Você está na página 1de 7

Produtividade e Qualidade em Sistemas de

Segurança Contra Incêndio


Figura 1 - Incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida em 01/05/2018 (ausência de compartimentação vertical)

Fonte: DW / Deutsche Welle

INTRODUÇÃO

A produtividade está estritamente relacionada à qualidade, ou seja, não basta eu entregar


uma obra, uma etapa com celeridade, sem me atentar ao projeto, às especificações dos
materiais, à mão de obra que irá executar a instalação ou aplicação de determinados sistemas.
Quando falamos de segurança contra incêndio e a sua relação com produtividade, é muito
claro que a qualidade deve estar presente do primeiro dia de operação até um possível sinistro
de incêndio. É por isso que entendo que existe, sim, uma relação positiva entre produtividade
e qualidade, que explicarei ao longo deste artigo.

PRODUTIVIDADE E QUALIDADE

A primeira relação, está no campo da Produtividade e a Qualidade da Segurança Contra


Incêndio. As medidas de proteção ativa e passiva contra incêndio são complexas - isso porque
elas nem sempre são colocadas à prova no primeiro dia que o edifício entra em operação.
Toda a rastreabilidade do que foi instalado pode somente mostrar a sua efetividade quando
um incêndio ocorrer; e isto pode levar anos para acontecer ou simplesmente nunca ocorrer.
Por este motivo, entendo que a produtividade neste caso está muito associada ao papel das
incorporadoras e principalmente a um projeto multidisciplinar bem pensado, bem elaborado e
amplamente discutido e à constante manutenção, testes quando possíveis e inspeções bem
realizadas.

Infelizmente não é incomum encontrarmos edifícios com as chaves entregues e que, no


momento da vistoria dos Bombeiros, são notificadas por inúmeras pendências ou de sistemas
que simplesmente não foram instalados, ou que não funcionam adequadamente. Exemplo
disso são edifícios em estruturas metálicas que não recebem a proteção passiva, paredes de
compartimentação por serem construídas, sinalização e iluminação de emergência
inadequados, ausência de controle de materiais de acabamento e revestimento, inexistência
de selagem corta-fogo em sistemas prediais e muitos outros problemas não acompanhados
pelos seus responsáveis. E é exatamente neste ponto que entra uma das questões da
produtividade em relação a sistemas de segurança contra incêndio. Imagine quão mais custoso
e improdutivo será remediar um edifício com medidas que foram esquecidas, negligenciadas
ou mal instaladas na fase inicial?

A seguir, utilizaremos um exemplo, para a melhor compreensão de um sistema de


compartimentação vertical em edificações, comumente utilizado para evitar a passagem do
fogo através das tubulações dos sistemas hidráulicos, tanto em prumadas como em shafts
visitáveis. São conhecidas como fitas ou anéis intumescentes, contendo um material que se
expande em contato com o calor, instaladas ao redor das tubulações plásticas, a sua função é
de vedar estas passagens, caso um sinistro de incêndio ocorra em uma unidade autônoma.

Figura 2 – fitas intumescentes instaladas manualmente, aguardando fôrma de madeira e concretagem.

Fonte: Arquivo ABPP®

OS PROBLEMAS NO MÉTODO CONVENCIONAL DE FITA INTUMESCENTE

Imagine como seria para um trabalhador instalar 1.000 unidades desta fita intumescente em
um edifício, mantendo a velocidade e qualidade desejada? Usualmente instaladas de forma
manual por um trabalhador, que deve cortá-la na circunferência correta, amarrar uma
abraçadeira ou adesivo no entorno, construir uma fôrma de madeira com furos circulares,
preparar o concreto e levar pavimento a pavimento a quantidade correta e despejar o
concreto no espaço da fôrma. São inúmeras atividades em diversos passos que dependem de
uma série de recursos e levam muito tempo.
Enquanto o concreto cura, não é possível levar a fôrma para outro shaft, e esta fôrma não
serve adequadamente a todos os pavimentos. Isso começa a gerar muitas ineficiências que
afetam e complicam o processo como um todo.

Não é incomum encontrar nas obras, fitas intumescentes desprendidas de suas tubulações,
posicionadas de forma incorreta, utilizando o número de camadas incorreto, ou simplesmente
esquecidas e ausentes no momento da concretagem. Estes aparentes “pequenos” problemas,
podem se tornar uma grande tragédia no futuro, e o pior, você não consegue mais verificar e
corrigir a falha, depois que os sistemas foram concretados.

Outro fato é que a mão de obra empregada deve ser bem capacitada e constantemente
acompanhada para certificar que as fitas foram corretamente instaladas, muitas construtoras
registram fotograficamente cada pavimento, antes da concretagem, produzindo uma
quantidade imensa de documentos e arquivos para arquivar e ter a rastreabilidade.

