105.584-6/06, 105.934-5/06, 105.940-4/06, 105.941-8/06, 105.953-
1/06 e 115.649-2/05, referentes a Termos de Reconhecimento de Dívida, e
o posterior ENCAMINHAMENTO ao Corpo Instrutivo para prosseguimento
da análise.
101
José Gomes Graciosa
ATO DE DISPENSA DE LICITAÇÃO* Quando a
Administração,
por desídia ou com
Trata o presente processo do Ato de Dispensa de Licitação, fundamentado
intenção deliberada,
no inciso IV do art. 24 da Lei Federal nº 8.666/93, formalizado pelo Estado não adota
do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de Educação, em favor providências cabíveis
da empresa Facility Central Serviços Ltda., cujo objeto é a contratação de para a realização
serviços de limpeza, asseio e conservação, incluindo serviços de limpeza de procedimento
de caixa d’água, desratização e desinsetização, com prazo de 180 (cento licitatório com a
e oitenta) dias e despesa decorrente de R$ 12.170.347,02 (doze milhões, devida antecedência,
ou, ainda, adota
cento e setenta mil, trezentos e quarenta e sete reais e dois centavos).
procedimentos
licitatórios
Tramita, junto a este, o processo que versa sobre o Contrato n.º 29/12, ineficientes,
decorrente do presente Ato de Dispensa de Licitação, para o qual apresento gerando a extrema
voto nesta mesma Sessão Plenária. necessidade para
a contratação,
O Corpo Instrutivo, após a devida análise às fls. 87/89, assim se posiciona: caracteriza burla ao
dever de licitar.
1. NOTIFICAÇÃO ao Sr. Wilson Risolia, Secretário de Estado de Educação,
signatário do ato em exame, nos termos do § 2º do art. 6º da Deliberação TCE-
RJ nº 204/96, para que apresente razões de defesa quanto as seguintes aspectos:
É o relatório.
103
IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando
caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar
prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços,
equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os
bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa
e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo
máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados
da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos
respectivos contratos;
104
com a devida antecedência ou, ainda, adota procedimentos licitatórios
ineficientes, gerando a extrema necessidade para a contratação, fato que
caracteriza burla ao dever de licitar.
105
planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos
públicos, devendo-se analisar, para fim de responsabilização, a conduta
do agente público que não adotou tempestivamente as providências
cabíveis. (Acórdão n.º 3521/2010-2ª Câmara, TC-029.596/2008-2, rel. Min.
Benjamin Zymler, 06.07.2010). (grifei)
106
controle externo em inúmeras reuniões realizadas para a aprovação como
substituição do atualmente contratado.
Não restam dúvidas, a meu ver, que a situação emergencial alegada não
pode ser vista como situação excepcional, imprevisível e alheia à vontade
do administrador, uma vez que esta tese nos levaria ao entendimento Termo de referência –
documento que deverá
de que a Lei Federal n.º 8.666/1993 e os procedimentos licitatórios são
conter elementos capazes de
instrumentos fadados ao fracasso. propiciar a avaliação do custo
pela Administração, diante
de orçamento detalhado,
considerando os preços
Assim, entendo que o jurisdicionado deverá apresentar razões de defesa praticados no mercado, a
pela não realização de procedimento licitatório válido, apesar de decorridos definição dos métodos, a
estratégia de suprimento
72 meses da última licitação finalizada para o objeto do presente Ato de e o prazo de execução do
contrato. (Decreto n°3.555,
Dispensa de Licitação emergencial. de 08/05/2000, art. 8°, II)
107
No que tange ao princípio da economicidade, destaca-se a criteriosa
manifestação da CEA, cujo trecho segue abaixo transcrito:
Art. 7º - (...)
(...)
§ 2º - As obras e serviços somente poderão ser licitados quando:
I – houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível
para exame dos interessados em particular do processo licitatório;
II – existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição
de todos os seus custos unitários;
(...)
