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Inertização do Lixo Tóxico com a Tecnologia de Plasma

Altair Souza de Assis, Ph. D.


Universidade Federal Fluminense – IM - GMA
altair@vm.uff.br
altair_plasmatech_consultant@yahoo.com

Foi na década de 70 que se colocou um marco regulatório internacional na questão ambiental, com a
conferência de Estocolmo (Suécia). A conferência de Estocolmo, realizada em 1972, foi a primeira atitude
mundial consistente para tentar organizar as relações do homem com o meio ambiente – ficou então para traz
aquela idéia equivocada de que os rejeitos eram um mal necessário na produção industrial. Contudo, parece que
a inertização correta do lixo perigoso, em geral, ainda é uma coisa que a humanidade não leva muito a sério; seja
este rejeito de origem urbana, hospitalar, industrial (tóxico e/ou radioativo), espacial, e militar, nas suas mais
variadas formas: sólida, líquida, gasosa, e outras mais exóticas. Os estados da matéria mais conhecidos no
planeta terra são o sólido, o líquido e o gasoso (estados, na verdade, raríssimos no universo). Contudo, a matéria
no estado plasma é a mais comum no universo como um todo. O termo plasma foi introduzido por Langmuir
em1928 para descrever o estado da matéria em uma coluna positiva de um tubo de descarga (descarga “grow”).

O plasma nada mais é que um gás ionizado constituído de elétrons livres, íons e átomos neutros, em
proporções variadas e que apresenta um comportamento coletivo (os plasmas “reagem” fortemente na presença
de campos eletromagnéticos, o que não ocorre com os gases (neutros)). No universo, 99% da matéria observável
esta no estado plasma – o quarto estado da matéria. Os plasmas podem ser observados nos raios, auroras
boreais (luzes do norte), tubos néon, telas planas para TV e computadores, atmosfera estelares, ionosferas e
magnetosferas planetárias, jatos extragalácticos, atmosferas de pulsares, maçaricos à plasma, reatores de fusão
nuclear, só para citar algumas fontes.

Dependendo da temperatura, todas as substâncias podem ser transformadas em um plasma. Os plasmas


mais comuns e fáceis de encontrar no dia-a-dia são os formados a partir dos gases nobres como os plasmas de
argônio, de nitrogênio, de hidrogênio, contudo não é incomum os plasmas de vapores metálicos ionizados, ou
seja, plasma de ferro, plasma de tungstênio, etc. Os plasmas podem atingir temperaturas muito altas (devido o
“pinch” térmico), como dezenas de milhares de graus Celsius (nas tochas de plasma) e mesmo milhões de graus
Celsius nos reatores de uso na fusão nuclear e os encontrados nas estrelas, como o plasma coronal.

É muito comum o emprego do ar para se criar plasmas de utilidade na indústria, a partir da água podem-
se também criar plasmas com dezenas de milhares graus Celsius de temperatura. As aplicações industriais para
os sistemas a plasma são vastas, eles podem ser utilizados no tratamento direto do lixo tóxico, no tratamento das
cinzas tóxicas dos incineradores convencionas, na recuperação de metais nobres, no corte solda, fabricação de
filme fino, produção de partículas nanométricas, na siderurgia (“tundish”), descontaminação de alimentos, e
outras aplicações de importância.

Nos sistemas para o tratamento do lixo tóxico com o emprego dos plasmas, a temperatura na tocha pode
variar de alguns milhares a algumas dezenas de milhares de graus Celsius, com um plasma gerado a partir da
água pode-se obter temperaturas da ordem de 70.000°C. Sob a ação da tocha de plasma, os resíduos tóxicos
(sejam estes não metálicos ou metálicos) são reduzidos a uma “lava” vitrificada (matriz vítrea) ou a uma matriz
férrea, e tudo completamente inerte ao meio ambiente.
A tecnologia de plasma no tratamento do lixo tóxico de forma não poluente é única e não tem tecnologia
competidora a altura no momento, e possivelmente no porvir. A usina de tratamento a plasma pode ser instalada
em qualquer parte do globo sem nenhum problema de certificação, sendo a tecnologia ideal para permitir a
indústria obter certificações tipo ISO14000 e a ”futura” ISO26000, visto que ela permite tratar o lixo do berço ao
tumulo de forma não poluente. Os componentes do lixo são transformados em matrizes vítreas e férreas
totalmente inertes ao meio ambiente, além de servirem de material agregado, mesmo que o lixo original esteja
contaminado por metais pesados ou substâncias tóxicas.

O custo dos sistemas a plasma é em geral mais baixo que os dos sistemas convencionais que empregam
combustíveis fósseis. Por exemplo, o custo estimado de uma usina de plasma para tratar 50.000 toneladas de
resíduos de fabricação do aço siderúrgico, por ano, custa aproximadamente US$18 milhões comparados com os
US$25 milhões para uma usina convencional, com base na tecnologia que emprega o combustível fóssil. Os
sistemas a plasma são caracterizados pela alta eficiência de tratamento e baixo volume gás gerado no processo.
Isto gera economia, visto que o tamanho do reator e o sistema de lavagem dos gases é bem menor que o do
sistema convencional. O custo do sistema de exaustão de gases nos sistemas convencionais pode chegar a até
50% do valor do sistema global, com o emprego da tecnologia convencional.

