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A cobrança abusiva de valores para remarcação d…

Advogado Taxa (Tributo) Cláusula Abusiva Detr

A cobrança abusiva de
valores para remarcação
de exame teórico de
trânsito e exame prático
de direção
O abuso praticado pelas autoescolas
para agendamento de exames em
casos de reprovação no DETRAN

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Publicado por Soraia Pires


há 3 anos

Você foi surpreendido com a cobrança de


valores altíssimos para remarcação de seu
exame teórico ou prático de direção?

Saiba quais providências tomar e esteja


ciente de que o departamento estadual de
trânsito - DETRAN cobra apenas uma taxa
administrativa para remarcação de provas.

Infelizmente quem não se informa sobre


as regras do DETRAN ao se matricular em
um Centro de Formação de Condutores -
CFC, pode ser pego de surpresa e pagar
caro por isso.

Ao ser reprovado em algum dos dois exa-


mes exigidos para a habilitação de condu-
tores, os alunos devem arcar com uma
taxa exigida pelo DETRAN. Em 2021 esta
taxa era no valor de R$ 40,00 (quarenta
reais), na capital de São Paulo.

O problema disso tudo, está nos valores


cobrados pelas autoescolas para remarca-
ção do exame teórico ou prático, onde es-
ses valores não são fixos e podem variar de
uma autoescola para outra chegando, em
alguns casos, a superar em 900% o valor
da taxa obrigatória.

Em uma rápida pesquisa de preço realiza-


da pessoalmente em algumas autoescolas
da Zona Sul de São Paulo, em março de
2021, os valores cobrados para remarca-
ção da prova prática variavam de R$
250,00 (duzentos e cinquenta reais) à R$
380,00 (trezentos e oitenta reais) e nas
provas teóricas, variavam de R$ 50,00
(cinquenta reais) à R$ 200,00 (duzentos
reais). Pouquíssimas escolas não cobram
valores adicionais para remarcação dos
exames.

É sabido que pela concorrência do merca-


do consumidor, as autoescolas têm como
praxe a cobrança de valores superiores aos
estabelecidos pelo DETRAN, com a justifi-
cativa de que o valor abrange ao serviço de
agendamento online da prova, acesso à
internet e nos casos dos exames práticos, o
valor engloba o aluguel do veículo utiliza-
do no dia da prova, gastos com combustí-
vel e hora de trabalho do funcionário, po-
rém, esses motivos não justificam a práti-
ca de valores tão altos que fogem da razoa-
bilidade.

Apesar de se tratar de uma prática comum


entre as autoescolas, a cobrança pode ser
considerada indevida e abusiva, se esses
valores não forem comunicados e acorda-
dos previamente com o aluno, se não esti-
verem previstos no contrato de prestação
de serviços e nos casos em que mesmo
com previsão contratual, os valores forem
abusivos e desproporcionais.

A cobrança de valores não estabelecidos


em contrato e não acordados previamente
com os alunos, viola o artigo 6º, inciso III,
IV e V do Código de Defesa do Consumi-
dor. Vejamos:

“Art. 6º. São direitos básicos do consu-


midor:

III - a informação adequada e clara sobre


os diferentes produtos e serviços, com es-
pecificação correta de quantidade, carac-
terísticas, composição, qualidade, tribu-
tos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem;

IV - a proteção contra a publicidade


enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou im-
postas no fornecimento de produtos e ser-
viços;

V - a modificação das cláusulas contratu-


ais que estabeleçam prestações despro-
porcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem exces-
sivamente onerosas;

Além da violação dos direitos consumeris-


tas pela falta de transparência e publicida-
de, ao cobrarem valores extremamente
abusivos, as autoescolas ferem também o
artigo 39, incisos V e X, e artigo 51, inciso
IV, ambos do Código de Defesa do Consu-
midor, isso porque as autoescolas têm ple-
na ciência de que os alunos ficam impossi-
bilitados de realizar a prova prática, por
depender do veículo da instituição para
efetuar seu exame prático. As escolas cla-
ramente se aproveitam dessa vantagem
para praticar valores desproporcionais aos
serviços oferecidos a seus alunos, sem
nem mesmo apresentar chance de negoci-
ação de valores. Vejamos o que estabelece
os artigos mencionados no Código de De-
fesa do Consumidor:

"Art. 39. É vedado ao fornecedor de pro-


dutos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas:

V - exigir do consumidor vantagem mani-


festamente excessiva;

X - elevar sem justa causa o preço de pro-


dutos ou serviços."

