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Índice

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 4
UNIDADE 1. SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE ANGOLA ......................................................... 7
Conceito ................................................................................................................................................. 7
Evolução do sistema nacional de saúde ............................................................................................... 7
1.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE
ANGOLANO ......................................................................................................................................... 8
1.1.1. Hierarquia de prestação dos cuidados de saúde................................................................. 8
1.1.2. Sector Privado ....................................................................................................................... 9
1.1.3. Sector da Medicina Tradicional........................................................................................... 9
1.1.4. Acesso aos cuidados de saúde e sua utilização .................................................................. 10
1.1.5. Principais problemas do Sistema Nacional de Saúde ...................................................... 10
1.1.6. Pontos fortes do Sistema Nacional de Saúde Angolano ................................................... 10
1.1.7. Prioridades da Saúde .......................................................................................................... 11
1.1.8. Perspectivas, Valores e Princípios ..................................................................................... 12
1.1.9. Objectivos da política nacional de saúde (PNS) ............................................................... 13
1.2. ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM ANGOLA ...................................... 13
1.2.1. ORGANIGRAMA DA SAÚDE EM ANGOLA (MINISTÉRIO) ................................... 14
1.2.2. DIVISÃO DO TRABALHO EM SAÚDE ......................................................................... 14
1.3. CURSO DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM.................................... 14
1.3.1. OBJECTIVOS DO CURSO:.............................................................................................. 15
1.3.2. ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DO TRABALHO EM ENFERMAGEM ..................... 16
UNIDADE 2 - A ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO .............................................................. 17
2.1. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DAS PROFISSÕES .............................................. 18
2.2. HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO MUNDO E EM ANGOLA .................................... 19
2.2.1. História e desenvolvimento da Enfermagem .................................................................... 19
2.2.2. A enfermagem em angola ................................................................................................... 23
2.3. Estrutura da Carreira de Enfermagem ................................................................................ 23
2.4. Enfermeiro Profissional .......................................................................................................... 24
2.4.1. Competências do Enfermeiro............................................................................................. 24
CAPÍTULO 3 – ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL .................................................... 26
3.1. Ética.......................................................................................................................................... 26
3.1.1. Origem e Significado da Ética............................................................................................ 26
3.1.2. Relação entre a Ética e Moral ............................................................................................ 27
3.1.3. Relação Ética e Normas Jurídicas ..................................................................................... 28
Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

3.1.4. Ética Profissional ................................................................................................................ 29


3.1.5. Importância da ética profissional ...................................................................................... 30
3.2. Deontologia: Origem e Conceito ............................................................................................ 31
3.2.1. Deontologia Profissional ..................................................................................................... 32
3.2.2. Deveres profissionais vs Virtudes ...................................................................................... 33
3.3. Código de Ética e Deontologia Profissional .......................................................................... 37
3.4. Princípios Éticos ...................................................................................................................... 49
3.5. Atitude Social .......................................................................................................................... 50
3.6. Atitude Psicológica .................................................................................................................. 50
3.7. Atitude Profissional ................................................................................................................ 51
3.9. Sigilo Profissional .................................................................................................................... 52
UNIDADE 4. PROBLEMAS ÉTICO LEGAIS EM SITUAÇÕES COMPLEXAS ...................... 54
4.1. Conceitos: Segredo Natural, Segredo Prometido, Segredo Profissional ............................ 54
4.2. Doente Terminal...................................................................................................................... 57
4.2.1. Assistência e tratamento paliativo ..................................................................................... 59
4.2.2. Questões éticas e legais ....................................................................................................... 61
4.2.3. Fases ..................................................................................................................................... 62
4.3. Eutanásia ................................................................................................................................. 63
4.3.1. Classificação da Eutanásia ................................................................................................. 64
4.3.2. A Legislação Angolana face a Eutanásia .......................................................................... 64
4.3.3. A eutanásia na perspectiva da bioética ............................................................................. 68
4.4. Aborto (Interrupção da gravidez) ......................................................................................... 68
4.4.1. Tipos de Aborto ................................................................................................................... 69
4.4.2. Legislação Angolana Sobre o Aborto ................................................................................ 69
4.5. O Charlatanismo ..................................................................................................................... 72
UNIDADE – V: IMPORTÂNCIA DA DEONTOLOGIA EM ENFERMAGEM. ........................ 75
5. IMPORTÂNCIA DA DEONTOLOGIA EM ENFERMAGEM. ............................................ 75
5.1. Classificação da Deontologia Profissional............................................................................. 75
5.3. Qualidades individuais do enfermeiro .................................................................................. 76
Qualidades do Profissional de Enfermagem ..................................................................................... 76
5.4. Deveres e Direitos do trabalhador de saúde ......................................................................... 77
5.5. Deveres e Direitos do paciente ............................................................................................... 77
5.6. Objectivos de protecção dos bens públicos ........................................................................... 79
5.6.1. A Vida .................................................................................................................................. 79
5.6.2. A Saúde ................................................................................................................................ 79

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5.7. Responsabilidade Profissional ............................................................................................... 80


UNIDADE VI – HIGIENE SANITÁRIA.......................................................................................... 80
6.1. Biossegurança: Conceitos ....................................................................................................... 81
6.2. Ambientes hospitalar como fonte de risco para os profissionais de saúde ........................ 82
6.4. EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO INDIVIDUAL ......................................................... 83
Higienização das mãos ........................................................................................................................ 86
6.5. ACTUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CONTROLO E PREVENÇÃO DE INFECÇÕES
HOSPITALARES ............................................................................................................................... 86
6.6. LEGISLAÇÃO ANGOLANA SOBRE SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO
TRABALHO........................................................................................................................................ 87
6.7. ACIDENTES NO TRABALHO ............................................................................................ 88
6.7.1. TIPOS DE ACIDENTE DO TRABALHO ....................................................................... 89
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS .............................................................................................. 90

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

INTRODUÇÃO

A história da humanidade é permeada por acções de cuidar. O cuidado sempre existiu como
prioritário à manutenção da vida humana, do nascimento à morte. Porém, no século XIX, tal
prática revelou-se mais que uma necessidade. Neste contexto, emerge na Inglaterra, Florence
Nightingale, a grande personagem (que treinava pessoas para cuidar de pessoas) e transformou
o cuidado em um campo de conhecimento singular, com métodos e técnicas específicas,
diferentes das anteriormente executadas. Na sua origem a enfermagem era exclusivamente
desenvolvida por mulheres e voltada mais para a maternidade.

A partir do século XIX surge então a enfermagem moderna, através de Florence Nightingale,
que estruturou seu modelo de assistência depois de ter trabalhado no cuidado de soldados
durante a guerra da Criméia. Com seu embasamento técnico e científico, Florence deu origem
e implantou o que hoje conhecemos como processo de enfermagem, onde se aplicava uma
sequência de actividades com o intuito de agilizar o cuidado e obter uma melhor eficácia no
atendimento.

A Enfermagem é um ramo das ciências da saúde que se ocupa da assistência ao ser humano no
ciclo saúde-doença, em todas as faixas etárias. O enfermeiro é o profissional que ajuda a manter
o equilíbrio do ser humano por meio da promoção, protecção, recuperação da saúde e da
reabilitação, mediante a assistência de Enfermagem a pessoas, a famílias e a outros grupos de
comunidades. Dirige o trabalho da assistência de Enfermagem, exerce coordenação
administrativa de determinadas acções de saúde realizadas por outros profissionais nos serviços
de saúde.

Este material de Ética e Deontologia Profissional visa proporcionar aos estudantes


conhecimentos em questões de ética e deveres profissionais de modo a que possam realizar a
sua actividade com uma competência assente em valores, tanto morais como profissionais. Ele
serve também para os docentes que, de acordo com as planificações das suas aulas, poderão
encontrar nele um instrumento de apoio para as abordagens dos temas afins.

Os conteúdos abordados no presente manual são cruciais para a formação integral do


enfermeiro. A urgência do material resulta do facto de estarmos a viver uma época em que se
verifica uma desorientação com relação às normas morais e aos deveres profissionais.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

Perante esta situação, o mais sensato não será assistirmos alarmados e com “as mãos à
cabeça” ao afundamento dos valores morais e profissionais nas nossas instituições, mas sim,
num esforço conjugado de todos, dotá-las de capacidades alternativas internas que lhes possam
permitir encontrar respostas novas e adequadas aos desafios presentes. Isto passa
necessariamente pela formação ética e deontologicamente profissional dos actuais e dos futuros
enfermeiros, pois a actividade de saúde não se equipara a uma mera produção de bens. A
actividade do enfermeiro não é um mero fazer, é, antes pelo contrário, um agir que implica uma
relação humana com o paciente e com a sociedade;

Assim sendo, pretende-se que com este estudante o estudante seja capaz de:

• Conhecer a história da enfermagem;


• Discernir sobre os conceitos de "moral" e "ética";
• Abordar a especificidade dos dilemas ético-morais e profissionais da
actualidade;
• Discorrer sobre os deveres e as virtudes básicas profissionais;
• Compreender a veemência, a pertinência e a urgência com que os problemas
ético-morais e deontológico-profissionais se colocam à actividade de prestar
cuidados.
Os eixos gravitacionais do presente material são:

1. Abordagem geral e teórica da prática da enfermagem ontem e hoje;


2. A ideia de que a Ética é a reflexão da moral; ela é a teoria ou a filosofia da moral;
3. A Deontologia Profissional, também chamada por Ética Profissional, é parte da
Ética Aplicada; ela aplica os princípios da Ética Normativa na actividade
profissional, abordando normas de conduta que devem ser postas em prática no
exercício de qualquer profissão e, neste caso, da do enfermeiro;
4. A ideia de que os deveres profissionais só têm sentido ético-moral se
interiorizados e vividos como virtudes aplicadas no dia-a-dia do nosso
relacionamento com as pessoas. No nosso caso, esse relacionamento é com os
nossos pacientes, com a nossa classe profissional, isto é, com os nossos colegas, e
com a sociedade em geral, a partir da comunidade em que a nossa instituição está
inserida.

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O presente material, está dividido em cinco (5) partes. A primeira parte aborda questões
relacionadas ao Sistema Nacional de Saúde em Angola. A segunda parte aborda questões
relativas a história e desenvolvimento da enfermagem. A terceira parte aborda questões
referentes a ética e deontologia do profissional de enfermagem. A quarta parte faz referências
aos problemas éticos e legais com os quais os profissionais de enfermagem (saúde) se deparam
durante o exercício da sua função. A quinta e última parte abordas questões referentes as
qualidades do profissional de enfermagem, importância da deontologia.

De maneiras a aprofundar seus conhecimentos, recomendamos aos usuários deste material,


quer seja estudante ou docente, a consultarem outras bibliografias ligadas aos temas abordados
no presente material com fito de não se limitarem simplesmente a este resumo.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

UNIDADE 1. SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE ANGOLA

Ao abrigo da Lei de Bases do Sistema Nacional de Saúde (SNS), é da responsabilidade do


Estado angolano a promoção e garantia do acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde
nos limites dos recursos humanos e financeiros disponíveis. No entanto, a promoção e a defesa
da saúde pública são efectuadas através da actividade do Estado e de outros agentes públicos
ou privados, podendo as organizações da sociedade civil serem associadas àquela actividade.
Assim, os cuidados de saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou sob
fiscalização deste, por outros agentes públicos ou entidades privadas, sem ou com fins
lucrativos.

Conceito

O Sistema Nacional de Saúde (SNS), é uma estrutura através do qual o Estado Angolano
assegura o direito à saúde (promoção, prevenção e vigilância) a todos os cidadãos de Angola.

Evolução do sistema nacional de saúde

A Evolução histórica do sistema nacional de saúde angolano (SNS) conheceu uma evolução
caracterizada por dois períodos:

- O período colonial que vai até 11 de Novembro de 1975;

- O período pós independência com início em 11 de Novembro de 1975. Este período,


subdividido em duas fases ou épocas, sendo:

O período que se seguiu à independência, caracterizada de uma economia planificada, de


orientação socialista, e seguiu-se o período de economia de mercado com início em 1992. No
período a seguir a independência, foram estabelecidos através do SNS, os princípios da
universalidade e gratuidade dos cuidados de saúde, exclusivamente prestados pelo Estado,
assentes na estratégia dos Cuidados Primários de Saúde (CPS). Este período foi também
caracterizado na primeira década da independência, pelo alargamento da rede sanitária e pela
escassez de Recursos Humanos em Saúde (RHS), segundo dados estatísticos, na altura, no
período a seguir a independência, só se encontravam em Angola pouco mais de 20 médicos,
tendo, na ocasião, o Governo/Estado, que recorrer à contratação de profissionais recrutados ao
abrigo dos acordos de cooperação.

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Na segunda fase do período pós-independência, a primeira parte deste é caracterizada pelo


recrudescimento do conflito armado (guerra civil), reformas políticas, administrativas e
económicas que tiveram de certa maneira, um impacto negativo sobre o Sistema Nacional de
Saúde, tais como: a destruição e redução drástica da rede sanitária. Em 1992, através da Lei
21-B/92, de 28 de Agosto, é aprovado a Lei Base do SNS e o Estado angolano deixa de ter
exclusividade na prestação de cuidados de saúde, com a autorização do sector privado na
prestação dos serviços de saúde. Foi também introduzida a noção de comparticipação dos
cidadãos nos custos de saúde, mantendo o sistema tendencialmente gratuito. Na segunda parte
da fase da economia de mercado, é caracterizado pelo alcance da paz, que se traduziu numa
estabilidade macroeconómica, intenso esforço de reabilitação e reconstrução nacional de que
tem beneficiado o SNS.

Neste período, regista-se um aumento significativo dos recursos financeiros do Estado alocados
ao sector da saúde. Em 1992, através da Lei 21-B/92, de 28 de Agosto, é aprovado a Lei Base
do SNS e o Estado angolano deixa de ter exclusividade na prestação de cuidados de saúde, com
a autorização do sector privado na prestação dos serviços de saúde. Foi também introduzida a
noção de comparticipação dos cidadãos nos custos de saúde, mantendo o sistema
tendencialmente gratuito.

1.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE


ANGOLANO

1.1.1. Hierarquia de prestação dos cuidados de saúde

O sistema de prestação de cuidados de saúde subdivide-se em três níveis hierárquicos de


prestação de cuidados da saúde, baseados na estratégia dos cuidados primários.

O primeiro nível – Cuidados Primários de Saúde (CPS) – representado pelos Postos/ Centros
de Saúde, Hospitais Municipais, postos de enfermagem e consultórios médicos, constituem o
primeiro ponto de contacto da população com o Sistema de Saúde;

O nível secundário ou intermédio, representado pelos Hospitais gerais, é o nível de referência


para as unidades de primeiro nível;

O nível terciário, é representado pelos Hospitais de referência mono ou polivalentes


diferenciados e especializados, é o nível de referência para as unidades sanitárias do nível
secundário.

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Apesar da hierarquia estabelecida, o sistema de referência e de contra referência não tem sido
operacional por vários factores, principalmente, por causa da desestruturação do sistema de
saúde e da redução da cobertura sanitária decorrente do longo conflito armado que o país viveu.

Sector Público O sector público inclui o Serviço Nacional de Saúde13 (SNS), os serviços de
saúde das Forças Armadas Angolanas (FAA) e do Ministério do Interior, bem como de
empresas públicas, tais como a SONANGOL, ENDIAMA e, etc.

1.1.2. Sector Privado

O sector privado lucrativo está ainda confinado aos principais centros urbanos do país. Os
preços dos cuidados de saúde limitam a acessibilidade da população ao sector privado
lucrativo. Os preços praticados não são objecto de nenhuma regulação. À semelhança do que
acontece no sector público, a qualidade dos serviços prestados está aquém do desejado. Na sua
maioria, o pessoal do sector privado é o mesmo que trabalha no sector público, com evidentes
prejuízos para ambos os sectores.

1.1.3. Sector da Medicina Tradicional

A medicina tradicional encontra-se num estado de organização ainda incipiente. Embora sem
número conhecido de pacientes, que recorrem a este sector, há evidências que revelam que
muitos utentes15 recorrem à medicina tradicional e por vezes simultaneamente à medicina
ocidental assim como à medicina chinesa ou asiática.

Por ausência de um quadro legal, a falta de integração no sistema nacional de saúde e de


articulação com os outros prestadores de saúde, leva a que os valores positivos da medicina
tradicional não sejam devidamente aproveitados em benefício da saúde da população.

Os medicamentos tradicionais encontravam-se à venda nos mercados informais e nas


ervanárias, sem qualquer controlo de qualidade e em inadequadas condições de conservação.
Não existe nenhuma regulamentação sobre os medicamentos tradicionais, bem como os
homeopáticos que são importados. Há falta de uma Farmacopeia Nacional para os
medicamentos tradicionais. Os produtos fornecidos pelos ervanários e pelos terapeutas
tradicionais resultam muitas das vezes de conhecimentos que se transmitem através de gerações
e que se mantêm como segredo familiar, o que constitui um entrave para a investigação e o
desenvolvimento dessa área.

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1.1.4. Acesso aos cuidados de saúde e sua utilização

A baixa cobertura sanitária, a desigual e reduzido acesso assim como a inoperacionalidade de


um sistema de referência e contra referência, afectam o desempenho do SNS. No nível dos
cuidados primários de saúde, desenvolvem-se actividades preventivas e curativas de doenças e
lesões correntes, tais como educação para a saúde, consultas pré e pós-natal, planeamento
familiar, assistência ao parto e cuidados obstétricos básicos e completos, vacinação, controlo
do desenvolvimento e crescimento da criança. Nos níveis secundários e terciários, que
correspondem aos hospitais provinciais, centrais e de especialidade, realizam mais de 50% das
consultas de carácter de urgência. Não existe um sistema eficaz de marcação de consultas
externas. Na província de Luanda, estão concentrados os maiores centros hospitalares de
especialidades, mas a capacidade de resposta e de resolução não satisfaz as necessidades da
população. Esta situação leva a que os direitos do cidadão26 de escolher o serviço e o
prestador, de receber ou recusar cuidados, mantendo a sua privacidade, o respeito, a
confidencialidade dos dados pessoais, a informação sobre a sua situação de saúde, bem como
a assistência religiosa, não são às vezes respeitados.

1.1.5. Principais problemas do Sistema Nacional de Saúde

Os principais problemas do SNS residem na limitada acessibilidade aos cuidados de saúde de


qualidade decorrente de vários factores que concorrem para o fraco desempenho do SNS como
descrito na análise de situação. Dentre os factores, é importante salientar os seguintes:

Reduzida cobertura sanitária, abrangendo menos de 40% da população; reduzida força de


trabalho especializada; débil gestão dos recursos disponibilizados; fraca promoção da saúde
num contexto socioeconómico e meio ambiente favoráveis às endemias e epidemias.

1.1.6. Pontos fortes do Sistema Nacional de Saúde Angolano

Os pontos fortes do SNS Angolano, decorrem da:

 Gratuidade tendencial dos cuidados; Existência de uma massa crítica de recursos


humanos;
 Maior investimento na saúde; Aumento progressivo do orçamento do sector da saúde;
 Maior disponibilidade de ferramentas e mecanismos de gestão.

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Pontos fracos

Entre outros, assume especial relevância:

 A dificuldade de articulação e coordenação estratégicas das intervenções de saúde e


sobre os determinantes de saúde;
 Fraca liderança do sector da saúde;
 Fraca capacidade de planificação a todos os níveis;
 Descentralização sem autonomia financeira para as estruturas locais de saúde;
 Gestão deficiente dos recursos disponibilizados a todos os níveis;
 Investimentos pouco coerentes com as necessidades e prioridades da saúde;
 Pouca transparência nos actos de gestão;
 Reduzida cobertura sanitária;
 Desigual distribuição dos recursos humanos;
 Salários pouco atractivos e fraco desempenho do pessoal;
 Sistema de informação, comunicação, supervisão e avaliação incipientes.

1.1.7. Prioridades da Saúde

As prioridades do SNS em Angola até 2025, consistem no desenvolvimento sustentável e o


combate à pobreza, que visam o seguinte: Redução da mortalidade materna e infantil; Controlo
de doenças transmissíveis e não transmissíveis; Adequação dos recursos humanos e
tecnológicos de saúde; Asseguramento de um financiamento sustentável; Gestão eficiente dos
recursos do SNS.

A redução das elevadas taxas de mortalidades materna e infantil bem como o controlo de
doenças, constituem os maiores desafios do SNS em Angola. Os factores contributivos a estes
desafios estão intimamente ligados à pobreza e à ignorância para além dos factores intrínsecos
aos serviços de saúde. Neste contexto, as intervenções de saúde devem dar primazia à
prevenção de doenças e à promoção da saúde.

Outro desafio consiste na reestruturação e reorganização do SNS, com vista a adequação dos
recursos humanos e das tecnologias às reais necessidades em saúde das populações, num
contexto de um financiamento sustentável da saúde.

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1.1.8. Perspectivas, Valores e Princípios

A Política Nacional de Saúde almeja assegurar em 2025 “uma vida saudável para todos”, num
contexto de desenvolvimento nacional sustentável e de um sistema nacional de saúde que
responda às expectativas da população, prestando cuidados de saúde de qualidade com
equidade e com eficiência.

A concretização de uma perspectiva de uma vida saudável para todos, é um desafio que
ultrapassa as fronteiras tradicionais do sistema de saúde, pelo que, o concurso dos outros
sistemas de que dependem importantes determinantes da saúde é de uma extrema importância.
O combate a pobreza no quadro das estratégias do Governo e os esforços para a consecução
dos objectivos de desenvolvimento do milénio (ODM) são uma valiosa contribuição para a
consecução da perspectiva. A reforma do Sistema Nacional de Saúde é uma premissa
indispensável para assegurar uma adequada prestação de serviço, mediante disponibilidade de
recursos humanos e das tecnologias de saúde, de um sistema de informação operacional, de
uma liderança efectiva e boa governação no quadro de um financiamento sustentável.