108
outros serviços que não os de engenharia, cumpre ressaltar entendimentos
do Tribunal de Contas da União no mesmo sentido:
109
indispensáveis à adequada decisão no presente feito, que o jurisdicionado
apresente razões de defesa pelas impropriedades abaixo elencadas:
VOTO
110
111
Marco Antonio B. de Alencar
CONTRATO* O procedimento
licitatório na
modalidade pregão
Trata o presente processo sobre o Contrato nº 014/2012, decorrente
somente pode ser
do Edital de Pregão Presencial nº 013/2012, de interesse da Prefeitura
realizado quando
Municipal de Itaboraí celebrado com a empresa MAP 2002 Comercial Vídeo este tiver como fim
Ltda-ME., que tem por objeto contratação de empresa para publicação a aquisição de bens
e divulgação de atos sociais realizados pela Prefeitura, no valor de R$ ou a contratação de
760.000,00, que é submetido ao exame do Tribunal. serviços comuns,
ou seja, aqueles
O Colegiado deste Tribunal, em Sessão de 09/04/2013, nos termos do cujos padrões de
desempenho e
meu voto anterior, determinou a Comunicação do Responsável, para que
qualidade possam
encaminhasse os documentos ali solicitados, fls. 38/40.
ser definidos de
forma objetiva pelo
Visando dar cumprimento à decisão acima, o jurisdicionado encaminhou edital, através de
os elementos autuados nesta Corte como Doc. TCE/RJ nº 11.077-1/13. especificações usuais
no mercado.
O Corpo Instrutivo, após análise, conclui pelo Conhecimento do contrato e
o posterior Arquivamento do processo, nos termos propostos à fl. 57.
É o relatório.
113
De acordo com a descrição das atividades no citado projeto básico,
verifica-se que a contratação teve por objeto a prestação de serviços de
propaganda em carro de som; locação de equipamento de som; edição
digital de material audiovisual; criação e produção de vídeos institucionais
na área governamental, incluindo criação de roteiro, filmagem e edição;
fotografia e filmagens digitais; criação de panfletos, cartazes, folders e
adesivos, a serem executados por agência de publicidade, vencedora de
licitação realizada, na modalidade pregão.
O ilustre professor José dos Santos Carvalho Filho, quando trata dos
aspectos pertinentes ao pregão no Manual de Direito Administrativo, 15ª
Ed, fls. 251, elucida:
A definição legal sobre o que são bens e serviços comuns está longe de ser
precisa, haja vista que as expressões nela contidas são plurissignificativas.
Diz a lei que tais bens e serviços são aqueles “cujos padrões de desempenho
e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de
especificações usuais no mercado.
Dessa forma, resta nítido que o ordenamento jurídico não oferece de modo
explícito todas as hipóteses de cabimento do pregão, cabendo à exegese,
a tarefa de aferir a compatibilidade do serviço/bem com a modalidade
licitatória, à luz da exigência legal no concernente à expressão comum.
114
“Já se tem notícia de órgãos públicos e empresas com capital público,
abrindo licitações para contratação de serviços de propaganda e
publicidade pela modalidade pregão. Tal iniciativa equipara os serviços de
publicidade e propaganda a todos aqueles listados pelo referido decreto,
de modo que serão contratados sem que se leve em conta a análise de
qualificações e critérios que lhe são próprios, até porque os padrões de
desempenho e qualidade relacionados aos serviços de publicidade e
propaganda não se podem definidos através do mercado. O que se tem por
relevante neste tipo de serviços é o projeto, a notoriedade e qualificação
da agência e seus profissionais. Não se trata da aquisição de um serviço
comum que é prestado da mesma forma para vários clientes, mas de um
serviço que é sempre exclusivo para cada cliente contratado.
115
Para a contratação de serviços publicitários, é a PIOR modalidade que
poderia ser escolhida.
116
expressividade da verba publicitária a ser gasta pelo anunciante, é possível
e até recomendável que o tipo de licitação seja de “técnica e preço”, dando
maior pontuação, na proporção de _ à “técnica” e _ ao preço.
Portanto, deve ficar fixado que o tipo “menor preço” fica excluído nos
procedimentos licitatórios para contratação de serviços publicitários, pelos
motivos a seguir expostos.
(...)
117
Por fim, discordo da Comunicação sugerida pelo Ministério Público, uma
vez que os elementos exigidos pela Deliberação TCE/RJ nº 245/2007
encontram-se presentes neste processo.
VOTO:
118
119
José Maurício de Lima Nolasco
120
CONTRATO* O princípio da
publicidade
contribui para uma
ampla divulgação
Retorna o presente feito que trata, em sua essência, do controle de
do certame de modo
legalidade, legitimidade e economicidade do Contrato nº 017/10, a ensejar o acesso
decorrente de torneio público na modalidade concorrência pública (nº indistinto de todos
20/2010), celebrado em 28 de junho de 2010 entre o Município de Santo os interessados à
Antônio de Pádua e a sociedade empresária Construtora Aeroporto Pádua licitação e também
Ltda., visando a execução de obras de construção da Escola Municipal para a ampliação
Viva, com prazo de 8 meses para sua conclusão, e no valor global de R$ do universo de
propostas com vistas
3.630.448,24.
