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XXV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2016

ESTIMULADOR ELÉTRICO FUNCIONAL UTILIZANDO PONTE H NO


ESTÁGIO DE POTÊNCIA
J.E. Blanco, F.R. Castro, L.H.V. Felão, M. F. R. Urban, R. Gaino, M.A.A. Sanches e A.A. Carvalho.

Universidade Estadual Paulista


Departamento de Engenharia Elétrica/FEIS – UNESP, Ilha Solteira, Brasil.
E-mail: jorgeblanco@dee.feis.unesp.br

Resumo: Implementou-se um estimulador elétrico fun- que regula as funções vitais como a pesão sanguínea,
cional para uso na reabilitação de pacientes hígidos e batimento cardíaco, temperatura corporal e processos
paraplégicos e que não necessita de alimentação simé- digestivos [3], a FES é apresentada como um método
trica. O equipamento é constituído por dois estágios, o artificial para ativar os sistemas sensoriais motores
formador de onda, no qual se define os parâmetros do depois de lesões medulares. [4] [5]
sinal de estimulação, e o de potência. No formador de Uma técnica que tem sido utilizada para auxiliar no
onda foi utilizado uma placa Raspberry pi e uma inter- restabelecimento e manutenção de funções motoras é a
face de usuário, desenvolvida em Python. No de potên- estimulação elétrica funcional (Functional Electrical
cia utilizou-se um espelho de corrente e um circuito Stimulation - FES). Consiste na aplicação de pulsos
com ponte H para gerar um sinal bifásico. Com o esti- elétricos nos nervos e/ou músculos com o objetivo de se
mulador implementado gerou-se correntes com forma obter contração muscular [6] [7] [8]. Há relatos na
de onda retangular, amplitude de até 120 mA e caracte- literatura de bons resultados com a utilização de FES
rísticas adequadas para utilização na reabilitação dos em paraplégicos [1] [9] [10], e [11].
membros inferiores e superiores de pacientes. Neste trabalho, o objetivo foi a implementação de
Palavras-chave: Estimulador elétrico funcional, FES, um estimulador elétrico funcional, utilizando ponte H,
Ponte H, Espelho de corrente, Raspeberry pi. para gerar sinais elétricos bifásicos e balanceados, sem
necessidade de utilizar alimentação simétrica [12], [13].
Abstract: A functional electrical stimulator for use in
the rehabilitation of paraplegic and healthy patients was Materiais e métodos
implemented. It does not need symmetrical power sup-
ply. The equipment consists of two stages, the wave O sistema foi divido dois estágios, o gerador de onda
generator, which defines the stimulation signal parame- e o de potência.
ters, and the power stage. In the wave generator we have
used a Raspberry Pi board and a user interface, devel- Estágio Gerador de Onda – Este estágio é
oped in Python. In the power stage we have used a cur- responsável por gerar os parâmetros do sinal de
rent mirror and an H-bridge circuit to generate a bipha- eletroestimulação como frequência, largura de pulso e
sic signal. With the implemented stimulator currents interpulso. Estes parâmetros são gerados a partir de
with rectangular waveform, range of up to 120 mA, and sinais secundários, que vão compor o sinal de
suitable characteristics for using in rehabilitation of the eletroestimulação desejado. Os sinais secundários foram
lower and upper limbs of patients were generated. definidos como s1, s2 e s3. Na Figura 1 estão ilustrados
Keywords: Functional Electrical Stimulator, FES, H- os respectivos sinais.
Bridge, Current mirror, Raspeberry pi.
Tensão

Introdução
s1
A lesão medular pode ser causada por doenças que
afetam o tecido neurológico da coluna vertebral, esta
doença é frequentemente irreversível e pode resultar na
tem po
s2
perda total o parcial das funções motoras, no mundo
cerca de 90 milhões de pessoas têm esta doença, e a
cada ano aproximadamente 85 mil outras sofrem algum tem po

trauma culminado em lesão medular [1]. Segundo o S3

IBGE, haviam no Brasil 13.273.969 pessoas com


alguma deficiência motora, mas não os classificou em Ton Ton tem po

grupo e número de hemiplégicos, paraplégicos e T

tetraplégicos [2]. Ip

A lesão medular perturba o sistema nervoso autônomo Figura 1: Sinais secundários s1, s2 e s3.
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Os sinais s1 e s2 fazem o chaveamento da ponte H, valor máximo, valor este determinado com base em
desta forma será responsável pela frequência do sinal, equipamentos comerciais.
duração do pulso e também pelo sentido da corrente do
sinal de eletroestimulação. O intervalo entre este Estágio de Potência –É composto por um conversor
chaveamento formará o interpulso (Ip), onde neste tensão corrente (V-I), um espelho de corrente de Wilson
momento não circulará corrente na carga, uma vez que e uma ponte H. Neste estágio é definido se o
ambas as chaves estarão abertas. estimulador será de tensão ou corrente, onde neste
O sinal s3 é responsável pelo acionamento da trabalho, optou-se pelo estimulador elétrico funcional de
corrente que será aplicada na carga. Na Figura 2 mostra- corrente. Sua implementação é mais complexa, mas tem
se o diagrama de blocos do equipamento com as a vantagem de controlar e prever a quantidade de
aplicações dos sinais secundários. corrente aplicada ao músculo, mesmo com uma variação
na impedância eletrodo-pele [4].