Com o princípio da universalidade de cuidados de saúde garante-se o direito aos cuidados de


saúde à toda população independentemente da sua condição socioeconómica, sexo, idade, raça,
religião ou cultura. A qualidade dos serviços e cuidados de saúde é um dos princípios basilares
da PNS e que deverá ser observado por todos em todas intervenções de saúde a todos os níveis
do sistema da saúde.

A responsabilidade individual e colectiva é fundamental para a preservação e promoção da


saúde ao nível individual, familiar e comunitário. A liberdade de escolha dos cuidados de
saúde, será garantida a todos na medida do possível e de acordo com os recursos e tecnologias
de saúde disponíveis.

A regular prestação de contas deve ser um dos princípios basilares na gestão do SNS,
garantindo ao cidadão todas as informações necessárias sobre o seu funcionamento e seu
desempenho. Com o princípio da intersectorialidade, procura-se coordenar as intervenções de
todos os sectores para atingir os objectivos de saúde, sendo determinante o papel do Ministério
da Saúde.

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1.1.9. Objectivos da política nacional de saúde (PNS)

A PNS define objectivos aos níveis de impacto, de intervenção e de resultados discriminados


em objectivos gerais específicos.

Objectivo geral

O objectivo geral da PNS é de estabelecer as orientações estratégicas conducentes à melhoria


do estado de saúde e da qualidade de vida da população que permitirão alcançar a perspectiva
de uma vida saudável para todos.

Objectivos específicos

Reestruturar e desenvolver o SNS, priorizando o acesso de toda a população aos cuidados


primários de saúde; Reduzir a mortalidade materna e infantil bem como a mobilidade e
mortalidade por doenças prioritárias; Promover e preservar um contexto geral e um meio
ambiente propícios à saúde; Capacitar os indivíduos, as famílias e as comunidades para a
promoção e protecção da saúde.

Fonte: RACSAÚDE (Revista Angolana de Ciências da Saúde)

1.2. ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM ANGOLA

O Ministério da Saúde, abreviadamente designado por MINSA, é o órgão da administração


central do Estado que executa, supervisiona e fiscaliza a política nacional de saúde. O MINSA
é dirigido pelo ministro de saúde coadjuvado por um vice-ministro. Neste dependem a Direcção
Nacional, Delegações provinciais de saúde e seus departamentos. Ao nível local (provincial),
temos as secções ou repartições municipais e dependem da Delegação Provincial de Saúde.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

1.2.1. ORGANIGRAMA DA SAÚDE EM ANGOLA (MINISTÉRIO)


MINISTRO

VICE MINISTRO

Órgãos Órgãos de Órgãos de Órgãos de Órgãos


Consultivo Apoio Apoio Execuções Tutelados
Técnico Instrumentral Centrais

Gabinete de Instituto
Gabinete do Direcção
Conselho Estudos, Nacional de
Ministro Nacional de
Consultivo Planeamento e Saúde Pública
Saúde Pública
Estatistica
Gabinete do Instituto de
Conselho de Direcção Combate e Controlo
Inspecção Vice-Ministro
Direcção Nacional de das
Geral de
Recursos Tripanossomíases
Saúde Gabinete de Humanos
Intercâmbio
Internacional Direcção Hospitais de
Gabinete
Nacional de Referência
Jurídico
Medicamentos e
Equipamentos
Secretaria
Geral
DELEGAÇÕES
PROVINCIAIS
Junta Nacional
de Saúde
Direcções
Municipais

1.2.2. DIVISÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

O trabalho em saúde, divide-se em duas áreas fundamentais que são:


a) Área Técnica: Médicos, Enfermeiros, Técnicos de diagnósticos e terapeuta.
b) Área Administrativa: Pessoal Administrativo e Pessoal de Apoio.

1.3. CURSO DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

A Enfermagem é um ramo das ciências da saúde que se ocupa da assistência ao ser humano no
ciclo saúde-doença, em todas as faixas etárias. O enfermeiro é o profissional que ajuda a manter
o equilíbrio do ser humano por meio da promoção, protecção, recuperação da saúde e da

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

reabilitação, mediante a assistência de Enfermagem a pessoas, a famílias e a outros grupos de


comunidades. Dirige o trabalho da assistência de Enfermagem, exerce coordenação
administrativa de determinadas acções de saúde realizadas por outros profissionais nos serviços
de saúde.

1.3.1. OBJECTIVOS DO CURSO:

Formar para actuar em Enfermeiros qualificados em todos os níveis de


complexidade da assistência ao ser humano em sua integralidade, no contexto do sistema de
saúde complementar, numa perspectiva crítico-reflexiva-criativa, compromissados com a
qualidade de vida da população, bem como com sua qualificação permanente e com o
desenvolvimento da profissão

Objectivos Gerais

 Proporcionar aos educandos conhecimentos para que desenvolvam competências


e habilidades técnico-científicas e ético-político-sociais-educativas, de investigação
científica, de comunicação, administração e gerência, capazes de exercer observação,
análise e síntese para desempenho da sua profissão de forma reflexiva, crítica e
criativa, capazes de se apropriar e recriar o conhecimento, comprometidos com
a integralidade, equidade e universalidade da assistência com vistas ao
atendimento do Sistema da saúde complementar e da realidade social;
 Propiciar que a formação contribua para a qualificação permanente dos educandos, com
o desenvolvimento profissional, ainda que evoluam condições de avaliar e tomar
decisões profissionais adequadas às situações e promovam diferentes formas de
interação relacional com outros profissionais de saúde e com o público em geral;
 Possibilitar a formação de um profissional capaz de atuar, acadêmica e
profissionalmente, sob os princípios éticos e na perspectiva da inclusão, com as
responsabilidades que norteiam a intervenção do Enfermeiro.

Objetivos Específicos

 Conhecer a evolução histórica do cuidado e a inserção da Enfermagem quanto às suas


origens e o seu desenvolvimento como profissão, caracterizando as influências
profissionais em determinados momentos históricos, o seu desenvolvimento e suas
tradições;

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

 Actuar na assistência de enfermagem frente aos aspectos da promoção, prevenção e


recuperação da saúde no modelo de saúde da família; discutindo o modelo de saúde da
família, refletindo sobre seus aspectos pedagógicos de organização do serviço de saúde
e do trabalho;
 Desenvolver atitudes e habilidades para realizar os procedimentos básicos de
enfermagem, a partir das necessidades afetadas do cliente, aplicando conhecimento
teórico sobre os instrumentos básicos de enfermagem que alicerçam a prática e
fundamentam o exercício da profissão, aplicando a prática de enfermagem e a
metodologia da assistência, considerando o cliente de forma holística e o cuidado a ser
prestado;
 Identificar a saúde ambiental e a epidemiologia como fundamentação das acções em
saúde, utilizando os indicadores de saúde para descrever o perfil epidemiológico
de uma população e aplicar as acções de vigilância epidemiológica e ambiental;
 Conhecer a Legislação que regulamenta o Exercício da Profissão, bem como o seu
Código de Ética de Enfermagem;
 Actuar nos Programas de Saúde para atenção básica proposta pelo Ministério de Saúde,
orientando e educando para a saúde visando à independência do cliente e da família;
 Actuar na assistência sistematizada ao cliente nos cenários: ambulatorial, hospitalar e
na promoção da saúde, de modo a reconhecer os determinantes do processo saúde-
doença da sociedade angolana;
 Desenvolver visão crítica e postura humanizada em relação à Saúde da Mulher,
Criança, adultos e idoso promovendo o conhecimento e atitudes para uma prática
compromissada com a política de saúde e modelo assistencial nas diversas fases do
universo feminino, assim como os programas de assistência desenvolvidos pelo
Ministério as Saúde (Saúde da Mulher, Gestação, Parto e Puerpério).

Fonte: Universidade Privada de Angola

1.3.2. ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DO TRABALHO EM ENFERMAGEM

A enfermagem está organizada através de uma estrutura da carreira de enfermagem revista e


aprovada por decreto presidencial em novembro de 2010. E de acordo com o regime jurídico
da carreira de enfermagem consideram-se profissionais de enfermagem os indivíduos que

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

tenham concluído um curso de auxiliar, técnico, bacharelato ou licenciatura em


enfermagem, habilitados e autorizados a exercerem a profissão no País.

De acordo com o artigo 4º, a carreira de enfermagem é única e enquadra grupos de profissionais
auxiliar, técnico de enfermagem e técnico superior em enfermagem.

a) O grupo de pessoal técnico superior integra as categorias de Bacharel em


enfermagem (de 3ª, 2ª, e 1ª classe), licenciado em enfermagem (de 3ª, 2ª, e 1ª
classe) e Especialista em enfermagem
b) O grupo de pessoal técnico de enfermagem integra as categorias de Técnicos de
enfermagem (de 3ª, 2ª e 1ª classe) e Técnico de enfermagem especializado.
c) O grupo de pessoal auxiliar compreende as categorias de Auxiliares de
enfermagem de 3ª, 2ª e 1ªclasse.

(Condições de promoção)

O acesso à categoria imediatamente superior faz-se mediante concurso público, obedecendo


aos seguintes requisitos:

a) Ter cinco anos de permanência na categoria inferior;


b) Ter no mínimo 180 horas de formação contínua e avaliação de desempenho no
mínimo de bom, nos últimos três anos.

(Mudança de escalão) ARTIGO 17.º

a) A mudança de escalão dentro da mesma categoria verifica-se após a permanência


de cinco anos no escalão anterior e avaliação do desempenho de no mínimo bom,
nesses anos.
b) A mudança de escalão pode verificar-se após permanência de apenas quatro anos
no escalão anterior, se a avaliação do desempenho nos primeiros dois anos for de
muito bom.

UNIDADE 2 - A ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO

Conceito

Muitos autores consideram a enfermagem como sendo a ciência e arte que promove a saúde
física, mental, social e espiritual de um indivíduo.

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É Ciência porque é necessário apreender os seus princípios para melhor praticá-la. É Arte
porque habilita, promove a habilidade e destreza manual dos conhecimentos científicos
adquiridos.

Ciência e arte são faculdades indispensáveis a todos profissionais, vão contribuir para o justo
significado da enfermagem actual, que envolve muitas leis e princípios, não só os de natureza
física e biológica, mas também, os das ciências sociais e do comportamento.

A enfermagem é uma ciência cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano


individualmente, na família ou em comunidade de modo integral e holístico (num todo
indivisível), desenvolvendo autónomamente ou em equipa, actividades de promoção e
protecção da saúde e prevenção e recuperação de doenças ou de estados de alteração da saúde.
(Andrade, 2008)

2.1. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DAS PROFISSÕES

A profissão é definida como a ocupação, emprego, que requer conhecimentos especiais. Esta
definição torna difícil diferenciar profissões e ofícios; o adjetivo “profissional” ajuda abafar o
amador e o trabalho não especializado. O dicionário filosófico descreve a profissão como a
acção ou efeito de professar, e professar é exercer uma ciência, arte ou oficio.

As profissões clássicas do mundo Greco-romano e mais tarde consolidadas na idade média são:
o sacerdócio, o direito e a medicina, embora todos com um caracter intelectual, a medicina
assumiu-se como ciência moderna pelo que deste modo converte-se num para modelo de
profissão. Isto fez com que vários autores tenham utilizado a medicina como base para realizar
seus estudos sobre as profissões. (Bello, 2006).

Segundo alguns autores, a profissões de saúde surgiram do desenvolvimento e evolução das


práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas foram as
primeiras formas de prestação de assistência. Na fase da evolução da civilização, estas acções
garantiam ao homem a manutenção da vida, estando a sua origem, ligadas ao trabalho feminino,
caracterizado pela prática do cuidar nos grupos nómadas, levando em linha de conta a
espiritualidade de cada um relacionado com a do grupo em que vivia.

A prática de saúde, antes mística e sacerdotal (inicia-se no século V a.C., estendendo-se até aos
primeiros séculos da Era Cristã), passando a ser um produto desta nova fase, baseando-se
essencialmente na experiência, no conhecimento de natureza, no raciocínio lógico que

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

desencadeia uma relação de causa e efeito para as doenças e na especulação filosófica, baseada
na investigação livre e na observação dos fenómenos, limitada entretanto, pela ausência quase
total do conhecimento sobre a anatomia e fisiologia do corpo humano. Essa prática
individualista volta-se para o homem e suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este
período é considerado pela medicina Grega como período hipocrático, destacando-se a figura
de Hipócrates (Hipócrates de Cós- nasceu na antiga Grécia) considerado por muitos estudiosos
como o “pai da medicina” ou o “pai das profissões da saúde”, que propôs uma nova concepção
em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais, através da utilização
do método indutivo, da inspeção e da observação. Não há caracterização nítida da prática de
enfermagem nesta época.

Enfermagem é uma profissão e, como mostraram muitos estudos, a definição de um conjunto


de normas e valores próprios constituiu uma dimensão essencial do processo de
profissionalização. Entendemos, neste contexto, profissão como uma construção social e
histórica, através da qual foram sendo incorporadas, em momentos e com intensidades
diferentes, diversas componentes, de entre as quais podemos destacar um processo de
socialização em determinados valores, sistematizado, por vezes, sob a forma de um código.
Enfermagem é uma profissão que tem uma finalidade moral e ao enfermeiro é exigível que
regule a sua actividade por uma ética profissional. Vejamos que, de acordo com o
enquadramento conceptual, afirmamos que o exercício profissional da enfermagem centra-se
na relação interpessoal de um enfermeiro e uma pessoa ou de um enfermeiro e um grupo de
pessoas (família ou comunidades).

2.2. HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO MUNDO E EM ANGOLA

2.2.1. História e desenvolvimento da Enfermagem

A enfermagem tal como outras ciências, tem acompanhado a evolução do processo, ganhando
uma extensão do seu significado. Embora muito discutido, pode dizer-se mesmo que durante a
sua história, a enfermagem evoluiu em três períodos ou fases fundamentais: Primitiva,
Científica e Moderna.

1ª Fase: Primitiva ou empírica

É um periodo sem enfermagem. Esta fase é subdividida em dois tempos: pré-história e começo
da ciência.

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a) A Pré-história: começa com o homem primitivo, nómada, onde não havia


ciência, muito menos profissionalismo. Neste tempo a doença era
considerada como causada pela influência dos espíritos maus. Marcado por
uma medicina e cuja prática baseava-se no prestígio da magia que se
repousava sobre o mistério. Algumas sociedades recusavam os cuidados de
saúde aos doentes estranhos, as crianças anormais e aos velhos. As práticas
de saúde mágico-sacerdotais, abordavam a relação mística entre a as práticas
religiosas e de saúde primitivas. Este período corresponde fase de empirismo
(em que as coisas eram feitas por tentativas sem nenhum fundamento
científico, logo, tudo era feita com bases na experiência de quem ministrava
os cuidados).
b) O começo da medicina científica: neste tempo, verifica-se as observações
exactas, a maioria das grandes civilizações como o Egípto, Grécia, China,
Índia e outra nações, já prescreviam as medidas de higiene corporal e da
prevenção de doenças embora com muito empirismo.

2ª Fase: Científica (Começo da enfermagem cientifica)

Verifica-se no período entre os séculos X à XVIII. As reformas mais simples da enfermagem


começam por volta do século XI com a introdução pelo Cristianismo (igreja) o conceito de
caridade, o surgimento da primeira ordem de enfermeiras religiosas as Irmãs Augustinianas
(França). Foi no entanto no fim desta fase tão largo da história da enfermagem que se notou a
acção das Irmãs de caridade na Inglaterra, que organizadas, criaram lugares onde acolhiam não
só dontes, órfãos e viúvos (as), mas também peregrinos que se mostrassem mais necessitados.

3ª Fase: Florence Nightingale e enfermagem moderna


Nascida a12 de Maio de 1820, em Florença, na Itália, é filha de ingleses, possuía uma
inteligência incomum, persistência, determinação e perseverança, o que lhe permitia dialogar
com políticos e oficiais do Exército, fazendo prevalecer suas ideias. Dominava com facilidade
o inglês, o francês, o alemão, o italiano, além do grego e do latim.

Aos 17 anos de idade começa a manifestar interesse em dedicar-se ao cuidado dos doentes. Em
1846, ela visitou Kaiserwerth, um hospital pioneiro fundado e dirigido por uma ordem de
freiras católicas na Alemanha, onde foi treinada ficando impressionada pela qualidade do
tratamento médico e pelo comprometimento e práticas das freiras.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

A sua grande missão em 1854, foi quando a Inglaterra, a França e a Turquia declaram guerra à
Rússia (é a Guerra da Crimeia). Nesta época os soldados ingleses achavam-se no maior
abandono. A mortalidade entre os hospitalizados era de 40%. Em outubro de 1854, Florence e
uma equipe de 38 enfermeiras voluntárias entre religiosas e treinadas por ela, inclusive sua tia
Mai Smith, partiram para scutari na Criméia. Florence estende sua actuação desde a
organização do trabalho, até os mais simples serviços como a limpeza do chão. Aos poucos, os
soldados e oficiais começam a curvar-se e a enaltecer esta incomum Miss Nightingale. A
mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela será
imortalizada como Lady With The Light “Dama da Lâmpada” porque, de lanterna na mão,
percorria as enfermarias, atendendo os doentes.

Florence Nightingale voltou para a Inglaterra como heroína em agosto de 1857 e, de acordo
com a BBC, era provavelmente a pessoa mais famosa da Era Vitoriana além da própria Rainha
Vitória. Florence recebe um prémio em dinheiro do governo inglês, em reconhecimento ao seu
trabalho. Ela usa o dinheiro e dá início à Primeira Escola de Enfermagem que não estava
vinculada a uma ordem religiosa, fundada no Hospital São Thomas, em 1859, e que passou a
servir de modelo para as demais escolas que vieram depois. As ambições de Florence ao fundar
essa escola, eram para reformar a enfermagem na sua prática e no mundo inteiro, por meio de
novas e numerosas escolas.

A caracterização da enfermagem como profissão só começou s organizar-se no século XIX


com o treinamento de pessoal de enfermagem para psiquiatria. Porem apareceu estruturada
como profissão com a formação de enfermeiros para a saúde pública, na primeira escola de
enfermagem fundada no hospital de s. Tomás a 9 de Julho de 1860.

Florence Nightingale escreveu também livros e panfletos no esforço de elevar as normas de


cuidados com a saúde. Também contribuiu no campo da Estatística. As suas técnicas de
enfermagem e administração hospitalar espalharam-se por muitos países. Ela é considerada a
pioneira da enfermagem moderna.

Em 1883, a Rainha Vitória concedeu a Florence Nightingale a Cruz Vermelha Real e em 1907
ela se tornou a primeira mulher a receber a Ordem do Mérito. Depois de uma larga vida de
ganhos, Florence não conseguia levantar da cama a partir de 1896 e morre encostada numa
cama em 13 de agosto de 1910.

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Enfermagem Moderna
Um dos percussores da Enfermagem moderna foi São Vicente de Paulo, na sua iniciativa em
prol dos doentes e desamparados. Foi fundador de instituições de caridade, capazes de elevar
a enfermagem a nível jamais alcançado anteriormente e de adaptar-se aos progressos
posteriores da profissão.

O avanço da medicina científica, vem favorecer a reorganização dos hospitais.


É neste cenário que a enfermagem passa a actuar, quando Florence Nightingale convidada pelo
Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na
guerra da Crimeia.

Depois de fundada e primeira escola de enfermagem, Florence estabeleceu 4 ideias filosóficas


consideradas Chaves e pelos quais as escolas deveriam funcionar:

1. O treinamento de enfermeiras deveria ser considerado tão importante quanto


qualquer outra forma de ensino e ser mantido pelo dinheiro público;
2. As escolas de treinamento deveriam ter uma estreita associação com os hospitais,
mas, manter a sua independência financeira e administrativa;
3. As enfermeiras profissionais deveriam ser responsáveis pelo ensino no lugar de
pessoas não envolvidas em enfermagem;
4. As estudantes deveriam, durante o período de treinamento ter residência a
disposição, que lhes oferecesse ambiente confortável e agradável, próximo ao
hospital.

Com estes ideais filosóficos, nasce o sistema de ensino Nightingale em que segundo este
sistema, as escolas de enfermagem conseguiriam sobreviver tendo em conta os seguintes
pontos:

a) A escola de enfermagem deve ser dirigida por uma enfermeira;


b) O ensino tem de ser mais metódico em vez de ocasional;
c) A selecção dos candidatos às escolas deve basear-se no ponto de vista físico, moral,
intelectual e aptidão profissional.

(http://www.bbc.co.uk/history/discovery/medicine/nightingale_01.shtml ).

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

2.2.2. A enfermagem em angola

Com os progressos incessantes na medicina a enfermagem no nosso pais passou de práticas


magicas à cientifica. Os portugueses ao chegar em angola trouxeram os seus técnicos de saúde
e verificavam que havia a necessidade de formarem mais enfermeiros a fim de prestar
assistência a população angolana. Com base nisto os portugueses fundaram a primeira escola
de saúde pública em Luanda, para formação de enfermeiro geral e auxiliar de enfermagem, a
mesma era dirigida por um médico. Naquela altura os médicos eram responsáveis pela
formação de enfermeiros gerais, e estes por sua vez formavam os auxiliares em enfermagem.
Posteriormente foram fundadas as escolas de enfermagem de Nova Lisboa (actualmente
Huambo) e Sá da Bandeira (actualmente Lubango) e a partir daí, foram fundadas outras várias
escolas de enfermagem em diferentes províncias de Angola.