à realização do
melhor negócio para
Registro, ab initio, que na Sessão Plenária de 4 de junho de 2013, o eg. a Administração
Corpo Deliberativo desta Corte decidiu, acolhendo na íntegra os termos Pública,
do voto sob minha pena (fls. 170/171-verso), pela notificação ao Sr. José fortalecendo o
Renato Fonseca Padilha, ex-prefeito do Município de Santo Antônio de caráter competitivo
Pádua e autoridade signatária da avença sob exame, em reverência ao do certame.
princípio republicano do devido processo legal, para que apresentasse
suas razões de defesa acerca da inobservância do inciso III do artigo 21 do
Estatuto Licitatório.
Em atendimento ao referido decisum, o responsável encaminhou suas
razões de defesa autuadas nesta Corte sob o Doc. TCE-RJ nº 020.260-5/13
(fls. 176/179), que foram submetidas à análise da laboriosa Coordenadoria
de Exame de Editais - CEE, resultando na bem lançada Instrução de fls.
182/184-verso, cujos termos e conclusões trago à baila, in verbis:
[...]
Procederemos a seguir à análise das justificativas enviadas pelo responsável
pela municipalidade, tendo em vista haver sido exarado o seguinte
comando ao jursidicionado:
121
inscrita no CNPJ sob o nº 03.567.643/0001-00, com circulação comprovada
em todo o Noroeste Fluminense e Zona da Mata Mineira (anexo capa do
jornal), abrangendo um público de aproximadamente 600.000 (seiscentos)
mil leitores na região mencionada, que contempla a existência de inúmeras
empresas com capacidade de executar a obra em tela, e com cobertura
total na região do órgão licitador e em nosso domínio na internet, que
ampliou sensivelmente a área de competição e para comprovar o que
acima mencionamos segue anexo a capa do Jornal A Folha da época do
certame licitatório, para melhor apreciação dos senhores conselheiros.
122
ou entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar
de obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou
garantidas por instituições federais;
123
Municipal fizesse uso de meios mais abrangentes de chamamento ao
certame conforme ditado no inciso III do art. 21 da Lei nº 8.666/93 e não
deixasse que os avisos ficassem apenas restritos à circunvizinhança da
região de Japeri.
124
“O Corpo Instrutivo fez excelente explanação ao comentar que a não
divulgação do aviso de licitação em jornal diário de grande circulação, fere
o princípio da publicidade constante no artigo 21 da Lei de Licitações, uma
vez que constitui norma de caráter geral.
125
circulação no Estado e, também, em jornal de circulação na região (ou
município) onde o contrato será executado.”
CONCLUSÃO
126
Montebello Willeman, manifesta-se, à fl. 189, ratificando as medidas
preconizadas pela CEE e endossadas pela SUM.
127
sabiamente abordado pelo eminente jurista EROS GRAU, Ministro
aposentado do Pretório Excelso, então Relator da ADI 2.716, que dispôs:
Da análise do dispositivo legal deixado à mingua (inciso III do art. 21, LLC),
emerge a singela constatação de que a legitimidade da licitação está sujeita
à ampla divulgação de sua existência, realizada em prazo que assegure o
direito (público) subjetivo de participação daqueles que porventura vierem
a se interessar2.
2 - Registre-se, à guisa de
ilustração, que eventuais No que tange à observância, pela Administração Pública Municipal, do
falhas na divulgação do edital
constituem uma limitação à inciso III, do artigo 21 do Estatuto Licitatório, insta destacar, por relevante,
participação dos interessados
e podem gerar a declaração que o excelso Plenário desta Corte3 já teve a oportunidade de enfrentar a
de nulidade de todo o matéria, sedimentando o entendimento no sentido de que caso se trate
procedimento licitatório,
como já se pôde observar em de aviso contendo chamamento para uma concorrência – modalidade
decisão do TCU (Decisão nº
674/1997 – Plenário). de licitação que envolve valores de grande monta –, cabe ao Município
proceder à publicação do instrumento convocatório em jornal diário de
3 - Registre-se, v.g., os
Processos TCE/RJ nº 204.738- grande circulação nos termos entabulados no inciso III, do artigo 21 da Lei
7/07, nº 203.315-4/07 e nº
237.125-9/06. nº 8.666/93, devendo sua comprovação ser realizada antes da realização
128
da licitação – nos termos do artigo 4º, inciso I, alínea “d”, da Deliberação
TCE-RJ nº 245/07 –, sob pena de nulidade do ato, por afronta ao princípio
da ampla publicidade dos atos administrativos.