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre


outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços
que:

IV - estabeleçam obrigações consideradas


iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exa-
gerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a equidade;”

Ademais, condicionar o pagamento de alu-


guel do veículo da autoescola para realiza-
ção da prova prática de direção, configura
a "venda casada". No Brasil, a venda ca-
sada é expressamente proibida pelo
Código de Defesa do Consumidor
(artigo 39, I), constituindo, inclusive,
infração da ordem econômica, conforme
disposto no artigo 36, § 3, XVIII, da Lei
n.º 12.529/2001.

Outra prática abusiva por parte das auto-


escolas é a exigência de uma quantidade
mínima de aulas práticas em casos de re-
provação dos alunos nos exames de dire-
ção. A exigência de aulas práticas extras e
pagas para que o aluno remarque o exame
de direção é ilegal, abusiva e não faz parte
das normas impostas pelo DETRAN. O
aluno que se sentir apto a realizar o exame
prático sem aulas adicionais pode exigir a
remarcação da prova.

A autoescola pode orientar o aluno que


não está preparado para fazer o exame
prático, mas não pode obrigá-lo a contra-
tar serviços adicionais.

Trata-se de uma prática abusiva, que mui-


tas escolas praticam, pois infelizmente não
há fiscalização e nem punição por parte
dos órgãos competentes.

Diante de todo exposto, a orientação jurí-


dica é que registrem reclamação no PRO-
CON, e caso não seja solucionado, recor-
ram ao Judiciário com o auxílio de um ad-
vogado.

Os oriento a sempre pesquisarem a repu-


tação e situação cadastral da autoescola no
DETRAN antes de fechar qualquer tipo de
contrato, e caso decidam fechar negócio,
exijam toda a descrição das aulas contra-
tadas, valores e procedimentos, a fim de
evitar problemas futuros.

Não se esqueçam de exigir a nota fiscal


sempre que efetuar qualquer tipo de paga-
mento ao fornecedor, conforme exigência
da lei federal nº 8.846/1994, visto que a
recusa em emitir nota fiscal configura cri-
me e viola o artigo 6º, inciso III do Código
de Defesa do Consumidor, podendo ser
apresentado, inclusive, denuncia por sone-
gação de impostos ao órgão competente.

SORAIA PIRES

Advogada

Soraia Pires 

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possível a transferência do processo de
habilitação?…

79 Comentários

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Guilherme Borges
2 anos atrás

Excelente publicação, com toda certeza vai


ajudar muitas pessoas.

As auto-escolas são praticamente uma


máfia, pedem depósito em conta de pessoa
física pra sonegar impostos, te tratam de
qualquer jeito pois sabem que você depende
deles. Muito bom seu artigo Dra. Soraia.

Parabéns.

 8  Responder 

Wagner Ferreira
2 anos atrás

Muito bem esclarecido, estou passando por


essa situação,a auto escola não me forneceu
um contrato para que eu pudesse ver os
preços de serviços, agora como fui
reprovado bom estão me cobrando 300
reais pra refazer o exame prático, acho sim
abusivo esse valor,e aqui pude ver meus
direitos, muito obrigado.

 6  Responder 
Leticia Cristina
2 anos atrás

Olá Wagner, como você conseguiu


resolver? infelizmente estou passando
pela mesma situação…

 3 

Soraia Pires PRO


2 anos atrás

Bom dia, Wagner! Que bom saber que


meu artigo te auxiliou de alguma forma.
Pelo tempo que se passou, acredito que
você já tenha pago o valor abusivo
cobrado pela autoescola, mas você pode
solicitar o ressarcimento desse valor. Na
esfera extrajudicial você pode registrar a
reclamação no Procon (pode ser feito on-
line, no próprio site do Procon) relatando
todo o ocorrido e requerendo o
reembolso do valor pago ou enviar uma
notificação extrajudicial, este último com
a assistência de um advogado. Se não
conseguir resolver na esfera extrajudicial,
entre com uma ação no Juizado Especial
Cível. Lembrando que hoje em dia temos
fácil acesso ao Judiciário e a Defensoria
Pública também se encontra à
disposição.

 1 
Marcelo Silveira
2 anos atrás

Fomos em outra auto escola, e disseram


q é só eles liberarem o cadastro do aluno,
para o mesmo escolhe aonde quiser.
porem eles se recusam, e querem cobrar
multa. Aguardo uma ajuda, para se
esclarecer isso.

 1 

Laura Cardoso
2 anos atrás

Parabéns pelo artigo Sucesso amei saber


estas informações !!!! Obrigada

 4  Responder 

Fabiana Pires dos Santos Fonseca


2 anos atrás

Com certeza irá contribuir significamente


para o desenvolvimento da sociedade.
Parabéns!

 4  Responder 

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