Hoje a enfermagem em angola passou de um enfermeiro de simples guarda dos doentes à um


técnico; de tratamento curativo à uma enfermagem mais preventiva e promocional; de
prevenção individual à prevenção coletiva; de consciência de solidariedade familiar a uma
solidariedade nacional.

2.3. Estrutura da Carreira de Enfermagem

A carreira de enfermagem é única e enquadra grupos de Pessoal Técnico Médico, Técnico e


Técnico Superior e três áreas principais de actuação:

a) A área de prestação de cuidados, integra categorias de Enfermeiro Auxiliar,


Enfermeiro Geral, Enfermeiro Graduado, Enfermeiro Especialista e
Enfermeiro;
b) A área da Administração, íntegra as categorias de Enfermeiro Chefe,
Enfermeiro Supervisor, Enfermeiro Supervisor Principal e ainda a função de
Enfermeiro Director;
c) A área do ensino, íntegra as categorias de Enfermeiro Monitor, Enfermeiro
Professor assistente e Enfermeiro Professor Principal.

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2.4. Enfermeiro Profissional

É todo indivíduo que tendo seguido estudos profissionais de base, médio e superior, está apto
e habilitado a assumir no seu Pais as responsabilidades do conjunto de cuidados de enfermagem
no quadro da equipe responsável pela prevenção da saúde, pela prevenção de doenças e pelos
cuidados dos doentes.

2.4.1. Competências do Enfermeiro

Compete ao Enfermeiro enquanto profissional da saúde:


1. Na vigilância à saúde de indivíduos e pequenos grupos

a) Realizar o atendimento de crianças do grupo etário de 0 à 5 anos para controlo


do crescimento e desenvolvimento, selecionando e executando as condutas
padronizadas pelo programa e recriando os registos previstos;
b) Realizar o atendimento de grávidas e puérperas (fase pois parto) para o controlo
da gestação e do puerpério através da anamnese e do exame físico e obstétrico,
selecionando e executando as condutas padronizadas;
c) Prestar assistência a mulher em seu trabalho de parto normal e ao recém-
nascido;
d) Realizar a consulta a doentes (crianças, adultos e idosos) para tratamento das
doenças correntes, através do controlo dos sinais vitais, da anamnese e exame
físico sumário, seguindo as normas de conduta padronizada de diagnóstico e de
terapêuticas definidas pelos programas de saúde;
e) Administrar medicamentos por via oral e por de injeção, orientando sobre suas
finalidades e os cuidados a serem tomados e efectuando os registos previstos;
f) Prestar assistência de enfermagem a pacientes hospitalizados (com
intercorrências clínicas, cirúrgicas, portadores de doenças transmissíveis,
pacientes em situações de urgência e em outras situações que requeiram
assistência específica).
2. Na vigilância à saúde da colectividade

a) Monitorar a saúde da comunidade por meio de um sistema de informações de


saúde e de controlo do processo saúde-doença dos grupos que a compõem;

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b) Caracterizar nas comunidades as formas de abastecimento de água, de destino


do lixo e dos objectos associados com a ocorrência de doença, indicando
medidas de protecção e controle desses recursos na comunidade;
c) Caracterizar as formas de trabalhar e de viver da comunidade, identificando
nelas os componentes que protegem e agridem a saúde dos moradores;
d) Desenvolver programas de educação à saúde para grupos de acordo com as
necessidades identificadas, desenvolvendo conteúdos e estratégias de acção
pertinente;
e) Operacionalizar o programa alargado de vacinação na comunidade através do
controlo da cadeia de frio (conservação e distribuição de vacinas), cálculo de
cobertura vacinas, triagem e aplicação de vacinas, bem como realizando
orientações pós-vacinais e fazendo registo estatístico;
f) Operacionalizar os demais programas de saúde do MINSA, executando suas
acções e componentes de acordo as normas específicas de cada programa.
3. Na gestão do trabalho de Enfermagem e da saúde de trabalho

a) Alimentar por meio de registos estatísticos um sistema mínimo de informações


epidemiológicas que inclua os dados hospitalares de doenças de notificação
compulsória, a incidência e prevalência de doenças endémicas (ex.: a cólera)
na região e alguns dados de mortalidade de acordo com as recomendações do
programa de vigilância epidemiológicas do MINSA.
b) Gerir a assistência prestada pelos programas de saúde operacionalizados na
unidade de saúde e a assistência de enfermagem prestada na área hospitalar;
c) Gerir a zona básica de saúde/unidade de internação de forma a maximizar a
utilização de recursos humanos, materiais e financeiros;
d) Participar no desenvolvimento do ensino da prática de enfermagem para alunos
de enfermagem do curso de Auxiliar de Enfermagem e de curso de Enfermagem
Geral, de acordo com um plano de ensino elaborado em conjunto com a Escola
Técnica Profissional de Saúde;
e) Participar no desenvolvimento da educação em serviço para os trabalhadores de
Enfermagem de sua unidade de trabalho de acordo com as necessidades
identificadas na supervisão desse e fazer avaliação periódica da prática de
enfermagem desses trabalhadores;

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

f) Realizar com compromisso social a parcela que lhe cabe na totalidade do


trabalho de enfermagem; fundamentar este trabalho num saber em constante
atualização, na periodização de valores humanitários e num compromisso ético-
profissional com a saúde dos indivíduos;
g) Registar-se no órgão fiscalizador da profissão e vincular-se formal ou
formalmente aos órgãos de defesa da profissão.

CAPÍTULO 3 – ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

3.1. Ética

A ética constitui um tema que sempre esteve presente nas diferentes sociedades, culturas e
religiões desde a antiguidade. Atualmente tem sido um assunto muito discutido em diversas
actividades humanas, tornou-se um assunto corrente nos meios de comunicação, na vida
política, privada e pública, no convívio social, nas relações humanas, na formação acadêmica
e no exercício das profissões sobretudo naquelas que tem como objeto o próprio ser humano.

O estudo da ética tornou-se significativamente importante para os profissionais de saúde; as


mais urgentes questões morais da nossa era estão sendo levantadas nos sectores de cuidados de
saúde, pois é neles que as pessoas se vêm cara a cara com as reais escolhas da saúde, vida e
morte. A ética é o estudo da boa conduta, do bom carácter e das boas razões e está preocupada
em determinar o que é bom ou valioso para todas as pessoas. O homem vive em sociedade,
convive com outros homens e portanto, cabe-lhe pensar e responder a seguinte pergunta.
“Como devo agir perante os outros”? Trata-se de Uma questão fácil de ser formulada, mas
difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da ética. O enfermeiro ético, age e trata
os outros segundo maneiras especificam que estão de acordo com as normas de enfermagem e
é orientado por muito mais aspectos do que simplesmente por preferências ou valores pessoais.

3.1.1. Origem e Significado da Ética

Aristóteles (384-322 a.C.), é considerado como o sistematizador da Filosofia da Antiguidade


Grega. Na sua sistematização, tratou a ética como disciplina filosófica autónoma, distinguindo-
a das disciplinas da Filosofia Teórica (Metafisica, Logica, Matemática, Física) e integrando-a
nas disciplinas da Filosofia Pratica (Ética, Economia, Politica).

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

Para Aristóteles, a Filosofia Teórica trata do ser enquanto tal, enquanto a Filosofia Pratica trata
da acção humana e do seu resultado. Esta distinção encontra-se documentada em suas obras
sobre ética: a Ética a Eudemo (Ética eudemonista, também chamada por Grande Ética) e a
Ética a Nicómaco (ética nicomática).

A palavra “etica” deriva originariamente do grego ethos, cujo significado se desdobra em dois
sentidos, com respectivas grafias. Por um lado, significa habito, costume, uso (éthos): entendia-
se que quem através da educação se habituasse a orientar a sua conduta ao que era tomado
como habitual, ao que era valido na antiga Cidade-Estado
(Polis), agia moralmente bem, na medida em que observava as normas do reconhecido códex
moral geral.
Por outro lado, e no sentido restrito, entendia-se que agia segundo os preceitos morais aquele
que na sua conduta observasse as regras de acção não de uma maneira inquestionável, isto e,
dogmática, mas que se tivesse habituado, pelo seu conhecimento e pela sua reflexão, a praticar
o bem exigido (êthos). Este êthos significou, então, carácter, atitude básica da virtude, ou seja,
conduta ou acção resultante da interioridade do próprio agente.
A partir daqui a palavra ética sublinhou o significado da reflexão das regras morais. Ela e
entendida como teoria da acção moral, ou seja, a reflexão filosófica da moral, pois, analisa e
critica os fundamentos e os princípios que regem um determinado sistema moral. A Ética e,
portanto, filosofia da moral. Com efeito, quando Aristóteles apresentou, por exemplo, o
problema filosófico do bem, a sua pretensão não era determinar o que cada indivíduo devia
fazer numa determinada acção concreta para que o seu acto fosse considerado bom ou mau,
mas sim investigar o conteúdo do conceito, a sua essência. Evidentemente, esta investigação
teórica tem sempre implicações praticas, pois quando se define o bem está-se apenas a indicar
um entre vários critérios através dos quais os homens podem conduzir as suas diversas acções
em situações particulares.

3.1.2. Relação entre a Ética e Moral

Os dois termos parecem ser idênticos quanto ao conteúdo original, porém com a evolução
semânticas das palavras ao longo do tempo, formam adquirindo significados e compreensões
diferentes. Nos dias de hoje, já é possível distinguir a ética da moral.

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Quanto a origem da ética, é o que foi dito no ponto anterior. Relativamente a moral entende-se
que a palavra latina mos (plural = mores, genitivo = moris) é uma tradução de ambos os
conceitos gregos de ethos, significando tanto costume como carácter. De mos deriva a palavra
moral.
Pela evolução semântica das palavras moral e ética, a moral compreende hoje mais o que se
tem considerado por habito ou costume, ou seja, o conjunto de normas ou regras adquiridas
por habito, por costume, enquanto a ética, em seu significado, aproxima-se mais ao que se
tem entendido por carácter, ou seja, a qualidade de uma acção que se pretende de um
carácter incondicional – o bem.
Portanto, a moral e entendida como o conjunto das práticas cristalizadas pelos costumes e
convenções histórico-sociais. Na essência, a moral é o conjunto daqueles valores e normas
estabelecidos como obrigatórios e apelam na forma de ordens (tu deves...), ou de interdições
(tu não deves...), ou de consentimentos (tu podes...).
Logo, podemos definir a moral como sendo o conjunto de princípios, valores e normas que
regulam a conduta humana nas suas relações na sociedade e com indivíduos da sua classe.
Já a ética enquanto disciplina, refere-se a reflexão crítica sobre o comportamento humano,
reflexão esta que interpreta, discute, investiga os valores, princípios e comportamentos morais.
Portanto, a ética e a moral relacionam-se como ciência e objecto. Sendo a ética neste caso a
ciência e moral objecto da ética.

3.1.3. Relação Ética e Normas Jurídicas

As relações de convívio social, além da ética, fazem-se também através das normas jurídicas,
isto é, leis e regulamentos que apesar de tratarem de matérias de ética, possuem um campo de
actuação muito mais amplo. As normas éticas (não possuem carácter sancionatório) requerem
adesão íntima do indivíduo, convicção pessoal, livre consciência e seus interesses com os da
colectividade. Enquanto que as normas jurídicas são impostas ao indivíduo, isto é, são de
carácter obrigatório. A lei é dada para todos cumprirem enquanto que a ética é exclusiva
somente a um grupo profissional.

Existem situações em saúde, que são resolvidas tendo em conta os princípios éticos, visto que
a lei não traz certas respostas para tal. Isto acontece com a tomada de decisões ética

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relativamente a escolha de quem deve ter prioridade no atendimento de doentes. Vejamos o


seguinte exemplo em que todos os pacientes aparecem graves:

Primeiro indivíduo de 55 anos de idade com crise de AVC (em estado crítico);
segundo um (a) adolescente de 16 anos de idade esfaqueado por duas vezes na
região abdominal; o terceiro um indivíduo de 81 anos de idade com problemas
cardiorrespiratório. Neste caso, depois de feita uma avaliação, conclui-se que
as condições vitais cardiocirculatórias e respiratórias dos três é grave e, há
necessidade de fazer respiração artificial aos três. Porém o hospital tem apenas
um aparelho.

Para este caso, a lei obriga que em caso de gravidade e iminente perigo de vida
que as pessoas sejam atendidas. A questão que se levanta é seguinte: a quem
deve ser dada a prioridade no atendimento entres pacientes?

Nota-se que as normas jurídicas não nos apresentam uma resposta para esta
pergunta, mas a ética nos apresenta uma solução, isto é, fazendo um balanço
RISCO versus BENEFÍCIO

3.1.4. Ética Profissional

A definição de ética profissional refere-se aos fundamentos que norteiam a conduta dos
trabalhadores e profissionais de qualquer área. Eles fornecem orientações sobre como lidar com
outras pessoas e instituições, incluindo o local onde trabalha.

Todos os membros de uma determinada equipe devem seguir os mesmos princípios de ética
profissional, mesmo que todos tenham seus próprios valores. No entanto, existem princípios e
atitudes universais que se aplicam a todas as profissões:

Responsabilidade

Assuma a responsabilidade de saber gerar seu próprio trabalho e cumprir os prazos estabelecidos.
Normalmente, para que a equipe funcione bem, todos precisam concluir seu trabalho no prazo.

Disciplina

Se houver disciplina, será possível cumprir todas as tarefas que se propôs a fazer em muito menos
tempo, sem atrapalhar o trabalho de ninguém e manter as suas demandas em ordem.

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Honestidade

No trabalho, a honestidade é vista como o valor básico para construir uma carreira de sucesso. É por
isso que é importante ser honesto com colegas e utentes, relatar quaisquer problemas e admitir erros
quando necessário.

Trabalho em equipe

O trabalho em equipe é um dos factores de sucesso organizacional, pois a acção colectiva pode melhorar
o desempenho dos funcionários e ajudar a construir um legado colaborativo. O importante é melhorar
a convivência dos colegas e utentes, e, manter uma comunicação eficaz.

3.1.5. Importância da ética profissional

Ética é indispensável ao exercício de qualquer profissão pelas seguintes razões fundamentais:

a) Primeira, porque, além da responsabilidade individual, que caracteriza todo ser


humano, ao inserir-se num grupo de trabalho assume o compromisso social;
b) Segunda, porque os conhecimentos técnico-científicos, por si só, não bastariam ao
profissional, uma vez que a capacitação técnico-científica, sem a formação ética
adequada, poderá levar o profissional ao que se denomina tecnicismo.
c) E terceira, a ética se torna indispensável ao profissional porque, na acção humana, “o
fazer” e o “agir” são indissociáveis. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que
todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à
conduta do profissional, conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua
profissão.
d) A ética no ambiente profissional ajuda a garantir o bom andamento das actividades e é
propícia à criação de um clima organizacional saudável e harmonioso. Desta forma,
estabelece-se mais confiança entre os colaboradores, o que contribui para aumentar a
produtividade.

No campo das Ciências da Saúde, em particular, essa importância aumenta porque é um campo
de actividade que lida, diariamente, com os dois maiores bens jurídicos protegidos – a vida e
a saúde humana.

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3.2. Deontologia: Origem e Conceito


Foi Jeremy Bentham que usou, pela primeira vez, a palavra «deontologia», no título de um
tratado de moral publicado postumamente em 1834: Deontology or the scíence of morality
(Deontologia ou ciência da moral). Etimologicamente, é o discurso ou tratado acerca daquilo
que se deve fazer.

Deriva do grego “deon” ou “deontos” (dever) e “logos” ou “logia” (tratado ou ciência), isto
é, a ciência dos deveres. No âmbito de cada profissão, consequentemente deontologia médica
é a ciência que cuida dos deveres e dos direitos dos operadores de saúde, bem como de seus
fundamentos éticos e legais.

Assim, a deontologia toma como objecto do seu discurso o "a-fazer", aquilo que, por dever, se
nos impõe como tarefa indeclinável, quer enquanto projecto, quer enquanto realização
concreta.

Em formato simples, a deontologia é o estudo ou tratado dos deveres, próprios de uma


determinada situação social, no nosso caso, profissional. Compreensivelmente, pressupõe uma
teoria geral da acção humana, isto é, uma ética geral e uma teoria especial de acordo com a(s)
tarefa(s) humana(s) em questão. Associando as duas ideias, podemos seguir a concepção de
que a Deontologia Profissional seja «o conjunto de normas jurídicas, cuja maioria tem
conteúdo ético e que regulam o exercício de uma profissão».

Enfermagem é uma profissão que tem uma finalidade moral e ao enfermeiro é exigível que
regule a sua actividade por uma ética profissional. Vejamos que, de acordo com o
enquadramento conceptual, afirmamos que o “exercício profissional da enfermagem centra-se
na relação interpessoal de um enfermeiro e uma pessoa ou de um enfermeiro e um grupo de
pessoas (família ou comunidades).”

Partindo da premissa que quer o enfermeiro, quer as pessoas clientes dos cuidados de
enfermagem, possuem quadros de valores, crenças e desejos, decorre que o enfermeiro se
distingue pela formação e experiência – e, de modo central para o que aqui nos interessa – por
respeitar os outros numa perspectiva multicultural. Assim, evidencia-se o princípio humanista
de respeito integral pelas pessoas. Afirmamos neste sentido que a relação terapêutica

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promovida no âmbito do exercício profissional de enfermagem caracteriza-se pela parceria


estabelecida com o cliente, no respeito pelas suas capacidades e na valorização do seu papel.

3.2.1. Deontologia Profissional

Falar de deontologia profissional e, pois, falar do conjunto de deveres, princípios e normas


adoptados por grupos profissionais, ou seja, de grupos que exercem uma determinada profissão.
Portanto, a deontologia profissional diz respeito a todas as profissões e refere-se ao caracter
normativo e, até, jurídico que regulamenta as profissões.

Precisamente porque a deontologia profissional faz convergir nas profissões aspectos de


relevância humana que ultrapassam o campo do dever profissional em si, ela e também
chamada por ética profissional. Efectivamente, questões como dignidade humana, direitos
humanos, gênero, HIV/SIDA, assédio sexual, corrupção, etc, apresentam problemas humanos
e deixam constatar, por isso, o forte conteúdo ético presente no exercício profissional. A
deontologia profissional e chamada por ética profissional também pelo facto de constituir uma
das grandes divisões da ética.

A profissão implica um conjunto de relações de necessidade e de utilidade entre todas as partes


envolvidas no trabalho, desde os indivíduos que estão diretamente ligados a ele (colegas,
superiores hierárquicos, subordinados) até aos grupos maiores ou menores em que se verifica
essa relação (clientes, comunidade, sociedade, Estado).

De acordo com António Lopes Sá:


“Quem pratica a profissão dela se beneficia, assim como o utente dos serviços também
desfruta de tal utilidade. Isto não significa, entretanto, que tudo o que é útil entre duas partes
o seja para terceiros e para a sociedade.

(...)
O conceito profissional é a evidência, perante terceiros, das capacidades e virtudes de
um ser no exercício de um trabalho habitual de qualidade superior.”(2007: 152)

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3.2.2. Deveres profissionais vs Virtudes

Deveres:
António Sá (2007: 162) considera que devemos entender por deveres profissionais “as
capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão”. E necessário,
nesta matéria, entender que o propósito do exercício de uma profissão e a prestação de serviços
a terceiros. Deste modo, torna-se uma obrigação do profissional face ao seu oficio empregar
todas essas capacidades necessárias, exigíveis e aplicáveis ao cumprimento das tarefas afins,
para o contentamento da(s) pessoa(s) ou do(s) serviço(s) que a tenha(m) solicitado, uma vez
plenamente satisfeitas as suas necessidades.

Contudo, os deveres profissionais não vem do nada. Eles começam com a escolha da profissão,
daí que se tenha de consultar a consciência pessoal se a profissão escolhida é realmente a
desejada, se corresponde com o que agrada ao candidato e se ele tem uma inclinação para tal.
A escolha de uma profissão pressupõe ter um conhecimento das tarefas dessa profissão; a ideia
das tarefas da profissão escolhida exige uma noção dos deveres que lhe são afins; esta, por sua
vez, e em junção com as outras duas, implica o dever de executar devidamente as tarefas, pelo
seu domínio, respeitando e observando ou cumprindo os deveres.

Depreende-se daqui que a escolha da profissão deve coincidir com a vocação do pretendente. E nos
casos em que não houve escolha da profissão e esta não coincide com a vocação da pessoa, que se
deve fazer? Não há outra escolha senão, uma vez exercendo-se a profissão, respeitarem-se e
observarem-se os deveres, cumprindo-os.

O respeito e a observância ou o cumprimento dos deveres relativos a profissão não deve ser
pelo mero medo de alguma sanção, no caso de alguma infracção de algum deles ou má
qualidade do trabalho realizado, ou pelo mero receio de represálias do cliente pela má
prestação, mas pela livre vontade e pela consciência pessoal da necessidade de apresentar
qualidade do produto solicitado. Isto implica uma aplicação pessoal responsável do
profissional. Aqui, também, começa a virtude, uma vez que, aumentado o nível moral do
indivíduo, a profissão também exige deste uma acção baseada em valores. Assim sendo, o
sucesso de quem exerce a profissão passa a decorrer tão naturalmente, pela eficácia proveniente
da exuberância ética.