“[...]
Para a modalidade de Concorrência, deve a Administração atender ao art.
21 que assim dispõe:
129
Nessa ordem de raciocínio, colha-se, por oportuno, a sempre abalizada
doutrina do mestre paranaense MARÇAL JUSTEN FILHO4 que, ao discorrer
acerca do artigo 21, da Lei 8.666/93, assevera que:
“De acordo com o art. 21, incs. I, II e III da Lei 8.666/93, a necessidade de
publicação na Imprensa Oficial da União ou do Estado é situação distinta
da publicação em jornal de grande circulação no Estado e, se houver, no
Município ou região. Tanto a publicação do aviso, na Imprensa Oficial,
como aquela em jornal de grande circulação no Estado e, conforme o caso,
no Município ou região, devem obrigatoriamente operar-se, de sorte que
uma não substituirá a outra, sob pena de ilegalidade e burla aos princípios
da publicidade e da transparência. Frise-se que o espírito da norma consiste
em possibilitar a divulgação das licitações da maneira mais ampla possível,
aumentando-se o universo de possíveis interessados em contratar com a
Administração, a fim de que possa ser atingido o fim precípuo da licitação
que é a obtenção de propostas mais vantajosas para o interesse público.
O descumprimento das regras de publicidade apontadas no art. 21, na
medida em que podem implicar prejuízo à competição, acarreta a nulidade
da licitação e do contrato.”
130
Corte Federal de Contas (Decisão n.º 233/1996 – 1ª Câmara) considerou
irregular a publicação dos avisos em jornal que não atende aos requisitos
estabelecidos no inciso III do art. 21.
(iii) que a irregularidade sob o foco de luz sujeita o responsável por sua
feitura aos ditames do inciso II do artigo 63, da Lei Complementar Estadual
nº 63/90;
7 - Apud AMARAL,
(v) que o Tribunal de Contas deve levar em conta, na fixação de multas, Antônio Carlos Cintra
do. Licitação e contratos
entre outras condições, “as de exercício de função, a relevância da falta, administrativos: estudos,
o grau de instrução do servidor e sua qualificação funcional, bem assim pareceres e comentários.
Belo Horizonte: Fórum,
se agiu com dolo ou culpa”, nos termos do que preceitua o artigo 65 da 2007, p. 19.
131
Lei Complementar nº 63/90, arbitra-se, o valor da multa em R$ 7.219,80,
equivalentes, nesta data, a 3.000 vezes o valor unitário da UFIR/RJ, a serem
recolhidas e comprovadas pelo Sr. José Renato Fonseca Padilha, ex-Prefeito
do Município de Santo Antônio de Pádua, com recursos próprios aos cofres
do Erário Estadual, no prazo legal, posiciono-me parcialmente de acordo
com o Corpo Instrutivo e de acordo com o Ministério Público de Contas, e
VOTO:
I- Pela REJEIÇÃO DAS RAZÕES DE DEFESA manejadas pelo Sr. José Renato
Fonseca Padilha, Prefeito do Município de Santo Antônio de Pádua
(Documento TCE/RJ nº 020.260-5/13, fls. 176/179), pelos fundamentos
sobejamente expostos no corpo do presente voto e, bem assim, insertos
no pronunciamento da laboriosa CCE (fls. 182/184-verso);
III- Pela APLICAÇÃO DE MULTA, mediante acórdão, ao Sr. José Renato Fonseca
Padilha, Prefeito do Município de Santo Antônio de Pádua, no valor de R$
7.219,80, equivalentes, nesta data, a 3.000 vezes o valor unitário da UFIR/RJ,
com arrimo no inciso II, do artigo 63, da Lei Complementar nº 63/90, a ser
recolhida e comprovada no prazo legal, com recursos próprios aos cofres
estaduais, ficando desde já autorizada sua COBRANÇA JUDICIAL, inclusive a
expedição de ofício ao titular do órgão competente para proceder à inscrição
em dívida ativa, nos termos entabulados na Deliberação TCE/RJ nº 166/92,
no caso de não recolhimento no prazo fixado, e
132
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ACÓRDÃO Nº /2013
8- ACÓRDÃO:
133
Geral de Licitação e Contratos Administrativos, cuja ratio essendi assenta-
se na materialização do princípio constitucional da publicidade (artigo 37,
caput);
9-ATA Nº:
FUI PRESENTE:
134
135