Os preços médios de uma usina para o tratamento do lixo tóxico inorgânico, incluindo o sistema de
lavagem dos gases, para diferentes volumes de alimentação são (£ = Libras Inglesa; k = 1000; t = toneladas):
50t/ano = £600k; 150t/ano = £650k; 350t/ano = £750k; 500t/ano = £800k. Os preços podem variar em torno
destas estimativas dependendo da natureza do material tóxico a ser tratado, e as especificações técnicas
requeridas ou legislação ambiental local. Uma economia considerável é obtida para volumes de lixo tratado
maiores, visto que o custo do sistema a plasma esta vinculada a engenharia do projeto, os serviços, e o sistema
de controle do sistema. A uma baixa taxa de alimentação o sistema a plasma será parecido com um sistema de
demonstração e o preço fica elevado, ele se torna competitivo para volumes maiores, e os valores típicos para o
tratamento do lixo tóxico inorgânico, como os metais pesados, neste caso são: 250t/ano = £980/t; 1800t/ano =
£380/t; 1500t/ano = £120/t. O custo operacional para os sistemas a plasma é sensível ao preço da eletricidade
local, contudo este sistema permite a geração de eletricidade a partir do próprio lixo a ser tratado, reduzindo
assim os custos de operação. O “breakeven” (eletricidade gerada com o lixo = eletricidade consumida na usina)
médio para este sistema é de aproximadamente 1000 toneladas/dia, isto implica que um volume de lixo como o
do Rio de Janeiro, da ordem de 6000toneladas/dia, da para ser ter balanço positivo de alguns MegaWattshora -
MWh de energia gerada, nesta onda de poluições sem fim e crises de energia esta é uma alternativa
extremamente atraente, visto que une o útil ao agradável.

Em muitas circunstancias o custo global de operação dos sistemas a plasma são menores que os dos
sistemas convencionais devido ao número de pessoas envolvidas na operação, manutenção, e outras atividades.
Muitas são as vantagens técnicas e ambientais do sistema a plasma para o tratamento do lixo
industrial/urbano/hospitalar: (1) o baixo volume dos gases gerados assegura um melhor controle ambiental, (2) a
injeção de energia no reator e independente das escórias no reator e da química dos gases possibilitando assim
uma alta flexibilidade de operação, o que possibilita um ajuste fino na química e temperatura do reator para uma
operação no estado de ótimo desempenho, (3) o processo produz escorias estáveis, robustas, e densas, o que
permite o seu uso como material agregado, (4) a alta intensidade da radiação UV [ultravioleta] e temperatura na
tocha de plasma asseguram uma destruição rápida e eficiente do material orgânico contaminado como os
oriundos do lixo hospitalar, (5) a recuperação de metais nobres como uma fase separada no reator é facilmente
obtida, (6) o reator pode operar a temperaturas muito altas (i.e. > 10000°C) permitindo uma vitrificação que
produz materiais altamente refratários de grande aplicação na indústria cerâmica, (7) é possível variar o volume
de injeção, tamanho dos componentes, e a química do lixo tóxico a ser tratado, incluindo partículas muito
pequenas como as das cinzas tóxicas geradas nos incineradores convencionais, hoje amplamente em uso no
Brasil. Estas cinzas tóxicas são enterradas em sarcófagos controlados, mas podem ser facilmente tratadas com
sistemas a plasma e tornadas assim inertes, finalmente (8) não é necessária uma aglomeração prévia no
alimentador do reator, a alimentação pode ser continua.

Em resumo, pode-se dizer que não se justifica mais tanta poluição ambiental por lixo tóxico, seja por
negligencia ou por ignorância, tanto por parte do setor privado quanto por parte dos governos que administram o
lixo urbano e hospitalar. Já existe tecnologia para se eliminar completamente esta poluição, seja ela por lixo
urbano, industrial ou hospitalar, é preciso simplesmente competência e boa vontade por parte das camadas
produtivas e governantes deste país. Os custos sociais com a poluição são tão grandes, visto que esta induz
perda de vidas e doenças crônicas, que os investimentos nesta área serão compensados completamente pelos
resultados econômicos, sociais, e ambientais que serão obtidos em futuro não muito distante.

Bibliografia

1 – Altair S. de Assis, Tecnologia de Plasma “Primeiro Congresso de Ciências Militares:Operações Militares e


Meio Ambiente”
EsAO – Vila Militar – Rio de Janeiro, 7 – 11 de julho, 2008
2 – Altair S. de Assis (blog - blogger), http://tecnologiadeplasmacapitalhumano.blogspot.com/
3 – Altair S. de Assis, Aquecimento do Plasma com a Onda de Alfvén Cinética, Tese de Mestrado, Instituto de
Física - UFF, 1983
4 – Plasma Science – From Fundamental Reserach to Technological Applications, National Science Council,
National Academy Press, Washington DC, 1995
5 – Nicholas A. Krall and Alvin W. Trivelpiece, Principles of Plasma Physics, Mc Graw – Hill Kogakusha, Tokyo,
1973

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