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Virtudes:

Com relação a este assunto, António Sá (2007: 168-169) apresenta 96 virtudes que se exigem
de um profissional, “como valores necessários e compatíveis à prática de cada utilidade
requerida pelo utente dos serviços profissionais”.
Nº Virtude Nº Virtude
01 Abnegação 49 Obediência
02 Afabilidade 50 Objectividade
03 Altruísmo 51 Optimismo
04 Aptidão 52 Parcimônia
05 Atenção 53 Percepção
06 Atitude 54 Perfeccionismo
07 Autenticidade 55 Perseverança
08 Benevolência 56 Personalidade
09 Carácter 57 Perspicácia
10 Cautela 58 Persuasão
11 Coerência 59 Pontualidade
12 Concentração 60 Pragmatismo
13 Compreensão 61 Precisão
14 Coragem 62 Pré-percepção ou Presunção
15 Criatividade 63 Probidade
16 Decisão 64 Projecção
17 Decoro 65 Prudência
18 detalhamento 66 Racionalismo

19 Determinação 67 Realismo
20 Dignidade 68 Reciprocidade
21 Diligência 69 Reflexão
22 Diplomacia 70 Religiosidade
23 Disciplina 71 Retórica
24 Discrição 72 Rigor
25 Eficácia 73 Sacrifício
26 Eficiência 74 Sagacidade

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27 Eloquência 75 Sensibilidade
28 Empenho 76 Sensualidade
29 Energia 77 Sentimentalidade
30 Entusiasmo 78 Sutilidade
31 Espontaneidade 79 Serenidade
32 Estilo 80 Seriedade
33 Estratégia 81 Sigilo
34 Eupraxia 82 Simplicidade
35 Fidelidade 83 Sinceridade
36 Firmeza 84 Sinergia
37 Gosto 85 Sofisticação
38 Gratidão 86 Solidariedade
39 Honestidade 87 Temperança
40 Idealismo 88 Tolerância
41 Improvisação 89 Tradição
42 Lealdade 90 Utilitarismo
43 Liberalidade 91 Veracidade
44 Loquacidade 92 Versatilidade
45 Magnanimidade 93 Vitalidade
46 Moderação 94 Vivacidade
47 Nacionalismo 95 Voluntariedade
48 Naturalismo 96 Zelo

Naturalmente, para além de todas estas virtudes carecerem de uma explicação, muitas delas
podem, porém, eventualmente, ser tomadas quase como sinónimas, o que pode dificultar a
análise e a compreensão. Mas estas dificuldades podem ser superadas através de dicionários e
enciclopédias de filosofia e/ou outros dicionário e enciclopédias.

Contudo, António Sá desenvolve aquelas virtudes que considera básicas, por serem aquelas
indispensáveis, pois nem todas as virtudes são exigíveis para todas as profissões. As virtudes
básicas são aquelas sem as quais não é possível um desempenho ético competente,
independentemente do trabalho ou serviço prestado.

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Apresenta-se em seguida as virtudes que consideramos igualmente básicas:

Competência

Tem a ver com a capacidade de exercer o conhecimento profissional de forma adequada e


persistente, de modos a apresentar um produto de qualidade reconhecida.

Implica conhecer bem e realizar bem as tarefas profissionais.

Coragem

É a capacidade de enfrentar a tarefa, os perigos e as consequências a elas adjacentes e a


defender com razão a verdade e a justiça, sobretudo quando estas são do interesse de outrem
ou do bem público ou institucional.

Honestidade

Tem a ver com o respeito pelos bens alheios e pela confiança depositada no profissional, tanto
pelos empregadores, sejam privados ou públicos, como pelos clientes, pelos colegas, pela
classe profissional, pela sociedade e pelo Estado em geral. Ela implica uma responsabilidade
assumida para com o bem de terceiros e com a manutenção dos seus direitos.

Humildade

Implica a admissão de que não se é dono da verdade e tratar a todos como seus iguais. Ela
não significa, porém, subserviência.
Imparcialidade
Significa assumir uma posição justa, sem favoritismos ou proteccionismos com base no
“conhecimento” que se tem das pessoas, dos casos ou das instituições, ou com base na troca de
benefícios recíprocos.

Lealdade

É um dos principais elementos da empregabilidade. Ela não significa obediência cega, mas o
juízo crítico das tarefas que se atribuem, com vista a uma execução responsável das mesmas.
Esta atitude já implica a capacidade de fazer críticas construtivas, mas mantendo-as no âmbito
da instituição ou organização.

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Prudência

Significa ponderação de cada decisão e de cada acção, com vista a garantir segurança pessoal
e institucional ou empresarial na execução das tarefas. Significa, portanto, cautela ou
circunspecção na realização das tarefas, de modos a permitir prever e evitar falhas ou perigos.

Sigilo

Tem a ver com o respeito dos segredos das pessoas (clientes, etc.), dos negócios e das
instituições ou empresas. Uma informação sigilosa é aquela que é confiada ao profissional,
cabendo a este preservá-la em silêncio.

Zelo

Tem a ver com a diligência ou cuidado no exercício de funções ou execução de tarefas, isto é,
com o que se faz. Ele pressupõe uma responsabilidade individual baseada narelação entre o
profissional e o objecto de seu trabalho.

3.3. Código de Ética e Deontologia Profissional


O que é um Código de Conduto?

É um acordo explícito entre os membro de um determinado grupo social (um profissão, uma
associação, etc.) e visa explicar as normas de condutas pelas quais devem ser observados de
forma rigorosa com o objectivo de orientar as acções dos profissionais de uma área específica.

A seguir, apresentamos algumas características de um código de conduta:

 Define comportamentos a adoptar;


 Explica claramente as condutas a evitar;
 Reflecte e define os princípios éticos adoptar;
 Facilita a tomada de decisões por parte dos membros do grupo.

LEGISLAÇÃO:

ORDEM DOS ENFERMEIROS DE ANGOLA


_________
Deliberação n.0 12/16 de 11 de Outubro

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Urgindo a necessidade de se publicar em Diário República o Código de Ética e Deontologia


dos Profissionais de Angola, nos termos alínea b) do n.º 2 do artigo 8.º do Decreto
Presidencial n.º 179/10, de 18 de Agosto, esta Direcção Executiva Nacional delibera:
Autorizar a publicação em Diário da República do Código de Ética e Deontologia dos
Profissionais de Enfermagem de Angola.
Visto e Aprovado pela Direcção Executiva Nacional, em Luanda, aos 29 de Junho de
2016
Publique-se
O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros de Angola, Paulo Luvualo.

CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA


DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE ANGOLA

Assembleia Geral

Com vista a se dar maior precisão ao Código de ética e Deontologia dos Profissionais
de Enfermagem de Angola, uma vez que algumas das normas nele contidas estão desprovidas
da previsão legal, que é uma das estruturas essenciais da norma jurídica, o que o torna de
difícil aplicação e visto que nenhuma das suas normas tem uma epígrafe que torna fácil o seu
manuseio e entendimento, para dar maior disciplina à actividade exercida pelos profissionais
de enfermagem em Angola, e dignificar mais a profissão e os utentes destes serviços.

Nestes temos, a Assembleia Geral da Ordem dos Enfermeiros de Angola, usando das
faculdades que lhe são conferidas pela alínea e) do artigo 19.º do Decreto Presidencial n.0
179/10, de 18 de Agosto, aprova o seguinte:
Código de Ética e Deontologia dos Profissionais da Ordem dos Enfermeiros de Angola.

Preâmbulo

Há uma relação recíproca entre a profissão de enfermagem e a sociedade, os profissionais de


enfermagem proporcionam o atendimento contínuo a todos os seres Humanos,
independentemente da sua doença ou posição social, e a sociedade espera da profissão que os
seus membros hajam de modo responsável e de acordo com um Código de Ética Profissional
que contém os direitos, os deveres e as incompatibilidades do exercício da profissão.

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O profissional de enfermagem deve ter em conta que as suas invenções são realizadas com a
sua preocupação da defesa da liberdade e da igualdade da pessoa humana e do profissional.
Um dos principais objectivos da enfermagem é promover a saúde visando o alcance da melhor
qualidade de vida da população. Esta perspectiva coloca o paciente/utente no centro da atenção
da profissão, preservando a integridade física e autoestima da pessoa. Esta relação deve
desenvolver-se através de atitudes de respeito, honestidade, lealdade, coragem e de verdadeira
consciência perante o paciente. Este instrumento é uma excelente estrutura básica, cujo uso
auxilia os enfermeiros na tomada de decisões éticas. O Código de Ética expressa princípios
universais e as virtudes do comportamento profissional. A trajectória de informação,
coordenada pela Ordem dos Enfermeiros de Angola, incluiu consulta aos profissionais de
enfermagem e discussões até a elaboração do presente Código, que passa denominar-se Código
de Ética e Deontologia dos Profissionais de Enfermagem de Angola. O mesmo reúne normas
e princípios, direitos e deveres, pertinentes a consulta ética profissional, que deverá ser
assumido por todos. Este Código leva em consideração, prioritariamente, a necessidade de
assistência de enfermagem da população, os interesses do profissional e da sua formação. Está
centrado nos utentes e pressupõe que agentes de Trabalho da Enfermagem estejam aliados aos
usuários na luta por uma assistência de qualidade sem risco e acessível a toda a população. O
presente Código teve como referência os postulados da declaração universal dos direitos do
homem, promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e a adoptada pela
convenção de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho
Internacional de Enfermeiros (1953).

CAPÍTULO 1
Dos Princípios Fundamentais

ARTIGO 1.º
(Princípio do compromisso)
A Enfermagem é uma Profissão comprometida com a saúde do ser Humano e da
colectividade. Actua na promoção, protecção, recuperação da saúde e reabilitação das
pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais.

ARTIGO 2.º
(Princípio da participação)
O Profissional de Enfermagem como integrante da sociedade, participa das acções que
visem as necessidades de saúde da população.

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ARTIGO 3.º
(Princípio do respeito da pessoa humana)

O Profissional de Enfermagem a vida, a dignidade e os direitos da pessoa Humana, em


todo o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza.

ARTIGO 4.º
(Princípio da responsabilidade)

O Profissional de Enfermagem exerce as actividades com justiça competência,


responsabilidade e honestidade.
ARTIGO 5.º
(Princípio da assistência)
O Profissional de Enfermagem presta assistência à saúde visando a promoção do ser
humano como um todo.
ARTIGO 6.º
(Princípio da autonomia)
O de Enfermagem exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da
Enfermagem.

CAPÍTULO II
Dos direitos

ARTIGO 7.º
(Direitos dos profissionais de Enfermagem)
Os profissionais e enfermagem no exercício da sua profissão têm os seguintes direitos:
a) Recusar-se a executar actividades que não sejam de sua competência legal;
b) Ser informado sobre o diagnóstico provisório ou definitivo de todos pacientes que
estejam sob sua assistência;
c) Recorrer ao Conselho Provincial de Enfermagem, quando impedido de cumprir o
presente Código de Ética e Deontologia dos Profissionais de Enfermagem;
d) Participar de movimentos reivindicativos por melhores condições de assistência, de
trabalho e remunerações;
e) Suspender as suas actividades, individual ou colectivamente, quando a Instituição
pública ou privada para qual trabalha não oferecer condições mínimas para o exercício
profissional, ressalvadas as situações de urgências, devendo comunicar imediatamente
a sua Ordem dos Enfermeiros;
f) Receber salários ou honorários pelo seu trabalho que deverá corresponder, no mínimo,
ao fixado por legislação específica;
g) Associar-se, exercer cargo e participar das actividades das identidades da classe;
h) Actualizar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais;

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i) Apoiar as iniciativas que visem o aprimoramento profissional, culturas e defesas dos


legítimos interesses da classe.

CAPÍTULO III
Das Responsabilidades

ARTIGO 8.º
(Das responsabilidades dos profissionais de enfermagem)
São responsabilidades dos profissionais de no exercício das suas funções as seguintes:
a) Assegurar ao paciente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de
imperícia negligência ou imprudência;
b) Garantir ao paciente sob sua responsabilidade a continuidade da assistência médica
no caso de suspender a sua actividade nos termos da alínea e) do artigo anterior,
c) Avaliar criteriosamente a sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos
ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para os pacientes;
d) Manter-se actualizado ampliando os seus conhecimentos técnicos, científicos e
culturais, em benefício do paciente, colectividade e do desenvolvimento profissional;
e) Promover e/ou facilitar o aperfeiçoamento técnico, cientifico e cultural do pessoal
sob sua orientação ou supervisão;
f) Responsabilizar-se por falta cometida em suas actividades profissionais,
independentemente de ter sido praticada individualmente ou em equipa.

CAPÍTULO IV
Dos Deveres

ARTIGO 9.º
(Deveres dos profissionais de Enfermagem)

São deveres dos profissionais de enfermagem no exercício da Sua profissão os seguintes:


a) Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos 'da profissão;
b) Exercer a enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade;
c) Prestar assistência de enfermagem aos doentes, família ou comunidade, sem
discriminação de qualquer natureza aplicando sempre as medidas de biossegurança;
d) Prestar assistência de enfermagem livre de riscos decorrentes de imperícia,
negligência e imprudência;
e) Garantir a continuidade da assistência de enfermagem;
f) Prestar adequadas informações aos pacientes e família a respeito da assistência de
enfermagem, possíveis benefícios, riscos e consequências que possam ocorrer;
g) Respeitar o direito do cliente decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem-estar;

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h) Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do paciente;


i) Manter segredo sobre facto sigiloso de que tenha conhecimento em razão da sua
actividade profissional, excepto nos casos previstos na lei;
j) Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento do paciente, família ou seu
responsável sobre o seu estado de saúde e tratamento, possíveis benefícios, riscos e
consequências que possam ocorrer,
k) Colaborar com a equipe de saúde na orientação do paciente ou responsável, sobre os
riscos dos exames ou de outros procedimentos aos quais se submeterá;
l) Respeitar o ser humano desde a concepção até a morte e assegurar as condições para
que tenha uma morte digna;
m) Proteger o paciente contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou
imprudência por parte de qualquer membro da equipe de saúde, alertando os colegas,
os dirigentes e o paciente,
n) Colocar seus serviços profissionais à disposição da comunidade em casos de
emergência, epidemia e catástrofe, sem vantagens pessoais;
o) Solicitar do paciente ou do seu representante legal, de preferência por escrito, para
realizar ou participar de pesquisa ou actividade de ensino em mediante apresentação
da completa dos objectivos, riscos e benefícios, da garantia do anonimato e sigilo, do
respeito da privacidade e intimidade e a sua liberdade de participar ou recusar a sua
participação no momento que desejar;
p) Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e a integridade da pessoa
humana;
q) Ser honesto no relatório dos resultados da pesquisa;
r) Tratar os colegas e profissionais com respeito e consideração;
s) Alertar o profissional quando diante da falta cometida por imperícia, imprudência ou
negligência;
t) Comunicar ao Conselho Provincial de Enfermagem, que infrinjam preceitos do
presente Código de Ética e Deontologia dos Profissionais de Enfermagem de Angola;
u) Comunicar ao Conselho Provincial de Enfermagem factos que envolvam recusas ou
demissão de cargo, função ou emprego motivada pela necessidade do profissional em
preservar os Postulados Éticos e legais da profissão.

CAPÍTULO V
Das Proibições

ARTIGO 10.º
(Práticas proibidas aos profissionais de enfermagem)

Aos profissionais de enfermagem são proibidas as seguintes práticas:

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a) Negar assistência de enfermagem em caso de urgência, emergência ou calamidades;


b) Abandonar o paciente no meio do rearamento sem garantia de continuidade de assistência,
salvo em de absoluta força maior;
c) Participar de tratamento sem consentimento do cliente ou representante legal, excepto em
iminente risco e vida;
d) Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação, excepto nos
casos previsto pela lei, em que o profissional deverá decidir de acordo com a sua
consciência sobre a sua participação ou não no acto abortivo;
e) Promover a eutanásia ou cooperar em prática destinada a antecipar a morte do paciente;
f) Administrar medicamento sem cerificar-se da natureza da droga que compõe e da
existência de risco pata o paciente;
g) Prescrever medicamentos ou praticar acto cirúrgico, excepto os previstos na legislação
vigente em Caso de emergência;
h) Executar a Assistência de Enfermagem sem o consentimento do paciente ou seu
representante legal, excepto em iminente risco de vida;
i) Executar prescrições terapêuticas quando contrária segurança do paciente;
j) Prestar ao paciente serviço que por sua natureza incumbem a outro profissional, excepto
em caso de emergência;
k) Provocar, cooperar ou ser conivente com maus-tratos aos pacientes;
l) Realizar ou participar de pesquisa ou actividade de ensino, em que o direito inalienável do
homem seja desrespeitado ou acarrete perigo de vida ou dano à sua saúde.
m) Publicar trabalhos com que identifiquem o paciente, sem a sua autorização;
n) Publicar, em seu nome, trabalho científico do qual não tenha participado ou omitir em
publicações, nome de colaboradores elou orientadores;
o) Utilizar sem referência ao autor ou sem autorização expressa, dados, informações, ou
opiniões ainda não publicadas;
p) Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa humana;
q) Determinar a execução de actos contrários ao Código de Ética e Deontologia dos
Profissionais de enfermagem de Angola, e demais legislações que o Exercício da
Enfermagem;
r) Trabalhar e/ou colaborar com pessoas físicas e/ou jurídicas que desrespeitem princípios
Éticos de Enfermagem;
s) Acumpliciar-se com pessoas ou instituições que exerçam ilegalmente actividade de
enfermagem;
t) Interferir aproveitar-se do função ou emprego ocupado por colegas, utilizando-se de
concorrência desleal;
u) Aceitar sem anuência do Conselho Provincial de Enfermagem cargo, função ou emprego
vago em decorrência do previsto na alínea u) do artigo 9.º;
v) Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal do hospital, de saúde, unidade sanitária,
clinica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congénere sem nele
exercer as funções de Enfermagem pressuposta;
w) Assinar as acções de enfermagem que não executou, bem como permitir que o outro
profissional assine as que executou;

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x) Receber vantagens de instituição, empresa ou de paciente, além do que lhe é devido, Como
forma de garantia de Assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer
natureza para si ou para outrem;
y) Colaborar directa ou indirectamente, com os outros profissionais de saúde, no
incumprimento da legislação do referente aos transplantes de órgão, tecidos, esterilização
ou fecundação artificial;
z) Usar de qualquer mecanismo da profissão e/ou suborno com pessoas físicas e/ou jurídicas
para conseguir qualquer tipo de vantagem;
aa) Utilizar de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para impor
ordens, inferiorizar as pessoas e/ou dificultar o Exercício Profissional;
bb) Ser conivente com o crime, contravenção penal ou acto praticado por membro da
Equipe de Trabalho, que infrinja o postulado ético-profissional;
cc) Denegrir a imagem do colega e/o outro membro da equipe de saúde, entidade de classe
dou de Instituição onde trabalha

§ Único; — A do Profissional de Enfermagem, pesquisas experimentais, deve precedido de


consentimento do paciente ou seu representante legal.

CAPÍTULO VI
Dos Deveres Disciplinares
ARTIGO 11.º
(Deveres disciplinares dos profissionais de enfermagem)

São deveres disciplinares dos profissionais de enfermagem:

a) Cumprir as normas da Ordem e dos Conselhos Provinciais dos Enfermeiros;


b) Atender as convocações da Ordem e dos Conselhos Provinciais dos Enfermeiros, no
prazo determinado;
c) Facilitar a fiscalização do Exercício Profissional;
d) Manter-se regularmente com suas obrigações financeiras com o Conselho Profissional
da ORDENFA;
e) Obter o número da Carteira/Cédula Profissional do COGENFA/ORDENFA, figurá-
lo em sua assinatura, quando no Exercício Profissional;
f) Facilitar a participação dos Profissionais de Enfermagem no desempenho de
actividades nos órgãos de classe;
g) Facilitar o desenvolvimento das actividades de ensino e pesquisa, devidamente
aprovadas;
h) Não apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer bem imóvel, público ou particular de
que tenha posse, em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem;
i) Não solicitar nem receber dinheiro em troca de actividades efectuadas ao paciente.

CAPÍTULO VII

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Das Infracções e Penalidades

ARTIGO 12.º
(Caracterização)

A caracterização das infracções éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas


penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros
dispositivos legais

ARTIGO 13.º
(Conceito de infracção ética)
Considera-se infracção Ética a acção, omissão ou conivência que implique desobediência
e/o inobservância as disposiç5es do Código da Ética dos Profissionais de Enfermagem de
Angola.
ARTIGO 14.º
(Conceito de infracção disciplinar)
Considera-se infracção disciplinar a inobservância das normas da Ordem e dos Conselhos
Provinciais da ORDENFA.
ARTIGO 15.º
(Responsabilidade pela infracção)
Responde pela infracção o profissional de enfermagem que a cometer ou a concorrer para
a sua prática, ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem.

ARTIGO 16.º
(Gravidade da infracção)
A gravidade da infracção é caracterizada através da análise dos factos e do dano causado,
suas consequências e dos antecedentes.

ARTIGO 17.º
(Apuramento da infracção)
A infracção é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos deste Código e do
Código de Processo Disciplinar dos Profissionais de Enfermagem

ARTIGO 18.º
(Competência do Conselho Provincial na aplicação das penalidades)
As penalidades a serem postas pela Ordem e Conselho Provincial da ORDENFA são as
seguintes:

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a) Advertência verbal;
b) Multa;
c) Censura;
d) Suspensão do;
e) Cassação do direito ao Exercício Profissional.

§ 1.º — A Advertência Verbal — consiste numa admoestação ao infractor do mesmo, na


presença das suas testemunhas.
§ 2.º — A Multa — consiste na obrigatoriedade de pagamento de 1 (uma) a 10 (dez) o
valor da anuidade da categoria profissional a qual pertence o infractor, em vigor no acto do
pagamento.
§ 3.º — A Censura — consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais
da Ordem dos de Angola.
§ 4.º —A Suspensão — consiste na proibição do Exercício da enfermagem por um período
não superior a 30 (trinta) dias e será divulgada nas publicações oficiais da ORDENFA.
§ 5.º — A Cessação — consiste na perda do direito do exercício da enfermagem e será
divulgada publicações da ORDENFA e em jornais de grande circulação.