Julio L. Rabello
136
CONSULTA* Os servidores dos
Poderes Executivo,
Legislativo e
Judiciário deste
Trata o presente processo de Consulta formulada pela Presidente do
Estado, assim como
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Desembargadora Leila os do Ministério
Mariano, por meio do ofício Pres. nº 336/2013, com vistas à emissão de Público e Tribunal
pronunciamento: (i) acerca da possibilidade do servidor, optando, como de Contas, optantes
lhe facultam as Emendas Constitucionais nºs 41/2003 e 47/2005, pelo pelo regime de
regime da integralidade, poder se valer da possibilidade de contribuição integralidade e
sobre as gratificações de função/cargo comissionado, como autorizado paridade, não devem
contribuir sobre
pelo art. 12, parágrafo único da Lei nº 5.260, de 11 de junho de 2008, e,
vantagens referentes
consequentemente, poderia ver integrada a referida parcela aos proventos;
a cargos ou funções
e (ii) se a redação original do art. 35 da Lei nº 5.260/2008, que teve seu gratificadas, assim
efeito temporal modulado nos termos do parecer Rioprevidência/DJU como parcelas
nº 03/2009, possui o condão de assegurar, àqueles que se enquadrarem transitórias,
nos requisitos nele estabelecidos, a integração da gratificação de função excepcionalmente
ou cargo comissionado aos proventos de aposentadoria, tendo o servidor poderão incorporar
optado pela inativação com proventos calculados à totalidade da as vantagens
remuneratórias,
remuneração e reajustados pelo princípio da paridade, com fundamento
desde que tenha
no art. 6°da Emenda Constitucional nº 41/2003 ou no art. 3°da Emenda
incidido, sobre
Constitucional nº 47/2005. estas, contribuição
previdenciária.
Em regular tramitação, o feito foi examinado pelo Corpo Instrutivo que
conclui por sugerir o CONHECIMENTO da presente consulta e, quanto ao
mérito, assim se manifesta em relação à primeira indagação:
“Art. 2º - (...)
IX - remuneração do cargo efetivo: o valor constituído pelos vencimentos
e pelas vantagens pecuniárias permanentes do respectivo cargo,
estabelecidas em lei de cada ente, acrescido dos adicionais de caráter
individual e das vantagens pessoais permanentes;” * Voto aprovado por unanimidade.
137
“Art. 43 - É vedada a inclusão, nos benefícios de aposentadoria e pensão,
para efeito de percepção destes, de parcelas remuneratórias pagas em
decorrência de local de trabalho, de função de confiança, de cargo em
comissão, de outras parcelas temporárias de remuneração, ou do abono
de permanência de que trata o art. 86.
Deve-se salientar que tal entendimento não viola a previsão contida no art.
12 da Lei 5.260/08, mas especificamente, o seu §1° , que estabelece:
138
funcionamento da RJPREV, independentemente de adesão ao regime de
previdência complementar ali instituído;
b) que tenham ingressado no serviço público em data anterior ao início
do funcionamento da RJPREV e tenham optado por aderir ao regime de
previdência complementar ali instituído; ou
c) que sejam oriundos do serviço público em outro ente da Federação e ali
estivessem vinculados ao Regime de Previdência Complementar, na forma
do artigo 40, §§ 14 a 16, da Constituição da República Federativa do Brasil,
independentemente de adesão ao plano de benefícios administrado por
entidade fechada de previdência complementar.
139
entendida como uma linha de corte entre um regime inconstitucional (que
até ali vinha sendo aplicado na prática) para, daí para frente, o Estado do
Rio de Janeiro se adequar à Constituição.
É o relatório.
Inicio trazendo a norma inserta no inciso VII, do art. 3.º da Lei Complementar
nº 63/90, com a redação introduzida pela Lei Complementar nº 124, de
15.01.2009:
Tomando por base este preceito normativo, vejo que no caso concreto ora
enfrentado se encontram satisfeitos os requisitos de admissibilidade. A
Consulente é a titular do Poder Judiciário.