Conversor tensão corrente – O sinal de saída do


circuito lógico é de tensão e, como neste trabalho optou-
se pelo estimulador de corrente, houve a necessidade de
converter o sinal de tensão, gerado pela Raspberry, em
um sinal de corrente, utilizando-se um conversor V-I
(tensão corrente), que é controlado pelo sinal s3 com
retroalimentação negativa [4] [14], como ilustrado na
Figura 4.
VCC

VCC
S3 +

Figura 2: Digrama em bloco dos sinais secundários. VDD

Iref

Resistência
Os sinais secundários são gerados por um programa
desenvolvido em uma placa Raspberry pi, modelo B.
Possui um processador Broadcom BCM2835 ARM11 a
700 MHz, 512 Mb de RAM e 26 pinos de propósito
geral I/O. Tem praticamente as características de um
computador em uma placa do tamanho de um cartão de Figura 4: Conversor tensão corrente.
crédito.
O sistema operacional utilizado é o Linux-Debian, O conversor é formado por um amplificador
que possibilita a utilização de linguagens de operacional, LF353, um transistor, MPS42, um resistor
programação, manipulação dos recursos de hardware e a de 22Ω e um potenciômetro de 100 Ω. A corrente será
criação da interface de usuário. imposta pela tensão de s3 sobre a resistência.
Para fazer a interface com o usuário visando à
escolha dos parâmetros de eletroestimulação, como Espelho de corrente de Wilson – É constituído por
mostrada na Figura 3, foi desenvolvido um programa três transistores (Q1, Q2, Q3), ambos MPS92. A
em Python. corrente imposta no ramo de Q1 é refletida no outro
ramo do espelho, onde estão Q2 e Q3 (Figura 5). Esta é
a corrente de saída do circuito que será aplicada na
carga.

Figura 3: Interface de usuário desenvolvida em Python.


Figura 5: Espelho de corrente de Wilson.
Com esta interface o usuário pode selecionar os
parâmetros de eletroestimulação, como largura de pulso, Desta forma, mesmo que houver uma variação da
interpulso e frequência. Cada parâmetro deste tem um impedância entre o eletrodo e a pele, a corrente desejada
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será aplicada, pois independe desta impedância. Para


sanar o problema do descasamento dos foram inseridos
os resistores R1 e R2, ambos de 220Ω, nos ramos do
espelho.
Ponte H – No estágio de potência foi utilizada a
estrutura de ponte H, com MOSFETs IRF744, para
formar o sinal de eletroestimulação bifásico, a partir de
apenas uma fonte de alimentação contínua (DC)
positiva. Este circuito possui duas etapas de
funcionamento, na primeira, fecham-se as chaves S1,
ativadas pelo sinal secundário s1, permitindo a
passagem de corrente na carga em um sentido, e na
segunda etapa, fecham-se as chaves S2, ativadas pelo
sinal secundário s2, permitindo agora a passagem da Figura 8: Sinais secundários mostrados na tela do
corrente na carga no sentido contrário ao anterior. osciloscópio.
Na Figura 6 mostra-se os sentidos das correntes nas
O interpulso não fica evidente nesta imagem devido
duas etapas de chaveamento.
a divisão horizontal estar em 250μs/div e o mesmo ter
10μs.
Na Figura 9 tem-se o sinal de saída do
eletroestimulador aplicado a uma carga resistiva de
1KΩ.

Figura 6: Sentidos das correntes na carga.

Fonte de alimentação – O circuito é alimentado por


uma bateria de 12V e para obter a tensão de 140V,
utiliza-se um conversor flyback.
Figura 9: Sinal de saída do eletroestimulador.
Resultados
Foi gerado um sinal com frequência de 50Hz, largura de
Primeiramente foram realizadas simulações dos pulso de 500μs/div, 10μs de interpulso e amplitude de
sinais secundários s1 (verde), s2 (vermelho) e s3 (azul), 120mA.
para uma eletroestimulação com largura de pulso de
500µs e interpulso de 10µs. O resultado das simulações Discussão
é mostrado na Figura 7.
O circuito desenvolvido tem a capacidade de gerar
um sinal de FES, bifásico, simétrico e balanceado, sem
a necessidade de utilizar fonte simétrica.
Nas Figuras 10 e 11, tem-se o sinal gerado por um
equipamento comercial, modelo Neurodyn II, e do
eletroestimulador desenvolvido no LIEB [4] em uma
carga de 1kΩ.