ARTIGO 19.º
(Competências aplicação de penas)
As penalidades de advertência verbal, multa, censura e suspensão do exercício profissional
são da alçada dos Conselhos Provinciais da ORDENFA; a pena de cassação do direito
profissional é da competência da Ordem dos Enfermeiros de Angola.
§ Único: — Na situação em que o processo tiver origem na ORDENFA, terá instância
superior o Conselho de Representantes.

ARTIGO 20.º
(Graduação das penalidades)
Para a graduação da penalidade e respectiva imposição considera-se:
a) A maior ou menor gravidade da infracção;
b) As circunstâncias agravantes e atenuantes da infracção;
c) O dano causado e suas consequências;
d) Os antecedentes do infractor.

ARTIGO 21.º
(Graduação das infracções)
As infracções serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, conforme a natureza do acto
e a circunstância de cada caso.

§ 1.º — São consideradas infracções leves as que ofendam a integridade física, mental ou
moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade.

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§ 2.º — São consideradas infracções graves as que provocam perigo de vida, debilidade
temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa.
§ 3.º — São consideradas infracções gravíssimas as que provocam morte, deformidade
permanente perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral
irremediável em qualquer pessoa.
ARTIGO 22.º
(Circunstâncias atenuantes)
São consideradas circunstâncias atenuantes:
a) Ter o Infractor procurado, logo após infracção, por sua espontânea vontade e
eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu acto;
b) Ter bons antecedentes profissionais;
c) Realizar actos sob coacção e/ou intimidação;
d) Ter confessado espontaneamente autoria da infracção.

§ Único: — A prática da infracção sob coacção física inibe o de qualquer culpabilidade.

ARTIGO 23."
(Circunstâncias agravantes)
São consideradas circunstâncias agravantes:
a) Ter o infractor causado danos irreparáveis;
b) Ter o infractor cometido a infracção dolosamente;
c) Ter o infractor cometido a infracção por motivo fútil e torpe;
d) Ter o infractor cometido a infracção para facilitar ou assegurar a execução, a
ocultação, a impunidade ou assegurar a vantagem de outra infracção;
e) Ter o infractor cometido aproveitar-se da fragilidade da vítima;
f) Ter o infractor cometido a infracção com abuso de autoridade ou violação do dever
inerente ao cargo função;
g) Ter o infractor maus antecedentes pessoais e/ou profissionais.

CAPÍTULO VIII
Das Aplicação das Penalidades
ARTIGO 24.º
(Cumulação das penalidades)
As Penalidades previstas neste Código somente poderão ser cumulativamente, quando
houver infracção a mais de um artigo.

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ARTIGO 25.º
(Pena de advertência verbal)
Apena de Advertência Verbal é aplicável nos casos de infracções ao que está
estabelecido nas alíneas a) a f) do artigo 8.º, nas alíneas a) a f), h) a o), q) a u) do artigo
9.º alíneas a) a c), f) a i), k), m), o), q), u), w) a cc) do artigo 10.º e a) a h) do artigo 11.º
do presente Diploma.
ARTIGO 26.º
(Pena de multa)
A pena de Multa é aplicável nos casos de infracções ao que está estabelecido nas alíneas
g) do artigo 9.º, o), p), t), v) e do parágrafo único do artigo 10.0 e i) do artigo 11.0 do presente
Diploma.
ARTIGO 27.º
(Pena de Censura)
A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nas alíneas
j), n), q), e r) do artigo 10.º do presente Diploma.

ARTIGO 28.º
(Pena de Suspensão do exercício profissional)
A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de infracções ao qie está
estabelecido nas alíneas p) do artigo 9.º, l), s), y) e z) do artigo 10.º do presente Diploma.

ARTIGO 29.º
(Pena de cessação do direito ao exercício profissional)
A pena de cessação do direito ao exercício profissional é aplicável nos casos de infracções
ao que está estabelecido nas alíneas d) do artigo 10.º e bb) do artigo 10.º do presente
Diploma.
§ 1.º — Se a violação do disposto na alínea p) do artigo 9.º, l) do artigo 10.º resultar a morte
da pessoa objecto de pesquisa, aplica-se ao profissional de enfermagem, infractor o disposto
neste artigo.

CAPÍTULO IX
Das Disposições Finais

ARTIGO 30.º
(Omissões)
Os casos omissos serão resolvidos pela Ordem de Enfermeiros de Angola.

ARTIGO 31.º
(Alteração)
Este Código poderá ser alterado pela Ordem dos Enfermeiros de Angola, por iniciativa própria
e/ou mediante propostas de Conselhos Provinciais.
§ Único — A alteração referida deve ser precedido da ampla discussão com profissionais.

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ARTIGO 32.º
(Entrada em vigor)
O presente Código entrará em vigor na data da publicação.
Publique-se.
O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros de Angola, Paulo Luvualo.

3.4. Princípios Éticos


Existem princípios básicos que devem ser verificados e seguidos no e exercício das funções
como profissionais da saúde. Vários princípios éticos existentes, e que orientam a prática de
enfermagem, destacam-se os seguintes:

1) Autonomia: este princípio diz respeito a liberdade individual de cada um


decidir e determinar por si mesmo as sua acções, isto é, de acordo com as suas escolhas,
reconhecer a sua competência para tomar decisões por parte dos profissionais de enfermagem,
porém estas decisões devem ser tomadas tendo em conta os valores e convicções pessoais.
2) Confidencialidade: refere-se em manter em sigilo a informação de carácter
pessoal obtida durante o exercício da função como enfermeiro e manter o segredo profissional
dessa informação.
3) Beneficência: este princípio, defende a realização do bem, isto é, evitar danos.
Fazer o bem e evitar o mal a todo o custo para as pessoas ou sociedade, ajudar os outros a ter
benefício ou que promova o bem-estar e reduzir o máximo possível os danos.
4) Não maleficência: significa não infligir dano a uma pessoa. Não causar mal ou
dano ao paciente, distribuir benefícios do bem entre as pessoas. Ex.: O enfermeiro não deve
abandonar o doente/paciente em situação grave.
5) Justiça: ser justo, tratamento igual para todos os pacientes, evitar tratamentos
diferenciados entre pessoas, visto que todos precisam de assistência e deve ser uma assistência
equitativa (igual) para todos;
6) Fidelidade: este princípio diz respeito ao compromisso, isto é, confiança entre
o enfermeiro e o paciente, ser fiel relativamente ao relacionamento com o outro (paciente
enfermeiro);
7) Verdade: o profissional de enfermagem, deve sempre pautar pela verdade, deve
a todo custo evitar mentiras, enganos de maneiras a criar uma base bem sólida em termos de
confiança.

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3.5. Atitude Social

1) Postura Física, como qualidade social que um técnico deve possuir:


a) Sentar adequadamente;
b) Usar uniforme completo, limpo e adequado ao corpo (uso de passe de
identificação em local visível, conforme as normas da instituição);
c) Higiene corporal (cabelos cortados “homens”, perfume suave, verniz discreto,
joias não se usam durante o trabalho, unhas rente a pele, etc.)

2) Comportamento Moral, isto é, no sentido de responsabilidade:


a) Ser educado, amável, simpático e alegre;
b) Ser capaz de incutir a coragem e a confiança;
c) Respeitar a opinião e maneira de ser dos outros;
d) Aceitar a crítica, tirando dela o positivo;
e) Ser paciente e ter o respeito mútuo;
f) Colaborar sempre que é possível;
g) Modo de falar calmo e sem gesto;
h) Não aceitar recompensas monetárias do doente ou familiar;

Obs.: A dignidade da vida privada é muito importante. Por isso, todos são
responsáveis pelo bom nome da profissão.

3.6. Atitude Psicológica

Consciência Profissional: o técnico de saúde, deve ter a consciência que vai


lidar com o corpo humano, pessoa como ele e que hoje se encontra doente. O
enfermeiro deve colocar-se no lugar do doente, sentir a sua preocupação “ que seria
de mim se fosse tratado mal?
Silêncio: deve-se manter o silêncio nos locais hospitalares, evitando ruídos
pois, que provocam perturbações no estado daquele que se encontra doente. O silêncio
cria a tranquilidade e cura.

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3.7. Atitude Profissional


1) Para com o doente:
a) Atender com atenção e carinho o doente que nos aparecer na unidade de
tratamento;
b) Respeitar as confidências e as probidades do doente;
c) Não discutir problemas dos doentes fora do hospital ou classes (fofocas);
d) Saber ser sincero com os doentes e seus familiares e deve ser curioso;
e) Deve ajudar o doente a compreender melhor a sua doença;
f) Explicar ao doente o que tem os seus exames e o diagnóstico;
g) Explicar também a causa da doença e como deve preveni-la de forma clara e
simples;
h) Usar somente os medicamentos quando é necessário;
2) Para com a família:

a) Servir de intermediário entre a família e o doente;


b) Criar relações de cooperação entre si;
c) Transmitir as necessidades do doente aos seus familiares;
d) Deve-se encorajar a família para confiar os nossos serviços.
3) Para com a comunidade:

a) O técnico de saúde deve merecer a confiança da comunidade onde vive,


mostrando a sua capacidade técnica com dignidade e profissionalismo, sempre
dentro da ética e da deontologia.
b) O enfermeiro ou o técnico de saúde deve em primeiro lugar procurar saber
como é que a comunidade vive, como reage aos nossos serviços e
ensinamentos. A partir daí, poder-se-á criar programas desenvolvimentos nesta
comunidade no campo da saúde.

4) Para com a equipa:


a) Deve haver espírito de cooperação e interajuda;
b) Não abandonar o turno antes que o colega se faz presente;
c) Não apropriar-se dos bens destinados aos doentes;
d) Reconhecer as suas falhas e procurar superá-las;
e) Não fugir as responsabilidades em caso de notar qualquer dano;
f) Ser pontual e cumprir os horários.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

5) Para com os superiores:


a) Cumprir e fazer cumprir as orientações superiormente dimanadas;
b) Respeitar a hierarquia existente;
c) Nunca denigrir as orientações do médico conforme a prescrição.

3.8. Comportamento Profissional e suas responsabilidades


3.8.1. Responsabilidades no atendimento:
 Receber o doente e seus familiares como amigos
 Verificar se há lugar para todos estarem sentados
 Sentar ao lado do doente (em alguns e sempre que puder) e não
atrás de uma mesa de trabalho
 Usar linguagens simples e clara
 Perguntar sempre a família não apenas sobre a doença, mas
também outros problemas que o doente tenha
 Não deixar que as anotações e registos interfiram na
comunicação (não escrever enquanto a pessoa estiver a falar)
3.8.2. Comportamento Profissional
a) O técnico de saúde deve merecer a confiança dos seus colegas de trabalho,
cumprindo as normas de tratamento;
b) O técnico deve reconhecer os limites da sua competência;
c) Nunca assumir situações que não são da sua competência, mas sim, devem
ser evacuados para outros níveis superiores de tratamento como: do posto
de saúde para o centro de saúde e do centro de saúde para o hospital.

3.9. Sigilo Profissional


A ética profissional enfoca o relacionamento do profissional de enfermagem e/ou saúde com a
seu cliente (paciente), membros da equipa, bem como a comunidade em geral, visando a
dignidade humana no contexto sócio-cultural onde exerce a profissão.

Ela atinge todas as profissões e quando falamos de ética profissional, estamos nos referir ao
carácter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e
códigos específicos. Assim temos a ética médica, do advogado, do biólogo, etc.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

Em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito relevantes que


ultrapassam o campo profissional em si. Questões como o aborto, eutanásia, HIV/SIDA,
entre outras, por exemplo, são questões morais que se apresentam como problemas éticos.
Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de qualquer actividade profissional humana.

O sigilo profissional é o dever por parte dos profissionais de saúde em respeitar e proteger o
direito das pessoas à reserva da intimidade da vida privada e à confidencialidade das
informações e dados pessoais. Só assim se consegue garantir a confiança dos cidadãos nos
profissionais de saúde, com o enfermeiro a estabelecer uma relação terapêutica com as pessoas
de quem cuida, solidificada na confiança.

As questões relacionadas com a intimidade, a privacidade ou sigilo profissional são de elevada


sensibilidade e estão fundamentadas segundo princípios éticos, embora seja igualmente
importante abordar o plano deontológico e jurídico.

Relativamente ao respeito pela autonomia da pessoa, existem autores que consideram ser esta
a principal premissa da obrigação ética de sigilo profissional. Sem confidencialidade não há
privacidade, e sem esta perde-se o controlo da própria vida pois existe uma correlação entre o
direito da pessoa em preservar a sua intimidade e o dever de sigilo profissional.

Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.

Todos os documentos devem ser mantidos em sigilo e sua revelação pode representar sérios
problemas para os clientes do profissional.

Cabe ao serviço de saúde garantir sigilo e confidencialidade nos serviços que prestam aos
usuários. Neste âmbito deve-se considerar algumas prerrogativas éticas:

 Garantir a cidadania e respeito à pessoa humana;


 Princípios de confiabilidade e confidencialidades como premissa básica dos serviços
de saúde;
 Todo o profissional de saúde deve manter sigilo sobre as informações referentes aos
usuários do serviço1,
 O sigilo só poderá ser rompido com o consentimento expresso do usuário;
 O resultado de exame é do paciente e, somente a ele deverá ser apresentado quando
solicitado.

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

Existem, porém, situações excepcionais relactivamente ao cumprimento do sigilo profissional.


É o que acontece por exemplo na questão de envolvimento sexual “estável” em que o paciente
adopta uma postura irredutível, se recusando a revelar seu estado sorológico para o parceiro
(a), o profissional de saúde, que acompanha o caso, poderá interferir, quebrando o sigilo, em
nome da protecção de terceiros.

Agentes comunitários de saúde, agentes administrativos, auxiliares de serviços gerais, dentre


outros, não importa a categoria ou o vínculo profissional, o facto de exercer actividade dentro
de um serviço de saúde, não o isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que
temporariamente, a uma classe ou serviço com deveres a cumprir, devem ser permeados pelo
sigilo, a ética e a confidencialidade.

UNIDADE 4. PROBLEMAS ÉTICO LEGAIS EM SITUAÇÕES COMPLEXAS

4.1. Conceitos: Segredo Natural, Segredo Prometido, Segredo Profissional


O profissional de enfermagem no exercício da sua profissão, se defronta com problemas que
não pode revelar e outros que pode revelar, trata-se por tanto, dos segredos em enfermagem.
Existem os seguintes tipos de segredos:

4.1.1. Segredo Natural, constitui o conjunto de informações que o


profissional de enfermagem vem a conhecer sem estar no exercício de
uma profissão de uma profissão.
4.1.2. Segredo Prometido, surge do compromisso do profissional de
enfermagem em prometer a não revelação de conteúdos que vem a saber
no exercício da sua função perante o paciente e/ou colegas de trabalho.
4.1.3. Segredo Profissional, constitui o conjunto de informações que se vem
a saber no exercício da uma determinada profissão, neste caso em
concreto, a enfermagem.

Para o profissional de enfermagem, o conteúdo do segredo é tudo que se refere ao paciente,


família, funcionários e a instituição em que pertence.

Existem duas formas possíveis de revelar o segredo:

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

 De forma directa, acontece quando são publicados o conteúdo e o nome da pessoa a


quem pertence o segredo.
 De forma indirecta, acontece quando são oferecidos indicativos para o conhecimento
da coisa concreta e do seu dono.

Quando é permitido ou obrigatório a revelação do segredo?

Pode-se revelar o segredo nas seguintes situações ou momentos:

a) Consentimento do titular: acontece naquelas situações em que o titular do


segredo, neste caso o paciente, família, colega ou mesmo a instituição manifesta
o seu consentimento, ou seja, autoriza a revelação do segredo.
b) Quando o bem comum exige: existe nos seres vivos o bem comum que a vida,
e enquanto profissional de saúde, é obrigação do enfermeiro preservar e garantir
cuidados que visam o bem-estar do paciente e não só. Este ponto acontece
naquelas situações em que a não revelação do segredo põe em risco a vida de
outras pessoas, para tal, tratando de um bem comum, o profissional de saúde
por revelar o segredo, mesmo que não haja o consentimento directo do paciente.
c) Quando o bem da terceira exige: quanto a este ponto, coincide com o que já
referimos no ponto anterior. Acontece por exemplo na questão de envolvimento
sexual “estável” em que o paciente adopta uma postura irredutível (negação
absoluta), se recusando a revelar seu estado sorológico para o parceiro (a), o
profissional de saúde, que acompanha o caso, poderá interferir, quebrando o
sigilo, em nome da protecção do bem de terceiros.
d) Quando o bem do depositário exige: dá-se naquelas situações em que a
segredo fere de certa maneira o bem da pessoa a quem é confidenciada a
informação. Nestes casos em especial, deve o profissional de saúde revelar o
segredo.

Ainda é possível observar os seguintes na revelação de um segredo:

 O segredo deve-se se revelado naquelas situações ao se tratar de uma declaração de


nascimento, para evitar um casamento em caso de enfermidades que possam pôr em
risco um dos cônjuges;
 Na declaração de doenças infecto-contagiosas de notificação obrigatória;
 Tratando-se de um facto delituoso previsto na lei;

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 Ao se ter conhecimento de abortadores profissionais;


 Nas perícias médico-legais;
 Nos registros de livros hospitalares;

Depois de conhecermos as questões inerentes aos segredos e os momentos em que devem ser
revelados, importa-nos agora saber o que ordenamento jurídico prevê acerca do assunto em
questão:

A Lei n.º 38/20 de 11 de Novembro, lei que aprova o Código Penal Angolano, diz o seguintes:
ARTIGO 232.º
(Violação de segredo)

1. Quem revelar ou se aproveitar de segredo alheio de que tenha


tomado conhecimento em razão do seu ofício, emprego, profissão,
arte ou situação em que se encontrar é punido com pena de prisão
até 1 ano ou com a de multa até 120 dias.
2. Se do facto descrito no número anterior resultar prejuízo para
qualquer pessoa, a pena é a de prisão até 18 meses ou a de multa
até 180 dias.

ARTIGO 233.º
(Violação de sigilo profissional imposto por lei)
Quem, em violação da sua obrigação de sigilo ou reserva
profissional, imposta por lei, divulgar segredo de outra pessoa é
punido com pena de prisão de 6 meses a 3 anos ou com a de multa
de 60 a 360 dias.

ARTIGO 234.º
(Agravação)
As penas estabelecidas nos 230.º a 233.º são agravadas em um
terço nos seus limites mínimo e máximo, se o facto praticado com
intenção de obter recompensa para o agente ou para outra pessoa
ou de prejudicar alguém.

Em conformidade com os dispostos previstos nos artigos 232.º, 233.º e 234.º do Código Penal
Angolano, a Deliberação n.º 12/16 de 11 de Outubro, que aprova a publicação em Diário da
República o Código de Ética e Deontologia dos Profissionais de Enfermagem de Angola,
estabelece na alínea i) do Artigo 9.º como um dos Deveres dos Profissionais de Enfermagem
o seguinte:

São deveres dos profissionais de enfermagem no exercício da sua profissão os


seguintes:

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(...)
i) Manter segredo sobre factos sigiloso de que tenha conhecimento em razão da
sua actividade profissional, excepto nos casos previstos na lei.

Ainda em conformidade com os dispostos anteriormente, a alínea f) do artigo 67.º do Decreto


Presidencial n.º179/10 de 18 de agosto, que aprova o Estatuto da Ordem dos Enfermeiros de
Angola (ORDENFA), estabelece como um dos deveres dos membros da ordem dos
enfermeiros o seguinte:
São deveres dos membros da Ordem dos Enfermeiros:
(...)
f) Guardar segredo profissional.

4.2. Doente Terminal

Pacientes terminais podem ter necessidades diferentes daquelas de outros pacientes. Para que
suas necessidades possam ser atendidas, primeiro é necessário identificar os pacientes
terminais. Antes da morte, os pacientes tendem a seguir 1 de 3 trajetórias gerais de declínio
funcional:

 Um período limitado de declínio funcional constante e progressivo. Por exemplo: típico


do cancro progressivo)
 Um período indeterminado prolongado de disfunção grave que pode não ser
progressivo de forma constante (exemplo típico da demência grave, do acidente
vascular encefálico incapacitante e da síndrome de fragilidade grave).
 Disfunção progressiva que diminui de forma irregular, causada por exacerbações
periódicas e, algumas vezes imprevisíveis da doença subjacente (exemplo típicos de
insuficiência cardíaca)

Com a primeira trajectória (p. ex., no câncer progressivo), o curso da doença e tempo da morte
tendem a ser mais previsíveis do que com as outras trajectórias. Por exemplo, na disfunção
prolongada (ex.: na demência grave), a morte pode ocorrer repentinamente por uma infecção,
como a pneumonia. Com a disfunção progressiva irregular (p. ex., na insuficiência cardíaca),
as pessoas que parecem não estar perto da morte pode morrer de repente durante uma
exacerbação da doença. Como resultado, embora sabendo que a trajectória do declínio
funcional possa ajudar, costuma ser difícil estimar com precisão quando a morte ocorrerá.
Assim, os médicos e outros profissionais de saúde são orientados a considerar os pacientes que

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atendem ambos os critérios a seguir como pacientes potencialmente terminais, reconhecendo


que esses critérios podem ser excessivamente inclusivos:

 Presença de doença grave que deve piorar


 A morte em 1 ano não surpreenderia o médico e/ou profissional de saúde.