140
função/cargo comissionado, como autorizado pelo art. 12, Parágrafo
único da Lei n°5260, de 11 de junho de 2008? E, consequentemente,
poderia ver integrada a referida parcela aos proventos?
141
Também se objetivou extinguir a prática de se agregar aos proventos
de aposentadoria verbas denominadas adicionais de inatividade, o que
também garantia ao servidor aposentar-se com valores mais elevados
aos que percebia na ativa. Tais práticas desprestigiavam qualquer regra
atuarial, pois majorava o benefício da aposentadoria sem a correlata fonte
de custeio.
Contudo, insta destacar que a citada lei federal trazia essa previsão da
opção pelo desconto somente em relação aos servidores federais, sendo
um dispositivo constante desta lei que não possuía caráter nacional, e,
sendo assim, a opção nos Estados-membros somente poderia ser feita
quando houvesse legislação apta a ensejá-la.
142
inerente a estes cargos fosse integralmente incorporada aos proventos, no
momento de sua inativação.
143
O Ministro-Relator, Eros Grau, salientou que os dispositivos acima citados
restaram revogados, uma vez que a Emenda Constitucional nº 20/98, entre
outras disposições, estabeleceu que os proventos de aposentadoria, por
ocasião de sua concessão, não poderiam mais exceder à remuneração
do respectivo servidor no cargo efetivo, o que veda a incorporação de
gratificações aos proventos. Por essa razão não conheceu da ADI em relação
a esses dispositivos legais, e negou provimento ao Agravo Regimental
interposto pelo Estado do Piauí.
144
Admitiu-se, portanto, que somente àqueles que, até a data da publicação da
referida emenda, implementaram o lapso temporal previsto na lei, poderão
ter seus proventos compostos por tais verbas, isto é, o interstício temporal
deverá ser integralmente cumprido até 16/12/98, pois só assim o servidor
garantirá a incorporação da dita gratificação em sua aposentadoria.
Assim, qualquer dispositivo legal que use, por exemplo, as frases “Para
efeito de aposentadoria” e “terá incorporado aos seus proventos”, com
ideia de futuro, dando a entender que a parcela se refere aos proventos
que virão, e não aos vencimentos da atividade restaram revogadas pela
145
EC nº 20/98. Não se pode conceber uma vantagem funcional que tenha
como condição aquisitiva o requerimento de aposentadoria. Sendo assim,
é suficiente invocar o § 2º do art. 40 da CF para concluir pela ilegalidade
de tais parcelas.
146
Logo, se a proficiência foi incorporada na ativa, corolário lógico que pode
ser levada para a inatividade.
147
Entretanto, no Estado do Rio de Janeiro, a legislação e a prática administrativa
não acompanharam inteiramente as mudanças constitucionais desde a
promulgação da Emenda Constitucional nº 20/98. Em outras palavras, em
que pese a contrariedade ao disposto no art. 40, § 2º, da CF, permanecia
sendo aplicado o art. 220 do Decreto estadual nº 2.479/79, in verbis:
148
parágrafos, 222, 223 e seu respectivo parágrafo único e 224, todos do
Regulamento do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado,
aprovado pelo Decreto n°2.479, de 8 de março de 1979.
149
com fundamento no artigo 40 da Constituição da República, respeitado,
em qualquer hipótese, o limite do § 2º do citado artigo.
150
de contribuição previdenciária sobre parcelas remuneratórias que não
integrem a remuneração do cargo efetivo do servidor, à míngua de
dispositivo legal que defina como base de cálculo, constitui violação aos
princípios da legalidade, da vedação de confisco e da capacidade econômica
(contributiva), insculpidos nos incisos I e IV do art. 150 e § 1º do art. 145
da Constituição Federal, bem como o princípio da proporcionalidade entre
o valor da remuneração-de-contribuição e o que se reverte em benefícios,
posto que, na aposentadoria, o servidor receberá tão somente a totalidade
da remuneração do cargo efetivo e não o quantum proporcional àquele
sobre o qual contribuiu.
