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1. Indicações
1.2 Populações-Alvo
2. História
(Atlas & Pepler, 1998; Bierman, Smoot & Aumiller, 1993; Crick, 1996; Crick, Casas &
Mosher, 1997; Lochman, White & Wayland, 1991; Pereira, 2002). Cada um destes tipos de
fonte tem os seus pontos fortes e fracos em termos metodológicos (Ladd & Profilet, 1996),
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Um agradecimento especial à Professora Doutora Maria Luísa Lima pela sua colaboração na revisão de
versões anteriores deste artigo.
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sendo que a maioria das investigações tem-se baseado numa única fonte de medição
A maneira mais fácil e mais utilizada para obter dados relativamente à agressividade das
Simões, Rebelo, Ferreira & Cardoso, 1994; Guerin & Hennessy, 2002; Lochman, et al, 1991;
Olweus, 1997; Pellegrini & Bartini, 2000; Whitney & Smith, 1993). Contudo, uma das
factores relacionados com a desejabilidade social (Fonseca, et al, 1994; Pellegrini & Bartini,
2000). A forma mais adequada de recolher dados para avaliar a variável agressividade entre
pares parece ser, até à data, o recurso a metodologias de hetero-relato. Por outro lado, a
conjunção da avaliação feita pelos pares com a dos professores tem permitido a obtenção de
1994; 1995; 1999), ou avaliam apenas um tipo específico de agressividade proactiva mais
conhecida por bullying (Carvalhosa, Lima & Matos, 2001; Pereira, 2002).
Dodge e Coie (1987) avaliaram a agressividade de tipo reactiva, proactiva, física e verbal,
a partir dos relatos dos professores, através da escala “The Teacher Rating Instrument”. Com
dois, um que avaliasse a agressividade relacional, uma forma de agressividade mais indirecta
e que alguns autores consideram estar mais associada às raparigas (e. g. Crick, 1996; French,
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Jansen & Pidada, 2002; Genta, Menesino, Fonzi, Costabile & Smith, 1996; Gumpel &
Meadan, 2000; Hudley, 1993; Marsh, et al, 2001) e outro que medisse a agressão dirigida
contra objectos, outra forma de agressividade mais directamente observável (Skinner, Altman
O QCA foi constuído e validado no âmbito dos trabalhos que conduziram à dissertação de
3. Fundamentação Teórica
todo o mundo (Marsh, Parada, Yeung & Healey, 2001), sendo que os resultados de diversas
1993; Crick, 1996; Ladd & Profilet, 1996; Parker & Asher, 1987) e como o factor isolado que
mais contribui para a rejeição entre pares (e.g. Dodge & Coie, 1987; Zakriski, Jacobs & Coie,
1997).
A agressividade é definida por Parke e Slaby (1983, cit. por Coie & Dodge, 1998) como
um "comportamento que tem como objectivo fazer mal ou causar dano a outra pessoa ou
pessoas" (p. 781). Um comportamento agressivo tem de ter potencial para fazer mal ou
causar dano, ser intencional, envolver estímulo e ser aversivo para a vítima (Brain, 1994, cit.
agressividade: a reactiva e a proactiva (Coie & Dodge, 1998; Dodge & Coie, 1987; Hubbard,
Smithmyer, Ramsden, Parker, Flanagan, Dearing, Relyea & Simons, 2002). A agressividade
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(1939, cit. por Coie & Dodge, 1998; Martín, 1993) e é definida como uma explosão de raiva
e furor pouco controlado e que aparenta ser uma reacção defensiva ao bloqueio de objectivos,
(Dodge & Coie, 1987). A agressividade instrumental ou proactiva tem origem no modelo da
aprendizagem social de Bandura (1973, cit. por Coie & Dodge, 1998; Martín, 1993) e define-
objectivos externos e caracterizado pela falta de emoção (Dodge & Coie, 1987).
Apesar dos avanços substanciais realizados nesta área de investigação, uma das limitações
tem sido o foco, em exclusivo, em formas de agressividade que são típicas nos rapazes, mas
detrimento de formas mais indirectas de agressividade voltadas para a relação (Crick, 1996;
Crick, Casas & Ku, 1999; Crick & Werner, 1998; French, et al., 2002). Crick (1996) dedicou-
comportamento que prejudica os outros através de danos físicos ou ameaças deste género de
da influência que tem nos seus relacionamentos e que poderá tomar a forma de exclusão
social.
verbal que abrange os ataques verbais aos outros (ex.: gritar, chamar nomes, gozar, arreliar,
fazer caretas ou gestos) e a agressividade dirigida contra objectos que visa expressar
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O QCA foi construído durante os meses de Janeiro e Fevereiro de 2004 e aplicado
do 2º e 3º ciclos do Ensino Básico. Esta aplicação visou a recolha de dados para validação do
selecção dos itens. Estes foram construídos com base no questionário “The Teacher Rating
itens da escala, de modo a facilitar a sua compreensão. A versão final do QCA foi aplicada
entre Março e Junho de 2004 com vista a avaliar as suas qualidades (Raimundo, 2005).