Se um paciente for reconhecido como potencialmente terminal, o médico ou profissional de


saúde deve:

 Comunicar a evolução provável da doença, incluindo uma estimativa do tempo de


sobrevivência ao paciente e, se o paciente assim decidir, à família, amigos ou ambos;
 Conversar e esclarecer os objectivos do tratamento clínico (ex.: cuidados paliativos,
curativos);
 Discutir e esclarecer o que é mais importante para o paciente e seus entes queridos (ex.:
estar em casa, comparecer em um evento futuro, permanecer mentalmente íntegro);
 Organizar os cuidados paliativos e assistência, incluindo serviços de suporte (ex.:
refeições entregues em casa);
 Planear o que fazer quando a morte é iminente;
 Tratar os sintomas;
 Ajudar a abordar questões éticas, legais e financeiras;
 Ajudar os pacientes e aqueles que cuidam dos pacientes a lidar com a tensão inerente.

Os pacientes devem participar da tomada de decisão tanto quanto possível. Se os pacientes não
estiverem aptos a tomar decisões sobre seu o tratamento e tiverem assinado uma procuração
legal de longo prazo para um representante legal tomar decisões sobre o tratamento de saúde,
a pessoa designada por este documento tomará as decisões referentes à saúde. Se o paciente
não tem um substituto autorizado, os agentes de saúde geralmente contam com um parente ou
mesmo um amigo íntimo para compreender quais seriam os desejos do paciente. Em locais em
que as pessoas responsáveis pela tomada de decisão substitutos são autorizadas, a ordem típica
de prioridade é:

 Cônjuge do paciente (ou parceiro doméstico nas jurisdições que reconhecem esse
status);
 Filhos adultos;
 Pais;

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 Irmãos;
 Outros parentes ou amigos próximo (possivelmente).

Se houver mais de uma pessoa com a mesma prioridade (ex.: vários filhos adultos), é preferível
o consenso, mas alguns estados permitem que o agente de saúde tome como base a decisão da
maioria.

4.2.1. Assistência e tratamento paliativo

O tratamento paliativo visa melhorar a qualidade de vida ajudando a aliviar os sintomas físicos
incômodos e o sofrimento psicossocial e espiritual. O cuidado paliativo é compatível com
muitos tratamentos curativos e pode ser fornecido ao mesmo tempo. Por exemplo, o aspecto
paliativo do atendimento enfatiza o tratamento da dor ou delirium para um paciente com
insuficiência hepática que pode estar em uma lista de espera de transplante hepático.
Entretanto, dizer que o tratamento do paciente mudou de curativo para de suporte ou de
tratamento para tratamento paliativo é uma simplificação excessiva de um processo complexo
de decisão. A maioria dos pacientes exige uma mistura personalizada de tratamentos para
corrigir, prevenir e mitigar os efeitos de várias doenças e incapacidades.

Os médicos devem iniciar o tratamento paliativo logo que os pacientes forem identificados
como gravemente enfermos e, especialmente, quando estiverem suficientemente enfermos para
morrer. O atendimento paliativo pode ser prestado por profissionais individuais, equipas
interdisciplinares e programas de atendimento paliativo. Especialistas em cuidados paliativos
individuais focam no reconhecimento e tratamento da dor e de outros sintomas incômodos.
Equipas interdisciplinares de tratamento paliativo são compostas por vários profissionais (ex.:
médicos, enfermeiros, assistentes sociais, capelães) que trabalham em conjunto com os
médicos do atendimento primário e os especialistas dos pacientes para aliviar a tensão física,
psicossocial e espiritual.

Dicas e conselhos

Considerar o tratamento paliativo para todos os pacientes potencialmente terminais, mesmo aqueles
que buscam terapias agressivas ou curativas.

Centros de cuidados paliativos (hospice)

Assistência aos pacientes terminais é um programa de atendimento e suporte para pessoas com alta
probabilidade de morrer em poucos meses. O tratamento paliativo se concentra no conforto e no

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significado, não na cura. Os serviços podem englobar a oferta de tratamento físico, orientação,
fármacos, equipamentos e suprimentos médicos duráveis. Em alguns países, como os EUA, a
assistência aos pacientes terminais é principalmente domiciliar; em outros, como na Inglaterra, os
serviços de tratamento paliativo é prestado principalmente em instituições hospitalares.

Planeamento avançado para morte iminente

O planejamento para o alívio dos sintomas, bem como receber suporte para o paciente e a família, pode
ajudar as pessoas a lidar com as dificuldades de morrer. Quando a morte está prevista para ocorrer em
casa, uma equipe de tratamento paliativo normalmente administra fármacos (um kit de conforto) com
instruções sobre como usá-los para suprimir rapidamente os sintomas, como a dor ou a dispneia. Os
membros da família devem ser informados sobre as prováveis mudanças que ocorrem durante o
processo de morrer, como confusão, sonolência, respiração irregular ou ruidosa, extremidades frias e
cianose. O planejamento também pode ajudar a evitar visitas hospitalares angustiantes e desnecessárias
no final da vida. Os membros da família devem ser orientados sobre quem devem chamar (p. ex.,
médico, enfermeira de cuidados paliativos) e quem não devem chamar (p. ex., serviço de ambulância).

Testemunhar os últimos momentos de vida de uma pessoa pode ter um efeito poderoso e duradouro
sobre a família, amigos e cuidadores. O paciente deve ficar em uma área tranquila, silenciosa e
fisicamente confortável. Os médicos devem incentivar a família a manter contacto físico com o
paciente, como segurar as suas mãos. Os provedores de cuidados paliativos devem questionar sobre os
ritos de passagem espirituais, culturais, étnicos ou pessoais desejados pelo paciente e pelos membros
da família e tomar as providências cabíveis. Em geral, as famílias também precisam de ajuda para
providenciar o sepultamento e organizar o respectivo pagamento; os assistentes sociais podem oferecer
informações e orientação. Independentemente do ambiente (p. ex., casa, hospital, lar de idosos,
internação hospitalar ou tratamento paliativo domiciliar), as práticas religiosas podem interferir com o
preparo do corpo após a morte e devem ser previamente conversadas com a família do paciente, ou
ambos.

Preocupações financeiras e de incapacidade

Um estudo norte-americano mostrou que um terço das famílias esgota a maior parte de suas economias
ao cuidar de um parente que está morrendo. As famílias devem ser orientadas a investigar o custo dos
tratamento de uma doença grave de um membro da família. Obter informações sobre a cobertura e as
regras podem exigir trabalho substancial e diligente.

As incapacidades progressivas geralmente acompanham doenças fatais. O paciente pode gradualmente


se tornar incapaz de cuidar de uma casa ou apartamento, preparar alimentos, cuidar de assuntos
financeiros, andar ou cuidar de si mesmo. A maioria dos pacientes terminais necessita de ajuda durante

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suas últimas semanas. A equipe de cuidados médicos deve prever a incapacidade e tomar as
providências cabíveis (p. ex., escolher uma habitação com acesso para cadeiras de rodas e próxima aos
cuidadores da família). Serviços como terapia ocupacional e fisioterapia e tratamento paliativo podem
ajudar o paciente a permanecer em casa, mesmo quando a incapacidade progride. A equipe médica deve
conhecer as opções e os efeitos financeiros e discutir esses aspectos com os pacientes e seus familiares.

4.2.2. Questões éticas e legais

Os agentes de saúde devem conhecer as leis locais e as políticas institucionais que


regulamentam os testamentos em vida, procurações permanentes e procedimentos relactivos à
reanimação e hospitalização. Esse conhecimento os ajuda a assegurar que os desejos do
paciente sejam respeitados, mesmo quando o paciente não pode mais tomar decisões.

Vários agentes de saúde se preocupam com o facto de tratamentos cuja intenção é o alívio da
dor ou de outros sintomas graves (ex.: opioides para dor ou dispneia) talvez acelerarem a morte,
mas esse efeito é bastante incomum. Com o atendimento médico hábil e o escalonamento dos
fármacos, os profissionais de saúde evitam os efeitos adversos medicamentosos mais
incômodos, como a depressão respiratória causada pelos opioides. A morte não é acelerada
pelo tratamento convencional de sintomas comuns em pacientes com doença avançada. Mesmo
se a dor ou a dispneia intratável exigirem altas doses de opioides, que também podem acelerar
a morte, a morte resultante não é considerada ilícita porque os fármacos foram administrados
para aliviar os sintomas e foram devidamente escalonadas e administradas. Os médicos que
abordam sintomas vigorosamente e renunciam a tratamentos de manutenção da vida precisam
discutir esses aspectos de modo honesto e sensível e documentar sua tomada de decisão
cuidadosamente.

Em geral, os profissionais de saúdes devem evitar qualquer tratamento que convencionalmente


seja considerado um meio de homicídio (ex.: injeção letal), mesmo que a intenção seja aliviar
o sofrimento. A assistência ao suicídio (ex.: fornecer ao paciente terminal fármacos letais e
instrução para usá-los) é autorizada sob condições específicas em alguns Estados. Em Angola,
esta prática não é permitida. Em locais onde o suicídio com assistência médica é legal, os
profissionais de saúde e os pacientes devem cumprir as exigências legais locais, incluindo
residência, idade, capacidade de decisão, doença terminal, prognóstico do paciente, e o
momento do pedido de assistência.

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4.2.3. Fases
Quanto as fases em doentes terminais, podemos citar as seguintes: Negação, Depressão,
Braganha e Aceitação.

Negação, durante esta fase, o paciente entra num processo negação da realidade em que se
encontra, não aceitando por tanto a ideia de que nestas condições não há muito o que fazer em
relação a situação actual a que se encontra. Negando esta situação, o paciente cria em si a
esperança de um possível final feliz (visto que em alguns casos doentes considerados em fase
terminais acabam recuperando). Porém, este precisa ser bem sensibilizado, caso contrário
verificar-se-á como em muitos casos a Depressão.

Depressão, é um estado de tristeza profunda. Quando ao paciente não lhe é transmitida a


confiança e esperança de uma possível melhoria no seu estado de saúde, poderá este cair em
depressão. Nesta fase o doente torna-se numa pessoa fechada, debatendo-se por dentro. Por ser
uma situação difícil para o doente, este precisa de todo o cuidado e atenção especial de modo
a mantê-lo optimista. A depressão não constitui problema apenas para o paciente terminal, mas
também para os seus familiares e pessoas próximas a ele, visto que se estes caiem também
depressão as chances de transmitirem esta energia negativa ao paciente é a maior. A ideia de
que a morte é iminente para doente, traz consigo sentimentos e pensamentos maus causando a
baixa estima.

Por isso, recomenda-se sempre que quando formos visitar um doente terminal a nossa atitude
e postura deve ser sempre positiva de maneiras a transmitir energia positiva ao doente. De
lembrar que existiram doentes considerados em fase terminal que acabaram se recuperando por
causa do optimismo das pessoas em volta dela. Como já foi anteriormente, nesta fase a equipe
médica deve actuar diligentemente com fim de proporcionar ao doente conforto.

Barganha, também conhecida como delírios, nesta fase o doente entra em delírios, confusão e
alucinação. Nesta fase o doente viaja para realidade diferente da actual pelo que as várias
imaginações o invadem completamente agindo como se fosse um doente mental, ou seja, nesta
fase o doente em função da sua situação, apresenta-se psicologicamente instável ou com
desequilíbrio emocional e se não receber os devidos acompanhamentos ou cuidados poderá
este como tem se visto em alguns casos, até cometer suicídio.

Aceitação, esta fase é o oposto da negação. Aqui o doente encontra-se talvez mais ciente da
sua situação aceitando-a. Nesta fase, apesar de o doente aceitar a sua actual situação, ainda

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assim carece atenção e cuidado especial por parte dos parentes (familiares) bem como da equipe
médica.

4.3. Eutanásia
A partir do juramento de Hipócrates, principal pilar de sustentação da dignidade da profissão
médica até os dias de hoje, a administração de drogas letais ao paciente terminal ou a omissão
de determinados recursos disponíveis na terapêutica têm motivado intenso debate no seio da
sociedade.

Alguns filósofos, já advogavam a prática da eutanásia activa entre seus contemporâneos. O


debate tornou-se acirrado no final do século XIX com a ocorrência de inúmeras disputas entre
advogados e cientistas sociais, principalmente nas imprensas inglesa e americana. Na moral de
Kant1, verifica-se uma concepção de ética sob a forma de um procedimento prático, isto é, uma
universalização da ética, baseada na definição de que uma ação moralmente boa é aquela que
pode ser universalizável, ou seja, aquela cujos princípios podem valer para todos ou, ao menos,
seria desejável que valessem para todos.

Tal dogma poderia ser aplicado, por exemplo, à eutanásia, desde que, evidentemente, ela
valesse para todos, isto é, pudesse ser moralmente justificável.

Eutanásia significa sistema que procura dar morte sem sofrimento a um doente incurável. Esse
sistema é proibido em vários países, inclusive em Angola, onde a prática da eutanásia é
considerada homicídio.

Existe grande controvérsia a respeito da legalização ou não dessa prática. As pessoas que
julgam a eutanásia um mal necessário têm como principais argumentos poupar o paciente
terminal irreversível de seu sofrimento e aliviar a angústia de seus familiares. Outro aspecto
importante dessa discussão é o custo financeiro, tanto social como pessoal, causado pelo
prolongamento de uma vida impossibilitada de continuar. O custo social está na superlotação
de leitos nos hospitais e nos gastos públicos com remédios e tratamentos desses pacientes. Por
outro lado, se essa prática for legalizada, haverá revolta por parte das igrejas, as quais se
mantêm irredutíveis em suas posições. Além disso, o parente que autorizar a eutanásia de um
ente querido pode vir a sofrer um forte sentimento de culpa. Com o progresso da tecnologia
médica, nas últimas décadas, torna-se ainda mais complexa a discussão sobre essa prática. Os

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aparelhos eletrônicos são capazes de garantir longa sobrevivência vegetativa aos doentes e
permitem que os sinais vitais sejam mantidos artificialmente, mesmo em pacientes terminais,
por muito tempo. Assim, a manutenção da vida torna-se cada vez mais uma discussão que deve
ser analisada caso a caso.

4.3.1. Classificação da Eutanásia

A eutanásia, dependendo do critério considerado, pode ser classificada de várias formas5, entre
elas, as seguintes:
a) Quanto ao tipo de ação:
1. Eutanásia ativa: o ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do
paciente, por fins misericordiosos.
2. Eutanásia passiva ou indireta: a morte do paciente ocorre dentro de um
quadro terminal, ou porque não se inicia uma ação médica ou porque há
interrupção de uma medida extraordinária, com o objetivo de minorar o
sofrimento.
3. Eutanásia de duplo efeito: a morte é acelerada como uma consequência
indireta das ações médicas que são executadas visando ao alívio do
sofrimento de um paciente terminal.

b) Quanto ao consentimento do paciente:


1. Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade
do paciente.
2. Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a vontade do
paciente.
3. Eutanásia não-voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente
tivesse manifestado sua posição em relação a ela.

4.3.2. A Legislação Angolana face a Eutanásia

Ordenamento Jurídico Angolano, pois embora não existir nenhuma legislação especial acerca
do assunto, não prevê esta prática como sendo legal. Entretanto, é possível fazer uma análise
aos normativos previsto na Constituição da República de Angola bem como do Código Penal
Angolano:

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA

ARTIGO 30.º
(Direito à vida)

O Estado respeita r protege a vida da pessoa humana, que é inviolável.

ARTIGO 31.º
(Direito a integridade pessoal)

1. A integridade moral, intelectual e física das pessoas é inviolável;


2. O Estado respeita e protege a pessoa e a dignidade humanas.

ARTIGO 77.º
(Saúde e protecção social)

1. O Estado promove e garante as medidas necessárias para assegurar a todos o direito


à assistência medica e sanitária, bem como o direito à assistência na infância, na maternidade,
na invalidez, na deficiência, na velhice e em que qualquer situação de incapacidade para o
trabalho, nos termos da lei.
2. Para garantir o direito à assistência médica e sanitária incumbe ao Estado:
a) desenvolver e assegurar a funcionalidade de um serviço de saúde em todo o
território nacional;
b) regular a produção, distribuição, comércio e o uso dos produtos químicos,
biológicos, farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico;
c) incentivar o desenvolvimento do ensino médico-cirúrgico e da investigação
médica e de saúde.

CÓDIGO PENAL ANGOLANO

ARTIGO 153.º
(Incitação ou auxílio ao suicídio)

1. Quem incitar outra pessoa ao suicídio e este se consumar ou chegar a ser tentado é
punido com pena de prisão até 3 anos.
2. Quem, nas mesmas circunstâncias, se limitar a prestar ajuda à pessoa que decidiu
suicidar-se é punido com pena de prisão até 2 anos ou com a multa de 240 dias.
3. Se, por virtude da idade, de anomalia psíquica ou outro motivo, a vítima tiver a sua
capacidade de valoração ou determinação diminuída, as penas referidas nos n.os 1 e 2 são
agravadas de metade, nos limites máximo e mínimo.

ARTIGO 159.º
(Ofensa simples à integridade física)

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1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 1
ano ou com a de multa até 120 dias.
2. O procedimento criminal depende de queixa.
3. O Tribunal pode dispensar o agente da pena quando:
a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores
agrediu primeiro;
b) O agente se tiver limitado a responder à agressão.

ARTIGO 160.º
(Ofensa grave à integridade física)

1. É punido com pena de prisão de 2 a 10 anos quem ofender o corpo ou a saúde de


outra pessoa de forma a provocar-lhe:
a) Deformidade grave e permanente ou privação de órgão ou membro;
b) Mutilação genital feminina, total ou parcial, através de clitoridectomia, de
infibulação, de excisão ou de qualquer outra prática lesiva do aparelho genital
feminino por razões não médicas;
c) Diminuição ou perda permanente da saúde física ou psíquica, de um dos
sentidos, de um membro, de um órgão ou de uma função;
d) Doença particularmente dolorosa;
e) Perigo para a vida.
2. Se a privação do órgão ou membro a que se refere a alínea a) do número anterior for
ecfetuada com fim lucrativo a pena é de prisão de 3 a 12 anos.

ARTIGO 161.º
(Agravação pelo resultado)

1. Se da ofensa ao corpo e à saúde da outra pessoa vier a resultar a morte, a pena é de:
a) Prisão de 1 a 6 anos no caso do artigo 159.º;
b) Prisão de 3 a 12 anos no caso do n.º 1 do artigo 160.º;
c) Prisão de 5 a 14 anos no caso do n.º 2 do artigo 160.º
2. Quem praticar as ofensas previstas no artigo 159.º e delas resultarem as ofensas
previstas no n.º 1 do artigo 160.º é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.

ARTIGO 162.º
(Qualificação)

As penas referidas nos artigos anteriores são agravadas de um quarto nos seus limites mínimo
e máximo desde que se verifique qualquer das circunstâncias previstas nos artigos 148.º a 150.º

ARTIGO 163.º
(Ofensa à integridade física privilegiada)

Quem ofender à integridade física de outra pessoa e, no momento do facto, se encontrar em


estado de intensa emoção, compaixão, desespero ou outro motivo relevante que diminua
consideravelmente a sua culpa, a pena aplicável é especialmente atenuada.

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ARTIGO 164.º
(Ofensa à integridade física por negligência)

1. Quem, por negligência, ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com
pena de prisão até um ano ou com a de multa até 120 dias.
2. Se da ofensa não resultar doença ou incapacidade para o trabalho por mais de 8 dias,
a pena é de prisão até 6 meses ou a de multa até 60 dias.
3. Se do facto resultar grave ofensa à integridade física, o agente é punido com pena de prisão
até 2 anos ou com a de multa até 240 dias.
4. O procedimento criminal depende de queixa.

ARTIGO 165.º
(Consentimento)

1. Para efeito de consentimento, nos termos dos artigos 34.º e 35.º, a integridade física
considera-se livremente disponível.
2. Para o mesmo efeito, a contrariedade aos bons costumes é avaliada em função,
nomeadamente, dos motivos e dos fins do agente e do ofendido, dos meios utilizados e da
amplitude previsível da ofensa.
3. Não é válido o consentimento de um menor de 16 anos, se não for prestado por ele e
pelo seu representante legal.
4. Tratando-se de menor de 14 anos ou de um incapaz por anomalia psíquica, é
necessária autorização judicial.

ARTIGO 166.º
(Intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos)

1. Não se considera ofensa à integridade física a intervenção e o tratamento realizados


por um médico ou por pessoa legalmente autorizada, de acordo com os conhecimentos e
práticas da medicina, com a intenção de prevenir, diagnosticar, debelar ou diminuir doença,
sofrimento, lesão, fadiga corporal ou perturbação mental.
2. O médico ou a pessoa legalmente autorizada que, em vista das finalidades apontadas
no número anterior, realizar intervenções ou tratamentos contrários aos conhecimentos e
práticas da medicina e, desse modo, puser em perigo a vida de outra pessoa ou criar perigo de
ofensa grave para o corpo ou para a saúde dessa pessoa é punido com pena de prisão até 2 anos
ou com a de multa até 240 dias, se pena mais grave lhe não couber por força da aplicação de
outra disposição penal.

A partir dos princípios legais acima expostos, já é possível entendermos de forma clara qual a
posição do ordenamento jurídico angolano relactivamente a eutanásia, ou seja, nota-se aqui
que em Angola a prática da eutanásia não é legal pelo que a sua prática fere os princípios éticos
estabelecidos aos profissionais de saúde.