151
ART. 1º, II DA LEI 9.717/98. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211
DO STJ. DECESSO REMUNERATÓRIO. REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO DE SOLANGE DE
MOURA MORAIS A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
152
condição e em caráter transitório, indenizando o obreiro em razão
do desempenho da atividade laboral em condições especialmente
desfavoráveis. Não mais subsistindo as condições que justificavam
tais acréscimos remuneratórios, o que ocorre pela superveniência
da aposentadoria do servidor, não remanesce o direito de recebê-
la na inatividade, quando, ao tempo da aposentadoria, não vigorava
norma local que assegurasse a incorporação da verba aos proventos
de aposentadoria. O fato de a Administração Pública ter efetuado
errôneas retenções a título de contribuição previdenciária sobre o valor
do adicional, não implica em se alterar a base jurídica constitucional
para o cálculo dos proventos de aposentadoria, cabendo ao segurado
pleitear, em via própria, a repetição do indébito tributário. Reforma da
sentença para julgar improcedente o pedido de revisão do benefício
previdenciário. Conhecimento e provimento ao recurso.
153
Tais decisões e o entendimento doutrinário acima abordado robustecem
o fato de que a Constituição da República, em seu § 2º, do art. 40, com
a redação trazida pela EC n.º 20/98, modificou profundamente o sistema
previdenciário dos servidores, sendo certo que a aposentadoria passou
a ter como parâmetro, exclusivamente, o cargo efetivo, não mais se
cogitando do cargo em comissão, função gratificada, parcelas decorrentes
de local de trabalho ou outras vantagens transitórias.
154
repelindo-se a ideia de que o regime jurídico regulador do exercício da
função, em si mesmo considerado, possa ser incorporado ao patrimônio
jurídico dos servidores ou da Administração.
Portanto, não se olvide afirmar que direito adquirido é todo aquele que
preenche os requisitos legais ao seu tempo, postergando-se o seu exercício.
Melhor expõe o mestre Rubens Limongi França (A irretroatividade das leis
e o direito adquirido, 5.ed: Saraiva, 1998), quando traduz os ensinamentos
de Carlos Francesco Gabba:
b) nos termos da lei sob cujo império se entabulou o fato do qual se origina,
entrou imediatamente a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu.
O direito adquirido, quando seja o caso, pode ser oposto com êxito à
incidência e à aplicação de norma superveniente às situações subjetivas já
constituídas, mas nunca à alteração em abstrato do próprio regime anterior.
155
O princípio da segurança jurídica, que não tem sido incluído nos livros de
Direito Administrativo entre os princípios da Administração Pública, foi
inserido entre os mesmos pelo artigo 2.º, caput, da Lei n.º 9.784/99.
O princípio tem que ser aplicado com cautela, para não levar ao absurdo
de impedir a Administração de anular atos praticados com inobservância
da lei. Nesses casos, não se trata de mudança de interpretação, mas de
ilegalidade, esta, sim, a ser declarada retroativamente, já que atos ilegais
não geram direitos.
(Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas,
2001. p. 84/85).
156
caso obtido o consenso necessário no Congresso Nacional e/ou na
Assembleia Legislativa para a promulgação das emendas constitucionais
e leis ordinárias.
157
n.º 5.352/2008, aplica-se o novo art. 35 da Lei n.º 5.260/2008, lembrando
que tal dispositivo trata do cálculo de proventos referentes à regra atual
(média prevista no art. 1º da Lei Federal n.º 10.887/2004).
158
Emenda Constitucional n.º 20/98, haja vista que REGISTROU todos os
atos concessórios que continham parcelas fundamentadas no citado
dispositivo legal.
159
vantagens no âmbito do sistema jurídico administrativo do Estado do
Rio de Janeiro encontra-se extinto desde o advento da Lei Estadual n.º
2.565/96, ressaltando que o art. 35, em seu texto original, da Lei estadual n.º
5.260/2008, não existe mais no mundo jurídico desde 19/12/2008, uma vez
que foi textualmente alterado pelo art. 1º da Lei Estadual n.º 5.352/2008, ou
seja, para aquelas concessões cujos requisitos foram (e serão) concluídos
após 19/12/2008, data da publicação da Lei Estadual n.º 5.352/2008, aplica-
se o novo art. 35 da Lei n.º 5.260/2008, lembrando que tal dispositivo trata
do cálculo de proventos referentes à regra atual (média prevista no art. 1º
da Lei Federal n.º 10.887/2004).
Ante todo o até aqui exposto e o que nos autos está contido, posiciono-me
parcialmente de acordo com a sugestão do Corpo Instrutivo e de acordo
com os pareceres da PGT e do Ministério Público Especial.