O QCA foi também aplicado entre Janeiro e Junho de 2007, em 8 turmas do 4º ano de
Estão ainda a decorrer estudos com o QCA de avaliação do impacto de uma nova
metodologia, o PBL (Problem Based Learning) que está a ser implementada na disciplina de
Apenas está a ser aplicada a versão para professores, sendo que cada um deles avalia todos os
alunos da turma.
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A escala QCA encontra-se em fase de tradução e adaptação ao contexto Eslovaco no
Foram realizados dois estudos. A amostra do primeiro estudo empírico com o QCA é
constituída por 443 crianças e adolescentes (218 rapazes e 225 raparigas) e 22 directores de
turma, provenientes de cinco escolas públicas dos concelhos de Lisboa, Torres Vedras e
Aproximadamente 70% dos alunos da amostra nunca reprovaram e a maioria dos que
(ESE), calculado a partir de dados como a profissão dos pais, o seu local de trabalho e o seu
grau de instrução presentes na escala de Graffar (1956) e dividido em cinco níveis em que um
corresponde ao ESE elevado e cinco ao ESE baixo, verificou-se que a média foi de 3.13
(desvio-padrão de 1.31).
A metodologia de recolha de dados utilizada baseou-se na nomeação, por parte dos pares
e dos professores, dos três alunos mais agressivos e dos três alunos menos agressivos de cada
turma. Das 22 turmas foram nomeados, ao todo, 87 alunos como mais agressivos e 97 alunos
No segundo estudo, realizado com alunos do 4º ano de escolaridade, foram avaliados 154
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rapazes e 62 raparigas) após a implementação do programa. No pré-teste 102 alunos
da amostra tinha idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos no pré-teste. 75,2% dos alunos
nunca reprovaram e 16,6% apenas reprovou uma vez. Em relação ao ESE, avaliado através
pelos professores intervenientes a todos os alunos das suas turmas, sem recurso à nomeação.
quer formas directas de agressividade, como sejam a física, contra objectos e a reactiva, quer
ainda formas mais indirectas de agressividade, tais como a verbal, a relacional e a proactiva,
que inclui as práticas de bullying. Alguns exemplos de itens são: "Bate, esmurra, dá pontapés,
morde ou empurra os colegas" e "Deixa de parte colegas de grupo, ignora-os, espalha boatos
Durante a fase de validação do questionário, a análise dos itens teve como objectivo
perceber qual o grau de compreensão dos sujeitos da amostra relativamente aos termos
empregues nas instruções e nos itens da escala. As respostas aos itens avaliam a frequência de
agressividade percebida e são dadas no formato Likert de cinco pontos, desde nunca=1 a
quase sempre=5.
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Inserir Quadro 1
Inserir Quadro 2
Como é de esperar de uma escala que avalia a agressividade numa amostra não clínica, a
distribuição das respostas aos itens é claramente assimétrica. Assim, foram registados níveis
estudos.
de Cronbach. No primeiro estudo obtiveram-se valores de .96 para a escala total quando os
respondentes são os pares e de .90 quando são os professores. Analisámos ainda a correlação
(Pearson) entre cada item e a escala total e obtivémos valores que oscilam entre .86 e .97 para
os pares e entre .67 e .93 para os professores, todos eles claramente acima de .50.
através do relato dos pares com os resultados obtidos a partir do relato feito pelos professores.
Todas as correlações entre os relatos, para cada um dos itens da escala, foram altamente
significativas (p<.01) variando entre .480 e .867, sendo que a correlação foi de .868 (p<.01)
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apresentam uma correlação com a escala que oscila entre .826 e .957 (p<.001) e no pós-teste
entre .810 e .946 (p<.001). As correlações inter-item vão de .611 (itens 3 e 5) a .893 (itens 2 e
valores elevados e a estabilidade dos valores de alpha nos dois estudos e das correlações
No segundo estudo foi ainda possível avaliar a estabilidade temporal através do teste-
reteste com três meses e meio a quatro meses de intervalo, entre as duas aplicações.