Figura 7: Simulação dos sinais secundários.

Na Figura 8 pode-se observar a resposta


experimental dos sinais secundários, vista na tela do
osciloscópio Agilent MSO703B, sendo o sinal s1
(amarelo), s2 (verde) e s3 (violeta).
Figura 10: Sinal do eletroestimulador comercial.
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[6] C. U. Faria, Implementação de um sistema de


geração de marcha para pacientes com lesões
medulares, Ilha Solteira: FEIS - UNESP , 2006.
[7] C. U. Faria, "Implementação de um sistema de
geração de marcha para pacientes com lesões
medulares," Tese (Doutorado em Engenharia
Elétrica), 2006.
[8] R. Downey, M. Bellman, H. Kawai, C. Gregory
and W. Dixon, "Downey, R.J. and Bellman, M.J.
and Kawai, H. and Gregory, C.M. and Dixon,
W.E," Neural Systems and Rehabilitation
Figura 11: Sinal do eletroestimulador do LIEB. Engineering, vol. 23, no. 6, pp. 964-972,
Novembro 2015.
Se comparado as Figuras 10 e 11, com Figura 9, [9] P. Martin, "Pesquisadores da Unicamp
verifica-se a obtenção de um sinal com as mesmas desenvolveram aparelhos para recuperar
características. O interpulso escolhido foi baseado paraplégicos," Jornal da Unicamp, pp. 57-61,
também em equipamentos comerciais. 1999.
Conclusão [10] L. Sugimoto, "Jornal da Unicamp," 2004.
[Online]. Available:
Foi aplicado neste circuito desenvolvido, os mesmos http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/
testes aplicados no equipamento comercial e nos julho2004/ju258pag12.html. [Accessed 04 Março
desenvolvido anteriormente pelo grupo. Nos testes 2016].
utilizaram-se cargas resistivas, antes de aplicar em um [11] A. Jarc, M. Berniker and M. Tresch, "FES Control
voluntário. of Isometric Forces in the Rat Hindlimb Using
Pode-se observar que o sinal gerado é um sinal Many Muscles," IEEE Transactions on
bifásico, pois as chaves da ponte H invertem a passagem Biomedical Engineering, vol. 60, no. 5, pp. 1422-
da corrente na carga, como mostrado nos resultados. 1430, Maio 2013.
O sinal gerado está pronto para a aplicado em [12] M. V. N. Junqueira, "Eletroestimulador funcional
voluntários, desde que o mesmo não tenha nenhuma de oito canais com malha de realimentação
restrição a eletroterapia, como marca-passo ou algum utilizando Controlador Digital," 2013.
impedimento médico
[13] M. Sanches, "Sistema Eletrônico Para Geração E
.
Avaliação De Movimentos Em Paraplégicos,"
Fevereiro 2013.
Agradecimentos
[14] H.-C. Wu, S.-T. Young and T.-S. Kuo, "A versatile
UNESP- FEIS e CNPq. multichannel direct-synthesized electrical
stimulator for FES applications," IEEE
Referências Transactions on Instrumentation and
Measurement, vol. 51, no. 1, pp. 2-9, Febreiro
2002.
[1] L. Zhan, M. Hayashibe, C. Fattal and D. Guiraud,
"Muscle Fatigue Tracking with Evoked EMG via [15] A. Y. Zeto and F. A. Saunders, " Electrocutaneous
Recurrent Neural Network: Toward Personalized stimulation for sensory communication in
Neuroprosthetics," Computational Intelligence rehabilitation engineering.," IEEE Transactions on
Magazine, IEEE, vol. 9, no. 2, pp. 38-46, Maio Biomedical Engineering, vol. 4, no. BME-29, pp.
2014. 300-308, 1982.
[2] IBGE, "Faders," Faders, 2010. [Online]. Available: [16] L. Zhan, M. Hayashibe, C. Fattal and D. Guiraud,
http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/noticia "Muscle Fatigue Tracking with Evoked EMG via
s/2128. [Accessed 07 junho 2015]. Recurrent Neural Network: Toward Personalized
Neuroprosthetics," Computational Intelligence
[3] C. Lynch and M. Popovic, "Functional Electrical
Magazine, IEEE, vol. 9, no. 2, pp. 38-46, Maio
Stimulation," Control Systems, IEEE, vol. 28, no.
2014.
2, pp. 40-50, 2008.
[4] M. Sanches, Sistema Eletrônico Para Geração E
Avaliação De Movimentos Em Paraplégicos, Ilha
Solteira: Feis - Unesp, 2013.
[5] J. E. B. Rodríguez, Estimulador elétrico funcional
com utilização de ponte H e fonte de corrente no
estágio de potência, Ilha Solteira: Feis-Unesp,
2016.

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