VOTO:
160
161
Aloysio Neves Guedes
Tomada de Contas Especial Ex-Officio Deve o gestor público,
por meio de um
Relatório de Inspeção Ordinária* comportamento
ativo, criativo e
VOTO REVISOR desburocratizante,
tornar possível, de
Trata o presente de Tomada de Contas Especial ex-officio na Prefeitura um lado, a eficiência,
Municipal de Rio das Ostras, convertida em atendimento à decisão desta por parte do servidor,
Corte de Contas em 15.12.2011, em razão de despesas consideradas e a economicidade
como resultado
ilegítimas pelo Corpo Instrutivo.
das atividades,
impondo-se o
A Inspeção Ordinária, aprovada nos autos do processo TCE-RJ n.º exame das relações
300.114-2/08, teve por objeto a verificação do aspecto contábil, custo/benefício
orçamentário, financeiro e patrimonial dos atos praticados no exercício nos processos
de 2007. As despesas consideradas ilegítimas referem-se aos itens 1.1 administrativos que
a 1.3, discriminados às fls. 118-verso a 126-verso dos presentes autos, e levam a decisões,
detalhadas no voto do Conselheiro-Relator. especialmente as de
maior amplitude, a
fim de se aquilatar
O jurisdicionado foi citado, por meio do SICODI, em 13.01.2012,
a economicidade
apresentando suas razões de defesa no documento acostado aos autos em das escolhas entre
epígrafe sob o nº 7.100-2/12. O Corpo Instrutivo, por seu turno, analisou os diversos caminhos
argumentos proferidos pelo jurisdicionado às fls. 16696/16699. propostos para a
solução do problema,
Na sessão plenária de 18.12.2012, nos termos do voto do ilustre para a implementação
Conselheiro-Relator Marco Antonio Barbosa de Alencar, este Tribunal da decisão.
decidiu (fls.16.701/16.705):
VOTO:
163
a. Desvio de finalidade da aplicação de recursos públicos, utilizados para
custeio de viagem de cunho particular a Funchal, Ilha da Madeira, Portugal,
na forma apontada neste relatório, causando dano ao erário constituído
pelos seguintes valores (fls. 36/39 e 9.909/9.9011) -- III.1:
164
1.2 – Não comprovação de finalidade pública no custeio de hospedagens
de terceiros, caracterizando despesa ilegal, ilegítima e antieconômica, na
forma apontada neste relatório, constituindo dano ao erário representado
pelo seguinte valor (fls. 91 e 9.926/9.927):
É o relatório.
165
de recursos públicos, utilizados supostamente para custeio de viagem
de cunho particular a Funchal, na Ilha da Madeira (Portugal). Ao mesmo
tempo, o Corpo Instrutivo alega que não houve transparência na prestação
das contas dos recursos percebidos pelo responsável.
166
Nesse sentido, o seminário internacional, realizado na Ilha da Madeira,
tratava de temas de gestão pública, propiciando, inclusive, as tratativas
para assinatura de acordos e parcerias, em nível internacional, com o
escopo de melhorar os níveis de eficiência administrativa do município,
perfazendo o comando constitucional do art. 37, caput da CF/88.
167
No que tange à não comprovação de finalidade pública no custeio de
hospedagens dos envolvidos, caracterizando despesa ilegal, ilegítima e
antieconômica, deve-se ressaltar que os interessados tiveram participação
exclusiva nas atividades promovidas pelo seminário internacional, devido
ao caráter oficial da viagem.
168
público, relacionado ao cargo exercido pelo Chefe do Executivo municipal.
Não é razoável supor que, em caráter privado, o jurisdicionado tenha sido
convidado para participar do seminário.
169
Percebe-se, ainda, que não há indícios de que os jurisdicionados fizeram
valer as suas vontades pessoais, não havendo nos autos elementos que
evidenciem dolo ou má-fé das partes envolvidas.
Desse modo, verifica-se, nos termos dos documentos acostados aos autos,
que não houve desvio de finalidade na conduta dos gestores públicos, haja
vista que o interesse público foi contemplado, o que justifica o afastamento
do débito e da multa aplicada pelas razões aduzidas nos presentes autos.
VOTO:
II. Pela COMUNICAÇÃO ao Sr. Carlos Augusto Carvalho Balthazar para que
tome ciência da decisão proferida por esta Corte de Contas.
170
171