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4.3.3. A eutanásia na perspectiva da bioética

A actuação médica é movida por dois grandes princípios morais: a preservação da vida e o
alívio do sofrimento. Esses dois princípios complementam-se na maior parte das vezes.
Entretanto, em determinadas situações, podem tornar-se antagônicos, devendo prevalecer um
sobre o outro. Se for estabelecido como princípio básico o de optar-se sempre pela preservação
da vida, independentemente da situação, poder-se-á, talvez, com tal atitude, estar negando o
facto de que a vida é finita. Como é conhecido, existe um momento da evolução da doença em
que a morte torna-se um desfecho esperado e natural, não devendo e nem podendo ser
combatida. Assim, no paciente passível de ser salvo, a aplicação dos princípios da moral (ética)
deve ser pautada na preservação da vida, enquanto que, no paciente que está na etapa da morte
inevitável, a actuação médica, do ponto de vista da moral, deve priorizar o alívio do sofrimento.
A aplicação dos princípios éticos – beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça – deve
ser realizada numa sequência de prioridades. Dessa forma, é importante observar que os
princípios da beneficência e da não-maleficência são prioritários sobre os da autonomia e da
justiça.

Neste sentido, a atitude do profissional de saúde relactivamente a este ponto, deve ser aquela
que está baseada aos princípios estabelecidos pelos princípios éticos. Assim, a todo o
profissional de saúde que de alguma maneira desrespeitar os preceitos que condenam a prática
da eutanásia estará sujeito as sanções previstas por lei.

4.4. Aborto (Interrupção da gravidez)

Segundo os dados disponíveis a nível global, a cada 9 minutos morre uma mulher em
consequência de complicações de um aborto clandestino. A maioria destas mulheres são de
países mais pobres, nomeadamente de países africanos. É por isso que a OMS e as Nações
Unidas consideram que o aborto clandestino e inseguro é um problema de saúde pública.

A penalização e criminalização do aborto não impede nem faz diminuir o número de abortos,
antes promove o aborto clandestino e inseguro, aumentando a mortalidade e a morbilidade
maternas. Isto aconteceu em Angola e acontece em todos os países que restringem o acesso aos
cuidados de aborto legal e seguro. Tal situação é particularmente gravosa nos países em que a

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pobreza e a desigualdade social tornam mais difícil o acesso aos cuidados de saúde e,
especificamente, aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva.

Por tudo isto, um crescente número de países, em todo o mundo, tem progressivamente optado
por mudanças legislativas que despenalizam e/ou descriminalizam o aborto, permitindo que as
mulheres que estão face a uma gravidez não desejada, a possam interromper em serviços
apropriados em condições de segurança e dignidade, e com o consequente acompanhamento
profissional, em particular, no domínio do planeamento familiar.

A APF (Associação para o Planeamento da Família) considera, por isso, que a recente
aprovação, pela Assembleia Nacional de Angola, da nova Lei do Código Penal, que penaliza
com prisão de quatro a dez anos a prática do aborto no país, constitui um enorme retrocesso, e
considera também que, tendo em conta a situação de enorme crise social vivida em Angola,
esta legislação irá seguramente repercutir-se num aumento de mortes maternas e outras
consequências nefastas para a saúde das mulheres angolanas.

4.4.1. Tipos de Aborto


Existem no ordenamento jurídico angolano dois tipos de aborto, nomeadamente:
1. Aborto consentido, nos termos dos números 3, 4 e 5 do Artigo 154.º do Código Penal
Angolano. É aquele em que a interrupção da gravidez é feita segundo o consentimento
da mulher grávida bem como nas situações em que por si só a mulher grávida
interrompe a gravidez sem por entanto ajuda de outra pessoa.
2. Aborto agravado, vem previsto no Artigo 155.º É aquele que acontece quando da
interrupção ou dos meios empregados resultar a morte ou uma grave lesão para o
corpo ou para a saúde da mulher grávida.

4.4.2. Legislação Angolana Sobre o Aborto

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA

ARTIGO 30.º
(Direito à vida)

O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável.

ARTIGO 31.º
(Direito a integridade pessoal)

1. A integridade moral, intelectual e física das pessoas é inviolável;


2. O Estado respeita e protege a pessoa e a dignidade humanas.

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CÓDIGO PENAL

ARTIGO 154.º
(Interrupção de gravidez)

1. Quem interromper a gravidez de uma mulher sem o seu consentimento é punido com
pena de prisão de 2 a 8 anos.
2. Na mesma pena incorre quem, sabendo que a mulher está grávida, exercer contra ela
actos de força ou violência e, desse modo, interromper a gravidez, mesmo não sendo esse o seu
propósito.
3. Quem, com o consentimento da mulher grávida, interromper a gravidez ou ajudar a
interrompê-la fora dos casos previstos no n.º 1 do artigo 156.º é punido com pena de prisão de
1 a 5 anos.
4. A mulher grávida que, por facto próprio, interromper a sua gravidez ou, de qualquer
modo, participar na interrupção ou consentir que terceiro a interrompa, fora dos casos previstos
no n.º 1 do artigo 156.º, é punida com pena de prisão até 5 anos.
5. Para os efeitos do presente artigo, é irrelevante o consentimento da mulher grávida
menor de 16 anos de idade ou da mulher portadora de anomalia psíquica ou quando o
consentimento for obtido por fraude, ameaça, violência ou coacção.

ARTIGO 155.º
(Interrupção de gravidez agravada)
1. As penas previstas nos n.os 1 e 2 do artigo anterior são aumentadas de um terço nos
seus limites, se em consequência da interrupção da gravidez ou dos meios empregados resultar
ofensa grave à integridade física ou a morte da mulher.
2. A agravação aplica-se também ao agente que se dedicar habitualmente à prática dos
factos descritos no n.º 3 do artigo anterior.

ARTIGO 156.º
(Extinção da responsabilidade e atenuação especial da pena)
1. Não há responsabilidade penal quando a interrupção da gravidez, realizada a pedido
ou com o consentimento da mulher grávida:
a) Constituir o único meio de remover o perigo de morte ou de lesão grave e
irreversível para a integridade física ou psíquica da mulher;
b) For medicamente atestado que o feto é inviável;
c) A gravidez resultar de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e a
interrupção se fizer nas primeiras 16 semanas de gravidez.
2. a verificação das circunstancias que excluem a responsabilidade pela interrupção da
gravidez é certificada por relatório médico, escrito e assinado antes da intervenção por médico
diferente daquele por quem, ou sob cuja direcção, a interrupção é realizada, sem prejuízo do
disposto no número seguinte.

Ética e Deontologia Profissional. Compilado por: João C. M. Chiloia, Lubango, 2021-2022 70


Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

3. Sempre que a circunstância prevista na alínea b) do n.º 1 não representar perigo de


vida ou de lesão grave e irreversível à integridade da mulher, a interrupção da gravidez depende
de autorização do magistrado competente.
4. Sem prejuízo dos números subsequentes, a extinção da responsabilidade penal nos
termos da alínea c) do n.º 1 Ministério Público sobre a pendência do processo correspondente,
acompanhada do exame do corpo de delito e de um relatório médico emitido pela autoridade
de saúde competente, que atestem que a gravidez resulte de violação da liberdade ou da
autodeterminação sexual da mulher.
5. A pena estabelecida no n.º 1 do artigo 154.º é especialmente atenuada quando:
a) A interrupção se mostrar indicada para evitar perigo de mal ou lesão grave e
duradoiros para a integridade física ou psíquica da mulher grávida e a interrupção
se fizer nas 16 semanas de gravidez;
b) Houver fortes razões para prever que o nascituro virá a sofrer de doença grave
ou malformação incuráveis e a interrupção se fizer nas primeiras 24 semanas de
gravidez.
6. Aos casos previstos nas alíneas a) e b) do número anterior aplica-se, com as necessárias
adaptações, o formalismo previsto no n.º 2.
7. Para efeitos de extinção da responsabilidade ou de atenuação especial da pena, a
interrupção de gravidez deve ser sempre realizada por médico ou sob a direcção de um médico
diferente daquele que atesta a respectiva viabilidade, em estabelecimento de saúde oficial e de
harmonia com o estado de conhecimentos e da experiência da medicina.
8. A falta do relatório médico ou dos demais documentos oficiais a que se referem os n.os
2, 4 e 6 afasta a extinção da responsabilidade ou a atenuação especial da pena, consoante os
casos.
9. Antes de proceder à interrupção da gravidez, deve o médico prevenir a mulher grávida
das respectivas implicações, procurando esclarecê-la e aconselhá-la por forma a que a sua
decisão possa ser tomada com maior consciência e responsabilidade.
10. O consentimento deve ser prestado em documento assinado pela mulher grávida ou,
não sabendo ou não podendo assinar, por outra pessoa a seu rogo, com uma antecedência de,
pelo menos, 3 dias relativamente à data da intervenção.
11. No caso de a mulher grávida ser menor de 16 anos ou sofrer de incapacidade psíquica,
o consentimento deve ser prestado pelo representante legal, por ascendente ou descendente ou,
na falta deles, por qualquer parente na linha colateral, respectiva e sucessivamente.
12. Não podendo o consentimento ser obtido nos termos do número anterior e sendo
urgente interromper a gravidez, o médico poderá decidir em consciência, face à situação
concreta que tem perante si, socorrendo-se ainda, sempre que lhe for possível obtê-lo, de
parecer de outro médico.

ARTIGO 157.º
(Propaganda favorável à interrupção de gravidez)
1. É punido com pena de prisão até 1 ano ou com a de multa até 120 dias, quem através
de meios publicitários ou em reuniões públicas, com o objectivo de obter vantagem:
a) Oferecer serviços próprios ou alheios, com vista à interrupção da gravidez;

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b) Fizer propaganda de procedimentos, meios ou objectos adequados à


interrupção da gravidez.
2. A proibição do número anterior não abrange as actividades destinadas a dar a conhecer
e a promover os procedimentos, objectos e meios nela referidos, através de artigos informativos
ou científicos ou outras publicações médicas ou farmacêuticas, nomeadamente prospectos
relativos a medicamentos ou instrumentos cirúrgicos, nem às explicações, dadas por quem os
quer comercializar, a médicos ou pessoal qualificado, nomeadamente enfermeiros de
estabelecimentos de saúde autorizados a interromper a gravidez, nos termos do artigo anterior.

ARTIGO 158.º
(Circulação de meios para interrupção de gravidez)
Quem receber ou transmitir, por qualquer título, meios destinados à interrupção da gravidez,
com a intenção de promover a prática dos factos previstos nos artigos 154.º e 155.º é punido
com pena de prisão até 1 ano ou de multa até 120 dias.

4.5. O Charlatanismo
Por que alguns profissionais de saúde se tornam charlatães?

É especialmente decepcionante quando um indivíduo treinado em ciências da saúde se volta à


promoção do charlatanismo. Amigos e colegas frequentemente se perguntam como isso pode
ocorrer. Algumas das razões parecem ser:

Tédio. O trabalho diário pode ficar monótono. Ideias pseudocientíficas podem ser excitantes.
O falecido Carl Sagan acreditava que as qualidades que tornam a pseudociência atraente são as
mesmas que tornam o empreendimento científico tão fascinante. Ele dizia: “Faço uma distinção
entre aqueles que perpetuam e promovem sistemas de crenças das fronteiras da ciência e
aqueles que os aceitam. Os últimos são frequentemente levados pela novidade dos sistemas e
o sentimento de introspecção e grandeza que propiciam”. Sagan lamentava o facto de que tantos
estão inclinados em optarem pela pseudociência quando a verdadeira ciência oferece tanto para
aqueles que estão dispostos a trabalharem por ela.

Baixa estima profissional. Profissionais que não são médicos e não acreditam que suas
profissões sejam suficientemente estimadas algumas vezes compensam isso ao fazerem
alegações extravagantes. Renegados da odontologia têm dito que “todas as doenças podem ser
vistas na boca do paciente”. Pediatras marginais alegam serem capazes de julgar a saúde
inteiramente pelo exame dos pés. Iridologistas apontam para o olho, quiropráticos a coluna,
auriculoterapeutas a orelha, enfermeiras registradas um alegado “campo energético humano”,

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etc. Até mesmo médicos não estão imunes de elevarem seu status pessoal pela presunção. Por
alegarem curar o cancro ou reverterem doenças cardíacas sem cirurgias de revascularização,
clínicos gerais podem se elevar acima de especialistas altamente treinados em oncologia ou
cardiologia. Por alegarem curar doenças que os médicos não podem, aqueles que curam pela
fé se elevam acima dos médicos na pirâmide social (médicos estão normalmente no topo da
pirâmide enquanto os religiosos vêm descendo nos tempos modernos). Psicólogos, médicos,
actores ou outros que se tornam “gurus” da saúde frequentemente se tornam os queridinhos da
imprensa popular.

Tendências paranormais. Na verdade, muitos sistemas de saúde são religiões higiênicas com
devoções profundas, crenças emocionalmente significativas sobre a natureza da realidade, da
salvação e do próprio estilo de vida. Quiropraxia, naturopatia, homeopatia, medicina
energética, toque terapêutico, cura pelos cristais e muitas outras estão enraizadas no vitalismo,
que foi definido como “uma doutrina na qual as funções de um organismo vivo são devido a
um princípio vital (“força vital”) distinto das forças físico-químicas” e “a teoria que as
atividades biológicas são dirigidas por uma força sobrenatural”. Os vitalistas não são apenas
não científicos, eles são anticientíficos, porque abominam o reducionismo, o materialismo e o
mecanicismo, processos causais da ciência. Preferem a experiência subjectiva ao teste
objectivo, e colocam a intuição acima da razão e da lógica. O vitalismo está ligado ao conceito
de uma alma humana imortal, o que também o conecta com ideologias religiosas.

Estado mental paranoide. Algumas pessoas são propensas a verem conspirações em todo
lugar. Essas pessoas podem facilmente acreditar que a colocação de flúor na água é uma
conspiração para envenenar os humanos, que o HIV/SIDA foi inventado e disseminado para
acabar com os africanos ou homossexuais e que a medicina organizada está escondendo a cura
para o cancro. Enquanto os indivíduos que reclamam a respeito de conspirações dirigidas
contra eles mesmos são frequentemente reconhecidos como doentes mentais, aqueles que
percebem as conspirações como dirigidas contra uma nação, uma cultura ou um modo de vida
podem parecer mais racionais. Percebendo suas paixões políticas como altruístas e patrióticas
intensificam seus sentimentos de justiça e indignação moral.

Choque com a realidade. Todos são vulneráveis à ansiedade da morte. O pessoal da saúde
que regularmente lida com pacientes com doenças terminais devem fazer ajustes psicológicos.
Alguns simplesmente não fazem isso. Uma investigação em clínicas charlatanescas de câncer

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

encontrou médicos, enfermeiros e outros que ficaram desiludidos com a assistência padrão
devido a dura realidade dos efeitos colaterais ou conhecimento das limitações das terapias
comprovadas.

Intromissão de crenças. A ciência é limitada por lidar com fenômenos observáveis,


mensuráveis e repetíveis. Crenças que transcendem a ciência caem nos domínios da filosofia e
religião. Algumas pessoas permitem que essas crenças se intrometam em sua actividade clínica.
Ao passo que podem exercer valores religiosos ou filosóficos da compaixão, generosidade,
misericórdia e integridade (que é o fundamento da busca pela verdade objectiva do método
científico), não é apropriado para profissionais da saúde permitirem que noções metafísicas
(sobrenaturais) substituam ou distorçam o diagnóstico, a prescrição ou procedimentos
terapêuticos científicos. Indivíduos que desejam trabalhar na área da crença religiosa deveriam
se dedicar a uma carreira diferente.

O motivo do lucro. O charlatanismo pode ser extremamente lucrativo. Alegar que se tem “o
melhor peixe” pode levar o mundo a bater na porta de quem alegou. Ganância pode motivar
profissionais da saúde que são empresários a deixarem os princípios éticos de lado.

O motivo do profeta. Como no Antigo Testamento os profetas clamavam por conversão e


arrependimento, os médicos têm que “converter” pacientes para que fiquem longe do fumo,
obesidade, estresse, álcool e outras indulgências. Como prognosticadores, os médicos predizem
o que vai acontecer se os pacientes não mudarem seus estilos de vida. O papel de profeta
propicia poder sobre as pessoas. Alguns médicos conscientemente evitam isso. Encorajam os
pacientes a serem autoconfiantes ao invés de dependentes, mas ao fazerem isso eles podem
fracassar em satisfazer necessidades emocionais importantes. Charlatães, por outro lado,
deleitam-se, encorajam e exploram esse poder. A egomania é comumente encontrada entre os
charlatães. Eles aproveitam a adulação e os discípulos que sua pretensa superioridade evoca.

Tendências psicopatas. Estudos da personalidade psicopatológica proporciona um “insight”


da psicodinâmica do charlatanismo. Dr. Robert Hare que investigou por mais de vinte anos,
afirma: “Você encontra psicopatas em todas profissões… o advogado chicaneiro, o médico que
está sempre na eminência de perder sua licença, o executivo que mexe os pauzinhos para que
seus sócios sempre percam”. Robert descreve os psicopatas como pessoas desprovidas de uma
capacidade para sentir compaixão ou de terem peso de consciência, e que exibem eloquência,
charme superficial, grandiosidade, mentira patológica, comportamento manipulativo/de

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vigarista, ausência de culpa, propensos ao tédio, falta de empatia e outras características


frequentemente vistas nos charlatães. De acordo com Hare, essas pessoas sofrem de um defeito
cognitivo que as impedem de experimentar simpatia ou remorso.

O fenômeno da conversão. A “lavagem cerebral” que os norte-coreanos usaram com os


prisioneiros de guerra americanos envolvia estresse ao ponto de produzir inibição e disfunção
protectora. Em alguns casos, o condicionamento positivo leva a vítima a amar aquilo que antes
odiava e vice-versa; e em outros casos, o cérebro parou de computar criticamente as impressões
recebidas. Muitos indivíduos que se tornaram charlatães enfrentam uma crise de meia idade,
divórcio doloroso, doença crônica ou outra experiência altamente estressante. A teoria da
conversão é apoiada por um estudo do motivo pelo qual médicos tem adoptado práticas
“holísticas”. De longe a razão mais mencionada (51,7%) foi “experiências espirituais ou
religiosas”.

Muitas pessoas – incluindo muitos profissionais da saúde, oficiais de justiça e juízes – mostram
uma atitude distinta em relação ao charlatanismo. Apesar da maioria rejeitar a ideia de que o
charlatanismo seja “uma tentativa válida” para uma pessoa doente, é importante consolidar e
mobilizar aqueles que compreendem o potencial de dano do charlatanismo.

UNIDADE – V: IMPORTÂNCIA DA DEONTOLOGIA EM


ENFERMAGEM.

5. IMPORTÂNCIA DA DEONTOLOGIA EM ENFERMAGEM.

5.1. Classificação da Deontologia Profissional


Para a área profissional de saúde, existem dois tipos de deontologia, nomeadamente: A
Deontologia dos profissionais de Enfermagem e Deontologia dos Médicos. No âmbito geral,
existem vários tipos de deontologia: Deontologia Médica, da Enfermagem, Engenheiros,
Educação, entre outras. No entanto, todas elas são compostas por normas jurídicas que visão
orientar a conduta destes profissionais.

5.2. Consciência Profissional (Dever e Moral)

Recomendamos reler o 3.1.3. deste material afim de poder entender melhor este ponto.

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5.3. Qualidades individuais do enfermeiro


Qualidades do Profissional de Enfermagem
Todo o técnico que trabalha na área da saúde, deve sim reunir virtudes indispensáveis para
melhor desempenho das suas funções:

1. Qualidades físicas, são aquelas que permitem uma resistência física eficiente e
conservar a saúde, tais como:
 Boa alimentação
 Bons hábitos de higiene
 Repouso
 Distracção e lazer
 Exercícios físicos
0. Qualidades Intelectuais, estas permitem um grau de ciência com o fim de torná-lo
mais seguro e apto nos seus conhecimentos científicos:
 Curiosidade intelectual
 Espírito de observação
 Saber exprimir-se (falar e escrever bem)

1. Qualidades morais, baseiam-se no sentido de responsabilidade que por base a


seriedade e cumprimento do dever:
 Perante o doente, deve respeitar e manter a individualização e prestar ao
doente toda a assistência
 Perante aos colegas de trabalho, deve sempre acatar, respeitar e cumprir as
responsabilidades que lhe forem incumbidas; e, não fugir à verdade, ter
sempre a coragem suficiente para confessar um erro cometido, que uma vez
cometido poderá causar graves consequências e se confessado de forma
antecipada, poderá evitar o perigo.
2. Qualidades espirituais:
 Respeitar sempre as crenças religiosas dos outros
 Não criar obstáculos ao conforto espiritual do paciente (doente)
 Servir de intermediário entre o doente e o serviço religioso (caso ele peça ou
necessite)
3. Qualidades técnicas, o técnico de saúde, deve cultiva a agilidade manual, a
delicadeza, de modo a ter bons êxitos nos trabalhos:
 Leveza e precisão nos movimentos são essenciais para ser um bom enfermeiro

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 Limpeza e ordem,

5.4. Deveres e Direitos do trabalhador de saúde


Quanto aos direitos e deveres do trabalhador de saúde, aplicam-se os previstos pelo Código de
Ética e Deontologia dos Profissionais Enfermagem (Artigos 7º, 9º e 11º), bem como os
previstos pela Lei Geral do Trabalho (Direitos artigo 43º; Deveres 44º)

5.5. Deveres e Direitos do paciente


Além dos direitos deveres previstos pela Constituição da República de Angola e outros
diplomas vigentes no ordenamento Jurídico angolano, enquanto cidadão normal (comum),
enquanto paciente, o cidadão tem também direitos e deveres que muitos acabam coincidindo
com os estabelecidos pela lei. Assim vale aqui citar alguns desses direitos e deveres dos
cidadãos enquanto pacientes (doente) e utentes dos centros hospitalares:

Direitos:

a) O paciente tem direito de ser identificado pelo nome e sobre nome: durante a realização
de procedimentos, tem direito de ter o seu nome e data de nascimento confirmados
pelos profissionais;
b) O paciente tem direito a informações claras, simples e compreensivas a respeito das
acções diagnósticas e terapêuticas, e o que pode decorrer delas, bem como a previsão
da duração do tratamento;
c) O paciente tem direito a qualquer instante de consentir ou recusar procedimentos
diagnósticos ou terapêuticos a serem realizados como parte do tratamento proposto;
d) O paciente tem direito de receber toda a informação sobre os medicamentos que lhe
serão administrados;
e) Direito de ser informado sobre a procedência do sangue ou hemoderivados para a
transfusão, bem como a comprovação das sorologias efectuadas e a sua vitalidade.
f) Direito a manter a sua privacidade, com atendimento adequado e conduta profissional
que resguarde essa privacidade;
g) O paciente acima de 60 anos e/ou com dependência física e/ou psíquica, tem direito à
permanência em tempo integral de um acompanhamento durante o tratamento em
regime de internação;

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h) Direito de ter respeitada a sua crença espiritual e religiosa e de receber ou recusar


assistência moral, psicológica, social e religiosa;
i) Direito de ser ouvido por meio de um canal directo de comunicação, sendo suas
queixas, críticas e/ou elogios encaminhados aos sectores responsáveis. Quando
apresentar alguma reclamação, esta deverá ser averiguada, com retorno ao
paciente/acompanhante.