Ocorrem também os desperdícios, as fitas chegam em rolos e sobram muitos retalhos que não
formam uma circunferência completa e acabam sendo descartados, o que geram perdas. Por
fim, shafts e prumadas com limitado espaço de trabalho, faz com que uma simples fita possa
demorar muito mais tempo para ser instalada corretamente.

TECNOLOGIA PARA A PRODUTIVIDADE COM QUALIDADE

A produtividade e as tecnologias inovadoras têm sido empregadas em obras de forma a


melhorar o resultado final, a avaliação do custo-benefício, muitas vezes demora a ser
percebido, até que sua equipe acompanhe, planilhe e tire as suas próprias conclusões sobre os
prós e contras dos sistemas disponíveis no mercado.

Algumas delas têm trazido resultados expressivos para as construtoras em questões como
produtividade de mão-de-obra, rapidez de implementação e aproveitamento da capacidade
instalada de pessoas e equipamentos. Com a mesma função de compartimentação vertical,
trata-se de um dispositivo similar à uma luva simples com fixadores e em sua circunferência
exterior, a fita intumescente devidamente acoplada. A sua principal vantagem está em
economizar etapas, ela pode ser incluída na etapa da concretagem da laje.

Figura 3 – Concretagem da laje com passantes corta-fogo posicionados, indicados pelas setas verdes.
Fonte: Arquivo ABPP®

Figura 4 e 5 – passante corta-fogo

Fonte: Arquivo ABPP®

Proposto como uma solução inovadora e produtiva, foi inventado há cerca de uma década e
está se popularizando entre os fabricantes de sistemas de firestop e selagem corta-fogo. No
exterior, é conhecido como sistema “cast-in”, já no Brasil o conhecemos como passante corta-
fogo intumescente. Alguns foram desenvolvidos entre fornecedores e construtoras, com o
objetivo de aumentar a produtividade das obras e reduzir custos globais. O dispositivo foi
desenvolvido pronto para uso, ou seja, não necessita de cortes, gabaritos, cintas metálicas
extras, conforme ilustração da Figura 6 e pode simplesmente ser posicionado e pregado antes
da concretagem da laje, evitando retrabalhos mais adiante. Sua configuração é modular, o que
permite o agrupamento de passantes para diferentes diâmetros e a sua confecção com
antecedência à posicionamento na laje.

As vantagens são claras pois você evita os problemas usuais que existem na instalação manual,
não corre o risco de deixar uma tubulação sem a fita intumescente, pois se o mesmo não for
instalado, a tubulação a ser passada acusará o erro. Também não terá uma mão de obra
intensiva de corte e instalação, além da equipe de qualidade tendo de acompanhar
duplamente a atividade.

Figura 6 - Ensaio de resistência ao fogo de passantes corta-fogo em laboratório.

Foto: Arquivo ABPP®

Figura 7 – Imagem de câmera térmica ilustrando o gradiente de temperatura nas tubulações durante ensaio de resistência a fogo.
Foto: Arquivo ABPP®

Tabela 1 – Comparação de atributos de produtividade do método convencional versus passante corta-fogo.

Método convencional com Passante Corta-Fogo (Cast-


fita intumescente in)
Exige corte e fixação manual? SIM NÃO
Exige fôrma de madeira adicional? SIM NÃO
Exige fixação com cinta/abraçadeira? SIM NÃO
Pode ser feito junto com a concretagem NÃO SIM
da laje?
Falhas de instalação MODERADO MUITO BAIXO
Uso de mão de obra INTENSIVO BAIXO
Tipo de instalação ARTESANAL EM SÉRIE
Velocidade de conclusão LENTA RÁPIDA

CONCLUSÕES

O exemplo utilizado no artigo, ilustra muito bem que é possível aumentar a produtividade,
aumentando qualidade e a segurança contra incêndio de uma edificação, estes ganhos devem
sempre ser levados em consideração. Não avalie somente o custo unitário de um produto,
avalie o cenário por completo, do começo ao fim do processo. É de responsabilidade das
equipes realizar este exercício frequentemente com suas equipes.

Alguns desafios ainda devem ser superados com estes passantes corta-fogo, como a questão
de ralos e vasos sanitários, onde a instalação é um pouco mais complexa, a questão de
posicionamento e resistência a abrasão e impactos de mangueiras, equipamentos e as malhas
metálicas, mas certamente já está sendo empregado em maior escala e com os cuidados
necessários em obra.

Por fim, o ponto mais importante da produtividade e sua relação com as medidas de
segurança contra incêndio é que a preservação de vidas não tem preço e o tempo não volta
atrás. Não precisamos esperar uma tragédia acontecer para começarmos a nos preocupar com
a produtividade aliada à qualidade. Se eu consigo reduzir custos sem comprometer a
segurança das pessoas, então vamos adiante: aumente sua produtividade, mas faça de forma
técnica, consciente e mensurável. Tenha sempre um projeto de qualidade, antecipe os riscos,
invista na qualidade, rastreabilidade - e saiba que esses fatores também compõem os valores e
os resultados da sua organização.

Você também pode gostar