Considerou-se apenas as turmas que integravam o grupo de controlo e que não participaram
no programa (N=52). A análise das correlações teste-resteste para cada um dos itens
evidencia que todas elas são significativas (p<.001), oscilando entre .814 (item 3) e .877
(item 6), sendo a correlação da escala total nos dois momentos de .916 (p<.001).
Para além dos procedimentos de validade de conteúdo (facial) utilizados na fase inicial de
construção do QCA, foram feitos três tipos de análises tendo em vista o estudo da validade do
primeiro estudo apontam para a existência de uma solução inicial com um factor único,
explicativa de 75.25% da variância total. Os itens da escala evidenciaram uma boa correlação
com o factor único da escala, com valores que oscilam entre .96 e .69. No segundo estudo a
estrutura factorial da escala foi replicada, nos dois momentos de avaliação. O factor único no
80.43% da mesma. Os itens saturam no factor único da escala entre .825 e .956 no pré-teste e
entre .822 e .946 no pós-teste. Ambos os índices são reveladores de uma boa estrutura
factorial do QCA.
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Em termos de validade empírica, as diferenças em função do sexo no primeiro estudo
revelaram que os rapazes (colegas – M=2.37, dp=.71; professores – M=2.25, dp=.90) são
mais frequentemente nomeados como mais agressivos pelos colegas (t=8.339; gl=121.931;
A metodologia utilizada neste estudo permitiu-nos ainda isolar, dentro da amostra global,
os alunos considerados mais agressivos dos alunos considerados menos agressivos, dentro de
cada turma. A comparação das respostas ao QCA revelou que os alunos nomeados como
dos colegas (t=25.093; gl=106.664; p<.000), quer no relato dos professores (t=16.591;
gl=16.591; p<.000) do que os alunos nomeados como menos agressivos (M=1.24, dp=.25 e
a comparação dos resultados obtidos pelo grupo de intervenção e pelo grupo de controlo, nos
sido percepcionado como tendo mais comportamentos agressivos (M=2.06, dp=1.05) do que
discriminante da escala.
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A administração da prova pode ser de natureza individual, ou colectiva, em contexto de
lápis”, sendo que não apresenta tempo limite. Cada item é cotado de 1 a 5 e, já que todos
estão formulados no mesmo sentido, a pontuação total da escala é obtida pelo somatório
Em primeiro lugar, convém reforçar que, no primeiro estudo, nem todos os alunos de
cada turma foram avaliados através do QCA, porque esta escala foi aplicada para avaliar
apenas, através de hetero-relato, os alunos mais e menos agressivos em cada turma. É à luz
Os resultados das análises factoriais permitem-nos concluir que estamos perante uma
escala que avalia um constructo unidimensional, sendo que o factor único encontrado explica,
pelo menos, 75% da variância dos resultados. Este facto justifica que a interpretação da
A escala não possui normas, servindo as estatísticas descritivas obtidas com as nossas
amostras, de parâmetros de referência para a interpretação dos valores obtidos e para futuros
estudos sendo possível, para tal, recorrer à ponderação directa dos valores obtidos através da
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6. Avaliação crítica
alunos. O QCA pode constituir-se como uma ferramenta útil para aferir a frequência do
A escala foi construída com base numa visão abrangente da agressividade que inclui, quer
formas mais directas como a agressividade física, contra objectos e reactiva, quer formas
práticas de bullying.
Neste sentido, o QCA poderá tornar-se uma poderosa ferramenta para a avaliação
6.2 Limitações
12
Não podemos esquecer que os itens desta escala avaliam, essencialmente, a frequência da
agressividade específicos nestas idades, como é o caso do bullying, devem recorrer a outras
escalas, tais como “A agressividade entre crianças no espaço escolar” de Olweus (1989),
adaptado à população portuguesa por Pereira e Almeida (1994, cit. por Pereira, 2002), ou
Os resultados alcançados com o QCA apontam para a prossecução das investigações para
também a sua intensidade, uma vez que um acto agressivo pode ocorrer muito
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8. Material
9. Edição e distribuição
O QCA pode ser obtido para fins de investigação e de intervenção, contactando para o
efeito as autoras.
Raquel Raimundo
1500-400 LISBOA
raquelraimundo@portugalmail.pt
16
Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade
1649-013 LISBOA
mapmp@fpce.ul.pt
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Quadro 1
18
Quadro 2
Momento da
Itens Grupos Min.-Máx. Média Desv.-Pad.
Avaliação
19
Intervenção 1-5 1.93 1.142
Pré-Teste
Controlo 1-5 2.19 1.138
6
Intervenção 1-4 1.74 1.052
Pós-Teste
Controlo 1-5 2.17 1.184
20