Deveres:

a) O paciente ou seu responsável legal tem o dever de dar informações precisas, completas
e acuradas sobre o histórico de saúde, doenças previas, medicamentos em uso,
procedimentos médicos anteriores e outros problemas relacionados à sua saúde;
b) Tem o dever de informar as mudanças inesperadas do seu estado de saúde actual aos
profissionais responsáveis pelo seu tratamento;
c) Dever de confirmar o entendimento das acções que estão sendo efectuadas ou
propostas, visando à cura dos agravos à sua saúde à prevenção das complicações ou
sequelas, à sua reabilitação e promoção da sua saúde, fazendo perguntas sempre que
tiver dúvidas;
d) Dever de seguir as instruções recomendadas pela equipe multiprofissional que o assiste,
sendo responsável pelas consequências da sua recusa;
e) Dever de indicar o responsável financeiro pelo seu tratamento hospitalar, informando
ao hospital quaisquer mudanças nessa indicação;
f) Dever de respeitar os direitos dos demais pacientes, acompanhantes, funcionários e
prestadores de serviço da instituição;
g) O paciente/acompanhante, não devem manusear qualquer equipamento utilizado no
auxílio à assistência;
h) Dever de participar do seu plano de tratamento e alta hospitalar ou indicar quem possa
fazê-lo;
i) Dever de atender e respeitar a proibição de fumo nas dependências do hospital,
extensivo aos seus acompanhantes, conforme a legislação vigente;
j) Dever de zelar pelos seus pertences de valor durante a sua permanência no hospital.

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5.6. Objectivos de protecção dos bens públicos

5.6.1. A Vida

Proteger a vida é um princípio geral no agir de todo o enfermeiro. É relevante o facto de


tomarmos conta da vida. Estudos recentes feitos por especialistas em saúde e direitos humanos,
defendem que já é hora de talvez num princípio de protecção da vida, e não «direito à vida»
porque este, sendo um direito, seria ele mesmo fundamentado num princípio ético. Princípio
este que proclamaria o valor da vida e a exigência ética da protecção da vida. Sendo assim,
percebemos que proteger a vida pode ser feito de várias formas.
 Protejo a vida, quando actuo no sentido de prevenir que ela esteja em risco ou venha a
poder ser colocada em causa.
 Protejo a vida, quando ela está ameaçada e intervenho com cuidados de reparação.
 Protejo a vida quando coloco taipais de protecção em redor de andaimes, para evitar
que quem vai a passar se magoe.
 Sigo o mesmo princípio, quando lavo as mãos ou quando asseguro o bom
funcionamento dos equipamentos.

De que vida se trata? Do ponto de vista ético, da vida humana.

Que tem, ela mesma, condições de ambiente para existir. Por isso, protecção da vida humana.
Mas também protecção do ambiente, dos meios necessários à vida. É para proteger a vida que
se deve proteger a água, por exemplo.

5.6.2. A Saúde

O direito à saúde literalmente entendido seria um estranho e curioso direito, que ninguém
poderia assegurar e, portanto, ninguém poderia ter como dever. Por isso, o direito reporta a
cuidados de saúde com o correlativo dever de desenvolver esforços tendo em vista a
recuperação da saúde, a prevenção da doença ou a reabilitação e reinserção das pessoas.

Realmente, não se consegue assegurar o (desejável) fim de garantir um determinado nível e


saúde e existem inúmeros factores que aqui intervêm (sejam eles pessoais, sociais, culturais ou
organizacionais). O direito a cuidados de saúde é uma exigência primária do direito à vida.

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Portanto, reconhecemos que a protecção da saúde não basta como princípio pois «tomar
conta da vida humana» acompanha para lá dos limiares onde a protecção da saúde é possível
e acompanha nos processos de morrer, temos de recuar um pouco mais e equacionar um
princípio ético, que se coloque antes das normas e das leis, e que estas dele derivem.

5.7. Responsabilidade Profissional


A responsabilidade profissional do enfermeiro está intimamente ligada aos princípios
estabelecidos pelo Código de Ética e Deontologia dos Profissionais de Enfermagem bem como
pelas atitudes profissionais já mencionadas no capítulo anterior a este, pelo que recomendamos
consulta-los para melhor compreensão.

A responsabilidade é inerente ao papel assumido perante a sociedade, portanto, decorre e é


consequente de um compromisso profissional de cuidado humano, que é, em nosso entender,
anterior ao pacto de cuidado, concreto, que estabelecemos no dia a dia.

A assunção de um pacto decorre de um contacto estabelecido habitualmente, por parte das


pessoas que recorrem aos enfermeiros (directamente ou indirectamente, através dos serviços
de saúde) podendo igualmente acontecer que seja o enfermeiro a estabelecer o contacto (em
situações de saúde comunitária, saúde escolar ou no trabalho, entre outros). E em cada contexto
e de acordo com modalidades diferentes, o pacto de cuidado reveste-se de formas diversas,
podendo ir do serviço público ao privado, ao regime liberal e até voluntariado.

Julgamos que o pacto posterior ao compromisso, pois é necessário que o enfermeiro seja
enfermeiro (isto é, tenha um título profissional) e tenha assumido a responsabilidade de prestar
cuidados de enfermagem, de acordo com determinados standards, previamente a estar em
situação efectiva de contrato ou de prestação de serviço. Assim, a precedência claramente do
compromisso sobre o pacto. Assim, o enfermeiro compromete-se a cuidar profissionalmente
das pessoas, em termos abstractos.

UNIDADE VI – HIGIENE SANITÁRIA


6. HIGIENE SANITÁRIA

A higiene e limpeza ambiental é um dos pilares da prevenção e controle de infecções


relacionadas a assistência à saúde. As rotinas de limpeza e desinfecção ambiental são

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ferramentas indispensáveis para a prevenção da disseminação de microrganismos resistentes


no ambiente hospitalar.
O termo higiene é utilizado para expressar um conjunto de factores que visam a preservação
da saúde no ambiente de trabalho. A higiene é utilizada no sentido de evitar doenças. Daí ser
muito comum a expressão: “Segurança e Higiene Ocupacional” ou também “Segurança e
Higiene do Trabalho”.

Higiene, é o conjunto de medidas que tomamos para eliminar a sujeira que pode causar doenças
infecciosas (BEJGLE, 2001).

As técnicas de higienização e sanitização envolvem a soma da limpeza (onde retiramos a


sujeira visível e invisível) que é a redução e eliminação dos micróbios ou microrganismos.

Mas o que são micróbios ou microrganismos?

São seres vivos impossíveis de serem observados a olho nu (só podem ser vistos através de
microscópios), e podem ser classificados em fungos, protozoários, vírus e bactérias. Podem ser
encontrados em grandes quantidades, por toda parte: nos seres humanos, na água, no solo e até
no ar, podendo causar gripes, infecções, diarreias e verminoses. A falta e as falhas de limpeza
ambiental podem induzir a ocorrência de surtos, em especial os que são relacionados a
microrganismos com alta sobrevivência em superfícies secas. Durante a investigação
epidemiológica é fundamental a etapa de observação local a fim de identificar se ocorre falha
sistemática na limpeza que possa estar relacionada a ocorrência do surto.

Eventualmente, os surtos podem ser consequência de uma combinação prejudicial de


superfícies ambientais degradadas (que acumulam maior sujidade), falhas sistemáticas de
limpeza e utilização de produtos inadequados.

Higiene e saúde são medidas que não substituem os cuidados individuais, de higiene,
distanciamento e etiqueta respiratória, mas que reforçam as condições de higiene pública e o
bem-estar e tranquilidade dos utilizadores desses espaços (SILVA,2002)

6.1. Biossegurança: Conceitos

A palavra biossegurança é uma denominação abrangente da segurança das práticas e


procedimentos que envolvem organismos vivos. Etimologicamente a palavra biossegurança é

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composta por duas palavras bio = vida + segurança que significa garantia. Assim, pode ser
vista como garantia, como sinal para assegurar a vida, e a saúde (Andrade et al., 2018).

Biossegurança é um conjunto de medidas de segurança direccionadas para acções de prevenção


minimização ou eliminação de risco inerentes a actividade de pesquisa, produção de ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde do
homem, dos animais e do meio ambiente ou a qualidade de trabalhos desenvolvidos (Santos e
Ribeiro, 2017)

Acidente de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício de trabalho á serviço de uma empresa,
provocando lesão corporal, perturbação funcional, causando morte e perda ou redução
permanente ou temporária da capacidade para o trabalho (Santos e Ribeiro, 2017).

Agente de risco é qualquer componente de natureza física, química, biológica e radioactiva que
possa vir a comprometer a saúde do homem, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos
desenvolvidos (Idem).

Riscos biológicos é a probabilidade de ocorrerem danos ou agravos à saúde humana, animal


ou meio ambiente decorrentes da exposição a agentes ou materiais considerados perigosos do
ponto vista biológicos, como bactérias, fungos, vírus, parasitas (Idem).

6.2. Ambientes hospitalar como fonte de risco para os profissionais de saúde

Para Bulhões (1998), o termo hospital etimologicamente lembra hospitalidade e tem como um
dos seus principais objectivos a recuperação da saúde. Entretanto, ele nos faz reflectir sobre os
inúmeros problemas (riscos) existentes nesse meio ambiente para aqueles que buscam ali a
recuperação da sua saúde, mesmo que permanecendo hospitalizado por alguns dias apenas e,
sobretudo, para os profissionais de saúde que se expõe ano após ano, actuando nesse ambiente
nocivo. Ainda segundo o mesmo autor a exposição desses profissionais aos agentes nocivos é
ampla, pelo facto de o hospital ser seu local de trabalho.

Riscos ocupacionais: probabilidade de ocorrerem acidentes ou agravos à saúde ou a vida do


trabalhador, decorrentes de condições inadequadas durante a sua actividade de trabalho
(Robazzi e Marziale, 1999).

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6.2.1. Tipos de riscos ocupacionais:


 Latente: nesta modalidade o risco só se manifesta e causa danos em condições de stress.
O trabalhador sabe que está correndo risco, mas as condições de trabalho o forçam a
isto.
 Real: conhecido por todos mas sem possibilidade de controle, quer por inexistência de
soluções para tal, quer pelos altos custos exigidos, ou ainda por falta de vontade política.

6.3. ELEMENTOS DA UNIDADE DO PACIENTE

A Unidade de um paciente é o conjunto de espaços e moveis destinados a cada paciente; ou


seja é um lugar restrito que geralmente oferece condições favoráveis que auxiliam na
recuperação do paciente.
Os componentes da unidade do paciente diferem de hospital para hospital, mas basicamente,
consta de:

 Cama (leito)
 Banca
 Cadeira
 Mesa de refeição
 Arrastadeira (pinico)
 Biombo (cortinados)
 Suporte de soro
 Oxigénio

A disposição dos moveis acima, deverão ser de maneira que permita boa circulação ao
redor.

6.4. EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO INDIVIDUAL

Segundo a Comissão de Biossegurança (2015), os equipamentos de protecção individual (EPI)


são elementos de contenção de uso individual utilizados para proteger o profissional do
contacto com agentes biológicos, químicos e físicos no ambiente de trabalho. Servem, também,
para evitar a contaminação do material em experimentação ou em produção. Desta forma, a
utilização do equipamento de protecção individual torna-se obrigatória durante todo

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atendimento/procedimento. Os equipamentos de protecção individuais e colectivos são


considerados elementos de contenção primária ou barreiras primárias. E podem reduzir ou
eliminar a exposição da equipa, de outras pessoas e do meio ambiente aos agentes
potencialmente perigosos.

Para o desenvolvimento de práticas seguras de biossegurança, é indispensável conhecer e


compreender os equipamentos de protecção individual (EPI´s) de trabalho, qualificando os
trabalhadores afim de utilizá-los de forma adequada no desempenho de suas actividades
profissionais. Em geral, podem ser classificados como EPI´s todos os objectos que tenham
como objectivo prevenir ou limitar o contacto entre o trabalhador e o material infectante
(Andrade et al., 2018).

A maior parte dos EPI´s, se usados apropriadamente, promove um controlo da disseminação


de agentes infecciosos no ambiente hospitalar, dentre eles destacam:

Luvas

As luvas devem ser utilizadas para prevenir a contaminação da pele, das mãos e antebraços
com material biológico, durante a prestação de cuidados e na manipulação de instrumentos e
superfícies. Deve ser usado um par de luvas exclusivo por usuário, descartando-o após o uso.
O uso das luvas não elimina a necessidade de lavar as mãos. A higienização das mãos deve ser
realizada antes e depois do uso das luvas, uma vez que estas podem apresentar pequenos
defeitos, não aparentes ou serem rasgadas durante o uso, provocando contaminação das mãos
durante a sua remoção. Além disso, os microorganismos multiplicam-se rapidamente em
ambientes húmidos.

Tipos de luvas

a) Luvas de látex (Luvas de procedimentos)

Contacto com membranas mucosas, lesões e em procedimentos que não requeiram o uso de
luvas estéreis.

b) Luvas de látex estéreis (Luvas Cirúrgica)

Procedimentos cirúrgicos

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c) Luvas de vinil

Não contem látex, são transparentes são antialérgicas

d) Luvas de borracha
 Para a execução de serviços gerais, tais como: processos de limpeza de instrumentos e
descontaminação;
 Essas luvas podem ser descontaminadas por imersão em solução de hipoclorito a 0,1%
durante 12h;

Máscara

É o EPI indicado para a protecção das vias respiratórias e mucosa oral durante a realização de
procedimentos com produtos químicos e em que haja possibilidade de respingos ou aspiração
de agentes patógenos eventualmente presentes no sangue e outros fluidos corpóreos.

Tipos de máscaras

Mascara de TNT (Tecido Não Tecido)

É material inerte e que funciona como barreira contra passagem de microrganismos. A


eficiência de retenção bacteriana é de 99,8%.

Máscara N95

Serve para a protecção das vias respiratórias em ambientes hospitalares, e prevenção de


disseminação de alguns agentes de transmissão por via respiratória microbacterium
tuberculosis, o vírus do sarampo, Gripe do tipo A.

Óculos de segurança

Quando há possibilidade de respingo de sangue ou líquidos, corporais potencialmente


infectantes a atingirem a face do profissional de saúde são usados os óculos como EPIs
(Pianucci, 2010).

Avental

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Quando há possibilidade de contacto, da pele ou roupas do profissional de saúde com sangue


ou líquidos corporais potencialmente infectados. Devem ser utilizados durante os
procedimentos com possibilidade de contacto com material biológico, inclusive em superfícies
contaminadas (Idem).

Calçado fechado

É usado para protecção dos pés em locais húmidos ou com quantidade significativa de material
infectante (p. ex. centros cirúrgicos, áreas de necrópsia e outros). Pro-pés, habitualmente
compostos por material permeável, usados com sandálias e sapatos abertos não permitem
protecção adequada (Idem).

Higienização das mãos

Segundo ANVISA (2005), é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para
prevenir a propagação de infecções relacionadas a assistência á saúde. Recentemente o termo
“lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido a maior abrangência
deste procedimento. O termo engloba higienização simples, higienização anti-séptica, e a anti-
sépsia cirúrgica das mãos.

Ainda de acordo com esta instituição, a higienização das mãos tem como finalidades:

 Remoção de sujidade, suor, oleosidade, células descamativas, e da macrobiota da pele


interrompendo a transmissão de infecções veiculada ao contacto.
 Prevenção e redução das infecções cruzadas.

6.5. ACTUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CONTROLO E PREVENÇÃO DE


INFECÇÕES HOSPITALARES

As infecções hospitalares (IH) surgem com o aparecimento dos primeiros hospitais, por volta
do ano 330 (a.C.) no Império Romano. No Brasil o surgimento dos primeiros dados pertinentes
à ocorrência de IH, datam do século passado, na década de 50, época que se utilizava o termo
“contaminação hospitalar (Oliveira e Maruyama, 2008).

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De acordo com Andrade (2018), a actuação do enfermeiro em relação à infecção hospitalar,


visa o melhor funcionamento do controlo da infecção. Neste sentido, o enfermeiro tem um
importante e fundamental papel, tendo como prioridades as seguintes funções:

 Reduzir a incidência e gravidade das infecções hospitalares, com finalidade aprimorar


o processo de atendimento e seus resultados;
 Estimular a aderência dos profissionais do hospital ao programa de controlo de
infecção;
 Estabelecer o padrão epidemiológico das infecções hospitalares;
 Realizar investigação epidemiológica de surtos hospitalares;
 Desenvolver boas acções da prática profissional;
 Estimular o desenvolvimento de pesquisas; trabalhar junto a sua equipa de
enfermagem para executar serviços de qualidade, visando minimizar ao máximo o
processo de infecção hospitalar.

6.6. LEGISLAÇÃO ANGOLANA SOBRE SEGURANÇA, HIGIENE E


SAÚDE NO TRABALHO.

O Governo de Angola, através do seu órgão reitor, o Ministério da Administração Pública,


Emprego e Segurança Social (MAPESS) estabeleceu por meio do Decreto número 31/94 de 05
de Agosto, contigo no Diário da República nº 31, I série, um conjunto de normas e
regulamentos, com objectivos de prevenir os acidentes de trabalho, as doenças profissionais e
qualquer outro atentado a integridade física e a saúde do trabalhado. Essas directrizes
reconhecem como tarefa do estado: orientação às empresas para a redução dos riscos inerentes
aos ambientes de trabalho, extensiva a todas empresas estatais, mistas, privadas e cooperativas.
Em relação a organização desses serviços orienta que, todas as empresas contidas neste decreto
e que empreguem um número igual ou superior a 50 trabalhadores, ou aquelas com um elevado
índice de risco, devem criar e organizar o serviço de segurança e higiene no trabalho e dotá-lo
de técnicos necessários, com vista a desenvolver as actividades preconizadas no referido
diploma (Angola, 1994).

Para efeitos de sua aplicação, estabeleceu em seu Artigo nº 3 Capítulo I, conceitos sobre saúde
no trabalho, prevenção, risco, acidente de trabalho, doença profissional, entre outros,
definindo-os assim:

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- Saúde no trabalho - não é só a ausência de doença ou mal-estar, ela abarca também os


elementos e mentais que afectam a saúde estando directamente relacionados a segurança e
higiene no trabalho;

- Prevenção: é o conjunto das disposições ou medidas tomadas ou previstas em todas as


fases da actividade da empresa tendo em vista evitar ou diminuir os riscos profissionais.

- Riscos: é a combinação da probabilidade, e da gravidade de aquisição de uma lesão ou


de dano para a saúde, de acordo com a causa e o efeito o momento e a circunstância da sua
ocorrência;

- Acidente no trabalho: é o conjunto súbito que ocorre no exercício da actividade laboral a


serviço da empresa e que provoca no trabalhador lesão ou danos corporais de que resulte
incapacidade parcial ou total, temporária ou permanente para o trabalho ou a morte;

- Doença profissional: é alteração da saúde patologicamente definida, gerada por razões de


actividade laboral nos trabalhadores que, de forma habitual, se expõe a factores que
produzem doenças, presentes no meio ambiente de trabalho ou em determinadas profissões
ou ocupações.

6.7. ACIDENTES NO TRABALHO


A equipe de enfermagem é formada por profissionais de nível superior e de nível técnico. Eles
desempenham funções específicas e previamente determinadas pela legislação da categoria a
que pertencem. A equipe é composta pelo profissional enfermeiro, técnico de enfermagem e
auxiliar de enfermagem.

Os profissionais de enfermagem estão expostos a riscos ocupacionais e físicos, químicos,


ergonômicos, psicossociais e biológicos (NAPOLEÃO et al, 2000).

Situações de risco observadas no ambiente de trabalho onde atua o profissional de enfermagem


podem tornar-se nocivas, podendo causar sofrimento, lesão, doença ou afetar o bem-estar do
trabalhador. Sabe-se que a gravidade dessas lesões depende de sua intensidade, do tempo de
contato com os agentes causadores ou da susceptibilidade de cada pessoa (OPAS, 2010).

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Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço do órgão, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho (TORGAN,2016).

6.7.1. TIPOS DE ACIDENTE DO TRABALHO


a) Acidente Típico (é o que ocorre na execução do trabalho);

b) Acidente de Trajecto (é o que ocorre no percurso da residência para o trabalho ou


vice-versa);

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Material de Apoio: 10ª Classe, Curso de Formação de Técnicos de Saúde.

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Constituição da República de Angola
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